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Classificação atual dos mamíferos. Origem dos mamíferos e seus grupos basais.
Características dos grupos atuais de mamíferos. Ecologia, distribuição geográfica e
comportamento dos mamíferos. Origem e evolução dos primatas.
PROPÓSITO
Estudar os mamíferos, pois se trata de algo de especial importância. O profissional de biologia
deve estar preparado para atender às demandas de trabalho que envolvam conhecimentos
sobre o grupo, seja no manejo, seja na conservação, seja nas relações entre suas diferentes
linhagens.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
Descrever a origem dos mamíferos e seus principais grupos basais por meio de suas
características
MÓDULO 3
MÓDULO 4
INTRODUÇÃO
Os mamíferos, provavelmente, são o grupo de animais estudados nas disciplinas de zoologia
com os quais os alunos têm maior familiaridade prévia. Além de ser o grupo no qual o próprio
ser humano se encontra, os mamíferos fazem parte do nosso cotidiano de forma mais intensa
do que qualquer outro grupo animal. Assim, se perguntarmos aos alunos um exemplo de
animal que eles conhecem, usualmente, a resposta será um mamífero mamífero.
Nos próximos módulos, vamos estudar a filogenia e classificação sistemática atual do grupo:
descobrir sua origem, conhecer os grupos basais já extintos e os grupos recentes. Iremos
explorar a ecologia, distribuição geográfica e o comportamento da classe Mammalia.
Encerraremos nosso tema discutindo a origem e evolução dos primatas.
Filhote de ovelha mamando
MAMÍFERO
Veja a seguir algumas situações cotidianas em que temos contato com mamíferos:
Animais domésticos: a maior parte dos animais que temos em nossas casas são
mamíferos, como cães e gatos.
Produção de tecidos: a utilização do couro dos bovinos e a lã das ovelhas são exemplos
de importantes fontes de tecidos para a indústria mundial.
Por conta de tamanha familiaridade, os alunos, normalmente, pensam que os mamíferos estão
entre os grupos de animais com maior diversidade de espécies, o que não é verdade.
Contendo aproximadamente 5.416 espécies registradas (BENEDITO, 2017), o número de
mamíferos é apenas um pouco maior do que metade do número de aves existentes, e os
peixes de nadadeiras raiadas possuem um número maior de espécies do que todos os
tetrápodes - grupo de vertebrados com quatro membros e dígitos, no qual os mamíferos estão
inseridos (POUGH, et al., 2008).
MÓDULO 1
Todavia, o conhecimento do processo evolutivo, que foi aceito como fato, e não somente como
teoria, tornou a necessidade de classificação das espécies ainda mais primordial. Sua
classificação deveria dar informações que ultrapassassem as características físicas,
comportamentais ou fisiológicas dos grupos e fornecessem evidências do parentesco evolutivo
dessas espécies. Idealmente, um sistema de classificação deveria não apenas colocar uma
etiqueta evolutiva em cada espécie, mas também codificar a relação evolutiva entre aquela
espécie e outras (POUGH et al., 2008). As técnicas modernas de sistemática foram além do
papel de sistema de arquivos, tornando-se métodos para gerar hipóteses evolutivas testáveis
(POUGH et al., 2008).
SISTEMÁTICA
CARACTERES
Assim, de acordo com suas características, todos os grupos de organismos conhecidos devem
ser dispostos dentro da seguinte classificação hierárquica:
Reino
Filo
Classe
Ordem
Família
Gênero
Espécie
As espécies agrupam os organismos com mais características semelhantes entre si, e o reino
reúne os grupos com menos características semelhantes entre eles.
ATENÇÃO
Estas são as categorias principais, mas podem existir categorias intermediárias, indicadas
pelos prefixos infra, sub e super. As categorias intermediárias representam graus de parentesco
mais estreitos e surgem pelo efeito de distribuição geográfica distinta.
No estudo dos mamíferos, temos um grupo já extinto conhecido como pelicossauros. Estes
agregam uma série de grupos de animais semelhantes a dinossauros que possuíam grandes
velas nas costas. Esses organismos foram reunidos simplesmente por uma similaridade em
sua característica física, ou seja, a presença das velas no dorso. Porém, tal classificação não
faz sentido evolutivamente, como veremos a seguir.
