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A GESTÃO DO ENSINO E DA

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
CONTEMPORÂNEA
Josiane Gonçalves Santos
Pós-graduação em Educação
Diretores
Diretoria Executiva Luiz Borges da Silveira Filho
Diretoria Operacional Marcelo Antonio Aguilar
Diretoria Acadêmica Francisco Carlos Sardo

Editora
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Projeto Gráfico Evelyn Caroline dos Santos Betim
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes

Direitos desta edição reservados à Fael.


É proibida reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
A Gestão do Ensino e da Avaliação da Aprendizagem
Contemporânea

Josiane Gonçalves Santos

RESUMO
A escola na contemporaneidade enfrenta inúmeros desafios que interferem tanto na aprendizagem de seus
alunos, quanto na qualidade do ensino desenvolvido por seus profissionais. Para tanto, faz-se necessário o êxito
da gestão dos processos realizados na instituição de ensino, especialmente os pedagógicos, trabalhos caracterís-
ticos do coordenador pedagógico ou do pedagogo. Dois processos, especificamente, exigem atenção especial
desse profissional e dos professores: o processo de ensino e de aprendizagem e a avaliação da aprendizagem,
afinal, ambos caracterizam o compromisso social da escola. A gestão do ensino envolve a organização e moni-
toramento dos diferentes processos e atividades docentes desenvolvidas pelo professor. A gestão da avaliação da
aprendizagem está diretamente relacionada à apropriação dos conteúdos e, consequentemente, aos resultados
demonstrados pelos alunos nas diferentes avaliações realizadas. Assim, busca-se, por meio deste texto, possibili-
tar não apenas a compreensão e significado dos processos de gestão do ensino e da avaliação da aprendizagem,
mas, fundamentalmente, a reflexão sobre o trabalho desenvolvido pelo coordenador pedagógico.
Palavras-chave: Coordenador pedagógico. Pedagogo. Gestão. Ensino. Avaliação.

1 REFLEXÕES INICIAIS
As rápidas transformações – econômicas, sociais, tecnológicas, entre outras –, manifestas na sociedade, pro-
vocam inquietações e incertezas decorrentes do processo de globalização e que provocam repercussões variadas
na vida de homens e mulheres, pois, ao mesmo tempo em que integra mercados, ocasionando o aumento do
poder e da riqueza de algumas nações, traz problemas consequentes de uma desigual distribuição de renda entre
a população mundial.
O campo educacional também sofre essa interferência. Vianna (2005, p. 92) alerta:
Anteriormente, e propositadamente, r­eferimo-nos à escola como um microcosmo que existe na socie-
dade, sofre suas influências e, em diversos graus, também atua sobre ela. A fim de compreender a escola
e o fenômeno educacional, é necessário que os situemos no contexto das transformações ocorridas e que
devem estar refletidas nos objetivos institucionais, na programação curricular, nos objetivos instrucionais
e nas estratégias do próprio ensino.

Esse contexto exige o desenvolvimento de um trabalho pedagógico que, além da efetiva aprendizagem do
saber científico historicamente acumulado, resulte na formação de valores éticos, respeitando, fundamental-
mente, a pessoa humana em suas singularidades e diversidades. Trata-se, portanto, de formar integralmente o
ser humano para o exercício da cidadania (SANTOS, 2005, p. 30).
Para tanto, é necessário rever os processos educativos desenvolvidos pela instituição, avançando de um modelo
pedagógico alicerçado na concepção tradicional de ensino para um modelo em que todos os profissionais se compro-
metam verdadeiramente com a formação dos alunos.
Destaca-se aí o processo de gestão, sendo necessá- cráticas. Se a escola, tanto quanto
rio, porém, compreendê-lo como um processo maior a sala de aula, é espaço de aprendi-
zagem, pode-se deduzir que formas
e mais amplo do que a administração, especialmente de funcionamento, normas, proce-
aquela decorrente da Escola Clássica1. A gestão é com- dimentos administrativos, valores e
preendida como tomada de decisão e tem sua origem outras tantas práticas que ocorrem
etimológica no termo em latim gestio-õnis, signifi- no âmbito da organização escolar
cando gerir, gerência, administração. exercem efeitos diretos na sala de
aula, sendo verdade, também, o
O espaço escolar envolve processos pedagógicos, inverso: o que ocorre na sala de aula
administrativos e financeiros, que precisam ser organi- tem efeitos na organização escolar.
zados e desenvolvidos em prol da melhoria da quali- O pedagogo, ou o profissional que atua na coorde-
dade do trabalho desenvolvido. Nesse sentido, a mobi- nação do processo de ensino e aprendizagem, desempe-
lização e articulação de recursos materiais e humanos nha funções pedagógicas, sociais e políticas, que devem
devem estar focadas no processo de ensino e aprendi- atender a legislação educacional vigente e as diretrizes
zagem. Libâneo (2004, p. 11) destaca que do sistema em que a instituição está inserida, pois é o
[...] o objetivo da escola é o ensino profissional que “responde pela viabilização, integração
e a aprendizagem dos alunos; a e articulação do trabalho pedagógico-didático em liga-
organização, a gestão, as condições ção direta com os professores, em função da qualidade
físicas e materiais são meios para se
atingir esse objetivo. Sobre a rela-
do ensino” (LIBÂNEO, 2004, p. 219).
ção entre meios e fins, é preciso No cotidiano educacional, esse profissional
compreender que numa instituição desempenha inúmeras funções relacionadas à super-
há duas coisas: os objetivos a atin-
gir e os meios necessários. Objeti-
visão, acompanhamento, assessoramento, monitora-
vos e meios não são a mesma coisa, mento e avaliação das atividades pedagógico-curricu-
mas não há um sem o outro. lares desenvolvidas e do desempenho dos alunos frente
ao processo de ensino e aprendizagem, além de tam-
Portanto, a gestão do ensino, responsável pela
bém articular a relação da escola com as famílias dos
organização, desenvolvimento e monitoramento dos
estudantes e com a comunidade. Para tanto, Libâneo
processos pedagógicos, é o principal vértice da ges-
(2004, p. 219) relaciona algumas das atribuições da
tão na instituição de ensino e se efetiva por meio da
coordenação pedagógica:
coordenação de um profissional que possua o conheci-
mento e a formação específica para esse fim, ou seja, o 1. Responder por todas as atividades
pedagógico-didáticas e curriculares
pedagogo. Libâneo (2004, p. 13) complementa
da escola e pelo acompanhamento
Esse entendimento da organização das atividades de sala de aula,
escolar como espaço de aprendi- visando a níveis satisfatórios de
zagem, de compartilhamento de qualidade cognitiva e operativa do
significados, conhecimento e ações processo de ensino e aprendizagem.
entre as pessoas, leva a valorizar
2. Supervisionar a elaboração de diag-
muito mais as práticas de organiza-
nósticos e projetos para a elaboração
ção e gestão e, por consequência, a
do projeto pedagógico-curricular da
atuação da direção e da coordena-
escola e outros planos e projetos.
ção pedagógica. Gerir uma escola
deixa de ser algo apenas ligado a 3. Propor para discussão, junto ao
questões administrativas e buro- corpo docente, o projeto pedagógi-
1 Dois engenheiros, Frederick Taylor (1856-1915) e Henri Fayol (1841-1925), são co-curricular da unidade escolar.
os responsáveis pelos fundamentos da Teoria Geral da Administração, que originou 4. Orientar a organização curricular
a chamada Escola Clássica da Administração. Assim, é correto afirmar que a Escola
e o desenvolvimento do currículo,
Clássica ou Teoria Clássica da Administração pode ser dividida em dois grupos.
incluindo a assistência direta aos
Para o primeiro grupo, denominado Administração Científica, liderado por Taylor, a
principal abordagem da administração está nas tarefas e na aplicação de métodos professores na elaboração dos pla-
científicos (observação, experiência, registro, análise) aos problemas da administra- nos de ensino, escolha de livros
ção, com o principal objetivo de alcançar maior eficiência industrial, produzir mais, didáticos, práticas de avaliação da
sempre com custos mais baixos. Diferentemente da concepção de Taylor, em que a aprendizagem.
ênfase dos processos administrativos está no desenvolvimento das tarefas realiza-
das por cada operário, na Teoria Clássica de Fayol a ênfase é posta na estrutura da 5. Prestar assistência pedagógico-di-
organização, considerando que toda empresa tem suas ações desenvolvidas a partir dática direta aos professores, acom-
de grupos que desempenham funções específicas. panhar e supervisionar suas ativi-

