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ECG Completo.

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O eletrocardiógrafo e os CAPÍTULO

sistemas de derivações
José Nunes de Alencar Neto
3
INTRODUÇÃO que magnifica sinais elétricos e em um
galvanômetro que move uma agulha
O eletrocardiograma é uma fer- de acordo com a magnitude do poten-
ramenta indispensável na Medicina. cial elétrico do paciente e também de
Sua análise é complexa e muitos de- acordo com a direção dessa corrente:
talhes podem passar despercebidos positiva se o eletrodo está face a
por olhos menos treinados. Como face com o vetor e negativa se o ve-
qualquer exame da prática clínica, o tor está indo em direção contrária
profissional que irá fazer a sua análise ao eletrodo. Esse é um dos conceitos
precisa estar ciente do funcionamento mais fundamentais da eletrocardio-
correto do aparelho para detectar pos- grafia.
síveis artefatos. De acordo com as convenções fei-
Neste capítulo, revisaremos o corre- tas pelo inventor do galvanômetro de
to funcionamento do eletrocardiógra- corda, Einthoven, a inscrição do traça-
fo, desde sua configuração até o posi- do eletrocardiográfico deverá ser ca-
cionamento adequado dos eletrodos. librada no exame padrão da seguinte
Se você não dormir até o fim do capí- maneira: a cada 0,1 mV de diferença
tulo, ainda vamos apresentar maneiras de potencial registrada pelo galvanô-
diferentes de posicionar os eletrodos metro, 1 quadradinho (ou 1 milímetro)
pra tentar enxergar coisas diferentes será inscrito (Figura 1) – quando essa
no ECG. Foco, força e fé. configuração está selecionada, o apa-
relho trará a letra “N” maiúscula ou a
CONFIGURAÇÃO DO inscrição da Figura 2. Com relação ao
ELETROCARDIÓGRAFO – tempo, o papel corre pelo aparelho a
VELOCIDADE E GANHO uma velocidade de 25 mm/s. Essa é
a configuração padrão de um ECG.
O eletrocardiógrafo é um apare- Precisa ser aprendida, tá ok?
lho designado para gravar a ativida- Às vezes, por razão de melhor lei-
de elétrica cardíaca através de cabos tura do traçado, ou pesquisa de algo
para placas de metal em cada deri- específico, podemos solicitar para que
vação. Consiste em um amplificador se aumente ou diminua o “ganho” do

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CAPÍTULO 3

traçado. Por exemplo: se você está em quem trabalha em emergência ou uni-


dúvida sobre uma linha reta no moni- dade de terapia intensiva sabe do que
tor, você pode configurar o aparelho estou falando. Resumindo, uma onda
para dobrar o ganho para você, isto é, pequena pode ser vista com mais ni-
se antes cada 0,1 mV significava 1 mm, tidez. Da mesma forma, se um traça-
agora significa 2 mm e talvez isso des- do de um paciente hipertrófico, por
mascare uma fibrilação ventricular – exemplo, está muito confuso porque

Figura 1 - Diagrama no papel de ECG demonstrando configuração.

Falando sobre voltagem ou amplitude, na configuração N, cada 10 mm corresponderá a 1 mV/mm, ou seja, 0,01 mV/mm. Falando sobre o tempo,
na velocidade habitual de 25 mm/s, cada 5 quadradinhos (ou 1 quadradão) corresponderão a 200 ms, e 1 quadradinho a 40 ms.

Figura 2 - No painel A, temos uma coluna com 10 mm, o que significa que cada 1 mV será
inscrito em 10 mm, esta é a configuração “N” padronizada por Einthoven. No painel B,
temos uma coluna com 5 mm, ou seja, a cada 1 mV serão inscritos apenas 5 mm, portanto,
N/2. No painel C, a cada 1 mV serão inscritos 20 mm, ou seja, 2N.