A SISTEMÁTICA FILOGENÉTICA
O sistema natural de classificação dos seres vivos foi desenvolvido em uma época em que
sequer era conhecida qualquer informação sobre genética e DNA, tampouco se sabia a teoria
da evolução das espécies. Assim, nesse sistema, os organismos são agrupados principalmente
de acordo com suas similaridades: características físicas, fisiológicas ou até comportamentais.
A sistemática filogenética não só agrupa os organismos de acordo com sua similaridade, mas
também de acordo com sua relação evolutiva. Essa classificação é feita em clados E, por isso,
a sistemática filogenética também é conhecida como xsistemática cladística. Ela ordena os
organismos a partir de um ancestral comum, de maneira que a história evolutiva dos grupos
seja evidenciada. Um grupo de organismos reconhecidos pelos cladistas é chamado grupo
natural ou monofilético; eles são unidos em uma série de relações ancestral-descendente e
traçam a história evolutiva do grupo (POUGH et al., 2008).
Nos clados, os grupos que deram origem aos grupos que estão mais para o topo ficam na sua
base. Desta forma, usualmente, na base do cladograma, estão os grupos fósseis, que seriam
os predecessores extintos das espécies atuais, e, no topo do cladograma, ficam as espécies
recentes.
MONOFILÉTICO
Grupo monofilético é aquele que inclui o ancestral e todos os seus descendentes. Esta é a
base da Sistemática filogenética.
ATENÇÃO
Os grupos extintos estão marcados por uma cruz. Perceba que os dois grupos na parte
superior do cladograma possuem velas nas costas e, portanto, são pelicossauros. Observe
que, se chamarmos de pelicossauros somente esses dois grupos, não estamos incluindo todos
os grupos que decorrem do ancestral em comum, portanto tal classificação não faz sentido
dentro da sistemática filogenética. Por outro lado, observe também como todos os grupos
indicados no cladograma possuem um ancestral comum e incluem todos os grupos que
decorrem desse ancestral, sendo, portanto, um grupo monofilético. Fonte: LIEM et al., 2013.
ATENÇÃO
Para avançar no tema, é muito importante que você tenha entendido como funciona o sistema
atual de classificação dos seres vivos. Portanto, se você ainda possui dúvidas sobre como
opera a sistemática filogenética, retorne e releia o tópico.
Reino Animalia
Filo Chordata
Subfilo Craniata
Subfilo Vertebrata
Superclasse Tetrapoda
Classe Mammalia
Subclasse Prototheria
Ordem Monotremata
Subclasse Theria
Infraclasse Metatheria
Infraclasse Eutheria
CRANIATA
VERTEBRATA
GNATHOSTOMATA
Todos os vertebrados vivos, exceto as lampreias. Presença de maxilas formadas pelo arco
mandibular, exceto a dentina.
OSTEICHTHYES
CHOANATA
TETRAPODA
Todos os Amniotas vivos menos os peixes pulmonados. Presença de extremidade distal dos
membros com carpais, tarsais e dígitos.
AMNIOTA
Todos os tetrápodes vivos, exceto os anfíbios. Presença de ovos com casca e um conjunto
característico de membranas extra-embrionárias (âmnio, cório e alantoide).
SAUROPSIDA
Todos os sauropsidas exceto as tartarugas. Presença de crânio com uma abertura tempora
dorsal e outra ventral (fenestras).
CROCODILIA
AVES
MAMMALIA (SYNAPSIDA)
Todos os mamíferos vivos exceto e seus parentes extintos. Somente uma abertura temporal
inferior presente.
Dentro da classe Mammalia, por sua vez, os organismos são agrupados em novas categorias,
incluindo grupos atuais e grupos extintos.
Nos próximos módulos, estudaremos a origem dos mamíferos, através da investigação dos
principais grupos basais e o surgimento dos caracteres relacionados aos mamíferos pelo
estudo dos Synapsidas. Em seguida, conheceremos os principais grupos de mamíferos
viventes e suas características, sua ecologia, biogeografia e distribuição geográfica.
Terminaremos o tema com o estudo dos primatas.
VÍDEO
O vídeo apresenta a evolução animal desde a extinção dos dinossauros.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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MÓDULO 2
EXEMPLO
Os mamíferos atuais possuem três minúsculos ossos no ouvido, que não existem em outros
grupos animais, tampouco apareciam nos registros geológicos mais antigos. Então, os
cientistas observaram de que maneira os ossos da face foram se modificando nas espécies
fósseis até possuir essa configuração atual.
