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Psicologia B

Relações precoces

I n t ro d u ç ã o g e r a l à s R e l a ç õ e s Competências básicas do bebé


Precoces O recém-nascido apresenta competências
As relações precoces do ser humano são fundamentais comunicacionais que estimulam os que o rodeiam a
para compreender as capacidades de relação com os satisfazer as suas necessidades:
outros. • Choro
O tipo e a qualidade das relações que o bebé • Riso
estabelece no início da vida (relações precoces) • Vocalizações
influenciam o seu processo de desenvolvimento • Expressões faciais
fisiológico e psicológico. • Agarrar
Relação Precoce: relação mútua, que estabelece, nos • Mamar
primeiros anos de vida, uma ligação entre o bebé e • Seguir com o olhar
quem cuida dele (mãe e pai, uma vez que são os Estas estratégias manifestam as suas necessidades
sujeitos mais próximos). Têm um papel fundamental na (proteção, segurança e afeto) e procuram a sua
construção de relações com os outros e psicológica do satisfação.
indivíduo.
Estas relações e as que o Ser Humano estabelece ao Competências básicas da mãe
longo da vida explicam o que somos: o que pensamos, o A relação mãe/bebé torna-se um processo de
que sentimos e o que aprendemos. regulação mútua: a capacidade de a mãe comunicar
O bebé comunica através de competências que eficazmente com o bebé, interpretar corretamente os
manifestam as suas necessidades e estado emocional seus estados emocionais e responder de forma
(choro, expressões faciais, vocalizações…). adequada.
• Uma vez que o bebé humano é imaturo (não possui • Se a mãe não responder positivamente às solicitações
todas as características que o tornam humano e do bebé, podem desenvolver-se sentimentos de
permitem a sobrevivência) tem de se comunicar de desconfiança que se manifestam por medos, receios e
outras formas para que satisfaçam as suas insegurança (com consequências futuras).
necessidades básicas. Uma boa mãe comunica poeticamente com o bebé,
A relação bebé/mãe começa ainda antes do parto e é transformando inquietações em segurança, desconforto
importante para o seu desenvolvimento físico e em bem-estar, torna tolerável a angústia e faz o bebé
psicológico: propicia um sentimento de segurança, que sentir-se amado, compreendido e protegido.
gera confiança básica e que permite ao bebé encarar o
mundo de forma positiva. Se esta resposta não for dada, A interação mãe/bebé
desenrolam-se sentimentos de ansiedade - mau Sem a análise das relações precoces, não
desenvolvimento psicológico do bebé. compreenderíamos as capacidades de relação com os
outros.
Imaturidade do bebé O tipo e a qualidade das relações mãe/bebé serão
Ao nascer, o Ser Humano é imaturo: essa imaturidade é determinantes a vários níveis:
decisiva no desenvolvimento da espécie. • Psicológico
• Como prematuro, o bebé necessita de cuidados, • Físico
prestados pelos progenitores ou outros cuidadores - • Emocional
os agentes maternantes, nomeadamente nos • Social
primeiros anos de vida, para poder sobreviver física e Uma boa relação de vinculação com a mãe/figuras
psicologicamente. maternais conduzirá a um adulto equilibrado (com
auto-estima e autonomia), capaz de construir inter-
relações gratificantes.