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O ELETROCARDIÓGRAFO E OS SISTEMAS DE DERIVAÇÕES

tem ondas muito amplas e elas se en- mm/s ela ocuparia 2 quadradinhos ou
contram com as outras derivações de 2 mm no papel do ECG. Agora, como
modo que você não consegue ver seus estou gravando a 50 mm/s, os mesmos
limites, o examinador pode solicitar 80 ms serão gravados em 4 quadradi-
para reduzir o ganho pela metade ou a nhos, pois o papel vai passar com o do-
um quarto. Assim, cada 0,1 mV vai de- bro da velocidade por algo que mante-
senhar apenas 0,5 mm ou 0,25 mm – o ve a sua duração constante (1).
eletrocardiograma vai ficar mais limpo.
Aumentar o ganho de um ECG é CONFIGURAÇÃO DO
transformá-lo de “N” para “2N”. E reduzir ELETROCARDIÓGRAFO –
é deixá-lo em “N/2” ou “N/4” (Figura 2). FILTROS
Atenção: muitas avaliações dependem
da amplitude de ondas ou segmentos. A configuração de filtros é uma fer-
Um exemplo clássico é a medição do ramenta frequentemente negligencia-
supradesnivelamento do segmento ST da até mesmo por especialistas. Muitos
para infarto agudo do miocárdio, como artefatos podem interferir na gravação
veremos no capítulo 12. Considere que de um exame, a saber: contração mus-
determinado paciente tenha em D2 cular, respiração, linha elétrica, cam-
e D3 um supradesnivelamento de 1,5 pos magnéticos, marca-passos, pulsos
mm quando o aparelho está configura- arteriais, movimento, má adesão do
do em “N” – o que lhe dá o diagnóstico eletrodo com a pele.
de infarto. Mas imagine que no plantão Por essa razão, os aparelhos mo-
anterior, alguém apertou “sem querer” dernos de eletrocardiograma passa-
o botão do ganho e o reduziu para N/2. ram a filtrar sinais que não interessam
Esse paciente terá um supradesnivela- ao exame. Para isso, estudaram qual a
mento de 0,75 mm (metade) e o médi- frequência (em Hz) das ondas estuda-
co do dia errará em dizer que o pacien- das de interesse em eletrocardiografia.
te não tem infarto agudo. Erros em ECG Veja na tabela 1. Agora resta configu-
podem custar vidas. Uma dica prática é rar o aparelho para excluir do traçado
multiplicar as amplitudes por 2 em um as frequências dos artefatos, deixan-
ECG N/2, por 4 em um N/4, dividir por 2 do visíveis apenas a faixa que contém
em um 2N, e assim por diante. componentes normais do ECG. O leitor
Outra modificação passível de ser atento à tabela 1 perceberá que isso
realizada é aumentar a velocidade do nem sempre é possível. Um exemplo é
traçado e isso pode ser a chave para o artefato muscular que possui a mes-
encontrar ondas escondidas em rit- ma frequência de oscilações dos com-
mos muito acelerados. Como assim? ponentes do ECG. Sorte que resolver
Se uma determinada atividade elétri- isso é fácil: é só pedir para o paciente
ca, por exemplo, uma onda P, possui não se mexer durante a aquisição do
80 ms de duração, significa que a 25 exame.

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CAPÍTULO 3

Tabela 1 - Frequências em Hz de componentes normais do ECG e artefatos.

Componentes do ECG Frequência

Batimentos cardíacos 0,67 Hz – 5 Hz (i.e., 40 – 300 bpm)

Onda P 0,67 Hz – 5Hz

QRS 10 – 50 Hz

Onda T 1 – 7 Hz

Potenciais de alta frequência 100 – 500 Hz

Artefatos Frequência

Contração muscular 5 – 50 Hz

Respiração 0,12 – 0,5 Hz (8 – 30 irpm)

Rede elétrica Brasil: 60 Hz (pode variar conforme cidade)

Campos magnéticos > 10 Hz

Como sabemos da sua dificuldade em física, trouxemos a fórmula de transformação de Hz em oscilações por minuto: é só multiplicar por 60. Pode usar
uma calculadora se quiser.

