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CONHECIMENTO
Resumo
No futuro, com a crescente virtualização
(tecnologia substituindo o espaço público da
prática política), é que se mostrará se a demo-
cracia foi posta em rede (pública) ou se ape-
nas foi “tecnologizada”, tornando-se a imagem
mais cara do conceito, ou seja, “publicidade”.
A articulação da idéia de rede com a experiên-
cia das bibliotecas públicas seria uma possibi-
lidade na realização da interação social e na
construção da cidadania
Palavras-Chave
Democracia; Rede; Informação; Bibliotecas
Públicas.
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A Rede e o Conhecimento Plácida L. V. Amorim da Costa Santos e Vinício Carrilho Martinez
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Não se discute a utilidade da Internet, ções eletrônicas em 96, etc.). Pois, uma vez
mas seus projetos colocada a política no plano virtual, exige-
se dos formuladores das mensagens políti-
Destacamos a idéia de rede como cas e dos participantes do jogo democráti-
sendo a que abrange a formação do conhe- co uma reorientação não apenas para o voto
cimento a partir das relações sociais, como eletrônico deste ano, mas para o dos futu-
uma teia de relações que não se inicia em ros.
uma estrutura linear ou mesmo acadêmica,
a exemplo da apresentada atualmente pela Com isso, ressaltamos um primeiro
escola ou pelas bibliotecas tradicionais. A problema: os instrumentos políticos tradici-
articulação da idéia de rede com a experi- onais estão equipados para abordar a
ência das bibliotecas públicas como o meio cultura provinda dos “meios tecnológi-
mais adequado para a difusão das informa- cos”? No que consiste esta realidade da
ções é fundamental do ponto de vista da prática política virtual?
formação da cidadania, por outro aspecto,
entendemos que, primeiro, sem acesso à O que remete a um problema de fun-
informação o indivíduo-eleitor não passa à do: têm-se em vista as garantias sociais de
condição de cidadão consciente e, segun- que todo cidadão pode participar ativamen-
do, que a raiz da democracia no nível da te da formulação dos conteúdos políticos
informação está na capacidade ampliada da (cidadania ativa) a serem veiculados (em
produção livre e aberta de novas mensa- rede), mas como fazer uso dos meios téc-
gens. Mas, inversamente, não há como fa- nicos como se fazia, por exemplo, com as
lar de produção democrática de novas men- grandes manifestações em praça pública?
sagens sem que haja uma real democrati-
zação dos meios de informação. Do que decorre outra questão: será
possível a efetivação democrática da
É importante frisar que as eleições rede mesmo sob a égide do liberalismo,
eletrônicas de 96 são um marco desta rea- expresso no uso individualista dos equi-
lidade político-tecnológica (um marco cul- pamentos?
tural), ressaltando a necessidade do deba-
te sobre a Educação Política Popular (ple- Daí que as garantias tecnológicas da
biscito, referendo, iniciativa popular, etc.), democracia aparecem na condicional. Por-
para conhecer e melhor praticar os instru- que somente no futuro, com a crescente
mentos políticos disponíveis ao eleitor- virtualização (tecnologia substituindo o es-
governante. Por outro lado, também se ve- paço público da prática política), é que ve-
rifica a necessidade de uma Educação remos se a democracia foi posta em rede
Tecnológica, na medida em que a demo- (pública) ou se apenas foi “tecnologizada”,
cracia passa a ser conectada em rede (elei- tornando a imagem mais cara do que o con-
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qualquer projeto, seja político seja Uma verdadeira gestão social que
tecnológico: “De fato, a construção de pro- permita o desenvolvimento sustentável do
jetos não pode prescindir do exame de uma bem-estar, a que tem direito o cidadão, é
idéia complexa como é a noção de valor. uma meta idealizada por todos os países,
Dissociada de preocupações com valores, mas tem prevalecido a aplicação de políti-
a capacidade de projetar pode conduzir a cas de ajustes econômicos, muitas vezes
desvios indesejáveis, ou a becos sem saí- em detrimento de políticas sociais. Na ver-
da”. dade, um lugar, em outro tempo histórico,
em que a todo momento muitos falassem
Convênios efetivados entre países sobre a necessidade de desenvolvimento
signatários e instituições poderão ter um e aplicação de políticas sociais com o obje-
conteúdo mais orgânico, que atenda aos tivo de permitir que as pessoas vivessem
reais interesses e demandas das partes melhor, democratizando-se o acesso aos
acordadas, uma vez que a instituição bibli- bens culturais, econômicos e sociais. A
oteca possui condições de contribuir para idéia de rede estaria neste “lugar”.
