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Autor para contato: Universidade Paranaense - UNIPAR, Curso de Odontologia,
Umuarama, PR, Brasil; (44) 99562775/ Fax: (44) 3626-2081; e-mail: patidubi@bol.com.br
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Universidade Paranaense - UNIPAR, Departamento de Odontologia, Umuarama, PR
RESUMO
Publ. UEPG Ci. Biol. Saúde, Ponta Grossa, 11 (1): 7-14, mar. 2005
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ABSTRACT
Publ. UEPG Biol. Health Sci., Ponta Grossa, 11 (1): 7-14, mar. 2005
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de princípios preventivos e conservadores, e portanto, Resultados
promotores de saúde (Pereira et al., 2003).
Assim, frente à suspeita de que a longevidade Em 12 meses de pesquisa, 352 restaurações
das restaurações pode ser menor que o real potencial substituídas foram avaliadas. Sendo 201 de amálgama
de que são capazes, mesmo com toda a evolução de prata e 151 de resina composta. Entre as restau-
técnica, a realização deste trabalho teve por objetivo rações de amálgama substituídas, 60 (29,85%) foram
avaliar as causas das substituições das restaurações realizadas por reincidência de cárie, 45 (22,38%) por
dentais dos pacientes atendidos nas disciplinas de contorno e anatomia deficientes, 45 (22,38%) por
Dentística II e Clínica Integrada do Curso de Odontolo- degradação marginal, 44 (21,9 %) por fratura (região
gia da Universidade Paranaense - Campus Umuarama. de istmo ou corpo da restauração), 3 (1,5%) por
razões estéticas, 3 (1,5%) por corrosão e 1 (0,49 %)
por outras razões não especificadas (Gráfico 1). Das
151 restaurações de resina composta substituídas, 72
Material e método (47,7%) foram por manchamento na interface, 46
(30,46%) por manchamento do corpo da restauração,
Restaurações de resina composta e amálgama de 28 (18,54%) por reincidência de cárie, 4 (2,64%)
prata, indicadas para substituição nas atividades clínicas por contorno e anatomia deficientes e 1 (0,66%) por
das disciplinas de Dentística II (3a série) e Clínica Integra- outras razões não especificadas (Gráfico 2). Em re-
da (4a série), foram avaliadas clínica e radiograficamente lação ao material restaurador utilizado para substi-
durante o período de 12 meses. Assim, foram obtidas tuição, das 201 restaurações de amálgama de prata
informações através dos pacientes, referentes à longe- 88 foram substituídas pelo mesmo material e 113 por
vidade aproximada da restauração, bem como infor- resina composta (Gráfico 3). Por sua vez, das 151
mações coletadas pelo próprio avaliador sobre o material restaurações de resina composta substituídas, 3 utili-
restaurador a ser substituído e características clínicas da zaram amálgama de prata e em 148 foi utilizado o
restauração, tais como: presença de corrosão superficial, mesmo material restaurador, resina composta (Gráfico
manchamento, desadaptação ou excesso marginal, fra- 4). Com relação à idade das restaurações substi-
tura da restauração ou do remanescente dental, além de tuídas, 5 restaurações de amálgama tinham menos
presença de cárie recorrente e material restaurador a de um ano, 43 restaurações tinham entre 1 e 5 anos,
ser utilizado na substituição. As coletas dos dados foram 81 tinham entre 5 e 10 anos e 71 tinham mais de dez
realizadas por alunos avaliadores previamente treinados, anos de uso (Gráfico 5). Entre as restaurações de
os quais foram supervisionados pelos professores res- resina composta, 14 restaurações tinham menos de
ponsáveis. Ao final do período estipulado, as informa- um ano, 58 tinham entre 1 e 5 anos, 39 entre 5 e 10
ções foram tabuladas e o percentual para cada um dos anos e 40 restaurações mais de dez anos de uso
itens estudados foi calculado. (Gráfico 6).
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0,5%
reincidência de cárie
0,7%
1,5%
2,6%
1,5% contorno e anatomia
deficiente 18,5%
21,9% 29,9% degradação marginal manchamento da
47,7% interface
fratura( istmo ou corpo manchamento do corpo
da rest.) da restauração
razões estéticas reincidência de cárie
22,4% 22,4% 30,5% contorno e anatomia
corrosão
deficiente
outros
outros
Gráfico 1 - Motivos para substituição de 201 restaurações de Gráfico 2 - Motivos para substituição de 151 restaurações de
amálgama. resina composta.
43,8%
56,2%
amálgama
amálgama 98%
resina composta
resina composta
Gráfico 3 - Materiais restauradores utilizados para substituir Gráfico 4 - Materiais restauradores utilizados para substituir
201 restaurações de amálgama de prata. 151 restaurações de resina composta.
