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Ambientes Urbanos
Júri
Presidente: Prof. Doutor Fernando Duarte Nunes
Fevereiro 2014
(Página intencionalmente deixada em branco)
II
À memória de familiares
“Nada na vida é mais belo e fascinante que o mistério. É a fonte fundamental de toda
a verdadeira arte e ciência. Aquele a quem é estranho este sentimento, é como se
estivesse morto: os seus olhos estão fechados.”
(Albert Einstein)
III
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IV
Agradecimentos
Gostaria, em primeiro lugar, de expressar a minha profunda gratidão ao professor Dr. António
Luís Campos da Silva Topa pela confiança que depositou em mim ao ter aceitado orientar a minha
Dissertação de Mestrado. Gostaria ainda de manifestar o meu sentido agradecimento ao professor
António Topa, que na qualidade de orientador deste trabalho demonstrou sempre total simpatia,
paciência e disponibilidade para esclarecer as inúmeras dúvidas e problemas que surgiram na sua
realização. O seu contributo e disponibilidade foram fundamentais na realização deste trabalho e para
a minha formação académica.
Aos meus pais, Justina Pereira e Leonardo Pereira, a quem devo tudo o que sou, estiveram
sempre presentes e ajudaram-me a superar as maiores dificuldades que enfrentei. Estarei eternamente
agradecido por todo o amor, incansável dedicação e orientação que me deram em toda a minha vida,
e por toda a formação humana, educação, princípios, valores e sentido de responsabilidade que sempre
me transmitiram.
Aos meus tios, primos e avó Aurora também uma sentida palavra de agradecimento por todo o
carinho e incentivo que sempre me deram.
Ao meu amigo de sempre, Gonçalo Silva, que é como um irmão para mim e esteve sempre
presente nos momentos mais difíceis da minha vida.
Aos meus grandes amigos que tive o privilégio de conhecer no meu percurso académico, em
especial: Adélcio Rosa, Charles Maciel, Carlos Cheoo, Diogo Guerreiro, Elizângela Fernandes,
Guilherme Fernandes, Ivan St’Aubyn, Maria Taful, Ricardo Almeida e Sandro Neto. O meu muito
obrigado pela amizade, dedicação, sacrifício, camaradagem e espirito de união ao longo destes anos.
A minha profunda gratidão por tudo aquilo que me ensinaram, por todo o apoio e contributo que deram
para enfrentar as inúmeras batalhas que foram surgindo e por todos os momentos de convívio. Tudo o
que alcancei até hoje é graças a eles.
Por fim, dedico esta Dissertação à memória dos meus avós já falecidos, que nunca serão
esquecidos e que teriam certamente muito orgulho em presenciar o final deste importantíssimo capítulo
na minha vida.
V
(Página intencionalmente deixada em branco)
VI
Resumo
A área das comunicações móveis tem tido um grande crescimento nos últimos anos, e até à
data, a sua tecnologia encontra-se a ser difundida em todo o planeta a uma velocidade superior a
qualquer outro meio de comunicação. O ato de comunicar está no centro de todos os domínios da
atividade humana e para suportar o contínuo aumento do número de utilizadores deste serviço em todo
o mundo, os sistemas de comunicação móveis tornaram-se mais avançados e sofisticados.
Palavras-Chave
VII
Abstract
In the last years the mobile communications industry has been growing dramatically, and up to
this day, wireless communication technology is diffusing around the planet faster than any other
communication technology. Communication is at the heart of human activity in all domains and to
support the continuously increasing number of mobile telephone subscribers around the world, mobile
communication systems have become more advanced and sophisticated in their designs.
This work consists on the investigation and analysis of some aspects related to electromagnetic
wave propagation in presence of the earth and atmosphere. To accomplish that, MATLAB® simulations
are developed to allow a better comprehension of the different radio wave propagation phenomena that
occur in certain environments.
The simulations are based on the following features: representation of the electric field
interference pattern due to ground reflection, representation of the electric field close to obstacles, ray
tracing in a horizontally stratified atmosphere, visualization of the effects caused by the inversion of the
refraction index in an atmosphere (mirages), and evolution of the electric field in an urban environment
(mobile communications scenario), according to an empirical and theoretical propagation model.
Propagation models are indispensable in the design and analysis of new wireless communication
systems. They are used to predict power, interference levels and analyze other properties of the radio
link, with a special interest in urban environments, which are characterized by having a higher complexity
and population density.
Keywords
Radio wave propagation; Radiation; Reflection; Refraction; Diffraction; Mobile radio; Propagation
Models;
VIII
Índice
Agradecimentos ...................................................................................................................................... V
Resumo .................................................................................................................................................. VII
Palavras-Chave ...................................................................................................................................... VII
Abstract ................................................................................................................................................ VIII
Keywords .............................................................................................................................................. VIII
Lista de Figuras ....................................................................................................................................... XI
Lista de Imagens ................................................................................................................................... XIV
Lista de Variáveis ................................................................................................................................... XV
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 1
1.1. Enquadramento histórico ............................................................................................................. 1
1.2. Motivação e objetivos ................................................................................................................ 12
1.3. Estrutura da dissertação............................................................................................................. 13
1.4. Contribuições principais ............................................................................................................. 15
2. RADIOPROPAGAÇÃO ........................................................................................................................ 17
2.1. Introdução .................................................................................................................................. 17
2.2. Propagação em espaço livre....................................................................................................... 19
2.2.1. Potência transmitida entre duas antenas ........................................................................... 19
2.2.2. Intensidade do campo ......................................................................................................... 22
2.2.3. Equação do radar ................................................................................................................ 23
2.2.4. Dipolo linear de meia onda ................................................................................................. 24
2.3. Reflexão no solo ......................................................................................................................... 27
2.4. Simulações .................................................................................................................................. 31
3. DIFRAÇÃO CAUSADA POR OBSTÁCULOS ....................................................................................... 43
3.1. Modelo Knife-edge ..................................................................................................................... 43
3.2. Simulações .................................................................................................................................. 47
4. REFRAÇÃO NA ATMOSFERA .......................................................................................................... 51
4.1. Índice de refração da atmosfera ................................................................................................ 52
4.2. Trajetória de um raio ótico numa atmosfera horizontalmente estratificada ............................ 53
4.2.1. Estratificação plana ............................................................................................................. 54
4.2.2. Estratificação esférica.......................................................................................................... 55
4.3. Raio de curvatura do raio ótico .................................................................................................. 56
4.4. Refratividade modificada ........................................................................................................... 57
IX
4.5. Propagação em Ductos............................................................................................................... 59
4.5.1. Condições necessárias para a formação de ductos ............................................................. 60
4.6. Traçado de raios ......................................................................................................................... 62
4.6.1. Modelo exato ...................................................................................................................... 62
4.6.2. Modelo aproximado ............................................................................................................ 64
4.6.3. Modelo analítico para a trajetória ...................................................................................... 65
4.6.4. Cálculo do ponto de indeterminação .................................................................................. 66
4.7. Simulações .................................................................................................................................. 68
4.7.1. Uma camada atmosférica.................................................................................................... 68
4.7.2. Ducto superficial e sobrelevado .......................................................................................... 73
4.8. Miragens ..................................................................................................................................... 76
4.8.1. Miragens inferiores ............................................................................................................. 76
4.8.2. Miragens superiores ............................................................................................................ 79
4.8.3. Simulação de miragens........................................................................................................ 80
5. MODELOS DE PROPAGAÇÃO EM AMBIENTES URBANOS.............................................................. 85
5.1. Cenário para o rádio móvel terrestre ......................................................................................... 88
5.2. Ambientes de macro-célula........................................................................................................ 90
5.2.1. Modelos empíricos .............................................................................................................. 90
5.2.1.1. Modelo Okumura ............................................................................................................. 91
5.2.1.2. Modelo Okumura-Hata .................................................................................................... 94
5.2.1.3. Factores de correção ........................................................................................................ 95
5.2.1.4. Extensão do modelo Okumura-Hata .............................................................................. 101
5.2.1.5. Campo total .................................................................................................................... 102
5.2.1.6. Simulações do modelo Okumura-Hata .......................................................................... 104
5.2.2. Modelos teóricos ............................................................................................................... 109
5.2.2.1. Modelo Walfisch-Bertoni ............................................................................................... 109
5.2.2.2. Efeito de multi-percurso................................................................................................. 110
5.2.2.3. Efeito de sombra e difração por filas múltiplas de edifícios .......................................... 112
5.2.2.4. Campo total .................................................................................................................... 114
5.2.2.5. Simulações do modelo Walfisch-Bertoni ....................................................................... 114
6. CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 117
6.1. Principais conclusões................................................................................................................ 117
6.2. Perspetivas de trabalhos futuros ............................................................................................. 119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................... 120
X
Lista de Figuras
Figura 2.1 – Potência radiada através da superfície fechada 𝑆 e coordenadas esféricas do campo
radiado na zona distante.
Figura 2.8 – Variação da amplitude do campo normalizado com a distância em PH, recorrendo a
aproximações.
Figura 2.11 – Variação da amplitude do campo elétrico com a distância, em unidades logarítmicas e
PH.
Figura 2.13 – Variação da amplitude do campo elétrico com a distância, em unidades logarítmicas e
PV.
Figura 2.15 – Campo elétrico em espaço livre com um agregado de duas antenas e um agregado de
quatro antenas.
Figura 2.18 – Variação da amplitude do campo elétrico com reflexão no solo usando um agregado de
duas antenas.
Figura 3.3 – Atenuação introduzida por um obstáculo do tipo Knife-edge, em função da penetração.
XI
Figura 3.4 – Modelo Knife-edge para 180 MHz.
Figura 4.13 – Trajetória dos raios com 𝛼0 < 0 e 𝑑𝑀 ⁄𝑑ℎ > 0, com reflexão no solo.
Figura 4.14 – Trajetória dos raios para diversos ângulos de partida e 𝑑𝑀⁄𝑑ℎ > 0.
Figura 4.21 – Trajetória dos raios desde vários pontos do objeto até ao observador.
Figura 4.25 – Deformação da imagem inicial tal como é vista pelo observador após alteração da
trajetória dos raios pelas alterações do índice de refração da atmosfera.
Figura 4.26 – Divisão da imagem nos dois planos ortogonais (vertical e horizontal).
XII
Figura 4.28 – Miragem superior.
Figura 5.4 – Esquema para o cálculo da altura efetiva da antena da estação de base no modelo
Okumura.
XIII
Lista de Imagens
Imagem 1.5 – Marconi com um sistema parecido com o que utilizou para a primeira transmissão sobre
o Atlântico.
XIV
Lista de Variáveis
𝑎 Raio da terra
𝐸2 Campo elétrico associado ao raio difratado que se reflete uma vez no obstáculo
𝑓 Frequência
XV
𝐺(ℎ𝑡 ) Fator de correção da antena de emissão (Modelo Okumura)
ℎ Altura
𝐻 Campo magnético
ℎ𝑒 Altura equivalente
𝑘 Número de onda
𝐾𝑎𝑐 , 𝐾𝑎𝑙 Fatores de correção para a orientação das ruas relativamente ao emissor
𝐿 Comprimento do dipolo
XVI
𝐿ℎ Comprimento horizontal de cada intervalo do campo
𝑀 Refratividade modificada
𝑁 Refratividade
𝑝 Pressão atmosférica
𝑃𝑒 Potência emitida
𝑃𝑟 Potência recebida
𝑟𝑑 Raio direto
𝑟𝑟 Raio refletido
𝑇 Temperatura
XVII
ℇ0 Constante dielétrica do ar
𝜃 Colatitude
𝜎𝑠 Condutividade do solo
𝜓𝐵 Ângulo de Brewster
Γ Coeficiente de Fresnel
𝜆 Comprimento de onda
𝜑 Azimute
𝜙 Ângulo de rua
XVIII
1. INTRODUÇÃO
1.1.Enquadramento histórico
A descoberta das ondas eletromagnéticas foi, sem dúvida, o mais belo acontecimento da física
no século XIX.
Em 1600, William Gilbert adotou o termo “eletricidade” da palavra grega para âmbar (elektron),
como uma referência às suas propriedades atrativas, e descobre que a eletrificação não estava limitada
ao âmbar, sendo este um fenómeno geral. Foi também a primeira pessoa a usar os termos força
elétrica, polos magnéticos, atração elétrica e o primeiro a explicar o funcionamento de uma bussola
magnética. Os frutos da sua investigação e experiências ao longo de muitos anos constituíram a base
para uma nova ciência. [4]
Experiências conduzidas por Charles Augustin de Coulomb um século mais tarde resultaram na
Lei de Coulomb, publicada em 1785, que descreve a interação eletrostática entre partículas
eletricamente carregadas. Esta lei foi essencial para o desenvolvimento da teoria do eletromagnetismo.
[5]
1
regime estacionário com os campos magnéticos que esta produz (Lei de Ampère), Michael Faraday,
James Clerk Maxwell e Heinrich Hertz. [6]
Imagem 1.1 – Esquema da experiência realizada por Hans Oersted. (Fonte: [23])
Após as descobertas de Hans Oersted, Michael Faraday iniciou em 1831 a sua grande série de
experiências que culminaram com a descoberta da indução eletromagnética. Faraday elaborou um
aparelho constituído por duas bobines de fio de isolamento em torno de um anel de ferro (Imagem 1.2),
descobriu que, passando uma corrente por uma bobine, uma corrente momentânea era induzida na
outra bobine. Este fenómeno é conhecido por indução mútua. Em experiências seguintes, Faraday
descobriu que, se um íman fosse movido através de um fio em anel, uma corrente elétrica iria percorrer
esse fio (Imagem 1.3). As suas demonstrações estabeleceram que um campo magnético variável no
tempo produz um campo elétrico. Faraday também estabeleceu que o magnetismo poderia afetar raios
de luz e que existia uma relação entre os dois fenómenos. [6] [7]
2
Imagem 1.3 – Esquema de uma das experiências de Faraday que demonstra a indução eletromagnética. A bateria
química (à direita) envia corrente elétrica através da bobine pequena (A). Quando esta é movida para dentro ou
para fora da bobine grande (B), o seu campo magnético induz uma corrente momentânea na bobine (B), que é
detetada pelo galvanómetro (G). (Fonte: [25])
3
Durante as suas experiências para transmitir ondas rádio, Hertz usou um esquema como
indicado na Imagem 1.4 (dipolo oscilante de Hertz). O esquema consiste em duas placas metálicas
(condensadores) conectadas, através de fios de cobre, a uma abertura orientada a faísca, constituída
por duas esferas metálicas. Utilizando uma bobine de Ruhmkorff1 DC-AC de alta voltagem, as placas
metálicas são carregadas alternadamente e uma elevada diferença de potencial é aplicada na abertura
entre as esferas. Devido à elevada diferença de potencial, o ar existente na abertura fica ionizado e
disponibiliza uma ponte para a descarga das placas. O resultado foi uma faísca na abertura com cargas
elétricas a oscilar a uma elevada frequência, dando origem a radiação de ondas eletromagnéticas
transversais. Para detetar as ondas emitidas, Hertz usou um fio de cobre em anel com duas esferas
nas pontas a formar uma abertura bastante estreita. As ondas eletromagnéticas induziam uma corrente
no fio, o que daria origem a uma pequena faísca neste instrumento. A experiência de Hertz representou
a primeira transmissão e receção de ondas eletromagnéticas, feita pelo homem.
Em experiências mais avançadas, Hertz revelou que as ondas eletromagnéticas podiam ser
produzidas por diferentes materiais e mediu a velocidade da radiação eletromagnética, descobrindo
que as ondas moviam-se à velocidade da luz. Demonstrou também a reflexão das ondas em certos
materiais, a refração, polarização e interferência. Outras experiências feitas por Hertz provaram que
enquanto o comprimento das ondas de luz variava na ordem das centenas de nanómetros, o das ondas
eletromagnéticas variava entre alguns milímetros e centenas de quilómetros. [2] [8] [10]
1
Uma bobine de Ruhmkorff, ou também designada bobine de indução, é um transformador elétrico usado para
produzir impulsos de alta voltagem a partir de uma fonte de corrente DC de baixa voltagem. De modo a criar as
alterações de fluxo necessárias para induzir a voltagem na bobine secundária, a corrente DC no primário é
interrompida repetitivamente por um interruptor.
4
Adivinhando-lhes utilidade para as comunicações, Guglielmo Marconi repetiu as experiências de
Hertz, estudou as conclusões matemáticas de Maxwell e em 1895 desenvolveu um sistema de telégrafo
sem fios, usando ondas rádio como meio de comunicação. Em 1901, Marconi transpôs o espaço de
laboratório e instalou uma estação de transmissão sem fios em sua casa, em Wexford, com o objetivo
de estabelecer uma ligação entre Poldhu, Cornwall, e Clifden, Galway. Encorajado pela experiência,
Marconi iniciou a investigação sobre a possibilidade de comunicação transatlântica. Em dezembro de
1901 anunciou que usando uma antena de 152.3 metros para receção, conseguiu estabelecer uma
ligação entre a Europa (Poldhu) e o Canadá. É coberta uma distância de 3500 km. Este anuncio
levantou e continua a levantar muito ceticismo. O teste foi efetuado durante o dia, tendo o sinal um
comprimento de onda na proximidade dos 350 metros. Atualmente sabe-se que para sinais com este
tipo de comprimentos de onda, uma comunicação de longa distância durante o dia não é possível,
devido à grande absorção das ondas na ionosfera. Marconi defendeu que na sua experiência conseguiu
com sucesso ouvir, esporadicamente, a letra S em código Morse. Sentindo-se desafiado pelos céticos
e tendo como objetivo provar as suas experiências, Marconi viajou a bordo do navio SS Philadelphia
desde Inglaterra, recebendo diariamente os sinais enviados pela estação em Poldhu e guardando os
resultados. Os testes resultaram numa receção do sinal até 2496 km e uma receção de áudio até 3378
km. Estas distâncias foram alcançadas durante a noite, mostrando pela primeira vez que as ondas radio
de comprimento médio e longo viajam maiores distâncias à noite do que durante o dia. Durante o dia
as distâncias de receção eram significativamente menores, cerca de 1125 km, menos de metade da
distância afirmada pelos testes realizados no Canadá. Marconi não conseguiu provar em absoluto as
suas primeiras afirmações, mas provou que as ondas rádio podem ser transmitidas até grandes
distâncias. [2] [11]
Imagem 1.5 – Marconi com um sistema parecido com o que utilizou para a primeira transmissão sobre o
Atlântico. (Fonte: [26])
5
Uma das indústrias da época que mais beneficiou com os resultados do trabalho de Marconi foi
a indústria naval. Operadores de radio enviavam mensagens em código Morse em casos de
emergência, e esta poderia ser a única possibilidade para contactar navios de salvação.
A transmissão sem fios de código Morse era certamente bastante útil, contudo, em 1906 Reginald
Fessenden provou que era possível transmitir outros sons, como voz. Além de ter sido o primeiro a
transmitir voz através da radiodifusão de ondas eletromagnéticas, viria a desenvolver a modulação em
amplitude (AM). Começavam a surgir os primeiros aparelhos radio pessoais (Imagem 1.6). AM era uma
técnica para transmissão de um sinal de voz e música superior em relação às tecnologias existentes
até essa altura. O grande problema do AM era o elevado ruido na receção, proveniente do equipamento
e de fontes externas na atmosfera (relâmpagos por exemplo). Anos mais tarde, o engenheiro Edwin H.