a melhor distribuição de direitos e vanta-
gens entre os sujeitos sociais, com a efeti- Lojkine, em A revolução informacional
va ação de transferência de conhecimen- (1995, p.17), analisa a produção do conhe-
tos. Um homem só é realmente homem cimento veiculado e diz que:
quando pode exercer sua faculdade de jul-
gar e realizar escolhas éticas, tanto com “A invenção científica moderna,
com efeito, não pode vir à luz e
relação a seus próprios atos quanto em re-
se desenvolver senão por um tra-
lação à comunidade em que vive. E assim balho de equipe e mediante for-
a cidadania é compreendida como dimen- mas de cooperação que nada
são pública da participação dos homens na têm a ver com a troca de merca-
dorias entre proprietários priva-
vida social e política.
dos. A informação assim criada,
assentada num trabalho cada
A informação é um direito de todos que vez mais coletivo, não pode ser
pode e deve atuar como fator de integração, conservada e, menos ainda, ser
enriquecida se for apropriada
democratização, igualdade e dignidade
privadamente: ela perde seu “va-
pessoal. Não há exercício de cidadania sem lor” (de uso), seguindo, nisto, a
o acesso à informação, isso porque, até lei da entropia, se for simples-
para cumprir seus deveres e reivindicar mente acumulada, estocada
como uma mercadoria”.
seus direitos, sejam eles civis, políticos ou
sociais, o sujeito social precisa conhecer e
É nesse contexto que se abrem im-
reconhecê-los, e isso só é possível quando
portantes tarefas para as bibliotecas públi-
tem acesso à informação.
cas, que sem dúvida alguma devem aban-
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Neste período, denominado por mui- (apesar daqueles que alardeiam que não
tos de pós-modernidade, temos como ca- devem ser adjetivados) nas melhores tradi-
racterísticas o desenvolvimento de novas ções democráticas e nos conteúdos dispos-
formas de tecnologia e informação, a am- tos em rede.
pliação da difusão da informação e uma
mudança nos paradigmas da produção do Do ponto de vista dos clássicos,
conhecimento. As transformações com as Weber e Marx, a ciência e a tecnologia são
quais estamos convivendo na realidade tidos como libertadores. Para Weber, trata-
contemporânea são evidentes. As ativida- se do “desencantamento do mundo”, do fim
des e serviços oferecidos mediante o mer- das explicações mágicas a respeito da di-
cado de informações são como alavancas nâmica natural da vida e, para Marx, é o
propulsoras da competência e do incentivo ensino tecnológico que é libertador. O que
para a ampliação ao acesso à informação, nos permite concluir, sob esta ótica, que a
nos mais diversos formatos de apresenta- idéia de rede também é democrática — se
ções, como, por exemplo: sons, imagens, pensarmos nos clássicos e na era das no-
textos, metodologias multimídia. O que fa- vas tecnologias.