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Esta relação inicia-se muito antes do nascimento, pois A imaturidade do bebé
assim que descobre que está grávida, a mãe começa a A criança é agora vista como um ser ativo que
fantasiar o bebé - comunica com ele e estabelece uma surpreende pelas competências que revela - não é um
relação com ele, embora não seja real. ser passivo e incompetente.
• A relação vai-se tornando real e criam-se expectativas Em comparação com o que poderá fazer ao longo da
para com o bebé. (São-lhe comunicadas desde o vida, podemos ver os bebés como ingénuos, mas já
nascimento) sabemos que essa fragilidade é o suporte de um
• Se as informações foram positivas, o bebé acaba enorme desenvolvimento posterior - devido às
por sentir isso e a vinculação entre ambos torna-se capacidades de aprendizagem.
segura.
Competências básicas do bebé
Vinculação • Reflexos: contribuem para a sua sobrevivência e
- Necessidade de criar e manter relações de
adaptação ao longo da vida. (O reflexo de sucção é o
proximidade e afetividade com os outros (o bebé que prepara o bebé para se alimentar e sobreviver).
apega-se a outros seres humanos para assegurar o • Choro: (AINSWORTH) O choro aparece num período
seu conforto, a sua proteção e a sua segurança. próprio e com funções de chamamento. (BELL e
A relação que o bebé estabelece com a mãe é decisiva AINSWORTH) As crianças cujas mães não
para o seu desenvolvimento físico e psicológico: respondem aos apelos tendem a chorar com muita
• A proximidade física do progenitor é uma necessidade frequência durante o primeiro ano de vida. As crianças
inata, primária e essencial ao desenvolvimento mental cujas mães respondem rapidamente tendem a chorar
do ser humano E ao desenvolvimento da menos, desenvolvendo outras formas de apelo
sociabilidade: proteção e sociabilização. (introduz nas crianças um estado de segurança),
desenvolvendo rapidamente outras formas de
Vinculação e Equilíbrio Psicológico comunicação em substituição do choro:
O processo de vinculação é fundamental ao nosso (SPITZ) Entre as 2 e as 6 semanas, o bebé sorri para
desenvolvimento físico e psicológico. outras pessoas ao ouvir a voz humana - primeira
A forma como a mãe interpreta e responde às manifestação de sociabilidade do bebé.
necessidades orgânicas e estados emocionais do filho • Capacidade de imitar expressões faciais e de
vão influenciar o bebé naquele momento e no futuro (a acenar com a mão para dizer adeus: Logo após o
vinculação é importante na constituição psicológica do nascimento, os órgãos sensoriais do bebé são
bebé). bombardeados por vários estímulos, que provocam
Os modelos de representação de si próprio e da mãe diferentes impressões - para comunicar, o bebé
(através dos quais o bebé percebe o seu universo) executa movimentos e distingue sensações.
influenciam as suas perceções e conduzem as suas
ações. Sintomas de tentativas de comunicação:
• A criança move a cabeça no sentido das vozes
Uma vinculação segura corresponde a uma melhor humanas;
regulação emocional - favorece a confiança, a • O desenho do rosto humano atrai a vista da criança;
capacidade de ultrapassar dificuldades, em se sentir • Com poucos dias de vida, o bebé é capaz de
bem consigo mesmo e com os outros e desempenha o distinguir o rosto, cheiro e voz da mãe;
papel de regulador emocional face ao stress. Permite • O bebé é capaz de distinguir o rosto, cheiro e voz da
uma gestão mais autónoma dos conflitos que são mãe mãe;
normais no crescimento psicológico. • O bebé prefere olhar para objetos a menos de 25cm
• Esta vinculação não tem um caráter determinista - há (distância dos seus olhos aos olhos da mãe enquanto
muitos outros fatores que influenciam o mamam).
desenvolvimento psicossocial da criança.

