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Unesp Bauru
gosto eu me ocupo não da dependência que possa ter a existência do objeto, mas do que
faço dessa representação em mim mesmo. Devemos admitir, com Kant, que todo
julgamento (juízo) de beleza em que influa uma partícula de interesse, deixa de ser um puro
juízo de gosto para se tornar um juízo parcial. Para Kant, não devemos nos deixar
influenciar pela existência das coisas, mas permanecer totalmente indiferentes para
podermos julgar se algo é belo ou não.
O belo, afirma Kant, é aquilo que independentemente de conceitos, se representa
como objeto de uma satisfação universal. Esta explicação do belo deriva da explicação
precedente como objeto de uma satisfação inteiramente desinteressada. O fundamento
universal parece ser o fato de que todos se dão conta de que a satisfação é para cada um
perfeitamente desinteressada. Este fato, de que todos se dão conta de que a satisfação é para
cada um desinteressada, implica num fundamento de satisfação para todos. Uma vez que a
satisfação não se baseia em nenhuma inclinação do indivíduo, nem sobre qualquer outro
interesse premeditado e que, no caso, aquele que julga se sinta totalmente livre com
respeito à satisfação dedicada ao objeto, ele não encontra nenhum fundamento (para a
satisfação) relacionado com o seu próprio sujeito. A base de tal satisfação deve estar, então,
naquilo que ele, como juiz, pode pressupor em todos os outros homens.
O juízo de gosto, como vimos, é estético, mas tem uma similaridade com o juízo
lógico. O indivíduo falará do belo como se a beleza fosse uma característica do objeto e
como se o juízo fosse lógico, constituindo uma cognição do objeto através dos seus
conceitos, no entanto este juízo é apenas estético e envolve somente uma referência da
representação do objeto para o indivíduo. A similaridade com o julgamento lógico leva a
pressuposição da validez para todos. A universalidade do juízo de gosto é uma
universalidade subjetiva, ela não depende de objetos.
“De fato quem tem consciência de ser desinteressado
no prazer que prova de alguma coisa não pode julgar a coisa
mesma senão como contendo uma causa do prazer, que seja
válida para cada um. Não sendo o prazer fundado sobre
alguma inclinação do sujeito e sentindo-se, ao invés, quem
julga, completamente livre em relação ao prazer que dedica ao
objeto ; ele não poderá achar nenhuma condição particular,
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uma coisa é “boa” (bom) quando, mediante a razão, nos agrada por si mesma, pelo seu
conceito, isto é, quando tem em si mesma o próprio fim.
A exclusão de todo interesse no prazer do belo se especifica, para Kant, nas três
modalidades do agradável, do útil e do bom. Estes são três elementos que têm o poder de
iniciar nosso puro juízo de gosto, e é, portanto, pela falta destes três elementos
“perturbadores” que podemos de certa maneira definir o caráter positivo da beleza.
A meu ver, um dos problemas que podemos apontar aqui é sobre a universalidade
do juízo de gosto. O senso comum, bem como a “comunidade dos estetas” apontam para a
relativização do gosto, de certa maneira estas considerações se chocam com a idéia de
universalidade apontada por Kant. A solução, a meu ver, está no fato de Kant admitir uma
indiscutível relatividade dos juízos que concernem ao agradável, mas esta espécie de juízo,
afirma, deriva do “gosto dos sentidos” e não do “gosto da reflexão”. Para o filósofo só este
último pretende à universalidade e, como se trata de um juízo reflexivo e não determinante,
a sua universalidade não poderá de maneira alguma fundamentar-se sobre os conceitos do
objeto, e não é, por isso, uma universalidade lógica, e sim, somente estética. Dada, porém, a
relação estabelecida com a categoria da quantidade, pode-se concordar com Kant que esta
espécie de universalidade sui generis não inclui uma quantidade objetiva do juízo, mas só
uma quantidade subjetiva.
Se persistirmos na pergunta: Como um juízo de gosto, que é um juízo particular,
pode ser universal? Kant vai dizer, por exemplo, que a rosa que eu olho a declaro bela com
um juízo de gosto; enquanto que, o juízo que corresponde à comparação de muitos juízos –
as rosas em geral são belas – não exprime mais um simples juízo estético, mas um juízo
lógico fundado sobre um juízo estético.
Outra questão que Kant destaca é sobre a precedência ou não do sentimento de
prazer no juízo de gosto, isto é, se este sentimento de prazer precede o juízo de gosto ou se
é o juízo de gosto precede o sentimento de prazer. A preocupação de Kant deve ter advindo
da contradição de se admitir que no juízo de gosto primeiro vem o prazer dado pelo objeto
e que a sua validade universal tivesse de se atribuir, somente depois, à representação do
próprio objeto. O prazer, neste caso, não seria outra coisa senão o simples “agradável” da
sensação, e não poderia ter senão uma validez particular dependente da representação do
objeto.
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Kant vai dizer que o juízo puramente subjetivo (estético) do objeto, ou das
representações com as quais ele é dado no juízo de gosto, precede o prazer que se tem do
objeto, e o fundamento deste prazer (posterior) está na harmonia das faculdades de
conhecer.
Conclui-se, como vimos, que no juízo de gosto a universalidade não está ligada a
nenhum conceito da coisa, importando-lhe principalmente livrar o juízo mesmo da
influência de qualquer conceito que não poderia deixar de falsificá-lo. O belo não só deve
agradar sem interesse algum, mas também universalmente sem conceito. “Belo é o que, no
imediato juízo de gosto, agrada universalmente, sem interesse e sem conceito. ”
Analítica do Sublime.
Kant começa suas considerações sobre o conceito do sublime através de uma
comparação deste com o conceito de belo. Belo e sublime estão de acordo pelo fato
agradarem ambos por si mesmos. Além disto, tanto em um caso como em outro, o prazer
não depende nem de uma sensação (como acontece com o “agradável”), nem de um
conceito determinado (como acontece com o “bom”). O juízo sobre o belo e o juízo sobre o
sublime são juízos singulares e não entram em nenhuma classe a qual se possa enquadrar-
assim como sob um conceito- todos os casos de beleza ou de sublimidade. Mas estes juízos
se apresentam à consciência de cada um, como verdadeiros juízos universais, embora
pretendam somente ao sentimento de prazer e não ao conhecimento do objeto.
Consideradas as características comuns constatamos que em outros aspectos o belo
e o sublime diferem consideravelmente. Por exemplo: enquanto o belo (da natureza, por
exemplo) concerne à forma do objeto, a qual consiste na limitação do mesmo, o sublime se
pode, ao contrário, achar também num objeto informe, porém com a condição de que a falta
dos limites seja representada junto com a totalidade. Assim, o belo pode ser considerado
como a exteriorização de um conceito indefinido do intelecto, e o sublime como um
conceito indefinido da razão.
Ainda nos valendo da comparação com o conceito de belo na tentativa de definir o
conceito de sublime, podemos apontar, agora como diferença, que enquanto o belo produz
diretamente uma sensação de euforia que é quase uma garantia de intensificação ou de
conservação da nossa vida sensível, o sublime, pelo contrário, é um prazer que se produz
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Kant, Crítica do Juízo, Analítica do Sublime § 23.
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que demonstra que se pode também pensar apenas numa faculdade da alma que supera toda
medida dos sentidos.
Bibliografia: