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Aprovado em ___/___/______.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Orientador: Prof.Dr. Ramiro Marcos Dulcich Piccolo
Universidade Federal Fluminense
_____________________________________________
Prof. Dra. Marcia do Rocio Santos
Universidade Federal Fluminense
_____________________________________________
Prof. Ms. Antoniana Defilippo
Universidade Federal Fluminense
Para não correr o risco de esquecer-me de mencionar alguém, agradeço de antemão a todos
que de alguma forma passaram pela minha vida e contribuíram para a construção de quem sou
hoje. Dedico também meu apreço e meus sinceros agradecimentos àqueles, que de modo
especial, me apoiaram na realização deste trabalho e na minha formação de um modo geral:
À Deus, que se mostrou presente em todos os instantes de minha vida, me dando coragem
para seguir nos momentos de desânimo. Debruçar-me em sua sabedoria provocou em mim o
sentimento de superação.
À minha família, tias e tios, primas e primos, em especial meus pais, irmã e irmãos, sobrinho
e sobrinhas e minha avó Gabriela. À minha mãe, pelo amor incondicional, a preocupação e
suas orações rotineiras para que eu passasse de forma firme por esta etapa, pela dedicação,
pelo apoio em todos os momentos, tornando o caminho mais simples e regado a felicidade.
Ao meu pai, com seu amor paternal, sempre torceu por mim, por ter sido incentivo, me
fazendo acreditar que não era impossível essa conquista. Aos dois, meu muito obrigada, que
na frente do que fazem por mim, torna-se mínimo. Obrigada por nunca permitirem que eu
desistisse e por demonstrarem ter como objetivo de vida a minha felicidade. À todos os meus
irmãos e em especial minha irmã Gabrielle e meu irmão Felipe por estarem sempre juntos a
mim, por participarem deste momento único e acreditarem na minha vitória. Eu amo todas e
todos vocês!
Ao Lourival meu esposo, a pessoa que eu amo e compartilho minha vida. A quem admiro a
força, inteligência e determinação, pelo carinho e amor com a família. Ele sempre pronto a
ajudar, inspirou-me bondade e amor, por caminhar junto comigo em todos os momentos, por
me motivar para um futuro colhedor, e por fazer de nós o melhor que poderíamos ser. Ao
grande presente que ele pode me dar, nosso filho João. A vida ainda tem muito para nos
oferecer.
Ao meu filho João, muito esperado e desejado, onde encontrei forças, superei e venho
superando os obstáculos de minha formação, em cada olhar dele para mim e em cada dia que
Deus nos proporciona a imensa alegria de tê-lo em nossas vidas e cada dia em que ele diz que
me ama.
A Ramiro Marcos Dulcich Piccolo, meu orientador, pela dedicação, paciência, repasse de
conhecimento e pelo incentivo durante a elaboração deste trabalho.
À Fabíola Pereira Caxias, supervisora de campo de estágio, pelo exemplo profissional, pelos
ensinamentos compartilhados durante dois anos de convivência e por ter me recebido tão bem
como estagiária.
Aos profissionais de atendimento da UPA – Unidade de Pronto Atendimento de Araruama e
em especial Dra. Ivy Giliano, Dra. Mariana, Dro Flávio e a enfermeira Juliana, sempre
atenciosos e ótimos como profissionais. Obrigada pela contribuição de cada um de vocês.
Aos professores da UFF – Universidade Federal Fluminense de Rio das Ostras que
contribuíram para minha formação acadêmica: Bernardo, Walzi, Lúcia Soares, Janes, Ranieri,
Eblim, Leile, Paula Kapp, Cristina Brites, Ana Paula Mauriel, Wanderson, Ramiro, Valéria,
Paula Sirelli, Clarice, Raimunda, Mariana, José Adams, Edson, Katia, Renata, Bruno, Leticia
e Diego.
Às componentes de minha banca examinadora, Professora Marcia do Rocio Santos e
Professora Antoniana Defilippo.
Obrigada aos entrevistados Assistentes Sociais da UPA de Araruama, por me concederem o
tempo necessário às entrevistas e por fazerem parte da minha história enquanto Assistente
Social em formação.
Agradeço as minhas amigas de turma Gabriela Rangel, Greiciane, Maria Alice, Maria
Gabriela, Michelle Marabotti e Tamy, em especial às amigas Gabriela Rangel e Maria
Gabriela. Obrigada meninas por se preocuparem comigo, serem meu suporte na vida
acadêmica e pessoal.
À todas (os) as (os) companheiras (os) de curso que contribuíram direta e indiretamente para
este momento.
E àquela que mesmo não estando mais entre nós, sempre me via alcançando esta vitória, isso
em momentos em que nem eu acreditava, minha saudosa Tia Elizabeth Antunes de Araújo.
