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15/11/2018 Dizer o Direito: Breves comentários ao Decreto 9.412/2018, que atualizou os valores previstos no art.

23 da Lei de Licitações

MODALIDADES DE LICITAÇÃO
A Lei nº 8.666/93 prevê “modalidades” de licitação. Isso significa que, a
depender do objeto ou serviço que se irá contratar e também a depender do
valor dessa contratação, a lei obriga que o administrador público adote
determinada modalidade de licitação.
A Lei nº 8.666/93, em seu art. 23, prevê cinco modalidades de licitação:
I - concorrência;
II - tomada de preços;
III - convite;
IV - concurso;
V - leilão.

Obs: fora da Lei nº 8.666/93 existem ainda o pregão e a consulta.

Características de cada uma das modalidades:


Concorrência: é a modalidade de licitação mais complexa e rigorosa da Lei nº
8.666/93, sendo utilizada para contratações que envolvem grandes quantias.
Envolve quaisquer interessados e exige uma publicidade maior. Nesta espécie,
os interessados deverão, já na fase inicial da habilitação preliminar, comprovar
que possuem os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para
execução de seu objeto.

Tomada de preços: é considerada a modalidade intermediária. Nesta espécie, a


competição ocorre entre interessados devidamente cadastrados ou que
atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro
dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária
qualificação.

Convite: é a modalidade de licitação destinada para contratações de menor


valor. Nesta espécie, é a administração que envia cartas-convite para, pelo
menos, 3 empresas do ramo, a fim de que apresentem suas propostas.

Concurso: é a modalidade de licitação para escolher trabalho técnico, científico


ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos
vencedores.

Leilão: é a modalidade de licitação utilizada quando a Administração Pública


quer vender:
a) bens móveis inservíveis para a administração (até R$ 650 mil);
b) produtos legalmente apreendidos ou penhorados;
c) bens imóveis, cuja aquisição haja derivado de procedimentos judiciais ou de
dação em pagamento.

Perceba que as três modalidades utilizadas para a contratação de


compras e serviços são a concorrência, a tomada de preços e o
convite. A pergunta que surge é a seguinte: qual é o critério que
define a modalidade de licitação que deverá ser utilizada?
O art. 23 da Lei nº 8.666/93 prevê que esse critério é baseado no valor da
contratação:
Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do
artigo anterior serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo

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em vista o valor estimado da contratação:


I - para obras e serviços de engenharia:
a) convite - até R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais);
b) tomada de preços - até R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil
reais);
c) concorrência: acima de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil
reais);

II - para compras e serviços não referidos no inciso anterior:


a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);
b) tomada de preços - até R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais);
c) concorrência - acima de R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil
reais).

Esse art. 23 pode ser assim resumido:

Modalidade Obras e serviços de Compras e serviços que


engenharia não sejam de engenharia
CONVITE Até R$ 150 mil Até R$ 80 mil
TOMADA DE Até R$ 1 milhão e 500 mil Até R$ 650 mil
PREÇOS
CONCORRÊNCIA Acima de R$ 1 milhão e Acima de R$ 650 mil
500 mil

Qual era o “problema”?


Esses limites foram estipulados em 1998 pela Lei nº 9.648/98.
Já havia se passado 20 anos e os valores encontravam-se desatualizados.
O poder de compra de R$ 8 mil em 1998 não é o mesmo de 2018 em virtude
da inflação.
Assim, esses valores tornaram-se muito abaixo da realidade do mercado e
“engessaram” o administrador público.

Diante desse cenário, o que fez o Governo Federal?


O Presidente da República editou um decreto atualizando os valores do art. 23
da Lei nº 8.666/93.
Trata-se do Decreto nº 9.412/2018. Veja o que diz o art. 1º do Decreto:
Art. 1º Os valores estabelecidos nos incisos I e II do caput do art. 23 da Lei
nº 8.666, de 21 de junho de 1993, ficam atualizados nos seguintes termos:
I - para obras e serviços de engenharia:
a) na modalidade convite - até R$ 330.000,00 (trezentos e trinta mil reais);
b) na modalidade tomada de preços - até R$ 3.300.000,00 (três milhões e
trezentos mil reais); e
c) na modalidade concorrência - acima de R$ 3.300.000,00 (três milhões e
trezentos mil reais); e
II - para compras e serviços não incluídos no inciso I:
a) na modalidade convite - até R$ 176.000,00 (cento e setenta e seis mil
reais);
b) na modalidade tomada de preços - até R$ 1.430.000,00 (um milhão,
quatrocentos e trinta mil reais); e
c) na modalidade concorrência - acima de R$ 1.430.000,00 (um milhão,
quatrocentos e trinta mil reais).