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(SPITZ) - estudo sobre crianças que viviam em
Competências básicas da mãe orfanatos desde os primeiros meses de vida: mostravam
indiferença e insensibilidade em relação às pessoas ou
• Competências biológicas: o comportamento
tendência para pedir afeto e atenção:
maternal assenta em fatores biológicos - os ovários
SÍNDROME DE HOSPITALISMO: Síndrome ocorrido
segregam progesterona (desenvolve as glândulas
em crianças que sofrem da ausência da mãe ou de um
mamárias), a hipófise estimulada pela presença do
bom substituto materno, com consequências negativas -
feto no útero estimula as glândulas mamárias
morte precoce, taxas de doenças elevadas em relação
produzindo leite;
ao normal, atraso no crescimento físico, atraso no
• Competências sociais: através da aprendizagem
desenvolvimento intelectual, dificuldades de
social as mulheres sabem tratar dos seus filhos;
relacionamento interpessoal.
• Competências emocionais: as tarefas e afetos
desenvolvem-se num contexto social - adquiridas por
(BOWLBY) - estudo sobre crianças afastadas da família
aprendizagem social.
por períodos superiores a 3 meses: vêm a sofrer
perturbações que se desenvolvem em três fases - (1)
Estrutura da relação do bebé com a Desespero; (2) Irritação e Cólera; (3) Apatia.
mãe
Vinculação: tendência dos bebés para, nos primeiros O papel das Relações Precoces no
tempos de vida, permanecerem junto da mãe - processo de nos tornarmos
estabelecem laços positivos com ela ou com um adulto
de quem eventualmente dependem. Há uma
humanos
Da díade à tríade:
necessidade de cariz emocional, cuja satisfação
• As experiências vividas no início da vida
acarreta experiências gratificantes.
desempenham um papel fundamental no
desenvolvimento da mente do ser humanos - delas
(FREUD) - O desassossego do bebé quando a mãe está
depende a estruturação emocional e o equilíbrio do
ausente é motivado pelo medo que as suas
seu relacionamento com os outros.
necessidades fiquem por satisfazer.
• A mãe surge como primeiro agente de intercâmbio
com o meio.
(BOWLBY) - a vinculação é o apego pelo biberão,
• Os sentimentos vividos na primeira infância funcionam
primeiro objeto de amor do bebé: o bebé como ser
como motores de desenvolvimento de segurança,
egoísta.
autoconfiança e independência, essenciais para o
sucesso social.
(HARLOW) - experiência feita com macacos, criados
• O desenvolvimento e a socialização são processos
por duas mães artificiais: uma feita de arame, com um
interdependentes: o facto de a criança se sentir
biberão e outra revestida com material fofinho. A mãe de
amada pelo grupo familiar vai fazer com que esta
veludo proporcionava de sentimentos de segurança, que
deseje fazer parte integrante da comunidade
contribuíam para uma certa independência e perda de
humana .
receio em relação a aventuras exploratórias (confiança).
• O pai tem um papel essencial na organização da
Caso contrário, por terem sido privados de socialização,
família, tanto no apoio emocional e físico à mulher
não se tornam adolescentes e adultos normais,
como no estabelecimento de laços com os filhos.
mostrando irregularidades no relacionamento sócio-
• O outro (sociedade) e os pais funcionam como elo
emocional.
de ligação entre a mente da criança em
crescimento e o universo social, com as suas
Observações com bebés humanos exigências e imposições.
(ANA FREUD) - estudo sobre crianças que viviam em
orfanatos: apresentavam perturbações emotivas e
atraso no desenvolvimento devido à falta de afeto
materno.

