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I S H N : «.1-1.5-03145-0
1 — CRISTIANISMO E FILOSOFIA 17
Introdução 17
O encontro do c r i s t i a n i s m o c o m a filosofia 17
A esperança escatológica e o confront o c o m
as c u l t u r a s 20
O c r i s t i a n i s m o c o m o v e r d a d e i r a filosofia 26
A dissociação entre o domínio do teológico
e do filosófico 28
A m o d e r n i d a d e e a distinção entre filosofia
e teologia 31
O teológico n a filosofia contemporânea 35
Introdução 39
A existência d a R e a l i d a d e p r i m e i r a (cf. S u m a de
teologia I , q. 2 ) 41
— A existência de Deus impõe-se imediatamente
à inteligência h u m a n a ? 41
— É possível demonstrar a existência de Deus? ... 4 3
— As cinco vias p a r a demonstrar a existência
de Deus 45
Ii;msccndência e imanência (cf. Suma de teologia I , Anexo F É E RAZÃO: UMA QUESTÃO A T U A L ? 111
Introdução 101
A encíclica Fides et ratio e a mesa-redonda de 1999 104
A c i r c u l a r i d a d e entre fé e razão 106
E s t e livro pretende i n t r o d u z i r o leitor n o estudo do
t e m a d a s relações e n t r e fé e razão s o b u m ângulo b e m
preciso: o do encontro entre a filosofia e o c r i s t i a n i s m o .
11
Fé e razão: uma questão atual? Apresentação
12 13
I'é e razão: uma questão atual? Apresentação
14 15
/'(.'' e razão: uma questão atual?
A g r a d e c e m o s à p r o P . d r a . M a r i l e n a C h a u i e a o p r o f . dr.
F r a n c i s c o Catão p e l a g e n t i l e z a d e a u t o r i z a r e m a publicação
do texto de s e u debate.
Introdução
E s t e capítulo v i s a i n t r o d u z i r o leito r n a a b o r d a g e m do
t e m a d a s relações entre c r i s t i a n i s m o e filosofia, o u , se se q u i -
ser, entre teologia e filosofia, o u , a i n d a , entre fé e razão, a c o m -
p a n h a n d o , n a história do p e n s a m e n t o , os m o m e n t o s mais
decisivos p a r a a determinação dessas relações. Tomar-se-á, e m
m e i o a esse itinerário, Tomás de A q u i n o c o m o e x e m p l o de
p e n s a d o r cristão, p r o c u r a n d o - s e apontar, sob u m a p e r s p e c t i v a
histórica, p a r a a o r i g i n a l i d a d e do s e u p e n s a m e n t o .
Buscar-se-á, n u m p r i m e i r o momento, investigar c o m o se
deu, n a s origens d a E r a Cristã, o encontro entre o c r i s t i a n i s m o
e a filosofia, além d a m a n e i r a c o m o a tradição cristã m a i s a u -
têntica desenvolveu os efeitos desse encontro p r i m e i r o . E m se-
guida, procurar-se-á m o s t r a r c o m o se estabeleceu, aos poucos, a
dissociação entre o domínio do filosófico e do teológico, c o m
suas conseqiiências p a r a a modernidade e a contemporaneidade.