Para excluir sinais com oscilações em 1975 a respeito do tema sugeriu


lentas, ou seja, de baixa frequência, configurar os aparelhos para excluir
como a oscilação de baseline, que é frequências menores que 0,05 Hz, fre-
quando o traçado fica subindo e des- quência que não distorcia o ECG, mas
cendo pelo papel, introduzimos o não protegia contra oscilação de base-
“high-pass filter”, ou “filtro de passa-alta”. line. Por sorte, os novos filtros digitais
O problema relacionado a esse filtro conseguem corrigir essa distorção e
é que se excluirmos oscilações me- hoje podemos usar o limite de até 0,67
nores que 0,67 Hz, podemos não ver Hz sem prejuízos (2). Acorda aí. Vou re-
frequências cardíacas menores que 40 sumir o parágrafo pra você: em apare-
bpm, então foi decidido por excluir os- lhos modernos, podemos configurar o
cilações menores que 0,5 Hz e o resul- filtro de passas-altas em 0,05-0,67 Hz.
tado não foi animador: com essa fre- Para excluir sinais de alta frequên-
quência existe considerável distorção cia, como rede elétrica, o mais sensato
no ECG, principalmente em áreas em seria estabelecer um filtro que excluís-
que a amplitude de frequência muda se sinais com frequência maior que 50
abruptamente, como no segmento ST Hz (frequência máxima do complexo
(figura 3). A primeira recomendação QRS) e para esse fim foi criado o “filtro
da American Heart Association (AHA) de passa-baixa”. O problema, no en-

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O ELETROCARDIÓGRAFO E OS SISTEMAS DE DERIVAÇÕES

Figura 3 - Mudança de configuração do segmento ST de um batimento cardíaco em V1 sem fil-


tro (azul) e filtrado em passas-altas (vermelho) – perceba a importante distorção do segmento
ST em vermelho e os potenciais erros diagnósticos que podem acontecer secundários a isso.

tanto, é que isso reduz sobremaneira vido à mudança abrupta no espectro


a capacidade diagnóstica do exame, do domínio da frequência (Figura 4).
pois ondas de alta frequência (100 –
500 Hz) podem aparecer em algumas Figura 4 - “Artefato de anel” ausente em A e
patologias, como a onda épsilon em presente em B devido à configuração de um
displasia arritmogênica do ventrículo “notch filter” (29).

direito (3). Por isso, a recomendação é


que se configure um filtro de 150 Hz para
adultos (2) e 250 Hz para crianças (4).
O leitor atento deve perceber que
se um filtro que exclua frequências
maiores que 150 Hz for configurado, a
linha de rede elétrica, que possui 60 Hz
na maior parte do Brasil, não será ex-
cluída da gravação. Para rejeitar esses
sinais, um filtro específico é configura-
do: o line frequency filter (LFF), também
chamado “notch filter”, basicamente
um filtro que exclui frequências de 59
– 61 Hz. O problema desse filtro é a ge-
ração de “artefatos de anel” que ocor-
rem após complexos QRS e ocorre de-

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CAPÍTULO 3

O último filtro digno de nota é o do remos o eletrodo da perna direita de


eletrodo da perna direita ou com- “eletrodo terra” quando for oportuno.
mon mode rejection que serve para
cancelar os artefatos de rede elétrica CONFIGURAÇÃO DO
que vêm do próprio paciente, que nes- ELETROCARDIÓGRAFO –
se caso está servindo como antena. O POSICIONAMENTO DOS
aparelho faz isso automaticamente co- ELETRODOS NO PACIENTE
letando sinais na faixa de frequência
de rede elétrica provenientes dos de- O correto posicionamento dos ele-
mais membros e enviando ao apare- trodos no corpo do paciente em um
lho um sinal exatamente oposto a este ECG padrão já foi visto no capítulo 1.
(5). É para isso que serve o eletrodo da Revisamos de forma prática suas loca-
perna direita. Por essa razão, chama- lizações na tabela 2. Falando especifi-

Tabela 2 - Correto posicionamento de eletrodos em eletrocardiografia.