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amado e compreendido - fundamental ao equilíbrio
Relações Precoces e individuação psicológico.
O ser humano pode ser definido como um ser
biologicamente social - esta vocação social manifesta-se (BOWLBY): “As relações precoces do bebé”
logo após o nascimento do bebé e nas relações As investigações de Bowlby destinaram-se a analisar as
precoces que estabelece com a mãe e com as pessoas histórias da infância - conclui que a vinculação é uma
que cuidam dele. necessidade básica (como a fome e como a sede), que
• A qualidade da relação entre o bebé e a figura tem de ser satisfeita para criar relações de proximidade
parental depende da capacidade dos cuidadores e afetividade com os outros, obtendo proteção e
responderem adequadamente aos estados segurança.
emocionais do bebé - regulação mútua. • É criticado por ter centrado as suas investigações no
• É assim que tanto os bebés como os progenitores papel da mãe.
comunicam estados emocionais e respondem de
forma adequada. Podemos dizer que existem laços (AINSWORTH): “A importância das primeiras
de vinculação, sendo esta a necessidade de criar e vinculações” e a experiência “Situação Estranha”
manter relações de proximidade e afetividade com os Aprofundou o estudo da relação de vinculação,
outros e assegurar proteção e segurança, entre o distinguindo três tipos:
bebé e a figura parental. • Vinculação Segura (a mais positiva e que
influencia mais a criança): quando a mãe sai da
Podemos concluir o quão importantes são as relações sala, a criança chora. Quando a mãe regressa, a
que estabelecemos no início da vida, sendo que nos vão criança deixa de chorar;
ajudar ou prejudicar. • Vinculação Evitante: a criança fica indiferente à
- Quando são de má qualidade, perturbam o bebé nas ausência da mãe;
diferentes etapas da vida. • Vinculação Ambivalente/Resistente: o bebé mostra
Uma boa vinculação favorecerá o nosso processo de ansiedade antes de a mãe sair e perturba-se quando
individuação (necessidade primária do ser humano que esta sai da sala, ficando hesitante quando ela volta
consiste em criar a sua própria identidade). (aproxima-se e afasta-se).
- Uma boa vinculação favorece a individuação: as
relações de confiança estabelecidas entre as figuras de O trabalho de Ainsworth mostrou a importância das
vinculação e o bebé, este vai sentir-se seguro para criar primeiras vinculações: a sua qualidade influencia as
a sua identidade, pois tem auto-estima e auto-confiança relações que a criança vai estabelecer no futuro.
para enfrentar os desafios que a vida lhe impõe.

Consequências no desenvolvimento
das perturbações nas Relações
Precoces A vinculação securizante favorece aos seres humanos
© a confiança em si próprios, autonomia e construção
de identidade. É um regulador emocional, sobretudo
Experiências em relação a situações de stress.
(BION): “A boa mãe comunica poeticamente com o
seu bebé” (HARLOW): “A necessidade básica de contacto e
É a partir do modelo continente-conteúdo que Bion conforto” e “Síndrome de Isolamento”
explica a relação mãe/bebé. As experiências de Harlow, levadas a cabo com crias de
Este modelo constitui um espaço de pensamento e de macacos, simulando uma relação entre crias e mãe-
comunicação entre a mãe e o bebé. macaco, permitiram concluir que as crias têm,
• O bebé vivencia medos e angústias (conteúdo) que a essencialmente, necessidade de toque físico, sendo
mãe, enquanto depositária, acolhe, e devolve-lhe este mais importante do que a alimentação na
segurança, bem-estar e conforto, fazendo-o sentir-se construção da relação de vinculação.