P a r a v i s l u m b r a r c o m m a i s p r o p r i e d a d e o e n c o n t r o do
c r i s t i a n i s m o c o m a filosofia, é necessário l e m b r a r que o c r i s t i a -
16 17
1'
18 19
Fé e razão: uma questão atual? Cristianismo e filosofia
tiiiiildgid iiicssiânica, pois a p a l a v r a analogia refere-se à seme- evangelhos, atos, escritos apocalípticos e t c ) , de sorte que o
lhança/dessemelhança entre o que e v o c a m os textos d a Bíblia intérprete, agora, deve c o m e n t a r também a s E s c r i t u r a s cristãs,
(prolecia s consignadas, figuras evocadas, eventos n a r r a d o s etc.) além de e n c o n t r a r nelas explicações canónicas p a r a as E s c r i -
e o d u p lo e único mistério de J e s u s e d a Igreja, e n q u a n t o o turas j u d a i c a s . Além disso, a d e m o r a n a realização d a
adjetivo messiânica refere-se à e c o n o m i a específica do tempo, escalologia levo u a estender-se o espaço d a missão, visto que
duração subjacente à a n a l o g i a e d e t e r m i n a d a p e l a liberdad e passou a h a v e r t e m p o p a r a isso, de m a n e i r a que o anúncio de
de D e u s e dos h o m e n s . C o m efeito, a teologia cristã c o n s i s t i a J e s u s C r i s t o l e v o u a u m confronto c o m o u t r a s c u l t u r a s , que
e m r e m e m o r a r o dado bíblico, m o s t r a n d o - o r e a l i z a d o e m J e - íinham e m s e u favor o t e m p o e os m e i o s p a r a r e s i s t i r ao tes-
sus de Nazaré dentro do desígnio d a salvação, o que a c a b a p o r t e m u n h o . É nesse contexto que se dá o e n c o n t r o do c r i s t i a n i s -
c a r a c t e r i z a r a " a n a l o g i a cristã", segundo a q u a l o m o d e l o sur- m o e d a filosofia: a filosofia exigirá do d i s c u r s o cristão u m
ge n o f i n a l e c o r o a o tempo. E s s e m o d e l o não é dado n u m sério esforço p a r a g a r a n t i r s u a coerência e inteligibilidade.
princípio mítico o u i m e m o r i a l , n e m d o m i n a o tempo, m a s s i m N o s textos de P a u l o já se o b s e r v a esse c o n f r o n t o . P a r a o
no f i m , c o n c r e t a m e n t e e m J e s u s de Nazaré, que r e v e l a a f o r m a apóstolo, d i a n t e d a autodefinição d a f i l o s o f i a c o m o b u s c a d a
r e a l p r e s s e n t i d a p e l a E s c r i t u r a e esclarece o sentido do evento s a b e d o r i a , a autocompreensão do c r i s t i a n i s m o se a p r e s e n t a
passado. A s s i m , p o r exemplo, a S a b e d o r i a que b r i n c a n a pre- sob o s i g no de u m a " l o u c u r a " , u m a l o u c u r a d i v i n a , a l o u c u r a
sença de D e u s ( P r 8,30), que a s s u s t a p o r não s a b e r m o s onde d a c r u z (cf. I C o r 1,21-25), e, p o r i s s o, e m t a l c o n f r o n t o, se
encontrá-la (Jó 2 8 ) , o u que r e c o n h e c e m o s n o l i v r o d a L e i ( B r o b s e r v a u m a desqualificação d a s a b e d o r i a grega, de m o d o
4,1), faz-se c a r n e e m J e s u s C r i s t o ( J o 1,14) e j u s t i f i c a - s e p o r que o logos cristão p a s s a a m o s t r a r - s e contraditório c o m a
s u a s o b r a s ( M t 11,19). "A p a r t i r do princípio d a a n a l o g i a r a c i o n a l i d a d e pagã (cf. I C o r 3,18-20). O que i n t e r e s s a a P a u -
messiânica, q u a l q u e r texto d a E s c r i t u r a não só pode c o m o lo, e n t r e t a n t o , é a n u n c i a r o c r u c i f i c a d o , p o i s é e s t a a c a u s a
deve ser i n v o c a d o p a r a d i z e r o c a m i n h o cristão, e m s e u a u t o r de D e u s (cf. I C o r 1,17-19). P o r o u t r o lado, ele também m o s -
e e m seus fiéis, e fornecer os princípios de diálogo o u contro- t r a p o s s u i r certo c o n h e c i m e n t o d a filosofi a p o p u l a r helenís-
vérsia c o m os outros c a m i n h o s , j u d e u e grego"^. t i c a , p o i s , e m C o l o s s e n s e s 2,8, p r e v i n e a o s destinatários de
s u a c a r t a que não se d e i x e m c o r r o m p e r p e l a " f i l o s o f i a " , que
estava ligada aos elementos do m u n d o , o u seja, às forças
A esperança escatológica e o confronto c o m as culturas
mitológicas e demoníacas, c o m u n s ao p e n s a m e n t o pagão.
