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Relatório Final de Bolsa de Iniciação Científica

Projeto:
Rolim e Coimbra- dois personagens, um Museu

Coordenador: Rafael Zamorano Bezerra


Orientadora: Sandra Martins Farias – Diretora do Museu do Diamante/Ibram, Doutora em
Integração na América Latina pelo Programa de Integração na América Latina/USP
Co-orientadora: Marcela Mazzilli Fassy – Técnica em Assuntos Educacionais do Museu do
Diamante/Ibram, Mestre em Ciências Humanas pela UFVJM
Bolsista: Paulo Henrique de Lacerda Cardoso
Edital: 03/2018
Vigência da Bolsa: 01/04/2019 a 31/07/2020
Fomento da Bolsa: Ibram

Diamantina/MG
Julho/2020

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SUMÁRIO

RESUMO ....................................................................................................................3
1 – INTRODUÇÃO ........................................................................................................4
2 – OBJETIVOS .............................................................................................................5
3 – METODOLOGIA .....................................................................................................5
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................................6
5 – PLANOS DE TRABALHO ....................................................................................11
6 – CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS ....................................................................12
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................13
8 – PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO PERÍODO..........................................................14

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RESUMO DO TRABALHO.

O Museu do Diamante, localizado no centro histórico de Diamantina, possui um vasto


acervo que foi adquirido por meio de compra, permuta ou doações de diversas Instituições,
além de ter como proposta a inserção dessa Instituição com um espaço capaz de propiciar à
população local um maior aporte de informações que contribuam para a construção de uma
memória local. Em cima do foco da pesquisa, das diversas fontes analisadas, as informações
adquiridas vêm com o papel de agregar um valor histórico do acervo. Diante disso o início
dos trabalhos ocorreu com o desenvolvimento de estratégias para o aprofundamento do
conhecimento histórico sobre o acervo museológico, que contempla principal coleção do
Museu, a coleção Coimbra. Além disso, muitos memorialistas e escritores de diferentes
épocas foram citados, como Ayres Mata Machado, Roberto Wagner de Almeida, Kenneth
Maxwell, Júnia Furtado, Lúcio José dos Santos. Nas abordagens desses diversos autores,
reconstituiu-se a história da cidade e sua formação. Outro aspecto levantado por José de Paula
foi a respeito dos santos de roca que hoje compõem o acervo do Museu. No total são 35
peças, dentre elas mãos, pés e cabeças, sendo partes do corpo de vários santos de vestir que
eram usados na procissão de cinzas Dessa forma, dos diversos dados que serão incluídos
nesse relatório, aqueles que foram expostos visam demonstrar elementos que condizem com a
relevância em apontar as narrativas que os objetos históricos retratam sobre as dinâmicas
sócias, políticas e culturais que caracterizaram o Arraial do Tijuco nos séculos XVIII e XIX.

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1- INTRODUÇÃO (relevância do trabalho e revisão da literatura)

