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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo

IX Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR)


Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia (GO) – Novembro de 2019
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O caso Vaza Jato no Jornal Nacional: uma compreensão


a partir da legislação brasileira

Marcelo Afonso de Souza1


Evandro José Medeiros Laia2

Universidade Federal de Ouro Preto.

Resumo: Em “Sobre Ética e Imprensa”, Eugênio Bucci (2000) lança o olhar sobre a interrela-
ção entre a organização jornalística e a atividade profissional e seu trabalho enquanto instituição
social vinculada a outras instituições de poder, entendendo os dispositivos de legislação como
mediadores deste relacionamento. A partir da Constituição Federal de 1988 e do Código de
Ética dos Jornalistas Brasileiros, o artigo analisa a construção jornalística da matéria “O Ataque
Hacker à Operação Lava Jato”, veiculada pelo Jornal Nacional em 12 de junho de 2019. A nar-
rativa traz de volta o episódio da publicação, pelo site The Intercept Brasil, sobre as mensagens
trocadas, pelo aplicativo Telegram, entre o então juiz Sérgio Moro e outros envolvidos na Ope-
ração, apontando para condutas eticamente questionáveis na condução, entre outros casos, de
um dos julgamentos do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Palavras-chave: crítica de mídia; ética jornalística; Vaza Jato; telejornalismo; Jornal Nacional.

1. Introdução
Este artigo pontua aspectos relacionados à construção de um dos materiais jorna-
lísticos exibidos pelo Jornal Nacional (JN), no dia 12 de junho de 2019, sobre informa-
ções publicadas pelo jornal online The Intercept Brasil (TIB), três dias antes, em 9 de

1
Graduando em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Integrante do Observatório
de Telejornalismo da UFOP. E-mail: marcelo.afonso@aluno.ufop.edu.br.
2
Professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Doutor em Comunicação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Orientador do Observatório de Telejornalismo da UFOP. E-mail:
evandro.medeiros@ufop.edu.br.

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junho de 2019. Segundo a série de reportagens, apelidadas por Vaza Jato, houve pro-
blemas éticos de conduta, por parte do procurador federal Deltan Dallagnol e do então
juiz federal Sérgio Moro, na condução dos processos da Operação Lava Jato (LJ), prin-
cipalmente ao do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A afirmação
viria de mensagens (e nas reportagens posteriores, também áudios) trocados entre Moro
e Dallagnol por meio do aplicativo de mensagens instantâneas Telegram.
O que propomos neste artigo é lançar mão da legislação vigente no Brasil, desde
a Constituição Federal, passando pelo Código Civil, até a regulamentação específica da
profissão de jornalista, o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, para avaliar a vali-
dade dos argumentos apresentados pela reportagem a partir de uma hipotética afirmação
de que o material recebido pelo TIB é fruto da ação de hackers e de que este poderia ser
um procedimento criminoso. Também lançamos mão aqui de trechos das falas do jorna-
lista Glenn Greenwald, criador e editor do TIB, durante a sua visita à Comissão de Di-
reitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, no dia 25 de junho. Por fim, o
exercício de encontrar, a partir do texto jornalístico, o lastro da Constituição Federal e
do Código de Ética, torna-se um exercício de lembrança das garantias legislativas do
exercício da profissão de jornalista, em um tempo em que este lugar de tradução do
mundo parece cada vez mais necessário.

2. A crítica de mídia e a legislação brasileira

Antes de iniciarmos o exercício de crítica de mídia a partir da decupagem da re-


ferida edição do JN, é necessário avançar no tempo: exatos treze dias após a exibição do
telejornal analisado, para a audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Hu-
manos e Minorias da Câmara dos Deputados, em Brasília. Com o tema “Atuação de
juízes e procuradores brasileiros no âmbito da Operação Lava Jato” (CÂMARA, 2019),
a Câmara dos Deputados recebeu como convidado, em 25 de junho, um dos três funda-
dores do TIB, Glenn Greenwald.
Jornalista, advogado constitucionalista e autor de quatro livros entre os mais
vendidos do New York Times na seção de política e direito3, Glenn iniciou a comissão

3 THE INTERCEPT BRASIL. Glenn Greenwald. Disponível em < https://theintercept.com/staff/glenn-greenwald-brasil/> Acesso em 25 jul. de 2019.