A v o l t a de J e s u s C r i s t o , a P a r u s i a , esteve presente n o Além d i s s o , e m A t o s 17,16-34, e n c o n t r a - se a c o n h e c i d a c e n a
h o r i z o n t e d a prática e do p e n s a m e n t o cristãos, d u r a n t e vários de P a u l o e m A t e n a s , d i a n t e de p e n s a d o r e s e p i c u r i s t a s e estói-
séculos, c o m o dado p r i m o r d i a l d a fé. N o entanto, a d e m o r a cos, q u a n d o ele a p r e s e n t a , e ao m e s m o t e m p o defende, a fé
e m realizar-se p r o v o c o u u m a mudança n o r e c o n h e c i m e n t o do cristã. O r a , o caráter d a relação i n i c i a l e s t a b e l e c i d a entre
conjunto d a s E s c r i t u r a s , l e v a n d o os cristãos a acrescentar-lhe c r i s t i a n i s m o e filosofia é m a r c a d o por u m antagonismo apa-
u m conjunto de escritos p r o d u z i d o s no p r i m e i r o século p a r a r e n t e m e n t e insolúvel, p o i s , c o m o já d i s s e m o s a c i m a , o c r i s -
expor c defender a fé n a s c o m u n i d a d e s ( c a r t a s de apóstolos. t i a n i s m o se a p r e s e n t a c o m o u m c a m i n h o de salvação, u m a
religião, e a filosofia, u m e m p r e e n d i m e n t o h u m a n o , r a c i o n a l ,
6. Ibid., 13. sem n e n h u m apoio transcendente.
20 21
Fé e razão: uma questão atual? Cristianismo e filosofia
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Fé e razão: uma questão atual? Cristianismo e filosofia
t.iin até hoje. D e qualquer modo, p a r a o t o m i s m o (que não r e - lãos manteve-se e m c o n t i n u i d a d e c o m a tradição a n t i g a m a i s
p n s e i i t a , necessariamente, a s posições teóricas de Tomás de autêntica. A p e n a s p a r a m e n c i o n a r algun s d o s m a i s c o n h e c i -
Ai|iiino), o estudo d a filosofia é o estudo desses tratados. O s dos, poder-se-ia f a l a r de K i e r k e g a a r d , S c h l e i e r m a c h e r , H u s s e r l ,
medievais, ao contrário, e s t u d a v a m textos^^, notadament e os lí,dith S t e i n , H e n r i B e r g s o n , M a u r i c e B l o n d e l e t c .
lextos de Aristóteles traduzidos inicialmente p o r Boécio, além
dos textos do próprio Boécio. N o que se refere à "teologia", l i a -
O teológico n a filosofia contemporânea
se, evidentemente, a E s c r i t u r a , m a s também os P a d r e s d a Igreja,
notadamente o Pseudo-Dionísio, Agostinho e Boécio^". A meto- M a s o p e n s a m e n t o m o d e r n o apresenta, c u r i o s a m e n t e , u m
dologia dos medievais, portanto, não c o n s i s t i a e m d i s c u t i r "te- paradoxo, o de n e m s e m p r e p r o p o r u m d i s c u r s o típico de u m a
ses", m a s e m a r t i c u l a r as questões que se f a z i a m presentes n o s ciência i n t e i r a m e n t e l i v r e de q u a l q u e r tutela teológica, e a r r o -
textos o u que v i n h a m à tona p o r d g u m interesse d o momento. gar-se, ele próprio, m u i t a s vezes, ambições teóricas m a i s c l a -
O r a , n o q u e se refere à relação entre a filosofia tomista, r a m e n t e teológicas do q u e filosóficas. I s s o r e s u l t a , d u r a n t e a
o u a filosofia d i t a "aristotélico-tomista", e a s o u t r a s filosofias, c o n t e m p o r a n e i d a d e , n u m a n o v a topologia do s a b e r m a r c a d a
vale d i z e r que, e x a t a m e n t e p o r a p r e s e n t a r e m u m d i s c u r s o "se - por d u a s características f u n d a m e n t a i s : u m a p a g a m e n t o gene-