Armstrong desenvolveu a modulação em frequência (FM), que viria a melhorar a qualidade áudio do
sinal recebido, ao realizar um melhor controlo sobre o ruido proveniente do equipamento e da atmosfera
terrestre. [12] [13] [14]
Imagem 1.6 – Família a ouvir transmissões radio na década de 1920. (Fonte: [27])
Em 1920 foram feitas as primeiras comunicações em alta frequência (HF), quando o primeiro
sistema de rádio foi instalado na Europa. Marconi instalou a primeira estação para comunicações
transatlânticas sem fios na Irlanda. O desejo de ir para altas frequências deveu-se à necessidade de
se obter comunicações com um maior alcance e circuitos de maior capacidade. Até ao HF, as
comunicações transatlânticas eram feitas por cabo ou correio. Os sistemas por cabo eram bastante
limitativos e enviar mensagens era extremamente dispendioso. O correio era lento. Com a chegada do
HF, as comunicações transatlânticas tornaram-se mais rápidas, com maior capacidade e mais baratas.
6
Na década de 1920 foi desenvolvida a antena Yagi-Uda (Imagem 1.7) por Shintaro Uda e
Hidetsugu Yagi, uma das antenas mais brilhantes alguma vez criadas. De simples construção,
permitem obter um ganho superior a 10 dB e é possível observa-las ainda hoje nos telhados de
inúmeras casas. [9] [15]
Imagem 1.7 – Professor Yagi com uma antena Yagi-Uda. (Fonte: [28])
Em Junho/Julho de 1923, Marconi fez uma longa viagem através do oceano Atlântico a bordo do
Elettra (Imagem 1.8), um iate convertido em um laboratório flutuante, realizando experiências com
sistemas de onda curta. Viajou até à ilha de Cabo Verde, permanecendo em constante comunicação
com a estação de Poldhu. No final da experiência, Marconi anunciou que, apenas usando ondas curtas,
o problema de comunicações a longas distâncias podia ser resolvido tanto racionalmente como
economicamente. Deste ponto até à atualidade, as tecnologias rádio cresceram dramaticamente.
7
A segunda guerra mundial teve um impacto fundamental no uso do espectro de radiofrequência.
A necessidade, devido à guerra, de realizar comunicações com maior capacidade levou a um grande
avanço nas comunicações sem fios, nomeadamente no desenvolvimento de sistemas de alta
frequência. Nesse período surgiram os primeiros refletores parabólicos, cornetas eletromagnéticas e
os agregados. O radar foi desenvolvido. [9]
Imagem 1.9 – Radar Norte-americano e Alemão usados para detetar bombardeiros inimigos. (Fonte: [30] [31])
Os progressos durante a guerra levaram ao desenvolvimento de sistemas rádio VHF (very high
frequêncy) e UHF (ultra high frequêncy). Com estes sistemas surgiu a ideia de sistemas de micro-ondas
em linha de vista e sistemas de dispersão troposférica. Descobriu-se que o uso destas altas frequências
provocava um alcance mais reduzido, em comparação com os sistemas HF. Até 1950 as comunicações
de longa distância eram feitas na banda HF. [9]
Com o advento do programa espacial, os engenheiros rádio observaram que era possível obter
comunicações de longo alcance em muito alta frequência usando satélites como estações de
retransmissão de rádio. Assim, deu-se o desenvolvimento dos sistemas de comunicação via satélite.
Hoje em dia, praticamente todas as comunicações de longo alcance são feitas através de satélites. [9]
8
Os físicos que contribuíram para fazer deste revolucionário meio de comunicação uma realidade,
provavelmente nunca imaginariam que as suas descobertas seriam a base para o desenvolvimento de
grandes indústrias na primeira metade do século XX, nomeadamente, os serviços de informação
(difusão de radio e televisão), telefonia, navegação marítima, transportes aéreos, comunicação via
satélite, sistemas de radar e conquista espacial. A capacidade para mover informação à velocidade da
luz, trouxe também consigo a expansão e integração dos mercados, através da redução dos custos de
transação e de fácil movimento de capitais. A humanidade ficou mais próxima, eliminaram-se fronteiras
e o mundo tornou-se mais pequeno.
Imagem 1.11 – Radiotelescópio Arecibo, Porto Rico (à esquerda), e radiotelescópio ALMA, Atacama-Chile (à direita).
(Fonte: [17] [33])
9
indícios do Big Bang, com a descoberta em 1964 da radiação cósmica de fundo em micro-ondas, por
Arno Penzias e Robert Woodrow Wilson. A radioastronomia tornou possível o estudo da formação,
composição e das interações existentes no universo, bem como a deteção de emissões radio
provenientes de planetas como Júpiter e de objetos longínquos compostos por partículas energéticas
tais como estrelas, pulsares, quasares, galáxias, entre outros. [19]
Embora se pense nos smartphones, tablets ou laptops como invenções modernas, a verdade é
que as redes e tecnologias em que estes aparelhos se baseiam vêm do início de 1930. Foi em Março
de 1930 que a revista Science anunciou a primeira comunicação móvel entre um navio e a costa, e que
possibilitou aos cidadãos americanos realizar chamadas telefónicas para os passageiros do navio em
pleno oceano Atlântico.
Desde o ano 1930 até à era digital, os sistemas de comunicações móveis têm vindo a sofrer
grandes avanços tecnológicos, o que culminou com os sistemas de primeira geração (1G) na década
de 1980, 2G na década de 1990, a seguir veio o 3G e mais recentemente o 4G. A era digital nas redes
de comunicações móveis foi iniciada com o 2G. Como resposta ao crescente aumento de subscritores
e trafego nas redes dos últimos anos, foram desenvolvidos os sistemas 4G. Os primeiros sistemas 4G
começaram a ser usados em 2010. A quinta geração (5G) dos sistemas de comunicação móvel tem
entrada prevista no mercado em 2020. [20] [21]
Presença virtual: fornecer serviços ao utilizador em todos os momentos, mesmo que o utilizador
se encontre fora do local de cobertura;
Navegação virtual: fornecer navegação virtual ao utilizador, sobre a qual se pode aceder a uma
base de dados das ruas, edifícios, etc.;
10
Aplicações de Tele-Geoprocessamento: combinação de GIS (Geographical Information System)
e GPS (Global Positioning System) no qual o utilizador pode obter a sua localização;
Gestão de crises naturais: desastres naturais podem provocar a suspensão temporária dos
sistemas de comunicação. Nas gerações anteriores, seria necessário esperar dias ou semanas
para restaurar o sistema, mas no 4G é expectável que o restauro seja feito em poucas horas;
Jogos de alta qualidade: possibilidade de jogar jogos de alta qualidade com outros utilizadores,
através da internet;
Conferências de vídeo.
11
A comunicação, desde os primórdios, é um instrumento de integração, instrução, troca mútua e
desenvolvimento entre as pessoas em quaisquer atividades. A descoberta das ondas eletromagnéticas
permitiu compreender melhor a ciência por trás do universo em que vivemos e conduziu a inúmeras
invenções que marcam a história da humanidade. Contudo, o universo é ainda visto como um grande
enigma, cheio de segredos e mistérios por revelar, pelo que a investigação continua e irá continuar no
futuro, na área do eletromagnetismo.
1.2.Motivação e objetivos
A extrema beleza da comunicação sem fios deve-se ao facto da informação ser transportada por
uma onda eletromagnética que se propaga no espaço e tem o potencial de alcançar qualquer lugar em
qualquer direção ou distância. Esta forma de comunicação proporciona uma vantagem em termos de
mobilidade e acessibilidade, em relação à comunicação com fios. Tal flexibilidade tem um preço: a
comunicação sem fios envolve a propagação de ondas eletromagnéticas dentro de ambientes
complexos, diversificados e que apresentam grandes desafios:
As ondas que se propagam nestes ambientes não se encontram confinadas num guia como
acontece em linhas de transmissão;
Estes ambientes costumam conter inúmeros obstáculos que interagem negativamente com
a onda, como por exemplo, edifícios em área urbana, árvores, colinas ou montanhas em
áreas rurais, chuva proveniente da atmosfera, entre outros;
Interferência co-canal entre utilizadores no mesmo ambiente.
12
De modo a ultrapassar estes constrangimentos, é necessário um conhecimento profundo sobre
o comportamento das ondas ao propagarem-se em ambientes complexos. Assim, a radiopropagação
e os modelos de propagação em ambientes urbanos, suburbanos e rurais continuam a ter um interesse
de estudo muito elevado, vital para o desenvolvimento e projeção de novos e mais sofisticados sistemas
de comunicações móveis e de longa distância.
O objetivo desta dissertação é investigar e observar o modo como as ondas rádio podem ser
afetadas quando se propagam em ambientes complexos e com relevância não só para as
comunicações móveis, mas também para outros sistemas de comunicação via radio. Para tal, modelos
de propagação teóricos e empíricos são usados para realizar simulações em MATLAB®, que permitem
a visualização de diversos fatores característicos da radiopropagação e conduzem a uma melhor
compreensão dos diferentes fenómenos de propagação, com especial ênfase para a reflexão, refração
e difração de ondas eletromagnéticas em ambientes macro-célula e em serviços de comunicação de
longa distância.
1.3.Estrutura da dissertação
Este trabalho encontra-se organizado em seis capítulos, quatro dos quais abordando aspetos da
propagação de ondas eletromagnéticas. Cada um desses capítulos contém uma explicação teórica e
resultados experimentais.
No capítulo 2 aborda-se o tema das reflexões das ondas no solo. A onda refletida vai interferir
com o raio direto, provocando oscilações do campo elétrico em torno do valor do campo elétrico em
espaço livre. O efeito da polarização, da altura da antena de receção, da distância entre antenas e da
utilização de um agregado, é demonstrado ao longo deste capítulo.
Todos estes parâmetros vão influenciar o campo elétrico na receção. A polarização vai influenciar
a intensidade máxima e mínima do campo elétrico, enquanto a altura da antena de receção e a distância
entre antenas irão influenciar a distância e a altura à qual os máximos e mínimos do campo elétrico se
manifestam. O agregado de antenas vai influenciar a intensidade do campo.
13
as antenas e a altura da antena de receção. Também o efeito da frequência é demonstrado neste
capítulo.
A primeira análise incide sobre o andamento dos raios em atmosfera com uma camada,
atmosfera padrão, sendo posteriormente demonstrado o comportamento dos raios na presença de
condições especiais (ductos – atmosfera com duas ou três camadas).
Ainda no capítulo 4, utilizou-se a função do traçado de raios para representar uma imagem
captada pelo olho humano, com origem num fenómeno natural provocado por uma atmosfera
caracterizada por diferentes índices de refração. Este tipo de fenómeno é mais conhecido por miragem.
Assim, dependendo do tipo de atmosfera, o utilizador tem hipóteses de visualizar uma miragem superior
ou uma miragem inferior.
Por último, para a simulação do campo elétrico em ambiente urbano, no capítulo 5 demonstra-
se o funcionamento de um modelo empírico e um modelo teórico, modelos Okumura-Hata e Walfisch-
Bertoni, respetivamente.
No caso do modelo Okumura-Hata, o valor médio do campo elétrico à receção é calculado para
ambientes urbanos, bem como para outro tipo de ambientes, terrenos e percursos, com o auxílio dos
respetivos fatores de correção do modelo, que dependem de parâmetros como a inclinação do terreno,
a altura da ondulação do terreno, orientação das ruas, entre outros.
14
1.4.Contribuições principais
Este trabalho vem na extensão das matérias abordadas nas cadeiras de Radiopropagação,
Sistemas de Comunicações Móveis, Propagação e Radiação de Ondas Eletromagnéticas e Antenas.
Obtém-se um conjunto de simulações, cuja visualização gráfica e análise no contexto teórico têm
interesse a nível pedagógico e de projeto. A nível académico este trabalho permite uma melhor
compreensão sobre alguns dos fenómenos que ocorrem durante a propagação de ondas
eletromagnéticas em ambientes urbanos, através da simulação de alguns modelos de propagação. A
nível de projeto, os resultados obtidos da simulação dos vários modelos contribuem para o
dimensionamento de um sistema de comunicações de longa distância ou de um sistema de
comunicações móvel urbano.
15
16
2. RADIOPROPAGAÇÃO
2.1.Introdução
A transmissão de sinais entre dois pontos pode fazer-se por ondas guiadas, apoiando-se num
suporte físico – linhas, cabos, guias de onda – ou por ondas livres (ondas em espaço livre). Neste
segundo caso, salvo determinadas circunstâncias exóticas tal como por exemplo a comunicação via
satélite, a propagação faz-se sempre total ou parcialmente dentro da atmosfera terrestre. Seguem-se
alguns exemplos de serviços que fazem uso deste tipo de transmissão:
Radiodifusão da televisão em bandas que se estendem do VHF até ao UHF (100 a 1000
MHz);
Feixes Hertzianos utilizados para a transmissão ponto a ponto de sinais na rede de transporte
de televisão (entre os centros de produção e os principais emissores; ligação aos estúdios
móveis), na rede telefónica interurbana (embora a perder peso para a fibra ótica), em
ligações entre estações de base e centros de controlo nas redes telefónicas móveis, sobre
distâncias curtas (da ordem das dezenas de km) e em que se utilizam frequências superiores
a 1 GHz (SHF);
Sistemas de comunicação via satélite, com o mesmo fim e na mesma banda que os
anteriores, mas cobrindo distâncias muito superiores (em geral maiores que 1000 km), neste
caso o sinal atravessa a atmosfera e a ionosfera por duas vezes;
No caso geral a propagação não se pode considerar como sendo em espaço livre, i.e., simples
onda esférica divergindo da antena emissora e intercetada pela abertura da antena recetora. Algumas
considerações mostram que o processo de propagação é efetivamente mais complexo:
i) Muitas vezes as antenas estão situadas junto ao solo – um caso típico é o da radiodifusão em
onda média; ou o trajeto entre as antenas emissora e recetora pode não estar desimpedido de
17
obstáculos, i.e., elevações de terreno, árvores ou edifícios, ou simplesmente porque a distância
é tal que as antenas estão para além do horizonte uma em relação à outra. Por estas razões,
a propagação faz-se em presença da terra, o que lhe altera as características.
ii) A atmosfera é um meio com uma estrutura complexa e a primeira aproximação que consiste
em considerá-la como um meio constante no tempo, uniforme, homogéneo e isotrópico, com
índice de refração 𝑛 = 1, só muito excecionalmente é suficiente para o estudo de problemas
de propagação. Na realidade o índice de refração da baixa atmosfera é pouco maior que a
unidade, mas na ionosfera o índice de refração é o de um plasma, que não se pode considerar
sem perdas (𝑛 complexo). Mesmo na baixa atmosfera, o índice de refração varia com a altura
e essa variação dá origem a um encurvamento dos raios que ao fim de alguns quilómetros tem
que ser tomado em consideração. Para além desta variação, ainda se observam variações
locais que se alteram ao longo do tempo, em correlação com as condições meteorológicas e
que tem por efeito causar flutuações do sinal recebido, uma vez que os diferentes raios que o
compõem vão seguir trajetos ligeiramente diferentes uns dos outros. Finalmente, a existência
na atmosfera de partículas – gotas de chuva, poeiras, etc. – e de zonas de turbulência, dá
origem à dispersão de energia em detrimento do raio direto e pode causar interferência em
serviços próximos.
18
Um cálculo rigoroso, ou a simples discussão da sua viabilidade e rigor, só pode fazer-se com um
bom conhecimento dos aspetos físicos primordiais dos fenómenos de propagação, do grau de validade
dos modelos que se aplicam e das suas limitações.
Uma antena pode ser utilizada nos modos de emissão e receção. Para obter as expressões que
permitem calcular a potência transmitida entre duas antenas e a intensidade do campo em espaço livre,
i.e., fora da presença de quaisquer obstáculos e num meio uniforme, homogéneo e isotrópico, é
necessário ter em consideração os parâmetros que caracterizam o comportamento das antenas.
Nestas circunstâncias admite-se que se tem uma onda esférica TEM centrada na antena emissora
(está-se assim na zona distante da antena).
Seja 𝑃𝑒 a potência emitida pelo emissor. Se um emissor for envolvido por uma superfície fechada,
𝑆, a radiação de energia eletromagnética implica que haja um fluxo de energia através e para o exterior
de 𝑆 (ver Figura 2.1).
𝑃𝑒 𝑃
𝜃
𝑟
Dipolo
0
𝑦
𝜑
𝑆
𝑥
Figura 2.1 – Potência radiada através da superfície fechada 𝑺 (à esquerda). Coordenadas esféricas do campo
radiado na zona distante (à direita). (adaptado de [2])
19
Em termos de potência radiada isso significa que o valor médio da potência radiada através de
𝑆 será dado por
(𝐸̅ × 𝐻
̅ ∗ )𝑛
𝑒
𝑃𝑒 = ∫ 𝑅𝑒 𝑑𝑆 (2.1)
𝑆 2
em que
1
𝑆𝑃𝑐 = (𝐸̅ × 𝐻
̅∗) (2.2)
2
Conclui-se, assim, que a potência radiada obtém-se por integração da densidade de fluxo de
potência através de uma superfície esférica, na zona distante.
1
〈𝑆𝑃 〉 = 𝑅𝑒 {𝑆𝑃𝑐 } = 𝑅𝑒 { (𝐸̅ × 𝐻
̅ ∗ )} (2.3)
2
Sabendo que a área da superfície esférica na receção à distância 𝑟 é 4𝜋𝑟 2 , e se a potência for
emitida isotropicamente, o módulo do valor médio do vetor de Poynting, na direção radial, é dado por
1 1
𝑆𝑃 (𝜃, 𝜑) = 𝑃𝑒 2
= 𝐸𝐻 [𝑊 𝑚−2 ] (2.4)
4𝜋𝑟 2
onde 𝐸 e 𝐻 são respetivamente as amplitudes do campo elétrico (𝑉 𝑚−1 ) e do campo magnético (𝐴 𝑚−1 )
da onda esférica TEM.
Nas condições anteriores, a potência recebida por uma antena recetora de abertura
𝐴𝑒𝑓 (𝜃, 𝜑) [𝑚2 ] será
𝐴𝑒𝑓 (𝜃, 𝜑)
𝑃𝑟 = 𝑃𝑒 [𝑊] (2.5)
4𝜋𝑟 2
em que 𝐴𝑒𝑓 (𝜃, 𝜑) é a abertura efetiva da antena recetora na direção (𝜃, 𝜑). Admite-se que a polarização
da onda incidente é concordante com a da antena de receção.
20
𝑆𝑃,𝑖𝑛𝑐𝑖𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒 (𝜃, 𝜑)
𝑃𝑟
Recetor
O conceito de área, ou abertura, efetiva de uma antena na direção (𝜃, 𝜑) é especialmente útil no
modo de receção, permitindo determinar, em condições de adaptação de polarizações, a potência
disponível na receção a partir do conhecimento da intensidade do valor médio local do vetor de
Poynting, 𝑆𝑃 , associado à onda que incide segundo a direção (𝜃, 𝜑).