Eletrodo Local

Eletrodo amarelo Punho esquerdo

Eletrodo verde Tornozelo esquerdo

Eletrodo vermelho Punho direito

Eletrodo preto Tornozelo direito

V1 4º EIC. Para-esternal à direita

V2 4º EIC. Para-esternal à esquerda

V3 Entre V2 e V4

V4 5º EIC. Linha médio-clavicular esquerda

V5 Entre V4 e V6

V6 5º EIC, Linha axilar média

V7 Entre V6 e V8

V8 Inferior à ponta da escápula

V9 Medial a V8

V3R Entre V1 e V4R

V4R 5º EIC. Linha médio-clavicular direita

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O ELETROCARDIÓGRAFO E OS SISTEMAS DE DERIVAÇÕES

camente sobre o posicionamento dos Sistema Mason-Likar


eletrodos de membros, eles precisam
estar distais aos ombros e ao quadril, Em 1966, Mason e Likar sugeriram
não necessariamente nos pulsos e transferir os eletrodos dos membros
tornozelos. Existe, no entanto, descri- para o tórax em testes ergométricos,
ção de modificações em amplitudes e assunto que será discutido no capí-
durações de ondas de ECG quando o tulo 26. A mudança foi proposta para
eletrodo do braço esquerdo tem sua reduzir os artefatos causados pelos
posição modificada (6). Devido a isso, movimentos dos membros dos pa-
a recomendação do autor é posicioná- cientes enquanto eram submetidos ao
-las a nível de pulsos e tornozelos, evi- exame. No artigo original, não houve
tando colocá-las diretamente sobre as diferenças importantes em amplitudes
artérias radial e tibial anterior, pelo ris- quando se movia o eletrodo do braço
co do artefato de pulsação arterial que direito (RA) para a fossa infraclavicu-
será visto com detalhes no capítulo 5. lar direita medial à borda do músculo
A preparação da pele também é deltoide, dois centímetros abaixo da
crucial para a realização de um exame borda inferior da clavícula, o eletrodo
sem artefatos e deve ser perseguida do braço esquerdo (LA) em posição si-
em todas as situações da prática clí- milar à esquerda, e o eletrodo da perna
nica. A pele é um pobre condutor de esquerda (LL) na linha axilar anterior,
eletricidade e pode criar artefatos im- no ponto médio entre o rebordo cos-
portantes, pois não podem ser filtra- tal e a crista ilíaca. O eletrodo da perna
das pelo aparelho e sua amplitude é, direita foi ilustrado como posicionado
muitas vezes, muito maior que a do no membro no trabalho original de
traçado do paciente. A preparação da Mason e Likar, mas por conveniência, o
pele deve ser feita da seguinte manei- posicionamento em região análoga à
ra: (1) tricotomia da região onde os ele- da perna esquerda foi adotado (9) (Fi-
trodos serão fixados; (2) limpe a região gura 5). A adaptação, no entanto, não
com água e sabão ou álcool; (3) seque é isenta de falhas e críticas. O sistema
a área vigorosamente com papel toa- Mason-Likar de eletrodos causa um
lha ou gaze, realizando abrasão do lo- desvio de eixo do vetor cardíaco para
cal até que a pele fique cor de rosa. Es- a direita, reduz a amplitude das ondas
ses passos são suficientes para reduzir R em D1 e aVL e aumenta a amplitude
a impedância desse sistema pele-ele- da onda R em D2, D3 e aVF. Ainda mais
trodo (7,8). importante: é possível que esse desvio
Existem, na prática, outros tipos de de eletrodos faça com que os eletrodos
posicionamento de eletrocardiograma “inferiores” vejam a parede anterior do
de acordo com a indicação clínica. Nos coração, uma possível explicação para
próximos parágrafos, você vai encontrar velhos dogmas da eletrocardiografia
detalhes sobre os mais importantes: de esforço: (a) o infradesnivelamento

