Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
GESTÃO EM SAÚDE
EDUCAÇÃO E
GESTÃO EM SAÚDE
Copyright © UVA 2020
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer
meio sem a prévia autorização desta instituição.
REVISÃO DIAGRAMAÇÃO
Janaina Vieira UVA
Theo Cavalcanti
SUMÁRIO
Apresentação 6
Autor 7
UNIDADE 1
UNIDADE 2
UNIDADE 3
UNIDADE 4
Educação em saúde é transversal aos níveis de atenção e gestão em saúde. Todo enfer-
meiro, independentemente de seu campo de atuação, é um educador em saúde, desde a
atenção primária até a terapia intensiva ou mesmo em ambiente offshore, assistindo ao
paciente, à família ou à comunidade.
Ainda hoje são observadas práticas educativas em saúde pautadas em um modelo ba-
seado em doenças, restrito quanto à transmissão de conhecimento, tendo o profissional
como centro e autoridade. Como resultado tem-se ineficiência na identificação das ne-
cessidades de saúde da população, insatisfação dos usuários e baixo impacto das ações
dos serviços em realmente promover saúde.
6
AUTOR
7
UNIDADE 1
OBJETIVO
9
Conceito de educação em saúde
Importante
É importante notar que tanto educação como saúde são conceitos que man-
têm uma relação que contribui para a integralidade do ser humano.
Esse entendimento da participação ativa da sociedade sobre suas decisões de saúde foi
uma construção ao longo do tempo, não representando todos os períodos das práticas
educativas nessa área. Historicamente existem duas grandes concepções de educação
em saúde: a educação sanitária e a educação popular. Veremos a seguir a construção
histórica de cada conceito para, então, refletirmos sobre suas características.
10
No Brasil Colônia (até 1815) os ciclos de exploração econômica (do pau-brasil, da cana-
-de-açúcar, do minério e, por último, do café) determinavam a estruturação de classes
sociais. Nesse período, ações de educação em saúde eram pontuais, grande parte da
população fazia uso da medicina de “folk” e os senhores do café consultavam os profis-
sionais legais da medicina, oriundos de Portugal.
A partir de então, a saúde pública tinha como base o sanitarismo, trabalhando por cam-
panhas que eram abandonadas após o controle dos surtos presentes. As ações eram
voltadas para áreas urbanas, onde estavam concentrados o comércio e o transporte de
alimentos, além da proximidade dos portos marítimos (ROSEN, 1994).
Já durante a Primeira República, ao final do século XIX e no início do século XX, eclodi-
ram epidemias de febre amarela, varíola e peste bubônica oriundas do crescimento do
número de imigrantes e de condições sanitárias precárias — aumento este atribuído à
crise da mão de obra após a abolição da escravatura em 1888. De acordo com Bertolozzi
e Beco (1996), as epidemias figuravam como ameaças ao modelo exportador do café,
forçando o Estado a ampliar as intervenções no campo de educação em saúde para as
classes populares. As ações eram concentradas em grandes centros como Rio de Janei-
ro e São Paulo por serem espaços de circulação de mercadorias.
Em 1903, Oswaldo Cruz assumiu a Diretoria-Geral de Saúde Pública, convidado pelo go-
verno de Rodrigues Alves, no contexto de uma reestruturação do saneamento urbano
da cidade do Rio de Janeiro e do combate às epidemias vigentes (HOCHMAN, 2006).
Esse enfrentamento seguiu os moldes de operações militares, com equipes compostas
por brigadas sanitárias, mata-mosquitos e operários de limpeza pública, geralmente com
a participação de soldados e da polícia, que passaram a percorrer ruas, visitar casas,
“desinfetando, limpando, exigindo reformas, interditando prédios, removendo doentes”
(OLIVEIRA, 2000).
11
Os cortiços e as áreas com maior densidade demográfica eram os alvos mais frequentes
da ação coerciva e autoritária. Seus moradores eram responsabilizados pela própria au-
sência de higiene e saneamento (MARQUES, 2006). Continuava a distribuição de folhetos
avulsos, denominados Conselhos Higiênicos ao Povo, sobre os meios de evitar doenças
e as precauções necessárias para que elas não se disseminassem (MARCONDES, 1964).
