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Entenda os conflitos entre polícia e muçulmanos

na China
da Folha Online

Um protesto da minoria étnica muçulmana uigur no oeste da China deixou ao


menos 140 mortos e 828 feridos desde o começo deste domingo. A agência de
notícias Xinhua informa que entre 1.000 e 3.000 manifestantes saíram às ruas para
protestar contra a morte dos dois uigures na semana passada.

O protesto começou pacificamente neste domingo (5), na cidade de Urumqi (3.270


km de Pequim), capital da região autônoma de Xinjiang, contra a morte de dois
uigures em uma fábrica de brinquedos do sul do país, após eles terem sido
linchados. Os uigures criticavam a discriminação por parte da etnia han, dominante
no país.

A manifestação rapidamente se tornou um ato de vandalismo na cidade. Redes de


TV chinesas mostram os manifestantes quebrando lojas e queimando carros da
cidade. Wu Nong, diretor do departamento de imprensa do governo local, informou
que 260 veículos foram atacados e 203 casas ou lojas ficaram destruídas. A polícia
divulgou nesta segunda-feira que ao menos dez pessoas foram presas acusadas de
incitar os protestos. Foi decretado toque de recolher na região e "agora a situação
está sob controle", informou nota da polícia.

Minoria

Os uigures são uma minoria predominantemente muçulmana. Muitos reclamam que


estão sendo marginalizados econômica e politicamente em suas próprias terras,
que possui ricas reservas de gás natural e minerais. Há entre 15 milhões e 20
milhões de islâmicos na China, quase a metade em Xinjiang. Os chineses da etnia
han formam cerca 91,5% da população do país.

A etnia uigir está sob controle chinês desde 1955, quando foi fundada região
autônoma de Xinjiang. Desde então são relatados choques entre os islâmicos e o
governo, movimentos armados pró-independência, ataques terroristas e mortes de
civis na área.

Os confrontos com a polícia vieram após protestos sobre a forma como a polícia
lidou com os conflitos entre a maioria han chinesa e os uigures em uma fábrica no
sul da China, onde dois uigures morreram.

Contudo, a principal causa por trás da manifestação foram provavelmente os


conflitos religiosos, econômicos e culturais que se construíram em décadas de
rígido controle central e que periodicamente eclodem em violência --embora nunca
tenham chegado a uma escala violenta como a vista neste domingo.

Separatistas

O governo chinês diz que o levante de domingo foi incentivado por grupos
separatistas exilados que subverteram a ordem na região. "Depois do incidente [na
fábrica], as forças externas acharam um motivo para nos atacar, incitando estes
protestos de rua", afirmou Nuer Baikeli, governador de Xinjiang.
Mais protestos

É improvável que haja mais protestos em Urumqi já que as forças de segurança já


assumiram o controle da cidade e estabeleceram forte presença nas ruas.

Analistas afirmam, contudo, que pode haver incidentes isolados em outras cidades,
particularmente naquelas onde há maioria uigur.

O governo chinês, contudo, deve intervir energicamente na região, com intervenção


do Exército e prisões em massa, para impedir que novos protestos sejam
realizados. As medidas são semelhantes às tomadas logo após os protestos no
Tibete em março de 2008, quando um conflito étnico parecido ocorreu.

Na ocasião a polícia chinesa deteve 1.317 pessoas, das quais 1.115 foram
libertadas depois, enquanto as outras foram julgadas. Os tibetanos no exílio dizem
que a repressão das forças de segurança chinesas após os protestos deixou mais de
200 mortos.

Mudanças

Parece impossível que Pequim consiga ignorar um episódio de violência étnica como
o deste domingo. Mas os protestos, que ocorrem três meses antes do aniversário
de fundação da Republica Popular da China, devem dar tantos argumentos aos
chineses linha-dura que defendem maior controle do governo quanto aos que
defendem maior reconciliação.

Qualquer mudança deve acontecer ainda dentro dos bastidores da fechada política
chinesa que defende o nacionalismo como uma ideologia unificadora e que favorece
um rosto único e forte para ser mostrado ao mundo.

Chineses das etnias rivais vão às ruas após


confronto que matou 156.
da Folha Online

Grupos das etnias han, majoritária, e uiguir, minoritária, voltaram às ruas nesta
terça-feira em grandes protestos marcados por violência em Urumqi, capital da
Província Xinjiang (noroeste da China), dois dias depois da cidade ser palco de um
confronto entre manifestantes uigures e a polícia que deixou 156 mortos e mais de
mil feridos, segundo números oficiais.