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CAPÍTULO 3

no teste não determina parede com ST, por isso sua importância em testes
isquemia; (b) a parede inferior sofre de ergométricos. Existem outras posições
altos índices de falso-negativo (10). em que esse eletrodo pode ser fixado,
por exemplo, na fronte do paciente
Figura 5 - Posicionamento de eletrodos pelo (Figura 6).
sistema Mason-Likar a ser usado em testes
ergométricos.
Figura 6 - Posições de eletrodos para aquisi-
ção de derivações bipolares extras.

O braço direito (RA) é posicionado na fossa infraclavicular, 2 cm abaixo da


borda inferior da clavícula, medial à borda do músculo deltoide. O braço
esquerdo (LA) é posicionado em região análoga à esquerda. A perna esquerda H: fronte do paciente. Usada da Suécia em eletrocardiogramas durante
(LL) é posicionada na linha axilar anterior, ponto médio entre o rebordo costal exercício em bicicleta ergométrica. S: fossa infraclavicular. M: manúbrio
e a crista ilíaca (9). esternal, de longe a mais utilizada. Tem uma sensibilidade importante em
detectar alterações de segmento ST, por isso seu uso em larga escala em
testes ergométricos. B: inferior à escápula. R: braço direito. C: em posição
No eletrocardiograma de exercício, análoga ao V5, mas do lado direito. Importante conhecer: manúbrio esternal.
acrescenta-se outro eletrodo no ma-
núbrio esternal do paciente que será
usado como polo negativo para o ele- Hospitalar
trodo V5. Perceba: V5 seguirá sendo
usado como dipolo do terminal cen- Para fins de monitoramento
tral de Wilson, mas também servirá hospitalar, o uso do sistema Mason-
de polo para o eletrodo do manúbrio Likar já discutido no tópico anterior
esternal. Desse modo, tem-se a deriva- é também amplamente utilizado,
ção CM5, que é uma das mais sensíveis apenas com os eletrodos dos
para detectar alterações de segmento membros. O acréscimo de um eletrodo

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O ELETROCARDIÓGRAFO E OS SISTEMAS DE DERIVAÇÕES

simulando V2 para-esternal à esquerda Figura 7 - Planos vetorcardiográficos frontal,


pode ajudar em situações de análise horizontal e sagital e eixos x, y e z.

de ritmo.
Outro sistema bastante usado é
chamado de “Modified Chest Lead” ou
“Mariott’s Chest Lead”, onde o posicio-
namento de três eletrodos original-
mente descrito obedecia à seguinte
ordem: eletrodo do braço esquerdo no
local de V1, eletrodo do braço direito
locado infraclavicular à esquerda e ele-
trodo terra em qualquer local (11).

Derivações ortogonais e o vetor-


cardiograma

O leitor até aqui já deve ter perce- x: latero-lateral; y: supero-inferior; z: póstero-anterior. PF: plano frontal, PH:
bido que a atividade elétrica cardíaca plano horizontal, PS: plano sagital.
pode ser traduzida pela soma das di-
ferenças de potencial das células car- tas três derivações/eixos. No entanto,
díacas. Uma diferença de potencial entre 1945-1955, um conhecimento
resultante pode ser traduzida mate- maior sobre a geometria cardíaca e
maticamente como um vetor resultan- a relação do vetor resultante com os
te. Cientistas perceberam que o vetor diferentes posicionamentos de eletro-
cardíaco resultante poderia ser avalia- dos demonstrou que essas os sistemas
do através da construção de sistemas criados até então, Duchosal, tetaedro
ortogonais, que são nada mais do que de Wilson e cubo de Grishman, não
sistemas que representam três deriva- eram tão ortogonais assim. Não vamos
ções: x, y e z. Por convenção, x detecta nos ater a esses sistemas, pois estão
as forças laterais (similar à derivação em desuso na prática clínica.
D1 do ECG convencional); y detecta A importância do parágrafo an-
forças superiores ou inferiores e, assim terior é que foi a partir disso que sur-
como aVF, tem deflexão positiva caso giram as “derivações ortogonais cor-
um vetor aponte para o pé do pacien- rigidas”. Frank, em 1956, publicou o
te; e z, um eletrodo que detecta cor- primeiro sistema realmente ortogonal
rentes anteroposteriores, similar ao V2 (12), pelo menos nos modelos de torso
do ECG (Figura 7). em tanques (13) (Figura 8).
Nas décadas de 40 e 50, investiga- O sistema de Frank, ortogonal cor-
dores projetaram sistemas de medi- rigido, possui cinco eletrodos (A, C, E, I
ção do vetor resultante cardíaco nes- e M). A e I são posicionados nas linhas