Ao final da Primeira República, após a luta por melhores condições de vida também para
classes rurais — tendo como os maiores expoentes Monteiro Lobato com a bandeira
“sanear é grande questão nacional” e a criação do personagem Jeca Tatu —, as ações
educativas assumiram importância no debate da política nacional de saúde.
Para refletir
A educação sanitária, por meio da qual o trabalho educativo sob uma perspec-
tiva higienista e sanitária se organizava em um modelo campanhista, era infor-
mativa e acontecia, quase sempre, de forma autoritária. O trabalhador da saúde
legitima-se como autoridade, ditando o comportamento da população. Com
isso, a educação sanitária responsabiliza os indivíduos por seus problemas de
saúde. Será que esse modelo ainda exerce influência nas práticas atuais?
12
Na perspectiva freiriana, a educação sanitária é uma forma do que ele chamou de educa-
ção bancária, uma concepção que pressupõe o educando como um recipiente vazio que
precisa ser preenchido. “A educação se torna um ato de depositar, em que os educandos
são os depositários e o educador, o depositante” (FREIRE, 2005, p. 66).
Ampliando o foco
Educação bancária
Para Paulo Freire (2005, p. 68), a educação bancária pressupõe que:
13
capacidade dos indivíduos e das comunidades para controlarem sua saúde no sentido
de melhora. Portanto, a educação em saúde seria um meio de alcançar a saúde em uma
visão não restrita à ausência de doença.
Com isso, em 2013, por meio da Portaria nº 2.761, o Ministério da Saúde instituiu a Polí-
tica Nacional de Educação Popular em Saúde – PNEPS-SUS. A partir desse momento a
educação em saúde passou a ser uma política pública, voltada ao SUS, que designa, a
partir do diálogo, a valorização dos saberes populares como forma de produção de co-
nhecimentos e a inserção destes no SUS (BRASIL, 2013).
Essa política é orientada pelos princípios do diálogo, com a troca respeitosa de conhe-
cimentos, de forma a contribuir com os processos de transformação e humanização;
da amorosidade, pelo uso da sensibilidade e de trocas emocionais; da problematização,
propondo construções de práticas baseadas em análise crítica da realidade; da emanci-
pação, em que os grupos superam formas de ações que produzem a desumanização e
o adoecimento social; e do compromisso com a construção do projeto democrático e
popular, reafirmando os preceitos de uma sociedade justa, construída por meio das lutas
sociais e da garantia universal do direito à saúde (BRASIL, 2013).
14
Competências do enfermeiro na educação
em saúde
15
Exemplo
Rodas de conversas com gestantes são uma ótima prática educativa que pro-
move troca de experiências.
As chamadas soft skills, ou habilidades não técnicas, muito trabalhadas no mundo corpo-
rativo, têm sido reconhecidas como necessárias na formação de profissionais da saúde.
Os setores de recrutamento, inclusive, vêm desenvolvendo formas de identificar essas
habilidades nos candidatos. São exemplos de habilidades não técnicas: comunicação,
trabalho em equipe, liderança e percepção da situação.
Exemplo
16
• Utilizar o diálogo como estratégia para a transformação da realidade em saúde.
• Operacionalizar técnicas pedagógicas que viabilizem o diálogo com os sujeitos.
• Instrumentalizar os sujeitos com informação adequada.
• Valorizar e exercitar a intersetorialidade no cuidado à saúde.
• Produz a multiplicação criativa, com base em uma parte/segmento que tem como
meta envolver o conjunto da sociedade e a realidade mais geral.
• Produz fermentação social e mobilização política ao fortalecer ações coletivas no
enfrentamento de seus problemas e na construção de soluções que expressem o
poder da população.
• Incentiva a construção de espaços de participação popular, a gestão democrá-
tica e participativa, a afirmação da cidadania ativa, a ampliação dos direitos e os
processos de controle social e de democratização do Estado.
• Incentiva a construção de processos legítimos de luta pela emancipação e
pela vida.
• Anima e apaixona seus participantes, porque resgata neles os elementos da
identidade e da dignidade (autoestima).