cilita a construção e a aplicação do conhe-
cimento nos mais diversos setores sociais Aliás, nesse sentido, a utopia de cons-
e culturais. truir uma sociedade socialista no futuro está
pautada pela reapropriação coletiva da
É nesse sentido que se pergunta por tecnologia pelos produtores livres. O que
que a rede é democrática, ou se é demo- demonstra o caráter político que Marx e
crática. Sem recair na análise maniqueísta Engels atribuíram à tecnologia, quando sua
de que há boas e más tecnologias, dize- reapropriação fosse responsável em gran-
mos que a tecnologia é política, tem um “va- de parte pela reestruturação da vida soci-
lor de uso político”, e que, por isso, a rede, al. Este aspecto é ressaltado por Nogueira
no sentido plural da propagação de infor- (1993, p.172),
mações e formulação de seus próprios con-
teúdos (nesse caso, parece-nos que edu- “Além disso, no futuro, quando
os trabalhadores se apoderas-
cação e comunicação caminham paralela-
sem da tecnologia, mudanças
mente) é democrática, ao menos do ponto profundas deveriam ocorrer no
de vista da pluralidade e de seus princípios âmbito da produção (se não no
globalizantes. Outros elementos consubs- próprio conteúdo das técnicas,
ao menos em seu modo de em-
tanciais à democracia — como o respeito
prego e na organização do tra-
pelas minorias, rotatividade entre os mem- balho), o que haveria de acarre-
bros formuladores, aceitação das decisões tar a necessidade de se modifi-
majoritárias e acatamento das “regras do car a relação com o saber e com
as instituições encarregadas de
jogo” — ainda esperam ser substantivados
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transmiti-lo. E essa evolução de- faz parte da relação política4, a ponto de se
veria se dar no sentido do reco-
poder escolher entre uma relação política
nhecimento do valor formador do
trabalho produtivo, e do estabe- de princípios ou a política de objetivos, de
lecimento de vínculos estreitos “resultados”.
entre a instrução e os problemas
da produção”.
A informação é um recurso econômi-
co, mas com efeito multiplicador muito su-
Porém, se a questão tecnológica era
perior aos outros recursos. É um produto
enfrentada por Marx e Engels como condi-
que não se gasta com o uso e pode ser
ção básica para a futura transformação ra-
duplicado e transmitido a qualquer parte
dical das sociedades, ela própria fazia par-
com custo relativamente baixo, ou seja, um
te de um amplo projeto social e político. O
recurso ideal para ser compartilhado.
que, em nosso entender, reforça ainda mais
a íntima relação entre tecnologia e política.
Verificamos assim a relação estreita
Pois, em última instância, ao nível das trans-
entre tecnologia e política e confirmamos
formações sociais, a apropriação política
que o acesso à tecnologia é um grande
dos conteúdos tecnológicos, por parte dos
passo, mas não o suficiente. Porque, ne-
produtores livres ou das classes trabalha-
cessita-se da capacitação para a
doras, resultará na reapropriação dos ob-
tecnologia, para a busca de informações
jetivos e fins anteriormente traçados pelo
necessárias com capacidade de análise
conjunto limitado de tecnólogos e especia-
simbólica em um ambiente em construção.
listas — o que, por fim, fará com que aflore
o conteúdo democrático e progressista que
A Internet estourou os limites da ca-
há na condição técnica, quando ela é en-
pacidade humana de assimilar os conheci-
carada na perspectiva plural, social, radial,
mentos e os acontecimentos mundiais e, ao
etc. De acordo com Nogueira, em Marx, o
mesmo tempo, transformou os sujeitos so-
acesso à tecnologia é necessário, mas não
ciais em sujeitos globalizados inseridos em
suficiente (idem, p. 173).
uma “aldeia global”.
ção entre as bibliotecas públicas com a uti- deparamos com inovações tecnológicas de
lização da rede mundial de telecomunica- informação e comunicação que permitem a
ções Internet. O projeto, no entanto, deve construção de sistemas estruturados em
estar estruturado de maneira a concretizar realidade virtual, e como uma forma de fa-
a idéia de Rede dos Cidadãos (Santos e cilitar o acesso à informação, permitindo um
Martinez, 1997), em que se conjugue de grande avanço na realização e nos benefí-
forma similar a comunicação, a educação cios dos serviços oferecidos.