O temor de mais violência e mortes levou o governo local a decretar toque de


recolher válido das 21h às 8h na região.

A etnia uiguir está sob controle chinês desde 1955, quando foi fundada região
autônoma de Xinjiang. Desde então são relatados choques entre os islâmicos e o
governo, movimentos armados pró-independência, ataques terroristas e mortes de
civis na área. Nada, contudo, como a violência que se viu nos últimos dias,
classificada pelo governo como os piores distúrbios desde 1949.
Membros da etnia muçulmana uiguir, que são minoria na China, mas representam a
maior parte da população da capital de Xinjiang, atacaram pessoas perto da
estação de trem de Urumqi.

Em outra parte da cidade, mulheres com lenços na cabeça também foram às ruas
protestar contra a prisão de seus filhos e maridos. Segundo go governo chinês,
mais de 1.400 pessoas foram presas pelos protestos, pelos quais Pequim culpa
separatistas exilados.

Também nesta terça-feira, um grupo de cerca de mil jovens da etnia han levavam
pedaços de pau na mão e gritavam "Defenda o país" pelas ruas em um protesto
que visava a vizinhança uiguir da capital regional. A agência France Presse fala em
cerca de 10 mil manifestantes da etnia han com armas improvisadas --como
pedaços de pau, correntes e facas.

A polícia, contudo, bloqueou o acesso para a área da cidade onde vivem os uigures
muçulmanos e lançaram gás lacrimogêneo para conter os manifestantes.

"Os uigures vieram a nossa região para quebrar coisas e agora nós vamos atacá-
los", afirmou à France Presse um dos manifestantes da etnia han.

Mesquita

Segundo a agência Efe, um grupo de chineses da etnia han tentou entrar à força na
mesquita de Hantengri, no centro de Urumqi, a fim de atacar uigures refugiados no
local.

A mesquita, próxima ao hotel onde estão hospedados os jornalistas estrangeiros


que cobrem o conflito, estava isolada pelos soldados, mas alguns chineses han,
armados com paus, tentaram entrar várias vezes no templo, sem sucesso, por
enquanto.

Alguns deles disseram à agência Efe que não há outra saída que fazer justiça com
as próprias mãos, já que "o governo não pode fazer nada contra os uigures, por
medo da comunidade internacional".

Segundo eles, os uigures atacaram comércios dos han em dias anteriores e não são
oriundos da cidade, mas procedentes de outras zonas da região de Xinjiang, como
Kashgar e Yili, que, em anos anteriores, também registraram incidentes violentos.

À margem destes grupos, a cidade está tranquila, sem automóveis pelas ruas,
enquanto praticamente todos os uigures estão trancados em casa, por medo de
represálias.

Protestos

O secretário do Partido Comunista da China (PCCh) na região de Xinjiang, Wang


Lequan, informou em discurso televisionado sobre a medida, que proibirá os
cidadãos de sair às ruas das 21h às 8h, para, como disse, "evitar um aumento do
caos" na cidade que tem 2 milhões de habitantes.

Leguan pediu calma às duas comunidades em conflito, os hans, etnia majoritária na


China, e os uigures, principal comunidade muçulmana em Xinjiang.
No domingo passado (5), a repressão dos protestos de uigures resultou na morte
de 156 pessoas e deixou mil feridos, segundo dados oficiais. O protesto começou
pacificamente com um grupo de entre 1.000 e 3.000 manifestantes da minoria
muçulmana uiguir em Urumqi. Os manifestantes criticavam a morte de dois uigures
em uma fábrica de brinquedos do sul do país, após eles terem sido linchados, e a
discriminação por parte da etnia han.

A manifestação, contudo, rapidamente se tornou um confronto de civis contra


policiais e militares, que deixou ainda 828 feridos na Província --o pior confronto do
tipo em anos no país.

O governo deu poucas explicações sobre a violência dos confrontos e não citou
quem são as 156 vítimas dos distúrbios. Eles acusam uma empresária uiguir, uma
das líderes do movimento separatista da região, de incitar os distúrbios com
ligações telefônicas e propaganda em sites.