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A Gestão do Ensino e da Avaliação da Aprendizagem Contemporânea

dades tais como: desenvolvimento Esse é o compromisso social da escola e de seus


de competências metodológicas, profissionais na transmissão do saber historicamente
práticas avaliativas, gestão da classe,
produzido2. Para isto a escola existe: garantir, por meio
orientação da aprendizagem, diag-
nóstico de dificuldades, etc. do trabalho pedagógico, a formação para a cidadania
e para o mundo do trabalho a todos que a ela tiverem
6. Coordenar reuniões pedagógi-
cas e entrevistas com professores
acesso, em busca das condições necessárias à efetiva
visando a promover inter-relação participação em sociedade como seres humanos que
horizontal e vertical entre disci- constituem a sua própria existência. Assim, é essencial
plinas, estimular a realização de que a instituição de ensino organize suas ações e pro-
projetos conjuntos entre os pro- cedimentos de forma responsável, garantindo o direito
fessores, diagnosticar problemas
à educação a todos os alunos, independente de cor,
de ensino e aprendizagem e adotar
medidas pedagógicas preventivas, raça, sexo, idade e classe social.
adequar conteúdos, metodologias A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
e práticas avaliativas.
nal, LDB 9.394/96, desenvolvida com base no prin-
7. Organizar as turmas de aluno, cípio do direito universal à educação, é o principal
designar professores para as turmas, instrumento das instituições de ensino na organização
elaborar o horário escolar, planejar
e coordenar o Conselho de Classe.
e desenvolvimento dos processos que caracterizam
a gestão da educação e do ensino em seus diferentes
8. Propor e coordenar atividades de
níveis e modalidades.
formação continuada e de desenvol-
vimento profissional dos professores.
9. Elaborar e executar programas e 2 GESTÃO DO ENSINO
atividades com pais e comunidade,
especialmente de cunho científico A instituição de ensino, seja de educação infan-
e cultural. til, de ensino fundamental, de ensino médio ou de
10. Acompanhar o processo de avalia- ensino superior, é o espaço formal em que a educação
ção da aprendizagem (procedimen- se desenvolve em decorrência de uma ação intencio-
tos, resultados, formas de supera- nal, pois, por meio da ação docente, busca-se efetivar
ção de problemas, etc.). um trabalho pedagógico que resulte na aprendizagem
11. Cuidar da avaliação processual do de todos os alunos, garantindo a formação integral3
corpo docente. do cidadão.
12. Acompanhar e avaliar o desenvolvi- Para esse fim, é necessário que o professor possua
mento do plano pedagógico-curri-
cular e dos planos de ensino e outras
boa formação teórica, mas que também se interesse
formas de avaliação institucional. por seus alunos como seres humanos que são. Nesse
sentido, o conhecimento sobre os diferentes processos
Todavia, a gestão dos processos e das relações que se desenvolvem em sala de aula e que, na maioria
que se manifestam no interior da instituição não é das vezes, vão muito além da simples constatação sobre
tarefa fácil, pois, como já dito anteriormente, a escola o rendimento, exige, entre outros, a reflexão sobre o
“sofre” as interferências das demandas e transforma- currículo, material didático e a formação acadêmica,
ções que ocorrem na sociedade. Giroux e Simon sobre os aspectos cognitivos, sociais e culturais dos
(1995, p. 95) consideram: educandos, e sobre a gestão das instituições de ensino
[...] as escolas são formas sociais e políticas públicas para a educação.
que ampliam as capacidades
humanas, a fim de habilitar as Se gestão é tomada de decisão, diretor, pedagogo
pessoas a intervir na formação e professores são gestores e, portanto, devem estar
de suas próprias subjetividades e
2 Trata-se de um conhecimento que possibilita ao aluno desenvolver a sua
a serem capazes de exercer poder criticidade, elaborando uma visão de mundo coerente com a realidade sociocultural
com vistas a transformar as con- em que esteja inserido. Aqui talvez esteja a justificativa para a manutenção de uma
dições ideológicas e materiais de sociedade dividida em classes e organizada de modo desigual, pois, historicamente,
dominação em práticas que pro- este saber sempre foi de poder da classe dominante.
movam o fortalecimento do poder 3 Formação que resulta da apropriação dos conteúdos historicamente construídos
social e demonstrem as possibili- e de ações fundamentadas em valores éticos de solidariedade, respeitando, espe-
dades de democracia. cialmente, a pessoa humana em suas singularidades e diversidades.

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comprometidos nesse processo que deve contribuir meta, no contexto educacional ele indica a finalidade
para a formação de sujeitos capazes de aprender con- do trabalho educativo, pois retrata a gestão da escola,
tinuamente em um contexto de avanços tecnológicos especialmente o processo de ensino. Nele estão expli-
e de transformações. Sobre isso, Nogueira (2002, p. citados os fundamentos teórico-metodológicos, os
24-25) traz uma importante reflexão: objetivos, a organização e o sistema de avaliação da
Em uma época tão fortemente “tec- escola, ou seja, a organização pedagógico-administra-
nológica”, quer dizer, tão tomada tiva da instituição.
pela razão instrumental, pela inova-
ção e pela ideia de que as tecnologias Veiga (1995, p. 13) explica:
são um fator de progresso e bem-es- O projeto busca um rumo, uma
tar, não se cansa de repor uma velha direção. É uma ação intencional,
discussão, que nos inquieta mesmo com sentido explícito, com um com-
quando vem à tona de modo velado promisso definido coletivamente.
e contido. Devemos nos voltar pre- Por isso, todo projeto pedagógico da
dominantemente para o mercado escola é, também, um projeto polí-
e para o trabalho? O que devemos tico por estar intimamente articu-
almejar: ter entre nós bons profis- lado ao compromisso sociopolítico
sionais ou bons cidadãos? Temos com os interesses reais e coletivos da
por que temer o império da técnica população majoritária.
e da tecnologia, ou a técnica e a tec-
nologia são valores em si, recursos Também é importante conhecer a etimologia da
inofensivos, diante dos quais não há palavra. Projeto origina-se do latim projectu, particípio
o que temer e só se abrem perspecti- passado do verbo projecere, que significa lançar para
vas positivas? diante, dando a ideia de movimento e possibilitando
Todavia, é importante destacar a figura do peda- o estabelecimento de relação entre presente e futuro.
gogo, ou do coordenador pedagógico, na coordenação Portanto, é instrumento indispensável de ação e trans-
da gestão do processo de ensino. Sobre o ato de coor- formação, pois manifesta uma intencionalidade.
denar, Rangel (2002, p. 76-77) afirma: A compreensão sobre as duas dimensões do PPP
Coordenação é organizar em é fator determinante no processo de gestão do ensino.
comum, é prever e prover momen- Segundo Oliveira, Souza e Bahia (2005, p. 41),
tos de integração do trabalho, entre
as diversas disciplinas, numa mesma A dimensão política do Projeto é fun-
série, e na mesma disciplina, em damental porque: educar, segundo
todas as séries, aplicando-se a dife- Freire (1999), é um ato político; a
rentes atividades, a exemplo da ava- formação do sujeito ético-histórico;
liação e elaboração de programas, do cidadão que tenha condições de
de planos de curso, da seleção de fazer sua inserção comprometida na
livros didáticos, da identificação de sociedade são premissas da educa-
problemas que se manifestam no ção emancipatória, necessária para
cotidiano do trabalho, solicitando o ser humano sair da mediocridade
estudo e definição de critérios que (KANT, 1980).
fundamentem soluções. A dimensão pedagógica, presente
no próprio “saber fazer” do pro-
A coordenação, enquanto processo de ensino,
cesso ensino-aprendizagem, é
implica a organização e supervisão do trabalho peda- imprescindível, pois a construção e
gógico na busca da melhor aprendizagem dos alunos. sistematização do conhecimento e
Para tanto, é importante refletir sobre uma prática dos saberes se viabilizam através da
pedagógica fundamentada apenas na transmissão de ação pedagógica; a gestão, a orga-
nização do processo de trabalho, a
conhecimentos, retrato de uma concepção tradicional
prática docente, as ações coletivas,
de ensino em que o professor é encarado como o único a cultura organizacional, o envolvi-
detentor do saber, desconsiderando o conhecimento e mento da comunidade são espaços/
a experiência de vida de seu aluno. instâncias pedagogizados.

Para superação desse quadro, é determinante o O pedagogo, ou o coordenador pedagógico, em


projeto político-pedagógico (PPP). Se projeto é algo parceria com a direção da instituição, desempenha
que se quer alcançar, que indica um caminho ou uma importante papel nessa direção. Entre os exemplos

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que caracterizam a dimensão política está a mobiliza- Alguns princípios devem fundamentar esse pro-
ção dos profissionais da instituição e da comunidade cesso. São eles: igualdade, qualidade, gestão democrática,
a favor de uma participação ativa, que contribua liberdade e valorização dos profissionais do magistério.
positivamente para o êxito dos processos desenvolvi- No espaço escolar, e educacional, a igualdade se
dos pela escola. revela nas condições de acesso e permanência a todos
A dimensão pedagógica, por sua vez, traduz a os cidadãos, desde a mais tenra idade. Essa condição,
autonomia da escola no gerenciamento de seus pro- básica para a aprendizagem, tem que considerar que
cessos, sempre em acordo com a legislação e diretrizes cada sujeito possui características e ritmos de apren-
vigentes. Sobre isso, Barroso (1998, p. 16) alerta: dizagem que precisam ser respeitados nas diferentes
[...] o conceito de autonomia está etapas e níveis de escolarização. É o respeito à diver-
etimologicamente ligado à ideia sidade – cultural, social, econômica, sexual e outras –
de autogoverno, isto é, à faculdade que propicia o desenvolvimento de práticas inclusivas
que os indivíduos (ou as organiza- e democráticas.
ções) têm de se regerem por regras
próprias [e de que] a autonomia A qualidade é outro princípio fundamental na
pressupõe a liberdade (e capaci- construção do PPP e diretamente vinculado à ges-
dade) de decidir, ela não se con- tão do ensino, especialmente à qualidade educacional
funde com a “independência” [na
relacionada aos meios, formas, técnicas, procedimen-
medida em que a] autonomia é um
conceito relacional [...] sua ação tos, conteúdos e aspectos determinantes do trabalho
se exerce sempre num contexto de pedagógico, que contribuem para a melhor aprendi-
interdependência e num sistema de zagem possível dos alunos e efetiva apropriação das
relações (grifo do autor). matérias trabalhadas.
No entanto, é relevante compreender que para Mas também é importante considerar a qualidade
a legitimidade desse processo coletivo é necessá- social relacionada à formação de sujeitos capazes de
rio garantir espaço para que todos os integrantes da intervir positivamente na realidade em que estão inse-
comunidade escolar, sem exceção, participem das dis- ridos. Para Gentili e Alencar (2002, p. 98) qualidade
cussões e decisões que se realizam na escola. Isso exige social é “o movimento em favor de um ensino mais
a compreensão de que participar significa muito mais ativo, mais participativo, mais centrado nos interesses
do que apenas colaborar. No caso da escola pública, é dos alunos”, em consonância com os interesses sociais.
preciso primeiramente refletir.
Libâneo (2004, p. 67) relaciona as principais
A quem pertence a escola pública? características de uma escola com qualidade social:
Se não houver a consciência de
que a mesma pertence ao público, 22 Assegura sólida formação de base
que constitui a escola e seu que propicia o desenvolvimento
entorno, não haverá como envol- de habilidades cognitivas, operati-
ver seus segmentos, desencadear vas e sociais, por meio do domínio
a efetiva participação. Se a escola dos conteúdos escolares (conceitos,
e seus objetivos pertencerem ao procedimentos, valores), a prepa-
(à) diretor (a), ao governo, não ração para o mundo tecnológico e
há por que os professores, os fun- comunicacional, integrando a cul-
cionários, os agentes da comu- tura provida pela ciência, pela téc-
nidade se sentirem comprome- nica, pela linguagem, pela estética,
tidos com ela (BORDIGNON; pela ética.
GRACINDO, 2001, p. 171). 22 Desenvolve processos de formação
para a cidadania, incorporando
Assim, o PPP não é algo construído para ser novas práticas de gestão, possibili-
arquivado ou encaminhado às autoridades educacio- tando aos alunos a preparação para
nais como prova do cumprimento de tarefas burocrá- a participação nas organizações e
ticas; ao contrário, ele deve ser vivenciado em todos os movimentos populares, de modo
momentos, por todos os envolvidos com o processo a contribuir para o fortalecimento
da sociedade civil e controle da
educativo da escola. Todavia, para que esse processo gestão pública. Para isso, cria situ-
se efetive, é necessário desenvolver na instituição ações ações para a educação da respon-
fundamentadas em valores democráticos. sabilidade, participação, iniciativa,

