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São Paulo
2020
Capítulo 7.
Ensinar a liberdade: paradoxos da pedagogia anticolonial
em C. L. R. James e Frantz Fanon
Alexandre Almeida Marcussi
1. SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, pp. 302-431.
2. Emprego aqui o termo “tradução” no sentido que lhe dá Homi Bhabha, como um processo
de enunciação que, ao aparentemente “repetir” teorias ou ideias metropolitanas em contextos
coloniais, confere-lhes novos significados políticos. Veja-se BHABHA, Homi K. O local da cul-
tura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. Para uma reflexão semelhante a partir da noção de
“itinerância” da teoria, cf. SAID, Edward. “Reconsiderando a teoria itinerante”. In: SANCHES,
Manuela Ribeiro (Org.). Deslocalizar a “Europa”: Antropologia, Arte, Literatura e História na Pós-
-Colonialidade. Lisboa: Edições Cotovia, 2005, pp. 25-42.
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3. Paul Gilroy caracterizou esses discursos como uma “política da realização” (politics of fulfilment)
que demanda o cumprimento das promessas universalistas ilustradas e modernas, sistematica-
mente negadas às populações negras durante a modernidade. Cf. GILROY, Paul. O Atlântico
negro: modernidade e dupla consciência. Trad. Cid Knipel Moreira. 2ª ed. São Paulo/Rio de
Janeiro: Editora 34/Universidade Cândido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2012,
pp. 95-96. Para um exemplo eloquente dessa perspectiva, conferir DU BOIS, William Edward
Burghardt. As almas da gente negra. Trad. Heloísa Toller Gomes. Rio de Janeiro: Lacerda Ed., 1999.
Análises críticas dessa vertente de pensamento podem ser encontradas em APPIAH, Kwame
Anthony. Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997,
pp. 19-51; MUDIMBE, Valentin-Yves. A invenção da África: gnose, filosofia e a ordem do conhe-
cimento. Trad. Fábio Ribeiro. Petrópolis: Vozes, 2019, pp. 169-225; MORENO, Helena Wakim.
Voz d’Angola clamando no deserto: protesto e reivindicação em Luanda (1881-1901). São Paulo,
2014. 376 p. Dissertação (Mestrado em História Econômica) – Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. Um contraponto significativo aos discursos
que insistem no padrão cultural ilustrado e europeu são os textos do chamado “renascimento
cultural lagosiano” da passagem do século XIX para o XX, que exprimiam uma crítica ao co-
lonialismo britânico na Nigéria acompanhada de uma valorização da cultura iorubá. Para uma
análise desse movimento intelectual, conferir MATORY, James Lorand. Black Atlantic religion:
tradition, transnationalism, and matriarchy in the Afro-Brazilian candomblé. Princeton/Oxford:
Princeton University Press, 2005, pp. 38-72.
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4. CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Trad. Anísio Garcez Homem. Santa Catarina: Letras
Contemporâneas, 2010, p. 15.
5. Para a noção de “humanismo racista”, conferir SARTRE, Jean-Paul. “Prefácio”. In: FANON,
Frantz. Os condenados da terra. 2ª ed. Trad. José Laurênio de Melo. Rio de Janeiro: Civilização Bra-
sileira, 1979, p. 17.
6. Este capítulo retoma e aprofunda, em chave comparativa, algumas análises sobre os escritos de
C. L. R. James do período apresentadas originalmente em MARCUSSI, Alexandre A. “O antico-
lonialismo como tragédia: ‘Os jacobinos negros’ entre a História e a política”. Cadernos de História,
Belo Horizonte: PUC-Minas, v. 19, n. 30, pp. 95-122, jan.-jul. 2018.
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7. MCINTOSH, Andrew. C.L.R. James and The Black Jacobins revisited. Society, Springer US, v. 40, n.
4, pp. 69-71, maio-jun. 2003; SANTIAGO-VALLES, William F. C. L. R. James: asking questions
of the past. Race & Class, Londres: Institute of Race Relations, v. 45, n. 1, 2003, pp. 61-78.
8. JAMES, Cyril Lionel Robert. Os jacobinos negros: Toussaint L’Ouverture e a revolução de São Do-
mingos. Trad. Afonso Teixeira Filho. 1ª ed. rev. São Paulo: Boitempo: 2010.