Hoje em dia, além dos estudos dos registros fósseis, as análises moleculares também
fornecem informações importantíssimas sobre a origem e ancestralidade comum das espécies,
através da comparação da similaridade do seu DNA. Todavia, é importante saber que a maioria
dos registros fósseis não possuem amostras de DNA conservadas, e esta técnica é
prioritariamente utilizada para os grupos viventes.
SYNAPSIDA
Os sinápsidas foram um grupo de amniotas que surgiu durante o Período Carbonífero, uma
época em que o globo terrestre era coberto por grandes florestas úmidas. Eles se pareciam
com grandes répteis mamaliformes, pois, apesar de fisicamente ainda serem bem
semelhante aos répteis, diferentemente dos grupos que até então existiam (que possuíam duas
aberturas cranianas), os sinápsidas foram os primeiros animais a possuírem apenas uma
abertura craniana inferior, chamada fenestra temporal inferior (LIEM et al., 2013). Tal
característica é presente nos mamíferos atuais e, acredita-se, é relacionada a maiores taxas
metabólicas.
Crânio sinápsido. Ele possui uma barra acima de sua única abertura temporal. Sq: osso
escamosal; Po: ossos parietais. Fonte: KARDONG, 2016.
AMNIOTAS
Grupos de animais cujos embriões são envoltos por membranas fetais (POUGH et al., 2008).
RÉPTEIS MAMALIFORMES
Essa expressão apesar de muito utilizada e didática é bastante criticada na literatura por
representar um grupo parafilético de organismos, ou seja, que não se originam de um
ancestral comum, portanto, não é considerada tecnicamente correta. Além disso, os Sinápsidas
não eram nem répteis, nem mamíferos, o que torna incorreta a expressão.
ATENÇÃO
A presença de apenas uma abertura temporal inferior é uma sinapomorfia de mamíferos.
SINAPOMORFIA
Os sinápsidas não mamíferos eram um grupo composto por animais carnívoros e herbívoros,
semelhante a lagartos, de diversos tamanhos e formas corporais. A maioria das espécies de
Sinápsidas não mamíferos sobreviveu até, aproximadamente, o final do triássico e são
considerados predecessores extintos dos mamíferos atuais. Os mamíferos são os únicos
sobreviventes dos sinápsidas que vivem até o tempo presente.
Dentro dos sinápsidas, em outros grupos mais especializados, surgiram outras características
dos mamíferos. Assim, em seguida, estudaremos os Synapsidas Therapsida e os Synapsida
Cynodontia, para compreender melhor a evolução dos caracteres dos mamíferos até os tempos
atuais.
THERAPSIDA
Esse grupo possuía diversas espécies com formas e hábitos diferentes, tendo sido encontrados
fósseis em diversos locais do planeta, inclusive no Brasil. Entre os terapsídeos não mamíferos,
existiram espécies com hábitos:
DERIVA CONTINENTAL
Separação do continente único, Pangeia, que deu origem à formação dos continentes como os
conhecemos atualmente.
Carnívoros
Herbívoros
Onívoros
Terrestres
Semiaquáticos
TERAPSÍDEOS
Nos terapsídeos não mamíferos, foram registrados pela primeira vez várias características que
aparecem nos mamíferos atuais. Essas características que sugerem maiores taxas metabólicas
incluem: maior fenestra temporal inferior com músculos adutores maiores sobre a cabeça,
caninos superiores maiores, crânio mais rígido, incisivos “enganchados”, dentição
heterodonte, membros longos e delgados logo abaixo do corpo, cinturas peitoral e pélvica
menos robustas, ombro que permitia maior movimentação, presença de pelos no corpo, além
de outras características osteológicas diagnósticas de mamíferos. Esses caracteres
diferenciam os terapsídeos dos outros sinápsidas viventes e os aproxima dos mamíferos.
HETERODONTE
Desta forma, o estudo dos fósseis dos terápsideos é importantíssimo para entender o
surgimento dos mamíferos atuais, sendo o grupo considerado um predecessor extinto dos
mamíferos.
É possível observar que todos os grupos ali apresentados são sinápsidas. Dentro dos
sinápsidas podemos verificar os terapsideos, grupo ao qual os mamíferos fazem parte.