O trabalho organizado pelo Museu do Diamante para a pesquisa teve seu início no
primeiro semestre de 2019, tendo como proposta a elaboração de um cronograma que
atendesse a identificação das origens e histórico dos objetos musealizados, trazendo narrativas
que vão para além das produções do conhecimento acadêmico. A compilação de elementos
que remontam um imaginário do Arraial do Tijuco, escritos por memorialistas que
reconstituem a história da cidade e sua formação, retratam dinâmicas sociais já consolidadas
por esses autores e intelectuais de época. A proposta central coube aprofundar diversos
materiais que fazem parte de outros acervos Institucionais ( a discussão desses outros espaços
de pesquisa está incluso na metodologia escolhida para a realização dos trabalhos) que vão
corroborar para a inserção de uma narrativa que propõe novas possibilidades de retratar os
acervos e coleções que estão expostas à visitação.
De uma forma geral, o acervo dessa instituição leva objetos de coleções que conduzem
para um contexto de uma cultura material que retrata a dinâmica de uma sociedade dos
séculos XVIII e XIX. Os Aspectos que reforçam a cultura religiosa, mineradora, que reproduz
um cotidiano nas Minas setecentistas e oitocentistas, conjuntamente com as características de
uma sociedade escravista, faz com que, todos esses elementos levassem para a primeira etapa
da pesquisa.
Muitos desses objetos que compõe o acervo foi adquirido por meio da compra de um
lote de artefatos nomeados como Coleção Coimbra que constitui grande parte dos pertences
que hoje compõem o acervo, o que foi necessário a investigação aprofundada dos objetos
comprados. Com a intenção de complementar as informações que dizem respeito à história
desses artefatos, considerou-se os fatores que levaram Antônio Coimbra a montar seu
antiquário e a partir disso, foi definido a importância da pesquisa em trabalhar com a coleção
que hoje faz parte do acervo. No momento da incorporação desses artefatos para essa
instituição que foi inaugurada em 1954, nota-se que a escolha dos objetos e o período que se
insere os artefatos da coleção possuem uma narrativa inconsolidada que necessitava a criação
de critérios e estratégias que interligassem a narrativa de uma procedência histórica desse
acervo.
É importante ressaltar o processo investigativo com as fontes primárias, sendo elas:
recibos, notas de compra, acordos formais, entre outros documentos que comprovem o
recebimento de peças com informações que indiquem a origem das peças adquiridas. Com o
detalhamento da fonte escrita como forma de compilar informações úteis, constatou-se que

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houve um processo de procura de diversas peças para a composição de bens museológicos,
consolidando uma cultura material condizente com uma sociedade do século XVIII e XIX.
Diante dos variados documentos analisados cabe também relacionar a forma com que essas
fontes são interpretadas por diversos autores, tanto os memorialistas como pesquisadores
contemporâneos que abordam temáticas problematizadas, condizentes com um imaginário
social do Arraial do Tijuco.
O Fortalecimento de uma memória local também se perpetua pela valorização de
indivíduos que estão diretamente ligados na preservação de um patrimônio histórico e cultural
que concebe a memória diamantinense. A partir de uma entrevista oral com o responsável
pelos cuidados da Igreja de São Francisco, com o intuito de expandir o acesso às informações
sobre os diferentes conteúdos, que estão presentes no extenso acervo da Instituição.

2 – OBJETIVOS

1. Observar os objetos históricos do acervo de maneira crítica, e a capacidade de


assimilar diversos significados do objeto analisado.
2. Fortalecimento de uma memória local, através do estudo dos fatos históricos que
remontam a um contexto de época.
3 Análise da memória que foi concebida nos contextos baseados nos comportamento
social das Minas setecentistas e oitocentistas.

3- METODOLOGIA:

3.1- Tipo de Pesquisa:

A pesquisa desenvolvida consistiu em análise documental. Neste sentido, as fontes


escritas, caracterizam-se como primárias e também secundárias, valendo-se tantos os
documentos oficiais quanto os particulares (MARCONI, LAKATOS, 2003). Em um segundo
momento foi necessário um acompanhamento de uma visita técnica na Igreja São Francisco
de Assis em Diamantina e durante a visitação, utilizou-se da observação sistemática, que se
define como: “Na observação sistemática, o observador sabe o que procura, e o que carece de
importância em determinada situação [...]” (MARCONI, LAKATOS, 2003, p. 193), diante
dessa explicação a visita técnica tinha o intuito de compreender a partir de um relato oral,
como se deu o processo de aquisição do acervo, no que diz respeito as negociações que

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segundo explicações do encarregado pelo funcionamento e manutenção da Igreja São
Francisco de Assis, em Diamantina, ocorreram sem acordos oficiais que comprovassem a
aquisição de bens que hoje fazem parte do M.D. Além disso, utilizou-se de produções
bibliográficas que se relacionam sobre o tema da pesquisa e desenvolvem o tema, dando
abertura para a busca de novas interpretações sobre a dinâmica social do Arraial do Tijuco.