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SÍNDROME DE ISOLAMENTO: Privação de contacto • O modelo de identificação masculina é fundamental
humano traduzir-se-ia em perturbações físicas e para os rapazes e raparigas, influenciando as suas
psicológicas que afetam as relações interindividuais futuras relações;
futuras (o desempenho, enquanto adultos, da figura de • A relação do bebé com o pai é igualmente positiva
agente maternante). para o pai, contribuindo para o seu desenvolvimento
pessoal - “socialização dos pais”, pois a comunicação,
Críticas à Teoria da Vinculação ao possuir um caráter bidirecional é de reconhecer a
• Aos limites socioculturais: os laços de vinculação ação do bebé sobre o pai.
não têm que estar centrados no papel da mãe, para
que seja possível falar de segurança e equilíbrio - a
2. Vinculação e equilíbrio psicológico
partir de um paradigma de família e de organização
que favoreça as relações de dependência e interação a) domínio afetivo
social assentes nas vinculações múltiplas, e por • Regulação das emoções: a imagem que cada
opções educacionais pode ter-se um comportamento indivíduo terá de si próprio, a relação com o seu
desejável no bebé: as expectativas que a mãe/família/ corpo, a construção da sua afetividade e sociabilidade
sociedade têm em relação aos mais novos podem dar dependem dos primeiros vínculos no desenvolvimento
lugar a modelos de avaliação diferenciados. fisiológico e psicológico.
• Sexualidade: as tensões e inibições excessivas
• Ao conceito de mãe: não existe uma predisposição resultam de um desequilíbrio ao nível das relações
biológica específica para a vinculação com a mãe precoces. Estas afetarão o modo como o indivíduo irá
biológica e, atendendo ao modo como a sociedade se vivenciar a sua intimidade/sensualidade, afetando
encontra organizada, reconhece-se a existência de também a sua saúde física e mental.
outros cuidadores que, enquanto agentes • Inter-relações sociais: uma vinculação securizante, e
maternantes, geram vinculações múltiplas. A mãe positiva favorece uma confiança do indivíduo em si
biológica por inexistência e/ou disfunção das mesmo e a capacidade de ultrapassar os obstáculos e
competências parentais poderá não responder ao as situações de conflito com que se depare. Enquanto
conflito vivenciado pela criança entre confiança e regulador emocional, a vinculação permite a
desconfiança e não pode assegurar um ambiente construção de relações positivas com os outros. A
consistente, sensível, acolhedor e apoiante. gestão dos conflitos, a auto-estima, a capacidade de
resistir às adversidades - o crescimento psicológico
aumentará o grau de confiança em si e nos outros,
permitindo a construção de interações gratificantes.

A I m p o r t â n c i a d a re l a ç ã o d e
Vinculação – o papel das Relações b) domínio conativo (entendido como disposição interna
Precoces no Tornar-se Humano para a ação, traduz-se no desejo, vontade, esforço ou
intenção dirigida para a exploração do meio)
• Autonomia: o desejo de afastamento das figuras de
1. Da Díade à Tríade vinculação a partir do interesse pelas atividades
exploratórias não conduzirá a uma relação de
A relação do bebé com o pai caracteriza-se pela insegurança, ante a expectativa adquirida pela
passagem da Díade (relação mãe-bebé) à Tríade vinculação securizante, de que a proteção de manterá -
(relação mãe-bebé-pai). pode facilmente regressar-se face a uma possível
O tom de voz do pai ou o seu toque também contribuem insegurança/ameaça.
para o desenvolvimento psicológico do bebé. • Individuação: depende igualmente da vinculação - a
confiança e a segurança proporcionadas pela relação da
vinculação trazem a disponibilidade para a afirmação da
identidade.
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O processo que torna cada indivíduo único resulta da O fenómeno não acontece a todas as crianças, porque
capacidade de se distinguir e de se afirmar como um algumas apesar das circunstâncias negativas,
outro - esse processo será construído em relação ao conseguem desenvolver-se equilibradamente -
nível da vinculação. A relação de proximidade e de afeto resiliência.
permite a construção de uma segurança e proporciona
igualmente a capacidade de um se tornar um O conceito de resiliência revela como o homem é capaz de
indivíduo. contrariar e adaptar-se a novas situações, mesmo que
adversas. A família ou então um adulto significativo ajudam
a medida em que a confiança e segurança proporci- a resistir melhor a situações traumáticas.
onadas pela relação de vinculação proporcionarão a
disponibilidade para a afirmação da identidade. O pro-
cesso que torna cada indivíduo único, resulta da
capacidade de se distinguir e de se afirmar como um ou-
tro, tal processo será construído em relação,
nomeadamente ao nível da vinculação. A relação de
proximi-dade, de afecto permite a construção de uma
segurança proporciona igualmente a capacidade de cada
um se tornar “indivíduo”.