Por fim, muito obrigada por todos (as) que foram de algum modo responsáveis por esta
conquista ao longo desses anos.
“É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar.
É melhor tentar, ainda que em vão que sentar-se, fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder.
Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver.”
(Martin Luther King)
RESUMO
Este Trabalho de Conclusão de Curso, objetiva apresentar a forma pela qual os profissionais
de Serviço Social compreendem e utilizam planejamento. Partindo do pressuposto de que o
planejamento eficaz e efetivamente possibilita a materialização da ruptura com as tendências
assistencialistas, imediatas e dissonantes entre teoria e prática, historicamente presentes nas
práticas do Serviço Social, farei um breve recorte acerca dos marcos em que historicamente o
planejamento, nos seus diferentes enfoques, foi utilizado, bem como as limitações que este
instrumental apresenta quando implementado de forma focalista simplista, com um caráter
ético político restrito e conservador.
Finalmente este estudo apresenta o paradigma trazido por Carlos Matus, pontuando
suas potencializadoras contribuições ao serviço Social. De modo especial os levantamentos
feitos no decorrer deste trabalho de conclusão de curso, foram realizados por meio de uma
pesquisa exploratória e qualitativa, na qual foram utilizadas entrevistas abertas junto aos
Assistentes Sociais de campo (UPA de Araruama) que supervisionaram os estagiários da UFF
– Universidade Federal Fluminense. Para o tratamento dos dados, utilizou-se o método
hermenêutico-dialético.
The objective of this course conclusion work present the way in which professionals of Social
Services understand and use planning. On the assumption that effective planning and
effectively enables materialization of the break with the paternalistic, immediate and
dissonant trends between theory and practice, historically present in the practice of social
work, will make a short cut about the landmarks in historically planning in its different
approaches was used, as well as the limitations that this instrumental features when
implemented simplistically focalista, without political ethical. Finally this study presents the
paradigm brought by Carlos Matus, punctuating his potentiating contributions to social
service. In particular the surveys throughout this course conclusion work, were performed
through an exploratory and qualitative research, in which open interviews were used together
with the Social Care field (UPA de Araruama) who supervised the trainees UFF -
Universidade Federal Fluminense. For the treatment of the data, we used the hermeneutic-
dialectic method.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 13
CAPÍTULO I
1 ANTECEDENTES DO PLANEJAMENTO NO BRASIL .............................................. 17
1.1 O PLANEJAMENTO DE GOVERNO NO CONTEXTO BRASILEIRO...................... 19
1.2 PLANEJAMENTO E GOVERNO NO PENSAMENTO DE CARLOS MATUS ......... 25
CAPÍTULO II
2. PLANEJAMENTO E SERVIÇO SOCIAL ..................................................................... 32
2.1 PLANEJAMENTO E RUPTURA COM O TRADICIONALISMO NA PROFISSÃO . 35
2.2 PERCEPÇÕES SOBE O PLANEJAMENTO NA INTERVENÇÃO PROFISSIONAL 38
ANEXOS
ANEXO I – Roteiro para Entrevista ...................................................................................... 52
ANEXO II - TCLE ................................................................................................................. 53
13
INTRODUÇÃO
Ouve-se dizer por toda a parte, o dia inteiro – ai reside a força desse discurso
dominante – que não há nada a opor à visão neoliberal, que ela consegue se
apresentar como evidente, como desprovida de qualquer alternativa. Se ela
comporta essa espécie de banalidade, é porque há todo um trabalho de
doutrinação simbólica do qual participaram passivamente os jornalistas ou os
simples cidadãos e, sobretudo, ativamente, um certo número de intelectuais
(BOURDIEU, 1998, p.42 apud GONÇALVES, 2005).
É com base nos marcos dessa problemática que emergem novos modelos de
planejamento, alternativo ao padrão considerado tradicional e normativo, largamente
utilizado nos planejamentos governamentais, sobretudo na América Latina durante as
décadas de 1960 e 1970. Na década de 1980, porém uma nova perspectiva de
planejamento governamental surge a partir dos trabalhos de Carlos Matus, economista
chileno, ministro de Salvador Allende e exilado após o golpe militar que se abateu sobre
o Chile em 1973.
Carlos Matus trouxe para o planejamento uma nova lógica na qual está presente
uma perspectiva política desconsiderada pelos modelos normativos.
Além da perspectiva política também estão presentes no planejamento tal como
proposto por Carlos Matus, a “flexibilidade referenciada” e a “perspectiva situacional”
que, ao contrário dos antigos “diagnósticos”, considera a dinâmica da realidade. Tais
elementos fazem do planejamento estratégico situacional uma ferramenta importante
para o planejamento social, principalmente o planejamento de governo, mas, também
para diversos setores onde o componente político possui relevância.