17
Princípios do conhecimento, práticas
atuais da metodologia da problematização e
dinâmicas de aquecimento e sensibilização
1 2 3 4 5
Aplicação
Observação Hipóteses
Pontos-chave. Teorização. à realidade
da realidade. de solução.
— prática.
18
Diferentemente do que é realizado no Método de Arco de Maguerez, não há necessidade
de observação teórica prévia, pois parte-se da vivência ou observação da realidade. Na
primeira etapa, de observação, o grupo observa o problema e descreve o que vê, prefe-
rencialmente sob diferentes ângulos. Na segunda etapa, são eleitos os possíveis fatores
originários ou determinantes, então o grupo seleciona algumas questões-chave ou tam-
bém denomina os nós críticos. Na terceira etapa, quando ocorre o estudo de cada um
dos pontos-chave, busca-se apoio teórico para as hipóteses previamente formuladas. A
quarta etapa é um processo mais avançado de explicações e hipóteses de intervenção
para o enfrentamento ou a resolução do problema. Então, há o retorno à situação inicial
à medida que novas questões-problemas, ou nós críticos, são identificadas.
Como recurso para aquecimento e sensibilização dos sujeitos participantes de uma prá-
tica educativa, Vanderléia Daron (2014) apresenta, no II Caderno de educação popu-
lar em saúde, diversas técnicas pedagógicas a depender do objetivo a ser alcançado:
quebra-gelo, apresentação, integração, animação ou relaxamento.
MIDIATECA
19
NA PRÁTICA
20
Resumo da Unidade 1
Nesta unidade traçamos o histórico das ações educativas em saúde no Brasil até os dias
atuais, elencamos as competências necessárias ao enfermeiro como educador em saú-
de e conhecemos o Arco de Maguerez, uma teoria problematizadora que pode ser uma
ferramenta para o enfermeiro alcançar resultados positivos em ações educativas.
21
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de educação popular e saúde. Brasília, DF: Mi-
nistério da Saúde, 2007. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
caderno_educacao_popular_saude_p1.pdf. Acesso em: 10 ago. 2020.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 44. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
22
MARQUES, D. L. Educação em saúde na atenção básica: concepções dos profissionais
médicos do Programa Médico de Família de Niterói (RJ). 172 f. Dissertação (Mestra-
do em Política Social) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006. Disponível em:
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKE-
wj1lpzqgrTrAhWkTN8KHdGvA2sQFjAAegQIBBAB&url=http%3A%2F%2Fbvssp.icict.fio-
cruz.br%2Flildbi%2Fdocsonline%2Fget.php%3Fid%3D962&usg=AOvVaw0I-OdDSUZKrx-
4sNfCR-_nu. Acesso em: 10 ago. 2020.
PINNO, C. et al. Educação em saúde. Porto Alegre: SAGAH, 2019. Minha biblioteca.
23
UNIDADE 2
Informação e comunicação
em saúde
INTRODUÇÃO
A revolução digital acontece em nosso meio, e a comunicação passa a ter ainda mais
importância em nossa sociedade. É necessário romper e ampliar a visão tecnicista sobre
a comunicação ainda vigente entre os trabalhadores da saúde. Nesta unidade veremos
como a comunicação é um instrumento de gestão e controle social, a importância dela
para o paciente, a família e a comunidade, além do entendimento sobre educação per-
manente em saúde.
OBJETIVO
25
Informação e comunicação em saúde como
instrumentos de controle social
Para refletir
26
sociais brasileiros incorporaram a questão da informação em saúde ao compreenderem
sua importância para o processo de luta, destacando-se ainda que não basta o acesso à
informação, e sim a apropriação dela, relacionando as condições de vida ao processo de
saúde-doença e às ações de saúde implementadas pelos governos.
Dessa forma, o controle social é entendido como a participação ativa e integrada do cida-
dão na atuação da política pública, controlando também o desenvolvimento de políticas
de modo que elas atendam às necessidades reais das comunidades.
Ampliando o foco
27
elaboradas conjuntamente. O conhecimento é a informação transformada e capaz de
gerar mudanças e melhorar a vida das pessoas. Essa ideia pactua com a definição origi-
nária de comunicar: “agir em comum” ou “deixar agir o comum”.