CYNODONTIA
Quando falamos em cinodontes, estamos nos referindo a um grupo de animais que abrange os
únicos sobreviventes, os mamíferos atuais, e grupos extintos, denominados cinodontes não
mamalianos. Os cinodontes são uma linhagem especializada de terapsídeos surgida no
Permiano e que sobreviveu à grande extinção do Triássico. Por serem o grupo mais próximo
aos mamíferos atuais, neles encontramos o surgimento de várias características observadas na
classe Mammalia.
CINODONTES
Os cinodontes possuem uma série de caracteres que os agrupam entre si e os diferem dos
demais grupos, como os répteis e as aves, por exemplo. Dentre essas características, várias
delas são similares às que encontramos nos mamíferos atuais, o que nos ajuda a entender a
origem dos mamíferos.
EXEMPLO
Séries molares multicuspidadas, forame infraorbital aumentado, focinho mais móvel com
lábio visíveis, presença do músculo masseter, fenestra temporal maior, perda das costelas
associadas às vértebras lombares e palato secundário bem desenvolvido. Todas essas
características são associadas a maiores taxas metabólicas e sugerem que muitos cinodontes
poderiam ser endotérmicos, como são os mamíferos atuais.
MÚSCULO MASSETER
O músculo masseter faz parte do conjunto de quatro músculos do aparelho mastigatório, ligado
à mandíbula, proporcionando um fechamento forte da boca.
Oclusão mais precisa dos dentes, diferentemente do que era encontrado nos répteis, por
exemplo. Dentes cada vez mais especializados de acordo com os hábitos alimentares,
dentição heterodonte, diminuição dos dentes de substituição. Todas essas características
indicam maior especialização alimentar e melhor processamento dos alimentos.
Uma fenestra temporal maior, indicativa de um maior volume dos músculos da mandíbula.
Tal evidência sugere um aumento da alimentação diária, indicativo de uma taxa
metabólica maior (BENEDITO, 2017).
Presença de dedos curtos nos pés, com função de alavanca, o que facilita a posição
ereta.
A posição dos membros direciona-se cada vez mais sob o corpo, o que é indicativo da
posição mais ereta e sugere maior eficiência para corridas.
ATENÇÃO
É sempre importante lembrar que o processo evolutivo não consiste na busca de uma “meta”,
para que uma nova espécie seja “melhor” do que a anterior. As espécies posteriores não são
“superiores” àquelas que sobreviveram. Na verdade, o processo evolutivo consiste no
surgimento de novas características. Quando essas características trazem vantagens
reprodutivas e aumentam o sucesso reprodutivo da espécie, elas podem ser passadas para as
gerações seguintes. Por fim, o acúmulo de modificações pode levar ao surgimento de uma
nova espécie, sem que, necessariamente, a espécie anterior seja extinta, ou que seja pior do
que a nova espécie. Elas são simplesmente diferentes.
Sinápsidas
Terápsideos
Cinodontes
Mamíferos
ATENÇÃO
Sabendo que sinápsidas, terapsídeos e cinodontes não são necessariamente mamíferos, mas
já apresentavam características que estão presentes nos mamíferos atuais, você deve estar se
perguntando:
OS PRIMEIROS MAMÍFEROS
Acredita-se que os primeiros mamíferos tenham surgido por volta do Jurássico inferior e Médio,
tendo aparecido antes ainda do que as aves. Os primeiros mamíferos seriam animais muito
pequenos, semelhantes aos musaranhos, que provavelmente tinham hábitos noturnos.
Possui inicialmente uma dentição de leite que é posteriormente substituída por uma dentição
permanente.
Ainda durante o Mesozoico, acredita-se ter surgido pela primeira vez o dente molar
tribosfênico, presente em vários mamíferos. Nome difícil? O dente molar tribosfênico nada mais
é do que um dente molar com maior eficiência na maceração dos alimentos. Isso ocorre porque
eles, além de apresentar três cúspides, angulares entre si, também possuem uma área
chamada protocone e o talonídeo, que são áreas dentárias que melhoram a maceração dos
alimentos, trazendo maior eficiência no aproveitamento da alimentação.