É nessa perspectiva que consideramos o planejamento, em sua concepção
estratégica e dentro da abordagem situacional proposta por Carlos Matus, como um
instrumental de suma importância da eficácia do processo de trabalho do profissional de
Serviço Social. Porém, historicamente, o planejamento não tem assumido um papel de
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destaque nas discussões sobre os dilemas teóricos práticos do Serviço Social. Isto pode
ser verificado ao se constatar que, no âmbito do Serviço Social existem pouquíssimas
obras relacionadas a este assunto. A maior parte são teses de mestrado e doutorado da
área da saúde.
Desde 1980 com Barbosa e mais atualmente com Myrian Veras Baptista, através
do livro Planejamento Social: intencionalidade e instrumentalização, não se têm
publicações no sentido de sistematizar o planejamento no Serviço Social. Essa escassez
bibliográfica sobre o tema dificultou o desenvolvimento deste projeto.
Se o modelo normativo foi rejeitado pelo Serviço Social a partir da consolidação
da ruptura com as referências da profissão, a perspectiva estratégica-situacional de
Carlos Matus, por sua vez, não se tornou suficientemente conhecida e satisfatoriamente
assimilada, predominando, no momento contemporâneo a concepção de planejamento
como instrumento da reprodução do capital, com foco no mercado.
O universo de pesquisa de campo escolhido foi o de profissionais que
realizaram, no primeiro e segundo semestres de 2014, a supervisão de estágio no campo
da UPA de Araruama, dos estudantes de Serviço Social da Universidade Federal
Fluminense. Isto porque, o estágio e a supervisão são componentes fundamentais no
processo de formação dos Assistentes Sociais e momentos privilegiados da
concretização da relação teoria-prática (Rodrigues, 1997). Assim sendo, o estágio e a
supervisão se constituem atividades que, por definição, exigem organização, que por sua
vez, devem refletir a intencionalidade que, necessariamente deve ser inerente à atitude
profissional (Faleiros, 1981).
Logo, o critério para escolher esses entrevistados foi que eles tivessem feito a
supervisão de campo dos estagiários em Serviço Social do primeiro e segundo semestre
de 2014, conforme mencionado anteriormente. Tive também uma outra base de critério
para selecionar estes entrevistados, pois uma vez que 02 (dois), no universo destes 06
(seis) supervisores, eram também professores da Universidade Federal Fluminense
Campus Rio das Ostras, estes não foram considerados, pelo fato de que já poderiam ter
uma opinião formada sobre planejamento, até mesmo porque uma destas já atuava na
área do planejamento/administração.
Nessa linha, o presente trabalho pontua inicialmente os marcos em que
historicamente o planejamento é implementado, distinguindo o enfoque do mercado e
do Estado. Posteriormente, apresenta o contexto histórico em que Carlos Matus inicia
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sua critica acerca das limitadas versões de planejamento usadas e sua proposta na busca
por um conceito mais amplo e pertinente a complexidade inerente à sociedade. Logo
depois contextualizamos o planejamento de governo no contexto brasileiro.
Contemplamos no título “Planejamento e o Serviço Social e a ruptura com o
tradicionalismo”, como o planejamento é apropriado pelo Serviço Social. Nessa
perspectiva, no capítulo I procuramos fundamentar nossa compreensão sobre o caráter
histórico do planejamento e seus antecedentes.
Sendo assim, no capítulo II, fazemos um apanhado de como o Serviço Social
incorpora o planejamento à intervenção profissional e a ruptura com o tradicionalismo
na profissão e sintetizamos características de como os profissionais de Serviço Social
que atuam na supervisão de estágio, utilizam o planejamento, pontuando com base no
que foi absorvido de sua falas (através da aplicação de entrevistas semi-estruturadas a
Assistentes Sociais que por meio de convênio junto a Universidade Federal Fluminense,
prestam supervisão de estágio para o curso de Serviço Social da UFF em rio das
Ostras), às convergências e divergências no que se refere ao planejamento estratégico.
Nas considerações finais apresentamos a reflexão acerca do que se foi discutido
e do que se foi interpretado junta a orientação, destacando aspectos relevantes dos
resultados encontrados em nossa pesquisa.
Partindo desse pressuposto, no presente trabalho nos propusemos verificar e
analisar como o planejamento se faz (ou não) presente, enquanto instrumental que
possibilita a intervenção e dá intencionalidade à ação profissional, em alguns espaços
sócio-ocupacionais que funcionam como campo de estágio e possuem supervisores de
estágio.
