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CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

BIOLOGIA
Governador do Estado do Amazonas
Omar Aziz

Secretário de Estado de Educação e Qualidade do Ensino


Gedeão Timóteo Amorim

Secretária-Executiva
Sirlei Alves Ferreira Henrique

Secretária-Adjunta da Capital
Ana Maria da Silva Falcão

Secretária-Adjunta do Interior
Magaly Portela Régis

Diretor do Departamento de Políticas e


Programas Educacionais
EDSON SANTOS MELO

Gerente do Ensino Médio


VERA LÚCIA LIMA DA SILVA
PROPOSTA CURRICULAR DE
BIOLOGIA PARA O
ENSINO MÉDIO

Secretaria de Estado de
Educação e Qualidade do Ensino
Copyright © SEDUC – Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino, 2012

Editor
Isaac Maciel

Coordenação editorial
Tenório Telles

Capa e Projeto Gráfico


Heitor Costa

Diagramação
Bruno Raphael

Revisão
Núcleo de Editoração Valer

Normalização
Ycaro Verçosa

S729p Proposta Curricular de Biologia para o Ensino Médio. –


Manaus: Seduc – Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino, 2012.

70 p.­­

ISBN 978-85-7512-552-6

1. Biologia – Proposta Curricular


2. Reforma Curricular – Ensino Médio I. Título.

CDD 732.89
22 Ed.

Resolução n.º 114/2011 – CEE/AM, aprovada em 4/11/2011

2012

Seduc – Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino


Rua Waldomiro Lustoza, 250 – Japiim II
CEP – 69076-830 – Manaus/AM
Tel.: Seduc (92) 3614-2200
Gem: (92)3614-2275 / 3613-5481
www.seduc.am.gov.br
SUMÁRIO

Compromisso com a Educação 7

Carta ao Professor 9

Proposta Curricular de Biologia para o Ensino Médio 11

Introdução 13

Proposta Curricular do Ensino Médio: Pressupostos teóricos 15

Currículo Escolar: Aproximação com o cotidiano 21

Um conhecimento Fundado Sobre Competências e Habilidades 23

Áreas de Conhecimento: A integração dos saberes 27

1. O Componente Curricular integrador da Matriz do Ensino Médio 29


1.1 A Biologia no Ensino Médio 31
1.2 Quadro demonstrativo do Componente Curricular 35
1.3 Alternativas Metodológicas para o ensino de Biologia 51
1.3.1 Sugestões de Atividades Didático-Pedagógicas 51
1.3.2 Sugestões para pesquisa 57

Avaliação: O culminar do processo educativo 59

Considerações Finais 63

Referências 65
BIOLO GIA 7

COMPROMISSO COM A EDUCAÇÃO

É inquestionável o valor da Educação na mento do mérito dos professores, do acesso


formação do ser humano e na construção de às novas tecnologias, da promoção de forma-
uma sociedade próspera e cidadã. Ao longo ções para melhor qualificar os mestres que
da História, as nações que conquistaram o estão na sala de aula, empenhados na pre-
reconhecimento e ajudaram no processo de paração dos jovens, sem descurar do cuida-
evolução do conhecimento foram aquelas do com a melhoria das condições de trabalho
que dedicaram atenção especial à formação dos profissionais que ajudam a construir uma
da juventude e valorizaram o saber como fa- realidade educacional mais promissora para o
tor de afirmação social e cultural. povo amazonense.
Consciente do significado social da apren- Fruto desse comprometimento que tenho
dizagem e do caráter substantivo do ensino com a Educação, é com satisfação que apre-
como fundamento da própria vida, elegi a sento aos professores e à sociedade em geral
Educação como pressuposto de governo – esta Proposta do Ensino Médio – nascida do
consciente da minha responsabilidade como debate dos educadores e técnicos que fazem
governador do Estado do Amazonas. Tenho parte da rede pública estadual de ensino. Esta
a convicção de que a construção do futuro reestruturação, coordenada pela Secretaria
é uma tarefa do presente – e que o conheci- de Estado da Educação e Qualidade do Ensi-
mento é o substrato do novo tempo que ha- no, objetiva a renovação e atualização do pro-
verá de nascer do trabalho dos professores e cesso da aprendizagem, considerando os Pa-
demais profissionais que se dedicam ao ofício râmetros Curriculares do Ensino Médio, bem
de educar em nossa terra. como as inovações ocorridas com a implan-
Essa é uma missão de todos: não só dos tação do Exame Nacional do Ensino Médio –
educadores, mas igualmente dos pais e dos Enem. Com o aprimoramento da aprendiza-
agentes públicos, bem como de todo aquele gem e com a promoção de uma nova sistemá-
que tem compromisso com o bem comum e a tica de ensino e avaliação, almejamos o avan-
cidadania. Tenho empreendido esforços para ço da Educação e a melhoria da qualidade da
promover a Educação no Amazonas, sobretu- prática educacional no Estado do Amazonas.
do por meio da valorização e do reconheci- Reitero, assim, o meu compromisso com a
Educação.

Omar Aziz
Governador do
Estado do Amazonas

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 9

CARTA AO PROFESSOR

Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.

Cecília Meireles

A mudança é o sentido e o fundamento da de Educação, por meio da ação de seus educa-


vida. A verdade é que não há vida sem trans- dores e técnicos, coordenou de forma eficaz os
formação e sem o aprimoramento permanen- trabalhos de discussão e elaboração das pro-
te de nosso modo de pensar e ser e, sobretu- postas curriculares de cada componente que
do, de agir. O poema da professora e escritora integra as quatro áreas de conhecimento do
Cecília Meireles traduz esse entendimento Ensino Médio – norteadoras da prática pedagó-
e essa verdade inquestionável. Por isso, esse gica dos professores no cotidiano escolar neste
tem sido o espírito de nossas ações à frente novo momento do ensino em nossa terra.
da Secretaria de Estado de Educação do Ama-
zonas: buscar novos caminhos para melhorar Acreditamos que os novos referenciais
a aprendizagem de nossas crianças e jovens metodológicos, enriquecidos com sugestões
– motivo pelo qual elegemos a formação dos de Competências, Habilidades e práticas faci-
professores como um dos fundamentos desse litadoras da aprendizagem, estabelecidos nas
propósito. propostas, contribuirão para dinamizar e en-
riquecer o trabalho pedagógico dos professo-
Fruto dessa iniciativa, empreendida com o res, melhorando a compreensão e formação
objetivo de construir um futuro promissor para intelectual e espiritual dos educandos. Vive-
a Educação no Amazonas, apresentamos os re- mos um momento de renovação da prática
sultados do trabalho de reestruturação da Pro- educacional no Amazonas, experiência que
posta Curricular do Ensino Médio. A Secretaria demanda, de todos os envolvidos nesse pro-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
10 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

cesso, novas respostas, novas atitudes e novos de e atenção com a formação educacional dos
procedimentos de ensino. Dessa forma, com nossos educandos.
compromisso, entusiasmo e consciência de
nosso papel como educadores, ajudaremos a Temos consciência do desafio que temos
construir uma nova realidade educacional em pela frente e entendemos que este é o primeiro
nosso Estado, fundada na certeza de que o co- passo de uma longa jornada, que dependerá da
nhecimento liberta, enriquece a vida dos indi- participação construtiva, não só dos professo-
víduos e contribui para a construção de uma res, corpo técnico e educandos, mas também
consciência cidadã. dos pais, agentes públicos e da sociedade.

O chamamento de Cecília Meireles – “Re- Que todos aceitemos o desafio da renova-


nova-te / Renasce em ti mesmo” – é uma ção e do comprometimento com a vida, com
síntese do fundamento que orienta o nosso a educação dos nossos jovens e com a busca
caminho e norteia as nossas ações. O governa- de novas práticas pedagógicas – capazes de
dor Omar Aziz assumiu a responsabilidade de nos ajudar no forjamento de uma nova consci-
fazer do seu governo um ato de compromisso ência e na construção de uma sociedade fun-
com a educação das crianças e jovens do Ama- dada no conhecimento e na cidadania, ideais
zonas. Os frutos dessa ação, que resultou na que herdamos da cultura clássica e que têm
reestruturação da Proposta Curricular do En- na Paideia Grega (entendida como a verdadei-
sino Médio, são uma prova da sua sensibilida- ra educação) o seu referencial por excelência.

Gedeão Timóteo Amorim


Secretário de Estado de Educaçã

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR DE
BIOLOGIA PARA O
ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 13

INTRODUÇÃO

A Proposta que chega ao Ensino Médio sur- LDB (Lei nº 9.394/96), que requer um homem
giu das necessidades que se verificam não só cidadão, com capacidades para seguir os es-
no campo educacional, mas também nas de- tudos em um Nível Superior ou que seja capaz
mais áreas do saber e dos segmentos sociais. de inserir-se, com capacidades concretas, no
Dito por outras palavras, a vertiginosidade com mundo do trabalho.
que as mudanças ocorrem, inclusive situando- Mas para que esse homem-cidadão possa
-nos em um novo tempo, cognominado pelos ter o arcabouço teórico exigido, ele precisa
filósofos como pós-modernidade, é o que nos conhecer o seu entorno, ou seja, ele precisa
obriga a repensar os atuais paradigmas e a ins- ser e estar no mundo, daí, então, que ele par-
taurar-se, como se faz necessário, novos. tirá para a construção da sua identidade, da
A mudança, na qual somos agentes e pa- sua região, do seu local de origem. Somente
cientes, não só desestabiliza a permanência após a sua inserção na realidade, com suas
do homem no mundo como também requer emoções, afetos e sentimentos outros, é que
novas bases, o que implica novos exercícios ele poderá compreender o seu entorno em
do pensamento. Considerando que é na Esco- uma projeção, compreendendo as suas des-
la, desde a educação infantil, que também se continuidades mais ampliadas, ou seja: so-
estabelecem os princípios e valores que nor- mente assim ele poderá ser e estar no mundo.
tearão toda a vida, é a ela que, incisivamente, As situações referidas são as norteadoras
as novas preocupações se dirigem. desta Proposta, por isso ela reclama a Inter-
É nesse contexto que esta Proposta se ins- disciplinaridade, a Localização do sujeito no
creve. É em meio a essas inquietantes angús- seu mundo, a Formação, no que for possível,
tias e no encontro com inúmeros caminhos, os integral do indivíduo e a Construção da cida-
quais não possuem inscrições, afirmando ou dania. É, portanto, no contexto do novo, do
não o nível de segurança, que ela busca insti- necessário que ela se organizou, que ela mo-
tuir alguma estabilidade e, ainda, a certeza de bilizou a atenção e a preocupação de todos os
que o saber perdurará, de que o homem conti- que, nela, se envolveram.
nuará a produzir outros/novos conhecimentos. Para finalizar, é opinião comum dos cida-
As palavras acima se sustentam na ideia de dãos, que pensam sobre a realidade e fazem
que a Escola ultrapassa a Educação e a Instru- a sua leitura ou interpretação, que o momen-
ção, projetando-se para o campo da garantia, to é de transição. Essa afirmação é plena de
da permanência, da continuidade do conheci- significados e de exigências, inclusive corre-se
mento do homem e do mundo. o risco maior de não se compreender o que
Os caminhos indicadores para a redefini- é essencial. É assim que o passado se funde
ção das funções da Escola seguem, a nosso com o presente, o antigo se funde com o novo,
ver, a direção que é sugerida. É por isso que criando uma dialética essencial à progessão
a Escola e o produto por ela gerado – o Co- da História. A Proposta Curricular do Ensino
nhecimento – instituem um saber fundado Médio, de 2011, resguarda esse movimento e
em Competências e Habilidades, seguindo a o aceita como uma necessidade histórica.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 15

Proposta Curricular do Ensino Médio:


Pressupostos Teóricos

A educação brasileira, nos últimos anos, Ensino Médio desenvolveu ações educacio-
perpassa por transformações educacionais nais para fundamentar as discussões acerca
decorrentes das novas exigências sociais, do currículo vigente.
culturais, políticas e econômicas vigentes no Os professores da Rede Estadual de Ensino
país, resultantes do processo de globalização. Médio receberam orientações, por meio de
Considerando esta nova reconfiguração mun- palestras e de uma jornada pedagógica, que
dial e visando realizar a função formadora da proporcionaram aos professores reflexões so-
escola de explicar, justificar e de transformar bre: O fazer pedagógico, sobre os fundamen-
a realidade, a educação busca oferecer ao tos norteadores do currículo e principalmente
educando maior autonomia intelectual, uma sobre o que se deve ensinar. E o que os edu-
ampliação de conhecimento e de acesso a in- candos precisam apreender para aprender?
formações numa perspectiva integradora do Os trabalhos desenvolvidos tiveram, como
educando com o meio. subsídios, os documentos existentes na Secre-
No contexto educacional de mudanças re- taria de Educação, norteados pela Proposta
lativas à educação como um todo e ao Ensino Curricular do Ensino Médio/2005, pelos PCN,
Médio especificamente a reorganização curri- pelos PCN+ e pelos referenciais nacionais. As
cular, dessa etapa do ensino, faz-se necessária discussões versaram sobre os Componentes
em prol de oferecer novos procedimentos que Curriculares constantes na Matriz Curricular
promovam uma aprendizagem significativa e do Ensino Médio, bem como sobre as refle-
que estimulem a permanência do educando xões acerca da prática pedagógica e do papel
na escola, assegurando a redução da evasão intencional do planejamento e da execução
escolar, da distorção idade/série, como tam- das ações educativas.
bém a degradação social desse cidadão. Os resultados colhidos nessas discussões
A ação política educacional de Reestrutu- estimularam a equipe a elaborar uma versão
ração da Proposta Curricular do Ensino Médio atualizada e ampliada da Proposta Curricular
foi consubstanciada nos enfoques educacio- do Ensino Médio, contemplando em um só
nais que articulam o cenário mundial, bra- documento as orientações que servirão como
sileiro e local, no intuito de refletir sobre os referência para as ações educativas dos profis-
diversos caminhos curriculares percorridos na sionais das quatro Áreas do Conhecimento.
formação do educando da Rede Estadual de Foi a partir dessa premissa que se perce-
Ensino Médio. beu a necessidade de refletir acerca do Currí-
Dessa forma, a fim de assegurar a cons- culo, da organização curricular, dos espaços e
trução democrática e a participação dos pro- dos tempos para que, dessa maneira, fossem
fessores da Rede Estadual de Ensino Médio, privilegiados, como destaques:
na Reestruturação do Currículo, a Gerência de

