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FLUORESCÊNCIA DE RAIOS X COMO MÉTODO AUXILIAR NA


RECONSTRUÇÃO DOS PROCESSOS DE FOSSILIZAÇÃO E DOS
PALEAMBIENTES ASSOCIADOS A MEGAFAUNA DE TANQUES
NATURAIS

José Tarciso de Oliveira Junior¹; Kleberson de Oliveira Porpino².


¹ Estudante do curso de Ciências Biológicas (tarciso777@gmail.com).
²Professor do Departamento de Ciências Biológicas (kleporpino@yahoo.com.br).
PALAVRAS-CHAVE: Tanques Naturais. Quaternário. Tafonomia. Paleoecologia.

1. INTRODUÇÃO
Tanques naturais são estruturas formadas pelo alargamento de fraturas em rochas do
embasamento provocado pelo intemperismo físico químico (Araújo-Junior et al., 2013).
Durante o Quaternário, essas depressões foram preenchidas por sedimentos e muitas contêm
fósseis de vertebrados, principalmente de mamíferos de grande porte (Paula-Couto, 1980;
Ximenes, 2009; Araújo-Junior et al., 2013.) O preenchimento sedimentar dos tanques foi
depositado por fluxos de detritos e/ou por rios temporários gerados por enxurradas, que
produziram camadas areno-argilosas e/ou conglomeráticas, algumas contendo bioclastos
(Oliveira & Hackspacher, 1989; Mabesoone et al., 1990; Araújo-Júnior et al., 2013). Os
fósseis neles encontrados são considerados como pertencentes ao Pleistoceno final-Holoceno
inicial com base nas datações disponíveis (Kinoshita et al., 2008; Dantas et al., 2011; Araújo-
Júnior et al., 2013) Os depósitos de tanque representam uma das principais fontes de fósseis
da megafauna para a Região Intertropical Brasileira (sensu Cartelle, 1999) e têm motivado
várias investigações interessantes, incluindo aspectos sobre a origem e preservação dos
fósseis (e.g. Santos, 2001; Ribeiro, 2010; Araújo-Júnior et al., 2013) e sobre o contexto
paleoambiental e paleoecológico em que viveram os animais neles preservados (e.g.Dantas et
al., 2013).
Classicamente, a tafonomia tem dois focos de análise: a bioestratinomia que investiga
os processos que afetam os restos orgânicos da morte dos organismos até o soterramento e a
fossildiagenese, voltada para os processos físicos e químicos que atuam após o soterramento
(Holz & Simões, 2002). Além dos métodos tradicionais de investigação tafonômica, baseados
na visualização de assinaturas macroscópicas e de lâminas delgadas (Santos 2001; Araújo-
Júnior et al., 2013), métodos físicos, como a difratometria e fluorescência de raios x, têm sido
frequentemente utilizados para a determinação dos processos fossildiagenéticos em fósseis de
diversos grupos de organismos (e.g. Lima et al., 2007; Piga et al., 2009), embora ainda de
forma modesta para a fauna de vertebrados dos depósitos de tanque (e.g. Silva et al., 2010).
Esses métodos físicos permitem a quantificação de aspectos importantes, como a composição
elementar e mineralógica de amostras, permitindo uma caracterização mais detalhada de
feições digenéticas (p.ex. substituição, permineralização). Em síntese, vários métodos físicos
e químicos disponíveis podem fornecer evidências cruciais para reconstruir o contexto
preservacional dos fósseis de tanque e as condições ambientais e ecológicas reinantes durante
os processos de formação das assembleias neles contidas, embora o seu uso ainda seja
limitado a algumas localidades.
Neste trabalho buscamos compreender os processos tafonômicos atuantes na
formação das concentrações fossilíferas de vertebrados em depósitos de tanques naturais e os
contextos paleoecológico e paleoambiental associados, através da composição química e
assinaturas fossildiagenéticas de fósseis coletados m depósitos deste tipo.
2. METODOLOGIA
2.1 Material
O material foi coletado nas localidades do tanque do Sítio Riacho verde, município
de Ouro Branco, Rio Grande do Norte e Campo Alegre Fazenda Campo Alegre, município de
Taperoá, Paraíba, utilizando métodos físicos e químicos, e estão depositados no Laboratório
de Sistemática e Ecologia Animal/UERN. Os fósseis foram submetidos à limpeza mecânica