9. Há uma discussão terminológica na historiografia recente sobre a escravidão a respeito do em-
prego do termo “escravo(a)”, observando-se uma tendência a substituir, sempre que possível,
a palavra por “escravizado(a)”. Entende-se que este segundo termo enfatizaria a humanidade
dos indivíduos submetidos à escravidão, ressaltando a ideia de que o cativeiro não era uma con-
dição natural, mas que suas vítimas haviam sido transformadas em escravos(as) por estruturas
sociais de produção e reprodução da escravidão. Uma vez que o uso indiscriminado do termo
“escravizado(a)” pode trazer o risco de minimizar as importantes distinções entre cativos afri-
canos privados de sua liberdade (“escravizados” em sentido estrito) e aqueles já nascidos sob a
condição jurídica da escravidão, opto pelo emprego do termo geral “escravos” para designar a
totalidade dos indivíduos submetidos ao regime jurídico da escravidão, sem com isso implicar
qualquer conotação de desumanidade dessas pessoas. Para um balanço historiográfico sintético
acerca das diferentes posições sociais e estratégias de atuação de escravos africanos e nascidos
nas Américas, conferir: FARIA, Sheila de Castro. “Identidade e comunidade escrava: um ensaio”.
Tempo, Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, v. 11, n. 22, 2007, pp. 122-146.
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10. As informações biográficas sobre Fanon foram extraídas de GORDON, Lewis R. What Fanon
said: a philosophical introduction to his life and thought. Nova York: Fordham Univeristy Press,
2015, passim.
11. Para uma análise panorâmica desses processos, veja-se o último capítulo deste volume, de autoria
de Leila Leite Hernandez. Além disso, conferir LE CALLENNEC, Sophie. “Os caminhos da
emancipação”. In: M‘BOKOLO, Elikia. África negra: História e civilizações: Tomo II: Do século
XIX aos nossos dias. Colab. Sophie Le Callennec e Thierno Bah. 2ª ed. Trad. Manuel Resende.
Lisboa: Edições Colibri, 2011, pp. 456-545.
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A vida tribal foi destruída e milhões de africanos sem tribos foram jogados uns
contra os outros. [...] A violência e a ferocidade tornaram-se as necessidades
para a sobrevivência, e foram a violência e a ferocidade que sobreviveram.
Os crânios sorridentes na ponta de estacas, os sacrifícios humanos, a venda
dos próprios filhos como escravos: esses horrores foram o produto de uma
intolerável pressão sobre os povos africanos [...]14
12. JAMES, C., op. cit., p. 12. SANTIAGO-VALLES, W., op. cit., enfatiza que a análise histórica de
Os jacobinos negros foi concebida para ilustrar e iluminar posturas e estratégias a serem adotadas na
luta pan-africanista e anti-imperialista dos anos 1930.
13. JAMES, C., op. cit., p. 340.
14. Ibid., pp. 21-22.
15. CONRAD, Joseph. Coração das trevas. Trad. Sergio Flaskman. São Paulo: Companhia das Letras,
2008, p. 92.
16. ALENCASTRO, Luiz Felipe de. “Persistência de trevas”. In: CONRAD, Joseph. Coração das
trevas. Trad. Sergio Flaskman. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, pp. 155-179.
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[...] um pequeno grupo deles aproveitava essa posição para se educar, adquirir
um pouco de cultura e aprender tudo o que pudesse. Os líderes das revoluções
foram geralmente aqueles que tiveram a capacidade de lucrar com o benefício
da cultura do sistema que combatiam, e a revolução de São Domingos não foi
uma exceção a essa regra.24
26. JAMES, Cyril Lionel Robert. Os jacobinos negros: Toussaint L’Ouverture e a revolução de São Do-
mingos. Trad. Afonso Teixeira Filho. 1ª ed. rev. São Paulo: Boitempo, 2010, p. 80.
27. JAMES, Cyril Lionel Robert. “Porque os negros devem se opor à guerra”. In: ALFONSO, Da-
niel Angyalossy; PABLITO, Marcello (Ed.). A revolução e o negro: textos do trotskismo sobre a
Questão Negra. São Paulo: Edições Iskra, 2015, p. 88.