3.2- Base Documental

Para realização das atividades da pesquisa foram necessárias a consulta das


Documentação museológica do M.D, da Arquidiocese de Diamantina, periódicos referentes
ao período de 1954 a 1964 e acervo documental do Museu de Tipografia do Pão de Santo
Antônio. A partir dos arquivos do Museu, encontrou-se o Inventário de Bens Móveis, que foi
datado em 31/12/1952 e a partir dele foi feita a elaboração de uma tabela contendo dados
compilados que complementam a procedências dos objetos (1º Semestre de 2019). Em um
último momento, retornou-se à pesquisa documental e os dados que a edição impressa dos
Autos da Devassa contribui para a investigação histórica da pesquisa.

4- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base nas implicações que norteiam a pesquisa, sendo elas, as problematizações
que levaram a uma necessidade da realização de um trabalho de preenchimento das lacunas de
uma memória fragmentada que compreende a coleção Coimbra, a tímida e pouco explorada
narrativa sobre o Padre Rolim e o seu envolvimento com a dinâmica social do arraial do
Tijuco e os diversos objetos históricos que pertenciam às igrejas de Diamantina.
A partir do levantamento das produções que discutem sobre o processo de exploração
do diamante é possível identificar estudos que partiram de uma narrativa que esboça o
desenvolvimento social desse contexto exploratório. Segundo Aires da Mata Machado Filho,
existe uma cultura que vai se enraizando pelo trabalho da mineração que se inicia com a coroa
portuguesa e seu desejo de se apropriar da riqueza da sua colônia.

“Mando que na Comarca do Serro do Frio haja três caixas-administradores,


nomeados pelos diretores desta cidade com as graduações de Primeiro, Segundo e
Terceiro, os quais servirão enquanto se achar que bem cumprem as obrigações de
que foram encarregados, sucedendo o segundo ao primeiro e o terceiro ao segundo..
repartindo os seus diversos e observando em todos os particulares do governo
econômico e mercantil da sua Administração, as ordens que lhes forem expedidas
pelos referidos diretores sendo aprovadas pelo sobredito Marquês Inspetor.”
(FILHO, 1954, p. 19)

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Diante dessa narrativa onde prevalece uma situação de controle da Comarca do Serro
Frio, o envolvimento com o tráfico de diamante torna-se uma prática cada vez maior na
região. A narrativa do Museu do Diamante aborda discussões referentes ao ciclo do diamante,
muito do que se refere a exploração dessa pedra vincula-se ao tráfico desse mineral que foi a
base da economia da região. Nesses aspectos que corroboram para uma indagação do abuso
de poder por parte dos administradores portugueses do Arraial do Tijuco, há pesquisas que
confirmam o momento do declínio da arrecadação dos cofres portugueses, tendo em vista, o
próspero negócio em se dedicar às atividades ilegais com a intenção de se esquivar do sistema
meticuloso e regulamentado e coordenado pela Coroa. (MAXWELL, 2005). Diante das
pesquisas que tratam sobre o tema que analisam a situação econômica e política local,
percebe-se que existe uma relação efetiva entre a ilegalidade da mineração com
enriquecimento de uma elite que vai questionar a relação de poder vigente como também vai
tencionar as relações sociais de uma camada popular que mais sofre as consequências dessa
dinâmica. O ato da clandestinidade ficou cada vez mais frequente com o aumento da
autoridade e controle das Intendências que eram órgãos autônomos na capitania e que
representava a autoridade da Coroa. Diante disso, o perfil do Padre José da Silva e Oliveira
Rolim, se destaca pela grande influência e notoriedade no contrabando da região. Segundo
Roberto Wagner:
“Um traficante amigo de garimpeiro e faiscadores, homens rudes que, de
bateia em punho, à margem dos rios e à margem da lei, arriscavam-se a viver sob a
constante ameaça dos mais severos castigos. Foi com essa gente que o padre Rolim
aprendeu a conviver com o perigo e sob influência, desenvolveu uma personalidade
turbulenta, de uma ousadia levada aos limites da temeridade.”(ALMEIDA, 2002)