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CAPÍTULO I
ANTECEDENTES DO PLANEJAMENTO NO BRASIL
Do final dos anos cinquenta à queda do governo João Goulart, ao menos três
programas mais ambiciosos de estabilização monetária foram tentados pelos governos
do período, todos sem êxito. Porém, ao analisar estas iniciativas, segundo Ricardo Silva
(2000), podemos fazer uma profunda inflexão em relação à estratégia da política
econômica adotada durante aos anos de auge do desenvolvimento, no qual, um novo
consenso ideológico estava se formando. A estabilidade monetária se unia ao discurso
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plano, ou seja, é o momento de por no papel o que se pretende com o plano. O desenho
do plano abrange diversos níveis de generalidade e especificidade.
Começa com o programa (linhas e critérios), continua com o programa
direcional (precisão global em nível de projetos de ação), prossegue com a
desagregação do plano na matriz geral problemas-operacionais, passa à subdivisão do
plano em sub-planos (os módulos OP), para em seguida desagregar as operações em
ações e as ações em sub-ações.
Essas partições derivam da necessidade de descentralizar para que o
planejamento seja criativo e democrático, embora se deva ao mesmo tempo respeitar
certos critérios de coerência global, indispensável para a eficácia da condução
(MATUS, 1997a, p.336 apud GONÇALVES, 2005).
A ordem lógica e formal não deve ser, necessariamente, seguida, mas é
importante que se busque, na visão de Matus, um equilíbrio entre os critérios de
coerência global e a criatividade descentralizada.
Ressalta-se que o programa, além de buscar o enfrentamento de alguns
problemas, também representa uma convocação à ação. “Em nível político, pode ter a
forma de um programa eleitoral; no nível de um dirigente, ou pode ser uma proposta de
desenvolvimento da empresa; para um dirigente sindical, a sua plataforma de luta por
novas conquistas para os trabalhadores” (MATUS, 1997a, p.337 apud GONÇALVES,
2005).
A análise da viabilidade do programa direcional do plano passa, a ser a
preocupação central do momento estratégico. Deve-se considerar tanto a viabilidade
política, quanto econômica, a tecnológica e a industrial-organizacional. O momento
estratégico concentra-se, dessa forma, na análise de viabilidade que aponta para a
dialética entre o necessário, o possível e a criação de possibilidades.
Após analisar e conhecer e realidade, desenhar o futuro e definir as
possibilidades de realização do plano, o planejamento deve-se converter em ação
concreta. A mediação entre o conhecimento e a ação representa a tarefa do momento
tático-operacional. Ressalta-se que “a ação é sempre o produto final de um cálculo, mas
não necessariamente o produto final do plano formalizado. Tal divergência deve ser
resolvida pelo momento tático-operacional” (MATUS, 1997a, p.485 apud
GONÇALVES, 2005).
25
A partir dessas colocações, Carlos Matus entende ser necessária uma visão
“transdepartamental” e propõe a construção de uma ciência social horizontal com o
intuito de reconstruir uma “teoria do governo” capaz de fundamentar os “métodos de
governo”. Assim, de acordo com sua proposta, torna-se importante uma “teoria prática”,
e essa teoria deve ser entendida como uma “ciência horizontal”. É sobre a base da teoria
da produção no jogo social, que sustenta o Planejamento Estratégico Situacional,
propondo construir as ciências e técnicas de governo. Segundo Matus (2000), a “prática
social horizontal”, exercida no âmbito público, atravessa os departamentos das ciências
tradicionais, produzindo problemas comuns, gerando relações entre esses departamentos
e, consequentemente, produzindo um intercâmbio de problemas entre eles, ou seja, a
ação pública acaba por gerar efeitos positivos ou negativos em relação às metas
anunciadas.
O padrão explicativo da teoria social tradicional, seguindo as ciências naturais,
baseia-se em uma observação objetiva da realidade “a partir de fora”. Essa explicação
assume uma relação fria entre o sujeito observador e o objeto observado,
desconhecendo a complexidade da interação humana. Já a ação prática é realizada no
jogo social “a partir de dentro”, através da intervenção entre jogadores e jogadas. O
planejamento, enquanto instrumento para a organização da ação deve, necessariamente,
estar referenciado na dinâmica do contexto social e político onde se realiza,
considerando todos os sujeitos presentes.
Matus não lida com categorias do pensamento marxiano e, em suas análises não
estão presentes distinções entre realidade imediata e realidade concreta, ou sobre a
necessidade de superação da aparência imediata como condição para conhecer a
essência dos fenômenos. Porém, sua concepção de conhecimento da realidade não pode
partir da perspectiva do cientista clássico, baseada em uma concepção verticalizada de
conhecimento, perspectiva esta que possui como características principais: o
determinismo, a desconsideração das subjetividades, a compartimentalização vertical
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Bordenave (1992, p.22 apud FRISTSCH, 1996) diz que participar é fazer parte,
tomar parte ou ter parte. Na definição do autor, a participação é, ao mesmo tempo,
instrumento para a solução de problemas e necessidades fundamentais do ser humano.
