Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
John Wesley
III. 'Aquele que confia em seu próprio coração é um tolo', porque quem que
fosse sábio iria confiar em alguém que ele sabe ser 'desesperadamente mau?'.
1. A maioria dos mais eminentes dos antigos pagãos nos deixou muitos
testemunhos disto. Foi, decerto, a opinião comum deles, a de que houve um tempo,
em que os homens, em geral, eram virtuosos e felizes; o que eles denominaram de
'idade do ouro'. E o relato disto foi espalhado através de quase todas as nações. Mas
igualmente se acreditou que essa época feliz tinha se expirado, muitos anos atrás: e
que os homens estão agora, no meio da 'idade do ferro'. Do início desta, diz o poeta -
2. Mas quantos mais sabem que os antigos pagãos são a presente geração de
cristãos! Quantos panegíricos nós agora lemos e ouvimos sobre a Dignidade da
Natureza Humana. Um eminente pregador, em um dos seus sermões, pregado e
publicado, alguns poucos anos atrás, não teve escrúpulos de afirmar, Primeiro, que os
homens em geral (se não todos os indivíduos) são muito sábios; Em Segundo Lugar,
que os homens, em geral, são muito virtuosos; e, em Terceiro, que eles são muito
felizes. E eu não conheço, ainda, alguém que tenha sido tão ousado, para contestar a
afirmação.
5. Mas, o que quer que os infiéis não batizados ou batizados possam dizer,
com respeito à inocência da humanidade, Ele que fez o homem, e que melhor conhece
o que Ele fez, dá uma consideração muito diferente dele. Ele nos informa que 'o
coração do homem', de toda humanidade, de todo o homem nascido no mundo, 'é
desesperadamente mau'; e que é 'enganoso acima de todas as coisas'. De modo que
podemos bem perguntar, 'Como nós podemos saber isto?'.
2. Mas não existe um Deus no mundo? Sem dúvida, que existe: E é 'Ele que
nos fez; não nós mesmos'. Ele nos fez gratuitamente, de sua própria misericórdia; já
que não merecíamos coisa alguma dele, antes que tivéssemos existido. Foi de sua
misericórdia que Ele nos fez, afinal; que Ele nos fez criaturas conscientes, racionais,
e, acima de tudo, suscetíveis de Deus. E é isto, e tão somente isto, que estabelece a
diferença essencial entre os homens e os animais. Mas, se Ele nos fez, e nos deu tudo
o que temos; se nós devemos tudo que somos e temos a Ele; então, certamente, Ele
tem direto sobre tudo que somos e temos, -- ao nosso amor e obediência. Em todas as
épocas e nações, os muitos que acreditaram em si mesmos, têm reconhecido serem
suas criaturas. Mas, alguns poucos anos atrás, eu soube que um homem confessou
francamente: 'Eu nunca pude entender que, porque Deus nos criou, isto deu a Ele
alguma propriedade de governo sobre nós; ou que, por que Ele nos criou, isto nos
colocou, debaixo da obrigação de submetermos a Ele a nossa obediência'. Eu penso
que o Dr. Hutcheson foi o primeiro homem que nunca teve qualquer dúvida disto; que
nunca duvidou, muito menos negou, que a criatura fosse obrigada a obedecer a seu
Criador. Se Satanás, alguma vez, cogitou esse pensamento (não que ele
provavelmente tenha feito), não seria de se admirar que ele pudesse rebelar-se contra
Deus, e fazer surgir uma guerra no céu. E conseqüentemente, os inimigos poderiam
se erguer contra Deus, no coração dos homens também; juntamente com todas as
ramificações da descrença, que aflui disto até hoje. Por esta razão, surgiria
naturalmente a negligência de toda obrigação que devemos a Ele como nosso Criador,
e todas as paixões e esperanças, que são diretamente opostas a toda tal obrigação.
5. Mas se este for o caso, como é que todos não estão conscientes disto? Por
que, quem poderia 'saber das coisas de um homem, como o espírito de um homem que
está nele?'. Como é, então, que tão poucos conhecem a si mesmos? Por esta razão
simples: porque o coração não é apenas 'desesperadamente mau', mas 'enganoso
acima de todas as coisas'. Tão enganoso, que nós podemos bem perguntar, Quem
pode conhecê-lo?'. Quem, de fato, a não ser Deus que o fez? Pela Sua assistência, nós
podemos, em Segundo Lugar, considerar isto, -- a aparência enganosa do coração
humano.
II
1. 'É enganoso, acima de todas as coisas'; ou seja, no mais alto grau, acima de
tudo que podemos conceber. Tão enganoso, que a generalidade de homens estão
continuamente enganando, tanto a si mesmos, quanto os outros. Quão estranhamente
eles enganam a si mesmo, não conhecendo seus próprios temperamentos, assim como,
caracteres; imaginando-se abundantemente melhores e mais sábios do que são! O
poeta antigo supõe que não exista exceção à esta regra, -- que nenhum homem está
disposto a conhecer seu próprio coração'. Nenhum, a não ser aqueles que foram
ensinados por Deus!
3. Esta é uma das formas da maldade muito perigosa que se adere à natureza
de cada homem, seguida dessas raízes férteis, -- vontade própria, orgulho, e
independência de Deus. Disto, brota toda espécie de vícios e perversidades; disto,
todo pecado contra Deus, nosso próximo e nós mesmos. Contra Deus, -- negligência
e desprezo para com Ele, ao Seu nome, Seu dia, Sua palavra, Suas ordenanças;
ateísmo de um lado, e idolatria do outro; em particular, o amor ao mundo, o desejo da
carne, o desejo dos olhos, o orgulho da vida, o amor ao dinheiro, o amor ao poder, o
amor ao ócio, o amor 'à honra que vem dos homens', o amar a criatura, mais que o
Criador, o amar o prazer, mais do que amar a Deus: -- Contra nosso próximo, --
ingratidão, vingança, ódio, inveja, malícia, falta de caridade.
Eu sei que minha alma tem poder para saber todas as coisas, ainda assim, ela é cega e
ignorante de tudo: Eu sei que sou um dos pequenos reis da natureza; ainda assim, a menor e
mais vil de todas as coisas como servo.
III
[Editado por George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]