Seja agora 𝐺𝑟 o ganho da antena de receção em relação a uma antena isotrópica, segundo a
direção (𝜃, 𝜑) do emissor. Sabe-se que
𝐴𝑒𝑓 (𝜃, 𝜑)
𝐺𝑟 (𝜃, 𝜑) = 4𝜋 (2.6)
𝜆2
1 𝜆 2
𝑃𝑟 = ( ) 𝑃𝑒 𝐺𝑟 (2.7)
(4𝜋)2 𝑟
Se o emissor não for isotrópico, mas tiver um ganho 𝐺𝑒 na direção (𝜃, 𝜑) da antena recetora,
será
1 𝜆 2
𝑃𝑟 = 𝑃𝑒 𝐺𝑒 𝐺𝑟 ( ) (2.8)
(4𝜋)2 𝑟
4𝜋𝑟 2
𝐿𝑓𝑠 =( ) (2.9)
𝜆
21
e 𝑃𝑒 é agora a potência entregue pelo emissor à respetiva antena. Em dB vem
4𝜋𝑟
𝑃𝑟 [𝑑𝐵𝑊] = 𝑃𝑒 [𝑑𝐵𝑊] +𝐺𝑒 [𝑑𝐵𝑖] + 𝐺𝑟 [𝑑𝐵𝑖] − 20𝑙𝑜𝑔 ( ) (2.10)
𝜆
2.2.2.Intensidade do campo
Nas condições anteriores o fluxo de potência é dado, para um ganho de 𝐺𝒆 na direção (𝜃, 𝜑) do
recetor, por:
𝑃𝑒 𝐺𝑒 (𝜃, 𝜑) 1
𝑆𝑃 (𝜃, 𝜑) = = 𝐸𝐻 (2.12)
4𝜋𝑟 2 2
𝐸 = 𝑍0 𝐻 (2.13)
em que 𝑍0 = (𝜇0 ⁄𝜀0 )1⁄2 = 120𝜋 [Ω] denota a impedância característica de onda em espaço livre (meio
com índice de refração “absoluto” 𝑛 = 1), substituindo (2.13) em (2.12) o valor eficaz e o valor máximo
do vetor de Poynting vêm, respetivamente, dados por:
𝐸2
𝑆𝑃 = (2.14)
2𝑍0
𝐸2
𝑆𝑃 𝑚á𝑥 = (2.15)
𝑍0
1 𝑍0 𝑃𝑒 𝐺𝑒
𝐸= √ (2.16)
𝑟 2𝜋
O que para a baixa atmosfera (𝑍0 ≈ 120𝜋 [Ω]) se pode escrever muito aproximadamente:
22
√60𝑃𝑒 𝐺𝑒
𝐸= (2.17)
𝑟
Analogamente:
1 𝑃𝑒 𝐺𝑒
𝐻= √ (2.18)
𝑟 240𝜋
2.2.3.Equação do radar
i ALVO
23
A equação do radar é dada pela seguinte expressão:
𝑃𝑟 1 1 𝐺 2 𝜎𝜆2
= . 𝐺(𝑒). 𝜎. . 𝐴 (𝑒) = (2.19)
𝑃𝑒 4𝜋𝑟 2 4𝜋𝑟 2 𝑒𝑓 (4𝜋)3 𝑟 4
𝜆2
onde, 𝐺 representa o ganho da antena, 𝐴𝑒𝑓 = 𝐺 a abertura da antena, 𝜎(𝑖, −𝑖) a área equivalente do
4𝜋
Esta equação estabelece a relação entre a potência recebida no eco (𝑃𝑟 ) e a potência fornecida
à antena pelo emissor (𝑃𝑒 ).
Neste trabalho, os resultados de simulação são obtidos através de simulações em que se utilizam
antenas de comprimento 𝐿 = 2𝑙 = 𝜆⁄2, ditas abreviadamente antenas ou dipolos lineares de 𝜆⁄2.
𝑍0
𝐸̅𝜃 = 𝑗 𝐼 ̅ ℎ 𝑒 −𝑗𝑘𝑟 𝑓𝐷 (𝜃) (2.20)
2𝜆𝑟 𝑀 𝑒𝑓
em que, 𝐼𝑀̅ é a corrente aos terminais da antena (corrente de entrada, que no caso da antena de 𝜆⁄2
corresponde ao máximo da corrente), ℎ𝑒𝑓 é a altura efetiva, 𝑓𝐷 (𝜃) designa-se por fator direcional
relativo ou simplesmente fator direcional, 𝑘 é a constante de propagação, 𝑟 é a distância, 𝜆 é o
comprimento de onda e 𝑍0 é a impedância característica da onda em espaço livre.
𝜆 𝑙 𝜆
ℎ𝑒𝑓 = tan (𝜋 ) = (2.21)
𝜋 𝜆 𝜋
𝜋
cos(𝑘𝑙 cos𝜃) − cos𝑘𝑙 cos (2 cos𝜃) (2.22)
𝑓𝐷 (𝜃) = =
(1 − cos 𝑘𝑙)sin𝜃 sin𝜃
24
Finalmente, o módulo do campo radiado na zona distante pela antena de 𝜆⁄2 vem dado pela
seguinte expressão:
𝜋
𝑍0 𝐼𝑀 cos (2 cos𝜃) (2.23)
𝐸𝜃 =
2𝜋𝑟 sin𝜃
É fácil verificar que a intensidade máxima de 𝐸𝜃 obtém-se para 𝜃 = 𝜋⁄2. Designa-se o campo
correspondente por 𝐸𝑀 .
𝑍0 𝐼𝑀
𝐸𝑀 = (2.24)
2𝜋𝑟
𝐸𝜃 = 𝐸𝑀 𝑓𝐷 (𝜃) (2.25)
A antena de 𝜆⁄2 , tal como um dipolo de Hertz, radia isotropicamente em azimute, 𝜑. O mesmo
não se verifica no que respeita à colatitude, 𝜃, onde ambos exibem propriedades diretivas.
A direccionalidade da antena de 𝜆⁄2 está definida pela expressão (2.22), o que representa um
diagrama de radiação de tipo toroidal (ver Figura 2.4 e 2.5), do campo elétrico normalizado ao máximo
(𝐸𝜃 ⁄𝐸𝑀 ).
25
Figura 2.5-Diagrama de radiação tridimensional do dipolo de meia onda.
26
2.3.Reflexão no solo
A interferência de raios diretos propagados em espaço livre com raios refletidos ou dispersados
no solo, pode ser de natureza construtiva ou destrutiva do sinal, podendo no segundo caso representar
um problema significativo na receção.
Irá ser analisado o caso da reflexão especular em terreno liso, pois deste modo a reflexão do
raio no terreno é concentrada num ponto, não havendo energia dispersada noutras direções, o que
permite nestas condições explorar e analisar situações de interferência extrema. Para estudar este
efeito, considera-se o terreno plano, i.e., despreza-se a curvatura da terra (aproximação da terra plana).
Para determinar o fator de reflexão do terreno em sinais com polarização horizontal e vertical, é
necessário ter em conta diversos fatores, tais como o ângulo de incidência ao solo 𝜓 ou ângulo de fogo,
e o índice de reflexão do solo em relação ao ar.
A direção de propagação da onda refletida está assente no mesmo plano que a direção da
onda incidente.
O ângulo de reflexão é igual ao ângulo de incidência.
Seja 𝑛, o índice de reflexão do solo em relação ao ar, dado por
1
ℰ𝑠′ 2 (2.26)
𝑛=( )
ℰ0
𝐸𝑖
𝐸𝑖
𝐻𝑖 𝑘𝑖 𝐸𝑟 𝑘𝑟 𝐸𝑟 𝑘𝑟
𝐻𝑖 𝑘𝑖
𝐻𝑟
𝐻𝑟
𝜓 𝜓 𝜓 𝜓
27
Os campos refletidos vêm dados pelos coeficientes de Fresnel pela seguinte relação de
campos:
Polarização horizontal
Polarização vertical
Em polarização vertical existe um ângulo de incidência para o qual |Γ𝑉 | passa por um mínimo
próximo de zero, designado pseudo-ângulo de Brewster. Assim, para Γ𝑉 (𝜓𝐵 ) = 0 :
𝑛
𝜓𝐵 = arccos [ ] (2.29)
√1 + 𝑛2
Com estes resultados é possível estudar e analisar o comportamento dos campos na chamada
zona de interferência, para a situação de terra plana.
Para efetuar uma análise do efeito de interferência entre o raio direto e o refletido, considera-se
o caso particular de uma antena emissora no solo a enviar um sinal a um recetor em movimento, por
exemplo um avião. O recetor desloca-se com uma altura constante.
𝑟𝑑
ℎ2
𝑟𝑟
ℎ1
𝜓
𝑑
Figura 2.7 - Raio direto e raio refletido. (adaptado de [1])
28
Os raios refletido e direto vêm dados respetivamente pelas seguintes expressões:
Δ𝑟 = 𝑟𝑟 − 𝑟𝑑 (2.32)
ℎ1 ℎ2 (2.33)
Δ𝑟 ≈ 2
𝑑
ℎ1 + ℎ2 (2.34)
tan 𝜓 = ≪1
𝑑
O vetor campo elétrico dos raios direto e refletido é dado respetivamente pelas seguintes
expressões:
𝐸0 −𝑗𝑘𝑟
̅𝐸̅̅𝑑̅ = 𝑒 𝑑 (2.35)
𝑟𝑑
𝐸0
̅̅̅
𝐸𝑟 = ̅̅̅̅̅
𝛤 𝑒 −𝑗𝑘𝑟𝑟 (2.36)
𝑟𝑟 𝑉,𝐻
em que Γ𝑉,𝐻 é o coeficiente de Fresnel para polarização horizontal ou vertical, que na sua forma polar
é expresso da seguinte forma:
29
O campo total na localização do recetor, neste caso a posição do avião, resulta então da
sobreposição do campo direto com o refletido. No caso de polarização horizontal, na localização do
recetor ambos os vetores dos campos direto e refletido são paralelos e portanto a sobreposição destes
resulta na sua soma. Para polarização vertical, na receção, o ângulo entre os vetores de ambos os
campos é muito pequeno, dado que em geral se tem 𝑑 ≫ ℎ1 , ℎ2 ,i.e., são praticamente paralelos, e
portanto a sobreposição destes resulta, de forma aproximada, na sua soma também.
𝐸̅ = ̅𝐸̅̅𝑑̅ + ̅̅̅
𝐸𝑟 ⇔ (2.38)
̅̅̅
𝐸𝑟
⇔ 𝐸̅ = ̅𝐸̅̅𝑑̅ (1 + ) ⇔ (2.39)
̅𝐸̅̅𝑑̅
𝑟𝑑 −𝑗(𝑘Δ𝑟−𝑎𝑟𝑔Γ̅̅̅̅̅̅)
⇔ 𝐸̅ = ̅𝐸̅̅𝑑̅ [1 + |Γ𝑉,𝐻 | 𝑒 𝑉,𝐻 ] (2.40)
𝑟𝑟
onde Δ𝜙 representa a diferença de fase resultante da sobreposição dos campos direto e refletido:
Δ𝑟
̅̅̅̅̅
Δ𝜙 = 𝑎𝑟𝑔Γ𝑉,𝐻 − 2𝜋
(2.42)
𝜆
A amplitude máxima do campo direto na zona distante, em espaço livre é dado por:
√60𝑃𝑒𝐺𝑒 (2.43)
𝐸𝑑 =
𝑟𝑑
𝐸
Máximo: ( ) = 1 + |Γ𝑉,𝐻 |
𝐸𝑑 𝑚𝑎𝑥
(2.44)
𝐸
Mínimo: ( ) = 1 − |Γ𝑉,𝐻 | (2.45)
𝐸𝑑 𝑚𝑖𝑛
30
Estes extremos ocorrem em intervalos de fase 𝜋. Portanto:
̅̅̅̅̅
𝑘Δ𝑟 − 𝑎𝑟𝑔Γ𝑉,𝐻 = 𝑛𝜋 ⇔ (2.46)
̅̅̅̅̅
E atendendo a que em geral se tem 𝑎𝑟𝑔Γ𝑉,𝐻 ≈ −𝜋 para 𝑑 ≫ ℎ1 , ℎ2 :
ℎ1 ℎ2 (2.47)
2𝑘 = (𝑛 − 1)𝜋 ⇔
𝑑
Obtém-se após alguma manipulação a expressão que possibilita determinar as distâncias para
o qual se observa os extremos:
ℎ1 ℎ2
𝑑𝑛 = 4 , com 𝑛 = 2,3,… (2.48)
(𝑛 − 1)𝜆
𝑛 par ⇒ Máximos
𝑛 impar ⇒ Mínimos
De notar que para |Γ𝑉,𝐻 | ≈ 0, o máximo e o mínimo são aproximadamente iguais, i.e., o campo
total resultante é aproximadamente igual ao campo do raio direto em propagação em espaço livre. Este
evento pode acontecer em polarização vertical quando existe um ângulo de incidência para o qual |Γ𝑉 |
passa por um mínimo acentuado, o pseudo-ângulo de Brewster.
2.4.Simulações
As Figuras 2.8 a 2.13 representam os resultados da variação do campo total com a distância
para o cenário em estudo, i.e., considerando a aproximação terra plana, tendo em conta o raio direto e
refletido pelo solo. O Avião (recetor) encontra-se a 1000 m de altura em voo horizontal sobre o mar
(𝜀𝑟 = 81, 𝜎𝑠 = 5 [Ω−1 𝑚−1 ]). Os parâmetros que caracterizam as propriedades do terreno são usados no
cálculo dos coeficientes de Fresnel em polarização horizontal e vertical. Para o emissor considera-se
um dipolo de meia-onda (𝜆/2), a emitir um sinal em polarização horizontal ou vertical, à altura de 250
m do solo. A potência entregue à antena é de 10 W, ganho de 10 dBi e comprimento de onda (𝜆) de
4 m.
Nas Figuras 2.14 a 2.18 analisa-se a influência e contributo que um agregado de antenas de
meia-onda no emissor tem na propagação.
31
Para o cálculo do campo é necessário acrescentar à expressão (2.40) as contribuições do fator
direcional da antena e do fator do agregado, tanto para o raio direto como para o raio refletido. O fator
direcional do raio direto e refletido vem, respetivamente
𝜋
cos(2 cos(𝜃𝑑 ))
𝑓𝐷 (𝜃𝑑 ) = (raio direto) (2.49)
sin(𝜃𝑑 )
𝜋
cos(2 cos(𝜃𝑟 ))
𝑓𝐷 (𝜃𝑟 ) = (raio refletido) (2.50)
sin(𝜃𝑟 )
𝛾
sin (𝑁𝑎𝑛𝑡 2𝑑 )
𝐹𝑑 = 𝛾 (raio direto) (2.51)
sin ( 𝑑 )
2
𝛾
sin (𝑁𝑎𝑛𝑡 2𝑟 )
𝐹𝑟 = 𝛾 (raio refletido) (2.52)
sin ( 𝑟 )
2
Sendo
𝜋 𝑎𝑏𝑠(ℎ2 − ℎ1 )
𝜃𝑑 = − tan−1 ( ) (2.53)
2 𝑑
𝜋 ℎ1 + ℎ2
𝜃𝑟 = − tan−1 ( ) (2.54)
2 𝑑
𝑟𝑑 −𝑗(𝑘Δ𝑟−𝑎𝑟𝑔Γ̅̅̅̅̅̅)
𝐸̅ = ̅𝐸̅̅𝑑̅ [𝑓𝐷 (𝜃𝑑 )𝐹𝑑 + 𝑓𝐷 (𝜃𝑟 )𝐹𝑟 |Γ𝑉,𝐻 | 𝑒 𝑉,𝐻 ]
(2.55)
𝑟𝑟
32
As duas primeiras figuras, 2.8 e 2.9 respetivamente, representam a variação do campo elétrico
normalizado 𝐸 ⁄𝐸𝑑 com a distância, para polarização horizontal (PH). Considera-se apenas uma
antena emissora. Tendo em conta o terreno (mar), a polarização e as distâncias em jogo (onde 𝑑 ≫
ℎ1 , ℎ2 ), na Figura 2.8 faz-se a simulação recorrendo ao modelo aproximado. Admite-se deste modo
que 𝑟𝑟 = 𝑟𝑑 pois a distância em jogo é bastante elevada, Δ𝑟 é dado pela expressão (2.33) ,
̅̅̅̅̅
𝑎𝑟𝑔Γ𝑉,𝐻 = −𝜋 e |Γ𝐻 | = 1. Nestas condições o campo normalizado é dado pela seguinte expressão:
𝐸̅ ℎ ℎ
−𝑗(𝑘 ×2 1 2 +𝜋)
= 𝑓𝐷 (𝜃𝑑 ) + 𝑓𝐷 (𝜃𝑟 )𝑒 𝑑 (2.56)
̅𝐸̅̅𝑑̅
𝐸̅ 𝑟𝑑 ̅̅̅̅
= 𝑓𝐷 (𝜃𝑑 ) + 𝑓𝐷 (𝜃𝑟 )|Γ𝐻 | 𝑒 −𝑗(𝑘Δ𝑟−𝑎𝑟𝑔Γ𝐻 ) (2.57)
̅𝐸̅̅𝑑̅ 𝑟𝑟
Figura 2.8 - Variação da amplitude do campo normalizado com a distância, recorrendo a aproximações. Sinal
emitido em PH.
33
Figura 2.9 - Variação da amplitude do campo normalizado com a distância. Sinal emitido em PH.
Numa primeira análise, verifica-se que os resultados obtidos tanto para o modelo aproximado
como para o modelo exato, usados para simular a variação do campo normalizado, são bastante
próximos. Trata-se de um resultado esperado, e tal deve-se ao facto de a distância entre as antenas e
o fator de reflexão do mar serem bastante elevados.
Devido ao facto de o campo ser normalizado, este oscila entre um máximo e um mínimo ao longo
da distância, 2 𝑉𝑚−1 e 0 𝑉𝑚−1 , respetivamente. A oscilação do campo entre estes valores está de
acordo com o previsto, dado que em polarização horizontal e para uma observação rasante (𝜓 < 5𝑜 ) o
fator de reflexão é bastante elevado (|Γ𝐻 | ≈ 1), pelo que, os raios direto e refletido terão uma amplitude
idêntica. Utilizando as expressões (2.44) e (2.45), chega-se facilmente a estes resultados, em relação
ao máximo e ao mínimo. A oscilação deve-se à variação da diferença de fase do campo ao longo da
distância.
Nas Figuras 2.10 a 2.13 representa-se a variação da amplitude do campo total com reflexão no
solo ao longo da distância, para um comprimento de onda (𝜆) de 4 m, utilizando o modelo exato
(expressão (2.55)). Considera-se apenas uma antena emissora. Estas figuras representam uma
simulação mais rigorosa e próxima da realidade.
34
Figura 2.10 - Variação da amplitude do campo elétrico com a distância. Sinal emitido em PH.
Figura 2.11 - Variação da amplitude do campo elétrico com a distância, em unidades logarítmicas. Sinal emitido
em PH.
