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ISBN 978-85-273-0742-0
05-7179 CDD-809.14
À 121emóría
de
Antonio Costa Barbosa, irmão e amigo
Índices para catálogo sistemático:
Resina Schnaidermati, mestra e amiga
Poesialírica : História e crítica 809. 14 e
}orge Canteiro da Cunha, a própria amizade.
Direitos reservadosà
EDITORAPERSPECTIVAS.A
2009
'''''TI
2. BAUDELAIRE,
OU A LINGUAGEMINAUGURAL
'ARIA J:l:ERÁBIA
g
l
A minha proposta é a seguinte: ler um poema de
Baudelaire a partir do qual seja possível recuperar, para a
reflexão acerca da Modernidade, os traços mais importantes
do prometobaudelairiano.Neste sentido, o que está em
jogo é, sobretudo, a articulação entre um texto poético e
tudo aquilo que, talvez à falta de melhor nome, pode-se
chamar de prometodo poeta. É claro que já seria o bastante:
articular poema e prometo,sobretudo no caso de um poeta
com ap dimensões de Baudelaire, significa, na verdade,
rastrear alguns dos problemas fundamentais para uma defi-
nição da Modernidade do poema. Sendo assim, a proposta
incial é, de certa forma, uma maneirade possibilitara
apreensão de tudo o que, num determinado poema, aponta
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para a busca de resolução individual daqueles problemas Là s'étalaít jades une ménagerie;
mencionados. Là je vis, un matin, à I'heure oü seusles cieux
Froids et clairs le Travail s'éveille.oü la voirie
Por outro lado, a afirmação da viabilidade de uma 16 Pousse un sombra ouragan dais I'air silencíeux,
configurada implica na concepção do 6t;ê;iiã
leitura .assim configurado
K: como Un cygne qui s'était évadé de sa cago,
o da linguagêiã:'Ã Et, de ses pieds palmés frottant le pavé sec.
niiêüãÉêãímpoema a Sur le sol raboteux trathaít son blanc plumage.
quanto instância de um discurso da poesia qãe, fixado no 20 Prós d'un ruisseau sins eau ]a bête ouvrant le bec
texto em pauta, deixa ver os acidentesde 'sua traíetória.
As marcasda Hisiõiíã: Baignait nervousement ses ailes dons la poudre,
Et disait, le çoeur plein de son beau lac natal:
Não está, portanto, no horizonte deste ensaio, a ambi- "Eau, quand dono pleuvras-tu? quand tonneras-tu: foudre?
!ão de uma descriçãodetalhada dos procedimentos de Baude- 24 Je vais ce malheureux, mythe étrange et fatal,
laire: a leitura seráparcial na medidamesmaem que se Vens le fiel quelquefois, comme I'homme d'Ovide
propõe .um corte..no poema a fim de que melhor sejam Vens le fiel ironique et cruellement bICa,
regi?trados os delineamentos do projeto. Não deixa de 'ser Sur son cou convulsif tendant sa tête avide,
verdade,por outro lado, que, mesmoparcial, a leitura assim 28 Comme s'il adressait des reproches à Doeu!
pensada ambiciona transcender os liÚuites textuais: a deci-
11
fração do poema termina trabalhando no sentido de buscar
a decifração no nível das relações entre poeta e história Pauis changel mais rien dana ma mélancolie
8.b!!!alia..!jterária como tradução incrustada nas articulações N'a bougé! panais neufs, échafaudages, bloco,
o poema. Depe Vieux faubourgs,tout pour moi devientallégorie,
32 Et mes chers souvenirs sont plus lourds que des roca
enéõHtravg no momento da elaboração de seu texto e por
onde criava o espaço para a instauração de sua linguagem. Aussi devant ce Louvre une image m'opprime:
Um ato inaugural. Je pense à mon grand cygne, aves ses gostes fous
Comme les exilés. ridicule et sublime.