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citando o art. X da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que garante a todo ser
humano audiência pública e justa, baseada nos princípios da igualdade e da impessoali-
dade. Ele se fundamentou, também, no artigo 5º da Constituição Federal de 1988, que
veda tribunal de exceção e garante que nenhum cidadão ou cidadã será privado de sua
liberdade, sem o devido julgamento legal. Por fim, discursou sobre o papel do jornalista
em uma democracia e a proteção constitucional brasileira à liberdade de imprensa. Após
seu discurso inaugural, os autores do requerimento, deputados Camilo Capiberibe
(PSB), Carlos Veras (PT), Márcio Jerry (PCdoB) e Túlio Gadelha (PDT) deram o tom
da discussão. Por fim, foi concedida a vez para que parlamentares inscritos pudessem
dirigir perguntas a Glenn Greenwald sobre as referidas reportagens, sobre a origem de
seus conteúdos e sobre sua opinião, como advogado constitucional e jornalista, sobre os
processos de corrupção alegadamente em curso na LJ.
Neste momento, observamos duas vertentes principais de argumentação. A pri-
meira se preocupa com a postura ética do então juiz Sérgio Moro, e integrantes da Ope-
ração, e com o desrespeito ao código ético maior da nação brasileira. A segunda, forma-
da por Katia Sastre (PL), Carla Zambelli e Filipe Barros, ambos do Partido Social Libe-
ral (PSL), partido do presidente Jair Bolsonaro, adota posição de ataque ao convidado
da Câmara. Enquanto Sastre afirma Greenwald como participante de ação criminosa
organizada e que, por isso, deveria sair do local preso, Filipe Barros o acusa de utilizar o
jornalismo para promover militância política, questionando o convidado sobre supostos
pagamentos financeiros para que publicasse tal material. Por fim, os parlamentares co-
locam em dúvida a veracidade das informações publicadas. Um posicionamento que
culminou com a intimidação feita pela deputada Carla Zambelli para que o jornalista
reproduzisse os áudios que comprovariam a autenticidade das reportagens do TIB.
Em sua resposta final, Glenn Greenwald responde que, “evidentemente, o parti-
do do governo não entende como o jornalismo funciona” (CÂMARA, 2019). O jornalis-
ta continua afirmando não receber ordens de governo ou partidos de como reportar as
matérias do TIB. “Abrimos nosso arquivo para os maiores veículos deste país e todos
esses jornalistas e peritos em segurança digital disseram ser os arquivos de natureza
autêntica. Estamos fazendo o que jornalistas fazem em democracias”, continuou. Ao ser
novamente intimidado pela deputada Carla Zambelli para que reproduzisse os áudios

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que comprovariam a autenticidade do material publicado, Greenwald responde: “Áudios


são muito difíceis de reportar, mas com certeza reportaremos, quando estiverem prontos
jornalisticamente, e acho que você vai se arrepender muito a desejar que nós façamos
isso”.
Esta parece ser uma situação crítica, limite, mas não começou hoje. Existe uma
série de estudos que mostram como determinados veículos de comunicação e agentes da
política brasileira não seguem os preceitos basilares do jornalismo, assim como garanti-
do no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros e na Constituição Federal de 1988,
que versa, entre outros, em seu art. 220º sobre a livre “manifestação do pensamento, a
criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo” (PLA-
NALTO, 2019).
Sobre este aspecto, Eugênio Bucci (2008), em análise sobre sua trajetória na pre-
sidência da Empresa Brasileira de Comunicação - Radiobrás, no primeiro mandato do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, argumenta que a principal dificuldade em gerir
e pautar o conteúdo noticioso de sua agenda não estava na letra expressa da lei, mas na
“leniência da cultura política, que não respeitava a norma legal (...) promovendo, diari-
amente, governadores, ministros e o presidente" (BUCCI, 2008, p.25). Rastros da dita-
dura militar, o autor argumenta que as empresas encarregadas pela comunicação pública
no Brasil de então não praticavam jornalismo:

As explicações de praxe primavam pelo comodismo. A mais comum delas


perdoava a subserviência das instituições em relação aos governos porque,
afinal, essas instituições dependiam de recursos governamentais (...). Na ten-
tativa de ganhar o seu naco de sustentação de cada dia, elas viviam de adular
os poderosos oficiais. Por inércia. Em consequência, ofereciam ao público
um arremedo de comunicação promocional, de má qualidade, que fingia ser
informativa (BUCCI, 2008, p.22).