35
Os resultados obtidos nas Figuras 2.10 e 2.11 permitem interpretar o comportamento do campo
em polarização horizontal, na zona de interferência. Aumentando sucessivamente a distância verifica-
se que o campo oscila em torno de um valor médio, correspondente à propagação em espaço livre
(linha vermelha). Este fenómeno deve-se à interferência entre o campo direto (definido entre a antena
emissora e o ponto de observação) e refletido. Em polarização horizontal e em particular neste caso
em que o terreno tem uma condutividade elevada (mar) e sabendo que as distâncias são bastante
elevadas, o que implica que a incidência seja rasante (𝜓 < 5𝑜 ), a reflexão é sempre praticamente total.
Como consequência, a amplitude do campo total é próxima de zero quando se atinge um mínimo nas
distâncias mais elevadas, pois, quando as ondas estão em oposição de fase, a interferência será
bastante destrutiva devido ao facto de ambos os campos, do raio direto e refletido, terem amplitude
idêntica. Observa-se também a diminuição de intensidade do campo à medida que a distância aumenta.
As Figuras 2.12 e 2.13 ilustram os resultados obtidos para um sinal emitido em polarização
vertical. À imagem dos casos anteriores, considera-se apenas uma antena emissora.
Figura 2.12 - Variação da amplitude do campo elétrico com a distância. Sinal emitido em PV.
36
Figura 2.13 - Variação da amplitude do campo elétrico com a distância, em unidades logarítmicas. Sinal emitido
em PV.
Em polarização vertical a reflexão é praticamente total para incidência rasante, mas para
distâncias significativamente superiores às do caso anterior e, consequentemente, com valores muito
menores do ângulo de chegada (𝜓 < 0.5𝑜 ), razão pelo qual nas Figuras 2.12 e 2.13 não se observam
mínimos tão acentuados em comparação com o caso da polarização horizontal.
O ângulo de Brewster é bem visível na região entre 10000 e 15000 m. Substituindo (2.29) em
(2.34) conclui-se que este ângulo localiza-se, mais precisamente, à distância de 11250 m, sendo este
o ponto onde se verifica que |Γ𝑉 | passa por um mínimo acentuado, bastante próximo de zero. O campo
resultante coincide com a linha vermelha, i.e., o campo elétrico neste intervalo é aproximadamente
igual ao campo em propagação em espaço livre.
37
Nas figuras que se seguem, o campo é calculado ponto a ponto desde a zona próxima da antena
até a um limite escolhido. Tanto a distância entre as antenas como a altura foram divididas em
intervalos. Como a distância entre as antenas costuma ser superior à altura, considerou-se um maior
número de intervalos para a distância do que para a altura. O comprimento vertical (𝐿𝑣 ) de cada
intervalo é dado por
ℎ𝑚𝑎𝑥
𝐿𝑣 = (2.58)
𝑛𝑣
𝑧𝑚𝑎𝑥
𝐿ℎ = (2.59)
𝑛ℎ
Para a representação do campo recorreu-se à função imagesc do MATLAB®, que atribui cores
conforme os valores da matriz do campo elétrico. Estas cores foram atribuídas pela função
colormap (jet).
A Figura 2.14 ilustra a variação da amplitude do campo elétrico em espaço livre, em função da
distância. O sinal (onda esférica) é emitido por um dipolo de meia-onda (𝜆⁄2) a 60 m de altura, de
potência 10 W, ganho 15 dBi e frequência 1000 MHz. Como se pode observar, a intensidade do campo
elétrico vai diminuindo à medida que a distância e a altura aumentam.
38
Na Figura 2.15 analisa-se o efeito que um agregado de duas e quatro antenas tem na
propagação em espaço livre. Utilizam-se antenas a radiar uma potência de 10 W, com um ganho de
emissão de 15 dBi e frequência 1000 MHz. As antenas encontram-se distanciadas de 𝜆⁄2 e estão
alimentadas em fase. Procedendo à análise da simulação, verifica-se que a intensidade do campo
aumenta e o lobo principal fica mais estreito, i.e., o feixe é mais diretivo. Isto deve-se ao facto de que
quando se utiliza um agregado, o diagrama de radiação tende a reforça-se na horizontal e a anular-se
na vertical. No caso do agregado de quatro antenas, salienta-se a presença de dois lobos secundários.
Figura 2.15 - Campo elétrico em espaço livre com um agregado de duas antenas (à esquerda) e um agregado de quatro
antenas (à direita).
Para um melhor entendimento do efeito que um agregado tem na propagação, foram simulados
vários casos, que se encontram representados na Figura 2.16. Na imagem superior esquerda
representa-se a variação do campo emitido, utilizando apenas uma antena com potência de 10 W. A
imagem superior direita corresponde a um agregado de duas antenas, cada uma a emitir uma potência
de 10 W, separadas entre si de 𝜆/2 e com as correntes em fase. Em relação à primeira imagem, o
diagrama da segunda apresenta um lobo mais estreito, embora a amplitude do campo elétrico seja
mais elevada. O agregado torna a radiação mais diretiva. Alterando por sua vez a distância entre as
antenas para 2𝜆 (imagem inferior esquerda) e o desfasamento das correntes para 45º mantendo uma
distância de 2𝜆 (imagem inferior direita), começam a surgir lobos secundários na radiação das antenas
e, consequentemente, zonas onde o campo é mais intenso e zonas onde é menos intenso. O
desfasamento das correntes faz com que os lobos secundários sejam maiores e que o lobo principal
diminua. Todas as figuras encontram-se representadas para uma frequência de 1000 MHz e um ganho
por antena de 15 dBi. Em relação à Figura 2.15, os valores do campo elétrico, em cada ponto, estão
em V/m e não em unidades logarítmicas. Para aumentar a nitidez das imagens mudou-se para um
conjunto de cores mais apropriado, através da função colormap (bone) do MATLAB®.
39
Figura 2.16 - Efeito do agregado de antenas.
Nas Figuras 2.17 e 2.18 é representado o efeito e o impacto que as reflexões no solo têm na
variação da amplitude do campo elétrico ao longo da distância e também da altura da antena de
receção, ponto a ponto. É feito um varrimento de 0 a 100 m de altura, ao longo de uma distância de
2000 m. Na primeira situação a antena emite um sinal em polarização vertical, com potência de emissão
de 10 W, ganho de 15 dBi e frequência de 500 MHz, em solo húmido. A partir de cerca de 500 m de
distância é possível distinguir os máximos e mínimos do campo na receção, ao longo da distância e da
altura.
40
Figura 2.17 – Variação da amplitude do campo elétrico com reflexão no solo. Sinal emitido em PV.
Figura 2.18 – Variação da amplitude do campo elétrico com reflexão no solo usando um agregado de duas antenas. Sinal
emitido em PV.
41
42
3. DIFRAÇÃO CAUSADA POR OBSTÁCULOS
3.1.Modelo Knife-edge
Neste capítulo será analisada a forma como a orografia do terreno intervém na propagação. O
terreno na maioria dos casos tem uma natureza irregular, com elevações e obstáculos que podem
eventualmente causar interferência e atenuar significativamente o sinal emitido.
𝑅(𝑥𝑟 , 0, 𝑑𝑟 )
𝑥
𝑥𝑟
𝐸(𝑥𝑒 , 0, −𝑑𝑒 )
𝑥̅
ℎ2
𝑥𝑒
𝑦
ℎ1 𝑧
ℎ𝑜𝑏𝑠
𝑑𝑒 𝑑𝑟
43
Encontramo-nos na presença dos seguintes parâmetros:
𝑥̅ – Folga (clearance). Distância entre o bordo do plano semi-infinito (ou topo do obstáculo) e o ponto
do raio em 𝑧 = 0.
𝑥𝑒 𝑑𝑟 + 𝑥𝑟 𝑑𝑒
𝑥̅ =
𝑑 (3.1)
𝑘𝑑
ℎ𝑒 = √ 𝑥̅
𝜋𝑑𝑟 𝑑𝑒 (3.2)
𝑬 𝑟1
𝑟𝑎 𝑟2
𝐷/2 𝑟𝑏 𝑹
44
Estes elipsoides são os lugares geométricos dos pontos que verificam a seguinte relação:
𝜆
𝛥𝑟 = (𝑟𝑎 + 𝑟𝑏 ) − 𝑟𝑑 = 𝑛 (3.3)
2
sendo 𝑟𝑑 = 𝑟1 + 𝑟2 .
𝑛=1
para o segundo
𝑛=2
etc.
Vem então
𝐷 2
𝑟𝑎 = √𝑟12 + ( )
2 (3.4)
𝐷 2
𝑟𝑏 = √𝑟22 + ( ) (3.5)
2
admitindo 𝑟1 ,𝑟2 ≫ 𝐷.
Para o primeiro elipsoide de Fresnel, o diâmetro à distância 𝑟1 do emissor vem dado por:
4𝜆𝑟1 𝑟2
𝐷1 = √ (3.6)
𝑟𝑑
Quando a folga 𝑥̅ do ponto de observação (i.e., a altura deste ponto acima do topo do obstáculo)
for maior que o raio (𝐷1 /2) do primeiro elipsoide de Fresnel (em 𝑧 = 0) , verifica-se que o obstáculo
representado pelo plano semi-infinito já não interfere com o sinal recebido no recetor, i.e., este sinal
será bastante próximo do que seria recebido em condições de espaço livre.
A atenuação suplementar no ponto 𝑅 de receção, depois da onda esférica ser difratada pelo
obstáculo do tipo Knife-edge, é dada por [1]:
2 2
1 1 1 1
)
𝐴(ℎ𝑒 = [ + 𝐶(ℎ𝑒 )] + [ + 𝑆(ℎ𝑒 )] (3.7)
2 2 2 2
45
em que 𝐶(ℎ𝑒 ) e 𝑆(ℎ𝑒 ) são os chamados integrais de Fresnel para uma dada altura equivalente ℎ𝑒 .
A Figura 3.3 representa a variação da atenuação introduzida por um obstáculo do tipo Knife-
edge, em função da penetração 𝑣, dada por 𝑣 = −ℎ𝑒 .
Figura 3.3 – Atenuação introduzida por um obstáculo tipo Knife-Edge em função da penetração.
𝐼(ℎ𝑒 )
𝐴(ℎ𝑒 ) = [ ] (3.8)
𝐼(∞) 𝑑𝐵
1 1 2 1 1 2
onde 𝐼(ℎ𝑒 ) = [ + 𝐶(ℎ𝑒 )] + [ + 𝑆(ℎ𝑒 )] é a intensidade do campo observado no ponto (𝑥, 𝑧) depois
2 2 2 2
da onda ser difratada pelo plano semi-infinito, e 𝐼(∞) = 1 representa o nível de referência da
intensidade do campo. O valor de referência corresponde ao caso em que o ponto de observação está
suficientemente acima do bordo do plano semi-infinito, pelo que a presença deste já não se faz sentir.
Na zona de sombra geométrica (ℎ𝑒 < 0) o campo não só não sofre uma descontinuidade brusca
como pode ainda ser apreciável;
Para aproximadamente ℎ𝑒 > 1 tem-se o campo em espaço livre com uma imprecisão menor que
± 1 dB;
46
Para o ponto de observação profundamente imerso na zona de sombra (ℎ𝑒 < 0, |ℎ𝑒 | ≫ 1) a
função 𝐼 decresce rapidamente, sendo deste modo justificável que se limite a análise à região
de Fresnel.
3.2.Simulações
Para simular o modelo Knife-edge, optou-se por dividir a zona de representação do campo
elétrico em duas partes. A primeira parte corresponde ao espaço percorrido desde a antena de emissão
até ao obstáculo, onde o campo é calculado segundo a expressão (2.40). A segunda parte corresponde
ao espaço desde o obstáculo até à antena de receção onde o campo vai sofrer uma atenuação extra
calculada através do modelo knife-edge.
𝑟𝑑 −𝑗(𝑘 Δ𝑟−𝑎𝑟𝑔Γ̅̅̅̅̅̅)
𝐸̅ = ̅𝐸̅̅𝑑̅ [𝑓𝐷 (𝜃𝑑 )𝐹𝑑 𝐴𝑑 (ℎ𝑒𝑑 ) + 𝑓𝐷 (𝜃𝑟 )𝐹𝑟 𝐴𝑟 (ℎ𝑒𝑟 )|Γ𝑉,𝐻 | 𝑒 0 𝑉,𝐻 ]
(3.9)
𝑟𝑟
em que 𝐴𝑑 (ℎ𝑒𝑑 ) e 𝐴𝑟 (ℎ𝑒𝑟 ) representam as atenuações suplementares a que os raios direto e refletido
ficam submetidos após a difração no obstáculo, respetivamente. Estes vêm dados por:
2 2
1 1 1 1
𝐴𝑑 (ℎ𝑒𝑑 ) = [ + 𝐶(ℎ𝑒𝑑 )] + [ + 𝑆(ℎ𝑒𝑑 )] (raio direto) (3.10)
2 2 2 2
2 2
1 1 1 1
𝐴𝑟 (ℎ𝑒𝑟 ) = [ + 𝐶(ℎ𝑒𝑟 )] + [ + 𝑆(ℎ𝑒𝑟 )] (raio refletido) (3.11)
2 2 2 2
onde ℎ𝑒𝑑 e ℎ𝑒𝑟 correspondem às alturas equivalentes para os raios direto e refletido, respetivamente.
Tendo em conta a Figura 3.1, o valor da folga 𝑥̅ para o raio direto e refletido calcula-se através
das seguintes expressões:
47
𝑥𝑒𝑑 𝑑𝑟 + 𝑥𝑟 𝑑𝑒 (ℎ1 − ℎ𝑜𝑏𝑠 )𝑑𝑟 + (ℎ2 − ℎ𝑜𝑏𝑠 )𝑑𝑒
𝑥̅𝑑 = = (raio direto) (3.12)
𝑑 𝑑
Na Figura 3.4 apresentam-se os resultados que se obteve para a simulação da difração causada
por um obstáculo durante a comunicação entre um emissor e um recetor. São utilizados dipolos de
meia-onda (𝜆/2), sendo a altura do emissor e do obstáculo de 100 m. O sinal é emitido em polarização
vertical (PV), a 180 MHz de frequência e o terreno entre as antenas é húmido. Relativamente à altura
da antena recetora, fez-se um varrimento entre 0 e 200 m, de forma a poder tirar conclusões
relativamente à atenuação do sinal nos diversos pontos de interesse, após a difração causada pelo
obstáculo.
48
Numa primeira análise à Figura 3.4, pode-se concluir que o obstáculo deixa de interferir com o
sinal recebido no recetor, se o feixe passar acima do obstáculo com uma cota suficientemente elevada,
o que está de acordo com o critério de folga referido anteriormente. Nestas condições o sinal recebido
não difere, a menos de 1 dB, do sinal recebido em condições de espaço livre.
É possível observar também que num ponto de observação profundamente imerso na zona de
sombra (ℎ𝑒 < 0) após o obstáculo (𝑧 > 0), verifica-se uma queda abrupta na intensidade do campo total
recebido. Nesta região, quanto maior for a proximidade ao obstáculo mais elevada é a atenuação.
Como se pode observar a partir da Figura 3.5, à medida que a frequência do sinal emitido
aumenta, a sua diretividade aumenta, tornando o elipsoide de Fresnel cada vez mais estreito, o que
resulta num aumento da zona de sombra (ℎ𝑒 < 0) presente na região a seguir ao obstáculo (𝑧 > 0). Na
Figura 3.5 pode observar-se que o campo atinge -90 dB Vm-1 na zona de sombra próxima do obstáculo,
enquanto na Figura 3.4 este atinge valores de -80 dB Vm-1. Também na zona a seguir ao obstáculo,
onde o valor do campo é menor entre 2000 m e 4000 m, este é maior na Figura 3.4.
49
50
4. REFRAÇÃO NA ATMOSFERA
Nos capítulos anteriores foram abordados alguns fatores que caracterizam e influenciam de
forma bastante significativa a propagação de ondas eletromagnéticas na presença da terra. Um outro
fator importante a ter em conta, que intervém ativamente no modo como o sinal se propaga, é a
presença da atmosfera.
A baixa atmosfera, principalmente até aos primeiros 2 ou 3 mil metros de altura, constituída por
gases neutros e eventualmente gotas de chuva, etc.;
Troposfera;
Neste capítulo será dado um maior relevo à baixa atmosfera, pois é nesta região que se efetua
a maior parte das ligações solo-solo, como por exemplo as ligações hertzianas. A baixa atmosfera
influencia a propagação das ondas eletromagnéticas na gama das radiofrequências, fundamentalmente
das seguintes maneiras:
O índice de refração do ar ainda que muito próximo de 1, varia em cada local com a altura, pelo
que ao longo do trajeto os “raios” deixam de ser retilíneos, passando a apresentar uma curvatura.
Dado que o índice de refração depende de grandezas “meteorológicas”, o seu gradiente com a
altura além de variar de ponto para ponto, varia também no tempo, o que está na origem do
fenómeno do desvanecimento (fading).
Em certas regiões da troposfera o índice de refração varia muito rapidamente de local para local,
pelo que essas regiões dispersam as ondas que nelas incidem.
51
4.1.Índice de refração da atmosfera
𝑁 = (𝑛 − 1) ⋅ 106 (4.1)
77.6 𝑒
𝑁=( ) ⋅ (𝑝 + 4810 ) (4.2)
𝑇 𝑇
Na figura que se segue representa-se 𝑁 em função da altura, 𝑁(ℎ), segundo a lei expressa em
(4.3) (traço contínuo).
52
Figura 4.1 – Variação da refratividade com a altura.
A tracejado representa-se
A expressão (4.4) constitui os dois primeiros termos do desenvolvimento em série de (4.3). Esta
variação linear define a “atmosfera padrão”. Observando a figura, verifica-se que até cerca de 1000 m
as duas formas de variação coincidem praticamente. Esta observação tem interesse, porque é nesta
região que se efetua a maior parte das ligações solo-solo.
Atendendo à variação do índice de refração de local para local na atmosfera, podemos analisar
esta como uma sequência de estratos ou camadas. São feitas as seguintes suposições simplificativas:
A função 𝑛(ℎ) é muito lentamente variável à escala do comprimento de onda, o que permite
considerar que em cada ponto são válidos os resultados da propagação em meios uniformes.
53
Como consequência de 𝑛(ℎ) ser lentamente variável, ignora-se a onda refletida na transição
entre dois meios para só se considerar a transmitida.
Considera-se primeiro uma estratificação plana e depois uma estratificação esférica, atendendo
a que a terra é esférica.
4.2.1.Estratificação plana
A Figura 4.2 ilustra a situação mais simples, em que existem três estratos de índices 𝑛0 , 𝑛1 e 𝑛 .
O andamento do raio implica que 𝑛0 > 𝑛1 > 𝑛 ,mas esse facto não é em nada restritivo.
𝜃 𝑛
ℎ 𝜃1
𝜃1 𝑛1
𝑛0
𝜃0
54
A inclusão de mais estratos entre os meios 𝑛0 e 𝑛 não altera este resultado, pelo que passando
agora ao limite de uma variação contínua de 𝑛 tem-se
4.2.2.Estratificação esférica
Consideram-se agora estratos esféricos concêntricos (Figura 4.3). Admite-se ainda que o raio de
curvatura dos estratos é muito grande, utilizando-se então as leis de refração em interfaces planas.