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CAPÍTULO 3

Figura 8 - Modelos de torsos estudados por SISTEMAS DE ECG


Frank e que foram a base para a correção dos “TRANSFORMADOS”
sistemas ortogonais (13).

Na década de 70, a fim de reduzir


o tempo de realização de um exame
e os custos com eletrodos, Dower in-
troduziram o sistema de “derivações
transformadas” (14) – soa estranho em
português, mas significa que com o re-
gistro de apenas três derivações (X, Y e
Z), serão calculadas matematicamente
as derivações clássicas do eletrocar-
diograma. O progresso da técnica foi
reportado pelo autor 11 anos mais tar-
axilares médias esquerda e direita, res- de trazendo um resultado no mínimo
pectivamente. E e M no esterno e colu- conflitante: o ECG derivado seria me-
na. C deve ficar 45º distante de A e E, em lhor correlacionado com os achados
uma posição similar ao ápice cardíaco. clínicos que o ECG de 12 derivações
Todas essas derivações estarão dispos- (15), resultado que foi duramente cri-
tas no 4º ou 5º espaço intercostal. Existe ticado. Anos mais tarde, diferenças
mais um eletrodo: o H, que geralmente em coeficientes de transferências fo-
é posicionado na porção posterior do ram percebidas e apresentadas no 14º
pescoço, mas sua localização não é par- Congresso Internacional de Eletrocar-
ticularmente importante (Figura 9). diografia (16).

Figura 9 - Posicionamento de eletrodos do sistema de Frank.

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O ELETROCARDIÓGRAFO E OS SISTEMAS DE DERIVAÇÕES

O contrário também é possível. HOLTER E OUTRAS FORMAS DE


Com todos os eletrodos posicionados ECG AMBULATORIAL
no tórax de um paciente, uma trans-
formação inversa de Dower (6) (IDT, Desenvolvido por Norman Jeff Hol-
sua sigla em inglês) ou transformação ter com sua primeira publicação em
de Kors (17), um aparelho de eletrocar- 1949, o eletrocardiograma ambulato-
diograma pode capturar um eletrocar- rial, hoje conhecido pelo nome do seu
diograma de 12 derivações e um vec- inventor, pesava 38 kg (Figura 11). Os
torcardiograma ao mesmo tempo. aparelhos atuais são leves e discretos
O uso dessas transformações pode e realizam monitorização contínua de
ser muito importante clinicamente ECG, com características distintas a
caso seja estudado em cenários clíni- depender do modelo escolhido pelo
cos e validado em pacientes de dife- clínico: detecção automática de arrit-
rentes formatos físicos. Por enquanto, mias, análise do ST e do QT, variabilida-
os seus idealizadores defendem os de de onda T, etc.
métodos de transformação por trazer
Figura 11 - Eletrocardiograma ambulatorial
mais informações sem o gasto de ele-
elaborado por Norman Jeff Holter em 1947,
trodos adicionais, e pela possibilidade
com trabalho publicado em 1949.
de retorno do estudo vetorcardiográfi-
co ao arsenal de exames complemen-
tares do cardiologista (11).
Outro sistema de ECG “transforma-
do” é o EASI, também proposto por Do-
wer, que consiste no uso de 4 eletrodos.
São posicionados nas posições A, E e I
de Frank, adicionando um eletrodo S
no topo do esterno (18) (Figura 10).
Figura 10 - Posicionamento de eletrodos no
sistema EASI.

