Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sabe aquele chá que a sua avó faz para curar algum mal-estar? Ele pode funcionar.
Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba estudam a planta Cissampelos sympodialis
Eich (Menispermaceae), conhecida como Milona, encontrada no nordeste e no sudeste do
Brasil, cujo chá é muito usado na medicina popular para o tratamento de doenças
inflamatórias (bronquite e asma) e alergias. As pesquisas realizadas pelo Laboratório de
Tecnologia Farmacêutica (LTF) da UFPB comprovaram que a Milona regula a resposta
imune e tem ação antiinflamatória. O LTF já produziu dois medicamentos a partir da planta
para combater a asma, e insulina, para diabetes, que estão em fase de teste clínico.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também realiza pesquisas com o
extrato da folha de C. sympodialis, enviado pela Universidade da Paraíba. O objetivo do
Laboratório de Imunoparasitologia do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Goés
(IMPPG) da UFRJ é verificar se a warifteína (substância predominante na composição do
extrato) é o composto responsável pela ação curativa da planta.
Lígia Maria Torres Peçanha, doutora em imunologia e
professora do departamento de imunologia do IMPPG da UFRJ
há 10 anos, e a estudante de Microbiologia e Imunologia da UFRJ
Juliana Dutra Barbosa da Rocha pesquisam o efeito do alcalóide
warifteína, isolado do extrato da folha de C. sympodialis, sobre os
linfócitos B, células de defesa do corpo humano (ver quadro),
desde 2003. Os estudos já realizados provaram que a Cissampelos sympodialis
warifteína inibe as funções das células B, modulando a
resposta do sistema de defesa do organismo humano, e pode ser utilizada para o tratamento de
doenças auto-imunes, como lupus, esclerose múltipla, diabetes do tipo 1, tireoidite e artrite
reumatóite, entre outras (ver quadro).
A pesquisa constatou que a warifteína inibe a proliferação dos linfócitos B e a
secreção de anticorpos (substância que defende o corpo contra microorganismos agressores).
Por isso, o uso do alcalóide pode ajudar a controlar a produção exacerbada de anticorpos em
portadores de determinadas doenças auto-imunes. Estas doenças usam os anticorpos do
organismo contra suas próprias células, destruindo partes do corpo, o que pode levar à morte.
Não se sabe como estas moléstias se desenvolvem e nem como curá-las. O tratamento é feito
com medicamentos chamados corticóides. É uma terapia cara e que provoca efeitos colaterais.
LINFÓCITOS
São células de defesa. Suas funções são: identificar os microorganismos que entram no corpo
humano, reconhecer se este é perigoso ao organismo, definir se o micróbio deve ou não ser eliminado
e memorizar suas características para o caso de reincidência da infecção.
Há dois tipos de linfócitos: linfócitos T e linfócitos B. Os primeiros comandam a resposta do
sistema imunitário e ativam as células B. Os linfócitos, além de circularem no sangue, estacionam-se
em alguns órgãos, como os gânglios linfáticos, as amídalas, o baço e o intestino.
Linfócitos B
5 a 15% dos linfócitos circulantes;
função: produzir anticorpos (proteínas denominadas
imunoglobulinas) contra um determinado agressor;
quando em repouso, os linfócitos B não produzem anticorpos, só o
fazem quando estão ativados
Plasmócito é a denominação da célula B quando ativa. A tarefa dos plasmócitos na
resposta imune é secretar anticorpos específicos para cada antígeno (microorganismo estranho ao
corpo).
A estudante Daniele da Silva Marins, 23 anos, descobriu que tinha lupus há três anos.
Ela se trata com corticosteróide e inalantes que provocam aumento de peso e queda de cabelo.
O custo mensal dos medicamentos é alto: 150 Reais.
Dificuldades da Pesquisa
Algumas das dificuldades enfrentadas na pesquisa, de acordo com a Drª Lígia Maria
Peçanha, foi a formação de colaborações, pois não é possível realizar todas as etapas sozinha.
Por exemplo, é preciso ajuda de outras pessoas para a produção da planta e para a purificação
da droga. Além disso, existem as dificuldades financeiras que a maioria das pesquisas
brasileiras atravessam devido ao financiamento de órgãos burocráticos como CNPq e
FAPERJ.
Perspectivas
A partir dos resultados, surgem novas linhas de estudo. O próximo passo é descobrir de
que maneira a warifteína inibe a proliferação dos linfócitos B e se a substância atua em outras
células do sistema imunológico. A UFRJ já iniciou pesquisa que estudará a ação do alcalóide
sobre os neutrófilos (espécie de “infantaria” da defesa do organismo: são estas células as
primeiras a chegarem no local da infecção) e verificará se a warifteína impede a ida destas
células para a área infeccionada.
Sobre a utilização da warifteína em remédios, a Drª Lígia Maria Peçanha explica que é
possível o uso da substância em fármacos para o tratamento de doenças de caráter auto-imune.
com exarcebada produção de anticorpos, porém é necessária a realização de mais pesquisas
que confirmem a ação da droga e uma série de testes clínicos para comprovar sua eficácia.
Daniele Marins, portadora de lupus, afirma que:
— Sinceramente acredito que a cura para doenças auto-imunes ainda está longe, visto que
até mesmo o tratamento é feito de maneira individualizada. Mas, vejo a pesquisa da UFRJ
como uma alternativa que está por surgir.
A Cissampelos sympodialis não é patenteada, porém como já foram publicados artigos
sobre a planta, ela já se tornou de domínio público.
O Brasil tem a maior Biodiversidade do mundo (55 mil espécies de plantas catalogadas e
uma estimativa de 350 mil a 550 mil espécies não catalogadas). Pesquisas como as realizadas
pela a Universidade da Paraíba e
pela UFRJ são importantes porque permitem que sejam desenvolvidos fármacos que reduzam
a dependência do país a remédios importados. O estudo sobre os produtos naturais nacionais e
seus derivados também contribui para a permanência da patente do que ainda não foi
descoberto em solo brasileiro.
O mercado mundial de medicamentos originados de plantas movimenta anualmente
cerca de 60 bilhões de dólares.1
1
*Estudante de jornalismo da UFRJ (isabellamg@ig.com.br)
Fonte: Ministério da Saúde, http://portal.saude.gov.br /2005