MAIOR MOBILIDADE E EFICIÊNCIA NA LOCOMOÇÃO
A restrição das costelas às vertebras torácicas, formando cinturas pélvicas e sugerindo o
aparecimento do diafragma e da respiração diafragmática; juntamente ao reposicionamento
das pernas e patas, que passam a ser mais longas e abaixo do corpo (em vez de lateralmente,
como ocorria nos répteis, por exemplo), trouxeram maior eficiência na locomoção do grupo,
que se tornou mais ágil, o que também facilitou a ocupação de novos nichos ecológicos.
ENDOTERMIA
O surgimento da endotermia foi outra característica, presente nos mamíferos, que possibilitou
o surgimento de novas espécies, que ocuparam novos nichos ecológicos.
Todas essas caraterísticas dos mamíferos basais são bastante presentes também nos
mamíferos atuais.
ENDOTERMIA
GNATOSTOMADOS
Morgunocodon
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Descrever os grupos viventes de mamíferos, suas características, sua ecologia,
distribuição geográfica e seu comportamento
OUTRAS CARACTERÍSTICAS
Lactação – Todas as fêmeas dos mamíferos produzem leite e amamentam seus filhotes.
Porém, é importante destacar que somente os térios possuem mamilos utilizados pelos
filhotes para a sucção do leite.
Nos indivíduos jovens, as extremidades dos ossos são separadas por uma zona de
crescimento cartilaginosa. Nos adultos, essa área desaparece e as extremidades dos
ossos se unem.
Presença de diafragma.
Fonte: plataforma.bvirtual.com.br
O caminho evolutivo que as espécies teriam tomado durante a evolução ainda é objeto de
muita discussão. Porém, há indicações de que as espécies de marsupiais e eutérios mais
precoces tenham surgido no final do Cretáceo, na China. Os marsupiais teriam se dispersado
pela Ásia, Antártida e Austrália, enquanto os eutérios teriam migrado para a África e o Novo
Mundo. Esses rebanhos de mamíferos ficaram semi-isolados à medida que os continentes se
fragmentaram, e foram os grupos distintos de mamíferos isolados que, subsequentemente,
evoluíram nos continentes separados (KARDONG, 2016).
A irradiação dos Térios. Nessa imagem, é mostrada a posição dos continentes no final do
Mesozoico
Subclasse Prototheria
Ordem Monotremata
Subclasse Theria
Infraclasse Metatheria
Infraclasse Eutheria
Allotheria
Que são os multituberculados, atualmente extintos.
Prototheria
Que são os monotremados.
Theria
Formado por marsupiais, infraclasse Metatheria e placentários, infraclasse Eutheria.
SAIBA MAIS
Principais grupos de mamíferos vivos. As linhas contínuas indicam o período ecológico em
que cada grupo teria existido
SUBCLASSE PROTOTHERIA
Os prototérios são um grupo formado por uma única ordem, monotremata, que surgiu durante o
Mesozoico. São representados pelos ornitorrincos (encontrados na Austrália) e equidnas
(encontradas na Nova Guiné). Atualmente, são classificadas duas famílias e cinco espécies de
prototérios (BENEDITO, 2017).
Diversidade de monotremados viventes. À esquerda, um ornitorrinco
Esse grupo é o mais antigo dentre os mamíferos atuais e apresenta características bem
similares aos espécimes basais. Eles são ovíparos, ou seja, o desenvolvimento fetal ocorre a
partir da colocação de ovos; possuem uma única saída para o tubo digestivo e urogenital (a
cloaca – inclusive, o nome monotremata deriva do grego e significa único orifício); não
possuem mamilos nem dentes quando adultos; possuem focinhos alongados; não possuem
cinturas escapulares acentuadas; seus membros são perpendiculares ao corpo e possuem um
bico couriáceo (em vez de córneo).
Diferentemente de outros grupos que colocam ovos, nos monotremados, os ovos possuem um
período de incubação dentro do ventre materno e outro período de chocamento externo. Após a
eclosão, os monotremados realizam cuidado parental, como ocorre nos demais grupos de
mamíferos, aumentando a chance de sobrevivência dos filhotes. Por não possuírem mamilos,
nos monotremados, o leite sai diretamente de pequenos orifícios na pele do abdômen da fêmea
e é lambido pelo filhote.
