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Resolução caso 4

O código civil regula a declaração negocial nos art. 217º e ss. É um elemento do
negócio, uma realidade de componente ou constitutiva da estrutura do negócio.

A capacidade de gozo de exercício e a legitimidade são requisitos de validade,


importando a sua falta uma invalidade. A declaração negocial é um elemento integrante
do negócio jurídico, conduzindo a sua falta à inexistência material do negócio.

A declaração negocial é um comportamento que, exteriormente observado, creia a


aparência de uma exteriorização de um certo conteúdo de vontade negocial,
caracterizando – se depois, a vontade negocial como a intenção de realizar certos efeitos
práticos. É uma vontade real, efetiva, psicológica enquanto elemento interior, é um
comportamento declarativo enquanto elemento exterior.

Existem, contudo, na declaração negocial “problemas”, são eles; a divergência entre a


vontade e a declaração; os vícios da vontade, a interpretação da declaração negocial, etc.
Estes problemas, têm subjacente, um conflito entre os interesses do declarante o os
interesses do declaratário.

Os elementos constitutivos da declaração negocial são: A declaração (consiste no


comportamento declarativo); a vontade (elemento interno,) consiste no querer, na
realidade volitiva que normalmente existirá e coincidirá com o sentido objetivo da
declaração)). A vontade real (elemento interno), decompõe – se em três subelementos (a
vontade de Acão; a vontade da declaração ou vontade da relevância negocial; vontade
negocial, vontade do conteúdo da declaração ou intenção do resultado (desvio na
vontade).

Assim pode acontecer, o declarante, ao formular, a sua declaração negocial, o elemento


interno desta, a sua vontade, não esteja suficientemente esclarecido.

A divergência entre a declaração e a vontade subdivide – se em divergência

Tal facto acontece, por o declarante não estar, de forma não intencional, em erro, seja
sobre a pessoa do declaratório, sobre o objeto do negócio ou sobre os motivos que
levam ao próprio negócio, (arts. 251º e 252º CC).
Porém tal erro, pode assim nascer no declarante em virtude da ação do declaratório ou
de terceiro, artº 253º CC

Em qualquer dos casos só terá relevo o erro, criado por terceiro ou não, que seja
essencial, ou seja, se foi o facto sobre que incide o erro que determinou o declarante a
produzir a declaração.

No caso em concreto, Manuel e os seus amigos, agiram de forma a criar em António um


estado de erro quanto à identidade do Manuel, assegurando tratar – se do seu velho
amigo Façanhas quando bem sabia, que não o era.

Ao agir desta forma tentaram obter uma vantagem sobre António.

Trata – se um erro determinado por um certo comportamento da outra parte o dolo (art.
253º nº 1), ou seja, o emprego de qualquer sugestão ou artificio com a intenção de
induzir ou manter em erro o autor da declaração, trata – se aqui do chamado dolo
positivo, visto existir uma ação consciente de enganar.

No caso em análise o dolo foi praticado por terceiros, com a ajuda dos amigos e
Manuel.

O dolo pode ser considerado como essencial ou determinado ou como incidental.

A distinção é feita nos termos em que se pôs o erro. No dolo essencial o enganado foi
induzido pelo dolo a concluir o negócio em si mesmo e não apenas nos termos em que
foi concluído; sem dolo não se teria concluído o negócio. No dolo incidental o enganado
apenas foi influenciado quanto aos termos do negócio, pois o negócio seria efetuado na
mesmo, no entanto noutras condições.

No caso trata – se de um dolo essencial, uma vez que o enganado foi induzido pelo dolo
a efetuar a doação, sem o dolo não existia doação; se não fosse o erro em que estava
António sobre a verdadeira identidade do Manuel, ele não faria a doação.

O principal efeito do dolo é a anulabilidade do negócio (art. 254º n º 1 CC), acrescida de


uma responsabilidade pré – negocial do autor do dolo, por ter dado origem à invalidade,
com o seu comportamento contrário às regras da boa – fé, durante os preliminares e a
formação do negócio (art. 227º).

A responsabilidade do dolo é uma responsabilidade pelo dano da confiança ou interesse


negativo. Ou seja, o enganado tem o direito de repristinação da situação anterior ao
negócio e a cobertura dos danos que sofreu por ter confiado no negócio e que não teria
sofrido sem essa confiança.

No caso o dolo proveio de terceiros o que implica que só pode haver anulação da
declaração se o declaratário tinha conhecimento do dolo (art. 254º, nº 2); ora no caso os
três amigos uniram – se de forma a enganar António.

O fundamento da anulabilidade da declaração do doo, encontra – se no facto de essa


adulteração ter sido causada pelo beneficiário dela ou por terceiro com o seu
conhecimento.

Nestes casos não há que proteger o declaratário sobre a confiança criada neste em
virtude da declaração produzida porquanto esta foi conseguida através de métodos
contrários ao dever ser.

Em consequência, e tendo por base a aplicação do art. 254º do CC e do artº 289º CC


deverá ser restituído o que tiver sido prestado entre António e Manuel.

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