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
16 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

• o foco no processo de ensino-aprendi- divíduos, do corpo social, da comunidade em


zagem; geral, levando em consideração os conceitos,
• os diferentes tipos de aprendizagem e as representações, os saberes oriundos das
de recursos; vivências dos educandos que concretamente
• o desenvolvimento de competências estão envolvidos, e nas experiências que vi-
cognitivas, operativas e afetivas; venciam no cotidiano.
• a autonomia intelectual; A proposta é que os educandos possam
• a reflexão antes, durante e após as posicionar-se de maneira crítica, ética, res-
ações. ponsável e construtiva nas diferentes situa­
ções sociais, utilizando o conhecimento como
É válido ressaltar que os caminhos defi- instrumento para mediar conflitos e tomar
nidos enquadram-se na perspectiva atual do decisões; e, assim, perceberem-se como
projeto filosófico educativo do país que re- agentes transformadores da realidade social
quer a interdisciplinaridade, a transdiscipli- e histórica do país, identificando as caracte-
naridade e a transversalidade, na qualidade rísticas estruturais e conjunturais da realida-
de meios de garantia de um ensino-aprendi- de social e as interações entre elas, a fim de
zagem bem-sucedido. Ou seja, os objetos pri- contribuírem ativamente para a melhoria da
vilegiados nos Componentes Curriculares do qualidade da vida social, institucional e indi-
Ensino Médio deverão ser focados em uma vidual; devem, ainda, conhecer e valorizar a
perspectiva abrangente, na qual eles serão diversidade que caracteriza a sociedade bra-
objetos de estudo do maior número possível sileira, posicionando-se contra quaisquer for-
de Componentes Curriculares. Dessa forma, mas de discriminação baseada em diferenças
entende-se que o educando poderá apreen- culturais, classe social, crença, gênero, orien-
dê-los em toda a sua complexidade. tação sexual, etnia e em outras característi-
É assim que temas como a diferença socio- cas individuais e sociais.
cultural de gênero, de orientação sexual, de Espera-se que esta Proposta seja uma fer-
etnia, de origem e de geração perpassam por ramenta de gestão educacional e pedagógica,
todos os componentes, visando trazer ao de- com ideias e sugestões que possam estimular
bate, nas salas de aula, os valores humanos o raciocínio estratégico-político e didático-
e as questões que estabelecem uma relação -educacional, necessário à reflexão e ao de-
dialógica entre os diversos campos do co- senvolvimento de ações educativas coerentes
nhecimento. Nesse sentido, foi pensado um com princípios estéticos, políticos e éticos,
Currículo amplo e flexível, que expressasse orientados por competências básicas que esti-
os princípios e as metas do projeto educati- mulem os princípios pedagógicos da identida-
vo, possibilitando a promoção de debates, a de, diversidade e autonomia, da interdiscipli-
partir da interação entre os sujeitos que com- naridade e da contextualização enquanto es-
põem o referido processo. truturadores do currículo (DCNEM, 2011,11),
Assim, os processos de desenvolvimento e que todo esse movimento chegue às salas
das ações didático-pedagógicas devem possi- de aula, transformando a ação pedagógica e
bilitar a reflexão crítica sobre as questões que contribuindo para a excelência da formação
emergem ou que resultem das práticas dos in- dos educandos.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 17

Para que se chegasse a essa fundamen- gerais, e colegial, com duração de três anos,
tação pedagógica, filosófica, sociológica da que oferecia os cursos Clássico e Científico.
educação, foram concebidas e aperfeiçoa­das O cenário político brasileiro de 1964,
Leis de Diretrizes e Bases da Educação Na- que culminou no golpe de Estado, determi-
cional. No contexto legislativo-educacional, nou novas orientações para a política edu-
destacam-se as Leis nº 4.024/61, 5.692/71 e cacional do país. Foram estabelecidos novos
9.394/96 que instituíram bases legais para a acordos entre o Brasil e os Estados Unidos da
educação brasileira como normas estrutura- América, dentre eles o MEC-Usaid. Constava,
doras da Educação Nacional. no referido acordo, que o Brasil receberia re-
Todavia, o quadro da educação brasileira cursos para implantar uma nova reforma que
nem sempre esteve consolidado, pois antes atendesse aos interesses políticos mundiais,
da formulação e da homologação das Leis objetivando vincular o sistema educacional
de Diretrizes e Bases, a educação não era o ao modelo econômico imposto pela política
foco das políticas públicas nacionais, visto norte-americana para a América Latina (ARA-
que não constava como uma das principais NHA, 2010). É no contexto de mudanças sig-
incumbências do Estado garantir escola pú- nificativas para o país, ocasionadas pela nova
blica aos cidadãos. conjuntura política mundial, que é promulga-
O acesso ao conhecimento sistemático, da a nova LDB nº 5.692/71. Essa Lei é gerada
oferecido em instituições educacionais, era no contexto de um regime totalitário, portan-
privilégio daqueles que podiam ingressar em to contrário às aspirações democráticas emer-
escolas particulares, tradicionalmente reli- gentes naquele período.
giosas de linha católica que, buscando seus Nas premissas dessa Lei, o ensino profis-
interesses, defendiam o conservadorismo sionalizante do 2.o grau torna-se obrigatório.
educacional, criticando a ideia do Estado em Dessa forma, ele é tecnicista, baseado no
estabelecer um ensino laico. modelo empresarial, o que leva a educação a
Somente com a Constituição de 1946, o adequar-se às exigências da sociedade indus-
Estado voltou a ser agente principal da ação trial e tecnológica. Foi assim que o Brasil se in-
educativa. A lei orgânica da Educação Primá- seriu no sistema do capitalismo internacional,
ria, do referido ano, legitimou a obrigação do ganhando, em contrapartida, a abertura para
Estado com a educação (Barbosa, 2008). Em o seu crescimento econômico. A implantação
meio a esse processo, e após inúmeras reivin- generalizada da habilitação profissional trou-
dicações dos pioneiros da Educação Nova e xe, entre seus efeitos, sobretudo para o ensino
dos intensos debates que tiveram como pano público, a perda da identidade que o 2.o grau
de fundo o anteprojeto da Lei de Diretrizes passará a ter, seja propedêutica para o Ensino
e Bases, é homologada a primeira LDB, nº Superior, seja a de terminalidade profissional
4.024/61, que levou treze anos para se con- (Parecer CEB 5/2011). A obrigatoriedade do
solidar, entrando em vigor já ultrapassada e ensino profissionalizante tornou-se faculta-
mantendo em sua estrutura a educação de tiva com a Lei nº 7.044/82 que modificou os
grau médio: ginasial, com duração de quatro dispositivos que tratam do referido ensino, no
anos, destinada a fundamentos educacionais 2.o grau.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
18 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

Pode-se dizer que o avanço educacional do rização dos Profissionais da Educação – Fun-
país estabeleceu-se com a Lei de Diretrizes e deb, que oferece subsídios a todos os níveis
Bases da Educação nº 9.394/96, que alterou da educação, inclusive ao Ensino Médio.
a estrutura do sistema educacional brasileiro Na atual Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
quando no Titulo II – Dos Princípios e Fins da cação, o Ensino Médio tem por finalidade pre-
Educação Nacional – Art. 2.o, declara: A edu- parar o educando para a continuidade dos es-
cação, dever da família e do Estado, inspira- tudos, para o trabalho e para o exercício da ci-
da nos princípios de liberdade e nos ideais de dadania, primando por uma educação escolar
solidariedade humana, tem por finalidade o fundamentada na ética e nos valores de liber-
pleno desenvolvimento do educando, seu pre- dade, justiça social, pluralidade, solidariedade
paro para o exercício da cidadania e sua qua- e sustentabilidade. As prerrogativas da Lei su-
lificação para o trabalho. pracitada acompanham as grandes mudanças
Essa Lei confere legalidade à condição do sociais, sendo, dessa forma, exigido da escola
Ensino Médio como parte integrante da Edu- uma postura educacional responsável, capaz
cação Básica, descrevendo, no artigo 35, os de forjar homens, não somente preparados
princípios norteadores desse nível de ensino: para integrar-se socialmente, como também
de promover o bem comum, concretizando a
O Ensino Médio, etapa final da educação afirmação do homem-cidadão.
básica, com duração mínima de três anos, Norteadas pela Lei de Diretrizes e Bases
terá como finalidades: I – a consolidação e da Educação, apresentam-se as Diretrizes
o aprofundamento dos conhecimentos ad- Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
quiridos no Ensino Fundamental, possibili- (Parecer CEB 5/2011), que tem como pres-
tando o prosseguimento de estudos; II – a supostos e fundamentos: Trabalho, Ciência,
preparação básica para o trabalho e a cida- Tecnologia e Cultura.
dania do educando, para continuar apren- Quando se pensa em uma definição para
dendo, de modo a ser capaz de se adaptar o conceito Trabalho, não se pode deixar de
com flexibilidade a novas condições de ocu- abordar a sua condição ontológica, pois essa é
pação ou aperfeiçoamento posteriores; III – condição imprescindível para a humanização
o aprimoramento do educando como pes- do homem. É por meio dele que se instaura o
soa humana, incluindo a formação ética e o processo cultural, ou seja, é no momento em
desenvolvimento da autonomia intelectual que o homem age sobre a natureza, transfor-
e do pensamento crítico; IV – a compreen- mando-a, que ele se constitui como um ser
são dos fundamentos científico-tecnológi- cultural. Portanto, o Trabalho não pode ser
cos dos processos produtivos, relacionando desvinculado da Cultura, pois estes se com-
a teoria com a prática, no ensino de cada portam como faces da mesma moeda. Sinte-
disciplina. tizando, pode-se dizer que o homem produz
sua realidade, apropria-se dela e a transfor­
Com a incorporação do Ensino Médio à ma, somente porque o Trabalho é uma con-
Educação Básica, entra em vigor, a partir do dição humana/ontológica e a Cultura é o re-
ano de 2007, o Fundo de Manutenção e De- sultado da ação que possibilita ao homem ser
senvolvimento da Educação Básica e de Valo- homem.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 19

Trabalho, Ciência, Tecnologia e Cultura surgem como propiciadoras de um novo mun-


constituem um todo que não se pode disso- do, inclusive, determinando o nível de desen-
ciar, isso porque ao se pensar em Trabalho volvimento socioeconômico de um país.
não se pode deixar de trazer ao pensamento Seguindo as orientações das Diretrizes
o resultado que ele promove, ou seja, a pro- Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, a
dução. Imediatamente, compreende-se que a formação integral do educando deve promo-
Tecnologia não é possível sem um pensamen- ver reflexões críticas sobre modelos culturais
to elaborado, sistemático e cumulativo, daí, pertinentes à comunidade em que ele está
pensar-se em Ciência. Para se ter a ideia do inserido, bem como na sociedade como um
que é referido, pode-se recorrer aos primór- todo. Sob essa ótica, é de fundamental impor-
dios da humanidade, quando o homem trans- tância haver unicidade entre os quatro pres-
formou uma pedra em uma faca, a fim de se supostos educacionais: Trabalho, Ciência,
proteger das feras. Nos dias de hoje, quando a Tecnologia e Cultura que devem estar atrela-
Ciência tornou-se o núcleo fundante das nos- dos entre pensamento e ação e a busca inten-
sas vidas, retirando o homem do seu pedes- cional das convergências entre teoria e práti-
tal, pois foi com o seu triunfo que ele deixou ca na ação humana (Parecer CEB 5/2011).
de ser o centro do universo, as Tecnologias

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 21

Currículo Escolar: Aproximação com o cotidiano

A discussão sobre o Currículo Básico é O excerto em destaque trata da vinculação


hoje um tema presente nos projetos políti- ou da dependência do Currículo ao contexto
co-pedagógicos das escolas, nas pesquisas, no qual ele está inserido. Nele, as várias re-
nas teorias pedagógicas, na formação inicial lações que se estabelecem socialmente estão
e continuada dos professores e gestores, e, incluídas, dado que se trata de uma represen-
ainda, nas propostas dos sistemas de ensino, tação social e, por isso, todas as sensações,
tendo no seu centro a especificidade do co- especulações, conhecimentos e sentimentos,
nhecimento escolar, priorizando o papel da para que ele contemple as necessidades dos
escola como instituição social voltada à tare- educandos, são abordadas. Por outro lado,
fa de garantir a todos o acesso aos saberes não se pode desprezar a produção cognitiva,
científicos e culturais. resultado do acúmulo de conhecimentos que
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacio- garantem a permanência da humanidade.
nais para o Ensino Médio, em seu artigo 8.°: Conforme diversos autores citados por
Sabini (2007), esses fundamentados no texto
O Currículo é organizado em áreas de co- de Sacristán e de Seed (2003), o Currículo é
nhecimento, a saber: um conjunto de conhecimentos ou de maté-
rias a ser apreendido pelo educando dentro
I – Linguagens. de um ciclo-nível educativo ou modalidade
II – Matemática. de ensino; o Currículo é uma experiência re-
III – Ciências da Natureza. criada nos educandos, por meio da qual po-
IV – Ciências Humanas. dem desenvolver-se; o Currículo é uma tarefa
e habilidade a serem dominadas; o Currículo
§1.° – O currículo deve contemplar as qua- é um programa que proporciona conteúdos e
tro áreas do conhecimento, com tratamen- valores, para que os educandos melhorem a
to metodológico que evidencie a contextu- sociedade, podendo até mesmo reconstruí-la.
alização e a interdisciplinaridade ou outras Para Silva (2004), o Currículo é definido,
formas de interação e articulação entre portanto, como lugar, espaço, território, rela-
diferentes campos de saberes específicos. ção de poder. Como sabemos, ele também é
o retrato da nossa vida, tornando-se um do-
§2.° – A organização por área de conheci- cumento de identidade em termos de apren-
mento não dilui nem exclui Componentes dizagem e construção da subjetividade. Isso
Curriculares com especificidades e sabe- serve para mostrar a importância que o Currí-
res próprios construídos e sistematizados, culo pode tomar nas nossas vidas.
mas implica no fortalecimento das relações Considerando a história do Currículo es-
entre eles e a sua contextualização para colar, remetemo-nos ao momento em que se
apreensão e intervenção na realidade, re- iniciam as reflexões sobre o ensino ou quan-
querendo planejamento e execução conju- do ele é considerado como uma ferramenta
gados e cooperativos dos seus professores. pedagógica da sociedade industrial. Assim,