SUBCLASSE THERIA
A principal característica que distingue os térios dos não térios é a viviparidade. Além disso, os
térios apresentam mamas com mamilos, uma cóclea na orelha interna com ao menos duas
voltas e meia, uma orelha externa e molares tribosfênicos (POUGH et al, 2008).
Atualmente, esse grupo subdivide-se nas Infraclasse Methateria (onde estão inclusos os
marsupiais) e Eutheria (os placentários). Clique e conheça cada uma das infraclasses.
VIVIPARIDADE
INFRACLASSE METHATERIA
Os metatérios são popularmente conhecidos como marsupiais, devido à sua principal
sinapomorfia, que é a presença do marsúpio. Nos metatérios, o desenvolvimento embrionário
se inicia no ventre materno; todavia, antes de o feto estar plenamente maduro, o filhote sai pela
vagina da fêmea e se aloca numa espécie de bolsa no abdômen da mãe (o marsúpio). Lá, o
filhote se prende aos mamilos da mãe, onde se alimenta e termina o seu desenvolvimento. As
fêmeas possuem trato reprodutivo duplo, com duas vaginas laterais e dois úteros separados.
Nos machos, os pênis podem ser bifurcados.
Esse grupo possui uma placenta simples, cório-vitelínica, o que, muitas vezes, faz com que
sejam classificados como aplacentários, e isso é tecnicamente incorreto, uma vez que
possuem placenta, ainda que simplificada.
De acordo com Benedito (2017), atualmente, o grupo possui 20 famílias e 331 espécies
descritas e, apesar de distribuídos por praticamente todos os continentes, a maioria dos
marsupiais atuais são encontrados na Austrália, América Central e América do Sul. Eles
possuem uma série de hábitos, existindo espécies arbóreas, terrestres, fossoriais e
semiaquáticas; existem animais que correm, andam, escalam, cavam, nadam e ainda há uma
espécie planadora; há grupos com padrões diurnos, noturnos e crepusculares; há espécies que
hibernam e outras que permanecem ativa durante todo o ano; há grupos sociais e outros
solitários. Em relação aos hábitos alimentares; há animais herbívoros, carnívoros, insetívoros,
onívoros e nectarívoros. Entre as espécies mais conhecidas, estão os coalas, cangurus e
gambás.
Entre outras características dos metatérios que os distingue dos eutérios, estão o menor
tamanho cerebral, presença de palato fenestrado (contém aberturas em sua superfície óssea),
canal lacrimal ligeiramente anterior à orbita e o número de incisivos superiores, que é maior do
que o número de incisivos inferiores.
Quantidade de Quantidade de
Classe Mammalia
famílias espécies
Subclasse Theria
Classificação dos mamíferos viventes. Fonte: BENEDITO, 2017.
Ordem Diprotodontia
Subordem Vombatiformes (coala,
vombate)
Subordem Phalangeriformes (cuscus, 8 143
possums, ringtail)
Subordem Macropodiformes (cangurus,
wallabies)
INFRACLASSE EUTHERIA
Os eutérios são popularmente conhecidos como mamíferos placentários, mas esse termo não
é tecnicamente apropriado, pois os marsupiais também possuem uma espécie de placenta,
apesar de mais simples do que a que possuem os eutérios. A principal distinção entre os
metatérios e os eutérios, então, está relacionada à maturidade do filhote ao deixar o útero
materno. Os mamíferos da infraclasse Eutheria apresentam um período de gestação mais
longo que os marsupiais, e seus filhotes nascem em um estágio de desenvolvimento muito
mais avançado (LIEM et al., 2013).
A reprodução desses animais conta com uma série de anexos reprodutivos que incluem, além
da placenta, o saco vitelínico, âmnio, cavidade aminiótica e cordão umbilical. As fêmeas,
usualmente, possuem um útero e uma vagina, diferentemente do que aparecia nos metatérios.
Quantidade de Quantidade de
Classe Mammalia
famílias espécies
Ordem Afrosoricida
Subordem Tenrecomorpha (tenrec)
2 51
Subordem Chrysochloridae (toupeira-
dourada)
Ordem Pilosa
Subordem Folivora (preguiças) 4 10
Subordem Vermilingua (tamanduás)
Ordem Primates
Subordem Strepsirrhini
Infraordem Lemuriformes (lêmures)
Infraordem Chiromyiformes (ai-ai)
Infraordem Lorisiformes (lóris, gálagos)
Subordem Haplorrhini
15 376
Infraordem Tarsiiformes (társios)
Infraordem Simiiformes
Parvordem Platyrrhini (micos, macacos
do Novo Mundo)
Parvordem Catarrhini (macacos do Velho
Mundo)
Ordem Carnivora
Subordem Feliformia (gatos, hienas etc.)