𝑛 𝜃
𝑃0
𝜃1′
𝜃1
𝑛1
𝑛0 𝜃0
𝑟𝑐
𝑟0
55
Induzindo para o caso contínuo vem
𝑑𝑠 = 𝜌 𝑑𝜑 (4.13)
𝑛
𝜌=−
𝑑𝑛 (4.14)
sin 𝜃
𝑑ℎ
O sinal de 𝜌 é tal que 𝜌 > 0 quando a curvatura do raio está virada para a terra. A figura seguinte
ilustra o cenário em estudo.
𝜃
𝑑𝑠
𝜃0
𝑎+ℎ 𝑑𝜑 𝜌
56
Para que um raio tangente ao círculo de raio (𝑎 + ℎ) concêntrico com a terra volte à superfície
da terra, é necessário que se verifique a seguinte condição:
𝑛
𝜌=− < (𝑎 + ℎ) (4.15)
𝑑𝑛⁄𝑑ℎ
𝑑𝑛 1
− > = 157 × 10−6 𝑘𝑚−1 (4.16)
𝑑ℎ 6370
Este valor é muito superior ao observado para a “atmosfera média” (≈ 43 × 10−6 km-1), pelo que
em condições “normais” os raios iniciados horizontalmente afastam-se da terra.
4.4.Refratividade modificada
1
𝜌=− = 𝑎 + ℎ0
𝑑𝑛 (4.17)
𝑑ℎ
𝑑𝑛 𝑑𝑁
( ) =( ) ⋅ 10−6 = −43 × 10−6 𝑘𝑚−1 (4.18)
𝑑ℎ ℎ=0 𝑑ℎ ℎ=0
57
Assim, ao valor de 𝜌 corresponde um gradiente de 𝑁 dado por
𝑑𝑁 106
( ) =− (4.19)
𝑑ℎ ℎ0 𝑎 + ℎ0
𝑑𝑀 𝑑𝑁 106
= + (4.20)
𝑑ℎ 𝑑ℎ 𝑎 + ℎ0
ℎ
𝑀 = 𝑁 + 106 (4.21)
𝑎
Na Figura 4.5 representa-se a variação do índice 𝑀 com a altura, 𝑀(ℎ), usando a expressão
(4.3) de 𝑛(ℎ) para obter a refratividade 𝑁 para a atmosfera média.
58
Para dar uma interpretação importante ao índice 𝑀 , retoma-se a equação da estratificação
esférica:
ℎ
𝑟𝑐 = 𝑎 (1 + ) (4.23)
𝑎
𝑛 = 1 + 10−6 𝑁 (4.24)
Concluindo-se que este mesmo resultado é obtido para um raio numa estrutura plana,
estratificada horizontalmente, com um índice de refração modificado dado por
Esta interpretação permite resolver os problemas relativos a uma atmosfera com estratificação
esférica caracterizada por 𝑁(ℎ), transformando-os em problemas relativos a uma atmosfera com
estratificação plana caracterizada por 𝑀(ℎ) – Equivalência da terra plana.
4.5.Propagação em Ductos
Devido a condições meteorológicas especiais, podemos estar na presença de curvas que fogem
à forma típica da variação de 𝑀 com a altura nas condições “usuais” de propagação. Existe um
interesse particular nas curvas em que se formam “camadas de inversão”, onde 𝑑𝑀/𝑑ℎ se torna
negativo. Estas regiões da atmosfera são designadas de ductos, pois comportam-se como um guia de
ondas aberto, podendo assim guiar ondas a grande distância.
Em condições meteorologias favoráveis à formação de ductos, pode suceder que um raio iniciado
horizontalmente a uma altura ℎ, com o seu raio de curvatura 𝜌 menor que o da camada esférica de raio
(𝑎 + ℎ) , se aproxime da terra e eventualmente possa ser captado como se exemplifica na Figura 4.6.
O mesmo não acontece na atmosfera padrão como foi visto anteriormente, onde os raios iniciados
horizontalmente se afastam progressivamente da superfície da terra, com 𝜌 > (𝑎 + ℎ).
59
𝑎+ℎ
Em outros casos, os raios poderão nem alcançar a superfície da terra, sendo refletidos numa
camada inferior onde as condições do tipo da atmosfera padrão tornem a prevalecer.
Devido ao facto de haver captação de energia sob a forma de ondas guiadas, a atenuação é
menor que em espaço livre. Assim, se um ducto captar a emissão de um sinal de uma antena e se esse
ducto for circunferencialmente uniforme, ter-se-á propagação numa estrutura cilíndrica e portanto a
potência vem atenuada de 1/𝑑 em vez de 1/𝑑 2 como seria em espaço lvre.
O estudo desta forma de propagação em que alguma energia é captada num ducto é deste modo
muito importante, devido à possibilidade destes raios poderem causar interferência noutros serviços,
ainda que a grandes distâncias.
Um ducto é criado em geral quando ocorre uma inversão de temperatura na atmosfera, em que
a temperatura do ar em vez de decrescer monotonamente com a altura exibe na realidade um
crescimento durante dezenas ou algumas centenas de metros. Lembrando que 𝑁 é muito sensível a
1/𝑇, 𝑑𝑁/𝑑ℎ poderá decrescer tão rapidamente que torna 𝑑𝑀/𝑑ℎ negativo. Esta situação é acentuada
se o ar mais frio for bastante húmido, e a camada mais quente for constituída por ar seco, visto que a
refratividade 𝑁 também é sensível à tensão do vapor de água 𝑒.
A formação de ductos é muito frequente perto da superfície do mar, junto a costas de zonas
desérticas e áridas.
As camadas dos ductos apresentam uma espessura reduzida da ordem do metro ou das dezenas
de metros, razão pelo qual a propagação esteja limitada à captação de frequências muito elevadas.
Normalmente, só para frequências acima de 1 GHz é que o ducto começa a ter dimensão apropriada
para reter a energia que nele foi excitada. As condições de captura por um ducto de altura finita são
60
determinadas pelas perdas por radiação através dos bordos (topos) do ducto. Assim, o ducto só reterá
energia se as perdas pelo topo forem reduzidas.
Nas figuras seguintes pode-se observar a trajetória dos raios para diferentes variações da
refratividade modificada em função da altura, 𝑀(ℎ). A Figura 4.7 descreve o tipo de comportamento
que os raios manifestam em atmosfera standard e nas Figuras 4.8 e 4.9 pode-se verificar os efeitos
que os dois tipos de ductos criam na propagação dos raios.
Atmosfera standard
𝑀(𝑧)
Altura
𝑀1
Distância
Ducto superficial
𝑀(𝑧)
Altura
Ducto
𝑀1 Distância
Figura 4.8 – Trajetória dos raios na presença de ducto superficial. (adaptado de [35])
61
Ducto sobrelevado
𝑀(𝑧)
Altura
Ducto
𝑀1
Distância
Figura 4.9 – Trajetória dos raios na presença de ducto sobrelevado. (adaptado de [35])
4.6.Traçado de raios
4.6.1.Modelo exato
A Figura 4.10 representa a trajetória de um raio, ao atravessar uma atmosfera caracterizada pela
refratividade modificada 𝑀 e do ângulo 𝛼 que o raio faz com a horizontal, para cada ponto da trajetória.
Um raio ao atravessar a atmosfera com mais que um estrato ou camada, os diferentes índices 𝑀 irão
influenciar significativamente a trajetória do seu traçado. O raio é emitido com um ângulo de saída 𝛼0
em relação à horizontal, a uma altura ℎ0 da antena. A refratividade modificada no ponto de partida do
raio é dada por 𝑀(ℎ0 ).
𝑀0 𝑀 𝛼
𝛼0
ℎ0 ℎ
62
Para o caso geral de traçado de raios, temos
𝑑ℎ
𝑑𝑧 = (4.27)
tan 𝛼
sin 𝛼 √1 − cos 2 𝛼
tan 𝛼 = = (4.28)
cos 𝛼 cos 𝛼
−6 2
√1 − cos 𝛼0 × (1 + 10 𝑀(ℎ0 ))
sin 𝛼 (1 + 10−6 𝑀) (4.31)
tan 𝛼 = =
cos 𝛼 cos 𝛼0 × (1 + 10−6 𝑀(ℎ0 ))
(1 + 10−6 𝑀)
ℎ
𝑑ℎ 𝑑ℎ
𝑑𝑧 = ⟺𝑧= ∫ (4.32)
tan 𝛼 tan 𝛼
ℎ0
63
4.6.2.Modelo aproximado
Num projeto de ligação entre duas antenas ao solo, dado que a distância entre estas é muito
maior que as suas alturas, não se pretende raios com inclinação apreciável, mas sim raios cujo traçado
se afaste pouco da horizontal, ao longo da trajetória. Deste modo, pode-se afirmar que em geral, o
ângulo que a tangente ao raio num certo ponto da trajetória faz com a horizontal, é bastante próximo
de zero (𝛼 ≈ 0). Sendo este ângulo bastante pequeno, então 𝜃 ≈ 𝜋/2 (aproximação paraxial), vindo
1 2
sin 𝜃 ≈ 1 − 𝛼 (4.33)
2
𝑑ℎ 𝜋
= tan 𝛼 ≈ 𝛼 = − 𝜃 (4.34)
𝑑𝑧 2
𝑑ℎ
𝑑𝑧 = (4.35)
𝛼
Para obter a equação da trajetória, começa-se por usar a expressão (4.8) para a estratificação
plana, sob a forma:
1 2 1
(1 + 10−6 𝑀) (1 − 𝛼 ) = (1 + 10−6 𝑀0 ) (1 − 𝛼02 ) (4.36)
2 2
onde 𝑀0 = 𝑀(ℎ0 ).
1
1 2
−6
𝛼 = ±√2 [10 𝑀 − (10 −6
𝑀0 − 𝛼02 )] (4.37)
2
1
10−6 𝑀0 − 𝛼02 = 10−6 𝑀′ (4.38)
2
64
é constante, vem
1
𝛼 = ±√2 × 10−3 [𝑀 − 𝑀′ ]2 (4.39)
ℎ
𝑑ℎ 𝑑ℎ
𝑑𝑧 = ⇔ 𝑧= ∫ 1 (4.40)
𝛼
ℎ0 ±√2 × 10−3 [𝑀 − 𝑀′ ]2
Se a atmosfera for caracterizada por uma refratividade modificada 𝑀 com um perfil linear, a
equação (4.40) pode ser resolvida analiticamente do seguinte modo:
106 2
𝑀′ = 𝑀(ℎ0 ) − 𝛼 (4.42)
2 0
106 2
𝑀 − 𝑀′ = (𝑀(0) + 𝜇ℎ) − (𝑀(ℎ0 ) − 𝛼 ) ⇔ (4.44)
2 0
106 2
𝑀 − 𝑀′ = (𝑀(0) + 𝜇ℎ) − (𝑀(0) + 𝜇ℎ0 − 𝛼 ) ⇔ (4.45)
2 0
65
106 2
𝑀 − 𝑀′ = 𝜇ℎ − 𝜇ℎ0 + 𝛼 (4.46)
2 0
𝑀 − 𝑀′ = 𝜇ℎ + 𝑏 (4.47)
ℎ
𝑑ℎ
𝑧= ∫ 1 (4.48)
ℎ0 ±√2 × 10−3 [𝜇ℎ + 𝑏]2
ℎ ℎ
𝑑ℎ 2√𝜇ℎ + 𝑏
𝑧= ∫ 1 = [ ] ⇔ (4.49)
±𝐴𝜇
ℎ0 ±𝐴[𝜇ℎ + 𝑏]2 ℎ0
2
𝑧= (√𝜇ℎ + 𝑏 − √𝜇ℎ0 + 𝑏) (4.50)
±𝐴𝜇
Para determinar o ponto de indeterminação do traçado do raio, é necessário ter em conta que
nesse local da trajetória, o ângulo 𝛼 = 0. Partindo da equação (4.50), vem
2
𝑧= (√𝜇ℎ + 𝑏 − √𝜇ℎ0 + 𝑏) ⟺ (4.51)
±𝐴𝜇
2 106 2
𝑧= (√𝜇ℎ + 𝑏 − √𝜇ℎ0 + 𝛼 − 𝜇ℎ0 ) (4.52)
±𝐴𝜇 2 0
66
Ao parar no ponto de indeterminação e, lançando-se um raio com ângulo inicial nulo 𝛼0 = 0 para
uma atmosfera com as mesmas características, a equação (4.52) fica
2
𝑧𝑖𝑛𝑑 = (√𝜇ℎ + 𝑏 − √𝜇ℎ0 − 𝜇ℎ0 ) ⟺ (4.53)
±𝐴𝜇
2
𝑧𝑖𝑛𝑑 = (√𝜇ℎ + 𝑏) ⟺ (4.54)
±𝐴𝜇
2 106 2
𝑧𝑖𝑛𝑑 = (√𝜇ℎ + 𝛼0 − 𝜇ℎ0 ) ⟺ (4.55)
±𝐴𝜇 2
2
𝑧𝑖𝑛𝑑 = (√𝜇(ℎ − ℎ0 )) (4.56)
±𝐴𝜇
Resolvendo
106 2
𝜇ℎ + 𝑏 = 0 ⇔ 𝜇ℎ + 𝛼 − 𝜇ℎ0 = 0 (4.58)
2 0
106 2
ℎ𝑖𝑛𝑑 = ℎ0 − 𝛼 (4.59)
2 0
67
4.7.Simulações
O conjunto de simulações iniciais consiste no traçado de raios emitidos a uma altura ℎ0 , que
atravessam uma atmosfera caracterizada por uma camada, ao longo de um perfil linear da refratividade
modificada. Para a simulação e representação da trajetória dos raios, define-se um ângulo de partida
𝛼0 , e um valor de 𝑑𝑀/𝑑ℎ. A trajetória dos raios manifesta um comportamento diferente consoante o
valor de 𝑑𝑀/𝑑ℎ seja positivo ou negativo, fazendo com que estes se afastem ou aproximem
progressivamente da superfície terrestre, respetivamente.
Em cada simulação, o traçado dos raios vem acompanhado por uma figura que representa a
variação da refratividade modificada em função da altura na atmosfera.
𝑑𝑀 𝑑𝑁 106 𝑑𝑁 106 𝑑𝑁
= + ≈ + = + 157 (4.60)
𝑑ℎ 𝑑ℎ 𝑎 + ℎ0 𝑑ℎ 𝑎 𝑑ℎ
𝑑𝑀
𝑁 = 𝑁(0) + ( − 157) ℎ (4.61)
𝑑ℎ
A variação da refratividade modificada com a altura é calculada através das expressões (4.21) e
(4.61). Mantendo constantes os parâmetros 𝑁(0), 𝑑𝑀 ⁄𝑑ℎ e 𝑎, e variando o valor de ℎ (altura), obtêm-
se os valores de 𝑀 correspondentes às alturas definidas, em cada camada da atmosfera.
Para a representação da trajetória dos raios, que varia consoante o perfil 𝑀, optou-se pelo
modelo analítico (expressão (4.50)), por uma questão de simplificação dos cálculos computacionais.
Os raios são iniciados a uma altura ℎ0 e com um ângulo de partida 𝛼0 . O valor de 𝑑𝑀⁄𝑑ℎ é definido
para cada camada.
68
Devido aos diversos encurvamentos dos raios, surgem situações onde ocorre uma inversão do
sentido da trajetória. Através das expressões (4.56) e (4.59) é possível calcular os pontos a partir do
qual isso acontece. Esses pontos são designados pontos de indeterminação.
Outra situação abordada é a reflexão que os raios podem eventualmente sofrer no solo. Assim,
quando estes atingem a superfície, são refletidos com um ângulo simétrico ao de chegada.
Nas simulações efetuadas é possível observar os encurvamentos dos raios. Por observação da
Figura 4.11 à Figura 4.20 conclui-se que o valor do gradiente da refratividade modificada é responsável
pelas diferentes trajetórias dos raios. Se este for positivo o raio tende a subir, e se for negativo, a
descer.
𝛼0 ≥ 0 e 𝑑𝑀⁄𝑑ℎ > 0
Observando os resultados para a primeira simulação, pode-se constatar que devido ao facto de
o ângulo de partida ser positivo e a refratividade modificada crescer linearmente com a altura, o raio
afasta-se progressivamente da terra, i.e., apresenta uma trajetória ascendente.
69
𝛼0 < 0 e 𝑑𝑀⁄𝑑ℎ > 0
Figura 4.13 – Trajetória dos raios com 𝜶𝟎 < 𝟎 e 𝒅𝑴⁄𝒅𝒉 > 𝟎 , com reflexão no solo.
70
Procedendo à análise da Figura 4.12, verifica-se que nesta situação, o raio parte com ângulo de
partida negativo, i.e., num instante inicial o raio tem uma fase descendente até chegar a um ponto de
indeterminação (onde 𝛼 = 0), tendo de seguida a fase ascendente ao afastar-se progressivamente da
superfície da terra.
Nestas circunstâncias, outra situação que pode suceder consiste na reflexão do raio no solo,
devido a um ângulo de partida bastante negativo relativamente à horizontal (Figura 4.13). O raio é
refletido com um ângulo simétrico ao do raio incidente.
A figura que se segue engloba todas as situações previamente analisadas, para 𝑑𝑀/𝑑ℎ positivo.
Figura 4.14 – Trajetória dos raios para diversos ângulos de partida e 𝒅𝑴⁄𝒅𝒉 > 𝟎.
71
𝛼0 ≥ 0 e 𝑑𝑀⁄𝑑ℎ < 0
72
Nas Figuras 4.15 e 4.16 os raios atravessam uma camada atmosférica onde 𝑑𝑀/𝑑ℎ é negativo
e os ângulos de partida são positivos e negativos, respetivamente. No primeiro caso o raio sobe até
atingir o ponto de indeterminação, voltando a cair em fase descendente na direção ao solo e refletindo-
se neste. Após a reflexão o raio volta novamente a subir até ao ponto de indeterminação seguinte. O
segundo caso difere apenas no facto de a trajetória inicial ser descendente, fruto do ângulo de partida
ser negativo.
Por observação da Figura 4.17 à Figura 4.20, verifica-se que os raios ficam captados em torno
da camada onde a variação da refratividade modificada é negativa. Esta região da atmosfera vai
comportar-se como um guia de ondas aberto, podendo guiar ondas a grande distância.
No ducto superficial (Figuras 4.17 e 4.18) observa-se a trajetória descrita por raios com diversos
ângulos de partida, a atravessar uma atmosfera caracterizada por duas camadas. Cada camada
apresenta um valor 𝑑𝑀 ⁄𝑑ℎ de sinal diferente. Neste tipo de ductos a propagação guiada realiza-se
junto à superfície da terra, i.e., com sucessivas reflexões no solo e podendo os raios ascender até à
altura onde se inicia a segunda camada. Quando um raio ultrapassa essa altura, continua a subir
indefinidamente.
Como referido, os raios ficam contidos dentro da camada onde a variação da refratividade
modificada é negativa. Isso apenas não acontece se o ângulo de saída for grande tanto positivamente
como negativamente. No caso positivo, o raio liberta-se no ducto e afasta-se progressivamente da terra,
pois a segunda camada apresenta um 𝑑𝑀⁄𝑑ℎ > 0. No caso do ângulo de partida ser bastante negativo,
este vai refletir-se no solo, entrando imediatamente a seguir numa fase ascendente até passar a linha
de separação das camadas. A partir daí o raio continua a subir.
73
Figura 4.17 – Trajetória de 5 raios na presença de ducto superficial.