Assim, “o ambiente de absoluta ausência de parâmetros éticos que orientem as


empresas de comunicação se tornou uma situação social” (BUCCI, 2000, p.32). Tanto
dentre agentes políticos que parecem atacar narrativas jornalísticas, e seus autores, que
objetivam expor condutas inconstitucionais, quanto de veículos de comunicação, gran-
des ou pequenos, que parecem, ainda, pautar sua agenda exclusivamente em falas insti-
tucionalizadas das esferas de poder. Este termo, agenda, possui significado particular

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para o jornalismo. Para compreendê-lo, é preciso retornar à década de 1970, para os


estudos de Maxwell McCombs e Donald Shaw sobre o agenda-setting. Para os estudio-
sos, “os meios não são capazes de determinar 'o quê' as pessoas pensam, mas dizem
'sobre o quê' elas devem pensar” (MCCOMBS, 2004 apud LARA, 2014, p.29).
Essa ideia, desenvolvida por Eliziane Lara (2014), indica que os meios de co-
municação possuem deliberadas as pautas políticas, socioeconômicas e culturais para
desenvolver e dar visibilidade em seus produtos noticiosos. Dessa forma, valendo-se da
premissa basilar de defesa ao interesse público, os profissionais de comunicação empe-
nham-se em produzir pautas relacionadas à linha editorial dos meios em que trabalham;
quase sempre expressa em manuais alinhados ao Código de Ética dos Jornalistas Brasi-
leiros e à Constituição Federal. Na prática, porém, quem decide quais pautas serão en-
tregues aos cidadãos são “os editores-chefe, os proprietários da empresa jornalística ou
o representante político que está no poder, no caso de veículos estatais” (LARA, 2012,
p.38). Para Bucci (2000, p.32), seriam, então, faltas institucionais e não desvios éticos
dos jornalistas.
Contudo, o autor também argumenta que existem possibilidades legais de canais
concedidos publicamente enfrentarem pressões governamentais sofridas contra seu livre
direito à expressão em defesa da democracia. Ele explica que, após a promulgação da
Constituição Federal, as normas que regem as concessões dos canais públicos “depen-
dem do Congresso Nacional, e as possibilidades de uma rede de televisão, ou rádio,
enfrentar legalmente o governo são mediadas pelo Legislativo” (BUCCI, 2000, p.34).
Além disso, as empresas jornalísticas estariam protegidas “nos termos da lei, por auto-
nomia administrativa” (BUCCI, 2008, p.27) para decidir quais as pautas produzidas.
Ainda neste contexto, o autor relembra que tais preceitos são compartilhados por todos
os países democráticos do mundo:

Sobretudo desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, que


estabelece, no art. 19º, o direito à liberdade de opinião e expressão, que inclui
a liberdade de "procurar, receber e transmitir informações e ideias por quais-
quer meios e independentes de fronteiras". Garantido, também no Brasil, pela
Constituição Federal, art. 5°, inciso XIV. (BUCCI, 2000, p.33)

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É nesse direito, fundamental e universal, que deveriam se orientar as relações


das empresas de comunicação com seus profissionais, com o público (abrangendo seus
consumidores, demais cidadãos e veículos jornalísticos) e, sobretudo, com as esferas do
poder. No entanto, Bucci (2008) afirma que tais preceitos éticos se mostram cada vez
mais desgastados. Se amparando outra vez no texto da Constituição Federal, ele aponta
o art. 21º, inciso XII, alínea a, que definem a programação de rádio e televisão como
serviço público nacional. Assim, as empresas jornalísticas ao permitirem a continuidade
de determinadas intervenções estatais em seu editorial, não agem apenas de forma pusi-
lânime, mas agridem aos cidadãos brasileiros, que “têm legitimidade para exigir que
essa exploração [comercial, política ou econômica] não os desrespeitem" (BUCCI,
2000, p.35).
Mas afinal de contas, por que tal estrutura persiste no jornalismo brasileiro, que
vive hoje em Estado Democrático de Direito? Jurandira Gonçalves (2014) argumenta
que, cada vez mais, a profissão se torna dependente de suas fontes para a construção dos
relatos jornalísticos. Sendo assim, pesquisadores em comunicação deveriam se questio-
nar sobre quem fala através do jornalismo. Para a autora, fala apenas “quem é legitima-
do como porta-voz de informações relevantes” (GONÇALVES, 2014, p.92).
A partir dessa premissa, é possível entender sua principal ideia. A defesa da
existência de uma rede noticiosa invariável, consultada reiteradamente por veículos de
comunicação social. Embora tais informações sejam trabalhadas jornalisticamente por
profissionais capacitados, não é deles a realidade expressa nas matérias finais, mas da-
queles grupos e setores consultados, que acabam por ter seus discursos naturalizados
dentro desses media. Nas palavras da autora, esses relatos estão:

Presos a um emaranhado de relações, interesses e valores (...) que refletem a


estrutura social e de poder existente (...). Representando sempre os mesmos
setores, privilegiando visões de mundo atreladas ao contexto no qual o pro-
fissional está inserido (GONÇALVES, 2014, p.94-95).

Desta maneira, os jornalistas seriam, involuntariamente, “direcionados à dificul-


dade de estabelecer uma polifonia enquanto produto constituído nesta realidade” (idem),
pois essa rede é formada de hierarquias em que os primeiros lugares são ocupados por
instituições de poder. Nesta dinâmica, nascida da correria das redações para cumprir

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seus deadlines, a preferência por fontes consideradas estáveis e oficiais seria compreen-
sível, pois além de “seu lugar de fala já legitimado, realizando o papel de escudo do
jornalista (...), é pressuposto que elas sejam mais confiáveis, simplesmente porque não
se podem permitir mentir abertamente” (GONÇALVES, 2014, p.94-96). A autora tam-
bém cita os estudos de Mauro Wolf (2003) que analisa as vantagens trazidas ao jornalis-
ta em trabalhar com fontes institucionais. Em suas palavras, essas “permitem que os
órgãos de informação não tenham de recorrer a demasiadas fontes para obter os dados
ou elementos necessários” (GONÇALVES, 2014, p.96).
Contudo, a falta de recursos, humanos ou financeiros, não parece ser a realidade
do telejornalismo da Rede Globo de Televisão, analisado posteriormente neste artigo, e
é aqui em que se encontra o problema apontado anteriormente por Bucci (2000) e, ago-
ra, por Gonçalves (2014). A autora acredita que a partir do entendimento da dependên-
cia de falas institucionalizadas, tais fontes, nunca de forma passiva, podem usar o jorna-
lismo como lhes for conivente.
Como bem colocado por Jurandira, há uma disputa, “por voz e por direito de
manifestação. A guerra da informação é hoje em grande parte uma guerra de assessori-
as” (GONÇALVES, 2014, p.99). Assim, estaria a prática jornalística do JN assessoran-
do os interesses de determinada instituição? A autora provoca seus leitores com outra
afirmação. “As instituições com melhor estrutura de comunicação e maior poder aquisi-
tivo tendem a ganhar mais espaço e força, e vencer mais batalhas que grupos menos
privilegiados” (GONÇALVES, 2014, p.100). Logo, no caso a seguir, seria possível pre-
sumir que, quanto maior a estrutura e influência dessa instituição, como exemplo a LJ,
maior o veículo utilizado para advogar seus interesses.

3. A decupagem e a análise do Jornal Nacional


O episódio discutido aqui foi transmitido em 12 de junho de 2019 (quarta-feira),
como parte da programação da Rede Globo de Televisão. Hoje, encontra-se disponível,
online e gratuitamente, na plataforma digital de vídeos sob demanda, criada e desenvol-
vida pelo Grupo Globo, a Globoplay (2019). Os episódios do JN normalmente possuem
duração média de 45 minutos. Contudo, por adaptação às transmissões esportivas co-
muns às quartas-feiras, o episódio de 12 de junho contém apenas 31. Dividido em três