para que todo o sedimento incrustante fosse removido, de modo a melhor evidenciar as
estruturas anatômicas e assinaturas tafonômicas. Para a limpeza foram utilizadas ferramentas
odontológicas, como escovas de dente e esculpidores dentários, microretífica, pinceis e água
para a remoção de sedimentos mais firmemente incrustados nos elementos preservados. Os
fósseis que se fragmentaram durante o processo de limpeza foram colados com o auxílio de
cola branca. Para este trabalho, os fosseis foram preparados através de trabalhos anteriores.
2.2 Análise de fluorescência de raio X
O método de fluorescência de Raios-X consiste na indução de transições eletrônicas
entre os orbitais internos dos átomos por meio de radiação eletromagnética dependendo da
energia, podendo ser raios–X ou radiação gama; essas transições resultam na emissão de
raios–X com energia própria do átomo envolvido na transição e na medida de sua
abundância; a energia da radiação identifica o elemento enquanto a intensidade identifica a
concentração (Sousa Filho, 2011).
Tal método permitem inferências fossildiagenéticas mais precisas e serão
implementados no Laboratório de Análises Magnéticas e Ópticas (LAMOp), Departamento
de Física/UERN. Os processos de preparação de amostras para estas análises foram
realizados no LABSECO. Seis fragmentos fósseis foram escolhidos, com base a variação da
tonalidade das cores e do estado de preservação, para a determinação de suas composições
químicas. Cada fragmento escolhido para a análise teve em média três pontos de análise de
onde foi retirando um minúsculo fragmento do fóssil para a realização de Fluorescência de
Raio X. Somente um deles teve dois pontos de análise. As amostras colhidas foram retiradas
da base (amostra T1B2 e T1B27), topo (T1T17, T1T25 e T1T44) e refugo (T2A6) da camada
fossilífera, representada por um conglomerado.
2.3 Confecção de lâminas petrográficas
O procedimento para a confecção das lâminas consistiu, inicialmente, em cortar as
peças sagitalmente com uma serra diamantada e inserir a região cortada em um bloco de
resina de poliéster (Araldite) com endurecedor (HY951) em proporção 10:1 mL, visando
conferir maior estabilidade e impedir fraturas, deixando-os secar em estufa durante 24 horas.
Em seguida esse bloco (resina mais parte do osteodermo) foi seccionado novamente para
reduzir seu tamanho. Após isso, a amostra foi colada em lâmina de vidro e desgastada em
carbureto com diferentes granulometrias (320 e 600), até atingir a espessura ideal, a qual foi
verificada através de microscópio ótico. Esse procedimento foi realizado integralmente no
Laboratório Geológico de Processamento de Amostras do Departamento de Geologia na
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 26 (vinte e seis) elementos químicos nos fósseis analisados:
Estrôncio (Sr), Silício (Si), Fósforo (P), Cálcio (Ca), Ródio (Rh), Potássio (K), Bário (Ba),
Titânio (Ti), Manganês (Mn), Ferro (Fe), Túlio (Tm), Zinco (Zn), Rubídio (Rb), Alumínio
(Al), Argônio (Ar), Cobre (Cu), Prata (Ag), Európio (Eu), Vanádio (V), Ítrio (Y), Níquel
(Ni), Cromo (Cr), Tungstênio (W), Cério (Ce), Zircônio (Zr) e Samário (Sm) (ver Tabela 1).
O Potássio e o Cálcio registraram as maiores porcentagens nas seis amostras.
Tabela 1: Elementos químicos encontrado em cada umas das amostras.
Amostra Elementos Químicos
Amostra 1 – T1B2 Sr, Si, P, Ca, Rh, K, Ba, Ti, Mn, Fe, Tm, Zn, Rb, Al,
Ar, Cu, Ag, Eu
Amostra 2 – T1B27 Al, Sr, Si, P, Ca, Rh, K, Ti, V, Mn, Fe, Cu, Zn, Rb,
Ba, Ar, Zr, Ni, Y, Tm, Cr, Ag
Amostra 3- T1T17 Al, Sr, Si, P, Ca, Rh, K, Ba, Ti, Mn, Fe, Ni, Cu, Zn,
Rb, Ar, W
Amostra 4 – T1T25 Si, P, Ca, Rh, Ca, Rb, K, Ba, Ti, Mn, Fe, Cu, Zn, Sr,
Sm, Al, Ar, W, Eu, V
Amostra 5 – T1T44 Al, Sr, Si, P, Ca, Rh, K, Ba, Ti, Mn, Fe, Ni, Cu, Zn,
Rb, Ar, V, W
Amostra 6 – T2A6 Al, Sr, P, Ca, Rh, K, Ba, Ti, Mn, Fe, Cu, Zn, Sr, Y,
Eu, Tm, Ar, V, Ce