74
Figura 4.19 – Trajetória de 5 raios na presença de ducto sobrelevado.
Como se pode verificar, nesta situação os raios não alcançam o solo, i.e., os raios propagam-
se guiados dentro de uma camada da atmosfera e com perdas muito diminuídas.
Da presença dos ductos resultam por exemplo alcances inesperados para radares, sobretudo
sobre o mar e visibilidade de programas TV inexplicáveis pelos mecanismos normais de propagação.
Um ducto é assim um fenómeno que pode dar origem a fortes perturbações num serviço.
75
4.8.Miragens
Situação com uma conotação bastante mística, as miragens são fenómenos óticos relacionados
com a refração e a reflexão total da luz na atmosfera, não se tratando, portanto, de “alucinações” ou
“visões estranhas” como geralmente a literatura não-técnica sugere. Trata-se assim de um efeito ótico
real, que ocorre na atmosfera e que pode inclusive ser fotografado.
Este fenómeno origina-se no facto de a atmosfera não ser fisicamente uniforme, pois cada fina
camada de ar tem diferentes índices de refração, ainda que relativamente próximos, o que faz com que
os raios luminosos manifestem diferentes comportamentos ao atravessar as camadas, seja na
alteração da direção ou na velocidade da luz.
O valor do índice de refração do ar varia com a temperatura e altera a densidade do ar, ou seja,
camadas mais próximas do solo e que “geralmente” possuem maior temperatura, possuem menor
densidade e menor índice de refração, e o recíproco ocorre com camadas mais altas.
4.8.1.Miragens inferiores
Este tipo de miragens são comuns nos desertos e no asfalto das estradas em dias bastante
quentes, onde observamos os objetos abaixo da sua posição real. As imagens que se seguem ilustram
o fenómeno.
76
Imagem 4.1 – Miragem inferior. (Fonte: [52])
77
Figura 4.21 – Trajetória dos raios desde vários pontos do objeto alvo até ao observador.
O ponto A encontra-se perto da base da montanha. Devido a desvios causados pela temperatura,
não há nenhum raio de luz vindo de A que atinja o olho do observador. O ponto B foi escolhido numa
posição crítica, tal que um único raio de luz emerge dele e atinge o olho do observador, após ter sido
ligeiramente curvado ao atravessar a camada de ar quente. O ponto C está no topo da montanha, dois
raios luminosos emergem dele e alcançam o olho do observador, cada um com uma curvatura diferente.
O raio superior que parte de C é interpretado como C’, enquanto o raio inferior que parte de C é
interpretado como C’’ pelo sistema visual humano. Este ultimo é responsável pela montanha invertida
na miragem. O mesmo ocorre com a luz do céu azul, que pode ser vista abaixo da montanha invertida,
na miragem.
78
4.8.2.Miragens superiores
Quando a temperatura do solo é baixa, o que implica que o ar próximo dele se torne mais denso
e mais frio que o ar situado acima, podem ocorrer miragens superiores. Nessas circunstâncias, os raios
de luz que partem do objeto sobem obliquamente e sofrem reflexão total nas camadas superiores,
menos frias e menos densas. Como consequência, os raios apresentam uma curvatura descendente,
produzindo uma miragem superior. O observador vê a imagem do objeto acima da sua posição real e
invertida. Um exemplo seria o avistamento de objetos no mar. Tendo em conta a curvatura da terra,
seria impossível observar navios a 300 km de distância, porém, devido a este tipo de miragens, é
possível avistá-los.
79
Raios de luz Imagem falsa invertida
Barco real
Imagem falsa
Observador
4.8.3.Simulação de miragens
Por forma a facilitar a explicação, começa-se por considerar uma imagem “unidimensional”. A
imagem está contida num plano vertical a uma distância 𝑑 do observador, como representado na Figura
4.24.
𝑑
Figura 4.24 – Plano vertical visto pelo observador.
80
entre a altura máxima e o número total de linhas da matriz. Na realidade, cada raio parte de um ponto
da imagem no plano vertical chegando ao utilizador com um determinado ângulo, sendo posteriormente
reconstruída pelo cérebro segundo os diferentes ângulos. Para aproveitar o módulo de simulação do
traçado de raios, o problema é abordado de maneira inversa, isto é, cada raio sai do utilizador com um
determinado ângulo e chega a um determinado intervalo da imagem. Os raios estão numerados por
ordem crescente do ângulo de partida e associa-se a cada raio à linha da imagem correspondente à
chegada, formando assim uma matriz final transformada (reordenada). A matriz reordenada é depois
convertida para uma imagem. A Figura 4.25 representa o modo como as trajetórias dos raios podem
alterar a imagem final.
1
2
6
3 2
4
1
3
5 8
5
6
4
7 7
8 9
9 10
10
Figura 4.25 - Deformação da imagem inicial tal como é vista pelo observador após alteração das trajetórias dos raios
pelas alterações do índice de refração da atmosfera.
No caso de uma imagem bidimensional, o processo é repetido considerando cada raio como
uma linha da matriz da imagem. Todos os pontos horizontais da imagem são tratados da mesma
maneira porque se considera que o índice de refração da atmosfera só tem variação na vertical. Para
se obter uma simulação mais próxima da realidade, a imagem é representada através de dois planos:
o horizontal e o vertical. Ao plano horizontal associa-se a parte inferior da linha do horizonte e ao plano
vertical a parte superior (Figura 4.26).
81
Horizonte
Horizonte
Figura 4.26 - Divisão da imagem nos dois planos ortogonais (vertical e horizontal).
Este módulo permite simular uma imagem observada para alterações do índice de refração da
atmosfera e consequentemente das trajetórias dos raios. Se o raio atingir o valor máximo definido pelo
utilizador, este atingiu o plano vertical da imagem. Se o raio atingir o solo, este pertence ao plano
horizontal.
Após se definir onde cada raio pertence (plano vertical ou horizontal), convertem-se os
comprimentos e alturas dos mesmos para uma escala de acordo com o número de raios. A posição de
cada raio no plano vertical (𝑧𝑣 ) é dada pela seguinte expressão:
𝑛𝑟
𝑛 𝑟 ℎ𝑟 × 2 (4.62)
𝑧𝑣 = −
2 ℎ𝑚𝑎𝑥
onde a altura do raio (ℎ𝑟 ) é dada em relação à altura máxima (ℎ𝑚𝑎𝑥 ). Assim, a primeira posição refere-
se ao cimo da imagem e a linha de horizonte corresponde à posição 𝑛º 𝑟𝑎𝑖𝑜𝑠 ⁄2. A posição de cada raio
no plano horizontal (𝑧ℎ ) é dada por:
𝑛𝑟
𝑛𝑟 𝑑𝑟 × 2 (4.63)
𝑧ℎ = +
2 𝑑𝑚𝑎𝑥
A matriz das posições vai ter dimensão de 𝑛º𝑟𝑎𝑖𝑜𝑠. Esta contém as posições de cada raio tendo
em conta em que plano o raio termina a sua trajetória. Cada valor da matriz corresponde a uma dada
linha da nova imagem. A matriz é posteriormente convertida para uma imagem que é representada.
A simulação inicia-se com a transformação da imagem original numa matriz. Nessa matriz, cada
linha corresponde a um raio. A divisão da matriz nos dois planos faz-se com base no número de raios.
Assim os primeiros 𝑛º𝑟𝑎𝑖𝑜𝑠/2 correspondem ao plano vertical e os seguintes ao plano horizontal.
82
Os valores do comprimento máximo e altura máxima necessária para o cálculo da matriz de
posições (expressões (4.62) e (4.63)) são obtidos através do primeiro e último raio. O primeiro raio
corresponde ao raio com maior ângulo de saída e o último ao de menor ângulo de saída como
representado na Figura 4.27. A altura máxima é então a altura que o primeiro raio atinge e o
comprimento máximo corresponde a diferença entre a distância máxima definida pelo utilizador e o
ponto que o último raio atinge o solo. Esses valores são calculados por razões trigonométricas.
ℎ1
𝑑𝑚𝑎𝑥 = 𝑑 − (4.65)
tan(𝜃2 )
ℎ1
𝑑
Figura 4.27 - Esquema geométrico para cálculo dos limites da imagem.
De seguida, recorrendo à função que calcula as trajetórias dos raios, obtém-se a matriz de
posições para cada raio. Usando a matriz de posições transforma-se a imagem original numa nova
imagem que contêm a representação da miragem.
Em relação à miragem superior, esta obtém-se utilizando duas camadas na atmosfera. A Figura 4.28
representa este tipo de miragem.
83
Figura 4.28-Miragem Superior.
A miragem inferior está representada na Figura 4.29. Neste caso a atmosfera é caracterizada
por três camadas.
84
5. MODELOS DE PROPAGAÇÃO EM AMBIENTES URBANOS
Nos últimos anos tem-se verificado um grande crescimento, tanto a nível comercial como
tecnológico, por parte dos sistemas de comunicação via rádio, especialmente no sector das
telecomunicações. O serviço telefónico apresenta um histórico bastante antigo que se inicia em 1876,
ou seja, à mais de cem anos atrás, com a primeira transmissão por voz através de sinais elétricos,
testada por Alexander Graham Bell. Mais tarde, entre 1960 e 1970, o conceito de telefonia móvel viria
a nascer nos laboratórios Bell [45]. Hoje e após décadas de evolução, os sistemas de comunicação por
voz e de transmissão de dados a longa distância encontram-se em evidência, e representam um serviço
vital para a humanidade, seja a nível pessoal ou empresarial.
Entre os sistemas que constituem as redes de comunicações móveis usadas a nível mundial, os
que mais se destacam atualmente são o GSM, UMTS e LTE. A primeira geração de sistemas de
comunicações móveis sem fios surgiu nos anos 80 e era baseada numa tecnologia analógica com
modulação FM. Alguns exemplos de sistemas de primeira geração são o Nordic Mobile Telephone
(NMT) e o Advanced Mobile Phone System (AMPS). [21]
O sistema GSM (Global System for Mobile Communications) é de segunda geração (2G) e foi
lançado no mercado nos anos 90. Este opera principalmente nas bandas de frequência de 900 MHz e
1800 MHz. [21]
O UMTS (Universal Mobile Telecommunications System) é uma rede de terceira geração (3G) e
trabalha principalmente na banda de 2100 MHz, podendo também utilizar a banda de 1800 MHz do
GSM. A terceira geração é o resultado de um trabalho realizado pela ITU (International
Telecommunications Union) no início dos anos 80. As especificações e normas foram desenvolvidos
durante 15 anos. A tecnologia 3G está mais focada para a transferência de dados. Esta permite
transferências até 200 kbit/s. As atualizações mais recentes ao 3G, nomeadamente o 3.5G e 3.75G,
permitem transferências na ordem de alguns Mbit/s. Entre diversas aplicações, destaca-se o acesso a
internet móvel, videochamadas e mobile TV. [21]
As redes 4G LTE (Long Term Evolution) são as mais recentemente implementadas, e operam
principalmente na banda de 800 MHz e 2600 MHz. Este sistema permite acesso à internet a alta
velocidade. Algumas das aplicações possíveis são as chamadas sobre IP, serviços de jogos, TV de
alta definição, videoconferência, televisão 3D, entre outros. [21]
As redes dos sistemas de comunicações móveis têm vindo a melhorar o seu desempenho e
capacidade de transferência de dados, possibilitando novas aplicações e inovações.
No presente capítulo faz-se uma especialização de alguns aspetos abordados nos capítulos
anteriores, para o caso dos serviços de rádio móvel, i.e., serviços com capacidade para suportar
comunicações via rádio com terminais em movimento, ou pelo menos terminais com possibilidade de
movimento.
85
Para além da questão da mobilidade do terminal, que implica uma variabilidade adicional do nível
de sinal recebido, a distância entre antenas já não é necessariamente muito maior que as dimensões
transversais envolvidas na ligação (altura das antenas, altura dos obstáculos, etc.), ou pelo menos,
uma das antenas encontra-se na vizinhança imediata dos obstáculos, das superfícies refletoras, das
arestas de difração, etc.
Existe alguma variedade de serviços de rádio móvel, o que arrasta uma variedade ainda maior
de cenários de propagação. No entanto, a ênfase deste capítulo vai incidir na propagação em
ambientes exteriores e urbanos, com base em serviços de cobertura por estações de base terrestres.
Os ambientes urbanos representam um caso de grande interesse devido à existência de uma grande
concentração de utilizadores nestes locais, utilizadores esses que exigem ter à sua disposição todos
os recursos e serviços disponíveis nos seus terminais.
A cobertura por estações de base terrestres é, em geral, indicada para servir áreas pequenas,
com dimensões que podem vir desde alguns quilómetros até 100 a 200 m consoante a densidade de
tráfego de telecomunicações vá sendo maior, isto porque, enquanto a atitude tradicional em
radiodifusão é a de tentar servir a maior área possível, nas comunicações móveis pretende-se que a
cobertura do emissor não ultrapasse os limites de uma certa área (que se designa por célula), cuja
dimensão é pré-estabelecida tendo em conta por um lado os aspetos do tráfego de telecomunicações,
e por outro, os aspetos de propagação e da qualidade de serviço. A cada estação de base é alocada
uma porção do número total de canais disponíveis ao sistema2. Em estações de base vizinhas são
atribuídos diferentes grupos de canais, para que a interferência entre estações de base (e os terminais
móveis a ela associados) seja minimizada. Pretende-se desta forma assegurar que a mesma frequência
possa ser reutilizada tantas vezes quanto necessário em outras células próximas, mantendo a
interferência co-canal a um nível controlado, de modo a resultar numa utilização eficiente do espectro
de frequências.
À medida que a densidade de tráfego aumenta, o número de estações de base pode ser
aumentado, juntamente com um correspondente decréscimo na potência dos transmissores, para que
se evite a interferência. Se por exemplo surgir o aparecimento, não previsto num projeto, de uma zona
de sombra numa célula, em geral este problema não pode ser ultrapassado com o aumento da potência
2
A alocação de canais numa determinada banda aos sistemas dos operadores, é decidido a nível nacional pela
entidade reguladora ANACOM.
86
do emissor, pois iria resultar numa extensão dos limites iniciais da célula e o consequente aumento de
interferência co-canal com uma célula próxima.
Um bom planeamento para a projeção das células de um sistema numa determinada área
geográfica, é de elevada importância para uma boa performance do sistema e para o fornecimento de
uma boa qualidade de serviço. Este planeamento depende do posicionamento e cobertura das
estações de base, da gestão eficiente da banda do espectro eletromagnético reservada ao sistema 3 e
da minimização da interferência.
A Figura 5.1 exemplifica a cobertura típica de uma área usando clusters de sete células.
Nesta figura, cada cluster corresponde a um conjunto de sete células. Estas encontram-se
representadas por uma cor, para distinguir os diferentes grupos de canais. As células da mesma cor
partilham as mesmas frequências, razão pelo qual encontram-se a uma determinada distância umas
das outras, designada distância de reutilização (de frequências), necessária para minimizar a
interferência co-canal. Quanto maior for esta distância, menor será a interferência entre estas células
e entre os terminais móveis a elas associados.
3
As bandas de frequência a serem usadas nos diversos sistemas é uma decisão tomada a nível internacional
pela ITU.
87
5.1.Cenário para o rádio móvel terrestre
Antes de entrar nos modelos de propagação, começa-se por identificar os tipos de cenário
previsíveis para o rádio móvel terrestre. Em ambientes urbanos, suburbanos e rurais, as células
classificam-se segundo três classes, de acordo com o seu raio:
Macro-célula
Micro-célula
Pico-célula
Macro
Micro
Pico
As micro-células são regiões de cobertura de rádio móvel com dimensões da ordem de muito
poucas centenas de metros, em que os terminais móveis e a estação de base estão quase sempre em
linha de vista.
88
Figura 5.3 – Classes de células em meio urbano. (adaptado de [1])
Listam-se a seguir alguns fatores que têm um efeito determinante nas características dos sinais
que são recebidos, em ambientes exteriores:
A antena do terminal móvel está tipicamente muito próxima do solo. Pode tomar-se como
referência a altura de um automóvel, ou a altura do utilizador: ℎ𝑟 ≈ 1.8 m.
Nem sempre é viável colocar a antena da estação de base a uma altura suficientemente elevada
para iluminar toda a zona de cobertura com o raio direto, pois desse modo, a área de cobertura
da célula aumenta, o que pode resultar num aumento de interferência com células vizinhas.
Portanto só em casos excecionais, como acontece por exemplo nas micro-células, existe linha
de vista entre duas antenas.
O sinal chega à antena do terminal móvel por uma multiplicidade de trajetos de comprimentos
diferentes, depois de ter sofrido processos de difração em obstáculos, e reflexão ou dispersão
pelo solo, pelas paredes etc. O sinal recebido é assim resultado da interferência entre várias
contribuições, onde cada onda apresenta polarização, amplitude, fase e atraso diferentes. Este
fenómeno designa-se efeito de multipercurso (multipath).
O deslocamento do terminal móvel implica a alteração a cada instante, não só do perfil dos
obstáculos entre duas antenas, mas também dos vários trajetos que as ondas tomam antes de
atingir a antena do terminal móvel.
Para além do movimento do terminal, o próprio ambiente é dinâmico, i.e., pode encontrar-se em
constante mudança. Um cenário exemplificativo pode ser dado pelos veículos que circulam nas
ruas, podendo estes funcionar como superfícies de reflexão ou difração, contribuindo assim para
a flutuação do sinal recebido no terminal móvel.
89
Juntamente com o sinal útil vindo da estação de base, chegam ao recetor do terminal móvel
sinais interferentes co-canal, com origem em células vizinhas, bem como ruído eletromagnético
proveniente de causas naturais e atividade humana.
5.2.Ambientes de macro-célula
Tem sido desenvolvido ao longo dos anos, um número considerável de modelos para prever a
atenuação suplementar existente na transmissão de um sinal entre uma estação de base e um terminal
móvel, em ambientes típicos de macro-células urbanas.
Existem duas famílias base de modelos usados em ambientes exteriores, separados em duas
categorias [36]:
Modelos empíricos
COST 231 – Okumura-Hata
Grandes distâncias;
Ambientes urbanos, suburbanos e rurais.
Modelos teóricos
COST 231 – Walfisch-Bertoni
Pequenas distâncias (< 5 km);
Ambientes urbanos e suburbanos.
5.2.1.Modelos empíricos
Estes modelos são baseados essencialmente em medições empíricas, feitas ao longo de uma
certa distância, num determinado intervalo de frequência e para uma área geográfica em particular.
Como tal, têm a vantagem de contabilizar todos os fatores que afetam a propagação. Contudo, a
aplicação destes modelos não é sempre restrita a ambientes onde as medições empíricas foram
realizadas, o que pode comprometer a precisão destes modelos quando aplicados em ambientes mais
generalizados. Apesar deste facto, bastantes sistemas rádio fazem uso destes modelos como base
para a sua análise de performance.
90
5.2.1.1.Modelo Okumura
Um dos modelos empíricos mais comuns e usado atualmente é o modelo de Okumura [43],
proposto por Yoshihisa Okumura em 1968. Este modelo é um dos poucos concebidos especificamente
para utilizar em zonas construídas: o único que toma em consideração a variação do terreno e da
urbanização. Foi desenvolvido com base num extenso conjunto de medições de propagação efetuadas
em Tóquio entre 1962 e 1965, com várias estações emissoras a transmitir em várias bandas de
frequência, numa grande variedade de ambientes de propagação, tentando explorar os fatores
fundamentais que influenciam a propagação desde a morfologia do terreno à existência de edifícios,
orientação de ruas, existência de superfícies abertas, superfícies aquáticas, etc.