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capacidade de liderança e tomada do repensar das estruturas de poder
de decisões. autoritário que permitem as rela-
ções sociais e, no seio dessas, as
22 Assegura a elevação do nível escolar
práticas educativas (grifo do autor).
para todas as crianças e jovens, sem
exceção, em condições iguais de A liberdade é um princípio que está associado
oferta dos meios de escolarização.
à ideia de autonomia, sendo ambas inerentes ao ato
22 Promove a integração entre a cul- pedagógico. Pensar nesse princípio pressupõe pensar
tura escolar e outras culturas, no nos processos que não podem acontecer de forma
rumo de uma educação intercultu-
ral e comunitária. aleatória, neutra e descomprometida, pois se desen-
volvem, fundamentalmente, nas salas de aula. Além
22 Cuida da formação de qualidades
morais, traços de caráter, atitu-
disso, pressupõe pensar, também, nas respectivas deci-
des, convicções, conforme ideais sões tomadas em relação ao currículo, ao processo de
humanistas. avaliação, à metodologia utilizada. Nesse contexto,
22 Dispõem de condições físicas, o resultado da aprendizagem dos alunos repercute
materiais e financeiras de funcio- sobre as relações estabelecidas entre os profissionais da
namento, condições de trabalho, escola, estudantes, pais e comunidade, e que se carac-
remuneração digna e formação terizam como aspecto determinante na gestão da ins-
continuada dos professores.
tituição de ensino.
22 Incorpora no cotidiano escolar as
novas tecnologias da comunicação O último princípio, não menos importante, é a
e informação. valorização do magistério, pois a participação dos pro-
fessores é determinante na construção do PPP. Nesse
A gestão democrática, princípio instituído na
sentido, a formação inicial e continuada4, as condições
Constituição Federal de 1988, é fundamental na cons-
de trabalho, o número de alunos por turma e os salários
trução e efetivação do PPP, pois exige que a estrutura
são alguns dos elementos que interferem na eficácia da
de poder da escola seja repensada. Democratizar as
ação docente.
relações e/ou espaços escolares significa, segundo Gen-
tili e M
­ cCowan (2003, p. 37), Ao se constituir em um processo democrático de
[...] construir participativamente decisões, o PPP deve orientar a organização de um tra-
um projeto de educação de quali- balho pedagógico que supere os conflitos, buscando
dade social, transformador e liber- eliminar as relações competitivas, corporativas e auto-
tador, em que o sistema de ensino ritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal
e, especialmente, a escola sejam um
e racionalizado da burocracia que permeia as relações
laboratório para o exercício e a con-
quista de direitos, voltado à cons- no interior da escola, diminuindo os efeitos fragmen-
trução de um projeto social solidá- tários da divisão do trabalho que reforça as diferenças
rio, que tenha na prática da justiça e e hierarquiza os poderes de decisão.
da liberdade, no respeito humano,
nas relações fraternas entre homens Assim, considera-se que o desafio da melhoria da
e mulheres e na reconstituição da qualidade do ensino pressupõe refletir sobre a forma-
relação harmônica com a natureza ção e o perfil docente, em uma ação que exige domínio
o centro de suas preocupações. teórico e prático sobre os diferentes procedimentos
É, portanto, por meio de vivências democráticas que envolvem o processo de ensino e aprendizagem.
que se formam cidadãos democráticos. Essa é a com- Formação teórica e conhecimento sobre os conteú-
preensão de Dourado (2006, p. 79), para quem a ges- dos trabalhados e sobre a ação didática são elementos
tão democrática é um fundamentais no desenvolvimento de uma boa aula.
[...] processo de aprendizado e de Sobre isso, Libâneo (2004, p. 15) afirma:
luta política que não se circuns- [...] não basta aos futuros profes-
creve aos limites da prática educa- sores desenvolver saberes e compe-
tiva, mas vislumbra, nas especifici- tências para sair-se bem nas aulas,
dades dessa prática social e de sua
4 A formação continuada é um direito de todo profissional da educação, pois
relativa autonomia, a possibilidade resulta na melhoria da qualificação e de competência dos professores. Para que a
de criação de canais de efetiva parti- escola desenvolva uma formação continuada em acordo com o projeto político-pe-
cipação e de aprendizado do “jogo” dagógico deve verificar as necessidades de aperfeiçoamento de seus profissionais
democrático e, consequentemente, e organizar um projeto de formação em acordo com as diretrizes da mantenedora.

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é preciso que saibam como e por professores, afinal, o processo de gestão do ensino não
que são tomadas certas decisões se extingue na organização e construção do PPP.
no âmbito do sistema de ensino,
como a direção da escola passa Como já apontado anteriormente, o PPP se efe-
essas decisões aos professores, e tiva no cotidiano escolar por meio de diferentes ações e
como essas decisões expressam atividades. Para tanto, é necessário elaborar um plane-
relações de poder, como tam-
bém expressam ideias sobre como jamento para cada uma das atividades desenvolvidas. É
devem se comportar e que tipo de ele que organiza de modo intencional o trabalho peda-
aluno deve ser formado. gógico, porém, para muitos professores, ainda se reduz
Ainda de acordo com Libâneo (2004, p. 37), para a um instrumento que deve ser elaborado e entregue
que o professor seja sujeito ativo e atue com compe- à coordenação pedagógica ou à secretaria da escola.
tência5 na gestão do ensino, é preciso dominar: Entretanto o planejamento escolar é muito mais do que
isso, pois deve resultar de um processo de estudo, pes-
22 Elaboração e execução do planeja-
quisa e reflexão.
mento escolar: projeto pedagógico-
-curricular, planos de ensino, plano Reflexão, que se origina do latim reflectire, signi-
de aula. fica voltar atrás. Nesse sentido, o planejamento deve
22 Organização e distribuição do espaço necessariamente decorrer de uma reflexão sobre o tra-
físico, qualidade e adequação dos balho realizado, possibilitando, quando necessário, a
equipamentos da escola e das demais
retomada da ação pedagógica e caracterizando uma
condições materiais e didáticas.
atitude crítica do professor frente à sua prática, pois
22 Estrutura organizacional e normas propicia constatar as características da realidade, ava-
regimentais e disciplinares.
liar conteúdos trabalhados, estratégias executadas e a
22 Habilidades de participação e inter- aprendizagem dos alunos (SAVIANI, 1987, p. 24).
venção em reuniões de professores,
conselho de classe, encontros, e em Libâneo (2004, p. 149) define o planejamento
outras ações de formação continu- escolar como uma
ada no trabalho.
Atividade de previsão da ação a ser
22 Atitudes necessárias à participação realizada, implicando definição de
solidária e responsável na gestão da necessidades a atender, objetivos a
escola como cooperação, solida- atingir dentro das possibilidades,
riedade, responsabilidade, respeito
procedimentos e recursos a serem
mútuo, diálogo.
empregados, tempo de execução e
22 Habilidades para obter informação formas de avaliação. O processo e
em várias fontes, inclusive nos meios o exercício de planejar referem-se
de comunicação e informática. a uma antecipação da prática, de
22 Elaboração e desenvolvimento de modo a prever e programar as ações
projetos de investigação. e os resultados desejados, consti-
tuindo-se numa atividade necessá-
22 Princípios e práticas de avaliação
ria à tomada de decisões.
institucional e avaliação da apren-
dizagem dos alunos. Enquanto instrumento característico da gestão
22 Noções sobre financiamento da do ensino, o planejamento possibilita, entre outros,
educação e controles contábeis, definir objetivos e metas em acordo com as diretrizes
assim como formas de participação educacionais vigentes e com as expectativas da equipe
na utilização e controle dos recursos
financeiros recebidos pela escola.
pedagógico-administrativa da escola e, consequente-
mente, desenvolver atividades que atendam às necessi-
É possível perceber que o êxito do processo educativo dades educativas dos estudantes.
está diretamente relacionado ao desenvolvimento de
várias ações, muitas delas decorrentes do trabalho Há, no entanto, que se diferenciar o planejamento
conjunto entre direção, coordenação pedagógica e escolar de um plano, pois muitos profissionais da edu-
cação ainda acreditam que ambos possuem a mesma
5 Competência que, segundo Libâneo (2004, p. 83), possui dois significados: o finalidade. Esse é um equívoco e pode resultar em uma
primeiro é relacionado à capacidade de alguém apreciar e julgar uma determinada
questão, e o segundo diz respeito ao conhecimento, à habilidade em resolver pro-
contínua improvisação da prática pedagógica em sala
blemas, realizar uma atividade. de aula, prejudicando o processo de aprendizagem.