28. Cf. FANON, Frantz. “Antillais et africains”. In: Œuvres. Paris: Éditions La Découverte, 2011,
pp. 704-712 (tradução minha). Todos os excertos de obras em línguas estrangeiras citados aqui
foram traduzidos por mim.
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29. Idem. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.
30. Idem. Os condenados da terra. 2ª ed. Pref. Jean-Paul Sartre. Trad. José Laurênio de Melo. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1979, pp. 41-44.
31. Idem. “Racisme et culture”. In: Œuvres. Paris: Éditions La Découverte, 2011, p. 718. Este ensaio
de Fanon, originalmente uma comunicação verbal de Fanon no I Congresso dos Escritores e
Artistas Negros de 1956, foi incluído na antologia póstuma Em defesa da revolução africana.
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32. Ibid., p. 718. Os djemaas eram unidades administrativas indiretas na Argélia, instituídas pelo poder
colonial e administradas diretamente por lideranças berberes indicadas. Para uma análise sobre
o papel das lideranças africanas nomeadas pelos governos coloniais franceses na África, conferir
MABEKO-TALI, Jean-Michel. Considerações sobre o despotismo colonial, e a gestão centrali-
zada da violência no Império colonial francês. Varia Historia, Belo Horizonte: UFMG, v. 29, n.
51, pp. 745-770, set.-dez. 2013.
33. FANON, Frantz. “Racisme et culture”. In: Œuvres. Paris: Éditions La Découverte, 2011, p. 724.
Aos “tradicionalistas” mencionados no excerto (que nunca chegam a ser identificados muito
claramente no texto), Fanon opõe os intelectuais urbanos de educação ocidental que aderem a
movimentos de “retorno” às raízes culturais africanas, tais como a Négritude. O argumento de
Fanon, neste caso, é o de que esses intelectuais não estariam imersos em culturas africanas vivas
e dinâmicas, de modo que o “retorno” proposto seria artificial, e as culturas supostamente tradi-
cionais revalorizadas seriam apenas uma caricatura fossilizada.
34. Idem. Os condenados da terra. 2ª ed. Pref. Jean-Paul Sartre. Trad. José Laurênio de Melo. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1979, p. 31.
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Para Fanon, esse “olhar de inveja” estava muito longe de oferecer uma
atitude adequada à luta anticolonial, que devia destruir toda a estrutura
maniqueísta da colonização em vez de apenas trocar os lugares entre colonos
e colonizados, mantendo intactas as fronteiras sociais e econômicas. O
colonizado “invejoso”, que queria tomar à força o lugar do colono, pode
ser comparado à representação que Fanon fez do antilhano colonizado
emigrado para a França que desejava, patologicamente, tornar-se branco
como reação à discriminação racista.36
O problema da alienação dos africanos, para Fanon, não se encerrava
com o fim do governo colonial e com a independência, mas estendia-se
para o processo de formação das novas nações independentes. Sem uma
consciência clara dos desafios e das demandas da luta de libertação, os
africanos corriam o risco de se deixar iludir pelos discursos nacionalistas de
uma burguesia nativa parasitária, que desejava simplesmente “transferir aos
autóctones favores ilegais herdados do período colonial”, em vez de “ordenar
o Estado em função de relações sociais novas”.37 Assim sendo, para que fosse
possível promover um processo de libertação efetiva, seria imprescindível
que o nacionalismo puro e simples fosse aprofundado, enriquecido, e se
convertesse em “consciência política e social, em humanismo”.38 É nesse
sentido que podemos entender o lamento de Fanon em um de seus últimos
relatos, escrito durante uma missão diplomática em 1960, num momento
em que as independências formais iam se realizando rapidamente:
39. Idem. “Cette Afrique à venir”. In: Œuvres. Paris: Éditions La Découverte, 2011, p. 867.
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40. JAMES, Cyril Lionel Robert. Os jacobinos negros: Toussaint L’Ouverture e a revolução de São Do-
mingos. Trad. Afonso Teixeira Filho. 1ª ed. rev. São Paulo: Boitempo, 2010, p. 222.