Estes testes em larga escala foram realizados por forma a desenvolver os seus resultados em
formato gráfico (curvas de Okumura), tendo como padrão uma área urbana e terreno quase plano, onde
cada curva representa o valor mediano da atenuação adicional em relação à propagação do sinal em
espaço livre (𝐴𝜇 ) [43]. Estas medições foram feitas para uma altura efetiva da estação de base de 200
m (ℎ𝑡 ) e um terminal móvel de altura 3 m (ℎ𝑟 ).
A altura efetiva da antena da estação de base ℎ𝑡 , é calculada como especificado por Okumura
[43], e corresponde à altura da sua antena acima da elevação média do terreno. A altura média do
terreno ℎ𝑔𝑎 , é determinada ao longo do percurso das ondas eletromagnéticas, numa distância entre 3
a 15 km. Este procedimento é facilmente explicado com o auxílio da Figura 5.4. Primeiro, é determinado
o perfil do terreno entre a antena da estação de base e o terminal móvel recetor. A altura média do
terreno é determinada na direção do recetor, entre 3 e 15 km. Finalmente, a altura efetiva da antena da
estação de base ℎ𝑡 , é determinada como sendo a diferença entre a altura da antena da estação de
base ℎ𝑏𝑠 e a altura média do terreno ℎ𝑔𝑎 .
EB
ℎ𝑏
ℎ𝑡
ℎ𝑏𝑠
TM
ℎ𝑜𝑏
ℎ𝑔𝑎 ℎ𝑜𝑚
0 3 𝑘𝑚
15 𝑘𝑚
Figura 5.4 – Esquema para o cálculo da altura efetiva da antena da estação de base no modelo Okumura. (adaptado de
[36])
91
Para localizações do terminal móvel inferiores a 15 km, a altura média do terreno é determinada
entre 3 km e a distância do terminal móvel. Para localizações inferiores a 3 km da estação de base, a
altura da estação de base vem dada por [46]:
Zona urbana – região com uma elevada densidade de edifícios, tendo cada um mais de dois
andares;
Zona suburbana – Alguns obstáculos, não muito denso, na região em frente ao terminal móvel;
Zona rural/aberta – Ausência de obstáculos numa região entre 300 m a 400 m em frente do
terminal móvel. Zona quase aberta é definida como o meio-termo entre as zonas suburbanas
e abertas.
Se o terreno não for quase plano, a região não for urbana e/ou as alturas das antenas diferirem
dos valores de referência (ℎ𝑡 = 200 m e ℎ𝑟 = 3 m), utilizam-se fatores de correção.
Este modelo é aplicável para distâncias de 1 km a 100 km, frequências no intervalo de 150 MHz
a 2000 MHz, pode ser usado para alturas efetivas de estação de base compreendidas entre 30 m a
1000 m, e terminais móveis com alturas de 1 m a 10 m.
onde:
92
𝐺𝐴𝑅𝐸𝐴 – é o fator de correção (ou fator de ganho) devido ao tipo de ambiente (zona suburbana,
zona quase aberta e zona aberta ou rural);
Os valores de 𝐴𝜇 e 𝐺𝐴𝑅𝐸𝐴 são obtidos nas curvas empíricas de Okumura [43]. No seu modelo,
Okumura fornece alguns fatores de correção adicionais sob a forma de curvas [43]. Por exemplo,
correções para as orientações das ruas relativamente ao emissor, ondulação do terreno, inclinação do
terreno, trajetos mistos de terra e mar, podem ser usados para aumentar a precisão do modelo.
ℎ𝑡
𝐺(ℎ𝑡 ) = 20 𝑙𝑜𝑔 ( ), 30 𝑚 < ℎ𝑡 < 1000 𝑚 (5.3)
200
ℎ𝑟
10 𝑙𝑜𝑔 ( ) , ℎ𝑟 ≤ 3 𝑚
3
𝐺(ℎ𝑟 ) = (5.4)
ℎ𝑟
{20 𝑙𝑜𝑔 ( 3 ) , 3 𝑚 < ℎ𝑟 < 10 𝑚
Apesar de ser um modelo empírico usado com bastante frequência e considerado uma referência
entre os modelos de propagação macroscópicos, devido ao facto do modelo Okumura ter sido
construído com base nas características de Tóquio, é discutível a sua aplicação sem reservas em
outros ambientes:
As curvas standard são para ambiente urbano (na classificação de Okumura). A experiência
tem mostrado que face aos resultados experimentais em outras cidades, a classificação
ambiental nem sempre é compatível.
É discutível que os fatores de correção obtidos para Tóquio sejam aplicáveis a outras cidades
com outro tipo de edifícios, materiais e orografia.
A aplicação dos fatores corretivos faz intervir a subjetividade do utilizador.
Este modelo transporta deste modo alguns inconvenientes, pois, sendo a situação standard a
urbana, significa que as situações práticas mais correntes (que não são urbanas) têm de ser calculadas
como correções. Por outro lado, o cálculo automático não é fácil, dado que, toda a informação é
apresentada sob a forma de gráficos, o que faz intervir a subjetividade do projetista.
93
5.2.1.2.Modelo Okumura-Hata
Masaharu Hata [42] desenvolveu em 1980 um conjunto de fórmulas empíricas apropriadas para
cálculo numérico, baseadas nos resultados em formato gráfico disponibilizados por Okumura. Este
modelo empírico simplifica o cálculo das perdas de transmissão, contudo, tem um domínio de aplicação
mais limitado. O modelo de Hata [42] é válido para o intervalo de frequências de 150 MHz a 1500 MHz,
para distâncias de 1 km a 20 km, com altura efetiva das estações de base e altura dos terminais móveis
de 30 m a 200 m e 1 m a 10 m, respetivamente.
A expressão desenvolvida por Hata, para determinar o valor mediano da atenuação empírica em
áreas urbanas, vem dada por [42]:
onde ∑ 𝐾𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑐𝑡𝑖𝑜𝑛 representa os fatores de correção a aplicar se o ambiente e o tipo de terreno fugirem
das condições padrão referenciadas para o modelo (áreas urbanas em terreno quase plano). 𝐽(ℎ𝑟 , 𝑓)
é um fator de correção para a altura do terminal móvel. Para pequenas ou médias cidades, este fator
vem dado por [42]:
𝐽(ℎ𝑟 , 𝑓)[𝑑𝐵] = [1.10 𝑙𝑜𝑔(𝑓[𝑀𝐻𝑧] ) − 0.70]ℎ𝑟 [𝑚] − [1.56 𝑙𝑜𝑔(𝑓[𝑀𝐻𝑧] ) − 0.80] (5.6)
94
5.2.1.3.Factores de correção
EB
10 % TM
Δℎ
90 %
𝑑𝑡 = 10 𝑘𝑚
95
Figura 5.7 – Correcção para a posição nas ondulações do terreno.
2
{−3𝑙𝑜𝑔 (Δℎ[𝑚] ) − 0.5𝑙𝑜𝑔(Δℎ[𝑚] ) + 4.5, 𝑓 = 1430 𝑀𝐻𝑧
A intensidade do campo calculado pode ter de ser ajustado de acordo com o grau de
irregularidade no terreno ao longo do percurso entre as antenas. A intensidade do campo diminui em
função da rugosidade do terreno, i.e., a altura da ondulação do terreno. Esta altura é definida pela
diferença entre o valor 10% abaixo do máximo das elevações, e o valor 10% acima do mínimo das
elevações do terreno, ao longo de uma distância de 10 km.
De notar que este fator de correção encontra-se especificado para 453, 922 e 1430 MHz.
Qualquer frequência entre 453 e 1430 MHz será interpolada a partir destes valores. Para frequências
fora deste intervalo, estas são avaliadas com as curvas de 453 e 1439 MHz.
Outro fator de correção que pode ser incluído no cálculo das perdas de transmissão é relativo ao
posicionamento do terminal móvel no terreno irregular. Assim, a intensidade do campo aumenta quando
a receção do sinal é feita nas proximidades do topo da colina (+𝐾ℎ𝑝 ) (local mais elevado do terreno
irregular), e diminui quando a receção é feita nos vales (−𝐾ℎ𝑝 ). [51] [36]
96
Inclinação média do terreno, 𝐾𝑠𝑝
TM
EB
𝜃𝑖 ℎ1
ℎ2
𝑑𝑖
2
−0.0025𝜃[mrad] + 0.204𝜃[mrad] , 𝑑 < 10 𝑘𝑚
−0.648|𝜃|1.09
[mrad] , 𝑑 > 30 𝑘𝑚, −15mrad < 𝜃 < 0mrad
𝐾𝑠𝑝 (𝜃)[𝑑𝐵] = (5.10)
2
−0.007𝜃[mrad] + 0.5𝜃[mrad] , 𝑑 = 30 𝑘𝑚, 0mrad < 𝜃 < 20mrad
2
{ −0.012𝜃[mrad] + 0.84𝜃[mrad] , 𝑑 > 60 𝑘𝑚, 0mrad < 𝜃 < 20mrad
97
Em geral, a intensidade do campo total na receção, aumenta em percursos com inclinação
ascendente, e diminui para percursos descendentes. O ângulo de inclinação do percurso e o
correspondente ajuste do campo são calculados apenas para distâncias superiores a 5 km. O ângulo
médio de inclinação é determinado ponto a ponto desde o ponto base mais baixo até ao local da
receção. O ângulo médio calculado está limitado aos limites da Figura 5.9, i.e., ângulos calculados com
magnitude superior a ± 20 mrad, são avaliados nos limites da figura, ou seja, em ± 20 mrad.
O intervalo de frequências da Figura 5.9 é entre 450 e 900 MHz. Não é feito qualquer outro ajuste
quando este fator de correção é incluído para outras frequências. [51] [36]
EB
TM
𝑑𝑠
98
−12.4𝛽2 + 27.2𝛽 , 𝑑 > 60 𝑘𝑚
{ 𝐴
−8.0𝛽 2 + 19.0𝛽 , 𝑑 < 30 𝑘𝑚
𝐾𝑚𝑝 (𝛽)[𝑑𝐵] = (5.11)
11.9𝛽2 + 4.7𝛽 , 𝑑 > 60 𝑘𝑚
{ 𝐵(𝛽 < 0.8)
{ 7.8𝛽 2 + 5.6𝛽 , 𝑑 < 30 𝑘𝑚
99
A intensidade do campo calculado na receção pode sofrer um ajuste, de acordo com a orientação
das ruas relativamente ao emissor. O campo aumenta para recetores colocados em ruas que se
encontram dispostas paralelamente em relação à direção das ondas emitidas pela estação de base
(𝐾𝑎𝑙 ), e diminui quando as ruas são perpendiculares (𝐾𝑎𝑐 ). Para distâncias inferiores a 5 km da estação
de base, os valores máximos da Figura 5.12 (+6.71 𝑑𝐵 ou −4.83 𝑑𝐵) são usados. [51] [36]
Os fatores para correção ambiental vêm dados pelas seguintes expressões desenvolvidas por
Hata [42], a partir das curvas de Okumura:
𝑓[𝑀𝐻𝑧]
𝐾𝑠𝑢 (𝑓)[𝑑𝐵] = 2.00𝑙𝑜𝑔2 ( ) + 5.40 (5.14)
28
100
Zonas abertas, 𝐾𝑜𝑎 , ou quase abertas, 𝐾𝑞𝑜
O modelo Okumura-Hata foi alargado pela COST4 em 1999, para cobrir o intervalo de
frequências de 1500 MHz a 2000 MHz. A expressão do valor mediano da atenuação empírica, em áreas
urbanas, vem dado por [47]:
4
Cooperação europeia de investigação em ciência e tecnologia
101
𝐿𝑃[𝑑𝐵] = 46.30 + 33.90 𝑙𝑜𝑔(𝑓[𝑀𝐻𝑧] ) − 13.82 𝑙𝑜𝑔 (ℎ𝑡[𝑚] )
− ∑ 𝐾𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑐𝑡𝑖𝑜𝑛
onde
5.2.1.5.Campo total
De modo a obter a expressão que permite determinar o valor médio do campo total recebido pelo
terminal móvel, parte-se da expressão que relaciona a potência recebida por uma antena e a densidade
de fluxo de potência:
onde, a constante de proporcionalidade 𝐴𝑒𝑓 representa a área ou abertura efetiva da antena de receção.
A potência entregue no recetor é proporcional à área efetiva que a antena apresenta segundo a direção
de incidência.
𝐸 2 [𝑉/𝑚] 𝜆2[𝑚] 𝐺𝑟
𝑃𝑟 [𝑊] = ⇔ (5.20)
𝑍0 [Ω] 4𝜋
2
𝐸 2 [𝑉⁄𝑚] 𝑐[𝑚⁄𝑠]
⟺ 𝑃𝑟 [𝑊] = ( ) 𝐺𝑟 (5.21)
30 4𝜋𝑓[𝐻𝑧]
onde, 𝐸 é o valor médio do campo elétrico à receção, 𝑍0 = 120𝜋 [Ω], é a impedância de onda em espaço
livre, 𝜆 é o comprimento de onda, 𝑓 é a frequência de operação, 𝑐 = 3 × 108 𝑚⁄𝑠 , é a velocidade da luz
no vácuo, e 𝐺𝑟 é o ganho da antena de receção em relação a uma antena isotrópica.
102
Procede-se de seguida à conversão da equação (5.21) em unidades logarítmicas:
𝑐[𝑚⁄𝑠]
𝑃𝑟 [𝑑𝐵𝑊] = 20𝑙𝑜𝑔(𝐸[𝑉⁄𝑚] ) − 10 log(30) − 20 log(𝑓[𝑀𝐻𝑧] ) + 20log ( ) − 120
4𝜋 (5.22)
+ 10𝑙𝑜𝑔(𝐺𝑟 )
A potência entregue no recetor relaciona-se com a potência emitida pelo emissor e com as perdas de
propagação, através da expressão (2.11). Substituindo (5.22) em (2.11), vem
𝑐[𝑚⁄𝑠]
𝐸[𝑑𝐵 𝑉⁄𝑚] = 𝑃𝑒 [𝑑𝐵𝑊] + 𝐺𝑒 [𝑑𝐵𝑖] + 20 log(𝑓[𝑀𝐻𝑧] ) − 20log ( )
4𝜋 (5.23)
+ 10 log(30) + 120 − 𝐿𝑃 [𝑑𝐵]
onde, 𝐿𝑃 é o valor mediano das perdas de propagação em áreas urbanas (perdas de espaço livre
incluídas), segundo o modelo Okumura-Hata. Este valor pode ser ajustado com o auxílio de fatores de
correção, se o terreno não for quase plano e/ou a região em análise não for urbana.
Convertendo 𝑑𝐵 (𝑉⁄𝑚) para 𝑑𝐵(𝜇 𝑉 ⁄𝑚), são adicionados 120 𝑑𝐵 na expressão (5.23) do campo. A
expressão final para o valor médio do campo total, vem dada por
𝑐[𝑚⁄𝑠]
𝐸[𝑑𝐵 𝜇𝑉⁄𝑚] = 𝑃𝑒 [𝑑𝐵𝑊] + 𝐺𝑒 [𝑑𝐵𝑖] + 20 log(𝑓[𝑀𝐻𝑧] ) − 20log ( )
4𝜋 (5.24)
+ 10 log(30) + 240 − 𝐿𝑃 [𝑑𝐵]
O desvio padrão do erro entre os resultados previstos pelo modelo Okumura-Hata e os obtidos
através de medições em áreas urbanas, 𝜎𝑢 , e suburbanas, 𝜎𝑠𝑢 , vem aproximadamente dado pelas
seguintes expressões [36]:
103
5.2.1.6.Simulações do modelo Okumura-Hata
O valor médio do campo elétrico total na receção é calculado para cada caso aplicando primeiro
um fator de correção à expressão (5.5) das perdas de propagação do modelo Okumura-Hata, que está
referenciada para área urbana, e depois finalmente substituindo (5.5) na expressão do campo (5.24).
A expressão (2.9) é usada para obter os resultados referentes à propagação das ondas em
espaço livre. É necessário converter esta em unidades logarítmicas (dB), vindo:
4𝜋𝑑[𝑚]
𝐿𝑓𝑠 [𝑑𝐵] = 20𝑙𝑜𝑔 ( ) ⇔
𝜆[𝑚] (5.27)
Os fatores de correção ambiental usados na primeira simulação, foram de zona suburbana, área
aberta e quase aberta, expressões (5.14), (5.15) e (5.16), respetivamente. Para pequenas e grandes
cidades, tratando-se de zonas urbanas, não se aplicam fatores de correção ambiental. Relativamente
ao fator de correção para a antena recetora do terminal móvel, é usada a expressão (5.7) em todos os
ambientes, exceto o caso da pequena cidade em que se usou a expressão (5.6).
104
Figura 5.15 – Modelo Okumura-Hata em diversos ambientes.
Procedendo à análise da Figura 5.15, verifica-se, como seria de esperar, que o campo à receção
atinge a maior amplitude no caso das perdas de espaço livre, onde não estão contabilizados alguns
fenómenos determinantes na propagação, tais como: o efeito de multipercurso, que provoca reflexões
e difrações do sinal devido à presença de obstáculos (edifícios, veículos, entre outros), causando
desvanecimento; a possibilidade de interferência com outras células; ruído eletromagnético com origem
em causas naturais ou atividade humana, entre outros. As restantes curvas manifestam o
comportamento previsto, pois à medida que a densidade de edifícios e obstáculos aumenta, maiores
serão as perdas de transmissão, provocando uma queda acentuada do sinal.
A Figura 5.16 representa a simulação feita em ambiente suburbano, para diferentes tipos de
terreno e percursos entre a estação de base e o terminal móvel. O objetivo desta simulação é analisar
o comportamento dos diferentes fatores de correção para o terreno, e o impacto que estes têm na
intensidade do campo prevista pelo modelo Okumura-Hata.
Nesta simulação, os fatores de correção aplicados para cada caso na expressão (5.5), foram o
de correção ambiental para uma zona suburbana, de correção da altura do recetor, e um para correção
do percurso, expressões (5.14), (5.7) e (5.8) a (5.13), dependendo do tipo de terreno, respetivamente.
105
Frequência: 450 MHz.
Altura efetiva da estação de base: 30 m.
Altura da antena recetora: 5 m.
Distância: 1-10 km.
𝛽 = 0.5.
𝜃𝑖1 = 10 𝑚𝑟𝑎𝑑 (ângulo de inclinação em percurso ascendente).
𝜃𝑖2 = −10 𝑚𝑟𝑎𝑑 (ângulo de inclinação em percurso descendente).
Altura da ondulação do terreno, Δℎ: 50 m.
Distância: 1-10 km.
Ao analisar-se a Figura 5.16, conclui-se imediatamente que o percurso que apresenta o cenário
mais vantajoso para a propagação, é um trajeto misto de terra e mar. Este resultado era esperado,
pois, com o parâmetro 𝛽 = 0.5, considera-se que metade do percurso é feito sobre o mar e tendo este
um fator de reflexão bastante elevado (Γ ≈ 1) e não havendo outros obstáculos em redor, a componente
refletida do campo terá uma grande contribuição para a receção. De referir que dentro do trajeto misto,
foi simulado o cenário 𝐴 , expressão (5.11).