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
22 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

partindo do contexto social, o Currículo se faz teo­ria única, mas um conjunto de teorias e
presente em formas de organização da socie- saberes, ou seja, o Currículo, desatrelado do
dade. Dessa forma, podemos compreendê-lo aspecto de simples listagem de conteúdos,
como produto de um processo de conflitos passa a ser um processo constituído por um
culturais dos diferentes grupos de professores encontro cultural, de saberes, de conheci-
que o elaboram (LOPES, 2006). Lopes com- mentos escolares na prática da sala de aula,
preende, ainda, que é necessário conhecer local de interação professor e educando.
as várias formas de conceituação de Currículo Nesse sentido, cabe àqueles que condu-
que são elaboradas para nortear o trabalho zem os destinos do país, e, especificamente,
dos professores em sala de aula. Para Lopes aos que gerem os destinos da Educação no
(idem), o Currículo é elaborado em cada esco- Amazonas encontrar o melhor caminho para
la, com a presença intelectual, cultural, emo- o norteamento do que é necessário, conside-
cional, social e a memória de seus participan- rando a realidade local, a realidade regional
tes. É na cotidianidade, formada por múltiplas e a nacional. E, ainda, sem deixar de conside-
redes de subjetividade, que cada um de nós rar os professores, os gestores, os educandos,
forja nossas histórias de educandos e de pro- os pais e a comunidade em geral. Não basta,
fessores. apenas, a fundamentação teórica bem alicer-
Considerando a complexidade da história çada, mas o seu entendimento e a sua aplica-
do Currículo, não é possível conceber uma ção à realidade.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 23

Um conhecimento fundado SOBRE Competências


e Habilidades

A Secretaria de Estado de Educação e Qua- conhecimentos adquiridos em sala de aula e


lidade do Ensino, com base nas Diretrizes Cur- fora dela, o que necessariamente implica um
riculares do Ensino Médio, reitera em sua Pro- trabalho interdisciplinar.
posta Curricular os seguintes pressupostos: Ao falarmos em Interdisciplinaridade no
formação integral dos educandos; o trabalho ensino, é preciso considerar a contribuição
e a pesquisa como princípio educativo e peda- dos PCN. Um olhar mais atento a esse docu-
gógico; a indissociabilidade entre educação e mento revela-nos a opção por uma concep-
prática social, considerando-se a historicidade ção instrumental de Interdisciplinaridade:
dos conhecimentos e dos sujeitos do processo
educativo, bem como entre teoria e prática no Na perspectiva escolar, a interdisciplinari-
processo de ensino-aprendizagem; a integra- dade não tem a pretensão de criar novas
ção de conhecimentos gerais e, quando for o disciplinas ou saberes, mas de utilizar os
caso, de conhecimentos técnico-profissionais. conhecimentos de várias disciplinas para
Os pressupostos garantidos implicam a resolver um problema concreto ou compre-
responsabilidade dos atores perante o pro- ender um fenômeno sob diferentes pontos
cesso educativo na busca constante dos me- de vista. Em suma, a Interdisciplinaridade
canismos que o transformem em ação efetiva. tem uma função instrumental. Trata-se de
Esses mecanismos dizem respeito ao porquê recorrer a um saber útil e utilizável para
e como trabalhar determinados conhecimen- responder às questões e aos problemas
tos de forma a atingir a formação integral do sociais contemporâneos (BRASIL, 2002, p.
cidadão, vivenciando, assim, a dimensão so- 34-36).
ciopolítica da educação, o que define o Cur-
rículo como ferramenta de construção social. Nos PCN+ (2002), o conceito de Interdis-
Nesse sentido, esta Proposta sugere o Ensino ciplinaridade fica mais claro. Neles é destaca-
fundado em Competências e a não fragmen- do que um trabalho interdisciplinar, antes de
tação dos conhecimentos em disciplinas iso- garantir associação temática entre diferentes
ladas, o que exige uma postura interdiscipli- disciplinas – ação possível, mas não impres-
nar do professor. Os Parâmetros Curriculares cindível – deve buscar unidade em termos de
Nacionais do Ensino Médio (PCN +) orientam prática docente, independentemente dos te-
a organização pedagógica da escola em tor- mas/assuntos tratados em cada disciplina iso-
no de três princípios orientadores, a saber: a ladamente. Essa prática docente comum está
Contextualização, a Interdisciplinaridade, as centrada no trabalho permanentemente vol-
Competências e Habilidades. tado para o desenvolvimento de Competên-
Para melhor compreender os pressupos- cias e de Habilidades, apoiado na associação
tos, apresenta-se a definição: contextualizar ensino-pesquisa e no trabalho expresso em
significa localizar um conhecimento determi- diferentes linguagens, que comportem diver-
nado no mundo, relacionando-o aos demais sidades de interpretação sobre os temas/as-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
24 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

suntos abordados em sala de aula. Portanto, Os caminhos na busca da Interdisciplina-


são esses elementos que dão unidade ao de- ridade devem ser percorridos pela equipe
senvolvimento dos diferentes Componentes docente de cada unidade escolar. O ponto de
Curriculares, e não a associação dos mesmos partida é determinado pelos problemas esco-
em torno de temas supostamente comuns a lares compartilhados pelos professores e por
todos eles. sua experiência pedagógica. O destino é de-
Esta proposta é expressiva porque ela terminado pelos objetivos educacionais, ou
promove a mobilização da comunidade es- melhor, pelo projeto político pedagógico da
colar em torno de objetivos educacionais escola. A Interdisciplinaridade, nesse sentido,
mais amplos, que estão acima de quaisquer assume como elemento ou eixo de integração
conteúdos, porém sem descaracterizar os a prática docente comum voltada para o de-
Componentes Curriculares ou romper com senvolvimento de Competências e Habilida-
os mesmos. Sua prática na escola cria, acima des comuns nos educandos.
de tudo, a possibilidade do “encontro”, da No que diz respeito à Competência, cabe
“partilha”, da cooperação e do diálogo e, por dizer que numa sociedade em que o conhe-
isso, traz-se nesta proposta a perspectiva da cimento transformou-se no principal fator
Interdisciplinaridade como ação conjunta dos de produção, um dos conceitos que transita
professores. entre o universo da economia e da educação
Ivani Fazenda (1994, p. 82) fortalece essa é o termo “competência”. A ideia de compe-
ideia, quando fala das atitudes de um “profes- tência surge na economia como a capacidade
sor interdisciplinar”: de transformar uma tecnologia conhecida em
um produto atraente para os consumidores.
Entendemos por atitude interdisciplinar No contexto educacional, o conceito de com-
uma atitude diante de alternativas para petência é mais abrangente. No documento
conhecer mais e melhor; atitude de espera básico do Enem, as competências são associa-
ante os atos consumados, atitude de reci- das às modalidades estruturais da inteligên-
procidade que impele à troca, que impele cia ou às ações e às operações que utilizamos
ao diálogo – ao diálogo com pares idênti- para estabelecer relações com e entre obje-
cos, com pares anônimos ou consigo mes- tos, situações, fenômenos e pessoas.
mo – atitude de humildade diante da limi- Para entendermos o que se pretende, é
tação do próprio saber, atitude de perple- necessário dizer que o ensino fundado em
xidade ante a possibilidade de desvendar Competências tem as suas bases nos vários
novos saberes, atitude de desafio – desafio documentos elaborados, a partir das discus-
perante o novo, desafio em redimensio- sões mundiais e nacionais sobre educação,
nar o velho – atitude de envolvimento e dentre eles a Conferência Mundial de Edu-
comprometimento com os projetos e com cação Para Todos, realizada na Tailândia, em
as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, 1990, os “Pilares da Educação para o Século
de compromisso em construir sempre, da XXI”1: aprender a conhecer, a fazer, a viver, a
melhor forma possível, atitude de respon-
sabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de 1 Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre
revelação, de encontro, de vida. Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques
Delors. O Relatório está publicado em forma de livro no
Brasil, com o título Educação: Um Tesouro a Descobrir (São
Paulo: Cortez Editora, Unesco, MEC, 1999).
PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 25

ser; e nas Diretrizes Curriculares Nacionais – • Localizar, acessar e usar melhor a infor-
Parâmetros Curriculares Nacionais. Todos es- mação acumulada;
ses documentos enfatizam a necessidade de • Planejar, trabalhar e decidir em grupo.
centrar o ensino e a aprendizagem no desen-
volvimento de Competências e de Habilidades Concebe-se que uma pessoa é competen-
por parte do educando, em lugar de centrá-lo, te quando tem os recursos para realizar bem
apenas, no conteúdo conceitual. uma determinada tarefa, ou seja, para resol-
Como se pode comprovar, tanto o Ensino ver uma situação complexa. O sujeito está ca-
Fundamental quanto o Ensino Médio têm tra- pacitado para tal quando tem disponíveis os
dição conteudista. Na hora de falar de Com- recursos necessários para serem mobilizados,
petência mais ampla, carrega-se no conteúdo. com vistas a resolver os desafios na hora em
Não estamos conseguindo separar a ideia de que eles se apresentam. Nesse sentido, educar
Competência da ideia de Conteúdos, porque a para Competências é, então, ajudar o sujeito
escola traz para os educandos respostas para a adquirir as condições e/ou recursos que de-
perguntas que eles não fizeram: o resultado é verão ser mobilizados para resolver situações
o desinteresse. As perguntas são mais impor- complexas. Assim, educar alguém para ser um
tantes do que as respostas, por isso o enfo- pianista competente é criar as condições para
que das Diretrizes/Parâmetros nos conteúdos que ele adquira os conhecimentos, as habili-
conceituais, atitudinais e procedimentais, o dades, as linguagens, os valores culturais e os
que converge para a efetivação dos pilares da emocionais relacionados à atividade específica
Educação para o século XXI. Todavia, é hora de tocar piano muito bem (MORETTO, 2002).
de fazer e de construir perspectivas novas. As- Os termos Competências e Habilidades,
sim, todos nós somos chamados a refletir e a por vezes, se confundem; porém fica mais fá-
entender o que é um ensino que tem como cil compreendê-los se a Competência for vista
uma das suas bases as Competências e Habi- como constituída de várias Habilidades. Mas
lidades. uma Habilidade não “pertence” a determina-
O Ministério da Educação determina as da Competência, uma vez que a mesma Ha-
competências essenciais a serem desenvolvi- bilidade pode contribuir para Competências
das pelos educandos do Ensino Fundamental diferentes. É a prática de certas Habilidades
e Médio: que forma a Competência. A Competência é
algo construído e pressupõe a ação intencio-
• Dominar leitura/escrita e outras lingua- nal do professor.
gens; Para finalizar, convém dizer que esta Pro-
• Fazer cálculos e resolver problemas; posta caminha lado a lado com as necessida-
• Analisar, sintetizar e interpretar dados, des educacionais/sociais/econômicas/filosófi-
fatos, situações; cas e políticas do país, que não deixam de ser
• Compreender o seu entorno social e as do mundo global. Assim sendo, é interesse
atuar sobre ele; dos educadores preparar a juventude amazo-
• Receber criticamente os meios de co- nense para enfrentar os desafios que se apre-
municação; sentam no século XXI, daí ao conhecimento
fundado em Competências e Habilidades.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 27

Áreas do conhecimento: A integração dos saberes

A Proposta Curricular do Ensino Médio totalidade. Uma perspectiva, como se pode


compreende as quatro Áreas de Conhecimen- ver, dos novos tempos.
to, constantes da base nacional comum dos Em Matemática e suas Tecnologias abor-
currículos das escolas de Ensino Médio e es- daram-se conhecimentos que destacassem
tabelece, como fundamento pedagógico, con- aspectos do real, cabendo ao educando com-
teúdos os quais devem ser inclusos, fundados preender os princípios científicos nas tecno-
sobre Competências, previamente analisados, logias, associando-os aos problemas que se
reagrupados e organizados em conformidade busca resolver de modo contextualizado. E,
com as necessidades dos envolvidos: educan- ainda, trazendo a Matemática para a concre-
dos, professores, gestores, todos os profissio- tude do educando. Com isso, quer-se dizer
nais do processo educativo. que a Matemática abandona o espaço abs-
A organização nas quatro Áreas de Conhe- trato, apenas atingível pelo pensamento, para
cimento tem por base compartilhar o objeto explicar a rea­lidade do educando, por meio
de estudo, considerando as condições para das situações-problema em que se situam o
que a prática escolar seja desenvolvida em homem concreto, real, em um universo ma-
uma perspectiva interdisciplinar, visando à terial, espiritual, emocional. Podendo-se até
transdisciplinaridade. mesmo dizer que a proposta de Matemática
Em Linguagens, Códigos e suas Tecnolo- é feita com as nossas emoções, com as nos-
gias, elencaram-se Competências e Habili- sas paixões, discutindo-se esse conhecimento
dades que permitam ao educando adquirir na sua região de saber, problematizando-se o
domínio das linguagens como instrumentos próprio império da razão.
de comunicação, em uma dinamicidade, e si­ Em Ciências da Natureza e suas Tecnolo-
tuada no espaço e no tempo, considerando as gias, consideraram-se conhecimentos que
relações com as práticas sociais e produtivas, contemplem a investigação científica e tecno-
no intuito de inserir o educando em um mun- lógica, como atividades institucionalizadas de
do letrado e simbólico. Como se sabe, a lin- produção de conhecimento. Mais uma vez,
guagem é instauradora do homem. Sem ela, entende-se que o conhecimento não pode
ele não existe, pois somente assim, quando se mais ser concebido de forma compartimen-
considera que o homem fala, é que se diz que tada, como se cada uma das suas esferas fos-
ele existe, pois é a linguagem que o distingue se de direito e de posse de cada um. Assim,
dos demais animais. Nesse sentido, a lingua- vislumbram-se, sobretudo, a interdisciplina-
gem é ampla, explicitada pela fala, pelo corpo, ridade e a transdisciplinaridade. O momento
pelo gesto, pelas línguas. Aqui, discute-se as em que se constrói um novo conhecimento
Áreas de Conhecimento, superando-se o com- é privilegiado, pois ele retorna a um estágio
partimento das disciplinas, porque somente inaugural, no qual o saber não se comparti-
agora o homem se compreendeu como um menta, mas busca a amplitude, visando com-
ser que poderá ser visto e reconhecido na sua preender o objeto de forma ampla, conside-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
28 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