Em depósitos do tipo tanque, Araújo-Júnior et al. (2014) e Santos et al. (2002)


ressaltam que a permineralização é o processo fossildiagenético que predomina sobre os
demais, onde os principais minerais a preencherem os poros dos ossos são, na maioria das
vezes, minerais opacos ligados ao óxido de ferro, constatados na análise de FRX. A
permineralização ocorre em duas situações principais: a) quando os restos ainda não foram
totalmente soterrados, levando ao preenchimento das cavidades dos ossos porminerais
dissolvidos durante inundações; b) quando os restos foram totalmente soterrados e ficaram
sujeitos a percolação de fluídos ricos em Mg e Fe, que vão preencher pequenas cavidades,
como canais vasculares e lacunas presentes na estrutura óssea (Tomassini et al., 2014; Luque
et al., 2009).
Uma análise preliminar das lâminas mostra uma predominância do processo de
permineralização, o qual foi realizado por carbonato de cálcio, óxido de ferro, feldspato e
quartzo (Figura 1 a e b). Substituição por óxido de ferro pode ser observada no tecido ósseo
esponjoso de algumas amostras (Figura 1b). A precipitação de óxido de ferro indica maior
disponibilidade de água intersticial em alguns momentos, enquanto que a precipitação de
carbonato de cálcio no interior dos poros do tecido esponjoso indica momentos de escassez
hídrica. Essa alternância é coerente com os cenários tafonômicos propostos para depósitos de
tanque (e.g. Araújo-Júnior et al., 2013). Em algumas lâminas fica evidente o bom grau de
preservação da microestrutura do tecido ósseo, o que sugere pouca incidência de alterações
pós-deposicionais.

Figura 1. Lâminas petrográficas. a, lâmina de fragmento ósseo coletado no sítio Riacho Verde mostrando
cavidades do tecido esponjoso permineralizad por óxido de ferro (Ofe) e carbonato de cálcio (CC); b,
lâmina de fragmento ósseo coletado no sítio Riacho Verde mostrando cavidades do tecido esponjoso
permineralizado por óxido de ferro (Ofe) e carbonato de cálcio e tecido ósseo subistituído por óxio de
ferro (Ofe-sub).
4. CONCLUSÃO
Os osteodermos aqui avaliados apresentaram boa preservação, sendo essa
característica comprovada pela de composição de elementos (FRX). Dentre os processos
fossildiagenéticos observados nesses osteodermos constata-se a ausência de substituição,
sendo presente apenas em grau moderado a perminerlização, que pode ocorrer por óxido de
ferro. Essa permineralização permite inferir que durante o pleistoceno final-Holoceno inicial
o clima era árido ou semiárido, com eventuais inundações que causavam, consequentemente,
o preenchimento dos poros dos ossos quando essa solução se infiltrava no sedimento no qual
estão soterrados os fósseis.

5. BIBLIOGRÁFIA
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