p a r a d o " , e, portanto, p o r não s e r e m o q u e u m a filosofia "de- r a l i z a d o d o teológico e m situação e x c l u s i v a m e n t e acadêmico-
v e r i a s e r " , a s " o u t r a s filosofias " serão v i s t a s a priori como eclesiástica e a e n t r a d a episódica, n a filosofia, de questões que
suspeitas p e l a filosofia o f i c i a l . Porém, a i n d a a s s i m , t u d o o que e x i g i r i a m u m t r a t a m e n t o e x c l u s i v a m e n t e teológico^^. A s s i m ,
parecesse útil à expressão d a fé c o n t i n u a v a a s e r t o m a d o s o b não é de e s p a n t a r q u e m u i t o d a teologia recente se t e n h a
empréstimo p e l a teologia, e a s divergências c o n f e s s i o n a i s i m - constituído e m textos filosóficos o u que p a s s a m c o m u m e n t e
plicarão f o r m a s d i v e r s a s de recepção d o filosófico n o seio d o c o m o filosóficos. A razão desse fato talvez p o s s a ser b u s c a d a
teológico, e m b o r a esse processo de recepção não t e n h a sofrido n a diferença d a atividad e d i t a teológica n a e r a m o d e r n a c o m
c o m a s b a r r e i r a s c o n f e s s i o n a i s, o que constituirá u m dos p r i n - relação à escolástica, pois a u n i v e r s i d a d e m e d i e v a l p r o p u n h a
c i p a i s m o t o r e s d a evolução teológica. À m a r g e m d e s s a meto- u m ritmo orgânico q u e c u l m i n a v a n o estudo d a teologia, " r a -
dologia manualística^', u m grande número de p e n s a d o r e s c r i s - i n h a d a s ciências", de m o d o que a F a c u l d a d e de Teologia d i s -
tinguia-se p o r u m a r e f i n a d a efervescência c r i a t i v a , i n s e r i d a n o s
29. A p r i m e i r a função d o m e s t r e e m t e o l o g i a ( q u e e r a , n a v e r d a d e , debates de s e u tempo, ao passo que, depois d a I d a d e Média,
o p r o f e s s o r u n i v e r s i t á r i o ) e r a legere, "ler", "lecionar". Cf. C . A. R . NASCI-
a teologia universitária não p a r t i c i p o u senão de m o d o m a r g i -
M E N T O , Santo Tomás de Aquino — O boi mudo d a S i c í l i a, S ã o P a u l o ,
EDUC, 1992, 22ss.
nal dos debates que agitaram o mundo intelectual. N a
30. H a v e r i a q u e m e n c i o n a r , n a b i b l i o g r a f i a l i d a p e l os m e d i e v a i s , m u i t a s escolástica, a s i n f o n i a d o s conceitos filosóficos i n t e r a g i a c o m
o u t r a s o b r a s ( o Livro das causas, a s Sentenças de Pedro L o m b a r d o e t c ) , a p e s q u i s a teológica, n o i m p u l s o u n i f i c a d o p e l a r a i z r u m o à
além d e s e m e n c i o n a r a s épocas e m q u e e l a s s u r g i r a m o u m a i s e x e r c e r a m
transcendência. C o m os escolásticos m o d e r n o s , a filosofia r e -
influência. I s s o , p o r é m , f a r i a d e s v i a r u m p o u c o d o q u e s e p r e t e n d e aqui:
trata-se s i m p l e s m e n t e de insistir n a metodologia medieval de leitura de
t e x t o s , p o r o p o s i ç ã o à e l a b o r a ç ão m o d e r n a d e t r a t a d o s sistemáticos. tóteles e d e T o m á s d e A q u i n o , q u e , aliás, s ã o c i t a d o s abundantemente:
31. U m a menção deve s e r feita à o b r a de J o s e p h Gredt, que, e m - J . G R E D T , Elementa philosophiae aristotelico-thomisticae. Barcelona,Her-
b o i a s e g u i n d o o m e s m o m é t o d o neoescolático d o t o m i s m o , destaca-se, der, 1 ^ 9 6 1 , 2 v i s .
s e m dúvida, p o r s e u esforço d e m a n t e r f i d e l i d a d e a o s textos de A r i s - 32. C f . L A C O S T E , Dictionnaire..., 904.