28
A importância da comunicação com o paciente
e sua família, e a aplicação da troca de saberes
no atendimento/acolhimento/alta
De acordo com as DCNs (2001), os profissionais de saúde devem ser acessíveis e neces-
sitam manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, tanto na interação
com outros profissionais da área como com o público em geral. A comunicação envolve
as formas verbal e não verbal e habilidades de escrita e leitura, assim como o domínio
de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias da comunicação e informação.
29
análise dos processos de trabalho, e tem como objetivo a construção de
relações de confiança, compromisso e vínculo entre as equipes/serviços,
trabalhador/equipes e usuário com sua rede socioafetiva. (BRASIL, 2013)
Portanto, a comunicação efetiva pode configurar-se como um dos desafios para garantir
a segurança do paciente no ambiente hospitalar como meta a ser atingida pela equipe
interdisciplinar, além de também proporcionar um ambiente de trabalho harmonioso com
assistência livre de danos. Adicionalmente, a comunicação é fundamental para um bom
desenvolvimento do trabalho, pois é o elo de interação que fortalece o vínculo entre a
equipe interdisciplinar e o cliente.
30
O enfermeiro na educação permanente
Importante
Educação permanente – EP é uma estratégia para qualificação em saúde que visa pro-
porcionar o aprendizado para a vida cotidiana desses trabalhadores, rompendo com prá-
ticas educativas desconectadas do contexto profissional e valorizando a interdisciplinari-
dade e a atuação ativa do profissional em seu processo educativo.
Para refletir
31
vezes, as ações educativas são restritas a equipes de enfermagem sem vínculo
com as metas da instituição e acabam causando pouco impacto na transfor-
mação da qualidade da assistência.
32
MIDIATECA
NA PRÁTICA
33
Resumo da Unidade 2
A informação em saúde tem papel central na tomada de decisão da gestão e gera impac-
to na qualidade de vida das pessoas. Por meio da comunicação, a informação chega ao
usuário dos serviços de saúde, configurando-se, portanto, como uma chave na relação
enfermeiro-cliente-família e comunidade. No processo de trabalho em saúde a informa-
ção é primordial para a atualização dos profissionais e deve estar em constante evolução
a partir de aprendizagem significativa e educação permanente.
34
Referências
35
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços corres-
pondentes e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 19 set. 1990.
Disponível em: L8080 (planalto.gov.br). Acesso em: 18 dez. 2020.
36
UNIDADE 3
Metodologias de diagnóstico
de saúde comunitária
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
38
Fatores determinantes no processo saúde-
-doença nas famílias e na comunidade
O que consta na LOS é que a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes,
entre outros, alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda,
educação, transporte, lazer e acesso a bens e serviços essenciais. Os níveis de saúde da
população expressam a organização social e econômica do país (BRASIL, 1990, art. 3).
eg
de
bi alh
pr
en o
m
te
se
De
e
ua
Ed Ág oto
u ciais e comuni g
s so
caç es
ão tá
de ri a
Re s
Serviç
os
is
vida dos indi so c ia
Produ
to de ví de sa
úde
agríco o
la e d
du
til
alime e
Es
os
ntos
Habitação
Idade, gênero
e fatores
hereditários
39
Para a análise utilizou-se o modelo de Determinantes Sociais da Saúde – DSS (DAHLGREN;
WHITEHEAD, 1991), que é constituído por quatro níveis: o primeiro refere-se ao estilo
de vida; o segundo, às redes sociais e comunitárias; o terceiro trata das condições de
vida e de trabalho, as quais abordam questões da produção agrícola, alimentos, edu-
cação, ambiente de trabalho, desemprego, saneamento básico e serviços sociais e de
saúde; no quarto nível situam-se as questões socioeconômicas, culturais e ambientais,
conforme figura.
Buss e Pellegrini Filho (2007), ao tratarem dos DSS, apontam que existe uma tentativa
de estabelecer hierarquia de determinações entre os fatores mais gerais de naturezas
social, econômica e política e o modo pelo qual esses fatores incidem sobre a situação
de saúde de grupos e pessoas.