Seria inútil procurar na fixação de características român-
36 Et rongéd'un désir santrêvel et puasà vous,
ticas e. pós-românticas
uma definição do projeto de Bauda-
laire. A dependênciapara com a linguagem do Romantismo Andromaque, des bus d'un grand époux tombée
e a.abertura p?ra aquilo que será a sua posteridadep6s- Vil bétail, seus la main du superbe Pyrrhus,
romântica são dois movimentos de uma mesma linguagem: Auprês d'un tombeau vida en extasc courbée;
40 Veuve d'sector, hélas! et femme d'Hélénus!
o eixo em torno do qual é possíveller o sentidomais amplo
de sua obra. Eis o texto: Je pense à la négresse, amaigrie et phthisique,
Piétinant dais la blue, et cherchant, I'oeil hagard
LE CYGNE
Les cocotiers absents de la superbe Afrique
Á VÍcfor Huno 44 Derriêre la muraille immensadu brouillard
,-----\ l
A quiconque a perdu ce qui ne se retrouve
in=WTtk$g:;à.}=: .%:=li' -"",
L'immensamajestéde vos douleur; de verve.
jamais, jamaisl à ceux qui s'abreuvent de pleura
Et tettent la Douleur çomme une bonne louve!
4 48 Aux maiores orphelins séchant comme des fleurs!
Ce Simoís menteur qui par vos pleura grandit,
A fécondé soudain ma mémoire fertile. Ainsi dons la forêt oü mon esprit s'exibe
Comme je traversais le nouveau Carrossel. Un vieux Souvenirsonneà plein soufflédu cor!
Le vieux Parian'est plus (la forme d'une villa Je pense aux matelots oubliés dana une ile,
8
Chance pias vate, hélas! que le coeur d;un mortal); 52 Aux captifs, aux vaincus!. . . à bien d'autres encorli
je ne voif qu'en esprit tout ce vamp de baraques,
Ces tas de chapiteaux ébauchéset de futs. ' ' 1. Cf. CHARLESBAUDELAIRE, OeuvresCompZêfes
1. Texto
Les .helbes, les aros blocs verdis par I'eau 'des claques, établi, présenté et annoté par Claude Pichois. Paras, Gallimard(Bi-
12 Et, brillant aux' carreaux, 'le brio:à-brac confus"'' bliothêquede la Pléiade), 1975,pp. 85-87.
40 41
11
2
podemos chamar com especial ênlêlç i;iil; l; líferária". A
Publicado em l,a Causerfe, em 1860, o poema foi in-
c[uído na segunda edição de Z,es FJeurs dzz ]i/a/, de 1861, partir daí, entretanto, o ensaio de Lowry' Nelson Jr. abre
constituindo o quarto texto da segundaparte da obra, então perspectivasbem mais amplas,para a leitura do texto baude
criada pelo poeta sob o título de ''Tableaux Parisiens'' laíriano, do que aquela primeira frase poderia deixar suspei
tar: observando que o poeta "não somente utiliza palavras
Situado entre ''À une Mendiante Rousse'' e "Les Sept e frases da Elzéída mais incorpora toda a ressonânciado
Vieillards", o poema tem sido, de um modo geral, tratado episódio ao q ual ele alude em seu próprio poema"', a leitura
como uma convergência de dois movimentos fundamentais
que realiza do trecho do poema virgiliano consumido pelo
em Baudelaire:"o poder de evocaçãoque as ruas de Parti poema de Baudelaire é bastante arguta para tomar evidente
acionam em Baudelaire", para repetir as palavras da pará-
aquele modo de incorporação. Assim, por exemplo, a idéia
frase de Albert Feuillerat :, e a utilização da alegoria como