Veja cronologia dos conflitos com uigures no


oeste da China
da Efe

O governo chinês culpou exilados separatistas pelos confrontos entre manifestantes


muçulmanos e a polícia que deixaram ao menos 140 mortos na capital da Província
de Xinjiang, no noroeste da China, segundo dados oficiais.

O protesto começou pacificamente neste domingo (5). Os manifestantes criticavam


a morte de dois uigures em uma fábrica de brinquedos do sul do país, após eles
terem sido linchados. Os uigures criticavam ainda discriminação por parte da etnia
han, dominante no país. A manifestação rapidamente se tornou um confronto de
civis contra policiais e militares, que deixou 828 feridos na Província de maioria
muçulmana.

Veja cronologia dos conflitos com uigures na Província de Xinjiang

1933-1934

Depois de uma grande rebelião dos uigures, se estabelece a República do


Turquestão Oriental. a China recuperou o controle da região no ano seguinte, com a
ajuda da União Soviética.

1944

12 de novembro: Depois de uma nova rebelião, desta vez com a ajuda da União
Soviética, é fundada a Segunda República do Turquestão Oriental, de caráter
soviético e similar a outras repúblicas criadas nos arredores da Ásia Central.

1949
*Agosto*Cinco importantes líderes políticos da república morrem em um misterioso
acidente de avião, quando viajavam, em agosto deste ano, para se reunir com os
líderes comunistas chineses.

Dois meses depois, a república é abolida com a entrada do Exército de Liberação


Popular, do recém-formado regime comunista chinês.

1954

Dezembro: a primeira rebelião uiguir contra o domínio comunista, em Khotan (sul


de Xinjiang)

1955

1º de outubro: China funda a Região Autônoma Uiguir de Xinjiang, como


subdivisão administrativa da República Popular

1962

A política econômica do Grande Salto Adiante causa grandes protestos em Xinjiang,


o que provoca a fuga de 60 mil refugiados uigures rumo à União Soviética.

1980

Abril: Enfrentamentos entre uigures e chineses em Aksu (oeste de Xinjiang)

1990

5 de abril: Mais de 50 pessoas morrem nas rebeliões na localidade de Baren


quando ressurge o movimento separatista uiguir --motivado pela independência
das repúblicas soviéticas da Ásia Central

1997

3 de fevereiro: Grupos uigures pedem a independência de Xinjiang na localidade


de Gulja, norte da região. Os enfrentamentos entre polícia e manifestantes
resultam em nove mortos, segundo o governo chinês. Analistas uigures afirmam,
contudo, que as vítimas as passam de cem.

25 de fevereiro: Nove pessoas morrem em três ataques com explosivos contra


ônibus em Urumqi, em uma ação que, segundo o governo chinês, é em represália
aos protestos de Gulja (Yining).

2003

27 de agosto: China consegue que o governo dos EUA inclua em sua lista de
grupos terroristas o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental, um dos principais
movimentos de independência uiguir.

2 de outubro: O líder do movimento, Hasan Mashum, morre em um tiroteio no


oeste de Xinjiang

2005
14 de março: A principal voz do movimento separatista uiguir, a empresária
Rabiya Kadeer, sai da prisão depois de seis anos e ruma ao exílio nos EUA.

2007

5 de janeiro

Uma ofensiva da polícia chinesa no oeste de Xinjiang, perto da fronteira com o


Afeganistão, deixa 18 terroristas e um polícia chinês mortos, além de 17 suspeitos
presos.

2008

27 de janeiro: Uma operação policial em Urumqi termina com a prisão de 15


suspeitos e a morte de outros dois. Segundo o governo chinês, o grupo preparava
sabotagens durante os Jogos Olímpicos de Pequim.

7 de março: Uma mulher uiguir de 19 anos é detida durante um voo da Southern


Airlines entre Urumqi e Pequim, acusada de planejar um ataque terrorista

4 de agosto: Quatro dias antes dos Jogos Olímpicos, duas pessoas atacam com
explosivos e outros armamentos uma instalação da polícia na cidade turística de
Kashgar, no extremo ocidental de Xinjiang. O ataque deixa 17 mortos. Pequim
acusa grupos terroristas e separatistas.

10 de agosto: Várias explosões provocadas em supermercados, edifícios do


governo e hot[eis de Kuqa, também em Xinjiang, deixam um morto e dois feridos.
Dez supostos terroristas morrem, oito por disparos da polícia e dois se suicidam.

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