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ATUALIZAÇÃO DO DECRETO 9.412/2018

Obras e serviços de Compras e serviços que não


Modalidade
engenharia sejam de engenharia

Antes: até 150 mil Antes: até 80 mil


CONVITE
Agora: até 330 mil Agora: até 176 mil

Antes: até 1 milhão e 500 mil


TOMADA DE Antes: até 650 mil
Agora: até 3 milhões e 300
PREÇOS Agora: até 1 milhão e 430 mil
mil

Antes: acima de 1 milhão e


Antes: acima de 650 mil
CONCORRÊNCI 500 mil
Agora: acima de 1 milhão e
A Agora: acima de 3 milhões e
430 mil
300 mil

Quais são as duas principais consequências?


1) Aumentam as situações nas quais o administrador público estará autorizado
a utilizar a modalidades de CONVITE e TOMADA DE PREÇOS.
Assim, com a atualização do valor, houve uma ampliação dos casos nos quais
a administração pública poderá realizar modalidades menos complexas de
licitação.
Ex: em maio de 2018, se a Administração Pública fosse construir a sede de um
órgão público e esta obra de engenharia fosse orçada em R$ 3 milhões, ela
deveria fazer a licitação sob a modalidade concorrência (com critérios mais
rígidos). Se essa mesma construção for feita em agosto de 2018, a
Administração Pública poderá realizar uma tomada de preços.

2) Aumenta o limite de valor (“teto”) que o administrador público tem para


contratar diretamente, sem licitação.
Vamos entender com calma essa segunda consequência nos tópicos abaixo.

OBRIGATORIEDADE DE LICITAÇÃO
Regra: obrigatoriedade de licitação
Como regra, a CF/88 impõe que a Administração Pública somente pode
contratar obras, serviços, compras e alienações se realizar uma licitação prévia
para escolher o contratante (art. 37, XXI).

Exceção: contratação direta nos casos especificados na legislação


O inciso XXI do art. 37 da CF/88 afirma que a lei poderá especificar casos em
que os contratos administrativos poderão ser celebrados sem esta prévia
licitação. A isso, a doutrina denomina “contratação direta”.

Resumindo:
A regra na Administração Pública é a contratação precedida de licitação.
Contudo, a legislação poderá prever casos excepcionais em que será possível a
contratação direta, sem licitação.

CONTRATAÇÃO DIRETA

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A Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93) prevê três grupos de situações em que a


contratação ocorrerá sem licitação prévia. Trata-se das chamadas licitações
dispensadas, dispensáveis e inexigíveis. Vejamos o quadro comparativo
abaixo:

Dispensada Dispensável Inexigível


Art. 17 Art. 24 Art. 25
Rol taxativo Rol taxativo Rol exemplificativo
A lei determina a não A lei autoriza a não Como a licitação é uma
realização da licitação, realização da licitação. disputa, é indispensável
obrigando a contratação Mesmo sendo que haja pluralidade de
direta. dispensável, a objetos e pluralidade de
Administração pode ofertantes para que ela
decidir realizar a licitação possa ocorrer. Assim, a
(discricionariedade). lei prevê alguns casos
em que a inexigibilidade
se verifica porque há
impossibilidade jurídica
de competição.
Ex.: quando a Ex.: compras de Ex.: contratação de
Administração Pública pequeno valor (inciso II). artista consagrado pela
possui uma dívida com o crítica especializada ou
particular e, em vez de pela opinião pública para
pagá-la em espécie, fazer o show do
transfere a ele um bem aniversário da cidade.
público desafetado,
como forma de quitação
do débito. A isso
chamamos de dação em
pagamento (art. 17, I,
"a").

LICITAÇÃO DISPENSÁVEL
O art. 24 da Lei nº 8.666/93 prevê um rol de situações nas quais seria
possível realizar uma licitação, mas a lei desobriga (dispensa) o administrador
de fazer o procedimento licitatório.

Licitação dispensável pelo pequeno valor


Duas hipóteses bem conhecidas de licitação dispensável estão nos incisos I e
II do art. 24 da Lei nº 8.666/93. Veja:
Art. 24. É dispensável a licitação:
I - para obras e serviços de engenharia de valor até 10% (dez por cento) do
limite previsto na alínea "a", do inciso I do artigo anterior, desde que não se
refiram a parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras e
serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas
conjunta e concomitantemente;
II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do
limite previsto na alínea "a", do inciso II do artigo anterior e para alienações,
nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de um

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mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada
de uma só vez;

A redação dos incisos é um pouco confusa, mas o que ele quer dizer é o
seguinte:
• Inciso I: o administrador público pode optar por realizar a contratação direta
(ou seja, sem licitação), no caso de obras ou serviços de engenharia se o valor
não for maior do que 10% do limite previsto no art. 23, I, “a”.

• Inciso II: o administrador público pode optar por realizar a contratação


direta (ou seja, sem licitação), no caso de compras e serviços (que não sejam
de engenharia) cujo valor não seja maior do que 10% do limite previsto no
art. 23, II, “a”.