mediação entre a poesia e a existência do poeta prisioneiro fundamental de que aquela cidade construída por Hel
das contingências,conformea leitura de Mme. E. Noulet3 e por ele apresentada a Enéias, era ''uma pequena
de Tróia ('parvam Traiam')". Diz o autor
Sem desprezar nenhuma das duas alternativas, que evidente-
mente comparecemno texto, algumas leituras mais recentes feita cer a Óiaj\ com
têm insistido na própria organizaçãodo poema como modo paio rio Xanta rico C seco
de ler a complexidade da linguagem baudelairiana. Seleciono procedo et parvam Traiam simulataque magnas
Pergama et atentem Xanthi cognomine rivum
três exemplo!: ''Baudelaire and Virgil: A reading of 'Le agnosco 9
Cygne' ", de Lowry Nelson Jr. ', ''Thé Originality of Baude-
laire's 'Le Cygne': Genesis as Structure and Theme", de Da mesma forma, é essencial, para o argumento logo
F. W. Leakeys, e "'Le Cygne' de Baudelaire: Douleur, em seguidadesenvolvido
pelo autor em sua leitura do
Souvenir, Travail", de Visto; Brombert6 poema, a ldrâmaca
O ensaio de Lowry Nelson Jr. assume como argumento existindo "Tiõ da Traiaori a
central aquilo que, na crítica baudelairiana. tem servido
cepa.instrumento de decifração do poema: a referência a está processo, para o autor, é, sobretudo, o
« Vjrgíli(!> ao episódio deíálti;ãBiããõãldQ..Canto...linda.Elzéída. VliHHia.H
'Â"êft)caçãode Baudélãii;de um episódioda Enéíciaem B mesmo Enéias. "Há uma sugêÉiãõ' aqui
seu poema 'Le Cygne' é um excelente exemplo do que .e Eã..gljçDação:o saque de Traia e o exílio
dos troianos sobreviventes como a expulsão de um paraíso
2. Cf. ."LArchitecture des F/euro du Ma/', em Sfadfes by
memberso/ f/zeFrenc/zDeparfmenf o/ Vale U/zíversífy.Ed. by Albert
que então continua a aparecerpara os homenscomo um
Feuilleratt Decennial volume, New Haven, Yale University Press, sonho irrecuperável" "
1941,P. 304. ' É claro que este último trecho do ensaiode Lowry
3. Em STEPHANE MALLARME, Oeuvres Como/ates.Texte Nelson Jr. é bélico para a passagemao poemabaudelairiano
établi et .annoté par Henri Mondar et G. mean-Aubry. ' Paria, Galli. o tema do ue o autor reconhece como "maior theme'
mard (Bibliothêque de la Pléiade), 1956, p. 1486. ' '
4. Cf. "Baudelaire and Virgil: A reading of 'Le Cygne' ", em
do poema ali configurado com todas as suas ímpli
Comparafíve l,íferafure. Vol. XIII. Fal1 1961. N. 4. Oregon: Univer- cações. Ou, segundo o autor: i$olamç!!!g diva aban
sity of Oregon. dono, cxcll to. irada @. Todavia, aquilo que $.erá deck
5.
Structure
Cf. "The
and Theme',
Originality of Baudelaire's
em Ordem a/zd ,4dvenfure
'Le Cygne': Genesis as
írz Post-Romalzfic
sitio na leitura do autor, e
de Êêü 6'crítico, é o
FrerzcAPoefly..ETays. presentedto C. A. Hackett. Ed. by E. M.
Beaumont. 1. M. Cocking and J. Cruickshank. Londres, BasalBlack-
7 OP. cÍf., P. 332
6. Cf. " 'Le Cygne' de Baudelaire: Douleur, Souvenir. Tra- 8 Idem, ibidem.
vail", em Éfudes fraude/aírierzrzes
//.r. Hommage à' W. T. Brandy. 9 /dem, p. 334.
(Publié..par lamas S. Patty et Claude Pichéis). Neuchâtel,À la
Bacconiêre, 1973. ' ' ' 10 /dem, p. 336.
11 Idem. ibidem.
42
43
11
.
