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sistemas de derivações
José Nunes de Alencar Neto
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INTRODUÇÃO que magnifica sinais elétricos e em um
galvanômetro que move uma agulha
O eletrocardiograma é uma fer- de acordo com a magnitude do poten-
ramenta indispensável na Medicina. cial elétrico do paciente e também de
Sua análise é complexa e muitos de- acordo com a direção dessa corrente:
talhes podem passar despercebidos positiva se o eletrodo está face a
por olhos menos treinados. Como face com o vetor e negativa se o ve-
qualquer exame da prática clínica, o tor está indo em direção contrária
profissional que irá fazer a sua análise ao eletrodo. Esse é um dos conceitos
precisa estar ciente do funcionamento mais fundamentais da eletrocardio-
correto do aparelho para detectar pos- grafia.
síveis artefatos. De acordo com as convenções fei-
Neste capítulo, revisaremos o corre- tas pelo inventor do galvanômetro de
to funcionamento do eletrocardiógra- corda, Einthoven, a inscrição do traça-
fo, desde sua configuração até o posi- do eletrocardiográfico deverá ser ca-
cionamento adequado dos eletrodos. librada no exame padrão da seguinte
Se você não dormir até o fim do capí- maneira: a cada 0,1 mV de diferença
tulo, ainda vamos apresentar maneiras de potencial registrada pelo galvanô-
diferentes de posicionar os eletrodos metro, 1 quadradinho (ou 1 milímetro)
pra tentar enxergar coisas diferentes será inscrito (Figura 1) – quando essa
no ECG. Foco, força e fé. configuração está selecionada, o apa-
relho trará a letra “N” maiúscula ou a
CONFIGURAÇÃO DO inscrição da Figura 2. Com relação ao
ELETROCARDIÓGRAFO – tempo, o papel corre pelo aparelho a
VELOCIDADE E GANHO uma velocidade de 25 mm/s. Essa é
a configuração padrão de um ECG.
O eletrocardiógrafo é um apare- Precisa ser aprendida, tá ok?
lho designado para gravar a ativida- Às vezes, por razão de melhor lei-
de elétrica cardíaca através de cabos tura do traçado, ou pesquisa de algo
para placas de metal em cada deri- específico, podemos solicitar para que
vação. Consiste em um amplificador se aumente ou diminua o “ganho” do
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Falando sobre voltagem ou amplitude, na configuração N, cada 10 mm corresponderá a 1 mV/mm, ou seja, 0,01 mV/mm. Falando sobre o tempo,
na velocidade habitual de 25 mm/s, cada 5 quadradinhos (ou 1 quadradão) corresponderão a 200 ms, e 1 quadradinho a 40 ms.
Figura 2 - No painel A, temos uma coluna com 10 mm, o que significa que cada 1 mV será
inscrito em 10 mm, esta é a configuração “N” padronizada por Einthoven. No painel B,
temos uma coluna com 5 mm, ou seja, a cada 1 mV serão inscritos apenas 5 mm, portanto,
N/2. No painel C, a cada 1 mV serão inscritos 20 mm, ou seja, 2N.
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tem ondas muito amplas e elas se en- mm/s ela ocuparia 2 quadradinhos ou
contram com as outras derivações de 2 mm no papel do ECG. Agora, como
modo que você não consegue ver seus estou gravando a 50 mm/s, os mesmos
limites, o examinador pode solicitar 80 ms serão gravados em 4 quadradi-
para reduzir o ganho pela metade ou a nhos, pois o papel vai passar com o do-
um quarto. Assim, cada 0,1 mV vai de- bro da velocidade por algo que mante-
senhar apenas 0,5 mm ou 0,25 mm – o ve a sua duração constante (1).
eletrocardiograma vai ficar mais limpo.