Nesse sentido, de acordo com Almeida-Filho (2002) pode-se afirmar que nas últimas
décadas “[...] vem se notando um extraordinário avanço no estudo das relações entre
a maneira como se organiza e se desenvolve uma determinada sociedade e a situação
de saúde de sua população”. Esse avanço é individualmente acentuado no estudo das
iniquidades em saúde, ou seja, as desigualdades de saúde entre grupos populacionais,
que, além de sistemáticas e relevantes, são também evitáveis, injustas e desnecessárias
(WHITEHEAD, 2000).
Vale lembrar aqui o que preconiza Dallari quando afirma que, para se alcançar um Estado
democrático, é preciso atingir “três pontos fundamentais: a supremacia do povo, a pre-
servação da liberdade e a igualdade de direitos” (DALLARI, 2001, p. 150).
Contudo, sabe-se que a estrutura vigente de assistência à saúde no Brasil ainda não tem
conferido plenamente uma eficaz atenção aos diferentes segmentos populacionais que
são portadores de variadas demandas. Tal concepção relaciona-se à dificuldade ao
acesso oriunda da atual precariedade do SUS, assim como à frágil competência e ao en-
tendimento da população de seus direitos prescritos constitucionalmente para acessar
de forma eficiente os serviços de saúde.
40
Aplicação das metodologias da problematização
41
De acordo com Cyrino e Toralles-Pereira (2003), a aprendizagem baseada em problemas
– ABP aparece como uma possibilidade instigante, pois é considerada uma das mais
significativas inovações na educação médica nos últimos anos, surgindo como um mo-
vimento de reação aos currículos das escolas médicas sob a forte influência do modelo
flexineriano, que privilegiava o modelo biomédico e o ensino centrado no hospital. Ela
pode ser considerada o eixo principal do aprendizado teórico de um currículo médico,
objetivando o aprendizado de conteúdos cognitivos e a integração de disciplinas, e se
propõe a um trabalho criativo do professor, que estará preocupado não só com o “que”,
mas, essencialmente, com “por que” e “como” o estudante aprende.
Teorização
Pontos-chave Hipóteses
de soluções
Exploração do problema
- Fatores
- Determinantes maiores
Observação Aplicação
(problema) (prática)
REALIDADE
42
É necessário conhecer as etapas para a orientação dos grupos na resolução de proble-
mas para o alcance da ABP. Veja essas etapas de acordo com o blog Escolaweb:
43
O mapa falado como instrumento de diag-
nóstico comunitário e educação em saúde
Diante do exposto, pode-se perceber que o diálogo é algo que exige abertura e respeito
ao espaço de fala do outro, e tal tarefa cada vez mais constitui-se em um desafio. Assim,
uma estratégia de empoderamento comunitário pode ser revelada a partir da cartografia,
ou seja, com o uso dos mapas.
44
Trata-se de um desenho representativo que pode permitir o apontamen-
to e a visualização, de forma esquemática, das diferentes partes de uma
região (unidade de conservação, comunidade, povoado...), dos serviços
existentes e de sua distribuição nas diversas áreas identificadas, de acor-
do com a visão e a participação dos próprios moradores e utilitários da
unidade. Suas principais utilizações/tipo de informações representam a
estrutura física — natural e construída: durante o processo de represen-
tação, surgem então histórias que dão um sentido mais qualitativo às
informações. Podem ser fatos da realidade, do cotidiano que são con-
tados a partir da construção do mapa. Ele permite a identificação dos
diferentes locais e problemas de uma dada região quanto aos aspectos
geográficos, sociais, de infraestrutura: relevo, vegetação, nascentes, po-
ços, cursos d´água, pavimentação, obras de infraestrutura, esgotamen-
to sanitário, moradias, áreas de risco, comércio, instituições, principais
vias, etc. Facilita a correlação entre os aspectos naturais e sociais. É
um meio de comunicar as impressões a respeito do meio ambiente lo-
cal e da maneira que a comunidade organiza e representa o espaço e
proporciona melhor compreensão do processo histórico-passado, pre-
sente e projeções futuras de um determinado local. [...] as pessoas se
reúnem em grupos para desenhar os aspectos principais que possam
representar o local em que vivem. Podem ser utilizados materiais diver-
sos, tais como pedras, paus, pedaços de materiais, folhas, papel ou o
próprio chão, lápis colorido, giz, etc. Todo o processo de representação
acontece de maneira interativa e dialogada. Ferramentas participativas
selecionadas: técnicas de DRP. (BROSE, 2001)
Depreende-se que o uso do mapa falado é bastante útil nas reflexões feitas pelas comu-
nidades sobre seus territórios, favorecendo a dialogicidade e a criatividade com troca de
ideias. Segundo Faria e Ferreira Neto (2006, p. 25), o mapa falado é uma ferramenta que
permite discutir diversos aspectos da realidade de forma ampla, sendo muito utilizado
como técnica exploratória no início de um diagnóstico de uma determinada problemática.