rando sua complexidade. Por isso, a Física, Para o Ensino Médio do Estado do Amazo-
por exemplo, pode ser expressa em forma de nas, pensou-se em organizar os Componentes
poema, e a Biologia, que trata da vida dos se- Curriculares fundamentados nas diretrizes nor-
res, pode ser expressa em forma de música. teadoras desse nível de ensino, sem desconsi-
Somente assim o homem poderá falar de um derar as questões de cunho filosófico, psicoló-
homem mais humano, em uma perspectiva gico, por exemplo, que as mesmas implicam,
total, integradora. expressas pelo Ministério da Educação, consi-
Em Ciências Humanas e suas Tecnologias, derando a autonomia das instituições escola-
em que se encontra também a Filosofia, con- res e a aprendizagem dos educandos de modo
templam-se consciências críticas e criativas, efetivo. Os conteúdos apresentam-se por meio
com condições de responder de modo ade- de temas, os quais comportam uma bagagem
quado a problemas atuais e a situações novas, de assuntos a serem trabalhados pelos profes-
destacando-se a extensão da cidadania, o uso sores, conforme as especificidades necessárias
e a produção histórica dos direitos e deveres para cada nível de ensino. As Competências e
do cidadão e, ainda, considerando o outro em Habilidades expressam o trabalho a ser pro-
cada decisão e atitude. O importante é que o posto pelo professor quanto ao que é funda-
educando compreenda a sociedade em que mental para a promoção de um educando mais
vive, como construção humana, entendida preparado para atuar na sociedade. E os pro-
como um processo contínuo. Não poderia dei- cedimentos metodológicos, como sugestões,
xar de ser mais problemática a área de Ciên- auxiliam o professor nas atividades a serem
cias Humanas, pois ela trata do homem. Ten- experienciadas pelos educandos, ressaltando-
do o homem como seu objeto, ela traz para -se que se trata de um encaminhamento que
si muitos problemas, pois pergunta-se: Quem norteará a elaboração de um Planejamento
é o homem? Quem é este ser tão complexo Estratégico Escolar.
e enigmático? Estas são questões propostas Ressalta-se, também, que foram acrescen-
pela própria Área de Conhecimento de Ciên- tadas alternativas metodológicas para o ensi-
cias Humanas. Todavia, ela existe porque o ho- no dos Componentes Curriculares constantes
mem existe e é por isso que ela exige a forma- do Ensino Médio, no intuito de concretizar
ção e a atenção de profissionais competentes. esta Proposta, além de propiciar ao profes-
Considerando-se toda a problemática que a sor ferramentas com as quais poderá contar
envolve é que a atenção sobre a mesma é re- como um recurso a mais no encaminhamento
dobrada e que os cuidados são mais exigidos. de seu trabalho em sala de aula.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 29

1
O COMPONENTE CURRICULAR
INTEGRADOR DA MATRIZ DO
ENSINO MÉDIO

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 31

1.1 A Biologia no Ensino Médio visão da própria experiência educativa e das


matrizes que fundamentam aprendizagens
Marandino et al. (2009) destacam que, na construídas a partir da experiência dos edu-
concepção do ensino secundário brasileiro candos; apropriação ativa do saber, por meio
nos anos 1930, percebia-se a integração pe- de atitude crítica e reflexiva diante do conhe-
dagógica proposta para a disciplina escolar cimento; a participação e análise da realidade
Ciências Físicas e Naturais, justificado pelo social, política e cultural, histórica e o con-
fato de que as áreas que integram as Ciências texto de sua posição na produção” (Borges;
(Química, Física e Biologia) possuíam um mé- Ghedim, 2010, 27).
todo único. Posteriormente, essa percepção Entre os paradigmas educacionais emer-
permaneceu no Ensino Fundamental com o gentes necessários para pensar em renova-
Ensino de Ciências; no Ensino Secundário foi ção curricular, reforça-se a necessidade de
fragmentado nas disciplinas e perdeu-se a pensar no educando que se quer formar, sem
conectividade. Atualmente, busca-se a inter- perder o foco de que ele é um sujeito ativo,
ligação dessas disciplinas, por meio de ações criativo e autônomo, além da incorporação
interdisciplinares. Moraes (2003) destaca ou- de incertezas, de imprevistos e do aleatório
tro desafio contemporâneo, além da Interdis- nas propostas curriculares (Moraes, 2003).
ciplinaridade, que é o do acompanhamento Maldaner (2007) destaca a necessidade que
do processo de rápidas transformações nas o jovem sente de dominar novos conteúdos
formas de viver e de conviver, nos modos de para sentir-se participante dessa sociedade
fazer e de ser, que provocam mudanças sobre que está em constante inovação.
o que deve ser aprendido e sobre quais as
competências necessárias para correlacionar-
-se com essas mudanças.
As novas tecnologias são indicadas como
As novas tecnologias são indicadas como vetores responsáveis pela aceleração
vetores responsáveis pela aceleração dessas dessas mudanças, pois são elas que
mudanças, pois são elas que transformam a transformam a economia, globalizam
economia, globalizam os processos, destroem os processos, destroem barreiras e
barreiras e diminuem as distâncias, gerando, diminuem as distâncias, gerando, com
com isso, a necessidade de novos espaços isso, a necessidade de novos espaços
para trafegar o conhecimento, novas meto-
dologias, novas práticas pedagógicas funda-
para trafegar o conhecimento, novas
mentadas em novos paradigmas da ciência metodologias, novas práticas pedagógicas
(Moraes, 2003). Contudo, essas mudanças fundamentadas em novos paradigmas da
pedagógicas não devem ser descontextua- ciência (Moraes, 2003).
lizadas da realidade local, por isso Borges e
Ghedim (2010) propõem análises curriculares
baseadas no contexto da realidade educacio- Segundo Libâneo et al. (2007), os princí-
nal, não perdendo o foco do objeto dessas pios pedagógicos estruturantes dos currículos
mudanças, o educando. Para tanto, sugerem do Ensino Médio são:
três elementos essenciais de reflexão: “A re-

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
32 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

1) Identidade – refere-se ao conhecimento Tecnologia, buscando desenvolver no educan-


que as escolas devem ter sobre o nível do uma postura ativa e crítica nas dimensões
de ensino, que respeitem as condições e da vida pessoal, social e cultural. Daí emerge
as necessidades de espaço e de tempo a necessidade de uma educação que priori-
para a aprendizagem; ze a formação do ser, da autoestima, tendo
2) Diversidade e autonomia – devem ser como foco maior atenção ao fazer, convidan-
consideradas as características do edu- do o aprendiz à reflexão, para que ele possa
cando e as demandas sociais, para ofe- desenvolver autonomia, criatividade e critici-
recer um programa diversificado e alter- dade (Moraes, 2003).
nativo; Para que ocorra a contextualização, pen-
3) Interdisciplinaridade – refere-se ao prin- sando em uma proposta de aprendizagem
cípio de que todo o conhecimento deve significativa para o educando, é necessário
manter diálogo com outros conheci- um educador, profissional que transite entre
mentos; a teoria e a prática e que reflita sobre a ação
4) Contextualização – deve-se valorizar a dessa prática, não somente como “professor
aplicação dos conhecimentos teóricos à reflexivo”, mas como “intelectual crítico”. Esse
solução de problemas do cotidiano do profissional é aquele que vai além dos muros
educando, de forma que relacione teo- de sua sala de aula, que reflete sua prática
ria e prática, vida de trabalho e exercício na sociedade, que compreende o contexto
da cidadania. em que sua comunidade está inserida, que
conhece o currículo de formação de seu edu-
Na mesma abordagem de valorização do cando e a proposta pedagógica de sua escola
educando na proposta curricular do Ensino (Bastos, Nardi, 2008).
Médio, Gonzaga (2010) destaca que a contex- O professor de Biologia deverá ser um
tualização deve ser um meio de desenvolver agente:
atitudes e valores, considerando o poder de
influência que os educandos têm e a forma de 1) Multiplicador de ideias;
inserção dos mesmos na sociedade, refletin- 2) Orientador para propor medidas pre-
do sobre as questões referentes à Ciência e à ventivas quanto a situações epidêmicas,
a doenças sexualmente transmissíveis
(DSTs), dentre outras;
Para que ocorra a contextualização 3) Mediador entre os problemas sociais de
pensando em uma proposta de origem de planejamento familiar;
4) Socializador de informações à comuni-
aprendizagem significativa para o dade escolar quanto à responsabilida-
educando, é necessário um educador, de e às consequências do mundo das
profissional que transite entre a teoria e drogas;
a prática e que reflita sobre a ação dessa 5) Intermediador entre os conceitos cien-
prática, não somente como “professor tíficos acumulados ao longo da história
reflexivo”, mas como “intelectual crítico”. acadêmica e os conhecimentos atuais
biotecnológicos, diante da realidade do

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 33

educando (Governo do Estado de São


Paulo, 2008). As mudanças curriculares atuais, nos
cursos de formação de professores
Contudo, a falta de conhecimentos teóri- de Biologia, têm proporcionado
co-pedagógicos na formação dos professores condições favoráveis para que os
pode implicar o comprometimento desse pro- licenciados interessem-se pelas questões
fissional com os avanços das reformas curricu- educacionais.
lares. Lippe e Bastos (2008) destacam que as
mudanças curriculares atuais, nos cursos de
formação de professores de Biologia, especifi-
camente com o fato de as disciplinas pedagó- de cada indivíduo, para que o mesmo encon-
gicas serem ministradas desde o primeiro ano tre um significado no que está aprendendo
do curso, têm proporcionado condições favo- (Lippe; Bastos, 2008).
ráveis para que os licenciados interessem-se A Proposta Curricular do Ensino de Biolo-
pelas questões educacionais, pois pesquisas gia deve estar relacionada com o que cerca o
anteriores apontavam maior interesse do bió­ educando, o seu mundo de informações, para
logo pela pesquisa ou por outras atividades que o mesmo possa decodificar essas infor-
profissionais e não pela educação. mações, tais como: as questões emergentes
Nesse contexto de mudanças e de trans- do aquecimento global, o uso de tecnologias,
formações no âmbito escolar, impõe-se a ne- os avanços da medicina, as discussões sobre
cessidade de uma capacidade de leitura dessa células-tronco embrionárias e o seu papel na
linguagem específica, denominada alfabetiza- cidadania. Essas discussões estão no campo
ção científica. Chassot (2008) enfatiza que a do letramento científico, pois as informações
Ciência deve cumprir esse papel, ao contribuir
para controlar e prever as transformações, ao
objetivar explicar o mundo natural, discor- Nesse contexto de mudanças e de
rendo sobre três situações indispensáveis na
transformações no âmbito escolar gera
reflexão do professor que busca essas mu-
danças – uma ideal, uma real e uma possível. a necessidade de uma capacidade de
No campo da Ciência, Chassot (2001) lança leitura dessa linguagem específica,
uma inquietação sobre o “ensinar para quê”? denominada de alfabetização
Pretende-se que o ensino de Biologia procure científica. Chassot (2008) enfatiza que
formar cidadãos mais críticos, conscientes de a Ciência deve cumprir esse papel, ao
seu papel social e político, facilitando o acesso contribuir para controlar e prever as
às novas tecnologias e às descobertas cientí-
transformações, ao objetivar explicar o
ficas, por meio de um ensino contextualizado
e dando ao conteúdo estudado uma aplica- mundo natural, discorrendo sobre três
bilidade para a vida. Para tanto, os professo- situações indispensáveis na reflexão do
res devem desenvolver uma prática reflexiva professor que busca essas mudanças –
aliada à aprendizagem significativa, quando o uma ideal, uma real e uma possível.
professor se interessa pelo contexto de vida

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
34 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

sala de aula, atividades externas, programas


Estas conquistas e seus desafios é que
de estudo por projetos e discussões, entre ou-
se pretende discutir nesta abordagem, tras. Mas a variação dessas modalidades é o
esperando contribuir com aqueles que que torna o aprendizado mais efetivo no meio
estão assumindo a proposta como uma escolar e não a predominância de qualquer
oportunidade de fazer a diferença. um deles.
Conforme os PCN+ do Ensino Médio (Bra-
sil, 2002), o objetivo principal do ensino de
e as propostas de pesquisas possibilitam que Biologia é o de preparar o educando para a
o educando ressignifique o próprio mundo. vida, qualificar para a cidadania e capacitar
Temas polêmicos, relacionados à pesquisa ge- para o aprendizado permanente. Portanto,
nômica, à clonagem de órgãos e organismos, esta abordagem pretende apresentar uma
ao emprego de células-tronco e, especial- Proposta de Reestruturação Curricular do En-
mente, à produção e à utilização de organis- sino Médio de Biologia, tendo como base os
mos transgênicos, possam ser discutidos den- Parâmetros Curriculares do Ensino Médio na
tro e fora da escola (PEDRANCINI et al., 2007). adequação das Competências e dos procedi-
Portanto, tem-se uma emergência no campo mentos metodológicos e demais itens elabo-
educacional, um desafio na forma de tríade: rados pelos professores do Ensino Médio de
a aprendizagem significativa, o novo caminho Biologia; e pretende propor uma distribuição
em sala de aula e a alfabetização científica. Es- desses conteúdos por bimestres, com suas
ses três elementos precisam ser vivenciados respectivas Habilidades e Competências e su-
pelo professor, dentro de uma práxis que exi- gerir atividades complementares para cada
ge um nível de informação que nem sempre série específica.
os mesmos têm acesso. Sobre essas conquis-
tas e seus desafios é que se pretende discu- Objetivo geral do componente curricular
tir nessa abordagem, esperando contribuir
com aqueles que estão assumindo a proposta Preparar o educando para compreender a
como uma oportunidade de fazer a diferença. organização dos seres vivos e sua inter-rela-
Lima et al. (2010) destacam as várias mo- ção com o meio, e, consequentemente, capa-
dalidades didáticas possíveis de se trabalhar citá-lo para a construção de uma consciência
o ensino de Biologia, como: aula expositiva, crítica que permita o exercício da cidadania e
discussões, aulas práticas no laboratório e na o aprendizado permanente.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 35