34. Idem, pp. 258-59
48 .i (.« h'.»«. C
«»-- p''.«'...(üd 49
soteriológica da rememoração. ( )
+ mérjp
que
fé!!i!:: uma identidade-éden
recuperar a 8
leti 'quicon- Como T. S. Eiiot nesta Wasfe l,and que tanto deve às F/ares
do À4aZ, Baudelaire também faz o inventário
of time" como ele rosna
salva
Finalmente, com relação ao trabalho: » 39
f'
LO
qual Baudelaireinsiste 10
O primeiro
tido da visão
Andrâmacae a reconstruçãode uma
(o que dá razão tanto à leitura de
Na verdade,todo o largo apostoque é constituídopelos à de Victor Brombert), não é senão e/z
versos dois, três e quatro, Qg4yçêg..dâ..:lÊi!!114..de
Virgílio, l!$$çlg...Lsua !jtlguagem dê.liãããiãÊãa, criando
está fundado na metáfora do êspelhó: aquilo qué'Bãüaêlãiié paço para que X"fiiêhória/érflJ, de
leu em Virgílio não se distingue,por isso, daquilo que ele anterior, possa desatar os fios
lê agorana realidade.A sua memóriaé poética na medida ciência parisiense à leitura
em que produz as relaçõesnecessáriaspara que a visão de ma constrói em seguida -- a
uns nao despreze,antes inclua, a sua experiência literária um movimento fundamental de
Qna como elemento dia Baudelaire retomar o mito romântico
ovimento !épidQ.de refração aglutinar llid passadas (as de Tróia) e
iêaunda estrofe instaura de fato, começa a
a passagem
entreumae outra:"Comme
je traversais
le utilização, em anáfora, do
nouveau Carrousel". A experiência do novo, em ternos necessária para que a imagem do Cisne possa surgir por
pessoais, apontando para a fugacidade, solicita, por assim entre os.,.estilhaços da memória.
dizer, o comportamentodo que a memória,em temposhis-
tóricos, reteve como experiência. Por isso mesmo, é de uma Lá s'étalàit jades une ménegerie;
Lá je vis, un matin, à I'heure oü seus les cieux
grande coerência textual a lamentação que está nos dois
últimos versosda segundaestrofe: a oposiçãoentre novo
e velho (Carrousel e Paria) estabelece a tensão necessária Por isso mesmo,para que apareçaa figura do Cisne,
o leitor precisa passar pelos dois últimos versos desta estrofe:
entre o pessoal e o histórico. Forma da cidade e coração
o momento em que ocorre a visão do Cisne está situado no
do poeta estão separados pela mudança: o início do poema
começo do dia e tudo aquilo que, na vida de uma cidade
fala de seu próprio aparecimentoporque entre o poeta e a
história está a linguagem da poesia -: uma manei;a diversa como Paras,se representapelo trabalho de limpeza pública.
de dizer que, entre o novo e o velho, está o sentido da Na verdade, o Trabalho que se inicia no terceiro verso (gra-
mudança que o poema busca captar. Mas o poema é sempre vadoem maiúsculapara acentuaro seu valor simbólico) é
uma concretização:o seu movimento-- aquilo que a lin- correlato ao sentido de destruição e abandono que vai
guagemé capaz de gerar como experiênciasmúltiplas da tomando conta do texto: a "voirie", por oposição semântica,
realidade -- só é possível na medida em que aquela concre-
53
]1
58
l
Tome-se, por exemplo, a imagem do segundo verso: "pié- Se, por um lado, os pronomesutilizadosnos dois
tinant dana la blue". Na verdade, ela parece resultar'da versos iniciais ("quiconque" e "ceux") abrem o caminho
fusão de dois traços anteriores de caracterizaçãodo Cisne: para a generalização,
por outro lado, os dois versosse-
"Et, de ses pieds palmés frottant de pavé sec", segundo guintes repercutem aquilo que o texto produzira anterior-
verso da quinta estrofe da primeira parte, e ''Baignait ner- mente no nível da imagem alusiva(a referência à Loba
veusementses ailes dana la poudre", primeiro verso da do terceiro verso faz ressoar imediatamente a melodia latina
estrofe seguinte. Mais ainda: a expressão final do segundo
da .leitura virgiliana), ou, através da repetição do adjetivo,
verso, "l'oeil hagard", de certa maneira, traduz o "nérveu- emboranuma forma ligeiramentemodificada("maígres or
sement" da sexta estrofe. A forte adjetivação do primeiro phelins" e ''amaigrie et phthisique"), o que o outro nível
verso -- "amaigrie et phthisique" -- pemlite ao poeta o do discurso -- o da confrontação com a experiência pessoal
estabelecimentodo paralelismo das condições do Cisne e -- fora capaz de articular.