Aumentar o ganho de um ECG é CONFIGURAÇÃO DO
transformá-lo de “N” para “2N”. E reduzir ELETROCARDIÓGRAFO –
é deixá-lo em “N/2” ou “N/4” (Figura 2). FILTROS
Atenção: muitas avaliações dependem
da amplitude de ondas ou segmentos. A configuração de filtros é uma fer-
Um exemplo clássico é a medição do ramenta frequentemente negligencia-
supradesnivelamento do segmento ST da até mesmo por especialistas. Muitos
para infarto agudo do miocárdio, como artefatos podem interferir na gravação
veremos no capítulo 12. Considere que de um exame, a saber: contração mus-
determinado paciente tenha em D2 cular, respiração, linha elétrica, cam-
e D3 um supradesnivelamento de 1,5 pos magnéticos, marca-passos, pulsos
mm quando o aparelho está configura- arteriais, movimento, má adesão do
do em “N” – o que lhe dá o diagnóstico eletrodo com a pele.
de infarto. Mas imagine que no plantão Por essa razão, os aparelhos mo-
anterior, alguém apertou “sem querer” dernos de eletrocardiograma passa-
o botão do ganho e o reduziu para N/2. ram a filtrar sinais que não interessam
Esse paciente terá um supradesnivela- ao exame. Para isso, estudaram qual a
mento de 0,75 mm (metade) e o médi- frequência (em Hz) das ondas estuda-
co do dia errará em dizer que o pacien- das de interesse em eletrocardiografia.
te não tem infarto agudo. Erros em ECG Veja na tabela 1. Agora resta configu-
podem custar vidas. Uma dica prática é rar o aparelho para excluir do traçado
multiplicar as amplitudes por 2 em um as frequências dos artefatos, deixan-
ECG N/2, por 4 em um N/4, dividir por 2 do visíveis apenas a faixa que contém
em um 2N, e assim por diante. componentes normais do ECG. O leitor
Outra modificação passível de ser atento à tabela 1 perceberá que isso
realizada é aumentar a velocidade do nem sempre é possível. Um exemplo é
traçado e isso pode ser a chave para o artefato muscular que possui a mes-
encontrar ondas escondidas em rit- ma frequência de oscilações dos com-
mos muito acelerados. Como assim? ponentes do ECG. Sorte que resolver
Se uma determinada atividade elétri- isso é fácil: é só pedir para o paciente
ca, por exemplo, uma onda P, possui não se mexer durante a aquisição do
80 ms de duração, significa que a 25 exame.
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QRS 10 – 50 Hz
Onda T 1 – 7 Hz
Artefatos Frequência
Contração muscular 5 – 50 Hz
Como sabemos da sua dificuldade em física, trouxemos a fórmula de transformação de Hz em oscilações por minuto: é só multiplicar por 60. Pode usar
uma calculadora se quiser.
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Eletrodo Local
V3 Entre V2 e V4
V5 Entre V4 e V6
V7 Entre V6 e V8
V9 Medial a V8
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no teste não determina parede com ST, por isso sua importância em testes
isquemia; (b) a parede inferior sofre de ergométricos. Existem outras posições
altos índices de falso-negativo (10). em que esse eletrodo pode ser fixado,
por exemplo, na fronte do paciente
Figura 5 - Posicionamento de eletrodos pelo (Figura 6).
sistema Mason-Likar a ser usado em testes
ergométricos.
Figura 6 - Posições de eletrodos para aquisi-
ção de derivações bipolares extras.
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de ritmo.
Outro sistema bastante usado é
chamado de “Modified Chest Lead” ou
“Mariott’s Chest Lead”, onde o posicio-
namento de três eletrodos original-
mente descrito obedecia à seguinte
ordem: eletrodo do braço esquerdo no
local de V1, eletrodo do braço direito
locado infraclavicular à esquerda e ele-
trodo terra em qualquer local (11).
O leitor até aqui já deve ter perce- x: latero-lateral; y: supero-inferior; z: póstero-anterior. PF: plano frontal, PH:
bido que a atividade elétrica cardíaca plano horizontal, PS: plano sagital.
pode ser traduzida pela soma das di-
ferenças de potencial das células car- tas três derivações/eixos. No entanto,
díacas. Uma diferença de potencial entre 1945-1955, um conhecimento
resultante pode ser traduzida mate- maior sobre a geometria cardíaca e
maticamente como um vetor resultan- a relação do vetor resultante com os
te. Cientistas perceberam que o vetor diferentes posicionamentos de eletro-
cardíaco resultante poderia ser avalia- dos demonstrou que essas os sistemas
do através da construção de sistemas criados até então, Duchosal, tetaedro
ortogonais, que são nada mais do que de Wilson e cubo de Grishman, não
sistemas que representam três deriva- eram tão ortogonais assim. Não vamos
ções: x, y e z. Por convenção, x detecta nos ater a esses sistemas, pois estão
as forças laterais (similar à derivação em desuso na prática clínica.