15 286
Subordem Caniformia (cães, ursos, focas,
guaxinins, quatis, lontras etc.)
Ordem Cetacea
Subordem Mysticeti (baleias filtradoras)
11 84
Subordem Odontoceti (baleias com
dentes, golfinhos)
MAMÍFEROS NO BRASIL
O Brasil possui enorme diversidade de mamíferos, sendo classificado como o maior país em
diversidade de mamíferos do planeta. De todas as espécies viventes, estima-se que 12%
podem ser encontradas no país (BENEDITO, 2017).
Das 18 ordens conhecidas de mamíferos em todo o mundo, 11 são encontradas no Brasil, são
elas:
Cingulata (tatus);
Pilosa (preguiças e tamanduás);
Primates (macacos);
Lagomorpha (coelhos e lebres);
Chiroptera (morcegos);
Carnivora (cachorro-do-mato, lobo, raposa, quati, lontra, furão, gato e onça);
Perissodactyla (anta);
Artiodactyla (porco-do-mato e veados);
Cetacea (baleias);
Rodentia (rato, preá, capivara, cutia e paca).
No que tange à distribuição de mamíferos nos biomas brasileiros, possuímos uma série de
espécies endêmicas, ou seja, que não são encontradas em nenhum outro local do mundo.
Dessa forma, conclui-se que a preservação dos ecossistemas brasileiros é crucial para a
preservação dos mamíferos.
BIOMA AMAZÔNIA
BIOMA CAATINGA
BIOMA CERRADO
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 4
Até agora, estudamos todos os mamíferos, sem dar enfoque especial a nenhum grupo
específico. Porém, parece lógico que demos maior enfoque ao grupo do qual fazemos parte: os
primatas.
Neste módulo, estudaremos a origem e evolução dos primatas até o surgimento dos seres
humanos. Vamos lá?
A ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS PRIMATAS
Os primatas são um grupo muito bem-sucedido, desde a Era Cenozoica, tendo sido
inicialmente composto somente por animais arborícolas. Segundo Benedito (2020), existem
atualmente 15 famílias e 376 espécies descritas. A maior parte das espécies são encontradas
nas florestas tropicais, existindo animais pequenos como o lêmure-rato-pigmeu, que pesa cerca
de 30g, e os gorilas, que podem pesar 175kg. A maioria dos primatas, até hoje, é arbórea, com
algumas exceções, como os babuínos e os humanos, por exemplo.
Grande parte das características dos primatas evoluiu devido à vida arborícola. Viver na
floresta, pendurando-se em galhos enquanto carrega seus filhotes e realiza todas as suas
atividades habituais, exige maior acuidade dos animais.
Presença de cinco dígitos nas mãos e nos pés (ou nas quatro patas), com grande
amplitude de movimento e, usualmente, com oposição entre o polegar e o hálux.
Garras modificadas em unhas.
Entre os grupos basais de primatas, podem ser citados os Plesiadapformes. Eles apareceram
no início da Era Cenozoica e foram os primeiros mamíferos similares a primatas. Entre as
semelhanças com os primatas atuais, podem ser citados os dentes e o esqueleto. Entre as
diferenças, estão os cérebros, menores, os focinhos, mais longos, a presença de garras e a
ausência de polegar opositor.
Nos Haplorrhinis estão inclusos os primatas mais parecidos com os humanos Simiiformes
(macacos e símios) e os Tarsiiformes (tarsos).
Os gorilas fazem parte do grupo dos Haplorrhini, dentro dos Simiiformes, grupo mais parecido
com os humanos.
Já os Strepsirrhini incluem:
Chiromyiformes (aye-aye);
Todavia, apesar da classificação moderna dos primatas, para estudar a evolução do grupo,
iremos classificá-lo em prossímios e antropoides, antiga classificação utilizada para o estudo do
grupo, mas que representa bem seu processo evolutivo.