1.2 Quadro demonstrativo do Componente Curricular

1ª Série

Objetivos Específicos:

• Reconhecer a estrutura e o funcionamento das células e dos indivíduos;


• Comparar a organização e o funcionamento de diferentes tipos de células;
• Estabelecer as relações morfofuncionais entre as células para formar os tecidos;
• Representar os diferentes tipos de células e de tecidos;
• Relacionar as características comuns entre os seres vivos.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
36

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
Eixo Temático: Organização dos seres vivos
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender as ciências naturais • Identificar as diversas divisões da Introdução ao estudo da • Reconhecendo as formas pelas quais a
e as tecnologias a elas associadas Biologia; Biologia Biologia está presente nos dias de hoje,
como construções humanas, seja influenciando visões de mundo, seja
percebendo seus papéis nos • Compreender o ramo da Biologia • A investigação científica participando das mudanças tecnológicas
processos de produção e no estudada na primeira série; e sociais;
• As divisões da Biologia
desenvolvimento econômico e • Compreender a origem da vida (Teoria
social da humanidade; • A vida • Relacionando conceitos da Biologia
dos mares primitivos e Hipóteses com os de outras ciências, como os
• Interpretar e utilizar modelos para autotróficas e heterotróficas); • Os seres vivos conhecimentos físicos e químicos, para
explicar determinados processos • Diferenciar os processos da Biogênese entender processos como os referentes à
biológicos como o transporte de e da Abiogênese; origem e à evolução da vida e do universo

1º BIMESTRE
nutrientes através das membranas ou o fluxo da energia nos sistemas
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

celulares, a organização do código • Confrontar interpretações científicas biológicos;


genético, a duplicação do DNA, a com interpretações baseadas no
transcrição do RNA e a síntese de senso comum, ao longo do tempo ou • Traçando o percurso dos produtos da
proteínas; em diferentes culturas; fotossíntese em uma cadeia alimentar;

• Elaborar suposições e hipóteses • Reconhecer as propriedades que • Fazendo uso de escalas para representar
sobre fenômenos estudados caracterizam os seres vivos; organismos, parte deles e estruturas
e cotejá-las com explicações celulares.
• Caracterizar os seres vivos.
científicas ou com dados obtidos
em experimentos.
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Reconhecer a importância do • Reconhecer benefícios, limitações Bases da biologia molecular • Comparando diferentes posicionamentos
fator econômico na manipulação e aspectos éticos da biotecnologia, de cientistas, ambientalistas, jornalistas
genética: o problema das considerando estruturas e processos • Estrutura do DNA e RNA sobre assuntos ligados à biotecnologia
patentes biológicas e a exploração biológicos envolvidos em produtos • O código universal (produção de alimento transgênico, terapia
comercial das descobertas das biotecnológicos; gênica, clonagem), avaliando a consistência
tecnologias de DNA; • Bases teóricas da biotecnologia dos argumentos e a fundamentação teórica;
• Reconhecer mecanismos de e suas aplicações
• Compreender interações entre transmissão da vida, prevendo • Localizando o material hereditário em
organismos e ambiente, em ou explicando a manifestação de • Glicídios e lipídios células de diferentes tipos de organismo
particular aquelas relacionadas características dos seres vivos; • Proteínas observadas ao microscópio, em fotos e em
à saúde humana, relacionando representações esquemáticas;
conhecimentos científicos, • Identificar os componentes químicos • Vitaminas
aspectos culturais e características (orgânicos e inorgânicos) da célula; • Identificando a natureza do material
individuais. hereditário em todos os seres vivos,
• Analisar e classificar os componentes analisando sua estrutura química para
químicos da célula; avaliar a universalidade dessa molécula no
• Diferenciar DNA e RNA. mundo vivo;
• Construindo um modelo para representar o

2º BIMESTRE
processo de duplicação do DNA;
• Estabelecendo relação entre DNA,
código genético, fabricação de proteínas
e determinação das características dos
organismos;
• Analisando esquemas que relacionam
os diferentes tipos de ácidos nucleicos,
as organelas celulares e o mecanismo de
síntese de proteínas específicas;
• Relatando, a partir de uma leitura de
referência, a história da descoberta do
modelo da dupla-hélice do DNA, descrita
nos anos 1950, pelo biólogo J. Watson e
pelo físico F. Crick.
BIOLO GIA

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
37
38

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
• Desenvolver modelos explicativos • Reconhecer o grau de individualidade Citologia • Registrando o caminho das substâncias do
sobre o funcionamento dos e de diferenciação celular; meio externo para o interior das células e vice-
sistemas vivos, como as trocas • A célula versa, por meio da observação ao microscópio
realizadas pelas células e pelos • Compreender a teoria celular; ou por meio da realização de experimentos,
• Invenção do microscópio
organismos, a obtenção e a • Identificar os componentes da célula; e a descoberta da célula para perceber que a constante interação
circulação de nutrientes nos entre ambiente e célula é controlada pelas
animais e nos vegetais; • Diferenciar célula animal e célula • Relação entre forma e membranas e envoltórios celulares;
vegetal; função da célula
• Comparar a organização e o • Analisando imagens e representações
funcionamento de diferentes • Diferenciar as células eucarióticas e as • Tipos de célula relacionadas aos diferentes tipos de transporte
tipos de células, estabelecendo a células procarióticas; através da membrana celular;
• Membrana plasmática
identidade entre elas. • Compreender os processos de divisão
• Estrutura da membrana • Analisando os processos de obtenção de
celular: mitose e meiose. energia pelos sistemas vivos, fotossíntese,
• Diferentes tipos de respiração celular, identificando que toda

3º BIMESTRE
transporte de substâncias a energia dos sistemas vivos resulta da
transformação da energia solar;
• Envoltórios e
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

especializaçòes da • Identificando, na estrutura de diferentes seres


membrana vivos, a organização celular como característica
fundamental de todas as formas vivas;
• Citoplasma
• Representando diferentes tipos de células.
• Respiração celular e
fermentação • Observando células por meio do uso do
microscópio óptico;
• Confeccionando lâminas para observação por
meio do microscópio óptico;
• Construindo esquemas de diferentes células
após observação das mesmas no microscópio
óptco.
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Comparar a estrutura • Identificar os tipos de tecidos e Histologia • Observando e representando diferentes tipos
e o funcionamento dos compreender a sua organização; de tecidos;
diferentes tipos de tecidos, • Os tecidos e sua organização
relacionando-os com a saúde. • Diferenciar os tipos de tecidos e sua • Reconhecendo os diferentes tipos de tecidos,
localização. correlacionando-os com a funcionalidade dos
sistemas;

4º BIMESTRE
• Pesquisando em jornais, revistas, livros
e internet sobre transfusão de sangue,
enxertos, transplantes, a fim de produzir
textos escritos ou orais.
BIOLO GIA

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
39
40 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

2ª Série

Objetivos específicos:

• Analisar os mecanismos biológicos que garantem a continuidade dos seres vivos;


• Comparar as características morfológicas e fisiológicas que distinguem os vários gru-
pos de seres vivos;
• Correlacionar as diferentes estruturas dos seres vivos que permitem a variação e a
interação entre eles;
• Demonstrar conhecimento acerca do mecanismo básico de reprodução e de cresci-
mento de todos os seres vivos.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
Eixo Temático: Mecanismos biológicos e Interação dos seres vivos

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Reconhecer mecanismos de • Entender a constituição Sistema • Relatando, na oralidade e/ou na escrita,


transição da vida, prevendo ou sistemática e o funcionamento fenômenos biológicos;
explicando a manifestação de dos sistemas de todos os seres • Digestório
características dos seres vivos. vivos; • Descrevendo fenômenos biológicos por meio
• Circulatório de pequenas sínteses;
• Associar o estilo e a qualidade • Respiratório
de vida com a manutenção da • Reconhecendo os princípios básicos e

1 º BIMESTRE
saúde; • Excretor as especificidades das funções vitais dos
diversos grupos de seres vivos.
• Reconhecer mecanismos de • Osmorregulação
transmissão da vida, prevendo
ou explicando a manifestação
de características dos seres
vivos.
BIOLO GIA

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
41
42

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender a integração • Identificar o funcionamento e a Sistema • Caracterizando os ciclos de vida dos animais,
sistemática e a importância constituição sistemática (locomotor, relacionando-os com a adaptação desses
do conhecimento dos seres endócrino, nervoso/sensorial) de • Locomotor organismos aos diferentes ambientes;
vivos: o funcionamento e a todos os seres vivos; • Nervoso
constituição sistemática para a • Estabelecendo as relações teórico-práticas
manutenção da vida; • Construir uma conexão entre o • Endócrino entre as várias funções vitais do organismo
funcionamento desses sistemas e as humano e dos demais seres vivos;
• Analisar a relevância do atividades desenvolvidas na prática; • Órgãos dos Sentidos
desenvolvimento tecnológico • Localizando os principais órgãos e
• Reconhecer e identificar as relações os sistemas por meio de esquema,

2 º BIMESTRE
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

contemporâneo para as
ciências e o seu impacto na do desenvolvimento tecnológico representando o contorno do corpo humano
vida individual e social. contemporâneo, com as ciências, seu e dos demais animais.
papel na vida humana, sua presença
no mundo cotidiano e seus impactos
na vida social.
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Identificar a presença e aplicar as • Reconhecer a importância dos Embriologia animal • Interpretando indicadores de saúde pública e
tecnologias associadas às ciências folhetos embrionários, os tecidos e de desenvolvimento humano;
naturais em diferentes contextos. os órgãos originados de cada folheto; • Reprodução dos seres vivos
• Descrevendo as fases de desenvolvimento
• Identificar as fases embrionárias e • Fases e anexos embrionários embrionário humano, correlacionando a
seus anexos, bem como o processo • Grametogênese temas polêmicos, como o uso de células-
evolutivo do ser humano; tronco embrionárias;
• Compreender o processo da • Analisando a maneira como os textos
Gametogênese; didáticos, revistas, jornais, programas de TV e

3º BIMESTRE
rádio tratam questões relativas à sexualidade,
• Diferenciar os processos distinguindo um posicionamento isento, bem-
reprodutivos entre os seres vivos; fundamentado do ponto de vista científico;
• Identificar padrões em fenômenos • Descrevendo o mecanismo básico de
e processos vitais dos organismos, reprodução dos seres vivos;
como manutenção do equilíbrio
interno, defesa, relações com o • Analisando, por meio de esquemas e do
ambiente, sexualidade, entre outros. microscópio óptico, as diferentes fases do
crescimento de um organismo.
BIOLO GIA

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
43
44

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Entender métodos e • Entender as leis mendelianas e seus Genética • Aplicando conhecimentos estatísticos e de

DO ENSINO MÉDIO
procedimentos próprios princípios; a a
probabilidade para prever a transmissão de
das ciências naturais e 1 e 2 Lei de Mendel certas características hereditárias, estabelecendo

PROPOSTA CURRICULAR
aplicá-los em diferentes • Identificar características dos seres relações entre hábitos pessoais e culturais no
vivos, distinguindo hereditariedade • Lei da segregação genética
contextos. desenvolvimento de doenças;
congênita e adquirida; • Relação entre genótipo e
fenótipo • Discutindo as concepções de saúde, levando-se
• Utilizar noções básicas de em conta os condicionantes biológicos, sociais,
probabilidades para prever produtos • Lei da segregação econômicos, ambientais e culturais;
de cruzamentos gênicos; independente dos genes
• Listando várias características hereditárias,
• Interpretar modelos e experimentos • O mapeamento dos genes nos distinguindo as congênitas das adquiridas;
para explicar fenômenos ou cromossomos
processos biológicos em qualquer • Identificando, a partir de resultados de
nível de organização dos sistemas • Herança e sexo cruzamentos, os princípios básicos que regem a
biológicos; transmissão de características hereditárias;
• Aplicação do conhecimento
• Relacionar informações genético • Analisando textos históricos para identificar

4º BIMESTRE
apresentadas em diferentes formas concepções pré-mendelianas sobre a
de linguagem e representação hereditariedade;
usadas nas ciências físicas,
químicas ou biológicas, como • Identificando os códigos usados para representar
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

texto discursivo, gráficos, tabelas, as características genéticas, utilizando-os em


relações matemáticas ou linguagem estudos específicos;
simbólica. • Construindo heredogramas, a partir de dados
levantados pelos educandos, sobre a transmissão
de certas características hereditárias;
• Observando, no meio ambiente, os diferentes
seres vivos em seus vários aspectos fenotípicos;
• Simulando cruzamento em genética;
• Extraindo DNA de cebola por meio de método
simples.
BIOLO GIA 45

3ª série

Objetivos específicos:

• Utilizar as regras taxonômicas e sistemáticas, aplicando-as em um levantamento so-


bre os reinos em que estão divididos os seres vivos;
• Reconhecer a importância da biodiversidade, relacionando-a com as condições do
meio ambiente;
• Identificar os mecanismos que garantem a continuidade e a evolução dos seres vivos
para elaborar explicações sobre a variedade de espécies no planeta;
• Relacionar a densidade e o crescimento da população com o consumo, com a devas-
tação ambiental e com a redução dos recursos naturais;
• Discutir a Legislação Ambiental sobre o uso de recursos naturais.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
46

Eixo Temático: Origem, continuidade e diversidade dos Seres Vivos

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

DO ENSINO MÉDIO
• Reconhecer a importância • Reconhecer as regras da nomenclatura Classificação dos seres vivos: • Realizando um levantamento de
dos procedimentos éticos científica; informações sobre os reinos em que estão

PROPOSTA CURRICULAR
na aplicação das novas • Taxonomia divididos os seres vivos e as suas principais
tecnologias. • Classificar os seres vivos; características para elaborar um quadro
• Sistemática
• Identificar as principais características resumo;
morfológicas dos vírus, diferenciando-os • Vírus
• Reconhecendo, em textos, a importância
das células; • Reino monera da classificação biológica para a
• Compreender o papel da evolução • Reino protista organização e para a compreensão da
na produção de padrões, processos diversidade dos seres vivos;
biológicos ou na organização taxonômica • Reino fungi
• Conhecendo, por meio de leituras, os
dos seres vivos; critérios de classificação, as regras de
• Entender os principais ciclos reprodutivos nomenclatura e as categorias taxonômicas;
dos vírus (lítico e lisogênico); • Realizando experimentos a fim de observar
• Caracterizar os seres vivos de determinado a decomposição da matéria orgânica,
ambiente, relacionando-os às condições compreendendo o reaproveitamento nos
de vida; ecossistemas;
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