E quais são os limites previstos no art. 23, I, “a” e II, “a”?


Inciso I
O inciso I, alínea “a” do art. 23 prevê R$ 150 mil:
Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do
artigo anterior serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo
em vista o valor estimado da contratação:
I - para obras e serviços de engenharia:
a) convite - até R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais);

Logo, 10% desse valor representava R$ 15 mil.

Inciso II
O inciso II, alínea “a” do art. 23 (obras e serviços que não sejam de
engenharia) prevê R$ 80 mil:
Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do
artigo anterior serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo
em vista o valor estimado da contratação:
II - para compras e serviços não referidos no inciso anterior:
a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);

Logo, 10% desse valor representava R$ 8 mil.

Conjugando o art. 24, I e II com o art. 23, I, “a” e II, “a”, o cenário
que se TINHA era o seguinte:

CONTRATAÇÃO DIRETA PELO PEQUENO VALOR


Não era necessário fazer licitação no caso de...
Obras ou serviços de engenharia: Compras e serviços diferentes de
se o valor não fosse maior do que R$ engenharia:
15 mil. se o valor não fosse maior que R$ 8
mil.
Fundamento: art. 24, I c/c art. 23, I, Fundamento: art. 24, II c/c art. 23, II,
“a” “a”

O que aconteceu?

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Como vimos, os valores previstos no art. 23 foram ampliados pelo Decreto nº


9.412/2018.
Como o art. 24, I e II faz remissão (referência) ao art. 23, os limites do art.
24, I e II foram também, por via de consequência, ampliados.
Vamos relembrar:

ATUALIZAÇÃO DO DECRETO 9.412/2018

Obras e serviços de Compras e serviços que não


Modalidade
engenharia sejam de engenharia

Antes: até 150 mil Antes: até 80 mil


CONVITE
Agora: até 330 mil Agora: até 176 mil

Antes: até 1 milhão e 500 mil


TOMADA DE Antes: até 650 mil
Agora: até 3 milhões e 300
PREÇOS Agora: até 1 milhão e 430 mil
mil

Antes: acima de 1 milhão e


Antes: acima de 650 mil
CONCORRÊNCI 500 mil
Agora: acima de 1 milhão e
A Agora: acima de 3 milhões e
430 mil
300 mil

Diante disso, com essa mudança nos valores do art. 23, veja como
ficou o reflexo na contratação direta dos incisos I e II do art. 24:

CONTRATAÇÃO DIRETA PELO PEQUENO VALOR (ART. 24, I e II)


(Com a atualização do Decreto 9.412/2018)

Pode haver contratação direta (sem licitação) nos seguintes casos:

Obras ou serviços de engenharia: Compras e serviços diferentes de


engenharia:
Antes: para haver a contratação
direta, o valor deveria ser até R$ 15 Antes: o valor da compra ou do serviço
mil. deveria ser de até R$ 8 mil.

Agora: o valor da obra ou do serviço Agora: para contratar sem licitação, o


deve ser de até R$ 33 mil. valor da compra ou do serviço deve ser
de até R$ 17.600,00 (17 mil e 600
reais).

Alguns de vocês devem estar se perguntando: mas como é possível


que um Decreto “altere” os valores que estão previstos em uma lei?
Como o Decreto nº 9.412/2018 pode ter atualizado os valores trazidos
pelo art. 23 da Lei nº 8.666/93?
Por mais estranho que pareça, a autorização para isso está no art. 120 da Lei
nº 8.666/93:

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Art. 120. Os valores fixados por esta Lei poderão ser anualmente revistos
pelo Poder Executivo Federal, que os fará publicar no Diário Oficial da União,
observando como limite superior a variação geral dos preços do mercado, no
período.

Como a produção de uma lei é bem mais demorada que a de um decreto, a


intenção do legislador foi a de dinamizar esse processo, permitindo uma
atualização rápida. Vale ressaltar, no entanto, a ressalva feita ao final no
sentido de que essa atualização deve respeitar “a variação geral dos preços do
mercado, no período”. Em outras palavras, não se trata de um aumento real,
mas sim de uma mera recomposição da variação dos preços no período.

Esse Decreto nº 9.412/2018 produz também efeitos no âmbito das


Administrações Públicas estadual, distrital e municipal? Em outras
palavras, ele vale também para Estados, DF e Municípios?
SIM. As normas gerais da Lei nº 8.666/93 são aplicáveis no âmbito dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. O Decreto
nº 9.412/2018 foi editado com base na autorização conferida pelo art. 120 da
Lei nº 8.666/93, que outorga ao “Poder Executivo Federal” a atribuição de
atualizar os valores fixados na Lei de Licitações. Logo, o Decreto editado
produz efeitos para todos os entes.

Vacatio legis
O Decreto nº 9.412/2018 possui vacatio legis de 30 dias e entra em vigor em
19/07/2018.

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