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blocos, o telejornal apresenta, ao todo, doze matérias. São notícias e reportagens, narra-
das tanto a partir do discurso direto dos jornalistas e fontes entrevistadas, quanto a partir
do discurso indireto, com o uso do voz-over4 para descrever cenas em tela ou da leitura
de notas oficiais. Em síntese, os blocos são organizados da seguinte forma:
Primeiro bloco – 9’20’’: Abre o telejornal com matérias da editoria Cidade.
“Traficantes e policiais se enfrentam a tiros em duas áreas do Rio de Janeiro”, “Justiça
decreta prisão temporária de Paulo Cupertino Matias, suspeito de matar Rafael Miguel”
e “Número de mortes violentas diminui no Brasil” conferem ao início do programa cer-
to caráter violento. As primeiras exposições terminam com a única matéria sobre Políti-
ca do bloco: “Senadores rejeitam decreto de armas de presidente Bolsonaro”. Após a
previsão do tempo, apresentada por Maria Júlia Coutinho, entram as matérias finais,
ambas sobre Economia. A primeira, e mais extensa de todo o bloco, é “Relator da pro-
posta de Reforma da Previdência deixa estados e municípios de fora”, com 3’05’’, se-
guida pela menor de todas elas, “Vendas no varejo recuam 0,6% em abril”, com 19 se-
gundos.
Segundo bloco – 12’47’’: Contendo apenas duas matérias sobre Política, este
bloco apresenta a produção mais extensa do episódio analisado: “Ataque de hackers à
Operação Lava Jato foi mais amplo do que se sabia” possui 11’23’’ e é o objeto central
desta análise. Na sequência, “Procuradora Monique Cheker recebe advertência do
CNMP” com 1’24’’.
Terceiro bloco – 6’20’’: O menor dos três blocos encerra o JN de 12 de junho
com matérias da editoria Esporte, todas sobre futebol: “Brasil usa uniforme branco em
estréia da Copa América”, com 2’24’’, “Resultados dos primeiros jogos da Copa Mun-
dial Feminina”, 0’38’’, e por fim, “A juventude australiana encontra a experiência brasi-
leira na Copa Mundial”, com 3’18’’.
Finalmente, é possível iniciar o exercício proposto neste artigo. Esta análise pre-
tende observar a construção da matéria “Ataque de hackers à Operação Lava Jato foi
mais amplo do que se sabia” a partir do exposto no Código de Ética dos Jornalistas Bra-
sileiros e da Constituição Federal de 1998.

4 Nomenclatura comum aos estudos da linguagem audiovisual, a “voz-over” é um recurso comum à televisão e, principalmente, ao jornalismo. É caracterizado
pela voz daquele que narra os acontecimentos em tela, sem estar ligado a eles. Muito utilizado em documentários e reportagens.

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Em primeiro lugar, é necessário determinar a sucessão de informações narradas


pelo Jornal. A matéria se inicia com a informação sobre um convite feito ao ministro
Sérgio Moro para que “explique as mensagens atribuídas a ele pelo Intercept”, no dia 26
de junho, na Câmara dos Deputados. A escolha das palavras é interessante, pois a Moro
é dada a oportunidade de tornar compreensíveis as acusações referidas a ele.
Então, são apresentados os incidentes de uma suposta “invasão hacker” envol-
vendo os celulares e perfis do aplicativo Telegram do procurador e integrante do Conse-
lho Nacional do Ministério Público (CNMP), Marcelo Weitsel, e do ex-presidente da
Associação Nacional dos Procuradores da República, José Robalinho Cavalcanti. A
partir de entrevistas e animações em tela, são reconstruídas as mensagens enviadas pelo
suposto hacker se passando por Marcelo Weitsel. Esta primeira parte culmina com o
pedido feito pela procuradora geral da república, Raquel Dodge, à Polícia Federal para
que “unifiquem as investigações sobre ataques cibernéticos a integrantes do Ministério
Público”, entre eles Weitsel e Moro. A declaração relaciona o ocorrido entre os dois
casos, mesmo que o TIB afirme ter recebido as informações “antes da notícia de invasão
ao celular do ministro Moro, na qual afirma que não houve captação de conteúdo” (THE
INTERCEPT, 2019).
Depois, os âncoras afirmam que o “ataque hacker às autoridades ligadas à LJ foi
muito mais amplo do que se supunha”. O JN se utiliza da palavra da lei, conforme des-
crito no art. 154-A do Código Penal, para acusar asseguradamente qualquer informação
obtida por meios ilegais. Em nota, Renata Vasconcellos lê o seguinte trecho da aplica-
ção da lei penal:

Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computa-


dores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim
de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expres-
sa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter
vantagem ilícita: pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa
(GLOBOPLAY, 2019).