Diante de uma construção narrativa que contempla a atuação de um vigário que se


encontra como uma das figuras de prestígio e protagonismo no Distrito Diamantino é possível
associar suas ações diretamente ligadas às atividades ilícitas e juntamente a sua ilegalidade na
região, sua imagem é associada à Conjuração Mineira. Dentro do processo revolucionário, o
vigário foi um dos responsáveis em reunir e fomentar a proposta revolucionária para o Tijuco.
Nos processos que culminaram na captura e prisão dos envolvidos na Inconfidência:
“Preso a 5 de Outubro de 1789, no norte da Capitania, foi metido em cadeia
pública no Tejuco. Daí o enviaram para Vila Rica, onde foi recolhido a um dos
cárceres preparados nas casas dos contratos , removido para uma prisão no quartel
de infantaria da guarnição, e transferido depois para a cadeia publica da vila.
Enviado para o Rio, lá mesmo não o deixaram descansar: esteve preso na Fortaleza
da Ilha das Cobras, passou para um dos segredos da Relação e voltou novamente
para a Fortaleza. E não foi só isso submeteram-no a 15 interrogatórios e numerosas
acareações.” (SANTOS, 1950, p. 596)

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Dentro de um enredo que coloca o padre como um principais agentes nesse contexto
heroico e participativo no movimento, é possível encontrar poucas discussões no que diz
respeito ao seu envolvimento polêmico com o comércio ilegal de escravos, sendo que, as
propostas revolucionárias colocam como intenção a abolição da escravatura. Diante de uma
bibliografia que pouco tensiona e aprofunda sobre o real entendimento do posicionamento
sobre o sistema escravista da época, Roberto Wagner coloca uma relação amistosa entre o
inconfidente do Tijuco e Alexandre da Silva seu fiel escravo e espécie de secretário particular
(ALMEIDA, 2002). Segundo os Autos da Devassa, em suas notas biográficas:
“Alexandre da Silva entretanto, se põe ao nível dos homens livres o que faz supor
comungasse dos mesmo ideais libertários do senhor. Nascera em 1757
provavelmente em Minas Novas, feito escravo de Manoel Soares Cardoso. Foi em
Minas Novas que conheceu Tiradentes antes de 1775, isto é quando Joaquim José da
Silva Xavier, [...] aproximando-o do Pe. José da Silva e Oliveira Rolim e dando
origem a uma amizade definitiva. A longa memória, produto de uma impressão viva
na mente de uma vítima do sistema social e econômico – em que a segurança do
poder crescia na proporção da opressão exercida contra o direitos humanos da
benemérita raça negra – sugere que o defendido por Tiradentes talvez fosse o
próprio Alexandre, e que o opressor fosse Manuel Soares Cardoso, para que
Tiradentes perdeu todos os seus bens. Adquirido pelo Padre Rolim, a inteligência do
mulato Alexandre se manifesta nas suas funções de secretário do senhor.” (Autos da
Devassa, vol. 2 p. 393)

Essa relação pouco tratada por autores e que traz a relação de um negro que atuou
diretamente com os conjurados, de um modo que, as fontes estudadas podem esclarecer um
discurso que amplia o debate sobre a forma de atuação de negros escravizados no século XIX.
Outro fator em voga nas narrativas, colocam um estreitamento da relação entre
Tiradentes e o padre Rolim, que se iniciou no Rio de Janeiro e que possui registros de uma
relação entre o alferes e outros familiares do vigário. Registros da prisão de Tiradentes em
Minas Novas:

“Segundo Machado de Castro, deu causa a essa prisão o facto de se compadecer


Tiradentes de um pobre escravo, que estava sendo barbaramente castigado. Da
discussão acalourada que com o senhor do escravo travou Tiradentes resultou a sua
prisão. [...] Por sua vez, J. Norberto, baseando-se em referência vaga do depoimento
do Sargento-mor Alberto da Silva de Oliveira Rolim, irmão do padre Rolim, diz que
Tiradentes foi preso pelo seu procedimento, saindo da prisão desgostoso e sem
crédito, sendo essa a razão porque resolveu mudar de vida. Fazendo-se soldado.”
(SANTOS, 1950, pág.566).