• Representando graficamente as

1 º BIMESTRE
• Relacionar os avanços científicos e
tecnológicos com a melhoria das transferências de matéria e de energia ao
condições de vida das populações; longo de um sistema vivo;

• Conhecer as doenças causadas por vírus, • Reconhecendo, por meio de pesquisas,


moneras, protistas e fungos; o papel dos antibióticos na preservação
da vida, as alterações e as consequências
• Identificar as principais características dos desses medicamentos nas populações
reinos; microbianas e humanas;
• Perceber e caracterizar as principais • Pesquisando vários tipos de registros
características morfofisiológicas dos referentes às condições bióticas e abióticas
diferentes reinos; existentes em ecossistemas diferentes.
• Reconhecer as principais contribuições da
biotecnologia;
• Interpretar experimentos ou técnicas
que utilizam seres vivos, analisando
implicações para o ambiente, a saúde, a
produção de alimentos, matérias-primas
ou produtos industriais.
COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Relacionar os avanços • Identificar as características de seres Zoologia: • Reconhecendo, em práticas de


científicos e tecnológicos com vivos de determinado ambiente, laboratório, as principais características
a melhoria das condições de relacionando-as às condições de vida; • Poríferos de representantes de cada um dos cinco
vida das populações. • Cnidários reinos, relacionando as especificidades às
• Caracterizar e diferenciar os animais condições ambientais;
como colônia, grupos da água doce e • Platelmintos
salgada, evidenciando a reprodução e o • Construindo árvores filogenéticas para
desenvolvimento corporal de cada um; • Nematelmintos representar relações de parentesco entre
• Artrópodes diversos seres vivos;
• Diferenciar, morfologicamente, os animais
em classes; • Equinodermos • Associando, por meio de práticas, a
existência de características comuns entre
• Identificar a morfologia dos parasitas, • Protocordados os seres vivos com sua origem;
especificando suas doenças;
• Cordados • Observando in loco as interações
• Conhecer as medidas profiláticas para estabelecidas entre o conjunto das
evitar doenças; espécies envolvidas no funcionamento dos
• Reconhecer os diversos tipos de ecossistemas;
classes: insetos, aracnídeos, crustáceos, • Reconhecendo, por meio de observação,
quilópodes, diplópodes e a interação os principais animais do convívio humano,

2 º BIMESTRE
destes com o meio ambiente; relacionando-os com a classificação
• Caracterizar os grupos de acordo com taxonômica;
seus filos e seus habitats; • Pesquisando os principais animais que
• Reconhecer as principais características viveram no Continente Sul-Americano;
evolutivas, de acordo com a morfologia e • Pesquisando sobre os animais que estão
a fisiologia de cada classe; em risco de extinção e propondo ações
• Reconhecer que os Cordados são os mais necessárias para a preservação dessas
numerosos e estão divididos em cinco espécies.
classes: peixes, anfíbios, répteis, aves e
mamíferos;
• Identificar as principais características de
cada classe dos Cordados;
• Comparar a anatomia e a fisiologia de
cada classe.
BIOLO GIA

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
47
48

COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

DO ENSINO MÉDIO
• Associar conceitos biológicos • Compreender o papel da evolução Evolução • Redigindo relatórios, utilizando linguagem
com os de outras ciências, na produção de padrões, processos científica adequada para apresentar as

PROPOSTA CURRICULAR
referentes à origem e à biológicos ou na organização • O pensamento evolucionista; principais teorias evolucionistas;
evolução do universo e da taxonômica dos seres vivos;
vida. • Evidências da evolução biológica • Construindo a árvore filogenética dos
• Identificar diferentes teorias sobre hominídeos, baseando-se em dados recentes
a origem do universo, da Terra • Teoria moderna da evolução sobre os ancestrais do ser humano;
e dos seres vivos, confrontando
concepções religiosas, mitológicas e • Trabalhando leitura de textos que abordem o
• Origem das espécies e dos
científicas; papel desempenhado pelo desenvolvimento
grandes grupos de seres vivos
da inteligência, da linguagem e da
• Analisar experiências e argumentos aprendizagem na evolução do ser humano;
• Evolução humana
utilizados por cientistas como Redi
(1626 – 1697) e L. Pasteur (1822 • Distinguindo, por meio de leitura, a
– 1895), para derrubar a Teoria da evolução cultural, fundada no aprendizado

3º BIMESTRE
geração espontânea. e na transmissão de comportamentos
apreendidos, da evolução biológica,
decorrente de alterações nas frequências
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

gênicas;

• Demonstrando, por intermédio de relatórios


de pesquisa, benefícios e prejuízos da
transformação do ambiente e da adaptação
das espécies animais e vegetais aos interesses
da espécie humana;

• Interpretando, por meio de textos, a teoria


de Darwin;

• Analisando diferentes cariótipos.


COMPETÊNCIAS HABILIDADES CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

• Compreender as ciências • Comparar a biogeografia com a • Ecologia • Produzindo roteiros para entrevistar especialistas
naturais e as tecnologias a formação dos biomas; ou membros da comunidade sobre um tema
elas associadas, percebendo • Fundamentos da específico, como os problemas de saúde
seus papéis no processo de • Entender e distinguir a diferença Ecologia decorrentes do lixo, das enchentes, de hábitos
produção e no desenvolvimento entre preservação e conservação da de vida;
Natureza; • Energia e matéria nos
econômico-social da ecosistemas • Elaborando comunicações orais ou escritas
humanidade; • Entender e reconhecer a importância para relatar, analisar e sistematizar eventos e
dos ecossistemas no equilíbrio da • Dinâmica das
• Apropriar-se de conhecimentos fenômenos da natureza;
Natureza; populações biológicas
da Biologia para, em situações- • Produzindo reportagens, enfocando as questões
-problema, interpretar, avaliar • Avaliar propostas de intervenção no • Relação ecológica entre ambientais;
ou planejar intervenções ambiente, considerando a qualidade seres vivos
• Observando in loco dados relacionados a
científico-tecnológicas. da vida humana ou medidas de • Sucessão ecológica e problemas ambientais como: lixo, esgoto,
conservação, recuperação ou utilização biomas tratamento de água, ocupação dos mananciais,
sustentável da biodiversidade; poluição dos rios urbanos brasileiros das cidades
• Humanidade e brasileiras;
• Associar características adaptativas ambiente
dos organismos com seu modo de vida • Escrevendo textos argumentativos sobre as
ou com seus limites de distribuição em condições de vida da população, posicionando-se
diferentes ambientes, em especial em criticamente sobre a observação realizada;
ambientes brasileiros; • Organizando levantamento de dados relativos

4º BIMESTRE
às condições do solo, da água e do ar, onde
• Compreender que a origem da
vivem, a fim de compará-los com outras regiões
diversidade e a continuação das
brasileiras;
espécies dependem da interação de
mecanismos bióticos e abióticos; • Identificando, em mapas, as regiões onde se
encontra a maior diversidade de espécies do
• Identificar as relações alimentares planeta, caracterizando suas condições climáticas;
estabelecidas entre os seres vivos,
• Pesquisando as principais características da
interpretando as relações por meio de
fauna e da flora dos grandes biomas terrestres,
esquemas apropriados;
preferencialmente, os brasileiros;
• Descrever as características de regiões • Identificando, em mapas, a situação atual dos
poluídas, identificando as principais principais ecossistemas brasileiros para compará-
fontes poluidoras da água, do ar e do -los com a situação destes há alguns anos;
solo.
• Realizando levantamento das espécies animais
e vegetais dos ecossistemas brasileiros que se
encontram ameaçados;
• Discutindo, em grupos, as principais medidas
propostas por cientistas, ambientalistas e
BIOLO GIA

administradores públicos para preservar e


recuperar os ecossistemas.

DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR
49
BIOLO GIA 51

1.3 Alternativas metodológicas para o Em um deles, dissolva a máxima quanti-


ensino de Biologia dade possível de açúcar (mais ou menos
5 ou 6 colheres de sopa), preparando
1.3.1 Sugestões de atividades didático-peda- uma solução altamente concentrada,
gógicas: viscosa como calda de doce. O outro
copo ficará apenas com água. Etiquete
1ª Série os copos, identificando as soluções que
eles contêm;
Atividade 1 3. Coloque 2 ovos com a casca calcária re-
movida em cada solução. Observe a for-
Objetivo: Utilizar conhecimento químico e ma e a consistência deles a cada 2 ho-
associá-lo aos processos biológicos. ras. Anote os resultados.
Competência: Apropriar-se de conheci-
mentos da Química para, em situações-pro- Informações técnicas
blema, interpretar, avaliar ou planejar inter- Para observar os efeitos da osmose nos
venções científico-tecnológicas. ovos é preciso, primeiro, remover a casca cal-
Habilidade: Identificar os componentes cária, o que pode ser feito pela dissolução do
químicos (orgânicos e inorgânicos) da célula. carbonato de cálcio da casca pelo ácido acéti-
Proposta de projeto transversal: Bioética. co presente no vinagre. Durante a reação, ob-
Propostas de atividade extracurricular: serva-se intenso desprendimento de bolhas
visitas técnicas aos ambientes não formais, de gás carbônico junto à superfície do ovo.
como: bosques, parques, reservas, estações O ovo sem casca, mergulhado na água fil-
de tratamento de água. trada, incha devido à osmose, uma vez que
sua solução interna é hipertônica em relação
Atividade prática ao meio. Já o ovo mergulhado na solução de
DEMONSTRAÇÃO DE OSMOSE açúcar murcha, visivelmente, o que indica
que essa solução é altamente hipertônica e
Material necessário: 4 ovos de codorna; que as moléculas de sacarose não atravessam
um recipiente médio (tigelinha, prato fundo a membrana coquilífera.
etc.); 2 copos de vidro; água filtrada; vinagre Depois de observar o que ocorre nessa
branco (de vinho, de arroz etc.); açúcar de demonstração de osmose, é interessante
cana (sacarose); etiquetas de papel. transferir um dos ovos murchos da solução de
açúcar para o copo de água filtrada, e um dos
Passo a passo ovos túrgidos da água filtrada para a solução
1. Coloque o vinagre no recipiente e mer- açucarada. Esse procedimento confirma os
gulhe os ovos, de modo a cobri-los com- resultados.
pletamente. Deixe-os assim, por 24 ho-
ras ou até a total remoção da casca cal- Fonte: Amabis, J. M. & Martho, G. R. Funda-
cária. Lave-os bem sob água corrente; mentos da Biologia moderna. São Paulo: Ed. Mo-
derna, 1997.
2. Coloque a água nos copos, até metade
da capacidade.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
52 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

Atividade 2 Informações técnicas


O amido de milho comercial é o que cha-
DESCOBRINDO O AMIDO mamos de “controle positivo” em sua expe-
riência. Como estamos procurando o amido
Objetivo: Identificar a composição dos ali- nos alimentos, a coloração que encontrarmos
mentos e associá-los à dieta e à cultura local. nesse amido comercial será a coloração que
Competência: Entender métodos e pro- vai aparecer em todo o alimento que contiver
cedimentos próprios das Ciências Naturais e amido. Qualquer outra cor indica, então, que
aplicá-los em diferentes contextos. não existe amido no alimento testado.
Habilidade: Relacionar propriedades físi- O sal de cozinha é seu “controle negativo”,
cas, químicas ou biológicas de produtos, siste- pois nele não encontrará amido.
mas ou procedimentos tecnológicos às finali- O amido é uma molécula complexa for-
dades a que se destinam. mada pela ligação de várias moléculas de gli-
Material necessário: água; tintura de iodo cose. A glicose é um açúcar (ou carboidrato)
(comprada em farmácia); copos descartáveis simples e facilmente consumido pelas células,
de café, pratinhos ou fundos de garrafas plás- tanto animais como vegetais. O amido é mui-
ticas; conta-gotas; alimentos diversos: batata to complexo e não consegue entrar em uma
crua, arroz cru, arroz cozido, pedaço de pão, célula. 
pedaços de frutas e de legumes, farinha de Ele serve como uma “substância de reser-
trigo, leite, sal, açúcar e amido de milho. va” em muitas plantas. Ou seja, o amido serve
como fonte de glicose para as plantas e para
Passo a passo os animais que consumirem essas plantas.
1. Coloque um pedaço de cada alimento Não encontramos o amido em alimentos de
em um pratinho (ou fundo de garrafa de fontes animais, por exemplo no leite.
refrigerante ou copinho de café); A reação que observamos aqui é da forma-
2. Dilua um pouco da tintura de iodo: em ção de um complexo de iodo e amido. O iodo
um copinho de café com água, coloque se liga no amido, por meio de uma reação quí-
5 gotas de tintura de iodo. Se você não mica, dando origem a um composto de colo-
tiver desse copinho, use um copo pe- ração azul. Se a solução de iodo não for diluí-
queno comum, complete até a metade da, o azul é tão intenso que parece arroxeado.
com água e coloque cerca de 10 gotas
de tintura de iodo; 2ª Série
3. Pingue algumas gotas da tintura de iodo
diluída em cada alimento. Se não tiver Atividade 1
conta-gotas, derrame com cuidado um
pouco da sua solução sobre os alimen- Objetivo: Análise e Identificação de im-
tos. Observe a coloração dessa solução pressões digitais.
nos diferentes alimentos. Competência: Entender métodos e pro-
cedimentos próprios das Ciências Naturais e
aplicá-los em diferentes contextos.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 53