Uma escuta desatenta poderia inferir que este é um posicionamento aparente-


mente imparcial, resguardado pelo código penal fundamental da nação brasileira. Po-
rém, a pauta apresentada é construída a partir da presunção de que houve, de fato, um
“ataque hacker” às autoridades mencionadas. Presunção, sim, pois até então, o único

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aspecto conhecido sobre a origem de tais informações é sua natureza anônima, como
explicam os jornalistas do TIB na primeira reportagem da série: “Como e por que o In-
tercept está publicando chats privados sobre a Lava Jato e Sergio Moro” (THE INTER-
CEPT, 2019). Válido lembrar que este é um posicionamento legal e amparado pelo có-
digo de ética da profissão, que garante em seu artigo 5º o “direito do jornalista resguar-
dar o sigilo da fonte”. Adiante, a matéria elenca os nomes das autoridades que, supos-
tamente, tiveram os dispositivos celulares invadidos. Além dos nomes de Sérgio Moro e
de Deltan Dallagnol, são ditos outros doze, entre juízes, procuradores, políticos e um
jornalista, do jornal O Globo.
Durante um minuto, o JN decompõe todas as primeiras reportagens divulgadas
pelo Intercept. “Os diálogos indicariam que o então juiz Sérgio Moro orientou ações dos
procuradores” (...) “Moro teria reclamado do tempo entre as operações” e “Moro passou
para Dallagnol pistas de uma suposta transferência de propriedade para um dos filhos de
Lula” são as informações mencionadas pelos apresentadores. Ainda dentro desse um
minuto, é apontado que “um juiz não pode aconselhar o Ministério Público, nem direci-
onar seu trabalho, deve apenas se manifestar nos autos dos processos” (GLOBOPLAY,
2019).
A transgressão aos princípios fundamentais da lei, atribuídas ao então juiz Sér-
gio Moro e demais procuradores da LJ, pode ser identificada em alguns trechos do texto
da Constituição Federal (PLANALTO, 2019), que versam sobre o comportamento de
juízes em um processo de acusação e defesa. Não de forma expressa, mas interpretativa.
Constam no artigo 5º, nos incisos XXXV5, XXXVI6, XXXVII7, LIV8, LV9 e LVII10, os
princípios utilizados com o fim de interpretar os dispositivos legais, norteando as ativi-
dades do juiz e protegendo os referidos réus da ação institucional do Estado. São as ga-
rantias do devido processo legal a, e principalmente, presunção de inocência, a seguri-
dade de contraditório e a ampla defesa.

5 Art. 5º – XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
6 Art. 5º – XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
7 Art. 5º – XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção.
8 Art. 5º – LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.
9 Art. 5º – LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes.
10 Art. 5º – LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

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As informações acima poderiam ter sido explicadas ao telespectador, mas foram


omitidas em uma produção pautada, exclusivamente, pela fala institucionalizada das
fontes consultadas. O discurso jornalístico, referindo-se sempre à ilegalidade de um
suposto hackeamento, atribui à matéria sentido de urgência em debater questões relaci-
onadas à invasão de privacidade e segurança pública, já que as aparentes vítimas são de
natureza de entidade do Poder Público. Tal posicionamento infringe o Código de Ética
dos Jornalistas Brasileiros (FEDERAÇÃO, 2019) em dois momentos. A priori, no ex-
posto dentro do art. 14º, inciso III, das relações profissionais, em que é vedado ao jorna-
lista “praticar assédio moral contra outro profissional”. E, substancialmente, quanto ao
referido no inciso I, do art. 12º, sobre as obrigações do exercício da profissão, que:

Ressalvadas as especificidades da assessoria de imprensa, ouvir sempre, antes


da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas
em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são objeto de acu-
sações não suficientemente demonstradas ou verificadas (FEDERAÇÃO,
2019).

Em onze minutos e vinte e três segundos, pouco mais de um terço da duração to-
tal do programa, não há o posicionamento dos jornalistas responsáveis pela publicação
das reportagens que indiciam Moro como maquinador de estratégias políticas ilegais,
encobertas ao longo do conjunto de investigações estruturadas pela Polícia Federal. O
portal TIB é mencionado apenas como o responsável pela divulgação do suposto conte-
údo hackeado. Esse recorte deslegitima o trabalho dos jornalistas, pois, se verdadeira, a
ação adotada pelo site também desrespeitaria, por sua vez, o art. 11º, inciso III, que
condena a “divulgação de informações obtidas de maneira inadequada”. Concomitante-
mente, não é citado se o portal se negou a fornecer informações, o que reforça a ideia de
que não foi consultado.
Além desses, a reportagem do JN viola, também, o 2º artigo do supracitado Có-
digo que dispõe sobre o papel dos jornalistas ao “acesso à informação de relevante inte-
resse público como direito fundamental” (FEDERAÇÃO, 2019) dos cidadãos brasilei-
ros. Conteúdos noticiosos que devem estar insubordinados aos interesses de poder eco-