O Holter (escreve-se com letra


inicial maiúscula) mais conhecido da
comunidade médica é o gravador
de ECG ambulatorial de 24-48 h, mas
pode chegar a capacidades de grava-

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CAPÍTULO 3

Tabela 3 - Rendimento diagnóstico dos diferentes tipos de ECG ambulatorial.

Duração da Tipo de grava- AVC


Palpitações (%) Síncope (%)
gravação dor criptogênico
24 – 48 horas Holter 10-15 1-5 1-5

3-7 dias Holter patch 50-70 5-10 5-10(?)

1-4 semanas Loop externo 70-80 15-25 10-15

Até 36 meses Loop implantável 80-90 30-50 15-20

AVC: acidente vascular cerebral (20).

ção de 30 dias. Ele pesa entre 200-300 ramo direito ou esquerdo. Isso é pos-
g e pode possuir cabos e eletrodos sível caso haja a montagem de uma
ou apenas um patch adesivo na pele derivação “tipo V1” que consiste no po-
(19). Os sistemas de eletrodos variam sicionamento de um eletrodo positivo
de acordo com as diferentes marcas, no quarto espaço intercostal direito a
mas geralmente se limitam a dois ou 2,5 cm do esterno e um eletrodo ne-
três canais bipolares independentes, gativo no terço lateral da fossa infra-
10 eletrodos para a gravação de 12 de- clavicular. Se isso não for respeitado,
rivações ou o sistema EASI. Com o po- é impossível inferir se há bloqueio de
sicionamento de eletrodos bipolares ramo direito ou esquerdo ou apenas
nos locais corretos, um clínico pode bloqueio intraventricular (11).
inferir, a partir da gravação do Holter, Loop recorders são uma das varia-
que o paciente tem um bloqueio de ções do método. Nesse caso, deriva-

Figura 12 - Diferentes tipos de ECG ambulatorial.

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O ELETROCARDIÓGRAFO E OS SISTEMAS DE DERIVAÇÕES

ções bipolares são posicionadas por Nos últimos anos, temos visto ainda
semanas a meses na pele (Loop exter- a introdução de gravadores de ECG em
no) ou implantadas (Loop implantável) no smartphones e smartwatches. O Kardia
subcutâneo do paciente. Essa modalida- Mobile (AliveCor, Inc., Estados Unidos)
de reconhece automaticamente a arrit- é um device portátil em que se posi-
mia e podem gravar até 1 hora do evento. cionam os dois dedos para obter um
Muito útil para arritmias infrequentes. registro da gravação D1 (21). O Apple
Monitor de eventos é o terceiro Watch mede o fluxo sanguíneo atra-
tipo de gravação de ECG ambulatorial. vés de reflexos que o sangue causa em
Neste caso, o paciente ativa o gravador luzes de LED emitidas na parte poste-
com um botão. Bom para arritmias sin- rior do relógio ou através de infraver-
tomáticas. Tipicamente seu uso pode melho. Quando há irregularidade do
durar até 30 dias. ritmo cardíaco, o aparelho notifica o
A tabela 3 resume o rendimento usuário a tocar com o dedo da mão
diagnóstico e a figura 12 ilustra cada contralateral ao relógio para obter um
um desses aparatos (20). registro de D1 (Figura 13).

Figura 13 - Funcionamento do registro eletrocardiográfico do Apple Watch.

Pulsos de luz verde são enviados em alta frequência e os sensores de luz observam quantas vezes há reflexo dessa luz (o vermelho do sangue reflete luz verde).
O LED infravermelho também pode fazer contagem de ritmo cardíaco. Quando o aparelho detecta anormalidade, ele solicita ao usuário que posicione seu dedo
contralateral à mão onde está o relógio na “Digital Crown”, criando assim uma derivação braço esquerdo – braço direito, ou seja, D1.