Habilidade: Avaliar métodos, processos 6. Coloque um pedaço de papel escuro


ou procedimentos das Ciências Naturais que dentro do copo e observe as marcas que
contribuam para diagnosticar ou solucionar apareceram;
problemas de ordem social, econômica ou 7. Observe com a lupa e a lanterna, como
ambiental. um detetive, procurando descobrir qual
dos colegas segurou o copo.
Proposta de projeto transversal: sexuali-
dade, DSTs, gravidez na adolescência, produ- Informações técnicas
tos psicoativos. Impressões digitais são os desenhos dei-
xados em uma superfície lisa, formadas pe-
Propostas de atividade extracurricular: las papilas (elevações da pele) presentes nas
oficinas, peças teatrais, vídeos, documentá- polpas dos dedos das mãos. Usadas há mais
rios, trabalho de campo, primeiros socorros. de cem anos como forma de identificação de
pessoas, sabemos hoje que as impressões di-
Atividade prática gitais são únicas, sendo diferentes, inclusive,
entre gêmeos univitelinos.
IMPRESSÕES DIGITAIS As papilas são formadas no feto e acompa-
nham a pessoa pela vida toda sem apresentar
Material necessário: Béquer (recipiente grandes mudanças. A impressão digital apre-
de vidro); estilete; papel escuro; colher; talco; senta pontos característicos e formações que
pincel macio; grafite raspado. permitem a um perito (papiloscopista) identi-
ficar uma pessoa de forma bastante confiável.
Passo a passo Tal comparação é também feita por sistemas
1. Peça a um educando para pegar um computadorizados, os chamados sistemas
copo de vidro bem limpo, segurá-lo com AFIS (Automated Fingerprint Identification
os dedos, pelo lado de fora, sem que os System).
colegas o vejam fazer isso; Algumas pessoas, contudo, apresentam
2. Utilize o estilete, raspe o grafite de um as pontas dos dedos lisas, o que caracteriza a
lápis, coloque o pó obtido num reci- chamada Síndrome de Nagali. Nesses casos,
piente; a identificação é feita pela íris, por meio da
3. Acrescente ao pó de grafite cinco colhe- biometria.
res de medida de talco, misturando com Em 2006, pesquisadores da Faculdade de
o cabo da colher; Medicina de Haifa, em Israel, anunciaram ter
4. Segure o copo por dentro, para não es- descoberto que tal síndrome é decorrente do
tragar as impressões deixadas e que ain- mau funcionamento de uma proteína conhe-
da estão invisíveis; cida como cretin 14.
5. Pincele, com bastante cuidado, a mistu- O sistema de identificação de pessoas pe-
ra de grafite e de talco sobre a parede las impressões digitais foi inventado e posto
externa do copo; primeiro em prática na Argentina, em finais
do século XIX, por um croata naturalizado,
Juan Vucetich.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
54 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

Os criminalistas tomam amostras das im- 3. Coloque a cebola picada no copo com a
pressões na cena do crime e as comparam solução de detergente e sal, e leve ao
com outras tiradas do suspeito. Apesar desse banho-maria por aproximadamente 15
sistema de classificação ter sido desenvolvido minutos;
em 1899, ele ainda é muito usado hoje em 4. Retire a mistura do banho-maria e res-
dia. No entanto, as impressões digitais são frie-a, rapidamente, colocando o copo
agora reproduzidas e, digitalmente, registra- no gelo durante cerca de 5 minutos;
das em uma enorme base de dados, usada 5. Coe a mistura no coador de café, reco-
para encontrar, com rapidez, uma identifica- lhendo o filtrado em um copo limpo;
ção que antigamente podia demandar um pe- 6. Adicione ao filtrado cerca de meio copo
queno exército de investigadores. de álcool gelado, deixando-o escorrer,
vagarosamente, pela borda. Formam-se
Atividade 2 duas fases, a superior, alcoólica, e a in-
ferior, aquosa;
EXTRAINDO EM SALA DE AULA 7. Mergulhe o bastão no copo e, com mo-
vimentos circulares, misture as fases.
Objetivo: Compreender o processo de ex- Formam-se fios esbranquiçados, que
tração de DNA. são aglomerados de moléculas de DNA.
Competência: Compreender interações
entre organismos e ambiente, em particular Informações técnicas
aquelas relacionadas à saúde humana, rela- A extração de DNA de células eucariontes
cionando conhecimentos científicos, aspectos consta fundamentalmente de três etapas:
culturais e características individuais. a) ruptura das células para liberação dos
Habilidade: Reconhecer mecanismos de núcleos; b) desmembramento dos cromos-
transmissão da vida, prevendo ou explicando somos em seus componentes básicos, DNA
a manifestação de características dos seres e proteínas; c) separação do DNA dos demais
vivos. componentes celulares.
Material necessário: uma cebola grande (± O bulbo de cebola foi usado por apresen-
200 g); faca de cozinha; dois copos tipo ame- tar células grandes, que se rompem facilmen-
ricano; banho-maria (± 600C); água filtrada; te quando a cebola é picada.
sal de cozinha; detergente para louças; álcool O detergente desintegra os núcleos e os
etílico 95% gelado (a cerca de –10oC); bastão cromossomos das células da cebola, liberan-
fino de vidro ou madeira; coador de café, de do o DNA. Um dos componentes do deter-
papel; gelo moído. gente, o dodecil (ou lauril) sulfato de sódio,
desnatura as proteínas, separando-as do DNA
Passo a Passo cromossômico.
1. Pique a cebola em pedaços de 0,5 cm; O álcool gelado, em ambiente salino, faz
2. Coloque quatro colheres de sopa de de- com que as moléculas de DNA se aglutinem,
tergente e uma colher das de chá de sal formando uma massa filamentosa e esbran-
em meio copo d’água, mexendo bem, quiçada.
até dissolver completamente;

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DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 55

Fonte: Temas de biologia. Propostas para desen-


volver em sala de aula. Número 1 julho de 1995
2. Após esse período, com conta-gotas,
editora moderna. pingue algumas gotas do composto em
uma lâmina e acrescente a lamínula, em
seguida leve ao microscópio;
3ª Série 3. Observe e registre o que está ocorrendo;
4. Identifique os protozoários por meio da
Atividade 1 forma de locomoção.

Objetivo: Observar microrganismos exis- Informações técnicas


tentes em cultura de vegetais. Protozoários são microrganismos cuja clas-
Competência: Entender métodos e pro- sificação é feita com base nas estruturas de
cedimentos próprios das Ciências Naturais e locomoção que eles apresentam e, devido a
aplicá-los em diferentes contextos. isso, foram agrupados no Reino Protista junto
Habilidade: Avaliar métodos, processos às algas unicelulares crisófitas, euglenófitas e
ou procedimentos das Ciências Naturais que pirrófitas, de acordo com suas semelhanças
contribuam para diagnosticar ou solucionar mais evidentes. Todos são seres eucariontes,
problemas de ordem social, econômica ou ou seja, possuem núcleo celular organizado
ambiental. dentro de uma carioteca; a maioria é heteró-
trofos e comem diversos alimentos, embora
Proposta de projeto transversal: meio am- alguns sejam autótrofos produzem clorofila e
biente, biopirataria, biologia urbana e impac- com ela fazem a fotossíntese e, assim, conse-
tos ambientais. guem produzir seus alimentos.
A locomoção desses microrganismos no
Proposta de atividade extracurriculares: meio aquático é feita por meio do batimento
visitas aos ambientes não formais, como: zo- de cílios (os Ciliados) ou batimento de flage-
ológicos, reservas, APAS (Área de Preservação los (nos Flagelados) que são estruturas mais
Ambiental). adaptadas para a natação; outros protozoá-
rios (os Rizópodos) rastejam com movimento
Atividade prática ameboide, um tipo de locomoção onde os
microorganismos vão mudando a forma do
CULTURA DE PROTOZOÁRIOS seu corpo pela emissão de pseudópodes (do
grego “pseudo”, em português falso ou falsos)
Material necessário: microscópio óptico; e (do grego “podo”, em português pé ou pés),
água; conta-gotas; vegetais de área alagada ou portanto, literalmente, “pseudópodos” signi-
folhas de alface; béquers; lâmina e lamínula. ficam “falsos pés”; outros protozoários não
possuem organelas locomotoras nem vacúo-
Passo a passo los contrácteis. São os chamados esporozoá-
1. Coloque em um béquer com H2O e acres- rios, microrganismos parasitas que se disse-
cente alguns pés de vegetais. Deixe o minam pelo ambiente por meio da produção
conjunto 10 (dez) dias em descanso; de muitos esporos que são levados pela água,
pelo ar ou são levados por meio de animais

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
56 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

vetores (moscas, mosquitos, carrapatos etc.) dos, são imediatamente colocados den-
que se contaminam com esses protozoários tro do tubo sem mergulhá-los na água.
patogênicos, ficam doentes e transmitem es- Espere até que a chama se apague;
sas doenças para outros animais. 3. Use a rolha ou o pedaço de papel para
Fonte: http://pt.wikipedia.org tampar o tubo de ensaio e evitar, assim,
Atividade 2 que a fumaça formada saia;
4. Espere, por algum tempo, agitando o
Objetivo: Comparar eventos simulados tubo de modo que a fumaça provenien-
com aqueles que ocorrem na natureza. te da queima do fósforo se misture com
Competência: Apropriar-se de conheci- a água do tubo;
mentos da Biologia para, em situações-pro- 5. Introduza outro papel indicador univer-
blema, interpretar, avaliar ou planejar inter- sal na água do tubo;
venções científico-tecnológicas. 6. Anote o valor correspondente à cor indi-
Habilidade: Avaliar propostas de interven- cada na embalagem;
ção no meio ambiente, aplicando conhecimen- 7. Adicione pó de giz à solução contida no
tos químicos, observando riscos ou benefícios. tubo e agite. Qual é o PH dessa nova so-
lução?
SIMULAÇÃO DE CHUVA ÁCIDA
Você pode questionar os educandos a res-
Material necessário: 1 tubo de ensaio ou peito da degradação do solo e de rochas, já
um copo transparente; 1 espátula; enxofre que temos a presença de calcário, igualmente
(pode ser usado palitos de fósforo, já que a ao do giz.
pólvora do palito é rica em enxofre); 1 rolha
ou um pedaço de papel; pó de giz; papel indi- Informação técnica
cador universal de pH. A degradação pode contribuir para a de-
terioração desse solo, sendo ela por interfe-
Passo a passo rência humana ou por fatores naturais. Esse
1. Coloque água no tubo de ensaio sem que processo diminui a capacidade de suportar e
ele fique totalmente cheio e introduza manter a vida. Com a degradação, são altera-
uma tira de papel indicador universal na das negativamente as propriedades e o equilí-
água. Compare a cor do papel com as brio biológico do solo, retirando a capacidade
cores mostradas na embalagem e anote de produção do mesmo. As formas para se
o valor; degradar o solo são diversas, as mais comuns
2. Coloque uma ponta da espátula de en- são desmatamento, expansão desordenada
xofre dentro do tubo e agite, vagarosa- de cidades, poluição, uso de substâncias tóxi-
mente, até dissolver. Se forem usados cas e o intemperismo.
palitos de fósforo no lugar do enxofre,
serão necessários, aproximadamente, 6 Acesso em 7 junho de 2011. http://
www.cenedcursos.com.br/degradacao-
palitos de fósforo que, depois de risca-
-do-solo.html

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BIOLO GIA 57

1.3.2 Sugestões para pesquisa Sites do Governo

Sites sobre ciência Portal do Brasil: http://www.brasil.gov.br/


Portal do Estado; http://www.amazonas.
Estação ciência da USP: http://www.eciencia. am.gov.br/
usp.br/ FIOJOVEM – Mural da Fiocruz sobre saúde:
Ciência à mão (textos, livros, links e outros) http://www.fiocruz.br/jovem/cgi/cgilua.
http://200.144.189.54/index.php exe/sys/start.htm?tpl=home
Programa mão na massa: http://www.cdcc. Ecoterra – meio ambiente; http://www.
usp.br/maomassa/ ecoterrabrasil.com.br/home/index.
Rede Educativa mundial: http://www.redem. php?pg=temas&tipo=temas&cd=938
org/ Capes – Periódicos- http://acessolivre.capes.
Feira de ciências: http://www.feiradeciencias. gov.br/
com.br/
Sites da Amazônia
Sites de Biologia
Museu da Amazônia: http://www.museudaa-
Centro de Ciências da Educação – sites de bio- mazonia.org.br/
logia: http://www.ced.ufsc.br/links/biolo- Bosque da Ciência – Inpa - http://bosque.
gia.html inpa.gov.br/principal.htm
UOL – Portal aprendiz de biologia:
http://aprendiz.uol.com.br/content/nepri- Sites de Revistas na área
frist.mmp
Sites indicados de biologia, com conteúdos: Revistas científicas de biologia: http://www.
http://www.todabiologia.com/indicados. cfh.ufsc.br/~pagina/universidades/rbiologia.
htm htm
E http://www.sobresites.com/pesquisa/bio- Revista Brasileira de biologia; http://
logia.htm w w w.scielo.br/scielo.php?script=sci_
E http://www.mundosites.net/biologia/ serial&pid=0034-7108
Animações em Biologia – site Prof. Marcelo Revista Biologia e Sociedade http://www.
Vinicius http://www.universitario.com.br/ ordembiologos.pt/Revista%20Biologia%20
celo/index2.html e%20Sociedade.html
Revista ciência em tela:
http://www.cienciaemtela.nutes.ufrj.br/