45
Mapa falado da cidade de Itaporanga d’Ajuda.
MIDIATECA
NA PRÁTICA
46
em sua decorrência sobrecarregam ao sistema de saúde utilizado por todos
naquele território.
47
Resumo da Unidade 3
Por último, foi apresentada a estratégia do mapa falado. Trata-se de um desenho repre-
sentativo que permite o apontamento e a visualização, de forma esquemática, das dife-
rentes partes de um território como instrumento facilitador do diálogo das pessoas que
nele habitam.
48
Referências
ALMEIDA FILHO, N. et al. Research on health inequalities in Latin America and the
Caribbean: Bibliometric analysis (1971-2000) and descriptive content analysis (1971-
1995). Am. J Public Health, n. 93, p. 2.037-2.043, 2003. Disponível em: https://www.
scielo.br/pdf/physis/v17n1/v17n1a06.pdf. Acesso em: 29 dez. 2020.
BLOG ESCOLA WEB. O que você precisa saber sobre aprendizagem baseada em
problemas. Rio de Janeiro. 2020. Disponível em: https://escolaweb.com.br/gestao-
escolar/o-que-voce-precisa-saber-sobre-aprendizagem-baseada-em-problemas/29/
dez.2020. Acesso em: 29 dez. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº
8.080, de 19 de setembro de 1990. Lei Orgânica da Saúde. Dispõe sobre as condições
para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento
dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da Re-
pública, 19 set. 1990, p. 18.055. Disponível em: http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/
dados/txt_14423743.pdf. Acesso em: 29 dez. 2020.
BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. PHYSIS Rev.
Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 77-93, 2007. Disponível em: http://www.
scielo.br/pdf/physis/v17n1/v17n1a06.pdf. Acesso em: 29 dez. 2020.
49
DALLARI, D. de A. Elementos de teoria geral do Estado. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
WHITEHEAD, M. The concepts and principles of equity and health. EUR/ ICP/RPD
414, 7734r, Geneva: WHO, 2000. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/physis/v17n1/
v17n1a06.pdf. Acesso em: 29 dez. 2020.
50
UNIDADE 4
OBJETIVO
52
Elaboração do plano pedagógico
Em relação ao conteúdo do plano a ser elaborado na área de saúde coletiva, pode-se res-
saltar que ele deve ser de natureza dinâmica, atualizado periodicamente e enriquecido por
meio de exercícios de simulação, práticas e recomendações oriundas do Ministério da
Saúde e de outras instituições do setor. Para efeitos de monitorização e avaliação do pla-
no, recomenda-se formulá-lo com elementos de verificação quantitativos e qualitativos.
53
Importante
O processo de planejamento consiste em uma série de passos que devem ser seguidos
no caminho, sendo o mais sistemático possível. Em sua fase preliminar, pode-se assinalar
que seu início se dá quando surgem discussões, ou seja, a necessidade ou a conveniên-
cia de realizar um processo de planejamento para uma determinada demanda. Cumpre
confirmar que a etapa inicial pode ser denominada análise da situação, que caracterizará
o contexto e o local em que será realizada a sistematização do planejamento, com a iden-
tificação de necessidades e o levantamento dos recursos disponíveis.