da Negra. Sendo assim, da mesma forma 'que aquele bus-
cavano soloduro e secoo espaçopara o canto,estaaxila-se Nestes dois últimos versos da estrofe, aliás, a imbri-
cação imagística é muito grande: "maigres orphelins" é
na medida em que entre ela e o seu espaçonatural --
"superbe Afrique", transformação de "son beata lac natal"
também tradução para Remo e Râmulol
-- instaura-se a ausência. Desta maneira, mais do que em qualquer outra estrofe
do poema, é nesta que a.llÊgsãoentre o histórico e o pessoal #.
O que ela procura não são apenascoqueirosmas
"cocotiers absents": está, de antemão, condenada pela cons-
ciência da inutilidade de seu gesto. O último verso desta inicial do verbo, propondo uma maior liberdade na formação
estrofe marca bem a distância entre a Cidade e o seu da imagem, atua por acumulação, concorrendo para que
diminua a distância entre os ..dais...dveis da experiência.
habitat: o "brouillard", que se interpõe entre ela e a visão
da ' superbre Afrique", ganha as dimensões da adjetivação Por isso mesmo, el.estrofe é fessoanlPpg!..Êxçdência: em
baudelairiana -- ele é ''immense" porque não é só "broui- todos os seusníveis de cóiiii;õiiêlê:(silitático, morfológico,
llard" mastudo o que impede a fuga tlo exílio. Está claro sonoro) Q..gue sobressai é s
compondo a metarora aa aeiólação e' do abandono. Tome-
que, ]lê..gg!!!pgliçãg.do poema! Í..!!!114êlDÇDlâLê...g$çilação
entre os dois níveis'HF'líêêüiiõ: aqueleque. extraídoda se, por exemplo, a repetição que inicia o segundo verso.
\\
geDlól:ia--assume..g..cívelda alusão literária(Anãiõmaca e A perdaé absolutaporque ela se situa cada vez mais
distante: "Jamais, jamais!" No mesmo sentido, a estrutura
Cisne)êdQW- dos símiles dos dois últimos versos ("comme une bonne
mj!g..!g..EgÊ!!E!!!ar para Q nível da experiência pessoal. louve" e "comme des fleurs") intensificam o teor implícito
A passagem entre iiiií'T'õüiiõ'i ãiie poiÉibiiiii'Õ' Jogo entre da desolação: opõem-se, delicadamente, à realidade brutal
abstrato e concreto. Por isso mesmo, é possível ver nesta
r
-- "la Douleur","maigresorphelins". , f.
Negraa reminiscência
de JeanneDuval: a ressonância
das
imagensutilizadas para o Cisne, entretanto, extrai da "Vênus A leitura da É!!ima..nlrofe, por .isso,c9mplet&a D@m
ip medida mesmo em que, no nível das 'iiiiããêii::'8'iêxt
negra", como a chama Enid Starkie, aquilo que serve ao s.! !gpserva aberto Dará as múltiplas signifjçações trabalham
poeta como instrumento mais amplo de análise da condição ãi fias estrofes anteriõiêg
do exílio. Na verdade,é a própria transformação
interior
dasimagensque impõe a passagemdo concreto ao abstrato. Ainsi dons la forêt oü mon esprit s'exile
Un vieux Souvenir sonhe à plein souffle du cor!