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CAPÍTULO 3

DERIVAÇÕES ESPECIAIS Figura 14 - Derivação de Lewis.

Na tentativa de melhorar a detec-


ção de uma onda específica no ECG,
algumas derivações “especiais” foram
propostas ao longo dos anos (22).
A derivação de Lewis é usada para
melhorar a detecção de atividade atrial
no ECG. Bom para situações em que a
onda P tem baixa amplitude ou existe a
suspeita de que ela está escondida em
outra onda ou complexo do ECG (23). Os
eletrodos dos braços são movidos para o
tórax do paciente da seguinte maneira:
braço direito fica posicionado no segun-
do espaço intercostal direito próximo Eletrodo do braço direito posicionado no 2º EIC direito e eletrodo do braço es-
ao esterno e braço esquerdo no quarto querdo posicionado no 4º EIC direito. Demais eletrodos dos membros podem
espaço intercostal direito próximo ao ser posicionados em qualquer lugar. O eletrocardiógrafo deve gravar um D1

esterno. Nessa configuração, o eletro- longo (obrigatoriamente) a diferentes velocidades.

cardiógrafo deve ser configurado para


gravar obrigatoriamente um D1 longo
– lembre-se que D1 é a derivação que
mede a diferença de potencial entre os Figura 15 - Derivações de Fontaine para
detecção de ondas épsilon da Displasia
dois braços - a diferentes velocidades (25
Arritmogênica do Ventrículo Direito. Para po-
mm/s, 50 mm/s) (Figura 14).
sicionamento dos eletrodos e detalhes sobre
As derivações de Fontaine foram
a gravação, vide texto.
descritas a fim de aumentar a capaci-
dade de identificação de ondas épsi-
lon, as ondas presentes em diversas si-
tuações, mas classicamente descrita na
displasia arritmogênica do ventrículo
direito. Os eletrodos são posicionados
no manúbrio esternal (braço direito),
no apêndice xifoide (braço esquerdo)
e no lugar de V4 (perna esquerda) com
o eletrodo de perna direita posiciona-
do em qualquer lugar. As derivações
D1, D2 e D3 devem ser gravadas e
substituídas pela nomenclatura FI, FII
e FIII (24) (Figura 15).

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O ELETROCARDIÓGRAFO E OS SISTEMAS DE DERIVAÇÕES

Derivações esofágicas podem ser em veia jugular interna ou subclávia,


usadas para detectar atividade atrial cuja ponta do cateter esteja mergu-
devido à proximidade do esôfago com lhada no do átrio direito, pode-se
o átrio esquerdo (25). Com um eletro- seguir o seguinte passo-a-passo: 1)
do de braço direito adaptado posicio- aspirar o conteúdo do acesso com
nado no esôfago a nível de silhueta uma seringa para assegurar que não
cardíaca e um eletrodo de braço es- há bolhas de ar, 2) um sistema agu-
querdo conectando a um amplificador, lha-seringa contendo solução salina
a uma derivação no tórax ou a um polo deve ser inserido na ponta distal do
proximal no próprio eletrodo esofági- acesso central (ou um fio-guia), 3)
co utilizado. A utilização desse método um eletrodo de V1 deve ser conec-
pode ser diagnóstico em até 86% dos tado a essa agulha (ou fio-guia). 4)
casos em que o ritmo não estava bem com os demais eletrodos conectados
definido (26) (Figura 16). às suas posições habituais, gravar 12
Derivações intracardíacas tam- derivações ou V1 longo (27,28). Aten-
bém podem ser tentadas. Num pa- ção: garanta a esterilidade de todo o
ciente com acesso venoso central procedimento.

Figura 16 - Posicionamento de eletrodo esofágico conectado a um eletrocardiógrafo.

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CAPÍTULO 3

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