35
Fé e razão: uma questão atual?
Cristianismo e filosofia
d u z i u - s e a esquematizações m o r t a s , e a teologia, à a t i v i d a de
m ã o " . N a verdade, a filosofia tende a mostrar-se a b e r t a a toda
de controle d a o r t o d o x i a .
manifestação a u t e n t i c a m e n t e h u m a n a , e, p o r isso, de outro
U m outro dado importante a considerar no pensamento
lado, não se c o n c e b e m a i s u m tipo de filosofia que ignore
contemporâneo pode s e r expresso a p a r t i r d a preocupação
m e t o d i c a m e n t e a q u i l o que a teologia p e r m i t e p e n s a r O r a , se
heideggeriana c o m o " f i m d a filosofia", o u seja, d a i n c e r t e z a
não há divisão r e a l n o i n t e r i o r do h o m e m e se s u a t r a n s c e n -
que m a r c a a relação d a filosofia contemporânea c o m s u a pró-
dência se dá p o r u m m e s m o ímpeto que b r o t a de s e u interior,
p r i a identidade. N u m t a l contexto, a própria filosofia parece então a s v i a s d a filosofia e d a teologia m o s t r a m - s e u n i d a s n a
r e c u s a r u m estatuto de "filosofia s e p a r a d a " e abre-se à totali - r a i z d a i n t e r i o r i d a d e: d i f e r e m os m a t i z e s , m a s o i m p u l s o p a -
dade d a s manifestações a u t e n t i c a m e n t e h u m a n a s , a b o r d a n d o , rece o m e s m o .
e x a t a m e n t e p o r isso, questões de caráter m a i s p r o p r i a m e n t e
teológico do que filosófico. D e s s a f o r m a , o m u n d o c o n t e m p o -
râneo não e s t a r i a forjando u m a n o v a r a c i o n a l i d a d e ? E m b o r a
haja, s e m dúvida, filosofias a b e r t a m e n t e contrárias às razões
cristãs, há também aquelas que são t e o l o g i c a m e n te n e u t r a s , e,
tanto estas c o m o a q u e l a s p o d e m c o n t r i b u i r c o m a atividade
teológica, pois, s u b v e r t i d a s inteligentemente, a s filosofias d i t a s
"anticristãs" p o d e m f e c u n d a r a inteligência teológica d a s c o i -
sas, e n q u a n t o a s filosofias n e u t r a s , c o m o é o caso, p o r e x e m -
plo, d a filosofia d a l i n g u a g e m o u d a filosofia analítica, p o d e m
fornecer verdades " p r o f a n a s " que p o s s i b i l i t a m consistência e
pertinência linguística ao d i s c u r s o teológico.
N ã o se t r a t a de ver, nesse intercâmbio, u m e s c r a v i s m o
i m p o s t o p e l a teologia à filosofia, concepção, aliás, não a u t e n -
t i c a m e n t e m e d i e v a l , c o m o se m o s t r o u a c i m a , porém logo
e r r a d i c a d a n o R e n a s c i m e n t o , i n c l u s i v e porque, desde há m u i -
to, a teologia não r e i n a m a i s sobre a s ciências. Trata-se, s i m ,
de p o s t u l a r u m a relação de c i r c u l a r i d a d e entre teologia e filo-
sofia, fé e razão, c r i s t i a n i s m o e filosofia; c i r c u l a r i d a d e essa e m
que se r e a l i z a u m a t r o c a , n a q u a l o filosófico e o teológico
dão-se m u t u a m e n t e a pensar, s e m que a identidade d a instân-
c i a d i t a "filosófica" seja d e f i n i d a e m função d a teologia. C o m
e s s a t o p o l o g i a , e s c a p a - s e à concepção d a f i l o s o f i a como
propedêutica d a teologia o u c o m o filosofia c o n t r o l a d a p o r u m a
instituição, c o m o e r a o c a s o d a filosofia aristotélico-tomista d a
neoescolástica e d a s meta&'sicas de e s c o la do l u t e r a n i s m o a l e-
33. Cf. Ibid. 905.
36
37