Como necessidade humana só pode ser concebida se o homem conjugar o fazer, o tomar
e ter parte nas realidades individuais e coletivas.
Em outras palavras, Demo (1993b apud FRITSCH, 1996) aponta como
característica da participação à condição de ser meio e fim, portanto é instrumento de
autopromoção, mas é igualmente a própria autopromoção.
Diante dessas premissas, o mundo não deve ser ajustado a uma explicação
teórica simples. A complexidade da realidade deve ser respeitada. Com essa intenção,
Matus (2000) afirma buscar um conceito mais amplo que abra espaço para os processos
criativos, negando a concepção das ciências determinísticas.
Portanto faço um apanhado em todos os capítulos, onde trazemos a importância
do planejamento como instrumental essencial na prática profissional, pois pensar
diferente nos remete ao Planejamento de Carlos Matus, que confronta a lógica
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CAPÍTULO II
O PLANEJAMENTO E SERVIÇO SOCIAL
uma legislação agrária, de uma revisão de legislação social e sua extensão às populações
rurais.
Percebemos então que o Serviço Social não ficou imune a este movimento,
mesmo porque, ao longo de sua história, esta profissão é tencionada sintonizar seu
discurso e métodos às preocupações das classes dominantes e do Estado em relação à
questão social e sua evolução.
Dentro destas novas exigências é colocada a reformulação do currículo do
Assistente Social, situando como matérias básicas para o curso de Serviço Social a
economia, sociologia urbana e rural, planejamento e psicologia social e o
desenvolvimento de estudos sobre pesquisa social, cooperativismo, planejamento etc,
procurando reforçar os aspectos técnicos na formação do Assistente Social.
Os governos militares, a partir de 1964, reforçaram os discursos
desenvolvimentistas, atrelando-o à doutrina da “segurança nacional” no qual a
racionalidade técnica vinha acompanhada de práticas altamente pelo aparato estatal da
ditadura.
O planejamento enquanto conjunto de procedimentos técnicos visando uma dada
racionalidade operativa somente chegada ao Serviço Social com as transformações
políticas e sociais provocadas pelos governos militares. A autocracia burguesa provoca
uma profunda alteração no quadro institucional brasileiro, seja nos espaços
institucionais já configurados como espaços de trabalho para o Serviço Social seja nos
espaços que, nesse contexto passarão a demandar a presença profissional do Assistente
Social.
Com efeito, a busca pela modernização e pelo bom desempenho técnico é pauta
dos dois encontros mais significativos: Os seminários de Teorização de Araxá, em 1967
e o seminário de Teorização de Teresópolis em 1971. Embora o Serviço Social
continue, de modo geral, circunscrito a funções executivas, distante das instâncias do
planejamento de governo propriamente dito, no período em tela, uma preocupação em
conferir às suas práticas e um caráter técnico. Nessa perspectiva, o planejamento será
incorporado às práticas dos Assistentes Sociais em sua busca por legitimar sua
competência técnica.
As lutas de categoria superação do conservadorismo culminam da “virada
histórica” no Congresso de 1979 onde foram alterados os pressupostos teóricos,
metodológicos e políticos da profissão, Esta “virada” representou um avanço no sentido
de romper com uma visão a-histórica de profissão e com os pressupostos conservadores
da adaptação do indivíduo ao meio social, que mesmo no período onde o discurso da
modernidade técnica dava o tom, prevaleciam.
Porém, todas essas alterações por suas próprias características, ao buscar romper
om qualquer elemento vinculado a períodos considerados ultrapassados da profissão,
excluíram sob o argumento do “desvio positivista”, qualquer componente metodológico
e/ou técnico que não estivesse vinculado diretamente à perspectiva
transformadora/revolucionária que, passava a orientar os rumos da profissão. No
contexto histórico político brasileiro em que foi efetivada, diga-se no final dos anos
1970, início dos anos 1980 essa perspectiva representava a adesão da profissão, em sua
parcela hegemônica, à possibilidade de uma transformação social radical para o país a
partir da extinção da ditadura.
É, portanto, que este período tenha se caracterizado pela radicalidade no trato
das questões que passariam a orientar o Serviço Social dali em diante, no sentido de
romper com quaisquer referências teóricas, metodológicas ou técnicas que significasse
lembrasse qualquer vinculação com os pressupostos conservadores que orientam a
profissão desde suas origens. Ora, o planejamento, identificado mecanicamente com o
modelo de planejamento incorporado pela parcela hegemônica do Serviço Social no
período autoritário, não desfrutará de qualquer prestígio ou simples espaço de relevância
no âmbito do Serviço Social que se colocava como elemento da transformação social.