Diante da prova de uma proximidade entre os dois envolvidos coloca-se à prova uma
perspectiva de uma efetividade nos envolvimentos dos dois conjurados no processo
conspiratório.

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Partindo para as indagações à arquitetura eclesiástica, Aires da Mata Machado coloca
em seus estudos um levantamento dos bens patrimoniais das Igrejas que foi desfeitos e
vendidos.
“O costume de levianamente, dispor de preciosidades antigas não é novo, pelo visto
mas agravou-se com o tempo, tanto que da banqueta de prata encomendada
juntamente com a lâmpada existem apenas dois castiçais de prata, porquanto dois
dos outros quatros quatro maiores foram vendidos em 1937 ... Merecem ainda
menção os seguintes objetos de prata: turíbulo, naveta e colher, duas coroas, sendo
uma galvanizada, um cálice cujo pé está gravada a inscrição ‘Caliz da capella do
capitão Antonio Meylão 1741, familiar do santo Ofício’ uma âmbula e rica coroa de
ouro cravejada de brilhantes com a data de 1874.” (FILHO, 1954, p. 249)

Nessa descrição de peças que foram comercializadas, um recorte temporal que


perpassa no ano de 1941, inicia-se um interesse em adquirir objetos de arte sacra que fariam
parte do conjunto de artefatos garimpados para o Museu. Além disso, o Rodrigo Melo Franco
de Andrade (Diretor do DPHAN da época), ressalta sobre o valor cultural desses artefatos
ligados a religiosidade católica e sua representatividade da cultura local. Dos documentos
analisados que se encontram guardados do arquivo do M.D, a maioria deles vão relatar
acordos feitos com Igrejas da cidade e das proximidades de Diamantina, famílias influentes
nas localidades, Instituições variadas que estavam aptas a realizar acordos com peças de
interesse para a composição acervo e Museus que estavam dispostos a negociar artefatos na
forma de permuta ou venda. Em consonância, com as discussões do autor, foi articulado uma
visita técnica à Igreja São Francisco de Assis na intenção de investigar sobre um período que
o encarregado pela manutenção da Igreja relata que ocorreu em meados da década de 1930,
caracterizando uma época de intenso fluxo de estrangeiros que eram donos de antiquários.
Nessa descrição do contexto histórico, José de Paula afirma que muitos documentos
que tinham registros sobre a história local de Diamantina assim como muitas peças que
pertenciam às antigas construções da época foram negociadas e levadas para outros países, ou
seja, muito desses estrangeiros que eram donos de antiquários, tinham muito interesse em
adquirir peças que possuíam grande valor histórico. De acordo com estudos e pesquisas
recentes que analisam os acervos dos santos de roca encontrados na Igreja São Francisco e
também no Museu do Diamante, a popularização da arte sacra mineira, foram reconhecidas
peas Ordens Terceiras Franciscanas, que faziam a parte da Processão de Cinzas há
quatrocentos anos em Minas Gerais. (QUITES, 2006)
Os detalhes das técnicas das imagens e das vestes, são os objetos de análise da
pesquisadora Maria Regina que enfatiza da tradicionalidade das Irmandades em retratar a
história e a intencionalidade dessas imagens:

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“Na Ordem Terceira de Diamantina encontramos entronizada num nicho frontal no
local do sacrário - solução impar no partido dos retábulos - uma imagem de vestir,
Nossa Senhora da Conceição, chamada também de Nossa Senhora da Porciúncula.
Sem as vestes podemos perceber que a imagem possivelmente foi desbastada, pois a
parte inferior da escultura possui a definição das pregas do panejamento e o
posicionamento dos pés é típico de uma imagem de talha inteira. Seu corpo foi
remodelado e colocadas articulações na imagem.” (QUITE,2006,p. 252)

Segundo a pesquisadora, existe uma padronização de escultura normalmente


encontrada nos santos de roca, no entanto em Diamantina, a singularidade na estrutura dessas
imagens esculpidas foram encontradas no M.D. e na Igreja São Francisco:

“Em Diamantina, no Museu do Diamante, encontramos um fragmento de uma


imagem sem cabeça e membros superiores, mas com o mesmo cone em substituição
dos membros inferiores. Também em Diamantina, na Igreja da Ordem Terceira, há
uma imagem de São Francisco penitente que igualmente possui esta mesma
estrutura de ripas unidas, porém num formato mais irregular entre um cone e um
retângulo. [...] Geralmente se apresentam sem policromia e com forma bastante
tosca, mas podem ocorrer casos de extrema sofisticação das formas do tronco
inclusive com definição de seios e cintura em imagens femininas. Como exemplo,
temos na Igreja da Ordem Terceira de Diamantina, a imagem de roca de Santa
Margarida de Cortona, que apresenta definição do tronco com representação
bastante realista dos seios, em perfeita talha e carnação.” (QUITE, 2006, p. 256)

Além das questões estéticas, segundo os documentos da Ordem Terceira de São


Francisco, há indícios das visitas pastorais, no ano de 1821, no Distrito Diamantino e na Vila
do Príncipe, atualmente representa a região do Serro. (QUITE, 2006). Há nesse sentido uma
referência de orientação à respeito do tipo de fonte primária que podem conduzir a narrativa
religiosa local para os aspectos vinculados a dinâmica de organização de uma sociedade que
moldou sua cultura popular nas procissões e no vínculo com a fé. As celebrações e
celebrações da religião católica, é representado no seu caráter alegórico, explorando a
simbologia dos martírios de uma vida efêmera, incentivando o desapego das tentações
mundanas para o recebimento das glórias de uma vida eterna. A tradição da Quarta Feira de
Cinzas, já teve palco nas ruas de Diamantina. No livro do estatuto da 3ª Ordem de São
Francisco de 1778, constam as instruções sobre como deve ser realizado esse ritual, que é de
grande apreço para a Irmandade. A memória desse cortejo de séculos atrás permanece nas
recordações de seus participantes e nas várias peças dos santos de roca que, hoje, fazem parte
do acervo do Museu do Diamante e reforçam uma memória de tradições e religiosidade que
definem a cultura local da cidade

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5- PLANO DE TRABALHO DESENVOLVIDO PELO BOLSISTA

Período: 01 de Abril de 2019 a 31 de julho de 2020

O bolsista de iniciação científica desenvolveu junto ao projeto intitulado “Rolim e Coimbra-


dois personagens, um Museu” o seguinte plano de trabalho:

Meses de execução
Descrição das Atividades 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 1 1 1 1 1 1
0 1 2 3 4 5 6
1. Análise documental
X X X X X X X X X X

2. Visita Técnica à Igreja São


Francisco de Assis. X X X

3. Revisão Bibliográfica
X X X X X X X X X X

4. Produção do relatório da
pesquisa. X X X X X X

5. Produção e apresentação de
trabalhos em eventos da área X X

A pesquisa iniciou seus procedimentos em Abril de 2019, em meio a um período de


Pandemia e isolamento social, não foi possível a realização de entrevistas com moradores da
cidade que possam fornecer informações sobre colecionadores e antiguidades doadas ou
vendidas ao Museu do Diamante/Ibram. Ainda assim, o projeto foi adequado para a coleta de
dados referentes ao retorno da pesquisa documental e do levantamento bibliográfico.

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6- CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS:

O foco da proposta Pesquisa foi concentrada nos arquivos existentes em Diamantina