2,5% 9,3%
21,5% 26,5%
35,5%
até 1 ano
até 1 ano
1-5 anos
1-5 anos
5-10 anos 25,8% 38,4%
40,5%
5-10 anos
mais de 10
anos
mais de 10
anos
Gráfico 5 - Tempo de vida útil de 201 restaurações de amál- Gráfico 6 - Tempo de vida útil de 151 restaurações de resina
gama. composta
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Discussão manchamento de interface que veio a superar todas as
outras, correspondendo a 47,7% de uma amostra de
Em virtude dos avanços científicos e da pro- 151 restaurações avaliadas.
babilidade de associar conhecimentos, já é possível Para Bindslev e Mjor (1993), 50-60% das res-
entender a dinâmica do processo carioso, estabelecen- taurações de amálgama de prata são substituídas
do a real necessidade de tratamento. Sabe-se que a devido à cárie recorrente, sendo isso detectado so-
progressão da lesão difere de indivíduo para indiví- mente pelo fato da sonda exploradora prender nas
duo e tem relação direta com o uso de fluoretos, capa- margens das restaurações. Os autores afirmaram que
cidade tampão salivar, dieta e retenção de placa. Com 40% das trocas são feitas por integridade duvidosa
isso, torna-se imprescindível o diagnóstico precoce, associada ou não à cárie, e que 40% das substituições
tendo em vista que a cárie ainda sem cavitação pode ocorreram com mais de 10 anos. Dentre as 352 res-
ser revertida dispensando a necessidade de procedi- taurações substituídas avaliadas neste trabalho, a re-
mentos curativos (Pereira et al., 2003). cidiva de cárie foi responsável pelo percentual de 30%,
Apesar dos procedimentos curativos constituí- correspondendo a 60 restaurações de amálgama de
rem uma etapa fundamental no tratamento da cárie e prata e 28 de material estético e 31,25% do total de
recuperarem a função e a estética das estruturas dentais, restaurações substituídas tinham mais de dez anos de
sabe-se que uma vez confeccionados, mais tarde, por uso, correspondendo a 71 restaurações de amálgama
inúmeras razões, podem exigir substituições (Baratieri e 40 restaurações de resina composta.
et al., 2001; Fontana et al., 1994). Quando se avalia manchamento de interface em
Segundo autores (Baratieri et al., 2001; Pimenta restaurações de resina composta, clinicamente fica
e Pimenta, 1996), as restaurações são substituídas difícil diagnosticar se houve apenas a falha do sistema
principalmente pela recorrência da doença cárie e pe- adesivo e desadaptação da resina composta, ou se já
las falhas técnicas. Assim, o ciclo restaurador repeti- existe um processo inicial de lesão cariosa a nível
tivo tem sido mantido por décadas (Elderton, 1976; microscópico. Partindo desse ponto de vista é provável
Elderton, 1997; Baratieri et al., 2001) uma vez que a que muitas restaurações tenham sido substituídas com
qualidade das restaurações depende de critérios subje- caráter preventivo, na tentativa de evitar maiores danos
tivos adotados por cada profissional. aos tecidos dentais. Fontana et al. (1994) afirmaram
A evolução dos materiais odontológicos não di- que a recidiva de cárie está associada à infiltração
minuiu o número de substituições, ainda responsáveis marginal e é dependente do tempo e da correta in-
por grande parte dos procedimentos diários realizados dicação do material restaurador, associada a falhas de
por profissionais (Villela et al., 1991; Baratieri et al., técnica.
2001). Ainda com relação aos motivos para substi-
Os dados obtidos pela presente pesquisa corro- tuição, 45 restaurações de amálgama de prata foram
boram os da literatura consultada (Charbeneau et al., trocadas por degradação marginal e 72 restaurações
1978); Bindslev e Mjor., 1993; Villela et al., 1991; de resina composta foram trocadas por manchamento
Phillips, 1993; Pimenta e Pimenta, 1996; Baratieri et da interface. Isso comprova as observações feitas por
al., 2001), mostrando que a cárie recorrente é a prin- Fontana et al. (1994), que no quesito infiltração mar-
cipal razão para substituição de restaurações em amál- ginal, a resina composta supera o amálgama de prata,
gama, seguido pela anatomia deficiente e degradação exigindo um período mais curto para sua substituição.
marginal. Das 201 restaurações de amálgama subs- O grande percentual de substituições feitas por
tituídas, 29,85% foram trocadas por apresentarem manchamento da interface das restaurações de resina
recidiva de cárie. Estes dados somam-se às pesquisas composta, em dentes restaurados com técnicas a-
anteriores e mostram um comportamento retilíneo do desivas, faz com que se concorde com Busato et al.