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BIOLO GIA 59

Avaliação: O culminar do processo educativo

A avaliação é a parte culminante do pro- aprendizagem. As avaliações a que o professor


cesso que envolve o ensino e a aprendizagem. procede enquadram-se em três grandes tipos:
Benvenutti (2002) afirma que avaliar é mediar avaliação diagnóstica, formativa e somativa.
o processo ensino-aprendizagem, é oferecer Em se tratando da função diagnóstica, de
recuperação imediata, é promover cada ser acordo com Miras e Solé (1996, p. 381), esta
humano, é vibrar junto a cada educando em é a que proporciona informações acerca das
seus lentos ou rápidos progressos. capacidades do educando antes de iniciar um
E pensando assim, acredita-se que o gran- processo de ensino-aprendizagem, ou ainda,
de desafio para construir novos caminhos, segundo Bloom, Hastings e Madaus (1975),
inclusive, no contexto educacional brasileiro, busca a determinação da presença ou ausên-
está em verificar cada lugar nas suas especi- cia de habilidades e pré-requisitos, bem como
ficidades e nas suas necessidades. Segundo a identificação das causas de repetidas dificul-
Ramos (2001), uma avaliação com critérios de dades na aprendizagem.
entendimento reflexivo, conectado, compar- Em termos gerais, a avaliação diagnóstica
tilhado e autonomizador no processo ensino- pretende averiguar a posição do educando
-aprendizagem é o que se exigiria. Somente em face das novas aprendizagens que lhe vão
assim serão formados cidadãos conscientes, ser propostas e as aprendizagens anteriores
críticos, criativos, solidários e autônomos. que servem de base àquelas, no sentido de
Com isso, a avaliação ganha novo caráter, evidenciar as dificuldades futuras e, em cer-
devendo ser a expressão dos conhecimentos, tos casos, de resolver situações presentes.
das atitudes ou das aptidões que os educan- No que se refere à função formativa, esta,
dos adquiriram, ou seja, que objetivos do en- conforme Haydt (1995, p. 17), permite cons-
sino já atingiram em um determinado ponto tatar se os educandos estão, de fato, atin-
de percurso e que dificuldades estão a revelar gindo os objetivos pretendidos, verificando
relativamente a outros. a compatibilidade entre tais objetivos e os
Essa informação é necessária ao professor resultados, efetivamente alcançados durante
para procurar meios e estratégias que auxi- o desenvolvimento das atividades propostas.
liem os educandos a resolver essas dificulda- Representa o principal meio pelo qual o edu-
des, bem como é necessária aos educandos cando passa a conhecer seus erros e acertos,
para se aperceberem delas (não podem os propiciando, assim, maior estímulo para um
educandos identificar claramente as suas di- estudo sistemático dos conteúdos. Um outro
ficuldades em um campo que desconhecem), aspecto a destacar é o da orientação forneci-
e, assim, tentarem ultrapassá-las com a ajuda da por esse tipo de avaliação, tanto ao estudo
do professor e com o próprio esforço. Por isso, do educando quanto ao trabalho do profes-
a avaliação tem uma intenção formativa. sor, principalmente por meio de mecanismos
A avaliação proporciona também o apoio de feedback. Esses mecanismos permitem
a um processo que é contínuo, contribuindo que o professor detecte e identifique defici-
para a obtenção de resultados positivos na ências na forma de ensinar, possibilitando re-

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DO ENSINO MÉDIO
60 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

formulações no seu trabalho didático, visando cador e mediador do processo, na execução


aperfeiçoá-lo. Para Bloom, Hastings e Madaus dos processos pedagógicos da escola e, ainda,
(1975), a avaliação formativa visa informar o professores que compreendam o processo de
professor e o educando sobre o rendimento sua disciplina na superação dos obstáculos
da aprendizagem no decorrer das atividades epistemológicos da aprendizagem.
escolares e à localização das deficiências na A abordagem para o processo avaliativo
organização do ensino para possibilitar corre- se dá por meio de tópicos específicos que en-
ção e recuperação. volvem aspectos relacionados à busca do re-
Em suma, a avaliação formativa pretende sultado de trabalho: que educandos devem
determinar a posição do educando ao lon- ser aprovados; como planejar suas provas,
go de uma unidade de ensino, no sentido de bem como qual será a reação dos educandos
identificar dificuldades e de lhes dar solução. e como está o ensino em diferentes áreas do
E quanto à função somativa, esta tem conhecimento que envolvem o Ensino Médio
como objetivo, segundo Miras e Solé (1996, (Krasilchik, 2008).
p. 378), determinar o grau de domínio do Assim, a avaliação ocupa papel central em
educando em uma área de aprendizagem, o todo processo escolar, sendo necessário, des-
que permite outorgar uma qualificação que, sa forma, um planejamento adequado. Para
por sua vez, pode ser utilizada como um sinal isso, vários parâmetros são sugeridos como
de credibilidade da aprendizagem realizada. ponto de partida:
Pode ser chamada também de função credi-
tativa. Também tem o propósito de classifi- • Servem para classificar os educandos
car os educandos ao final de um período de “bons” ou “maus”, para decidir se vão
aprendizagem, de acordo com os níveis de ou não passar;
aproveitamento. • Informam os educandos do que o pro-
Essa avaliação pretende ajuizar o progres- fessor realmente considera importante;
so realizado pelo educando, no final de uma • Informam o professor sobre o resultado
unidade de aprendizagem, no sentido de afe- do seu trabalho;
rir resultados já colhidos por avaliações do • Informam os pais sobre o conceito que
tipo formativa e obter indicadores que permi- a escola tem do trabalho de seus filhos;
tem aperfeiçoar o processo de ensino. • Estimulam o educando a estudar.
Diante do que foi visto, entende-se que
é necessário compreender que as diferentes Essas reflexões, remetem-nos a uma maior
áreas do conhecimento precisam se articular responsabilidade e cautela, para decidir sobre
de modo a construir uma unidade com vistas o processo avaliativo a respeito da construção
à superação da dicotomia entre as disciplinas e aplicação dos instrumentos de verificação
das diferentes ciências. Essa superação se dá do aprendizado e sobre a análise dos seus re-
com o intuito de partilhar linguagens, pro- sultados. Devemos tomar cuidado, ainda, em
cedimentos e contextos de modo que possa relação aos instrumentos avaliativos escolhi-
convergir para o trabalho educativo na escola. dos, para que esses estejam coerentes com
Para isso, é necessária a participação do os objetivos propostos pelo professor em seu
professor, consciente do seu papel de edu- planejamento curricular (Krasilchik, idem).

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BIOLO GIA 61

A avaliação, dessa forma, assume impor- quais teorias nos embasamos para chegar a
tância fundamental, a partir dos seus instru- uma avaliação mais próxima da realidade.
mentos e o professor, por sua vez, precisa estar Além do postulado pedagógico referido,
atento aos objetivos propostos para que a ava- é necessário debruçarmo-nos sobre as novas
liação não destoe daquilo que ele pretende. avaliações que se apresentam, quais os seus
Assim sendo, a avaliação não é neutra no fundamentos, qual a sua forma e quais as
contexto educacional, pois está centrada em suas exigências. É nesse contexto que o Enem
um alicerce político educacional que envol- (Exame Nacional do Ensino Médio), criado em
ve a escola. Assim, para Caldeira (2000 apud 1988, e que tem por objetivo avaliar o desem-
Chueiri, 2008): penho do educando ao término da escolarida-
de básica, apresenta-se como uma proposta
A avaliação escolar é um meio e não um de avaliação digna de ser analisada e assimila-
fim em si mesmo; está delimitada por uma da em seus fundamentos.
determinada teoria e por uma determina- O Enem tomou um formato de “avaliação
da prática pedagógica. Ela não ocorre num nacional”. Isso significa dizer que ele tornou-
vazio conceitual, mas está dimensionada -se o modelo que vem sendo adotado no
por um modelo teórico de sociedade, de país, de norte a sul. Nesse sentido, a ques-
homem, de educação e, consequentemen- tão é saber o motivo pelo qual ele assumiu
te, de ensino e de aprendizagem, expresso o lugar que ocupa. Para compreendê-lo, um
na teoria e na prática pedagógica (p. 122). meio interessante é conhecer a sua “engre-
nagem” e pressupostos. Assim, é necessário
Para contemplar a visão de Caldeira, o pro- decompô-lo nas suas partes, saber o que cada
fessor necessita estar atento aos processos de uma significa, qual a sua relevância e em que
transformação da sociedade, pois estes aca- o todo muda a realidade avaliativa nacional,
bam por influenciar também o espaço da esco- pois ele apresenta-se como algo para além de
la como um todo. Essa constatação é evidente, um mero aferidor de aprendizagens.
quando percebemos o total descompasso da Esse exame constitui-se em quatro pro-
escola com as atuais tecnologias e que, ao que vas objetivas, contendo cada uma quarenta
tudo indica, não estão sendo usadas na sua de- e cinco questões de múltipla escolha e uma
vida dimensão. Por outro lado, quando o pro- proposta para a redação. As quatro provas
fessor não acompanha as transformações re- objetivas avaliam as seguintes áreas de co-
feridas, a avaliação corre o risco, muitas vezes, nhecimento do Ensino Médio e respectivos
de cair em um vazio conceitual. Infelizmente, Componentes Curriculares: Prova I – lingua-
é o que vem ocorrendo em grande parte das gens, Códigos e suas Tecnologias e Redação:
escolas brasileiras. É nesse sentido que cabe a Língua Portuguesa, Língua Estrangeira (Inglês
todos nós repensarmos nossa prática, apren- ou Espanhol), Arte e Educação Física; Prova
dizado e aspirações em termos pedagógicos e, II – Matemática e suas Tecnologias: Mate-
sobretudo, como sujeitos em construção. mática; Prova III – Ciências Humanas e suas
Diante disso, precisamos ter claro o que Tecnologias: História, Geografia, Filosofia e
significa avaliar no atual contexto, que edu- Sociologia; Prova IV – Ciências da Natureza e
candos queremos, baseados em qual ou em suas Tecnologias: Química, Física e Biologia.

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62 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

É por meio da avaliação das Áreas de Co- mos, a sua formulação e o modo como um
nhecimento que se tem o nível dos educan- item é transformado em um aval para o pros-
dos brasileiros e que lhes é permitido ingres- seguimento dos estudos. E não só isso deve
sar no ensino de Nível Superior. Nesse sen- ser levado em consideração, pois alcançar
tido, o Enem não deve ser desprezado; ao um nível de aprovação exige uma formação
contrário, é obrigatório que os professores que inicia desde que uma criança ingressa na
do Ensino Médio conheçam os seus mecanis- Educação Infantil.

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BIOLO GIA 63

Considerações Finais

Após um trabalho intenso, que mobilizou a nossa ação pedagógica. Por isso, os seus
especialistas na área, professores e técnicos, elaboradores foram preparados, por meio de
vê-se concluída a Proposta Curricular para seminários, oficinas e de discussões nos gru-
o Ensino Médio. Esta Proposta justifica um pos que se organizaram, para concretizar os
anseio da comunidade educacional, da qual objetivos definidos.
se espera uma boa receptividade. Inclusive, A Proposta consta de treze Componentes
espera-se que ela exponha com clareza as Curriculares. Todos eles são vistos de forma
ideias, a filosofia que moveu os seus autores. que os professores tenham em suas mãos os
Ela propõe-se a seguir as novas orienta- objetos de conhecimento, assim como uma
ções, a nova filosofia, pedagogia, psicologia forma de trabalhá-los em sala de aula, reali-
da Educação brasileira, daí que ela tem no seu zando a interdisciplinaridade, a transversalida-
cerne o educando, ao mesmo tempo em que de, contextualizando os conhecimentos e os
visa envolver a comunidade, dotando de sig- referenciais sociais e culturais.
nificado tudo o que a envolve. Essa nova pers- E, ainda, ela pretendeu dar respostas às
pectiva da Educação brasileira, que evidencia determinações da LDB que requer um ho-
a quebra ou a mudança de paradigmas, exigiu mem-cidadão, capaz de uma vida plena em
que as leis, as propostas em curso para a Edu- sociedade. Ao se discutir sobre essa Lei e a
cação brasileira fossem reconsideradas. tentativa, via Proposta Curricular do Ensino
Durante o período da sua elaboração, mui- Médio, de concretizá-la, a Proposta sustenta-
tas coisas se modificaram, muitos congressos -se na aquisição e no desenvolvimento de
e debates foram realizados e todos mostra- Competências e Habilidades.
ram que, nesse momento, nada é seguro, É assim que esta Proposta chega ao Ensino
que, quando se trata de Educação, o campo Médio, como resultado de um grande esforço,
é sempre complexo, inconstante, o que nos da atenção e do respeito ao país, aos profes-
estimula a procurar um caminho que nos per- sores do Ensino Médio, aos pais dos educan-
mita realizar de forma consequente e segura dos e à comunidade em geral.

PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 65

REFERÊNCIAS

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PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
66 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS

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PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
BIOLO GIA 67

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PROPOSTA CURRICULAR
DO ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO PARA A REDE
PÚBLICA DO ESTADO DO AMAZONAS

Gerência do Ensino Médio


Vera Lúcia Lima da Silva
 
Coordenação Geral
Tenório Telles

Coordenação Pedagógica
Lafranckia Saraiva Paz
Neiza Teixeira

Consultoria Pedagógica
Evandro Ghedin
HELOISA DA SILVA BORGES

Assessoria Pedagógica
Maria Goreth Gadelha de Aragão

Coordenação da Área de Linguagem, Códigos e suas Tecnologias   


José Almerindo A. da Rosa
Karol Regina Soares Benfica
 
Coordenação da Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias
Sheyla Regina Jafra Cordeiro
 
Coordenação da Área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias
João Marcelo Silva Lima
 
Coordenação da Área de Matemáticas e suas Tecnologias
José de Alcântara
 
Organização do Componente Curricular
CLEUZA SUZANA OLIVEIRA DE ARAÚJO
JOÃO MARCELO SILVA LIMA

Equipe do Ensino Médio


Ana Lúcia Mendes dos Santos
Antônio José Braga de Menezes
Cileda Nogueira de Oliveira
Dayson José Jardim Lima
João Marcelo Silva Lima
Jeordane Oliveira de Andrade
Kátia Cilene dos Santos Menezes
Karol Regina Soares Benfica
Lafranckia Saraiva Paz
Manuel Arruda da Silva
Nancy Pinto do Vale
Rita Mara Garcia Avelino
Sheyla Regina Jafra Cordeiro

PROFESSORES COLABORADORES

Adelaneide Gomes Lima


Alberto Gomes de Andrade
Alcinete de Oliveira Soares
Almir Sampaio de Moura
Ana Marcilene Ribeiro da Costa
Cecília Aquino de Melo
Cristiane Pereira dos Santos
Elcilene Maria Mourão Solart
Geison Barbosa de Moraes
Gilson Tavernard da Silva Júnior
Glaocinéia Lima Begot
Grace Couto das Neves
Heliandro Farias Canto
José Carlos S. Gottgtroy
Leila Fernanda Moraes Silva
Margarete Muca de Souza Pereira
Maria Antônia Alves Cruz
Paulo S. César Santana
Racy Manuel Najar S. Dias
Rafaelle Maria Paz Nepomucena
Raimunda Mota dos Santos
Rosana de Souza Veras
Rubia Priscila Praia Gato
Sulineide Pinto Ataíde
Waldir dos Santos Teixeira

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