Já os antropoides foi o grupo mais moderno de primatas e são compostos principalmente por
espécies arborícolas, maiores que os prossímios, com cérebros maiores e sistema olfativo
menos desenvolvido. Suas maiores diferenças em relação aos prossímios são relacionadas ao
tamanho do cérebro e aos dentes, devido à sua alimentação. Neste grupo de primatas
evolutivamente mais recentes, estão inclusos os macacos do novo mundo com nariz amplo; os
ceboides (formado usualmente por animais menores, incluindo macacos-prego, saguis e mico-
leões, macaco-da-noite, macaco-aranha, barrigudo, bugio, titis e uacaris); e os macacos do
velho mundo com nariz estreito, incluindo os símios e os humanos. Esse grupo possui narinas
voltadas para frente, para baixo, abertura óssea nasal no crânio, cauda curta ou ausente, com
tendência a maior crescimento corporal.
Os hominídeos incluem espécies com peso de 48kg até 270kg; os machos são maiores do que
as fêmeas; os dedos possuem unhas planas; não possuem caldas; possuem ampla calota
craniana; são onívoros; e todos, menos os humanos, são bons escaladores, sendo que
somente os orangotangos são arborícolas.
Entre os símios viventes, estão os gibões asiáticos, orangotangos, chipanzés, gorilas, entre
outros. Eles possuem populações com comportamentos sociais complexos e com culturas
diferentes entre as diversas populações encontradas. Atualmente, todos os símios são
classificados como em extinção.
Gorila, exemplo de símio vivente
Entre os hominídeos mais recentes está o gênero Homo, com algumas espécies descritas,
todas elas extintas, exceto os humanos atuais (Homo sapiens). Supõe-se que a primeira
espécie do grupo tenha surgido na África, entre 2,4 e 1,6 milhões de anos, e, com o passar dos
séculos, uma série de características humanas foram aparecendo pouco a pouco, até o
surgimento da espécie humana atual. Entre essas características, estão:
Bipedalismo;
Cérebro grande;
Perda de pelos;
Desenvolvimento da pigmentação da pele.
VÍDEO
O vídeo vai explorar mais a questão dos hominídeos, características, e mudanças
significativas.
ATENÇÃO
Os humanos não são organismos mais evoluídos ou superiores do que os demais seres vivos,
como se pensava até pouco tempo. Como já discutido anteriormente no tema, a evolução não
é a busca por uma meta, onde almeja-se um resultado. Os humanos fazem parte do
ecossistema terrestre como qualquer outra espécie, não existindo grupos superiores ou
inferiores em relação aos demais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, estudamos um importante grupo: os mamíferos. Iniciamos pelo estudo da
sistemática filogenética do grupo, passando por sua origem, pelos grupos basais, grupos atuais
até chegarmos aos primatas.
PODCAST
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BENEDITO, E. (Org). Biologia e Ecologia dos Vertebrados. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2017.
LIEM, K. F.; BEMIS, W. E.; WALKER JR., W. F.; GRANDE, L. Anatomia funcional dos
vertebrados: uma perspectiva evolutiva. 3. ed. São Paulo: CENGAGE Learning, 2013.
PIVETTA, M. A origem dos mamíferos. Revista Pesquisa Fapesp, Edição nº 76, 2002.
POUGH, F. H.; JANIS, C. M.; HEISER, J. B. ,A vida dos vertebrados. 1. ed. São Paulo:
Ateneu, 2008.
EXPLORE+
Abordamos a teoria moderna, que explica a origem dos mamíferos. Porém, você pode ter se
perguntado como os cientistas descobriram a origem do grupo Mammalia. Será que ainda há
mais evidências e peças desse “quebra-cabeça” histórico a serem descobertas? Obviamente,
sim. É importante que nós entendamos o seguinte: no que tange aos estudos de paleontologia
e evolução das espécies, ainda há muito a ser descoberto.
No artigo A origem dos mamíferos, publicado na Revista Fapesp, você poderá conhecer
como o estudo de fósseis brasileiros é capaz de ajudar a entender a origem do grupo.
Se quiser relembrar o conteúdo sobre deriva continental, recomendamos o vídeo da
Khan Academy.
Quer saber mais sobre os seres humanos dentro de um contexto evolutivo? Leia o artigo
Homo sapiens: uma espécie como as outras, da Revista Ciência Hoje.
CONTEUDISTA
Camilla Sousa Haubrich
CURRÍCULO LATTES