41. Ibid., pp. 264-265.
42. Ibid., p. 222.
43. Ibid., p. 227.
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Os negros da África [em 1938] são mais avançados e preparados do que eram
os escravos de São Domingos. [...] Do povo que se esforça em agir surgirão
os líderes; não dos negros isolados no Guy’s Hospital ou na Sorbonne, dos
diletantes do surrealismo ou dos advogados, mas dos calmos recrutas de uma
força policial negra: o sargento do exército nativo francês ou da polícia inglesa,
aquele que se familiariza com as táticas e estratégias militares ao ler um panfleto
perdido a respeito de Lenin ou Trotski, como Toussaint que lia o padre Raynal.46
46. Ibid., pp. 341-342. James faz referência aqui ao “Abade Raynal”, como era conhecido o jesuíta
Guillaume Thomas François Raynal (1713-1796), intelectual francês associado à ilustração e
autor da obra História filosófica e política dos assentamentos e do comércio dos europeus nas duas Índias, pu-
blicada em 1770 e mais conhecida como História das duas Índias. A obra de Raynal fazia menção
a um “Spartacus negro” que acabaria com a escravidão, e James imaginou, hipoteticamente, que
Toussaint L’Ouverture pudesse ter sido inspirado por essa passagem da obra – o que exigiria que
o líder haitano tivesse ignorado sistematicamente as passagens racistas do livro. Laurent Dubois,
em discussão sobre a circulação atlântica de ideias no contexto da Revolução Francesa e da revo-
lução haitiana, sugeriu que os revolucionários haitianos se apropriaram seletiva e criativamente
das ideias ilustradas, radicalizando seu sentido e seu conteúdo antiescravista, que era moderado
nos autores franceses. Cf. DUBOIS, Laurent. Luzes escravizadas: repensando a história intelec-
tual do Atlântico francês. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes,
ano 26, nº 2, pp. 331-354, 2004. James, por sua vez, entendia o processo de forma mais unilateral,
dando maior peso às ideias francesas do que ao protagonismo intelectual dos haitianos.
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47. FANON, Frantz. “Les intellectuels et les démocrates français devant la révolution algérienne”.
In: Œuvres. Paris: Éditions La Découverte, 2011, pp. 759-760.
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48. Enquanto James emprega o termo “socialista” para designar a atuação da Quarta Internacional e
dos partidos europeus de inspiração marxista, Fanon prefere o adjetivo “comunista” ao se referir
ao Partido Comunista Francês, motivo pelo qual os dois termos assumem, nesta análise compa-
rativa, sentido próximo, fazendo referência geral às diversas correntes do pensamento marxista
europeu de meados do século XX.
49. Ibid., p. 767. Para a análise de uma orientação semelhante do Partido Comunista Português em
período pouco anterior a esse em que Fanon escreve, veja-se o capítulo de Helena Wakim More-
no, neste volume.
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50. Idem. Os condenados da terra. 2ª ed. Trad. José Laurênio de Melo. Rio de Janeiro: Civilização Bra-
sileira, 1979, pp. 73-74.
51. FANON, Frantz. “L’An V de la révolution algérienne”. In: Œuvres. Paris: Éditions La Découver-
te, 2011, pp. 259-418. A obra foi republicada, na edição francesa de 1972, com o título Sociologie
d’une révolution.
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58. Veja-se também a análise feita por GIBSON, Nigel. “Jammin’ the airwaves and tuning into the
revolution: the dialectics of the radio in L’An V de la révolution algeriénne”. In: GORDON, Lewis
R.; SHARPLEY-WHITING, T. Denean; WHITE, Renée T (Ed.). Fanon: a critical reader. Ox-
ford/Cambridge, Massachusetts: Blackwell Publishers, 1996, pp. 273-282.
59. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008,
pp. 95-96.
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60. SAID, Edward W. “Exílio intelectual: expatriados e marginais”. In: Representações do intelectual: as
Conferências Reith de 1993. Trad. Milton Hatoum. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, pp.
55-70. A noção de “estilo tardio” é usada também por Edward Said para se referir a obras inte-
lectuais ou artísticas que recusem conciliações e sínteses reconfortantes, insistindo em apresentar
como irresolvidas as contradições. Cf. Idem. SAID, Edward W. Estilo tardio. Trad. Samuel Titan
Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
61. FANON, Frantz. Os condenados da terra. 2ª ed. Pref. Jean-Paul Sartre. Trad. José Laurênio de Melo.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979, p. 90.