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nômico, político, estatal ou comercial11. Aqui, o caso analisado não se pauta apenas pela
“preferência às fontes estáveis, oficiais e autorizadas” (GONÇALVES, 2014, p.94), pois
são essas as apontadas como responsáveis por ações ilegais.
Voltando à análise, a reportagem entrevista o relator da LJ no Supremo Tribunal
Federal, o ministro Edson Fachin, que aponta as mensagens divulgadas no domingo
anterior como “circunstâncias conjunturais” que não afetariam o andamento da Opera-
ção. Em mesmo sentido, o JN cita uma publicação do ministro Sérgio Moro, feita na-
quela quarta-feira, em uma de suas redes sociais: “Hackers de juízes, procuradores, jor-
nalistas e talvez parlamentares, bem como escândalos falsos, não vão interferir na mis-
são”.
Seguidamente, por intermédio do discurso indireto, é apresentada a posição da
força tarefa da LJ em Curitiba, que diz em nota sobre “(...) a possibilidade de hackers
fabricarem diálogos usando perfis de autoridades”. Os procuradores afirmam, também,
que “agravada por esse contexto de sequestro de contas virtuais, torna-se impossível
aferir se houve edições, alterações, acréscimos ou supressões no material alegadamente
obtido”. Ainda segundo a nota, “o ataque em grande escala, em plena continuidade, (...)
revela uma ação hostil, complexa e ordenada, típica de organização criminosa, agindo
contra as instituições da República. É necessário não apenas identificar e responsabilizar
o hacker, mas também os mandantes e aqueles que objetivam se beneficiar desses cri-
mes a partir de uma ação orquestrada contra a operação LJ” (GLOBOPLAY, 2019).
Aqui, o JN enfatiza a possibilidade da existência de uma força organizada – e até então
desconhecida – que pretende obstruir as investigações da LJ. Ademais, cria também a
oposição problemática do nós versus eles, em que haveria, de um lado, o apartidário
ministro Sérgio Moro, a Lava Jato e uma determinada luta contra a corrupção – posição
que banaliza toda a denúncia de ilegalidades que, aparentemente, foram e são cometidas
dentro da Operação. E do outro lado, uma organização criminosa, que age de maneiras
obscuras e que, supostamente, tem o Intercept Brasil como porta-voz.
Ao final da reportagem, o JN adota uma animação para explicar visualmente ao
telespectador como a “invasão hacker” poderia ter acontecido. Entre as “diversas possi-

11 Essa concepção também está presente no texto de Eugênio Bucci (2000, p.35). Aqui, ela aparece de forma sintetizada a partir das discussões do autor sobre o
direito à comunicação.

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bilidades”, existiria uma considerada a mais provável pela equipe de apuração. O aplica-
tivo Telegram deixaria mais vulneráveis às invasões aqueles usuários que não fizeram a
dupla validação de suas contas, informação que não foi confirmada com nenhuma das
partes supostamente atingidas. Finalmente, o JN apresenta uma declaração oficial do
aplicativo Telegram, que afirma ter sido alvo “de um poderoso ataque cibernético (...)
mas que a situação parece estar estabilizada” (GLOBOPLAY, 2019). A declaração é em
alguma medida desconexa à discussão da matéria, pois o “ataque” a que se refere o Te-
legram havia acontecido em 12 de junho, naquela quarta-feira, logo, não haveria rela-
ções entre a alegada invasão com as mensagens publicadas pelo The Intercept Brasil.
Isso, contudo, não é explicado pelos apresentadores.

4. Considerações Finais

Em 10 de junho de 2019, dois dias antes da veiculação da edição analisada do


JN, o portal de notícias online G1, também do Grupo Globo, cobriu a participação do
ministro Sérgio Moro na reunião do Conselho Nacional dos Secretários de Estado da
Justiça, Cidadania, Direitos Humanos e Administração Penitenciária (Consej), em Ma-
naus. Um dia após as primeiras reportagens do caso Vaza Jato, o ministro Sérgio Moro
declarou:

O que há ali [nas reportagens do The Intercept Brasil] é uma invasão


criminosa de celulares de procuradores, não é? Pra mim, isso é um fa-
to bastante grave – ter havido essa invasão e divulgação. E, quanto ao
conteúdo, no que diz respeito à minha pessoa, não vi nada demais
(...). Não tem nenhuma orientação, ali, naquelas mensagens. Eu nem
posso dizer que são autênticas, porque, veja, são coisas que acontece-
ram, se aconteceram, há anos atrás (G1 AM, 2019).