A gyiDlê.estrofe, iniciada pela elipse do verbo, realiza Je pense aux matelots oubliés dana une íle,
plenamente o iêiiiiãõ dessa passagem: a abstração concre- Aux captifs, aux vaincusl . . . à bien d'autres encore
tiza-se pela recorrência das imagens.
Os quatro versos desta estrofe recuperam, de medo
A quiconque a perdu ce qui ne se retrouve definitivo, o equilíbrio entre memóriae consciênciaque
jamais, jamais! à ceux que s'abreuventde pleura caracteriza todo o poema.
Et tettent la Douleur comme une bonne louve!
Aux maiores orphelins séçhant comme des fleursl Os dois primeiros versos, iniciados por uma cláusula
conclusiva ("ainsi") fazem ecoar todo o movimento inicial
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do texto. Este "vieux Souvenir", do segundoverso, é a à margem,politicamenteexilado,masainda/alava a lingua-
lembrança de Andrâmaca mas, ao mesmo tempo, é mais gem daquelesque o exilaram.
do que isso: imanta, no nível da recuperaçãopela memória, Baudelaire não: incorporando o /russo/zque Hugo podia
tudo o que o poemafoi capaz de traduzir. perceber,isto é, o conteúdodo código estabelecidopela tra-
De qualquer modo, no entanto, é o dispam inicial, dição, efetiva um desvio mais profundo. A tradução da His-
aquilo que põe a funcionar a máquina do poema.É preciso tória em termos de poema importava -- e Auerbach captou
notar, todavia, que essedisparo está referido ao espaçodo o problema noutra direção10-- nessa oscilação fundamental
primeiroverso,isto é, aquelepreenchidopela existênciados de códigos.
símbolos em que se axila o espírito do poeta. Não há resolução, nem mesmo (ou principalmente!)
nada se perde da contaminação com o que para o "Baudelaire Cristão" porque, entre o pessoal e o
está .ito na quarta estrofe desta segunda parte -- a "superbe histórico, a linguagem cava o fosso do nada. E dos deuses
Afrique" é tambémuma floresta,e não só uma Traia, como a linguagem nada pode dizer: cala ou implora a sua inter-
quer Lowry Nelson Jr., da mente. Está claro que, ao escre- cessão.
ver floresta, Baudelairenão apenasaponta para a sua ima- Entre prostitutas e santos, Baudelaire escolheu a "porta
gem anterior: é possível pensar no modo pelo qual, no estreita": aquelaque não leva a lugar nenhum(nem ao
texto, a Cidade é afirmada em nível semelhante. (A Cidade êxtase do sexo nem aos céus) mas a si mesma: o poema.
é uma floresta em que o poeta lê símbolos escondidos: "flâ- Antes e melhor do que qualquer outro, Baudelaire,o "flâ- fÍ
neur'' curioso e heróico.) Mas ele não é senhorda Cidade: neur", o esgrimista, o dândi, sabia que "homem nenhum l\
a sua posição é a de um exilado, um marginal. Por isso é uma ilha", a não ser o poeta: o seu ancoradourochama-ll
mesmo,os dois últimos versos explicitam a sua companhia: se linguagem.
esquecidos, cativos, vencidos.
O poema pode começar a ser relido: ''Andromaque,
)
je pense à vousl
.. il CQackusãode..incowluso: é sempre possível ampliar a re-
'';lçl\ lação daqyglgs..quE..sg..i!!ç!!!çg!.pg $çpêlgcãaêntre memórb e
iíãciência. A Modernidade essencial de Baudelaíiã está
em lazer desta separação o espaço ilusório para a conquista
de uma cidadania (a do poeta) que ele sabia, para sempre,
perdida. Não sendo mais da Cidade, resta-lhe ser poeta da
Cidade..€1é. que a Cidade não o inclui, mas o marginaliza,
compete-lhe nclui i rü= úre' E
por aqui a sombra melancólica do pensamentode Walter
Benjamin pode passar
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