Depreende-se de tal discussão sobre planejamento e planos que os conceitos são dis-
tintos e bem delimitados. Planejamento relaciona-se com um conjunto de atuações
que tendem a aprovar uma idealização que já se conjeturava. Tal premeditação é mais
54
complicada e, por conseguinte, mais particularizada. Entender como cada um dos con-
ceitos funciona e qual a relação entre eles é de extrema importância para a realização de
qualquer tipo de “formação de uma determinada ideia em realidade”.
Já quando se tem a intenção de determinar o que seja um plano, não é necessário ter
ações tão idealizadas e esboçadas — o que, dessa maneira, caracteriza sua praticidade.
Ao se analisar minuciosamente tal conceito (plano) pode-se pensar que cabe aqui a se-
guinte explanação: o plano pode ter a finalidade de desempenhar uma cadeia de ações
apontadas em um planejamento, apreciando os princípios e as ações que o norteiam.
Cumpre registrar que, para ser eficaz, o plano deve levar em conta a existência de um
planejamento, ou seja, pode-se considerá-lo como um conjunto de ações que devem ser
integradas para que tenham êxito.
Para se avaliar cada ação de educação em saúde podem ser utilizados alguns instru-
mentos, como relatórios de produção diária, fichas ou prontuários dos usuários, aplica-
ção de questionários com perguntas sobre os assuntos discutidos ou, ainda, realização
de debates dos profissionais com os usuários. É importante que os dados informados
nos documentos dos usuários nas unidades estejam atualizados e sejam fidedignos
para uma avaliação qualitativa e quantitativa das ações implementadas. Nesse pro-
cesso de avaliação, é importante o comprometimento da equipe para manter e am-
pliar o relacionamento com a comunidade, o que influenciará os resultados obtidos
(FERRAZ et al., 2009).
55
Formas de avaliação de projeto educativo
em saúde
A avaliação pode produzir informação tanto para a melhoria das intervenções em saúde
como para o julgamento acerca de sua cobertura, acesso, equidade, qualidade técnica,
efetividade, eficiência e percepção dos usuários a seu respeito. Com essa finalidade pode
e deve mobilizar as estratégias e técnicas necessárias da epidemiologia e das ciências
humanas, sem preconceitos e interdições.
O parâmetro avaliativo convém ser elaborado para avaliar os dados antes, durante e de-
pois de um projeto, e assim saber se os objetivos foram cumpridos e qual a eficácia do
trabalho executado. Todo o projeto é avaliado, desde o início, quando se realizam um
estudo para descobrir qual é a situação inicial, avaliações do processo de cada fase em
cada atividade e, finalmente, a avaliação final. Isso é chamado de avaliação contínua, e,
às vezes, leva-se muito tempo, até mesmo meses, para checar se houve efetivamente
mudanças nos hábitos da população.
Nesse sentido, alguns itens na avaliação de um projeto precisam ser levados em conside-
ração, uma vez que, ao se propor a metodologia avaliativa, caso seja inadequada aos par-
ticipantes ou surjam respostas com disparates nos retornos — ou ainda se evidenciem
desmotivação e baixa assiduidade do grupo —, tais itens devem ser revistos, evitando
danos ao grupo. É nesses momentos que é necessário revisar o processo de construção
avaliativa dos projetos educativos em saúde.
56
Para refletir
Bollela e Castro (2014, p. 30 apud CATRIB; BRASIL; CARLOS, 2016, p. 284 ), ao refletirem
sobre a avaliação de programas educacionais, referem que:
57
tão, neste estágio, avalia-se em que nível o estudante é capaz de aplicar
as aprendizagens nas três dimensões, o que possibilitará observar as
competências propostas [...]. Os resultados são constituintes do quarto
nível e se referem às mudanças provocadas pela formação no contexto
social e, especificamente, nas pessoas que participaram de intervenções
realizadas por aprendentes da instituição avaliada. (AGUARDO et al.,
2011; BIENCINTO; CARBALLO, 2004)
Cumpre observar outro importante aspecto pertinente à avaliação que se relaciona com
a perspectiva de avaliadores e, em geral, de interessados nos resultados da avaliação,
uma vez que pode haver muitas partes interessadas e não se ter a mesma perspectiva ou
parâmetros para avaliar o sucesso dos resultados da intervenção. Nesse sentido, reco-
menda-se observar atentamente essa probabilidade e tentar unir finalidades para chegar
a um consenso.