É possível observar certas semelhanças entre o discurso proferido e a narrativa


adotada pelo JN para a cobertura dos acontecimentos que antecederam ao objeto anali-
sado: a afirmação de uma invasão hacker e a banalização da postura dos integrantes da
Lava Jato, responsáveis pelos processos em julgamento na 13ª Vara da Justiça Federal,
em Curitiba. Deste modo, ao fundamentar exclusivamente sua narrativa nas declarações

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de Moro e de integrantes da LJ, o JN oferece ao cidadão um arremedo de comunicação


propagandística favorável às suas ações, travestidas de conteúdo imparcial.
Enquanto líder em audiência do Brasil, o JN teria fôlego para empreender um
processo de apuração das informações publicadas pelo TIB. Todavia, ao se abster deste
procedimento ético, mantém-se um determinado modelo de produção jornalística hege-
mônico, quando deveria assegurar o direito à livre veiculação de informações e ideias,
sem omissão ou embaraço e por quaisquer meios, como garantido pela Constituição
Federal e pelo Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.
Por fim, é correto dizer que a falta de personagens e discursos essenciais para a
informação que ofereça a exposição igualmente dividida em tempo, declarações e análi-
ses de fontes especialistas sobre os desdobramentos legais, tanto da possibilidade do
“ataque hacker”, quanto da alegada conduta antiética e inconstitucional dos integrantes
da Operação Lava Jato, é prejudicial ao caráter social do jornalismo, pautado, princi-
palmente, nos princípios de liberdade de expressão e de imprensa e o direito fundamen-
tal à informação, independente de interesses estatais ou comerciais, de caráter público.

Referências

BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

BUCCI, Eugênio. Em Brasília, 19 horas: a guerra entre a chapa-branca e o direito à


informação no primeiro governo Lula. Rio de Janeiro: Record, 2008.

CÂMARA dos Deputados. Termo de procedimentos para audiência pública com Glenn
Greenwald. Disponível em <https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes /
comissoes-permanentes/cdhm/noticias/termo-de-procedimentos-para-audiencia-publica-com-
glenn-greenwald> Acesso em: 25 jul. de 2019.

FEDERAÇÃO Nacional dos Jornalistas. Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.


Disponível em <https://fenaj.org.br/wp-content/uploads/2014/06/04-codigo_de_etica_dos_
jornalistas_brasileiros.pdf> Acesso em: 4 jul. 2019.

G1 AMAZONAS. “Não tem nenhuma orientação ali naquelas mensagens”, diz Moro.
Disponível em <https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2019/06/10/nao-tem-nenhuma-
orientacao-ali-naquelas-mensagens-diz-moro.ghtml> Acesso em: 30 jul. 2019.

GLOBOPLAY. Jornal Nacional, Íntegra 12/06/2019. Disponível em <https://globoplay.glob


o.com/v/7688809/programa/> Acesso em: 3 jul. 2019.

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GONÇALVES, Jurandira. Quem fala no Jornalismo? In: ANTUNES, Elton; LEAL, Bruno;
VAZ, Paulo (orgs). Para entender o Jornalismo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
Cap. XII, p.89-101.

LARA, Eliziane. Quem faz agenda? In: ANTUNES, Elton; LEAL, Bruno; VAZ, Paulo (orgs).
Para entender o Jornalismo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014. Cap. II, p.29-40.

PLANALTO. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em: 6 jul. 2019.

PLANALTO. Código Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-


lei/del2848compilado.htm> Acesso em: 6 jul. 2019.

PLANALTO. Código de Processo Civil. Disponível em <http://www.planalto.


gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm> Acesso em: 30 jul. 2019.

THE INTERCEPT BRASIL. Como E Por Que O Intercept Está Publicando Chats Privados
Sobre A Lava Jato E Sérgio Moro? Disponível em <https://theintercep
t.com/2019/06/09/editorial-chats-telegram-lava-jato-moro/. Acesso em 19 jul 2019.

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