Consequências das perturbações


nas relações precoces
(HARLOW) Face à ausência de vinculação, as fêmeas
de macaco inseminadas artificialmente não tinham
qualquer ligação aos filhos, o que implicava que a
privação de convívio precoce daria lugar a danos sociais
e emocionais no decorrer do desenvolvimento posterior.
• Poder-se-á, contudo, referir uma inversão da situação:
os primatas foram misturados com macacos jovens e,
em pouco tempo começaram a responder às
brincadeiras (VER EXPERIÊNCIA)

(SPITZ) “A necessidade de laços e de contactos


afectivos entre o bebé e a mãe” e a Síndrome de
Hospitalismo
Spitz estudou o efeito de carências afetivas nas crianças,
concluindo que quando falta relação com uma figura
adulta, as crianças desenvolvem um fenómeno designado
por hospitalismo.
Consequências/Efeitos

SÍNDROME DE HOSPITALISMO: conjunto de Quando crianças de idade precoce são sujeitas a uma
perturbações vividas por crianças institucionalizadas e privação de contacto com os entes próximos (abandono
privadas de cuidados maternos: materno ou temporada passada num hospital, por
• Atraso no desenvolvimento corporal; exemplo), vão sofrer de problemas físicos ou
• Dificuldades na habilidade manual e adaptação ao psicológicos que podem afetar o seu desenvolvimento
meio ambiente; normal:
• Atraso na linguagem; • Atraso no desenvolvimento corporal;
• Menor resistência a doenças; • Insónias;
• Apatia. • Perda de peso repentina;
• Alterações do seu estado geral;
Ocorre quando a criança não se relaciona • Incapacidade de adaptação ao meio;
correctamente com um adulto próximo. • Fragilidade;
• Menor imunidade a doenças infecciosas.
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primária do Ser Humano; consiste na criação de
Nos casos de total carência afetiva, ligada à falta de identidade própria.
qualquer vínculo maternal, os distúrbios podem levar à • Uma boa vinculação favorece a individuação: se as
morte. figuras de vinculação desenvolverem relações de
• A doença é sentida como um castigo, que lhe cria confiança com o bebé, este vai sentir-se seguro para
culpabilidade, e da qual agora está a sofrer as criar a sua identidade pois tem auto-estima e auto-
consequências. confiança para enfrentar os desafios que a vida lhe
• A criança sente que está a ser punida por algum erro impõe.
que cometeu. Está em jogo a perda de identidade do
ser - a criança não da presença da figura materna.
• Nas suas relações faltou o rosto do outro, porque
está ausente - a criança entra numa grande
depressão.

• Há uma perda do sentimento de continuidade, e não


estabelecem relações com os outros, vivenciando
separação, distorção da realidade que conheciam e
descontinuidade nos cuidados prestados pelos pais.

A separação da família e do lar é uma experiência


dolorosa para o bebé, à qual este não está habituado.
• Os estudos de Spitz levaram a que, em 1945,
houvesse uma reforma das condições de
hospitalização de crianças pequenas e, a que em
1950 a Organização mundial de saúde passasse a
incluir nas suas orientações um documento de nome
“Cuidados maternos e saúde mental”, onde se afirma:
“...ficar claramente demonstrado que os cuidados
maternos no decurso da primeira infância
desempenham um papel essencial no
desenvolvimento harmonioso da saúde mental.”

Conclusão
• A qualidade da relação entre o bebé e a figura
parental depende da capacidade dos cuidadores
responderem adequadamente aos estados
emocionais do bebé - regulação mútua.
• Os bebés e os progenitores comunicam os seus
estados emocionais e respondem da forma adequada.
• Existem, assim, laços de vinculação - necessidade de
criar e manter relações de proximidade e afectividade
com os outros, assegurando protecção e segurança,
entre o bebé e a figura parental.
• As relações que estabelecemos no início da vida são
importantes por nos ajudarem (ou prejudicarem - não
há relação de vinculação, ou não tem qualidade) na
vida futura, já que a existência de uma boa vinculação
favorece o processo de individuação - necessidade
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