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O planejamento traduz a interação concreta entre [...] o conjunto dos conteúdos
os professores e os educandos e é resultado de orga- cognitivos e simbólicos (saberes,
nizações específicas articuladas entre si: o plano da competências, representações, ten-
dências, valores) transmitidos (de
escola, o plano de ensino e o plano de aula.
modo explícito ou implícito) nas
Libâneo (1994, p. 225) define cada uma delas: práticas pedagógicas e nas situações
de escolarização, isto é, tudo aquilo
O plano da escola é um documento
mais global; expressa orientações que poderíamos chamar de dimen-
gerais que sintetizam, de um lado, são cognitiva e cultural da educa-
as ligações da escola com o sistema ção escolar.
escolar mais amplo, e, de outro,
Na instituição de ensino, o currículo se manifesta
as ligações do projeto pedagógico
da escola com os planos de ensino de diferentes formas. São eles: formal, real e oculto.
propriamente ditos. O plano de O currículo formal está relacionado ao conjunto
ensino (ou plano de unidades) é a
previsão dos objetivos e tarefas do de prescrições oriundas das diretrizes curriculares, pro-
trabalho docente para um ano ou duzidas tanto no nível nacional quanto nas Secretarias
semestre; é um documento mais e na própria instituição, e é indicado nos documentos
elaborado, dividido por unida- oficiais, nas propostas pedagógicas e nos regimentos
des sequenciais, no qual aparecem
objetivos específicos, conteúdos e
escolares. Nesse sentido, trabalha o conteúdo sele-
desenvolvimento metodológico. O cionado para ser transmitido aos alunos, fazendo os
plano de aula é a previsão do desen- recortes temporais, as codificações e as formalizações
volvimento do conteúdo para uma didáticas correspondentes.
aula ou conjunto de aulas e tem um
caráter bastante específico. O currículo real, como o próprio nome diz, está
Todas as aulas, inclusive daqueles profissionais relacionado ao que efetivamente acontece na sala de
considerados experientes, devem ser planejadas, espe- aula, como consequência do PPP e dos planos de aula.
cificando ações, conteúdos, objetivos, procedimentos Resulta da percepção e utilização que a prática docente
e recursos que serão utilizados na sistematização dos faz do currículo formal.
conteúdos programados, visando sempre à melhor O currículo oculto refere-se às interferências que
aprendizagem do aluno. afetam as aprendizagens dos estudantes e o trabalho
Outro importante elemento na gestão do ensino do professor, em decorrência das experiências cultu-
é o currículo6, elemento principal do projeto político- rais, dos valores e significados trazidos do meio socio-
-pedagógico, pois define o que ensinar, para que ensi- cultural em que a instituição está inserida. É chamado
nar e como ensinar. Todavia, o currículo deve resultar oculto porque não se manifesta explicitamente,
de uma ­construção social decorrente das influências não aparece descrito no planejamento, embora se
políticas, sociais, culturais e pedagógicas, manifestas configure como fator de aprendizagem. Silva (2001,
tanto na unidade escolar quanto na comunidade e p. 78) define:
no mundo, caracterizando-se como um conjunto de [...] currículo oculto é constitu-
ações que propiciam a formação humana em suas ído por todos aqueles aspectos do
múltiplas dimensões. ambiente escolar que, sem fazer
parte do currículo oficial, explícito,
Sacristán (2000, p. 34) define currículo como “o contribuem, de forma implícita
projeto seletivo de cultura, cultural, social, política e para aprendizagens s­ociais relevan-
administrativamente condicionado, que preenche a tes [...] o que se aprende no currí-
atividade escolar e que se torna realidade dentro das culo oculto são fundamentalmente
condições da escola tal como se acha configurada”. atitudes, comportamentos, valores
e orientações [...].
Para Fourquin (2000, p. 48), currículo é
É necessário compreender o currículo como
um processo dinâmico na construção dos saberes,
6 O Art. 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) resultado de uma interação dialógica entre práticas
afirma que os currículos dos Ensinos Fundamental e Médio devem possuir uma base
nacional comum a ser complementada por uma parte diversificada, com caracterís- pedagógicas e os movimentos sociais, culturais,
ticas regionais e locais das comunidades em que as escolas estão inseridas. políticos, econômicos, éticos, históricos e etnorraciais.

10 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL


A Gestão do Ensino e da Avaliação da Aprendizagem Contemporânea

Daí surge a necessidade de a escola organizar os perspectivas, visões e possibilidades. Enfim,


conteúdos7 curriculares, contemplando não apenas os conteúdos significativos;
conteúdos conceituais (conceitos e fatos), mas, tam- 22 critério de flexibilidade – o professor deve
bém, os procedimentais (procedimentos) e atitudinais ter consciência de que os conteúdos que
(valores e normas). serão trabalhados são passíveis de alterações,
A organização do currículo é ação determinante em decorrência de fatores e de situações que
na gestão do processo de ensino, pois o professor, no se manifestam no contexto escolar.
cotidiano de suas ações pedagógicas e no desenvolvi- Assim, para a concretização de um trabalho peda-
mento de seu planejamento de ensino, precisa tomar gógico responsável, a ação da coordenação pedagógica
decisões específicas. A principal delas é: o que ensinar é importante, auxiliando o professor na compreen-
aos alunos? são de que a qualidade de sua prática decorre, dentre
Ao relacionar os conteúdos que trabalhará em sala outros fatores, de um contínuo estudo e aperfeiçoa-
de aula, o docente estará definindo os conteúdos que mento técnico.
propiciarão atingir os objetivos propostos, pois são eles
que possibilitam aos alunos o desenvolvimento de suas
habilidades, bem como a construção de novos conhe-
3 A GESTÃO DA AVALIAÇÃO
cimentos. Todavia, é importante ressaltar que o conte- DA APRENDIZAGEM
údo trabalhado e o conhecimento que dele resulta só Cada indivíduo, desde pequeno, vai construindo
adquirem significado quando relacionados à realidade referenciais para avaliar seu comportamento e o com-
dos estudantes. portamento daqueles com que convive. São informa-
Para tanto, é preciso organizar a ação pedagógica ções coletadas a partir das reações das outras pessoas –
com o maior número possível de informações, evi- crianças e adultos – e integradas ao desenvolvimento da
tando a improvisação. Assim, na seleção do que ensi- personalidade de cada um, direcionando ações, decisões
nar aos alunos, os professores devem levar em conside- e atitudes. Sobre isso, Lima (2002, p. 6) explica
ração alguns critérios, tais como: No processo de avaliação, o ser
humano lança mão, desde a infân-
22 critérios de adequação às necessidades cia, de suas experiências vividas,
sociais e culturais – os conteúdos devem do que sabe, do que percebe, dos
apresentar aspectos da cultura, tanto do conhecimentos acumulados, pre-
passado quanto do presente e do futuro. Os sentes em seu meio, e aos quais ele
tem acesso, dos instrumentos cul-
melhores conteúdos são os que atendem às turais, das várias formas de agir que
necessidades sociais e individuais dos alunos, ele constituiu através da experiên-
pois, apesar de inseridos em uma sociedade cia cultural.
que impõe obrigações e responsabilidades, os
A palavra avaliar origina-se do latim a + valere,
indivíduos também apresentam necessidades
que significa atribuir valor e mérito a um determinado
pessoais e objetivos particulares;
objeto, ou seja, atribuir um juízo de valor sobre a pro-
22 critério de interesse – os conteúdos trabalha- priedade de um processo para a aferição da qualidade do
dos devem ser organizados de modo a desen- seu resultado.
volver o interesse do aluno, atendendo às
A necessidade dessa aferição também se mani-
demandas sociais e aos objetivos individuais,
festa no contexto educacional. No entanto, segundo
pois os interesses servem de base para a seleção
Vianna (2005, p. 145), só adquire uma “[...] natureza
dos conteúdos das respectivas disciplinas;
formal quando Horace Mann (1845) inicia a prática
22 critério de validade – os conteúdos escolhi- da coleta de dados para a fundamentação de decisões
dos devem ser relevantes para o estudante. políticas públicas que afetam a educação”.
Ao selecioná-los, o professor deve relacionar
No decorrer dos tempos, pesquisas foram reali-
aqueles que possam servir para toda a vida
zadas e estudos desenvolvidos, não sendo suficientes,
do individuo, sendo capazes de abrir novas
porém, para evitar que, ainda na contemporaneidade,
7 Coll et al. (2000, p. 12) definem os conteúdos como o conjunto de conhecimen- a avaliação se constitua em um dos maiores desafios
tos ou formas culturais cuja assimilação e apropriação pelos alunos e alunas são
consideradas essenciais para o desenvolvimento e socialização. das instituições de ensino, pois não há como descon-

Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 11


siderar que, além de caracterizar-se como um processo ção do aluno. A avaliação resume-se à realização de
relacionado às aprendizagens dos alunos, também se provas e testes, desconsiderando fatores e situações
relaciona ao trabalho desenvolvido pelos professores. sociais, culturais e econômicos que interferem no
Realiza-se aí uma ação característica do processo processo de aprendizagem.
de gestão do ensino. Trata-se de compreender que O segundo equívoco ocorre quando o professor
a avaliação não se resume apenas a atribuir notas e utiliza a avaliação como forma de premiação aos “bons”
conceitos aos alunos. É um processo pedagógico que alunos e de castigo àqueles considerados desinteressados
possibilita a orientação e o redimensionamento contí- e/ou indisciplinados. É frequente professores atribuí-
nuo do planejamento e da ação do professor. Libâneo rem ou retirarem “pontos” dos alunos em decorrência
(1994, p. 196) conceitua o processo de avaliação como de seus comportamentos ou participações durante as
[...] um componente do processo aulas. Essa é uma atitude que, muitas vezes, acaba oca-
de ensino que visa, através da veri- sionando a reprovação de alunos por décimos e revela a
ficação e qualificação dos resulta- utilização da avaliação como estratégia de poder, desfo-
dos obtidos, determinar a corres-
cada do processo de ensino e de aprendizagem.
pondência destes com os objetivos
propostos e, daí, orientar a tomada O terceiro equívoco se manifesta quando o pro-
de decisões em relação às atividades fessor superestima sua capacidade em avaliar, dispen-
didáticas seguintes.
sando a realização de avaliações e registros formais. É
Todavia, ainda há professores que desenvolvem importante frisar que mesmo os professores mais expe-
a avaliação da aprendizagem em uma perspectiva tra- rientes e capacitados necessitam de instrumentos para
dicional, “herança” de um modelo educacional que o monitoramento e registro dos resultados da aprendi-
utilizava periodicamente instrumentos de medida, zagem dos alunos.
quantificação e registro dos resultados, porém descon-
Não é raro vermos os alunos terem “seus desti-
textualizados dos processos e interferências que envol-
nos” definidos pelo professor no início do ano letivo,
vem a aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.
quando este já se considera capaz de diagnosticar aque-
Se avaliar significa atribuir valor, no processo de les que passarão de ano e os que serão reprovados, con-
ensino e aprendizagem não há espaço para a desva- sequentemente deixando de receber apoio pedagógico
lorização, seja do aluno, de seu desempenho, de suas e de participar de atividades, perdendo o ano letivo.
atividades. É necessário que o estudante esteja inserido Essa postura revela a face excludente da avaliação.
em um ambiente escolar em que ocorram intervenções
O quarto equívoco está na rejeição de qualquer
pedagógicas democráticas, resultantes de uma ação
forma de quantificação dos resultados da aprendiza-
ética, comprometida com a construção do conheci-
gem. O professor supervaloriza as avaliações qualitati-
mento e com a formação integral de cada educando.
vas, pois acredita que as provas prejudicam o desenvol-
Se avaliar significa atribuir vimento e traumatizam o aluno. Essa postura decorre
de uma compreensão deturpada que considera que
valor, no processo de ensino e não se deve mensurar ou atribuir notas às atividades
realizadas pelos estudantes. A avaliação acaba ficando
aprendizagem não há espaço resumida ao olhar subjetivo do professor.
para a desvalorização, seja do Percebe-se, portanto, a necessidade de integrar
aspectos quantitativos e qualitativos, sempre em uma
aluno, de seu desempenho, de ação responsável e comprometida com a melhor apren-
dizagem de todos. Daí a importância do coordenador
suas atividades. pedagógico realizar, juntamente com seus professores,
Para o êxito do processo avaliativo, é importante estudos e reflexões sobre os processos, procedimentos
que o coordenador pedagógico e o diretor orientem o e instrumentos avaliativos que são utilizados nas salas
professor na superação de equívocos que ainda ocor- de aula.
rem. Libâneo (1994) relaciona quatro deles. Nesse contexto, destaca-se o Conselho de Classe,
O primeiro equívoco está na supervalorização do momento em que se reúnem o diretor, o pedagogo
resultado final da avaliação, a aprovação ou reprova- e os professores que atuam com a turma. Também é

12 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL


A Gestão do Ensino e da Avaliação da Aprendizagem Contemporânea

possível a participação de um representante dos alu- “o aluno não estuda...”, “o aluno


nos, pois o principal objetivo do Conselho está em não colabora...”, “o aluno não se
interessa...”, “o aluno não está
discutir e refletir sobre a aprendizagem dos alunos, pronto...”, etc.
seus avanços e dificuldades.
Demonstra-se aí a importância de o professor
Nessa direção, a gestão do processo de avaliação possuir um novo olhar sobre o processo avaliativo,
pressupõe considerar, além dos resultados apresenta-
tendo a consciência de que essa transformação passa
dos em provas, testes e trabalhos, os conhecimentos,
pela reestruturação, quando necessário, de sua prá-
atitudes ou aptidões demonstradas pelos alunos em
tica pedagógica.
um determinado estágio de seu desenvolvimento. São
informações estratégicas que contribuem para o êxito No processo educacional, a tomada de consciên-
do processo de ensino-aprendizagem e para a melhoria cia dos profissionais sobre as diferentes funções da ava-
da qualidade do ensino. liação torna-se uma exigência. Para Libâneo (1994, p.
196), são três as principais funções da avaliação: peda-
Assim, o Conselho de Classe não é espaço para
gógico-didática, de diagnóstico e de controle.
fofocas ou para comentários pejorativos sobre os alu-
nos. O professor deve realizar observações concretas, A função pedagógico-didática está diretamente
embasadas na observação e no registro da aprendiza- relacionada aos objetivos e finalidades do processo de
gem de seus alunos. Esse é um olhar característico da ensino e aprendizagem.
avaliação qualitativa, diagnóstica, permanente, que A função de diagnóstico possibilita ao professor
respeita o ritmo individual de cada um e que contribui identificar os avanços e dificuldades dos educandos,
positivamente para a construção do conhecimento, antes de iniciar um determinado conteúdo. A “prog-
fazendo com que o aluno não apenas compreenda nose e a diagnose” (BORBA; SANMARTÍ, 2003, p.
o mundo em que vive, mas que seja preparado para 27) são fundamentais para a adequação e realização
transformá-lo, além de desenvolver o caráter, a consci- de atividades em acordo com as necessidades dos alu-
ência e a cidadania (BENVENUTTI, 2002). nos. Além disso, também aponta possíveis modifica-
No entanto, esse não é um trabalho fácil de ocor- ções e procedimentos a serem realizados durante o
rer, afinal a avaliação do processo de ensino e aprendi- processo de ensino.
zagem ainda se constitui como o principal mecanismo Essa função traz uma preciosa contribuição ao
de sustentação da lógica do poder docente, legitima- processo avaliativo, pois atua no desenvolvimento
dor do fracasso escolar. das duas outras funções avaliativas, possibilitando ao
Nesse sentido, a avaliação deve ser planejada professor verificar se houve o cumprimento da função
e articulada com os objetivos sugeridos na proposta pedagógico-didática, além de dar sentido pedagógico
pedagógica, além de favorecer a formação de pessoas à função de controle.
autônomas, críticas e conscientes. Segundo Libâneo (1994, p. 196), são funções que
Essa é a concepção democrática. Para ela a ava- podem ser desenvolvidas pelo professor nos diferentes
liação deve ser um processo contínuo ao processo de momentos da aula, favorecendo o acompanhamento
ensino-aprendizagem, permitindo identificar os pro- do desenvolvimento dos educandos, correção de equí-
gressos e dificuldades dos estudantes. Sendo assim, vocos, readequação de métodos e materiais, esclareci-
deve possibilitar a reorganização dos procedimentos mento de dúvidas e novas aprendizagens, bem como
didático-pedagógicos, utilizando-se, portanto, de pro- possibilitar ao professor a reflexão sobre sua prática
cedimentos e ações característicos de uma avaliação docente e sobre a aprendizagem dos alunos.
qualitativa, diagnóstica, permanente e com respeito
A função de controle está diretamente relacio-
ao ritmo individual de cada um, visto que não é raro
nada aos instrumentos formais de avaliação e aos
o professor individualizar as causas da avaliação no
resultados da aprendizagem. Para tanto, exige do
aluno. Batalloso (2003, p. 49) explica:
professor a verificação, correção e análise das ativi-
Quando um aluno é avaliado nega- dades realizadas pelos educandos, pois mesmo em
tivamente, a explicação rotineira
consiste em atribuir as causas dos
uma concepção democrática o controle possui fun-
resultados exclusivamente ao indi- ção importante, se realizado em articulação com as
víduo mediante traços negativos: funções diagnóstica e didático-pedagógica; caso con-

Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 13


trário, irá se caracterizar como uma simples tarefa de que executa. Se um estudante não aprende, não é ape-
atribuição de notas e de classificação. nas porque não estuda ou não possui as capacidades
O professor, durante o processo avaliativo, deve mínimas, a causa pode estar nas atividades que lhe são
considerar a importância da verificação, qualifica- propostas” (BORBA; SANMARTÍ, 2003, p. 30).
ção e apreciação qualitativa, ações que caracterizam Nesse sentido, permite ao professor detectar e
três modalidades de avaliação: diagnóstica, forma- identificar deficiências na forma de ensinar, possibili-
tiva e somativa. tando reformulações em sua prática pedagógica, aper-
A avaliação diagnóstica tem como principal feiçoando-a, pois, propicia a percepção dos pontos frá-
objetivo determinar o nível de aprendizagem de cada geis do processo de ensino-aprendizagem. O estudante
estudante antes de iniciar um novo conteúdo. De também se beneficia com esse processo, pois passa a
acordo com Miras e Solé (1996), a avaliação diagnós- identificar seus erros e acertos.
tica proporciona informações sobre as competências A avaliação somativa, por sua vez, configura-se
e habilidades dos estudantes. Porém, Luckesi (2005, como a modalidade mais frequentemente praticada
p. 82), alerta que “a avaliação diagnóstica não se pro- nas instituições de ensino, públicas e privadas, pois
põe e nem existe de uma forma solta e isolada, pois revela os resultados dos alunos ao final de um conte-
está vinculada a uma concepção pedagógica, em que údo. Nesse sentido,
a avaliação é utilizada como instrumento para a com- [...] pode ter uma função forma-
preensão sobre o estágio de aprendizagem em que o tiva de saber se os alunos adqui-
aluno se encontra. Quais são as informações neces- riram os comportamentos pre-
sárias para que o professor realize com sucesso uma vistos pelos professores e, em
avaliação diagnóstica? Borba e Sanmartí (2003, p. 29) consequência, têm os pré-requi-
sitos necessários para as aprendi-
relacionam algumas delas: zagens posteriores ou para deter-
22 do grau de aquisição dos prerrequisitos de minar os aspectos que deveriam
aprendizagem; ser modificados em uma futura
repetição da mesma sequência de
22 das ideias alternativas ou modelos espontâ- ensino-aprendizagem (BORBA;
neos de raciocínio e das estratégias espontâ- SANMARTÍ, 2003, p. 32).
neas de atuação; É preciso, porém, diferenciar a avaliação somativa
22 das atitudes e hábitos adquiridos com relação da avaliação classificatória, prática oriunda de uma
à aprendizagem; concepção autoritária e excludente que revela a “face
cruel” da escola, pois, quando utilizada como recurso
22 das representações das tarefas propostas. pedagógico e/ou estratégia de ensino, revela-se como
Percebe-se, portanto, que a avaliação diagnós- instrumento de coação, poder e controle. Todavia, é
tica pode representar uma estratégia para o desenvol- importante cuidar para não dar foco ao processo de
vimento de uma avaliação favorável ao aluno, pois avaliação apenas nos resultados finais, desconside-
resulta de um momento de reflexão sobre o processo rando os diversos fatores que interferem na aprendi-
de ensino e sobre a aprendizagem do educando, sem- zagem dos educandos. Essa ação é um equívoco peda-
pre visando à efetiva apropriação do conhecimento. gógico, resultando em um processo em que os alunos
Para isso, a escola deve, obrigatoriamente, superar os acabam sendo avaliados em função de uma maior ou
modelos e práticas decorrentes de uma sociedade con- menor capacidade de reter as informações passadas
servadora e de uma pedagogia tradicional e autoritária. pelo professor, desconsiderando-se o desenvolvimento
O termo “avaliação formativa” foi introduzido das potencialidades humanas.
por Scriven, em 1967, ao se referir aos procedimen- O coordenador pedagógico, mais uma vez,
tos utilizados pelos professores para adaptar o trabalho desempenha um importante papel para a superação
docente aos progressos e necessidades discentes. Essa desse quadro, que acaba resultando na reprovação de
é uma modalidade de avaliação que permite consta- muitos alunos. Segundo Arroyo (2001, p. 7, Prefácio),
tar se os estudantes estão, efetivamente, atingindo os [...] quando reprovamos e retemos
objetivos propostos, pois considera “que aprender é um aluno nos reprovamos como
um longo processo por meio do qual o aluno vai rees- humanos. Em cada ação, escolha
truturando seu conhecimento a partir das atividades ou prática escolar nos colocamos

14 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL


A Gestão do Ensino e da Avaliação da Aprendizagem Contemporânea

em jogo, percebemos que estamos ensino e da aprendizagem e, consequentemente, para


julgando seres humanos com as a melhoria da educação.
mesmas lógicas seletivas e exclu-
dentes com que nos descobrimos O Sistema de Avaliação da Educação Básica
julgados e excluídos. [...] Repro- (SAEB) é a primeira das avaliações em larga escala
vamos um ser humano, homem, desenvolvidas pelo Governo Federal na busca de
mulher, criança, adolescente,
jovem ou adulto trabalhador ou conhecer mais profundamente o sistema educacio-
trabalhadora em seu percurso social nal brasileiro. O SAEB é um dos principais sistemas
ou cultural: sua autoimagem, sensi- de avaliação vigentes na América Latina, permitindo
bilidades, identidades, projetos de acompanhar a qualidade da educação no decorrer dos
vida, emoções, afetividades. anos e subsidiando o Ministério da Educação, as Secre-
Essa citação propicia a reflexão sobre a respon- tarias de Educação e as escolas no planejamento e exe-
sabilidade social da educação, aliada à necessidade de cução de ações para esse fim.
oferta e garantia de um ensino de qualidade a todos os O SAEB foi instituído em 1988 com o objetivo
cidadãos brasileiros, independente de sexo, cor, raça e de acompanhar e monitorar a qualidade do ensino e
classe social. o rendimento escolar dos estudantes do ensino fun-
Nessa direção, o Governo Federal vem imple- damental, além de contribuir com a gestão, tanto dos
mentando ações e políticas educacionais que têm por sistemas, quanto das unidades escolares, pois a análise
objetivo monitorar o desempenho acadêmico dos do desempenho dos alunos configura-se como um
estudantes de diferentes níveis e etapas da educação importante elemento para o planejamento das ações
brasileira. São avaliações em larga escala, organiza- e o direcionamento de recursos técnicos e financeiros,
das pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacio- bem como auxilia no estabelecimento de metas e na
nais Anísio Teixeira (Inep), que, além dos resultados implantação de ações pedagógicas e administrativas,
da aprendizagem, verificam o que e como os alunos sempre visando à melhoria da qualidade do ensino
aprendem, quais f­ atores são associados ao rendimento (INEP, 2010a).
escolar, os impactos que ocorrem na aprendizagem e Realizando-se a cada dois anos, o SAEB utiliza
que são resultantes de fatores extra e intraescolares, amostras probabilísticas representativas de todos os
entre outros. São diversas avaliações com característi- estados brasileiros e do Distrito Federal e, além das
cas próprias aplicadas aos alunos de diferentes etapas provas, trabalha com questionários respondidos por
e níveis do ensino e que propiciam informações pre- professores e diretores, que propiciam informações
ciosas que devem ser utilizadas como subsídios para o relacionadas às condições físicas da escola e que favo-
aprimoramento do trabalho pedagógico. recem identificar aspectos que interferem no processo
Nesse sentido, o gestor da instituição de ensino de ensino e aprendizagem (INEP, 2010a).
deve divulgar na comunidade escolar os resultados Vianna (2005, p. 164), comenta sobre o SAEB:
obtidos pelos alunos. Porém, não basta apenas ter
A proposta do SAEB adotou um
acesso aos dados, é preciso compreender as implica-
modelo de estudo de fluxo e de
ções pedagógicas que eles revelam, pois “a avaliação produtividade da UNESCO, com
educacional, para bem delimitar e tentar responder às vistas a estudar questões relaciona-
questões propostas, não pode ficar restrita exclusiva- das com a gestão escolar, compe-
mente às questões pedagógicas, por mais importantes tência docente, custo-aluno direto
que sejam” (VIANNA, 2005, p. 93). e indireto e rendimento escolar,
com base em uma metodologia de
Na análise dos resultados das avaliações, é impor- amostras relacionadas (WAISEL-
tante refletir sobre as práticas docentes, o ambiente FISZ, 1991), mas sofreu radical
escolar, os processos de gestão, as condições de infraes- transformação em sua metodologia
trutura das instituições escolares, a formação e qualifi- e nos procedimentos de amostra-
gem, no segundo semestre de 1995.
cação dos professores e os aspectos pessoais relaciona-
dos aos alunos, como autoestima, nutrição, influência Em 2005, o SAEB sofreu uma transformação e pas-
familiar e condições de vida. Assim, conhecer a função sou a ser composto por dois processos distintos, a Ava-
e as principais características de cada uma dessas ava- liação Nacional da Educação Básica (ANEB) e a Ava-
liações contribui para o êxito do processo de gestão do liação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC).

Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 15


A ANEB trabalha com dados amostrais das redes médio. Seu objetivo principal é avaliar o desempenho
de ensino em cada unidade da Federação, tendo como do estudante ao término da escolaridade básica, veri-
principal foco os processos de gestão dos sistemas edu- ficando a apropriação de competências fundamentais
cacionais. A ANEB recebe o nome do SAEB em suas ao exercício pleno da cidadania, pois o modelo de
divulgações, pois mantém as mesmas características do avaliação adotado possibilita verificar o conhecimento
processo original. do aluno além da memorização. Além disso, avalia o
raciocínio e a interpretação do estudante diante de
A ANRESC, por sua vez, é mais detalhada e
situações-problema, em um modelo em que, mais do
extensa e tem foco na unidade escolar. Realizada por
que saber conceitos, é preciso demonstrar saber aplicá-
todos os alunos da unidade escolar matriculados nas
-los (INEP, 2010a).
etapas testadas, possui caráter universal e recebe o
nome de Prova Brasil. Sua primeira edição ocorreu em A partir de 2009, o ENEM passou ser utilizado
novembro de 2005, avaliando 3.306.378 estudantes como forma de seleção unificada nos processos sele-
de 4ª e 8ª séries (5º e 9º ano) do ensino fundamental, tivos das universidades públicas federais, buscando
de 5.398 municípios brasileiros. democratizar o acesso às vagas federais de ensino
superior, além de contribuir com a reestruturação dos
A ANRESC trabalha com os mesmos procedi-
currículos do ensino médio.
mentos e técnicas utilizados no SAEB. São aplicadas
provas de língua portuguesa, com foco na leitura, e O Brasil também participa de avaliações inter-
matemática, com questões elaboradas a partir do con- nacionais sobre a aprendizagem. O Programa Inter-
teúdo previsto nos currículos das etapas avaliadas, e nacional de Avaliação dos Alunos (PISA) realiza uma
ainda, com base nos Parâmetros Curriculares Nacio- avaliação que busca aferir os conhecimentos e habili-
nais. Os estudantes respondem, também, a um ques- dades adquiridos pelos estudantes, no final da escola-
tionário que coleta informações sobre seu contexto rização obrigatória8. As provas trabalham situações do
social, econômico e cultural (INEP, 2010a). cotidiano, verificando o preparo para a vida em socie-
dade, pois, segundo documento da Organização para
Em 2007, foi criada pelo Ministério da Educa-
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE,
ção a Provinha Brasil, funcionando como mais uma
2005), o con­teúdo trabalhado na escola deve “suprir as
ação em prol da equidade e da qualidade da educa-
necessidades de uma população de estudantes hetero-
ção pública brasileira, em acordo com as diretrizes do
gênea e reduzir as diferenças de desempenho, [o que]
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).
se constitui um desafio imenso para todos os países”.
Diferentemente das avaliações anteriores, a Provi- Desenvolvendo-se a cada três anos, o PISA dá
nha Brasil busca avaliar o desempenho dos estudantes ênfase distinta nas áreas de leitura, matemática e
que estão no segundo ano de escolaridade, período em ciências, trabalhando com cadernos de prova e ques-
que todos, efetivamente, devem saber ler e escrever. tionários que verificam o domínio de conhecimentos
Em outras palavras, a Provinha Brasil avalia o científicos básicos, além de examinar a capacidade dos
nível de alfabetização dos alunos matriculados nas alunos de analisar, raciocinar e refletir ativamente sobre
escolas públicas. Nesse sentido, é instrumento fun- seus conhecimentos e experiências (INEP, 2010b).
damental para a gestão do processo de ensino e de Vianna (2005, p. 170) comenta sobre o desempe-
aprendizagem, pois propicia aos professores, diretores, nho do Brasil nesse processo:
coordenadores e gestores das diversas redes de ensino
O relatório nacional PISA 2000,
informações que orientam a elaboração de ações e a elaborado pelo Instituto Nacional
implementação de políticas públicas, a favor do apren- de Estudos e Pesquisas Educacio-
dizado nas áreas de leitura e escrita, possibilitando às nais (INEP), mostra que o desem-
redes de ensino a correção de distorções no processo penho do Brasil em compreensão
de alfabetização. de leitura foi bastante comprome-
tido, ficando o nosso país entre
Para o monitoramento da aprendizagem no os 25% que obtiveram a média
ensino médio, surgiu o Exame Nacional do Ensino geral mais baixa, no conjunto em
que figuram a Polônia, a Grécia,
Médio (ENEM), uma avaliação individual, sem cará-
ter obrigatório, realizada anualmente pelos estudantes 8 O PISA é uma avaliação internacional que tem como principal finalidade avaliar o
desempenho de alunos na faixa dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término
que estão concluindo ou que já concluíram o ensino da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países.

16 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL


A Gestão do Ensino e da Avaliação da Aprendizagem Contemporânea

Portugal, a Federação Russa, o miadas com aumento de verbas. A “recompensa” será o


Luxemburgo e o México. Obser- incremento de 50% da sua verba do PDDE (Dinheiro
va-se nos dados do PISA que o
Brasil, no conjunto dos 32 países
Direito na Escola), que consiste no repasse de recursos
submetidos à avaliação de com- diretamente às escolas do Distrito Federal, estaduais e
preensão de leitura, situa-se entre municipais do ensino fundamental, com mais de 20
os 25% que apresentam os mais alunos matriculados.
baixos índices de desenvolvimento
humano (IDH), juntamente com As ações, programas e estratégias, e os procedi-
a República Checa, a Hungria, a mentos aqui tratados são característicos da gestão
Polônia, o México, a Federação do ensino e da avaliação da aprendizagem. Portanto,
Russa e a Letônia. devem ser desenvolvidos com competência e respon-
Mais uma vez, destaca-se que as avaliações apre- sabilidade, em prol da concretização de um ensino de
sentadas, juntamente com processos que se desenvol- qualidade, inclusivo e democrático; afinal, a educação
vem no ensino superior, são ferramentas que devem é fundamental para que se rompa com a lógica decor-
ser utilizadas na gestão do processo de ensino e da ava- rente do modelo socioeconômico vigente e que acar-
liação da aprendizagem. reta a exclusão social.
São processos que propiciam informações muito
importantes para todas as etapas e níveis de ensino, 4 CONSIDERAÇÕES
especialmente para aquelas que integram a educação
básica, pois o Brasil ainda busca garantir a todos seus Gestão é tomada de decisão. No contexto escolar,
cidadãos uma educação de qualidade. as inúmeras demandas e acontecimentos que interfe-
rem na ação docente e na aprendizagem dos alunos
No entanto, apenas os resultados das avaliações exigem do diretor, do pedagogo (ou coordenador
não bastam para assegurar a melhoria da qualidade pedagógico) e, especialmente, do professor organiza-
da educação. Com esse fim, o governo brasileiro ins- ção e planejamento.
tituiu o Índice de Desenvolvimento da Educação
Assim, pensar sobre a gestão do ensino e da ava-
Básica (IDEB), que “cruza” informações de fluxo esco-
liação da aprendizagem é refletir sobre as diferen-
lar, como aprovação, reprovação e evasão, os dados
tes ações e procedimentos que envolvem o processo
do Censo Escolar da Educação Básica e os resultados
pedagógico, entre eles o currículo, o planejamento, os
da Prova Brasil. Sua fórmula pode ser resumida da
métodos de ensino, a avaliação da aprendizagem e a
seguinte maneira: quanto menos tempo os alunos de
recuperação dos estudos. Procedimentos que caracteri-
uma escola levam para completar determinada etapa
zam a práxis pedagógica em prol da formação integral
do ensino e quanto mais altas são suas notas na Prova
do ser humano.
Brasil, melhor será o IDEB dessa escola. A escala vai
de 0 a 10. Desse modo, é acreditando na importância e na
responsabilidade social dos processos pedagógicos
Não há como desconsiderar a importância do
na formação dos alunos que se finaliza com Libâneo
IDEB para a melhoria da educação no Brasil, pois,
(1994, p. 227):
além de possibilitar traçar um mapa mais detalhado
sobre a qualidade das escolas brasileiras, identifica A escola democrática, portanto,
é aquela que possibilita a todas as
aquelas que precisam de mais investimentos, de apoio crianças a assimilação de conhe-
e assessoria técnico-pedagógica para aperfeiçoar seus cimentos científicos e o desen-
processos e ofertar um ensino melhor. Nesse sentido, volvimento de suas capacidades
o IDEB auxilia no monitoramento da evolução dos intelectuais, de modo a estarem
estudantes e das escolas, pois está vinculado a um preparadas para participar ativa-
mente da vida social (na profissão,
plano de metas. Para o ano de 2021, por exemplo, a na política, na cultura). Assim,
projeção é de que esteja, pelo menos, em seis pontos. as tarefas da escola, centradas na
transmissão e assimilação ativa dos
Desse modo, a gestão dos processos pedagógicos
conhecimentos, devem contribuir
realizados pela escola é determinante para o êxito das para objetivos de formação pro-
instituições nesse monitoramento, porque aquelas que fissional, para a compreensão das
se destacarem no cumprimento das metas serão pre- realidades do mundo do trabalho;

Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 17


de formação política para que per- FOURQUIN, J. O currículo entre o relativismo e o
mita o exercício ativo da cidada- universalismo. Educação e sociedade, Campinas, n.
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18 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL


A Gestão do Ensino e da Avaliação da Aprendizagem Contemporânea

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Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 19


20 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL
Material Complementar
AFIRMAÇÕES
22 O objeto específico da supervisão escolar em nível de escola é o processo de ensino e aprendizagem. A
abrangência desse processo inclui: currículo, programas, planejamento, avaliação, métodos de ensino
e recuperação, sobre os quais se observam os procedimentos de coordenação, com finalidade integra-
dora, e orientação, nucleada no estudo, nas trocas, no significado da práxis.
RANGEL, M. Supervisão: do sonho à ação – uma prática em transformação. In: FERREIRA, N. S.
C. (Org.). Supervisão educacional para uma escola de qualidade: da formação à ação. São Paulo:
Cortez, 2002. p. 78.

22 A avaliação, como ato diagnóstico, tem por objetivo a inclusão e não a exclusão; a inclusão e não a
seleção (que obrigatoriamente conduz à exclusão). O diagnóstico tem por objetivo aquilatar coisas,
atos, situações, pessoas, tendo em vista tomar decisões no sentido de criar condições para a obtenção
de uma maior satisfatoriedade daquilo que se esteja buscando ou construindo.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. 16. ed. São Paulo: Cortez, 2005. p. 172-173.