58
Adesão e motivação do aprendiz
Ao refletir sobre a diferença entre os dois conceitos, acredita-se que exista certa com-
plexidade. Contudo, tais termos possuem a capacidade de refletirem sobre aspectos que
auxiliem o enfermeiro — esteja ele ainda na condição de aprendiz ou já atuando como
profissional — a trabalhar com pressupostos relacionados aos fatores que promovam ou
dificultem a aquisição de conhecimentos dialogados com sua clientela, voltados para o
autocuidado, como no caso de acometimento de doenças crônicas, tais como diabetes
melito ou hipertensão arterial, entre tantas outras enfermidades.
59
movem, a partir de uma série de seis estágios distintos, à medida que avaliam a informa-
ção e a relevância de (diversas) atividades para suas vidas (PROCHASKA; NORCROSS;
DICLEMENTE, 2002).
Diante do exposto, a motivação do aprender é direcionada por um fator interno, que dina-
miza uma condição prévia para a aprendizagem, e considera o estado interno (as habili-
dades para aprendizagem e motivação), assim como também são levados em conta os
fatores externos, isto é, os demais componentes do ensino.
60
A interface entre a educação em saúde e os EMC implica viabilizar a mudança de com-
portamento evidenciada na incorporação de condutas no cotidiano, compartilhando-as
socialmente, e contribuindo para a transformação da realidade, possibilitando a com-
preensão e a comunicação do sujeito com o mundo. A educação em saúde evolui dos
modelos explicativos causais para a compreensão de diversas formas de reações com-
portamentais de indivíduos e grupos, considerando experiências pessoais, condições
socioestruturais sobre as quais são construídas suas respostas e o entendimento da
situação saúde-doença (CATRIB, 2003).
Nesse sentido, o estudo dos conceitos de adesão e motivação discutidos juntos na for-
mação profissional pode subsidiar atividades de educação em saúde exitosas empre-
gando-se os princípios da abordagem motivacional para a intervenção breve relacionada
à adoção de hábitos saudáveis que são constantemente abordados nas atividades de
promoção da saúde.
61
MIDIATECA
NA PRÁTICA
A partir das rodas de conversa, a comunidade apontou quais seriam seus prin-
cipais desafios, e, a partir daí, foi criado um indicador de sucesso do projeto.
62
Resumo da Unidade 4
63
Referências
CATRIB, A. M. C. Saúde no espaço escolar. In: BARROSO, M. G. T.; VIEIRA, N. F. C.; VARELA,
M. Z. V. Educação em saúde no contexto da promoção humana. Fortaleza: Demócrito
Rocha, 2003.
DIGGER, R. Adesão e motivação dos aprendizes. Blog Emaze. 2010. Disponível em:
https://app.emaze.com/user/alfredopina. Acesso em: 4 jan. 2021.
FERRAZ, C. A.; BARROS, C. S.; VIEIRA, L. B. Utilização de instrumentos para avaliar ações
educativas em saúde bucal: um relato de experiência universitária. Rev. Baiana Saúde
Pública, v. 33, n. 2, p. 58-67, 2009.
64
curso de Ciências Contábeis da Universidade Estadual de Montes Claros. Disponível em:
https://congressousp.fipecafi.org/anais/artigos102010/402.pdf . Acesso em: 4 jan. 2021.
PINTRICH, P. R. The role of goal orientation in self-regulated learning. In: BOEKARTS, M.;
PINTRICH, P. R.; ZEIDNER, M. Handbook of Self-Regulation. San Diego: Academic Press,
2005, p. 111-69. In: SOBRAL, D. T. Autodeterminação da motivação em alunos de Medici-
na: relações com motivos de escolha da opção e intenção de adesão ao curso. Rev. bras.
educ. med. [on-line]. v. 32, n. 1, p. 56-65, 2008.
PROCHASKA, J. O.; NORCROSS, J. C.; DICLEMENTE, C. C. Changing for good. New York:
Copyright, 2002.
65