Assim, se reforma curricular que se segue à mudança do padrão hegemônico na
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profissão no final dos anos 70, e durante quase toda a década de 80, o planejamento não
adquire maior relevância.
Na segunda metade dos anos 80, quando a realidade brasileira, do ponto de vista
social e político já dava claros sinais de que o fim da ditadura não significava a
transformação imediata da sociedade rumo a um novo sistema social político e
econômico, ao mesmo tempo em que o mundo alardeava o “fim da história”,
significando o fim das utopias que fundamentaram suas referências na teoria social
crítica, ao Serviço Social coloca-se a necessidade imperiosa de rever alguns de seus
pressupostos. Se, do ponto de vista político ideológico permanece o compromisso com
uma perspectiva de transformação rumo a uma ordem social mais justa, é necessário re-
instrumentalizar a profissão para atuar, no plano da realidade concreta, ou seja, uma
atuação que acontece nos marcos da sociedade capitalista.
Surge então o desafio: o Serviço Social, em seus pressupostos ético-políticos,
defende e atua na perspectiva de uma transformação social, mas deve fazê-lo dentro das
instituições do atual modelo social, o que requer um aprimorado sentido de competência
em seus aspectos ético-políticos, mas também em seus aspectos técnicos. É dentro dessa
perspectiva que o planejamento aparecerá, não apenas nos currículos das instâncias de
formação, mas também nos instrumentos normativos da profissão, tais como a Lei
8662/93 que regulamenta a profissão de Assistente Social.
O projeto profissional é o instrumento mais utilizado pelos Assistentes Sociais
em sua prática, pois inúmeras vezes o processo de planejamento está implícito no
cotidiano institucional, sem uma expressão formal. Deve-se recordar que o projeto
concretiza as decisões, sinaliza para ações que operacionalizam a intenções e objetivos
contidos nos planos. Por essa razão é ressaltada a importância do projeto profissonal
estar vinculado ao planejamento, de modo que não se realize apenas ações pontuais e
imediatas.
Na ação cotidiana do Assistente Social, os sistemas de avaliação e controle
devem ser coerentes com os objetivos que se quer atingir. Podem ser identificados em
um primeiro momento: a avaliação da instituição em si, abarcando aspectos para os
quais pode-se construir alguns indicadores, tais como coerência e pertinência social da
sua missão, integração com o seu entorno, comunidade ou região, competência no
desempenho de tarefas, atualidade de seus processos de trabalho, flexibilidade para
incorporação de novas demandas, visibilidade e reconhecimento social e sua forma de
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supervisores, sendo que 01 (um) deles não deu retorno ao meu convite para realizar a
entrevista. Cabe ressaltar que mesmo se tratando de um universo restrito do ponto de
vista quantitativo, do ponto de vista qualitativo este universo é muito significativo, por
se tratar de profissionais que atuam em diferentes áreas e em diferentes tempos de
atuação.
A pesquisa foi desenvolvida com base em entrevistas abertas, na qual as
perguntas foram respondidas dentro de uma conversação informal, onde a interferência
do entrevistador foi mínima. As entrevistas foram orientadas por dois eixos: O primeiro
se refere à importância que estes profissionais atribuem ao planejamento de ações na
prática do Serviço Social e o segundo, refere-se à utilização do planejamento na sua
prática. Estendi este segundo eixo para que, caso o profissional utilizasse o
planejamento em sua prática, que explicasse a forma e em caso negativo que
apresentassem uma causa. Desta forma foi possível obter o maior número de
informações sobre o tema, segundo a visão do entrevistado, e também obter um maior
detalhamento do assunto em questão.
Para análise dos dados colhidos nas entrevistas utilizamos a proposta do método
hermenêutico-dialético (O método hermenêutico-dialético é uma técnica de entrevistas
que permite a interação dos entrevistados entre si (sujeitos da pesquisa) e destes com o
pesquisador. Nesta técnica, o pesquisador, mesmo realizando entrevistas individuais
com cada sujeito da pesquisa, possibilita que suas falas possam ser lidas pelos outros
entrevistados, que elaboram uma síntese da sua e das demais respostas, conduzindo ou
não modificações na sua resposta original.), mencionado na obra de Minayo (1994), que
me possibilitou situar as falas dos entrevistados no seu contexto.
Com base nos eixos que nortearam as entrevistas podemos observar que é
unanimemente mencionado entre os entrevistados a importância que dão ao
planejamento. Contudo dentre as falas dos 03 (três) entrevistados, apenas o primeiro
esmiuçou sua compreensão acerca desta importância que é conferida ao planejamento.