ESTUDOS DE CASOS
22 Em uma reunião da equipe pedagógico-administrativa da escola – pedagogas e direção – foi tratado
sobre a situação de uma determinada professora, regente do 4º ano do ensino fundamental. A peda-
goga comentou que:
22 o desempenho dos alunos da turma em avaliações realizadas estava muito baixo;
22 ao passar pela sala de aula, continuamente verificava que a professora estava sentada e os alunos
desorganizados;
22 verificando os cadernos dos alunos constatou que não havia correção realizada pela professora;
22 apesar de ser uma exigência da escola, a professora não organizava o planejamento das aulas e
trabalhava improvisadamente;
22 possuía alguns registros de reclamações de familiares a respeito da postura da professora;
22 mesmo tendo em três diferentes ocasiões conversado e orientado a professora, inclusive com regis-
tro em ata, a situação não se modificou.
A pedagoga comentou, ainda, que considerava necessário remanejar a professora de função, pois os
alunos estavam sendo seriamente prejudicados pela postura da professora. A direção concordou com a
decisão, destacando a responsabilidade e o compromisso social da escola com a efetiva aprendizagem
de seus alunos.
Comente em um texto de 10 a 15 linhas a relação existente entre a decisão da pedagoga e da diretora
e a gestão do processo de ensino.
22 No Conselho de Classe realizado ao final do ano, uma professora regente de uma turma do 3º ano
do ensino fundamental informou que iria reprovar um de seus alunos, comentando que se tratava de
um aluno indisciplinado, mal educado e arrogante, que não realizava as tarefas e que apresentou, no
decorrer do ano, notas sempre um pouco abaixo da média. Destacou, no entanto, que se ela atribuísse
“um ponto a mais” em uma atividade em grupo poderia aprová-lo; porém, afirmou que não iria fazê-lo,
pois, do seu ponto de vista, era um aluno que merecia a reprovação para “baixar a crista”.
A pedagoga questionou a professora sobre o fato de não ter apresentado a situação do referido aluno
nos Conselhos de Classe anteriormente realizados. A professora respondeu afirmando não ter sido
necessário, pois sua experiência de mais de 20 anos de magistério indicou, já no início do ano letivo,
o que iria acontecer. A pedagoga, então, solicitou à professora os registros sobre o desempenho do

22 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL


A Gestão do Ensino e da Avaliação da Aprendizagem Contemporânea

aluno nas diferentes áreas do conhecimento, sobre as intervenções pedagógicas desenvolvidas e as con-
versas realizadas com a família. A professora novamente respondeu que não possuía nada registrado,
além afirmar que nunca conversou com a família, pois era desestruturada e isso não contribuiria,
reafirmando que sua experiência dava a certeza sobre o desempenho do aluno. Diante do exposto, a
pedagoga discordou da reprovação do aluno, argumentando que a professora, além de demonstrar uma
prática excludente em suas ações, não possuía registros que comprovassem a realização de intervenções
pedagógicas que possibilitassem a transformação da situação. A diretora e os demais professores parti-
cipantes do Conselho de Classe apoiaram a decisão da pedagoga.
Analise a situação e produza um pequeno texto (15 a 20 linhas), em que apresente seu ponto de vista
sobre a prática da professora e a ação/decisão da pedagoga, sempre articulando-o com o processo de
gestão do ensino e da avaliação da aprendizagem.

CASOS DE REFORÇO
22 No início do ano letivo de uma escola de educação infantil e de ensino fundamental, o diretor reali-
zou uma reunião com todos os professores e funcionários da instituição, e, na ocasião, entre outros
temas, foram apresentados o projeto político-pedagógico e o regimento escolar. A partir daí, em
uma reflexão coletiva, buscou-se identificar situações pedagógico-administrativas ocorridas no ano
anterior que exigem a reorganização/realimentação do PPP para aprimorar/adequar o trabalho peda-
gógico dos docentes.
Você considera que essa ação realizada pelo diretor é característica da gestão do ensino? Justifique sua
resposta relacionando cinco aspectos – positivos ou negativos – dessa prática.
22 Uma escola de ensino fundamental marcou a formatura das 8ª séries (9º ano) para o dia 5 de dezembro;
porém, o calendário escolar da instituição determina a realização de aulas até o dia 15 de dezembro. Os
pais de um aluno que cursa a referida série questionaram junto à Secretaria de Educação essa decisão
da instituição, pois seu filho entrou em recuperação de estudos em língua portuguesa e matemática, e,
se aprovado, não poderia participar da cerimônia, marcada para 15 dias antes de se encerrar o trabalho
letivo na escola.
É importante considerar dois aspectos: a legislação educacional determina a obrigatoriedade de cum-
primento do calendário escolar (mínimo de 200 dias letivos) e o aluno tem o direito tanto de frequen-
tar a recuperação de estudos, quanto de participar das atividades programadas para sua turma.
a) Como você avalia a situação? Quem está certo, os pais ou a escola?
b) Se você fosse gestor(a) – diretor(a) ou pedagogo(a) – nessa escola, como procederia para resolver
o conflito?
c) Quais as consequências dessa decisão da escola?

TEMAS EMERGENTES
Os temas emergentes indicam temas atuais que enriquecem os conhecimentos da disciplina, pois permitem
identificar conceitos e fatos em evidência na sociedade.
Para acessar os sites a seguir basta posicionar a seta sobre o link em azul e clicar.
22 Na busca da melhoria da educação brasileira, é constante a discussão sobre a qualidade do ensino ofer-
tado nas escolas, especialmente nas públicas, afinal, a educação nas últimas décadas tem sido encarada
como elemento determinante para o desenvolvimento das nações. No Brasil, com a promulgação da
atual Constituição Federal, em 1988, a educação, juntamente com outros serviços, passou a ser con-
siderada direito público subjetivo. Se é direito constitucionalmente garantido e obrigação do Estado,
a qualidade desse serviço não pode ser exceção. Ao contrário, tem que ser regra para todos. Essa é a

Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 23


temática discutida no texto Qualidade do ensino: uma nova dimensão da luta pelo direito à educação, que
possibilita, além de novos conhecimentos, uma importante reflexão sobre a educação do país.
OLIVEIRA, R. P. de.; ARAUJO, G. C. de. Qualidade do ensino: uma nova dimensão da luta pelo
direito à educação. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n28/a02n28.pdf>. Acesso em: 04
abr. 2018.

LEITURAS COMPLEMENTARES
Os textos abaixo selecionados para leitura e desenvolvimento acadêmico retratam as produções de pesquisa-
dores da área. A leitura e análise desses textos contribui para o seu conhecimento, além de subsidiar a realização
das avaliações, já que as questões são elaboradas também a partir deles.
Para acessar os sites a seguir basta posicionar a seta sobre o link em azul e clicar.
FUSARI, J. C. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas indagações e tentativas de respostas. Dis-
ponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p044-053_c.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2018.
LEITE, S. A. da S.; KAGER, S. Efeitos aversivos das práticas de avaliação da aprendizagem escolar. Dispo-
nível em: <http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v17n62/a06v1762.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2018
LEON, F. L. L. de.; MENEZES-FILHO, N. A. Reprovação, avanço e evasão escolar no Brasil. Disponível
em: <http://ppe.ipea.gov.br/index.php/ppe/article/viewFile/138/73>. Acesso em: 04 abr. 2018.
MATTOS, C. L. G. de. O conselho de classe e a construção do fracasso escolar. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/ep/v31n2/a05v31n2.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2018.
NETO, A. L. G. C.; AQUINO, J. de L. F. A avaliação da aprendizagem como um ato amoroso: o que o
professor pratica? Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/edur/v25n2/10.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2018.
TORNQUIST, A. et al. A gestão escolar na perspectiva dos supervisores escolares. Disponível em: <http://
ensino.univates.br/~4iberoamericano/trabalhos/trabalho142.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2018.

VÍDEOS
Os vídeos selecionados retratam de forma audiovisual os conceitos abordados nesta disciplina.
Para acessar os sites a seguir basta posicionar a seta sobre o link em azul e clicar.

1. A construção do projeto político-pedagógico


O vídeo apresenta de forma breve os aspectos que caracterizam a construção coletiva do projeto ­político-pedagógico,
bem como destaca sua importância para a qualidade do ensino na instituição.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=mGA5HB0SfjY>. Acesso em: 05 abr. 2018.

2. Conceitos de currículo
O vídeo realiza uma interessante reflexão sobre os diferentes conceitos de currículo, relacionando-os com os
aspectos políticos e sociais desse importante elemento no processo de gestão do ensino.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=WzBcE9QsW1g>. Acesso em: 05 abr. 2018.

3. Era do Gelo II – foco e metas


No cotidiano escolar, o profissional que possui a função de coordenar o trabalho pedagógico tem de, necessaria-
mente, estabelecer metas e objetivos para o seu trabalho.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=ltQDS_qEj2s&feature=related>. Acesso em: 05 abr. 2018.

24 Faculdade Educacional da Lapa - FAEL


A Gestão do Ensino e da Avaliação da Aprendizagem Contemporânea

4. Liderança – o monge e o executivo


O pedagogo, ou o coordenador pedagógico, deve obrigatoriamente atuar como um líder, orientando e assesso-
rando os professores para que desempenhem com êxito sua ação educativa.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=S1P51oFKREQ&feature=related>. Acesso em: 05 abr. 2018.

5. Gestão do ensino (supervisão escolar)


A gestão do ensino também pode ser compreendida como um processo de supervisão escolar, pois atua sobre os
diferentes procedimentos e ações que envolvem o processo de ensino e aprendizagem.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=uz1SDCLJ_lU&feature=related>. Acesso em: 05 abr. 2018.

6. IDEB
O vídeo apresenta o IDEB, seus objetivos, compromissos e importância. Organizado pelo Ministério da Educa-
ção, propicia a compreensão da população em geral sobre ações do Governo Federal a favor da educação.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=i6KsIDJ5MKc&feature=related>. Acesso em: 05 abr. 2018.

7. Avaliação (Cipriano Luckesi)


O vídeo traz Cipriano Luckesi comentando e explicando aspectos da avaliação. Importante documento para a
melhor compreensão desse processo pedagógico.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=HLiQ6HNEge4>. Acesso em: 05 abr. 2018.

8. Reflexão: prêmio ou punição


O vídeo apresenta imagens, músicas e comentários que propiciam uma interessante reflexão sobre a avaliação
que vem sendo realizada no contexto escolar.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=6rHvpwKOpQg&feature=related>. Acesso em: 05 abr. 2018.

9. Avaliação
O vídeo apresenta a avaliação nas diferentes modalidades. Propicia a reflexão sobre os compromissos e respon-
sabilidades desse processo pedagógico.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=A90GwF-5bAk&feature=related>. Acesso em: 05 abr. 2018.

10. Qualidade na escola


O governo de São Paulo lançou um programa educacional voltado ao aprimoramento da ação docente nas esco-
las públicas. Considerando que SP acaba lançando “moda” para a restante do Brasil, sugere-se esse vídeo para
que, posteriormente, reflita-se sobre os prós e contras dessa medida para a gestão do ensino.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=gAQZFoDxNqE>. Acesso em: 05 abr. 2018.

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