234 IDEIAS E PRÁTICAS EM TRÂNSITO
Portanto, seria apenas com a integração das massas rurais que a luta
ganharia seu caráter verdadeiramente revolucionário. Contudo, o povo
dos campos careceria de orientação ideológica para identificar seu inimigo,
escolher as estratégias de ação adequadas à sua libertação e construir um
projeto político igualitário para a nação independente, que não redundasse
em mera substituição da burguesia colonial metropolitana pela burguesia
autóctone. Fanon assinalava a necessidade de orientar a ação camponesa:
Uma vez mais recaímos nessa obsessão que gostaríamos de ver partilhada
pela totalidade dos homens políticos africanos: a necessidade de esclarecer o
esforço popular, de iluminar o trabalho, de desembaraçá-lo de sua opacidade
histórica. Ser responsável num país subdesenvolvido é saber que tudo repousa
definitivamente na educação das massas, na elevação do pensamento, no que se
chama um tanto precipitadamente politização.62
65. Cf. GUÉRIN, Daniel. Rosa Luxemburgo e a espontaneidade revolucionária. São Paulo: Perspectiva,
1982.
66. Cf. LUXEMBURGO, Rosa. “Massas e chefes”. In: GUÉRIN, Daniel. Rosa Luxemburgo e a espon-
taneidade revolucionária. São Paulo: Perspectiva, 1982, p. 81
67. Idem. Greve de massas, partido e sindicatos: (1906). Trad. José Reis. São Paulo: Kairós Livraria e Edi-
tora, 1979, pp. 59-60.
Leila Leite Hernandez • Alexandre Almeida Marcussi (organização) 237
considerAções finAis
referênciAs
70. CHAKRABARTY, Dipesh. Provincializing Europe: postcolonial thought and historical difference.
Reimpr. ampl. Princeton: Princeton University Press, 2008, pp. 3-23.
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CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Trad. Anísio Garcez Homem. Santa
Catarina: Letras Contemporâneas, 2010.
CHAKRABARTY, Dipesh. Provincializing Europe: postcolonial thought and
historical difference. Reimpr. ampl. Princeton: Princeton University Press, 2008.
CONRAD, Joseph. Coração das trevas. Trad. Sergio Flaskman. São Paulo: Companhia
das Letras, 2008.
DU BOIS, William Edward Burghardt. As almas da gente negra. Trad. Heloísa Toller
Gomes. Rio de Janeiro: Lacerda Ed., 1999.
DUBOIS, Laurent. Luzes escravizadas: repensando a história intelectual do
Atlântico francês. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro: Universidade Candido
Mendes, ano 26, nº 2, pp. 331-354, 2004.
FANON, Frantz. Écrits sur l’aliénation et la liberté: Œuvres II. Ed. Jean Khalfa e
Robert Young. Paris: Éditions La Découverte, 2015.
______. Œuvres. Paris: Éditions La Découverte, 2011.
______. Os condenados da terra. 2ª ed. Trad. José Laurênio de Melo. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1979.
______. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA,
2008.
FARIA, Sheila de Castro. Identidade e comunidade escrava: um ensaio. Tempo, Rio
de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, v. 11, n. 22, 2007, p. 122-146.
GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. Trad. Cid
Knipel Moreira. 2ª ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Editora 34/Universidade Cândido
Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2012.
GORDON, Lewis R. What Fanon said: a philosophical introduction to his life and
thought. Nova York: Fordham Univeristy Press, 2015.
GUÉRIN, Daniel. Rosa Luxemburgo e a espontaneidade revolucionária. São Paulo:
Perspectiva, 1982.
JAMES, Cyril Lionel Robert. Os jacobinos negros: Toussaint L’Ouverture e a revolução
de São Domingos. Trad. Afonso Teixeira Filho. 1ª ed. rev. São Paulo: Boitempo,
2010.
LUXEMBURGO, Rosa. Greve de massas, partido e sindicatos: (1906). Trad. José Reis.
São Paulo: Kairós Livraria e Editora, 1979. (Série Materialismo Histórico, 6)
MABEKO-TALI, Jean-Michel. “Considerações sobre o despotismo colonial, e a
gestão centralizada da violência no Império colonial francês”. Varia Historia, Belo
Leila Leite Hernandez • Alexandre Almeida Marcussi (organização) 241