Em sua visão, o planejamento é de suma importância por lhe permitir organizar suas
ações nos mais variados momentos, com base na sistematização de suas ações,
documentação, ou seja, aqui fazem referência ao planejamento como uma importante
técnica, um instrumento que quando apropriado por determinadas categorias
profissionais, lhes confere maior possibilidade de concretização de suas metas.
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[...] não sei até que ponto as universidades estão acompanhando estas
discussões persuasivas com relação ao planejamento. Porque como qualquer
área do conhecimento ele precisa ser problematizado, pensar a metodologia a
ser utilizada para se concretizar e viabilizar este planejamento. E ressalta: em
minha formação, tive o prazer de fazer uma disciplina específica no Serviço
Social, que era Planejamento e Administração em Serviço Social, então nessa
disciplina vimos os princípios básicos e históricos do planejamento e
trabalhamos com autores que lidavam com dois tipos de planejamento, que é
o planejamento normativo e o estratégico, que claro para o nosso perfil
profissional, seria muito mais apropriado usar o planejamento estratégico, até
mesmo para garantir o direito desse usuário.
E alerta:
[...] em muitas instituições o que prevalece é o modelo normativo, aquele
planejamento que vem de cima pra baixo, é uma forma de se pensar em
objetivos e as metas da instituição. Ou seja, a instituição decide quem vai
pensar esse planejamento e quem irá passar ou reproduzir para aqueles que
vão executar.
[...] o Assistente Social, tem que, muitas vezes, engolir esses objetivos e
métodos da instituição. Guiado, na maioria das vezes por resultados
quantitativos, e deste modo, ao próprio usuário, não lhe é dada à
oportunidade de participar do planejamento, de algo que vai ser destinado a
ele mesmo.
Segundo este profissional “[...] o próprio caso vai trazer elementos para esse
planejamento”. E faz referência ao planejamento em nível macro, no qual se
estabelecerão “[...] metas para o trabalho de um modo geral, que envolverá a
participação de outros profissionais que, na sua opinião, é bem mais difícil”. Já fora
dessas equipes multiprofissionais, percebe que o profissional tem muito mais autonomia
e menciona a própria lei que regulamenta a profissão e código de ética, como
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normativas que preveem essa autonomia para se planejar em nível mais micro, na
relação direta com o usuário.
O segundo entrevistado (2) fala que a instituição em que atua é criado
anualmente um planejamento, no intuito de organizar e executar ações a serem
desenvolvidas. E que em suas atividades “[...] de certa forma desenvolvia planejamento,
no qual se estabelecia planos de ação para o ano, documentávamos nossos encontros,
procurávamos dar continuidade às ações, socializávamos com representantes da
sociedade e ouvíamos suas considerações etc”. E avança dizendo, “[...] tentávamos fazer
um planejamento também junto às estagiárias, mas o desconhecimento por questões
base acerca do Sistema de Garantias de Direitos, não nos permitia ter mínimas
condições para fazer isso”. Ou seja, apresenta esse despreparo como causa limitadora de
sua intervenção.
O terceiro entrevistado (3) diz que sempre reforça a importância do
planejamento, mas que “[...] não se consegue seguir um planejamento a risca”, isso
devido ao fato de que a instituição coloca demandas e urgências. Ou seja, dentro dessa
visão, o planejamento é algo preestabelecido, inalterável, que não avança diante das
instituições. Isso fica evidente quando, com frustação, em uma de suas falas é
explicitado que em suas atividades, mesmo desenvolvidas de forma criteriosa,
planejada, com base num cronograma e com metas estabelecidas, “não dá para seguir a
risca seu planejamento, devido ao fato de ter que relativizar seu planejamento diante da
realidade vivenciada.
Dentro desta visão o planejamento é apresentado como algo ”[...] complicado
[...], por não existir específicas determinações da instituição para sua intervenção. Ou
seja, na visão deste profissional, o planejamento deve definir ações que devem ser
seguidas “a risca”, tal como planejamento determinam os modelos normativos de
planejamento. Há, sem dúvida, uma clara associação entre o planejamento em geral e o
planejamento normativo.
Nos discursos dos três entrevistados, (embora com maior ênfase no segundo e no
terceiro) o planejamento é associado a uma função macro-institucional, cabendo ao
Serviço Social pouca margem de autonomia.
A partir do resultado das entrevistas, podemos observar que devido à
compreensão limitada acerca do planejamento, se faz necessário recoloca-lo como um
instrumental que mesmo inserido no mercado de trabalho, não seja aprisionado às
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Iamamoto (2002) indica que o exercício da profissão passa a exigir uma ação de
um sujeito profissional que tenha competência para propor, negociar e construir os seus
projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções
profissionais sempre na busca de equidade. Requer, pois, ir além das rotinas
institucionais, do ativismo e buscar apreender o movimento da realidade. Traduzindo,
significa repensar o Serviço Social na sua contemporaneidade, com vistas a traduzir o
mundo moderno.