D1 do ECG convencional); y detecta A importância do parágrafo an-
forças superiores ou inferiores e, assim terior é que foi a partir disso que sur-
como aVF, tem deflexão positiva caso giram as “derivações ortogonais cor-
um vetor aponte para o pé do pacien- rigidas”. Frank, em 1956, publicou o
te; e z, um eletrodo que detecta cor- primeiro sistema realmente ortogonal
rentes anteroposteriores, similar ao V2 (12), pelo menos nos modelos de torso
do ECG (Figura 7). em tanques (13) (Figura 8).
Nas décadas de 40 e 50, investiga- O sistema de Frank, ortogonal cor-
dores projetaram sistemas de medi- rigido, possui cinco eletrodos (A, C, E, I
ção do vetor resultante cardíaco nes- e M). A e I são posicionados nas linhas
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ção de 30 dias. Ele pesa entre 200-300 ramo direito ou esquerdo. Isso é pos-
g e pode possuir cabos e eletrodos sível caso haja a montagem de uma
ou apenas um patch adesivo na pele derivação “tipo V1” que consiste no po-
(19). Os sistemas de eletrodos variam sicionamento de um eletrodo positivo
de acordo com as diferentes marcas, no quarto espaço intercostal direito a
mas geralmente se limitam a dois ou 2,5 cm do esterno e um eletrodo ne-
três canais bipolares independentes, gativo no terço lateral da fossa infra-
10 eletrodos para a gravação de 12 de- clavicular. Se isso não for respeitado,
rivações ou o sistema EASI. Com o po- é impossível inferir se há bloqueio de
sicionamento de eletrodos bipolares ramo direito ou esquerdo ou apenas
nos locais corretos, um clínico pode bloqueio intraventricular (11).
inferir, a partir da gravação do Holter, Loop recorders são uma das varia-
que o paciente tem um bloqueio de ções do método. Nesse caso, deriva-
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ções bipolares são posicionadas por Nos últimos anos, temos visto ainda
semanas a meses na pele (Loop exter- a introdução de gravadores de ECG em
no) ou implantadas (Loop implantável) no smartphones e smartwatches. O Kardia
subcutâneo do paciente. Essa modalida- Mobile (AliveCor, Inc., Estados Unidos)
de reconhece automaticamente a arrit- é um device portátil em que se posi-
mia e podem gravar até 1 hora do evento. cionam os dois dedos para obter um
Muito útil para arritmias infrequentes. registro da gravação D1 (21). O Apple
Monitor de eventos é o terceiro Watch mede o fluxo sanguíneo atra-
tipo de gravação de ECG ambulatorial. vés de reflexos que o sangue causa em
Neste caso, o paciente ativa o gravador luzes de LED emitidas na parte poste-
com um botão. Bom para arritmias sin- rior do relógio ou através de infraver-
tomáticas. Tipicamente seu uso pode melho. Quando há irregularidade do
durar até 30 dias. ritmo cardíaco, o aparelho notifica o
A tabela 3 resume o rendimento usuário a tocar com o dedo da mão
diagnóstico e a figura 12 ilustra cada contralateral ao relógio para obter um
um desses aparatos (20). registro de D1 (Figura 13).
Pulsos de luz verde são enviados em alta frequência e os sensores de luz observam quantas vezes há reflexo dessa luz (o vermelho do sangue reflete luz verde).
O LED infravermelho também pode fazer contagem de ritmo cardíaco. Quando o aparelho detecta anormalidade, ele solicita ao usuário que posicione seu dedo
contralateral à mão onde está o relógio na “Digital Crown”, criando assim uma derivação braço esquerdo – braço direito, ou seja, D1.
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