(Arquivo Documental da Biblioteca Antônio Torres, Arquivo da Mitra Arquidiocesana,
analisando inventários, testamentos e demais documentos possuem referências a coleções e
objetos de valor histórico e artístico. De acordo as leitura dos artigos e pesquisadores que
estudaram o Distrito Diamantino, o entendimento das organizações sociais do século XVIII e
XIX, são argumentos contundentes que ajudaram a traçar alguns pontos que podem refletir
até mesmo sobre objetos que estão hoje expostos no Museu do Diamante. A criação do
Regimento Diamantino em 1771 é a prova de que a Metrópole criava mecanismos de controle
da extração e comercialização de pedras. Um olhar sobre aspectos predominantes do século
XVIII e XIX, a pesquisa buscou analisar fontes que trouxessem um discurso mais
contemporâneo, de uma forma que traduz um discurso predominante em determinado
período. O envolvimento de famosos contrabandistas do Tijuco, como é o caso do padre
Rolim, demonstra que fontes documentais como os Autos da Devassa que apurou os crimes
da Inconfidência Mineira, traz importantes relatos de uma fonte que traz o escravizado
Alexandre da Silva como um protagonista de uma narrativa que necessita de uma maior
atenção para tencionar as relações sociais de uma camada popular, sendo ela negra e
escravizada que mais sofreu as consequências dessa dinâmica repressiva. De acordo com a
pesquisa de Júnia Furtado:
“Os escravos se envolviam em vários crimes de assassinato, nos quais as vítimas
eram outros escravos, ou soldados e autoridades. (...) Em todas as ocasiões o viver
dentro da demarcação resultou em relações complexas, fruto dos embates entre os
diversos segmentos sociais, intermediados pelas autoridades, que, entretanto nunca
conseguiram limitar a sociedade aos estreitos limites da lei.” (FURTADO, 2008, p
55-56.)

Com isso, o discurso mais contemporâneo, traduz o período que remontam histórias da
cidade de Diamantina e do seu processo de formação. Dando ênfase em aprofundar na edição
impressa dos Autos da Devassa, onde consta publicações dos traslados do Padre José da Silva
e Oliveira Rolim. (RODRIGUES, 2017)
Ou aspecto que condiz com o maior aprofundamento de pesquisas bibliográficas que
correspondam ao tema da arte sacra mineira e suas orientações devidas à documentação que
direcionem para as festas populares e suas imponências da cultura local.

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7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FASSY, Marcela Mazzili. MUSEU DO DIAMANTE, DIAMANTINA, MG: o projeto de


construção de uma identidade nacional por meio da criação de museus em Minas Gerais
pelo SPHAN nas décadas de 1940-1950. Dissertação de Mestrado. UFVJM, Diamantina, 2016.

OLIVEIRA, Lilian. Antiquário Coleções Particulares e religiosa na origem da Instituição do


Museu do Diamante, Diamantina, MG. Dissertação de Mestrado. UFVJM, Diamantina, 2016

MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. A História, cativa da memória? Para um mapeamento da


memória no campo das ciências sociais. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros/USP,
São Paulo, v.34, p. 9-24, 1992. (p.9-24)

FURTADO, Júnia Ferreira. O Livro da Capa Verde: o Regimento Diamantino de 1771 e a


vida no Distrito Diamantino no período da Real Extração. São Paulo: Annablume, 2008.

SANTOS, L.J. A Inconfidencia Mineira. Papel de Tiradentes na Inconfidencia Mineira.


São Paulo: Escolas Profissionaes do Lyceu Coração de Jesus. 1950.

MATA MACHADO FILHO, Aires. Arraial do Tijuco, Cidade de Diamantina. Rio de


Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1954.

DE ALMEIDA, Roberto Wagner. Entre a cruz e a espada: a saga do valente e devasso


padre Rolim. Paz e Terra, 2002.

MAXWELL, Kenneth R. A devassa da devassa: a Inconfidência Mineira. Paz e Terra,


2005.

QUITE, Maria Regina Emery. Imagem de Vestir: revisão de conceitos através de estudo
comparativo entre as Ordens Terceiras Franciscanas no Brasil. Tese (Doutorado em
História). UNICAMP, 2006.

RODRIGUES, André Figueiredo. Sequestros de bens dos participantes da Inconfidência


Mineira como fonte de pesquisa para a história do livro e das bibliotecas (1789). História
(São Paulo), v. 36, 2017.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. 5.


reimp. São Paulo: Atlas, v. 310, 2003.

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8-PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO PERÍODO

1. Evento: I Jornada de Iniciação Científica do OIBIC/CNPq - Ibram


Data:7 a 10 de Outubro de 2019
Realização: Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)
Local: cidade do Rio de Janeiro/ RJ
Modalidade: Apresentação Oral
* O certificado de apresentação ainda não foi emitido pela organização do evento.

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