O planejamento normativo não leva em conta os diferentes atores sociais, grupos
da sociedade, setores de uma mesma empresa etc. Que detentores de interesses e
comportamentos próprios fazem esta relação ser permeada por conflitos. Neste ponto
por vezes esse tipo de planejamento estagna, por não possuir viabilidade política, por
não ter levado, nem conseguir levar em consideração a importância da existência de
forças oponentes que, caso tivessem sido envolvidas, mesmo com os desafios de abarcar
suas demandas, na elaboração do plano, se revelariam potenciais forças de apoio ao
planejamento.
A grande problemática é que, em se tratando de um profissional que presta
supervisão de estágio, esta visão apresenta problemas na medida em que o supervisor
espera que o estagiário apenas “aprenda” tais procedimentos pré-definidos. Nessa
perspectiva são comuns as queixas de supervisores, que, com concepções semelhantes,
lamentam que o estagiário chega ao campo de estágio “sem saber fazer nada”. Nesse
sentido, tanto as concepções de planejamento, como de estágio, revelam uma concepção
da prática profissional, que por sua vez, revela uma concepção de mundo e de
sociedade.
Meu plano estará sempre pronto, mas estará sempre em processo de revisão.
Não haverá tempo para o “plano-livro”. Devo calcular rapidamente e com
capacidade de antecipar a mudança situacional real. Esse cálculo deve ser um
processo incessante e permanente de pré-alimentação do futuro e de
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
concreta de tornar visível o compromisso do Serviço Social com uma consciência ética
que viabilize a proposta presente na cultura profissional.
Se por um lado avaliamos que a pesquisa ainda carece de aprofundamento
teórico para dar conta de suas diversas lacunas, por outro ela nos possibilitou concluir
que urge recolocar o planejamento nas discussões, problematiza-lo tanto nos espaços
acadêmicos (suporte teórico) como nos campos de intervenção do profissional de
Serviço Social. Nota-se que nas entrevistas realizadas o planejamento ainda ocupa um
espaço impreciso, traduzindo conceitos pouco claros, o que confirma a nossa hipótese
inicial.
Fica claro que é necessário ter no planejamento a superação de mero instrumento
tecnocrático, enfatizando suas possibilidades de garantir uma ação competente. Os
entraves que surgem devem ser analisados e incorporados em propostas mais flexíveis e
compatíveis com as exigências que vêm sendo feitas ao Serviço Social, que possibilitem
atender às exigências de articular planejamento e intervenção profissional. Este é um
desafio colocado ao Assistente Social.
Os resultados de nossa pesquisa de campo, ainda que tematizando um universo
limitado, revelam que a visão de planejamento ainda permanece atrelada a referências
formais, uma espécie de “roteiro” a ser seguido e que tem sua eficácia e sua efetividade
mensuradas a partir da capacidade do profissional em “ajustar a realidade ao que foi
especificado no documento-plano”. O planejamento, assim, não é visto como um
instrumental que possibilite imprimir alterações concretas na realidade, dando um
contorno definido e identificável à ação profissional. Isto porque, entre os entrevistados,
o planejamento não é pensado como instrumento político que exige um cuidadoso
processo de negociações em diferentes níveis, articulando e compatibilizando diferentes
posições, prioridades, exigências políticas e propostas de diversos segmentos e de
sujeitos sociais envolvidos.
Nessa direção, o planejamento situa-se como um processo de compreensão da
realidade e opções estratégicas, que tem tempo e espaço bem definidos,
consubstanciados em ações encadeadas e tendo em vista determinados objetivos. Sua
implementação deverá produzir uma alteração sensível no real, alterações que são
incorporadas à nova situação, o que dá a dinâmica e flexibilidade do processo. Todo o
plano necessita, por isso mesmo, de revisões sistemáticas, e exige um acurado sistema
de monitoramento, controle e acompanhamento para permitir a avaliação.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Mario da Costa. Planejamento e serviço social. São Paulo: Cortez, 1980.
FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em serviço social. São Paulo: Cortez, 1997.
ANEXO I
1. Em contato telefônico, perguntar se o entrevistado aceita que sua fala seja gravada.
2. Primeiramente vou informar que se trata de um trabalho de conclusão de Curso no
qual abordarei a questão do planejamento como instrumental para a intervenção em
Serviço Social.
3. Esclarecer que as falas não serão identificadas.
4. Informar ao entrevistado que ele falará livremente, mas que eu gostaria de começar
perguntando:
Perguntar :
Por quê ?
Perguntar:
De que forma?
CONCLUSÃO:
ANEXO II
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Assinatura Assinatura