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Este livro proporciona aos futuros professores e

gestores dos sistem as de ensino e das escolas bases


conceituais para uma análise dos aspectos sociopolíticos,
históricos, legais, pedagógicos-curriculares e organizacionais
da educação escolar brasileira e da organização e gestão
da escola, possibilitando uma visão crítico-compreensiva
dos contextos em que os profissio nais da educação
exercem suas atividades. Com esse conteúdo, acredita-se
que tais profissionais possam:
• situar o sistema escolar brasileiro no contexto das trans-
formações em curso na sociedade contemporânea;
• conhecer e analisar as políticas educacionais, as reformas
do ensino e os planos e diretrizes, tendo como foco a
construção da escola pública brasileira;
• conhecer a estrutura e organização do ensino brasileiro; Políticas, Estrutu ra
• desenvolver conhecimento e competências para atuarem,
de forma eficiente e participativa, nas práticas de
organização e de gestão da escola e na transformação
e O rg a n ização
dessas práticas.
J o s é C a r l o s L ibâ n e o
J o ã o F e r r e ir a d e O l iv e ir a
D O C Ê N C IA ^ FORMAÇAO M ir z a S e a br a T o s c h i

• Educação Escolar: políticas, estrutura e organização


* Estágio e Docência
Questões de método na construção da pes
CIRC
Tombo: 58434

EDITORA
* Pa r t e - O r ga n iz a ç ã o e g es t ã o : o s pr o f esso r es e a c o n s t r u ç ã o c o l et iv a d o a mbien t e d e t r a ba l h o As ÁREAS DE ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO E DA GESTÃO ESCOLAR PARA MELHOR APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

5. O desenvolvimento profissional membros (direção, coordenação pedagógica, professo-


(formação continuada) res, funcionários, alunos, pais). Como se trata de orga-
nização educativa, em que tudo educa — o edifício
Esta área de atuação refere-se ao aprimoramento escolar, as condições materiais, a conduta de professo-
profissional do pessoal docente, técnico e administra- res e funcionários da secretaria, o nível de limpeza e
tivo no próprio contexto de trabalho. Atualmente, o outros elementos —, as ações de desenvolvimento pro-
desenvolvimento profissional não se restringe mais ao fissional não podem estar separadas das práticas de
mero treinamento. A ideia é que a própria escola cons- gestão e da cultura organizacional. Nesse sentido,
titui lugar de formação profissional, por sér sobretudo pode-se afirmar:
nela, no contexto de trabalho, que ps professores e
• a escola, como organização e contexto da ação dos
demais funcionários podem reconstruir suas práticas,
professores, pode ajudar na vida pessoal e profissio-
o que resulta em mudanças pessoais e profissionais.
O desenvolvimento profissional, como eixo da for- nal do professor;
• uma vez que a organização escolar como um todo
mação docente, precisa articular-se, ao mesmo tempo,
constitui espaço de aprendizagem, os professores
com o desenvolvimento pessoal e com o desenvolvi-
aprendem sua profissão com a escola e a escola
mento organizacional. O desenvolvimento pessoal diz
respeito aos investimentos pessoais dos professores em aprende com seus professores;
• os professores podem influenciar a organização da
seu próprio processo de formação, por meio do traba-
lho crítico-reflexivo sobre sua práxis e da reconstrução
escola na definição de diferentes objetivos, na cria-
de sua identidade pessoal, resultando nos saberes da
ção de uma cultura organizacional, na introdução
experiência. O desenvolvimento organizacional refere- de inovações e mudanças.
-se às formas de organização e de gestão da escola como Abdalla (1999), em um estudo sobre o desenvolvi-
um todo, especialmente àquelas referentes ao trabalho mento profissional do professor, analisa as relações
coletivo. A articulação desses três níveis de formação entre trabalho docente e organização escolar e aponta
docente ressalta a importância das decisões que ocor- quatro elementos nelas interferentes: a gestão, o pro-
rem no âmbito da escola, dos projetos de trabalho jeto político-pedagógico, a organização e articulação
compartilhados (Nóvoa, 1992). do currículo e o investimento no desenvolvimento
As ações de desenvolvimento profissional estão profissional dos professores. Esses quatro elementos
muito ligadas à cultura organizacional, à dimensão interferem no desenvolvimento profissional do profes-
informal da organização que afeta o desenvolvimento sor. A mesma autora escreve que a cultura é um pro-
desta, conforme já discutimos. Com efeito, a ativida- cesso de produção e acumulação de experiências e
de profissional dos professores está inserida em uma realizações no decurso do qual o ser humano se produz
organização, em seus modos de agir e ser, cujas regras a si próprio, à medida que vai construindo um modo
são aprendidas e ao mesmo tempo produzidas por seus social de convivência. Isso significa que também a
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4> Part- O r ga n iz a ç ã o e g es t ã o : o s pr o f esso r es e a c o n st r u ç ã o c o l et iv a d o a mbien t e d e t r a ba l h o AS ÁREAS DE ATUAÇÃO PA ORGANIZAÇÃO E DA GESTÃO ESCOLAR PARA MELHOR APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