No extremo oposto, o percurso que menos vantagens apresenta para a propagação corresponde
ao caso em que entre o terminal móvel recetor e a estação de base existem irregularidades no terreno,
tendo este uma altura de ondulação de 50 m. Nestas condições, o pior cenário é quando o recetor
106
encontra-se localizado nos vales, onde a probabilidade de existência de zonas não iluminadas (sombra)
é elevada.
A seguir ao trajeto misto, a melhor situação é quando o recetor encontra-se localizado numa rua
paralela à direção das ondas emitidas pelo emissor. Nestas circunstâncias, pode existir linha de vista
entre as duas antenas. Por outro lado, quando o recetor encontra-se situado numa rua perpendicular à
direção das ondas emitidas pelo emissor, é comum o sinal estar obstruído por edifícios, e nessas
circunstâncias, o sinal é recebido essencialmente através do efeito de multipercurso e difrações no topo
dos edifícios. A existência de ruas conduz a fenómenos de propagação guiada, com características
diferentes nas ruas paralelas e nas perpendiculares.
Salienta-se também que os resultados da propagação num percurso com inclinação ascendente
ou em declive só devem ser apreciados para distâncias superiores a 5 km, pois, sendo o modelo
definido para ângulos bastante pequenos, é necessário haver uma distância significativa entre as
antenas para que o ângulo de inclinação do terreno tenha um impacto considerável na propagação.
Na Figura 5.17 procedeu-se à simulação de dois cenários próximos da realidade com o modelo
Okumura-Hata. Como cenário exemplificativo, considera-se uma comunicação entre dois terminais na
rede GSM (900 MHz), na cidade de Lisboa (zona urbana).
O primeiro cenário corresponde à transmissão de um sinal entre uma estação de base, situada
na cidade, e um terminal móvel que se encontra num navio inicialmente a 100 m da margem lisboeta,
e que se afasta gradualmente. Encontramo-nos na presença de um percurso misto terra e mar (cenário
𝐴), em zona urbana.
107
Figura 5.17 – Modelo Okumura-Hata em ambiente urbano.
Procedendo à análise da Figura 5.17, e como já foi referido previamente, verifica-se que um
percurso misto de terra e mar apresenta melhores condições para a propagação do sinal do que no
centro da cidade. A 1000 m de distância, no centro da cidade o valor mediano da atenuação é superior
em cerca de 10 dB relativamente ao trajeto misto, de acordo com o modelo Okumura-Hata. À medida
que a distância aumenta, o parâmetro 𝛽 também aumenta, resultando numa diferença cada vez maior
do valor do campo recebido nos dois casos. No centro da cidade o sinal sofre do efeito de multipercurso
ao refletir nos edifícios, veículos e outros obstáculos, causando desvanecimento. O ambiente é mais
dinâmico e caótico, existem outras fontes de interferência, tais como ruido proveniente de atividade
humana e possibilidade de interferência co-canal de células vizinhas, que é comum em ambos os
casos.
Além de todos estes fatores, para obter uma maior precisão deve-se também ter em conta as
perdas de transmissão nos cabos entre o transmissor e a antena da estação de base.
Com o auxílio da expressão (5.25), pode-se estimar de forma aproximada o desvio padrão de
erro do modelo, em ambiente urbano: 𝜎𝑢 ≈ 9.8 𝑑𝐵.
108
Apesar do modelo ter sido desenvolvido com base nas características de Tóquio, sendo
discutível a sua aplicação em outros ambientes, o modelo de Okumura-Hata é um dos modelos
empíricos com desvio padrão de erro mais baixo quando otimizado para um determinado ambiente, o
que torna este um dos modelos empíricos de eleição para o planeamento de sistemas de rádio móvel,
principalmente em áreas urbanas. [44]
5.2.2.Modelos teóricos
5.2.2.1.Modelo Walfisch-Bertoni
Efeito sombra
Efeito multipercurso
Figura 5.18 – Perfil típico numa macro-célula em meio urbano. (adaptado de [37])
109
O modelo de Walfisch-Bertoni considera dois tipos de atenuação para o cálculo aproximado da
amplitude do campo ao nível da rua:
A atenuação 𝐴𝑛 , introduzida pelos múltiplos obstáculos que interferem desde a região do emissor
até ao obstáculo que antecede o terminal móvel. Esta atenuação é calculada no ponto
correspondente ao topo do último edifício antes do terminal móvel. Para obter o valor absoluto
do campo neste ponto, multiplica-se 𝐴𝑛 pela amplitude da onda esférica (onda de espaço livre
que tem origem na antena da estação de base) calculada neste ponto.
A atenuação 𝐴𝐸 , associada à difração desde o topo do ultimo edifício antes do terminal móvel
até ao nível da rua, entrando em consideração com eventuais reflexões e dispersão nas paredes
dos edifícios e em outros obstáculos na vizinhança do móvel.
5.2.2.2.Efeito de multi-percurso
Múltiplos raios podem eventualmente contribuir para o campo recebido no terminal móvel, como
se pode verificar nas Figuras 5.18 e 5.19. De acordo com resultados experimentais obtidos [40], apenas
o raio difratado que atinge diretamente a antena do móvel, e o raio difratado que se reflete uma vez no
edifício da frente antes de atingir o móvel, têm contribuição preponderante para o campo recebido no
terminal móvel.
ℎ𝐸
ℎ𝑟
𝑤
Figura 5.19 – Geometria do multi-percurso (representação do alçado).
O valor da atenuação associada à difração das ondas desde o topo do edifício até ao nível da
rua vai depender das características da estrutura urbana, nomeadamente a geometria dos edifícios e
da forma como os edifícios ou obstáculos circundantes se encontram dispostos nos casos em que haja
reflexão. No modelo de Walfisch-Bertoni tomam-se as seguintes considerações:
110
Os edifícios são substituídos por um ecrã opaco semi-infinito (knife-edge), alinhado com a aresta
de difração do edifício.
O ecrã é iluminado por uma onda plana, cuja frente de onda está inclinada de um ângulo α em
relação à horizontal.
𝜙 𝜙
𝑇𝑀
𝑤 𝑤
Em que:
1
2 2 2
1 1 1 1 (5.29)
|𝐴𝐸 (ℎ𝑒 )| = { [ + 𝐶(ℎ𝑒 1,2 )] + [ + 𝑆(ℎ𝑒 1,2 )] }
2 2 2 2
111
em que 𝐶( ) e 𝑆( ) designam as funções co-seno e seno integrais de Fresnel. A altura equivalente vem
dada por
2sin𝜙 sin𝛼
ℎ𝑒1 = √ [(ℎ𝑟 − ℎ𝐸 ) + 2𝑧 ] (5.30)
𝜆𝑧 sin𝜙
para a onda difratada direta. No caso da onda refletida no edifício da frente, tem-se
2sin𝜙 sin𝛼
ℎ𝑒2 = √ [(ℎ𝑟 − ℎ𝐸 ) + 2(2𝑤 − 𝑧) ] (5.31)
𝜆(2𝑤 − 𝑧) sin𝜙
Os campos com origem no raio difratado direto e no raio refletido pelo edifício, vêm dados
respetivamente por
2
𝐸12 = 𝐸𝑓𝑠 |𝐴𝐸 (ℎ𝑒1 )|2 (5.32)
2
𝐸22 = 𝐸𝑓𝑠 |𝐴𝐸 (ℎ𝑒2 )|2 |𝛤𝑒𝑑 |2 (5.33)
sendo
√60𝑃𝑒 𝐺𝑒
𝐸𝑓𝑠 = (5.34)
𝑟
Para obter a atenuação 𝐴𝑛 associada à difração no topo dos edifícios, o modelo de Walfisch-
Bertoni assume que a estrutura urbana é muito regular, tanto em termos de altura dos edifícios, como
no mapeamento das ruas e avenidas, considerando-as praticamente paralelas umas em relação às
outras. À semelhança do que se fez anteriormente, substitui-se cada edifício por um ecrã opaco semi-
infinito (knife-edge).
Embora este modelo se aplique apenas nos casos em que os ecrãs apresentam alturas e
espaçamentos constantes, conduz, no entanto, a resultados que concordam razoavelmente bem com
resultados experimentais [41].
112
𝑁0 𝑤𝑡𝑎𝑛(𝛼)
𝛼
𝑁 𝑁+1
𝑤 𝑤 𝑤
𝑁0
ℎ𝑏
𝛼 = tan−1 ( ) (5.35)
𝑁𝑒𝑑 𝑤
Em que ℎ𝑏 é a altura da estação de base desde o topo do edificio e 𝑁𝑒𝑑 é o numero de edifícios.
𝑤
𝑔𝑝 = √ sin𝛼 (5.37)
𝜆
A expressão do cálculo da atenuação só é válida para 0 < 𝑔𝑝 < 0.5 e 𝑁𝑒𝑑 > 0.1𝑁0 [41], em que
𝑁𝑒𝑑 é o numero de edifícios e 𝑁0 é o numero de edifícios que intersecta o elipsoide de Fresnel, vindo
este dado por
𝜆 1
𝑁0 = 𝐼𝑛𝑡 { 2 } = 𝐼𝑛𝑡 { } (5.38)
𝑤sin 𝛼 𝑔𝑝 sin𝛼
113
5.2.2.4.Campo total
O valor médio do campo total recebido pelo terminal móvel, de acordo com o modelo de Walfisch-
Bertoni, é então dado por
A atenuação total a que é submetido o sinal até chegar ao terminal móvel, é deste modo a soma
entre a atenuação resultante das perdas de espaço livre do sinal na baixa atmosfera, determinado no
topo do último edifício; da atenuação devido à difração no topo da fila de edifícios, vistos como um
conjunto de ecrãs opacos semi-infinitos (knife-edge) que intersectam o elipsoide de Fresnel; e da
atenuação com origem na difração do sinal desde o último edifício até ao nível da rua, onde se incluem
as reflexões e dispersões do sinal em obstáculos próximos do terminal móvel.
O modelo conduz a resultados com erros aceitáveis [41], especialmente se a estrutura urbana
próxima do terminal móvel for razoavelmente uniforme, num comprimento de 𝑁0 𝑤.
Nesta simulação, o campo elétrico é calculado por três formas diferentes consoante a zona onde
o sinal se encontre.
Na primeira zona, o campo é calculado através da expressão (2.55). Dessa expressão apenas é
considerada a componente direta do raio, podendo considerar-se que os raios refletidos se irão perder
entre os edifícios, não contribuindo significativamente no valor do campo.
A segunda zona corresponde aos espaços entre os edifícios, sendo o campo determinado
segundo o modelo Walfisch-Bertoni. Para a simulação do modelo utilizou-se as expressões (5.29),
(5.32), (5.33) e (5.39). Neste modelo dividiu-se tanto a distância como a altura da antena de receção
em pequenos intervalos como já havia sido feito no caso do cálculo do campo elétrico com reflexões
no solo. O número de intervalos para a distância é 500 e para a altura 200. Após a divisão em intervalos
calculou-se os diversos parâmetros necessários ao cálculo da atenuação devido ao multi-percurso (𝐴𝑒 )
e à atenuação introduzida pelos obstáculos (𝐴𝑁+1 ). O campo eléctrico é calculado posteriormente
através da expressão (5.39).
Para cada edifício são calculados os valores de 𝛼, 𝑔𝑝 e 𝑁0 . Estes parâmetros servem para
comprovar a validade do modelo. Este apenas é válido para 0 < 𝑔𝑝 < 0.5 e 𝑁𝑒𝑑 > 0.1𝑁0 . Na figura os
edifícios que cumprem a validade do modelo estão compreendidos entre a linha azul e vermelha. A
linha azul corresponde ao edifício onde o valor de 𝑔𝑝 começa a ser menor que 0.5. A linha vermelha
corresponde ao ultimo edifício para o qual é garantida a condição 𝑁𝑒𝑑 > 0.1𝑁0 .
114
Por último, na terceira zona, utiliza-se o modelo knife-edge para obter o valor do campo,
considerando-se apenas os raios diretos, pois a reflexão no terreno não contribui como parte
significativa da expressão (3.9).
Apenas se apresenta a simulação utilizando uma antena, pois o comportamento que o campo
elétrico terá é igual ao comportamento utilizando um agregado com várias antenas.
Na simulação representada pela Figura 5.22 estão representadas as três regiões, bem como o
comportamento do campo elétrico em cada uma delas.
Potência de emissão: 10 W.
Ganho antena de emissão: 15 dBi.
Frequência: 600 MHz.
Número antenas: 1.
Altura antena de emissão: 50 m.
Largura da rua: 70 m.
Altura dos edifícios: 45 m.
Número de edifícios: 20.
Γed = 1.
𝜙 = 90𝑜 .
Procedendo à análise da figura, é possível perceber que o campo vai perdendo intensidade entre
os edifícios, até chegar ao nível da rua. Esta situação era esperada pois a intensidade dos raios é
atenuada em função da penetração, uma vez que a altura equivalente decresce. Após o último edifício,
o campo apresenta o comportamento já analisado na secção da difração por obstáculos (knife-edge).
115
Variando a frequência, as condições de validade do modelo variam. Na simulação da Figura 5.23
aumentou-se a frequência para 1800 MHz pelo que a condição de 0 < 𝑔𝑝 < 0.5, linha azul, e
𝑁𝑒𝑑 > 0.1𝑁0 , linha vermelha, alteram-se. Com o aumento da frequência, aumenta também a atenuação
provocada pelos edifícios.
É interessante analisar o caso em que o fator de reflexão das paredes dos edifícios é reduzido
de forma significativa. Considera-se o coeficiente de reflexão dos edifícios igual a zero, Γ𝑒𝑑 = 0. Pela
análise da Figura 5.24 é possível perceber que o raio refletido nos edifícios deixa de ter efeito no cálculo
do campo elétrico, surgindo apenas a contribuição do campo que é difratado no topo do edifício. O
campo aparenta assim ter um comportamento semelhante ao do modelo knife-edge, aparecendo uma
zona de sombra em cada edifício.
Figura 5.24 – Modelo de Walfisch-Bertoni para frequência de 600 MHz, considerando 𝚪𝒆𝒅 = 𝟎.
116
6. CONCLUSÃO
6.1.Principais conclusões
Com este trabalho pretende-se investigar a influência, ao nível do grau de perturbação, que um
dado ambiente pode ter na propagação de ondas eletromagnéticas. Os resultados foram obtidos a
partir de uma abordagem teórica e de demonstrações gráficas de modelos teóricos e empíricos
estudados durante o curso. Assim, num contexto académico, este trabalho permite uma melhor
compreensão de alguns dos fenómenos que afetam a propagação de ondas eletromagnéticas num
dado ambiente, dando ao aluno uma melhor perceção de cada modelo e da influência dos seus
parâmetros. A nível de projeto, a visualização gráfica dos modelos constitui uma mais-valia no
planeamento celular de um sistema de comunicações móveis em ambiente urbano. Dos temas
abordados consta a reflexão, difração, refração, e modelos de propagação em determinados
ambientes.
117
No estudo da refração demonstrou-se o traçado de raios em atmosferas normais e em condições
especiais (ductos). Aproveitando o estudo anterior visualizou-se o efeito provocado por determinadas
atmosferas em imagens captadas pelo olho humano. A esse efeito dá-se o nome de miragens. Através
da visualização das trajetórias dos raios observou-se a influência do gradiente da refratividade
modificada sobre os raios. Como já referido, se este for positivo, os raios tendem a subir e afastam-se
da superfície terrestre, caso contrário, tendem a descer. A simulação das trajetórias dos raios na
presença de vários tipos de ductos confirmou que os raios ficam confinados à camada que apresenta
um gradiente negativo da refratividade modificada, atingindo, assim, distâncias mais elevadas do que
na presença de uma atmosfera tradicional. Existem dois tipos de miragens: a miragem superior e a
miragem inferior. Usando uma atmosfera estratificada em duas camadas, e após simulação das
trajetórias dos raios, obtém-se uma miragem superior em que o que se encontra ao nível da superfície
terrestre (navio neste caso) é “copiado” na parte superior da imagem (Figura 4.28). Caso a atmosfera
esteja estratificada em três camadas, a trajetória dos raios vai provocar o aparecimento de uma
miragem inferior, onde o céu é refletido no solo (Figura 4.29).
O modelo empírico Okumura-Hata foi concebido para ser usado em ambientes urbanos de
macro-célula. O modelo foi simulado para diversos ambientes e tipos de terreno com auxílio dos fatores
de correção inerentes ao modelo, verificando-se que o valor médio do campo obtido na receção diminui
à medida que a densidade de obstáculos e de irregularidades no terreno for maior, devido ao aumento
do valor mediano das perdas de transmissão (Figura 5.15 e Figura 5.16). Por outro lado, quando a
receção do sinal é feita no topo de uma colina, numa rua paralela relativamente à direção das ondas
emitidas pela estação de base, ou quando o recetor encontra-se localizado num percurso com
inclinação ascendente, a atenuação nestes casos será menor. Estas são algumas das situações mais
favoráveis em comunicação, devido à existência, com elevada probabilidade, de linha de vista entre as
duas antenas. Um modelo empírico toma em consideração todas as influências ambientais implícitas,
sendo que a sua precisão depende da precisão das medições e principalmente da similaridade entre o
local onde as medições foram realizadas e o local onde se pretende projetar um sistema de
comunicações, caso contrário, o erro envolvido será maior, devendo-se proceder a correções adicionais
de otimização. A grande vantagem dos modelos empíricos reside na sua simplicidade e eficiência
computacional.
118
knife-edge para o cálculo do campo elétrico. Também nesta zona não se considerou o raio refletido.
Para além da análise da influência da frequência neste modelo, observou-se também o efeito do
coeficiente de reflexão dos edifícios. Conclui-se que se o coeficiente for nulo, vai existir uma zona de
sombra próxima do edifício anterior, uma vez que deixa de haver contribuição do raio refletido entre os
edifícios (Figura 5.24). O campo apresenta um andamento muito semelhante ao demonstrado no
modelo knife-edge. Caso o coeficiente seja diferente de zero, observa-se a contribuição do raio
refletido, o que resulta num aumento do valor do campo entre os edifícios (Figura 5.23).
Este trabalho pode ser atualizado, futuramente, com a introdução de novos tópicos referentes a
temas relevantes dentro da área da propagação de ondas eletromagnéticas.
O tema da reflexão pode ser atualizado com a introdução do modelo da terra esférica, tornando
o capítulo mais completo.
Um modelo que poderia ser acrescentado em relação à difração, é a difração em torno da terra.
Neste caso seria possível investigar a influência da curvatura da terra na propagação.
Um estudo profundo sobre desvanecimento seria uma adição significativa, dado tratar-se de um
fenómeno que afeta de forma preponderante a qualidade de serviço conseguida. Para atenuar os
efeitos do desvanecimento, nem sempre é económico, ou sequer tecnicamente possível, aumentar a
potência emitida ou os ganhos das antenas. Uma solução elegante e eficaz é a diversidade, que
também constituiria um bom tema de atualização ao trabalho.
119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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