e a interação, num sentido que por ora de-
nominamos de “transdisciplinar” (com con- Com a evolução de uma economia glo-
ceitos embasados nas três áreas e não sim- bal, embasada no conhecimento, é neces-
plesmente emprestados e amalgamados sário que seja fortalecida a competência e
por áreas “afins, a exemplo de: rede a autoridade profissional e institucional dos
(tecnologia), politecnia (ensino de pressu- provedores de informação, a fim de cami-
postos) e cidadania (resultado da experi- nharmos por estágios evolutivos. Um pri-
ência política democrática). O sentido plu- meiro estágio seria o das perturbações cau-
ral é claro em relação às três áreas e aos sadas pelas tecnologias da informação e
três conceitos, e podem, portanto, ser con- da comunicação que exigem mudanças e
jugados em paralelo, sem prejuízo de um reestruturações organizacionais. E, o se-
em favor do outro, revelando situações e gundo, o das transformações que implicam
experiências plurais próprias. Mas ao mes- a exploração intensa dos espaços de atua-
mo tempo semelhantes, se levarmos em ção tradicionais e principalmente a tentati-
conta a experiência da pluralidade que está va de colonizar novas áreas, a exemplo da
presente nas três indicações. exploração da rede das redes, em uma pro-
posta de biblioteca cooperativa virtual para
Este programa é pautado em um con- o Mercosul.
junto de ações integrativas em que serão
reconhecidas as diferenças e sedimentados Ressaltamos que o apelo em favor da
os interesses e tarefas comuns e solidári- cooperação internacional não deve ser en-
as, possibilitando compreender que, além carado como uma coisa utópica, muito me-
de globalizada, a sociedade hoje convive nos a possibilidade de implantação de uma
com sujeitos cosmopolitas, cidadãos inte- biblioteca virtual cooperativa. As condições
grados e participativos, uma época de no- tecnológicas prévias que permitem a
vas oportunidades, novas expectativas, interação de localidades e instituições já
novos negócios, um novo mercado mais existem, o que possibilita mudanças estru-
expansivo. turais.
espaço para o protecionismo à moda anti- GROVER, M. Proposta para uma política
de formação de acervos cooperativos.
ga, os custos de pesquisa e desenvolvimen-
Cadernos da F. F. C., Marília, v. 4, n. 1,
to freqüentemente ultrapassam a capacida- 1995.
de dos países, individualmente, e que a
disponibilização de modernos mecanismos LOJKINE, J. A revolução informacional. São
Paulo : Cortez, 1995.
de transação de informação poderão per-
mitir a interligação da capacidade tecnoló- MACHADO, N.J. Ensaios transversais: ci-
gica, informacional e documentária dos pa- dadania e educação. São Paulo : Escri-
íses e das instituições de pesquisa, forman- turas, 1997.
do uma rede de cooperação que poderá tra-
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A Rede e o Conhecimento Plácida L. V. Amorim da Costa Santos e Vinício Carrilho Martinez
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Resumen
En el futuro, con la creciente virtualización (
________________________________________________________ tecnología sustituyendo el espacio público de
la práctica política ), es donde se mostrará si
Plácida L. V. Amorim da Costa Santos la democracia fue puesta en red ( pública) o si
Professora do Departamento de simplemente fue “tecnologizada”,
Biblioteconomia e Documentação da convirtiéndose en la imagen más cara del
concepto, o sea , “publicidad”. La articulación
UNESP/Marília;
de la idea de red con la experiencia de las bi-
Coordenadora do Grupo de Pesquisa “No-
bliotecas públicas sería una posibilidad en la
vas Tecnologias em Informação”; realización de la interacción social y en la
Doutora em Semiótica e Lingüística Geral construcción de la ciudadanía.
pela USP.
e-mail: gpnti@mii.zaz.com.br Palabras-Clave
Democracia; Red; Información; Bibliotecas Pú-
Vinício Carrilho Martinez blicas.
Doutorando pela Faculdade de Educação
da Universidade de São Paulo (FEUSP);
Mestre em Educação pela UNESP-Marília;
Bacharel em Direito e Ciências Sociais. __________________________________________________________________
e-mail: gpnti@mii.zaz.com.br
Artigo recebido em: 30/04/98
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Title
The Net and the Knowledge
Abstract
In the future, with the increasing virtualization
(technology replacing the public space in the
political practice), it shall be known if democracy
has been put on the (public) net or if it has only
been “technologized” having become the most
expensive image of the concept, namely,
“publicity”. The articulation of the idea of net
with the experience of public libraries would be
a possibility in the carrying out of social
interaction as well as in the building of
citizenship.
Keywords
Democracy; Net; Information; Public Libraries.
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Titulo
La Red y el Conocimiento
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