organização escolar constitui cultura, ou seja, é uma psicológicas e sociais entre os alunos. Faz-se necessá-
construção social dos que atuam na escola, com seus rio considerar esses modos de pensar e agir para a
objetivos, formas de organização, percepções, crenças, introdução de mudanças que promovam a ampliação
rituais etc. É claro que há um a estrutura escolar visí- e o aprofundamento da cultura geral dos professores.
vel formada pelos aspectos administrativos e pedagó- b) Algumas características sociais e culturais dos alu-
gicos, há os regulamentos, as formalidades. Existem, nos que frequentam a escola atualmente derivam,
porém, também interações sociais não oficiais, não for- em boa parte, de fatores externos e podem levar à
malizadas, que influenciam as maneiras de ser e agir deslegitimação da autoridade do professor, à sua
dos profissionais que ali trabalham (professores, pes- baixa autoestima, à insegurança para exercer sua
soal técnico-administrativo, direção), liderança na classe, ao despreparo profissional em
face desses novos problemas. Surgem, assim, novas
O aspecto relevante dessa análise é que tanto a cul-
necessidades a ser atendidas na formação continua-
tura influi no desenvolvimento profissional do profes-
da no próprio contexto de trabalho.
sor (positiva ou negativamente) como os professores
c) O despreparo profissional pode estar associado, tam -
podem produzir o espaço cultural da escola - ou seja,
bém, à frágil formação inicial, de sorte que se faz
os próprios agentes escolares podem construir a cultu-
necessário investir nas situações de trabalho, em
ra organizacional da instituição. Cabe, nesse sentido,
maior conhecimento teórico, envolvendo tanto os
destacar o papel da direção e da coordenação pedagó-
saberes pedagógicos como os específicos.
gica da escola no apoio e sustentação desses espaços de
reflexão, investigação e tomada de decisões a fim de Programas de desenvolvimento profissional precisam
instaurar uma cultura de colaboração, como ingre- começar por lidar do modo possível com esses fatores,
diente da gestão participativa. como requisito para pôr em prática ações de desenvolvi-
Os dilemas que se apresentam atualmente à forma- mento pessoal pela autorreflexividade crítica.
ção continuada dizem respeito a como promover
mudanças nas ideias e práticas profissionais e pessoais
docentes. Não se pode esquecer que certas dificulda- 6. Avaliação institucional da escola
des dos professores para se tornar melhores profissio- e da aprendizagem
nais decorrem de fatores já conhecidos, de modo que
Como área de atuação da organização e da gestão da
as formas de desenvolvimento profissional precisam
escola, há a avaliação institucional (que diz respeito ao
recair, inicialmente, nos fatores indicados a seguir.
sistema e à organização escolares) e a avaliação da
a) Os professores são portadores de percepções, significa- aprendizagem dos alunos feita pelo professor. A ava-
dos, esquemas de ação já consolidados, em decorrên- liação é requisito para a melhoria das condições que
cia de sua formação, da cultura profissional, dos afetam diretamente a qualidade do ensino.
colegas. Nesse âmbito, podem estar também diante Em uma visão progressista, as práticas de avaliação
de estereótipos consolidados em relação a diferenças podem propiciar maior autorregulação institucional,
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4a Pa r t e — O r ga n iz a ç ã o e ges t ã o : o s pr o f esso r es e a c o n s t r u ç ã o c o l et iv a d o a mbien t e d e t r a ba l h o

em razão da exigência de prestação de contas de um


serviço público à comunidade. A avaliação externa, em Capítulo IV
conexão com a dos professores, pode representar uma
ajuda à organização do trabalho na escola e nas salas de
aula, gerando uma cultura da responsabilização na equi-
pe escolar. Os professores, em razão da organização
escolar e do projeto pedagógico da instituição, podem
analisar conjuntamente os problemas e fazér diagnós-
ticos mais amplos, para além do trabalho isolado em
sua matéria, reforçando o entendimento da escola Desenvolvendo ações
como local em que se pensa o trabalho escolar e em que
professores e especialistas aprendem em conjunto.
Nesse sentido, uma proposta pedagógica progres-
e competências
sista pode assumir: a avaliação dos estabelecimentos
escolares por meio dos resultados de aprendizagem dos profissionais para as
alunos (embora essa aferição não deva ser utilizada para
classificar as escolas, determinando quais serão benefi- práticas de gestão
ciadas por recursos públicos, algo totalmente inaceitá-
vel); a descentralização das escolas, favorecendo a
identificação de necessidades locais, o envolvimento
participativa e de gestão
dos professores e pais etc. (embora isso não deva ser
usado para a redução do poder de mobilização dos sin- da participação
dicatos e da participação política de professores); a
ênfase no desenvolvimento de capacidades básicas de
aprendizagem (embora não se aceite mero treinamen-
to de habilidades).

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