amálgama no decorrer dos anos. Fato este que não (1997) quando afirmaram que a contração de po-
ocorre em relação às resinas compostas, entre as quais limerização pode levar a fendas marginais e conse-
foi encontrado um percentual de falhas relativas a qüentemente microinfiltração, manchas e recidiva de
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cárie, aumentando a sensibilidade pulpar. ção de amálgama de prata ou resina composta se apre-
Das 151 restaurações de resina composta, 46 sente insatisfatória, desde que bem confeccionada e
foram substituídas por manchamento do corpo da res- indicada. Neste trabalho observou-se que 58 das 151
tauração. Esse manchamento pode ser decorrente da restaurações de resina composta e 43 das 201 restau-
polimerização inadequada do material (Groth et al., rações de amálgama de prata foram substituídas com
1996) ou da pigmentação superficial (Veronezi, 2001). tempo de uso entre 1 e 5 anos. Para Mondelli et al.
O desgaste oclusal e a rugosidade superficial, mesmo (1990) mesmo uma restauração de amálgama feita
em restaurações polidas, foram comumente observados adequadamente, respeitando os princípios da técnica,
após períodos de 2 a 3 anos ( Mondelli et al., 1990), após 4-5 anos apresenta tendência à fratura das mar-
o que favorece a pigmentação superficial. gens devido aos esforços mastigatórios.
Entre as restaurações de amálgama analisadas Com tempo de vida útil entre 5 e 10 anos, 81
neste estudo, 45 foram substituídas por falha de con- restaurações de amálgama de prata e 39 restaurações
torno ou anatomia deficiente. Segundo Elderton (1976), de resina composta foram trocadas. Segundo Markley
falta de contorno, pobre adaptação e modelo cavitário (1951) “uma restauração de amálgama sempre parece
são as principais causas das falhas das restaurações. pior do que realmente é... “ o que é confirmado por
Das 201 restaurações de amálgama de prata, Phillips (1993), que observou que pelo menos 90%
41 (21,9%) foram substituídas por fratura de istmo ou das restaurações de amálgama apresentavam-se
corpo da restauração. Em estudo clínico realizado por satisfatórias após 5 anos de uso. E mesmo não apre-
Healey e Phillips (1949) foi demonstrado que as causas sentando cárie, a restauração que não está com boa
de falhas das restaurações de amálgama eram devidas aparência é trocada na tentativa de prevenir o aumento
a: 56% preparo cavitário incorreto, 40% manipulação da deterioração. Isso só seria minimizado se fosse
inadequada do material e 4% por razões periodontais, possível o diagnóstico microscópico de cada fenda
complicações pulpares e outras. Estes dados com- marginal.
provam os achados de Mondelli et al (1990) que Com relação ao material selecionado para con-
apontaram 25% das falhas relacionadas à fratura da fecção das novas restaurações, das 201 restaurações
restauração. Para Villela et al. (1991), a interrelação de amálgama de prata substituídas, 88 foram restau-
entre as falhas, começando por um preparo incorreto, radas com amálgama de prata e 113 com resina com-
pode culminar com a fratura da restauração. Entretanto, posta. Para Nunes (1988) e Mondelli et al, (1990), as
nem todas as restaurações que apresentam defeitos ações clínicas do profissional têm implicações diretas
necessitam realmente de troca, podendo apenas rece- no sucesso das restaurações.
ber recontorno e repolimento (Bálsamo et al., 1996; Das 151 restaurações com material estético
Baratieri et al., 2001; Amore et al., 2001). A troca, substituídas, 3 foram restauradas com amálgama de
mesmo que por estética, desgasta e enfraquece o dente prata e 148 com resina composta, confirmando o
e não deixa o paciente livre da possibilidade de recor- aumento na busca pela estética, tanto dos futuros
rência da cárie. profissionais quanto dos pacientes. De acordo com
Fazendo referência ao tempo de vida útil das Christensen (1998), é preciso que os pacientes estejam
restaurações avaliadas nesta pesquisa, apenas 5 res- conscientes das vantagens e desvantagens desse
taurações de amálgama de prata foram substituídas com material sedutor que é a resina composta.
menos de um ano de uso clínico. Esses dados podem Cabe ao profissional dar maior ênfase à pre-
estar relacionados com a afirmação de que a degra- venção e aos critérios de avaliação, pois existem falhas
dação marginal do amálgama tem seu pico de cresci- clinicamente aceitáveis em uma restauração, e se essa
mento nos primeiros seis meses de vida, mantendo-se não puder ser reparada, os fatores que levaram a tal
mais estável no decorrer dos anos (Busato et al., 1986). diagnóstico merecem atenção especial a fim de serem
Ainda de acordo com Busato et al.(1986), o corrigidos, evitando procedimentos clínicos desne-
tempo de 2 anos é insuficiente para que uma restaura- cessários.
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Conclusão plina de Dentística Restauradora da UEM.
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