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3, 3302 (2013)
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Domingos Soares1
Departamento de Fı́sica, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
Recebido em 17/8/2012; Aceito em 2/2/2013; Publicado em 9/9/2013
I briefly present the foundations of relativistic cosmology, general relativity theory and the cosmological
principle. I discuss some relativistic models, namely, “Einstein static universe” and “Friedmann universes”.
The classical bibliographic references for the relevant tensorial demonstrations are indicated whenever necessary,
although the calculations themselves are not shown.
Keywords: general relativity theory, cosmology, Friedmann models, Einstein model.
fluxos de energia e momento gerados pelas fontes pre- equações completas, as quais têm como caso particular
sentes no espaço e que determinarão a geometria do as primeiras.
espaço-tempo - o lado esquerdo da Eq. (4). Além da redução aos limites newtonianos, Einstein
As componentes do tensor de energia-momento [7, utilizou também, para a postulação das equações de
p. 137] são as seguintes: campo, os critérios de simplicidade e de intuição fı́sica.
Einstein se pergunta: “Qual é a forma mais simples
T00 = densidade de matéria e energia. da métrica espaço-temporal, na ausência de fontes, que
resultará, no limite clássico, na equação de Laplace
T0ν = fluxo de energia (i.e., energia por unidade de
para o potencial gravitacional newtoniano? E se houve-
área, por unidade de tempo) na direção ν; ν ̸= 0.
rem fontes, como obter da forma mais simples o tensor
Tµ0 = densidade da componente µ do momento; µ ̸= 0. da métrica e, ao mesmo tempo, a redução clássica à
equação de Poisson?” E ainda, em ambos os casos da
Tµν = fluxo da componente µ do momento na direção teoria geral, ele deveria obter a conservação da energia
ν (i.e., tensão de cisalhamento). Note que “fluxo e do momento.
do momento” é o mesmo que “força por área”; Após a satisfação destes critérios e da redução aos
µ, ν ̸= 0. limites clássicos, a validade das equações formuladas
deve, naturalmente, ser verificada pela experiência.
Tµµ = fluxo da componente µ do momento na direção Como veremos, esta verificação ocorreu de forma ex-
µ (i.e., força sobre a área perpendicular, ou seja, tremamente satisfatoria para as equações de campo no
pressão, que difere de “tensão de cisalhamento” vácuo, mas, aparentemente, ainda não ocorreu para as
exatamente por levar em conta a componente equações completas.
da força perpendicular à superfı́cie sobre a qual
atua); µ ̸= 0.
3.1. As equações no vácuo
O tensor de energia-momento é simétrico, ou seja,
As equações da TRG no vácuo são em grande maneira
Tµν = Tνµ . Misner, Thorne e Wheeler [7, p. 141] mos-
- e até certo ponto, paradoxalmente, por não serem
tram isto utilizando um argumento fı́sico. Eles consi-
as equações completas - as grandes responsáveis pelo
deram as tensões de cisalhamento sobre um cubo muito
prestı́gio extraordinário de que goza a TRG. É o que
pequeno de aresta L e massa-energia igual a T00 L3 e
veremos a seguir.
mostram que ele teria aceleração angular infinita caso
As equações no vácuo são aquelas válidas para o
o tensor não fosse simétrico.
campo da métrica no vácuo, como, por exemplo, o
O tensor de energia-momento, por ser simétrico,
campo em torno do Sol, para o qual a densidade de
tem, no máximo, 10 componentes diferentes, ao invés
matéria ρ = 0. Estudando as simetrias do tensor de
das 16 de um tensor qualquer 4 × 4. Como veremos a
Ricci Rµν no limite clássico do tensor da métrica gµν [6,
seguir, os tensores relacionados à geometria do espaço-
p. 222], Einstein postula a seguinte forma, para as
tempo, no lado esquerdo da Eq. (4), também são simé-
equações de campo no vácuo
tricos.
Estamos prontos agora para discutir, em mais deta-
lhes, as equações de Einstein da TRG. Rµν = 0. (6)
Rµν = −κ(Tµν − 1/2gµν T ) + gµν Λ. Para Tµν = 0 tere- Rindler [6, p. 392] e Misner, Thorne e Wheeler [7,
mos [6, p. 303] p. 728] fornecem os resultados dos cálculos para Gµν
as equações de campo completas de Einstein, com as mento. Esta solução tem inúmeras aplicações práticas e
hipóteses de homogeneidade e isotropia do universo - é dada pela métrica de Schwarzschild. As soluções mais
o que posteriormente ficaria conhecido como princı́pio conhecidas das equações de campo completas são exa-
cosmológico - e obtém um modelo de curvatura espacial tamente os modelos da cosmologia relativista, válidas
positiva (espaço esférico) com fases de expansão e de para um fluido homogêneo e isotrópico, e elas falham
contração. Posteriormente, reconheceu-se que este era quando confrontadas com as observações. Os mode-
apenas uma das possibilidades de universos dinâmicos los relativistas só sobrevivem quando são postuladas
- um universo fechado oscilante - entre outras, quais as existências de entidades fı́sicas não observadas, tais
sejam, os universos abertos: o de curvatura negativa, como, a matéria escura e a energia escura (cf. Ref. [9]).
espaço hiperbólico e o de curvatura nula, espaço plano
ou euclidiano.
O trabalho de Friedmann só foi reconhecido pela Referências
comunidade cientı́fica muito tempo depois de sua pu- [1] M. Harwit, Astrophysical Concepts (Springer, Nova
blicação. Em sua homenagem, os modelos resultantes York, 1998).
da Eq. (16), sem Λ, receberam o nome de modelos
ou universos de Friedmann. Uma discussão detalhada, [2] E.F. Taylor and J.A. Wheeler, Spacetime Physics Intro-
duction to Special Relativity (W.H. Freeman and Com-
porém em nı́vel elementar, sobre os modelos de Fried-
pany, New York, 1992).
mann está apresentada na Ref. [11].
[3] E. Harrison, Cosmology - The Science of the Universe
(Cambridge University Press, Cambridge, 2000).
5. Considerações finais
[4] J. Hwang, Modern Cosmology: Assumptions and Li-
O modelo estático de Einstein foi o primeiro modelo mits (arXiv:1206.6297v1 [physics.hist-ph], 2012), http:
//arxiv.org/abs/1206.6297.
cosmológico relativista e, também, o primeiro a utili-
zar a constante cosmológica. Os modelos cosmológicos [5] D. Soares, A Tradução de Big Bang (2002), http:
relativistas modernos também incorporam a constante //www.fisica.ufmg.br/~dsoares/aap/bgbg.htm.
cosmológica, e conseguem por meio dela obter a con- [6] W. Rindler, Relativity - Special, General, and Cosmo-
sistência entre a idade teórica do universo e os limites logical (Oxford University Press, New York, 2006).
impostos pela evolução estelar. Em outras palavras, a [7] C.W. Misner, K.S. Thorne and J.A. Wheeler, Gravi-
constante cosmológica consegue resolver o chamado di- tation (W.H. Freeman and Company, San Francisco,
lema da idade do universo (mais detalhes na Ref. [12]). 1973).
É importante ressaltar que Friedmann (seção 4.2)
[8] F. Hoyle, G. Burbidge and J.V. Narlikar, A Different
obteve originalmente apenas o modelo fechado, por Approach to Cosmology: from a Static Universe th-
meio das equações completas de Einstein e do PC, rough the Big Bang towards Reality (Cambridge Uni-
o qual foi um conceito cosmológico introduzido por versity Press, Cambridge, 2000).
ele. Os três modelos de Friedmann modernos apare-
[9] D. Soares, Uma Pedra no Caminho da Teoria da Re-
ceram com a generalização introduzida pela métrica de
latividade Geral (2009), http://www.fisica.ufmg.br/
Robertson-Walker (Eq. (9)), que prevê, ainda, outras
~dsoares/ensino/trg-pdr.pdf.
topologias espaciais globais, especificadas pela cons-
tante de curvatura espacial k, além dos conhecidos mo- [10] D. Soares, Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica 34,
1302 (2012).
delos abertos hiperbólico, com k = -1, e plano, com
k = 0 [6, p. 367]. [11] A. Viglioni e D. Soares, Revista Brasileira de Ensino
Como foi antecipado na Ref. [9], vimos, na seção de Fı́sica 33, 4702 (2011).
3.1, que os grandes e decisivos testes da TRG são feitos [12] D. Soares, A Idade do Universo, A Constante de Hubble
para uma solução das equações de campo de Einstein e a Expansão Acelerada (2009), http://www.fisica.
no vácuo, isto é, na ausência de fontes de energia e mo- ufmg.br/~dsoares/ageunv/idadeunv.pdf.