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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE


DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

MICHELLE APARECIDA ARAÚJO DE CARVALHO

PLANEJAMENTO EM SERVIÇO SOCIAL: uma ferramenta para intervenção


profissional

RIO DAS OSTRAS – RJ


2016
MICHELLE APARECIDA ARAÚJO DE CARVALHO

PLANEJAMENTO EM SERVIÇO SOCIAL: uma ferramenta para intervenção


profissional

Trabalho de Conclusão de curso apresentado


ao curso de Graduação em Serviço Social da
Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obtenção do grau de
bacharel em Serviço Social.

Orientador: Prof.Dr. Ramiro Marcos Dulcich Piccolo

RIO DAS OSTRAS – RJ


2016
MICHELLE APARECIDA ARAÚJO DE CARVALHO

PLANEJAMENTO EM SERVIÇO SOCIAL: uma ferramenta para intervenção


profissional

Trabalho de Conclusão de curso apresentado


ao curso de Graduação em Serviço Social da
Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obtenção do grau de
bacharel em Serviço Social.

Aprovado em ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________
Orientador: Prof.Dr. Ramiro Marcos Dulcich Piccolo
Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________
Prof. Dra. Marcia do Rocio Santos
Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________
Prof. Ms. Antoniana Defilippo
Universidade Federal Fluminense

RIO DAS OSTRAS – RJ


2016
Carvalho, Michelle Aparecida Araújo de.
Planejamento em Serviço Social: uma ferramenta para intervenção profissional/
Michelle Aparecida Araújo de Carvalho – 2016 (53 f.)
Orientador: Profº Drº Ramiro Marcos Dulcich Piccolo
Monografia (Graduação) – Universidade Federal Fluminense, Departamento
Interdisciplinar de Rio das Ostras, 2016
Bibliografia: f. 49-51

1.Antecedentes do planejamento no Brasil. 2. Planejamento e Serviço Social. I


Piccolo, Ramiro Marcos Dulcich. II. Universidade Federal Fluminense, Departamento
Interdisciplinar de Rio das Ostras III. Título
Ao meu pai, minha mãe e minha avó Gabriela que, mesmo
de longe eu busquei forças em alguns momentos.
Ao meu esposo e meu filho por todo carinho e dedicação. Pela fé e
confiança demonstrada a mim.
Aos meus irmãos e em especial Gabrielle e Felipe que
dividiram comigo todos os momentos tristes e felizes de minha
formação.
O meu amor é imensurável.

Dedico este trabalho à memória da minha amada Tia Elizabeth


Antunes de Araújo.
AGRADECIMENTOS

Para não correr o risco de esquecer-me de mencionar alguém, agradeço de antemão a todos
que de alguma forma passaram pela minha vida e contribuíram para a construção de quem sou
hoje. Dedico também meu apreço e meus sinceros agradecimentos àqueles, que de modo
especial, me apoiaram na realização deste trabalho e na minha formação de um modo geral:
À Deus, que se mostrou presente em todos os instantes de minha vida, me dando coragem
para seguir nos momentos de desânimo. Debruçar-me em sua sabedoria provocou em mim o
sentimento de superação.
À minha família, tias e tios, primas e primos, em especial meus pais, irmã e irmãos, sobrinho
e sobrinhas e minha avó Gabriela. À minha mãe, pelo amor incondicional, a preocupação e
suas orações rotineiras para que eu passasse de forma firme por esta etapa, pela dedicação,
pelo apoio em todos os momentos, tornando o caminho mais simples e regado a felicidade.
Ao meu pai, com seu amor paternal, sempre torceu por mim, por ter sido incentivo, me
fazendo acreditar que não era impossível essa conquista. Aos dois, meu muito obrigada, que
na frente do que fazem por mim, torna-se mínimo. Obrigada por nunca permitirem que eu
desistisse e por demonstrarem ter como objetivo de vida a minha felicidade. À todos os meus
irmãos e em especial minha irmã Gabrielle e meu irmão Felipe por estarem sempre juntos a
mim, por participarem deste momento único e acreditarem na minha vitória. Eu amo todas e
todos vocês!
Ao Lourival meu esposo, a pessoa que eu amo e compartilho minha vida. A quem admiro a
força, inteligência e determinação, pelo carinho e amor com a família. Ele sempre pronto a
ajudar, inspirou-me bondade e amor, por caminhar junto comigo em todos os momentos, por
me motivar para um futuro colhedor, e por fazer de nós o melhor que poderíamos ser. Ao
grande presente que ele pode me dar, nosso filho João. A vida ainda tem muito para nos
oferecer.
Ao meu filho João, muito esperado e desejado, onde encontrei forças, superei e venho
superando os obstáculos de minha formação, em cada olhar dele para mim e em cada dia que
Deus nos proporciona a imensa alegria de tê-lo em nossas vidas e cada dia em que ele diz que
me ama.
A Ramiro Marcos Dulcich Piccolo, meu orientador, pela dedicação, paciência, repasse de
conhecimento e pelo incentivo durante a elaboração deste trabalho.
À Fabíola Pereira Caxias, supervisora de campo de estágio, pelo exemplo profissional, pelos
ensinamentos compartilhados durante dois anos de convivência e por ter me recebido tão bem
como estagiária.
Aos profissionais de atendimento da UPA – Unidade de Pronto Atendimento de Araruama e
em especial Dra. Ivy Giliano, Dra. Mariana, Dro Flávio e a enfermeira Juliana, sempre
atenciosos e ótimos como profissionais. Obrigada pela contribuição de cada um de vocês.
Aos professores da UFF – Universidade Federal Fluminense de Rio das Ostras que
contribuíram para minha formação acadêmica: Bernardo, Walzi, Lúcia Soares, Janes, Ranieri,
Eblim, Leile, Paula Kapp, Cristina Brites, Ana Paula Mauriel, Wanderson, Ramiro, Valéria,
Paula Sirelli, Clarice, Raimunda, Mariana, José Adams, Edson, Katia, Renata, Bruno, Leticia
e Diego.
Às componentes de minha banca examinadora, Professora Marcia do Rocio Santos e
Professora Antoniana Defilippo.
Obrigada aos entrevistados Assistentes Sociais da UPA de Araruama, por me concederem o
tempo necessário às entrevistas e por fazerem parte da minha história enquanto Assistente
Social em formação.
Agradeço as minhas amigas de turma Gabriela Rangel, Greiciane, Maria Alice, Maria
Gabriela, Michelle Marabotti e Tamy, em especial às amigas Gabriela Rangel e Maria
Gabriela. Obrigada meninas por se preocuparem comigo, serem meu suporte na vida
acadêmica e pessoal.
À todas (os) as (os) companheiras (os) de curso que contribuíram direta e indiretamente para
este momento.
E àquela que mesmo não estando mais entre nós, sempre me via alcançando esta vitória, isso
em momentos em que nem eu acreditava, minha saudosa Tia Elizabeth Antunes de Araújo.
Por fim, muito obrigada por todos (as) que foram de algum modo responsáveis por esta
conquista ao longo desses anos.
“É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar.
É melhor tentar, ainda que em vão que sentar-se, fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder.
Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver.”
(Martin Luther King)
RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso, objetiva apresentar a forma pela qual os profissionais
de Serviço Social compreendem e utilizam planejamento. Partindo do pressuposto de que o
planejamento eficaz e efetivamente possibilita a materialização da ruptura com as tendências
assistencialistas, imediatas e dissonantes entre teoria e prática, historicamente presentes nas
práticas do Serviço Social, farei um breve recorte acerca dos marcos em que historicamente o
planejamento, nos seus diferentes enfoques, foi utilizado, bem como as limitações que este
instrumental apresenta quando implementado de forma focalista simplista, com um caráter
ético político restrito e conservador.
Finalmente este estudo apresenta o paradigma trazido por Carlos Matus, pontuando
suas potencializadoras contribuições ao serviço Social. De modo especial os levantamentos
feitos no decorrer deste trabalho de conclusão de curso, foram realizados por meio de uma
pesquisa exploratória e qualitativa, na qual foram utilizadas entrevistas abertas junto aos
Assistentes Sociais de campo (UPA de Araruama) que supervisionaram os estagiários da UFF
– Universidade Federal Fluminense. Para o tratamento dos dados, utilizou-se o método
hermenêutico-dialético.

Palavras-chave: Planejamento, Instrumental, Novo Paradigma e Serviço Social.


ABSTRACT

The objective of this course conclusion work present the way in which professionals of Social
Services understand and use planning. On the assumption that effective planning and
effectively enables materialization of the break with the paternalistic, immediate and
dissonant trends between theory and practice, historically present in the practice of social
work, will make a short cut about the landmarks in historically planning in its different
approaches was used, as well as the limitations that this instrumental features when
implemented simplistically focalista, without political ethical. Finally this study presents the
paradigm brought by Carlos Matus, punctuating his potentiating contributions to social
service. In particular the surveys throughout this course conclusion work, were performed
through an exploratory and qualitative research, in which open interviews were used together
with the Social Care field (UPA de Araruama) who supervised the trainees UFF -
Universidade Federal Fluminense. For the treatment of the data, we used the hermeneutic-
dialectic method.

Keywords: Planning, Instrumental, New Paradigm and Human Services.


LISTA DE SIGLAS

ONU - Organização das Nações Unidas


CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina
EUA – Estados Unidos da América
ILPES – Instituto Latino Americano de Planejamento Econômico e Social
PEN – Plano de Estabilização Monetária
PAEG – Poder de Ação Econômica do Governo
PED – Plano Estratégico de Desenvolvimento
PND – Plano Nacional de Desenvolvimento
OP – Operações
DC – Desenvolvimento de Comunidade
SESI – Serviço Social da Indústria
LBA – Legião Brasileira de Assistência
SESC – Serviço Social do Comércio
UFF – Universidade Federal Fluminense
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 13

CAPÍTULO I
1 ANTECEDENTES DO PLANEJAMENTO NO BRASIL .............................................. 17
1.1 O PLANEJAMENTO DE GOVERNO NO CONTEXTO BRASILEIRO...................... 19
1.2 PLANEJAMENTO E GOVERNO NO PENSAMENTO DE CARLOS MATUS ......... 25

CAPÍTULO II
2. PLANEJAMENTO E SERVIÇO SOCIAL ..................................................................... 32
2.1 PLANEJAMENTO E RUPTURA COM O TRADICIONALISMO NA PROFISSÃO . 35
2.2 PERCEPÇÕES SOBE O PLANEJAMENTO NA INTERVENÇÃO PROFISSIONAL 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 49

SÍTIOS VISITADOS NA INTERNET ................................................................................. 51

ANEXOS
ANEXO I – Roteiro para Entrevista ...................................................................................... 52
ANEXO II - TCLE ................................................................................................................. 53
13

INTRODUÇÃO

Há três décadas o Serviço Social rompeu com o conservadorismo. Contudo,


ainda está fortemente com a discussão sobre a descontinuidade entre teoria e a prática.
Segundo Carvalho (1994), ‘’o cotidiano não tem sido objeto de estudos e investigações
por parte dos Assistentes Sociais, mesmo sendo estas questões fundamentais devido ao
fato de ser neste âmbito que se realiza sua prática’’.
Sendo o Serviço Social uma profissão de intervenção na realidade social, logo
sua lógica esta voltada essencialmente para a sua operacionalização. Deste modo, é na
prática profissional que se processa uma constante organização e reorganização de
conhecimentos com vistas a uma imediata transformação em ação. É a metodologia que
vai garantir ao Serviço Social o conhecimento e a transformação de um dado objeto
construído idealizado através de técnicas e instrumentos, de forma a oferecer uma visão
que permita uma ação sobre o objeto. Assim não deveria, em tese, haver esta
dissociação entre método, teoria e objeto.
O método abre o caminho para o conhecimento da realidade, mas sua
transformação depende da proposta de ação que é operacionalizada pelos instrumentos e
técnicas (THIOLENT, 1998).
Nesse sentido, o presente texto compreende o planejamento como um
instrumental que, em potencial, contribui para uma intervenção sistematizada, crítica,
que tem usuários como colaboradores essenciais, ou seja, mais qualificada. O trabalho
almeja compreender como os Assistentes Sociais o utilizam em sua dimensão operativa,
destacando a visão destes profissionais, sua ação interventiva e sua concepção acerca
deste instrumental.
O planejamento na atualidade é reduzido e estigmatizado por, na maioria das
vezes, estar associado à função política de instrumentos de legitimação da dominação.
Esta visão que reduz o planejamento a mero instrumental está relacionada à prática
voltada para uma espécie de racionalização econômica e a lógica do mercado
capitalista. Esta concepção é intensificada com o início da reestruturação produtiva, que
a partir de 1990, teve como um de seus pilares a redução e o enfraquecimento do
Estado. Assim, apesar de algumas forças se revoltarem contra o pensamento dominante
e hegemônico, a idéia do fatalismo neoliberal, calcada na primazia das forças
produtivas, na anulação do político e no abandono do social, passam a impregnar a
14

maioria dos discursos. Nessa perspectiva, o planejamento de governo, em particular, é


relegado a um patamar secundário e o próprio planejamento governamental.

Ouve-se dizer por toda a parte, o dia inteiro – ai reside a força desse discurso
dominante – que não há nada a opor à visão neoliberal, que ela consegue se
apresentar como evidente, como desprovida de qualquer alternativa. Se ela
comporta essa espécie de banalidade, é porque há todo um trabalho de
doutrinação simbólica do qual participaram passivamente os jornalistas ou os
simples cidadãos e, sobretudo, ativamente, um certo número de intelectuais
(BOURDIEU, 1998, p.42 apud GONÇALVES, 2005).

Segundo Bourdieu (2001, p.11)

(...) cumprem a sua função política de instrumentos de imposição ou de


legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a dominação de
uma classe sobre outra (violência simbólica) dando o reforço da sua própria
força às relações de forças que as fundamentam e contribuindo assim,
segundo a expressão de Weber, para a ‘domesticação dos dominados’
(BOURDIEU, 2001, p.11 apud GONÇALVES, 2005,)

É com base nos marcos dessa problemática que emergem novos modelos de
planejamento, alternativo ao padrão considerado tradicional e normativo, largamente
utilizado nos planejamentos governamentais, sobretudo na América Latina durante as
décadas de 1960 e 1970. Na década de 1980, porém uma nova perspectiva de
planejamento governamental surge a partir dos trabalhos de Carlos Matus, economista
chileno, ministro de Salvador Allende e exilado após o golpe militar que se abateu sobre
o Chile em 1973.
Carlos Matus trouxe para o planejamento uma nova lógica na qual está presente
uma perspectiva política desconsiderada pelos modelos normativos.
Além da perspectiva política também estão presentes no planejamento tal como
proposto por Carlos Matus, a “flexibilidade referenciada” e a “perspectiva situacional”
que, ao contrário dos antigos “diagnósticos”, considera a dinâmica da realidade. Tais
elementos fazem do planejamento estratégico situacional uma ferramenta importante
para o planejamento social, principalmente o planejamento de governo, mas, também
para diversos setores onde o componente político possui relevância.
É nessa perspectiva que consideramos o planejamento, em sua concepção
estratégica e dentro da abordagem situacional proposta por Carlos Matus, como um
instrumental de suma importância da eficácia do processo de trabalho do profissional de
Serviço Social. Porém, historicamente, o planejamento não tem assumido um papel de
15

destaque nas discussões sobre os dilemas teóricos práticos do Serviço Social. Isto pode
ser verificado ao se constatar que, no âmbito do Serviço Social existem pouquíssimas
obras relacionadas a este assunto. A maior parte são teses de mestrado e doutorado da
área da saúde.
Desde 1980 com Barbosa e mais atualmente com Myrian Veras Baptista, através
do livro Planejamento Social: intencionalidade e instrumentalização, não se têm
publicações no sentido de sistematizar o planejamento no Serviço Social. Essa escassez
bibliográfica sobre o tema dificultou o desenvolvimento deste projeto.
Se o modelo normativo foi rejeitado pelo Serviço Social a partir da consolidação
da ruptura com as referências da profissão, a perspectiva estratégica-situacional de
Carlos Matus, por sua vez, não se tornou suficientemente conhecida e satisfatoriamente
assimilada, predominando, no momento contemporâneo a concepção de planejamento
como instrumento da reprodução do capital, com foco no mercado.
O universo de pesquisa de campo escolhido foi o de profissionais que
realizaram, no primeiro e segundo semestres de 2014, a supervisão de estágio no campo
da UPA de Araruama, dos estudantes de Serviço Social da Universidade Federal
Fluminense. Isto porque, o estágio e a supervisão são componentes fundamentais no
processo de formação dos Assistentes Sociais e momentos privilegiados da
concretização da relação teoria-prática (Rodrigues, 1997). Assim sendo, o estágio e a
supervisão se constituem atividades que, por definição, exigem organização, que por sua
vez, devem refletir a intencionalidade que, necessariamente deve ser inerente à atitude
profissional (Faleiros, 1981).
Logo, o critério para escolher esses entrevistados foi que eles tivessem feito a
supervisão de campo dos estagiários em Serviço Social do primeiro e segundo semestre
de 2014, conforme mencionado anteriormente. Tive também uma outra base de critério
para selecionar estes entrevistados, pois uma vez que 02 (dois), no universo destes 06
(seis) supervisores, eram também professores da Universidade Federal Fluminense
Campus Rio das Ostras, estes não foram considerados, pelo fato de que já poderiam ter
uma opinião formada sobre planejamento, até mesmo porque uma destas já atuava na
área do planejamento/administração.
Nessa linha, o presente trabalho pontua inicialmente os marcos em que
historicamente o planejamento é implementado, distinguindo o enfoque do mercado e
do Estado. Posteriormente, apresenta o contexto histórico em que Carlos Matus inicia
16

sua critica acerca das limitadas versões de planejamento usadas e sua proposta na busca
por um conceito mais amplo e pertinente a complexidade inerente à sociedade. Logo
depois contextualizamos o planejamento de governo no contexto brasileiro.
Contemplamos no título “Planejamento e o Serviço Social e a ruptura com o
tradicionalismo”, como o planejamento é apropriado pelo Serviço Social. Nessa
perspectiva, no capítulo I procuramos fundamentar nossa compreensão sobre o caráter
histórico do planejamento e seus antecedentes.
Sendo assim, no capítulo II, fazemos um apanhado de como o Serviço Social
incorpora o planejamento à intervenção profissional e a ruptura com o tradicionalismo
na profissão e sintetizamos características de como os profissionais de Serviço Social
que atuam na supervisão de estágio, utilizam o planejamento, pontuando com base no
que foi absorvido de sua falas (através da aplicação de entrevistas semi-estruturadas a
Assistentes Sociais que por meio de convênio junto a Universidade Federal Fluminense,
prestam supervisão de estágio para o curso de Serviço Social da UFF em rio das
Ostras), às convergências e divergências no que se refere ao planejamento estratégico.
Nas considerações finais apresentamos a reflexão acerca do que se foi discutido
e do que se foi interpretado junta a orientação, destacando aspectos relevantes dos
resultados encontrados em nossa pesquisa.
Partindo desse pressuposto, no presente trabalho nos propusemos verificar e
analisar como o planejamento se faz (ou não) presente, enquanto instrumental que
possibilita a intervenção e dá intencionalidade à ação profissional, em alguns espaços
sócio-ocupacionais que funcionam como campo de estágio e possuem supervisores de
estágio.
17

CAPÍTULO I
ANTECEDENTES DO PLANEJAMENTO NO BRASIL

Para melhor compreendermos como o planejamento surge no contexto brasileiro


e no Serviço Social, em particular, faz-se necessário realizar um breve apanhado sobre
sua trajetória histórica para classificar a perspectiva em que foi criado e implementado.
Segundo Lígia Giovanella, (1991) pesquisadora assistente do departamento de
administração e planejamento em saúde da Ensp/Fiocruz, as primeiras elaborações
teóricas sobre planejamento, apresentadas de forma sistematizada referem-se à
organização da produção industrial, coloca a previsão como um dos elementos da
administração. Previsão é entendida ai enquanto projeção, cálculo de futuro e a
programação que objetiva facilitar a utilização de recursos e a escolha dos melhores
meios a empregar para atingir o objetivo desejado de máxima eficiência, máximo lucro.
Posicionamento fortemente marcado pelo liberalismo da ideologia dominante, neste
período.
Nesse contexto, a própria revolução soviética resulta de um processo onde o
cálculo e a previsão estão presentes. O planejamento é apresentado (agora com a
especificidade de planejamento social) como a alternativa para construção de um futuro
diferente. O planejamento, neste cenário vem dar racionalidade às transformações
almejadas para toda sociedade.
Deste modo, a primeira proposta de planejamento social surge na forma de um
plano setorial na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas quando, em 1918, é
declarado o primeiro Plano Nacional de Eletrificação. Porém, somente após uma década
de governo socialista é elaborado o primeiro plano global: 1º Plano Quinquenal (1928 a
1932). Na sociedade socialista, com a instituição da propriedade social dos meios de
produção, o plano vem para substituir o mercado como instrumento de alocação de
recursos e distribuição de produtos e estabelecer justas proporções entre produção e
consumo, oferta e demanda e entre os vários ramos da economia, com o propósito de
satisfazer as necessidades de todos os membros dessas sociedades (GIORDANI, 1974
apud GIOVANELLA, 1991).
18

Nas sociedades marcadas pelo capitalismo liberal ou concorrencial, predominava


a doutrina de Adam Smith (1723 – 1790), segundo a qual o mercado deve ser regido
pela livre concorrência, baseada na lei da oferta e da procura: quando a oferta é maior
que a procura, os preços abaixam. Era o momento chamado laissez faire. Somente após
a crise mundial de 1929, o mercado auto-ajustável, que equilibraria oferta e demanda,
simplesmente não funcionou, deflagrando uma crise responsável pelo desemprego de
milhões de pessoas, e pelo alastramento da miséria e da criminalidade, que se espalhou
dos Estados Unidos para o mundo todo.
Diante da comprovação da falibilidade do mercado enquanto mecanismo
regulador, o planejamento econômico e social começa a ser considerado. É o período
em que John M. Keynes, economista inglês, propõe uma maior intervenção do Estado
na economia, com o intuito de diminuir a importância e frequência das crises. E, para
tal, seria preciso dotar o Estado de instrumentos efetivos de política econômica que lhe
permitam regular a taxa de juros, aumentar o consumo e expandir a inversão, visando o
pleno emprego. O desenvolvimento Keynesiano propõe maior dirigismo e
racionalidade: propõe planejamento estatal (GIOVANELLA, 1991).
Suas formulações são assumidas na Europa principalmente após o final da
Segunda Guerra Mundial. Os primeiros planos são feitos em 1948, pelas nações
européias participantes do Programa de Recuperação Européia ou “Plano Marshall”.
Nessa ocasião, foram elaborados planos integrais para quatro anos, com o intuito de
ordenar a produção e resolver a situação econômica era também a forma mais eficaz de
contrapor-se ao avanço do mundo socialista emergente e presente no continente europeu
após a partilha da segunda guerra (GIORDANI, 1974 apud GIOVANELLA, 1991).
O estado desenvolvimentista teve lugar na América Latina a partir da década de
1930 principalmente em decorrência da crise iniciada em 1929, a qual teria aberto a
possibilidade de romper com o modelo agroexportador, até então dominante em vários
países do continente e colaborado para incrementar uma nova fase cujo foco é a
industrialização.
Diante disso, segundo Giovanella (1991) o planejamento é introduzido a partir
da década de 40, por influência da ONU e de um pensamento próprio que entende ser
necessário superar as diferenças econômicas com os países capitalistas centrais.
Permeado pelo ideário desenvolvimentista o planejamento é compreendido
como um instrumental que possibilita avançar rumo a grandes realizações, isso mediado
19

pela industrialização e a racionalidade do cálculo econômico. Esta conotação dada ao


planejamento será difundida principalmente através da comissão econômica para a
América Latina (CEPAL) organismo internacional ligado a ONU.
A Revolução Cubana, que foi um movimento popular que derrubou a ditadura de
Fulgêncio Batista em janeiro de 1959. Antes da revolução, Cuba vivia sob influência
dos EUA. A Revolução Cubana representou um momento de grande importância para o
povo cubano, onde se despertou a consciência nacional e passaram a desprezar o
imperialismo norte americano e o governo autoritário de Fulgêncio Batista. O
movimento revolucionário foi tomando grandes proporções até a efetiva retirada do
ditador Batista do poder.
Nessa perspectiva o planejamento implementado na América Latina esteve
voltado para a economia, contudo, gradativamente, vai sendo apropriado pelos setores
sociais. Em 1961 os EUA, através da Organização dos Estados Americanos – OEA,
promovem uma reunião de Ministros do Interior dos países das Américas, em Punta Del
Este, no Uruguai, onde é lançado o “Programa Aliança para o Progresso”. Este
programa é parte da política norte-americana do período Kennedy que colocava ênfase
nos obstáculos internos ao desenvolvimento (CARDOSO, 1980, apud GIOVANELLA,
1991).
Esta aliança surge sobre o discurso do desenvolvimento, mas com explícita
intenção de que, por meio do controle social, estariam se prevenindo acerca do avanço
do socialismo. Ou seja, abarcando as questões sociais neste planejamento que
promoveria o desenvolvimento, estariam reduzindo as brechas (miséria, desemprego,
fome, etc) para disseminação do pensamento socialista.

1.1. O PLANEJAMENTO DE GOVERNO NO CONTEXTO BRASILEIRO

Do final dos anos cinquenta à queda do governo João Goulart, ao menos três
programas mais ambiciosos de estabilização monetária foram tentados pelos governos
do período, todos sem êxito. Porém, ao analisar estas iniciativas, segundo Ricardo Silva
(2000), podemos fazer uma profunda inflexão em relação à estratégia da política
econômica adotada durante aos anos de auge do desenvolvimento, no qual, um novo
consenso ideológico estava se formando. A estabilidade monetária se unia ao discurso
20

de que por meio do desenvolvimento industrial, seriam superadas todas as mazelas


sociais.
Esse slogan foi muito presente, principalmente nos Governos de Vargas e de
Kubitschek. Por mais que o Brasil nesse momento tenha avançado, no que se refere à
produção industrial, em relação ao social e à economia não seguia a mesma trajetória,
uma vez que se intensificam as desigualdades sociais, o processo inflacionário e a
dívida externa. Problemas em parte decorrentes da própria estratégia desenvolvimentista
de Kubitschek.
Os movimentos sociais de esquerda se organizam reivindicando reformas de
base, com caráter distributivista, enquanto à direita crescia o apelo à recomposição da
ordem econômica (fim da inflação) e da ordem política (contenção das mobilizações
sociais). No que se refere à evolução da política econômica, o que se observa é a
crescente aceitação, pelos governantes e tecnocratas, da idéia de que o combate à
inflação deveria ser prioritário e precedente a qualquer outro objetivo político-
econômico. Isso fica evidente não somente nos experimentos do PEM (Plano de
Estabilização Monetária) do Governo Kubitschek e da Reforma Cambial do Governo
Quadros, mas também, embora de modo menos evidente, no Plano Trienal do Governo
Goulart (SILVA, 2000).
Esta primazia dada aos aspectos econômicos, em detrimento do social
permanece mesmo durante o desenvolvimento do Plano Trienal, do governo de João
Goulart. Isso merece destaque pelo fato de estar sob comando de Celso Furtado,
principal expressão do pensamento reformista da Cepal (Comissão Econômica para a
América Latina). Ou seja, como é comum acontecer, as elites estatais pediam ao povo o
sacrifício do presente para o suposto regozijo do futuro. Mas esse era um argumento
político pouco convincente do quadro da crise. O Plano Trienal não obteve o apoio dos
trabalhadores e o Governo Goulart não conquistou a confiança das classes dominantes,
que esperavam a contenção da inflação e o controle governamental das greves e das
mobilizações sociais. A frustação da tentativa de conciliação de classes, presente neste
plano, agravou o isolamento do Governo Goulart e, de alguma maneira, contribuiu para
o trágico desfecho da crise em março de 1964.

A crise política e econômica que caracterizou os Governos de Jânio Quadros


e João Goulart (1961 – 64) apresentava três facetas particularmente
importantes. Em primeiro lugar, ela exprimia o agravamento dos
21

antagonismos entre diferentes estratégias ou opções políticas de


desenvolvimento. Em segundo lugar, ela exprimia o aprofundamento dos
antagonismos entre os poderes da República, em especial o Executivo e o
Legislativo. E, em terceiro lugar, à medida que se estendia e aprofundava a
crise político-econômica, politizavam-se ainda mais as urbanas e rurais,
acentuando-se as condições entre as classes sociais (IANNI, 1971, p.217
apud GONÇALVES, 2005).

Podemos definir a Ditadura Militar como sendo o período da política brasileira


em que os militares governaram o Brasil. Esta época vai de 1964 a 1985. Caracterizou-
se pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição
política e repressão aos que eram contra o regime militar.
A partir da instalação do regime militar em 1964, observa-se o fortalecimento do
Poder Executivo, a interferência crescente do poder público em praticamente todos os
setores do sistema econômico nacional e a expansão da tecnoestrutura estatal,
consubstanciada na grande elaboração de planos, programas, criação de órgãos públicos
e de fundos de financiamento. Sem a intenção de um maior aprofundamento na análise
dos serviços, programas, órgãos públicos, planos e demais políticas urbanas do período
militar, é importante destacar, resumidamente que, durante este período, a atividade de
planejamento teve um grande desenvolvimento no Brasil.

[...] à medida que cresceu a importância do Estado, para o conjunto do


sistema econômico, cresceram também as exigências relacionadas com a
coleta de informações, a sistematização de dados, a análise de problemas, a
formulação de previsões, a tomada de decisões, o controle da execução, e a
avaliação dos resultados particulares e gerais dos planos, programas e
projetos. Isto é, à medida que crescia a importância relativa e absoluta da
participação do Estado na economia, havia uma contínua incorporação de
conselheiros, assessores, técnicos, engenheiros, estatísticos, economistas nos
órgãos de formulação, execução e controle da política econômica
governamental. Pouco a pouco, formou-se uma dependência muito especial
do Poder Executivo, com os característicos de uma nova estrutura burocrática
(...) as pessoas que compunham essa tecnoestrutura estatal passaram a
representar uma dimensão nova e importante do Poder Executivo. Assim, a
hipertrofia crescente do Executivo (em detrimento do Legislativo) caminha
de par em par com a crescente importância do grupo que compõe essa nova
estrutura burocrática (IANNI, 1977, p.311-312 apud GONÇALVES, 2005).

São desse período as seguintes iniciativas de planejamento: o Poder de Ação


Econômica do Governo (PAEG) (1964-1966), o Plano Estratégico de desenvolvimento
(PED) (1968-1970), que foi complementado por planos setoriais e regionais dirigidos
nitidamente ao Nordeste e à Amazônia (Cadernos nae, 2004). Mas, na opinião de
Moraes (Moraes, 1994 apud BONFIM, 2006) a iniciativa mais completa de
22

planejamento viria com o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que conheceu


duas versões implementadas (1972-1974 e 1975-1979) e uma terceira (1980-1985)
nunca posta em prática.

Uma quantidade inédita de Planos Diretores foi elaborada no período [de


1964 até os anos 1980]. Escritórios técnicos de consultoria e planejamento se
multiplicam.
Álibi ou convicção positivista, o planejamento foi tomado como solução para
o ‘caos urbano’ e o ‘crescimento descontrolado’. Essas idéias dissimulavam
os conflitos e os reais motores desse plano que foi elaborado por especialistas
pouco engajados na realidade sociocultural local. A população não foi ouvida
e, frequentemente, nem mesmo os técnicos municipais (MARICATO, 2000,
p.139 apud GONÇALVES, 2005).

Segundo MATUS (1997a, p.312)

Como toda técnica, é simplesmente uma ajuda para sistematizar o


conhecimento de uma realidade. Essa ajuda é, por vezes, desnecessária para
pessoas experientes e com mente bem organizada. Mas se o planejamento
deve sustentar-se numa análise dos problemas que afetam a população, são
necessários métodos simples para que todos compreendam a gestação e o
desenvolvimento dos problemas. Naturalmente, os métodos de explicação
situacional devem ser praticados com assessoria técnica de pessoas com
experiência nos problemas. As pessoas que conhecem a técnica de explicação
situacional, mas não conhecem os problemas não podem obter resultados
úteis (MATUS, 1997a, p.312 apud GONÇALVES, 2005).

É importante destacar, porém, que se há uma intensa atividade na elaboração de


planos, isto não significa que sua efetivação estivesse garantida. Isto porque o modelo
de planificação adotado, nem sempre tinha na realidade para a qual se destinava, a sua
fundamentação. De fato, em consonância com o autoritarismo vigente, o planejamento
amplamente adotado como instrumento de operacionalização da máquina pública, tinha
por característica central, no dizer de Carlos Matus ser uma “camisa de força” que
tentava adequar a realidade às decisões que, por estarem envolvidas no discurso da
racionalidade técnica, não eram passíveis de questionamentos. O período militar-
autoritário, vivenciado por vários países da América Latina, e também no Brasil,
representa o auge do chamado “planejamento normativo”, ou “planejamento
tradicional”.
O Planejamento normativo ou planejamento econômico normativo tem como
característica ser um tipo de planejamento que se limita ao âmbito econômico,
desconsiderado sua viabilidade política ou a ausência dela (MATUS, 1996). É um
23

planejamento de caráter “prescritivo”, ou seja, aponta um “dever ser”, sem levar em


conta o movimento da realidade. É um planejamento que se coloca “técnico” e “neutro”.
Cabe ressaltar que o Planejamento Normativo foi o modelo amplamente utilizado pelos
governos militares no Brasil no período pós-64. Os Assistentes Sociais que se
identificavam com as diretivas institucionais que Netto (1993) denomina “modernização
conservadora” eram adeptos desse tipo de planejamento.
Poderíamos dizer que o Planejamento Normativo fica limitado à “aparência
imediata dos fatos”, desconsiderando sua essência (realidade concreta). Isso por
supervalorizar o aspecto técnico e o cálculo econômico, desconsidera os possíveis
adversários, por ser calcado em “certezas”, por ser um planejamento de “médio prazo”,
por não fazer a relação “história-plano” e, por isso, é um planejamento inconsistente,
por ser meramente discursivo e não “opcional”, por ser considerado uma ferramenta
meramente administrativa, por ser oficialista, uma vez que é feito a partir de governos e
para governos, ignorando outras forças sociais (ou, no caso de uma ação profissional,
feito a partir da instituição e para a instituição, desconsiderando outras forças
institucionais), por se tratar de um planejamento dissimulado, pois os formalismos
técnicos são utilizados para ocultar as verdadeiras causas dos problemas e por não
possuir flexibilidade, pois atua em tempos rígidos, desconsiderando os “diferentes
tempos” dos atores sociais envolvidos (Matus, 1993).
O modelo normativo, muitas vezes identificado como sinônimo de
planejamento, provocou - e ainda provoca – equívocos, ao reduzir o planejamento a
procedimentos. Contudo, rompendo com esse estigma reducionista, que, tendo como
referência apenas o planejamento normativo, desqualifica o planejamento em si, Carlos
Matus, resgata o planejamento como ferramenta útil, flexível e eficaz para lidar com as
necessidades da direção em cada lugar da administração pública.
Matus destaca, entretanto, que o plano não pode ser constituído de uma simples
agregação de problemas, que nesse sentido, devem se inter-relacionar. Com esse intuito
é recomendada a construção de um “fluxograma situacional global, que conheça a
unidade da realidade como um grande problema” (MATUS, 1997a, p.324 apud
GONÇALVES, 2005).
Após o momento em que são detectados os problemas surge, na concepção de
Matus, o momento normativo que determinaria o desenho do conteúdo propositivo do
24

plano, ou seja, é o momento de por no papel o que se pretende com o plano. O desenho
do plano abrange diversos níveis de generalidade e especificidade.
Começa com o programa (linhas e critérios), continua com o programa
direcional (precisão global em nível de projetos de ação), prossegue com a
desagregação do plano na matriz geral problemas-operacionais, passa à subdivisão do
plano em sub-planos (os módulos OP), para em seguida desagregar as operações em
ações e as ações em sub-ações.
Essas partições derivam da necessidade de descentralizar para que o
planejamento seja criativo e democrático, embora se deva ao mesmo tempo respeitar
certos critérios de coerência global, indispensável para a eficácia da condução
(MATUS, 1997a, p.336 apud GONÇALVES, 2005).
A ordem lógica e formal não deve ser, necessariamente, seguida, mas é
importante que se busque, na visão de Matus, um equilíbrio entre os critérios de
coerência global e a criatividade descentralizada.
Ressalta-se que o programa, além de buscar o enfrentamento de alguns
problemas, também representa uma convocação à ação. “Em nível político, pode ter a
forma de um programa eleitoral; no nível de um dirigente, ou pode ser uma proposta de
desenvolvimento da empresa; para um dirigente sindical, a sua plataforma de luta por
novas conquistas para os trabalhadores” (MATUS, 1997a, p.337 apud GONÇALVES,
2005).
A análise da viabilidade do programa direcional do plano passa, a ser a
preocupação central do momento estratégico. Deve-se considerar tanto a viabilidade
política, quanto econômica, a tecnológica e a industrial-organizacional. O momento
estratégico concentra-se, dessa forma, na análise de viabilidade que aponta para a
dialética entre o necessário, o possível e a criação de possibilidades.
Após analisar e conhecer e realidade, desenhar o futuro e definir as
possibilidades de realização do plano, o planejamento deve-se converter em ação
concreta. A mediação entre o conhecimento e a ação representa a tarefa do momento
tático-operacional. Ressalta-se que “a ação é sempre o produto final de um cálculo, mas
não necessariamente o produto final do plano formalizado. Tal divergência deve ser
resolvida pelo momento tático-operacional” (MATUS, 1997a, p.485 apud
GONÇALVES, 2005).
25

De forma sintética, para Matus o planejamento confunde-se com o cálculo


totalizante do processo de governo na ação concreta e essa ação deve buscar a
solução para as seguintes questões:
O primeiro problema consiste em conhecer a realidade a partir de várias
perspectivas situacionais (...).
O segundo problema tem caráter normativo e refere-se ao desenho da
direcionalidade para responder às perguntas: para onde eu quero ir? O que
devo fazer para isso? Qual a situação-objetivo que desejo?
O terceiro problema é de viabilidade, para enfrentar os desafios representados
pelas restrições da realidade e pelos obstáculos colocados pelo outro, que se
opõe ao meu plano.
O quarto problema é de operacionalidade, e refere-se à pergunta: o que devo
e posso fazer hoje, e todos os dias quando forem hoje, para que eu avance em
direção à minha situação-objetivo? (MATUS, 1996a, p.562).

1.2 PLANEJAMENTO E GOVERNO NO PENSAMENTO DE CARLOS MATUS

Carlos Matus Romo nasceu no Chile, em 1931. Formou-se, em 1955, na Escola


de Economia da Universidade do Chile, tendo-se pós-graduado, em 1956, na
Universidade de Harvarde, em Santiago do Chile, na CEPAL (Comissão Econômica
para a América Latina). Atuou como assessor do Ministro da fazenda, de 1957 a 1959 e
como Ministro da Economia (1971 – 1972) do Governo do Presidente Allende. Entre
1965 e 1970, como diretor da divisão de serviços de assessoria do Instituto Latino
Americano de Planejamento Econômico e Social (ILPES), organismo autônomo criado
sob a égide da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), em Santiago do
Chile, dirigiu missões na América Central, Brasil (Minas Gerais), República
Dominicana, Equador, Bolívia, Peru, Colômbia, entre outros países. Em 1969, Matus
publica o livro “Estrategia y Plan” no qual já elaborava suas primeiras críticas ao
planejamento tradicional (normativo).

Pode-se acusar o Planejamento normativo de insinceridade, porque ele oculta


a ambiguidade inconsistente de sua resposta à pergunta: caso se faça tudo o
que está anunciado no plano-livro, os objetivos serão alcançados? Mais
ainda, a causa principal do não-cumprimento dos objetivos não está no não-
cumprimento dos planos, mas no fato de que eles não conduzem aos
objetivos que declaram (MATUS, 1997a, p. 563 apud GONÇALVES, 2005).

Segundo MATUS (1997a, p.202)

A práxis a partir da qual foi inicialmente teorizado este enfoque


metodológico foi a tentativa de transformação social no período de Allende
no Chile; produziu-se então um tríplice divórcio entre o planejamento
26

econômico normativo (que ficou relegado a meras fórmulas), a condução


econômica (que impôs autonomia em relação ao planejamento formal) e a
condução política (que não considerou nem o planejamento formal nem as
consequências da condução econômica). Foi esta experiência rica e frustrada
que inspirou o livro Planejamento de Situações, enquanto enfoque de
planejamento que pretende integrar estes três aspectos (MATUS, 1997a,
p.202 apud GONÇALVES, 2005).

Ainda, segundo MATUS (1997a, p.59)

O condutor dirige um processo para alcançar objetivos que escolhe e altera


segundo as circunstâncias (seu projeto), superando os obstáculos de maneira
não-passiva, mas ativamente resistente (governabilidade do sistema). E, para
vencer essa resistência com sua força limitada, o condutor deve demonstrar
capacidade de governo. Governar, então, exige a constante articulação de três
variáveis: a) projeto de governo; b) capacidade de governo; c)
governabilidade do sistema (MATUS, 1997a, p.59 apud GONÇALVES,
2005).

Estas críticas advinham de sua própria experiência de governo e da análise do


emprego do planejamento normativo nos regimes autoritários da América Latina na
década de 1970. Matus tematiza, então uma concepção de planejamento no qual a
tomada de decisões é responsabilidade de quem governa, de quem conduz. Segundo ele,
planeja quem governa, logo planeja quem tem a capacidade de decidir, de conduzir e
não apenas um corpo limitado de técnicos pretensamente neutros sem qualquer
compromisso com a eficácia e efetividade do que foi planejado.
Nessa perspectiva, a efetividade do planejamento está condicionada à
capacidade de resposta que oferece às demandas da realidade. Assim, o planejamento
estratégico é compreendido como uma forma de organização para a ação, e esta seria
sua diferença fundamental em relação ao planejamento tradicional.
Com ele é introduzida a noção de que o planejamento está voltado para o
presente, já que a única forma de construir o futuro é agir, e só é possível agir no
presente. Toda ação concreta se faz no presente, para impactar o futuro desejado.
Assim, a decisão sobre o que fazer hoje será eficaz ou não para a construção do futuro
desejado. Matus aponta como produto último do plano, o cálculo que precede e preside
a ação hoje.
[...] o planejamento estratégico implica no processo de análise do ambiente e
do sistema organizacional, na elaboração de filosofias e políticas, na escolha
de objetivos e no desenvolvimento de estratégias e na sua implementação e
controle. (TAVARES, 1991, p. 69 apud FRITSCH, 1996).
27

Segundo FISCHMANN e ALMEIDA (1990, p.25)

[...] é uma técnica administrativa que, através da análise do ambiente de uma


organização, cria a consciência de suas oportunidades e ameaças, dos seus
pontos fortes e fracos, para o cumprimento de sua missão e, através desta
consciência, estabelece o propósito de direção que a organização deverá
seguir para aproveitar as oportunidades e evitar risco. (FISCHMANN e
ALMEIDA, 1990, p.25 apud FRITSCH, 1996).

O planejamento estratégico aponta o fracasso do planejamento enquanto “livro-


plano”, ou seja, enquanto documento normativo, enquanto um futuro que “deve ser”.
Como a realidade muda constantemente, é preciso que o planejamento seja a mediação
entre o conhecimento e a ação, sendo assim continuamente construído. Dessa forma, o
planejamento, deve, necessariamente, incorporar a perspectiva política como forma de
lidar com as resistências de outras forças presentes na realidade. Torna-se
imprescindível considerar, além dos recursos econômicos, os recursos de poder
existentes para criar viabilidade ao processo de mudança.
Também com base em sua experiência, Matus observou que a capacidade de
governo encontrava-se em crise, em contraste com o avanço das ciências naturais e com
o crescimento, em complexidade e intensidade, dos problemas sociais. A prática
cotidiana estava marcada pela baixa qualidade governamental, pelo estilo primário
(dissonante da realidade) de fazer política, pela pobreza teórica da cooperação técnica
internacional e pela carência de respostas das universidades aos problemas de governo.
Acreditando que essas deficiências têm origem na separação entre política e
ciência, ou seja, entre prática e teoria. Matus considera que a condução da política é
uma arte, mas há espaço para as ciências, quando se aprende a teorizar sobre a prática.
Por muitas vezes, a improvisação, o imediatismo e a incapacidade para processar
“técnica e politicamente” os problemas sociais aparecem como resultado da ausência de
embasamento científico nas esferas político-administrativas. Porém, Matus é um crítico
vigoroso de uma concepção de teoria (e de ciência) isolada em compartimentos verticais
que criam barreiras entre o técnico e o político. Os problemas práticos, contudo, se
diferem dos problemas das ciências. Os problemas apresentados ao dirigente que exerce
uma função pública não são reconhecidos pelas ciências e traspõem as fronteiras da
formação tradicional especializada por faculdades (MATUS, 2000).
A teoria do planejamento situacional é a teoria de um jogo, não no sentido
matemático da teoria dos jogos, mas no sentido de Kriegspiel (jogo de
28

guerra), como assinala corretamente o professor Noel Mc Ginn da


Universidade de Harvard. (...) o problema do plano consiste em que cada
força deve vencer a resistência ativa e criativa do oponente para poder
alcançar sua situação-objetivo. Consequentemente, cada jogador deve
desenhar uma estratégia e uma tática para construir a viabilidade de seu arco
direcional. (...) se o processo avança na direção desejada pela força A, ele se
afasta da situação-objetivo da força B. Por isso, o que é construção de
viabilidade para uma força é destruição de viabilidade para seu oponente
(MATUS, 1997a, p.171-172 apud Gonçalves, 2005).

A partir dessas colocações, Carlos Matus entende ser necessária uma visão
“transdepartamental” e propõe a construção de uma ciência social horizontal com o
intuito de reconstruir uma “teoria do governo” capaz de fundamentar os “métodos de
governo”. Assim, de acordo com sua proposta, torna-se importante uma “teoria prática”,
e essa teoria deve ser entendida como uma “ciência horizontal”. É sobre a base da teoria
da produção no jogo social, que sustenta o Planejamento Estratégico Situacional,
propondo construir as ciências e técnicas de governo. Segundo Matus (2000), a “prática
social horizontal”, exercida no âmbito público, atravessa os departamentos das ciências
tradicionais, produzindo problemas comuns, gerando relações entre esses departamentos
e, consequentemente, produzindo um intercâmbio de problemas entre eles, ou seja, a
ação pública acaba por gerar efeitos positivos ou negativos em relação às metas
anunciadas.
O padrão explicativo da teoria social tradicional, seguindo as ciências naturais,
baseia-se em uma observação objetiva da realidade “a partir de fora”. Essa explicação
assume uma relação fria entre o sujeito observador e o objeto observado,
desconhecendo a complexidade da interação humana. Já a ação prática é realizada no
jogo social “a partir de dentro”, através da intervenção entre jogadores e jogadas. O
planejamento, enquanto instrumento para a organização da ação deve, necessariamente,
estar referenciado na dinâmica do contexto social e político onde se realiza,
considerando todos os sujeitos presentes.
Matus não lida com categorias do pensamento marxiano e, em suas análises não
estão presentes distinções entre realidade imediata e realidade concreta, ou sobre a
necessidade de superação da aparência imediata como condição para conhecer a
essência dos fenômenos. Porém, sua concepção de conhecimento da realidade não pode
partir da perspectiva do cientista clássico, baseada em uma concepção verticalizada de
conhecimento, perspectiva esta que possui como características principais: o
determinismo, a desconsideração das subjetividades, a compartimentalização vertical
29

das ciências, a explicação única da realidade através de diagnóstico, a consideração da


sociedade com um objeto sem atores ou como um sistema manipulável. Para os
deterministas, o homem não tem a liberdade de criar o seu futuro.

E, no mundo das ideologias, enquanto os filósofos, os pensadores sociais


evoluem no plano das idéias, a realidade vivida cada dia exige uma resposta
pronta, capaz de adequar movimentos e situações às mudanças concretas no
quadro existencial. Então, as teorias resultantes dos conhecimentos
científicos, e mesmo as resultantes das ciências sociais (e também morais,
por que não), dependem de uma tecnologia que as torne práticas no
quotidiano (BARROS, 1987, p.6 apud FRITSCH, 1996).

Matus (2000) entende que a rigidez dessas idéias é contra a complexidade da


práxis social. Em contraponto, propõe a perspectiva do ator que protagoniza o jogo
social, baseada na práxis horizontal, ou seja, propõe uma teoria da ação social.
Entendendo o jogo social como arena onde ocorre a prática política e se exercita o
governo, constara-se que ele se apresenta como um meio conflitivo, competitivo e/ou
cooperativo.
A perspectiva proposta pretende enfatizar a relação entre sujeitos e os problemas
da interação. Segundo Carlos Matus (2000), o pensamento científico avançado
contemporâneo reconhece que os processos, em geral, seguem um padrão não
determinístico. A partir dessa consideração, critica a teoria econômica, referência
central nos modelos normativos de planejamento que, para ele, está aparentemente
fundada como uma ciência social, mas que não apresenta a complexidade do jogo
social, tratando de sistemas fechados, através do paradigma determinista. Assim, o
aspecto econômico é importante na prática social, mas não é tudo.
Nesse sentido, Matus sustenta que a teoria econômica se baseia nos seguintes
supostos: é uma ciência vertical que impõe suas fronteiras, excluindo outras dimensões,
como a dimensão política; segue leis e desconsidera criatividade; sua potência depende
de sua capacidade de predição do futuro; estabelece relações do homem com as coisas e
não se refere às relações entre os homens, não explorando o mundo interno humano; seu
método de investigação é similar aos métodos das ciências da natureza, não
considerando as diferenças entre ciências naturais e sociais (MATUS, 2000).
Uma das críticas de Matus à teoria econômica recai sobre as muitas soluções
inadequadas e custosas dadas aos problemas reais, fato que ele relaciona, sobretudo, à
desconsideração e à falta de análise do intercâmbio de problemas com os outros
30

departamentos das ciências, especialmente as relações com o jogo político, e a


despreocupação com a teoria da ação humana e suas complexidades.
A complexidade da teoria social deve-se, em grande parte, à sua relação com os
processos criativos e à consideração do mundo interno do homem. Se, de acordo com o
positivismo lógico, um enunciado só é racional ou científico quando verificável na
observação empírica, contraditoriamente, os juízos de valor que estão por trás da
conduta humana, como conexões de sentido, não podem ser ignorados e declarados
insignificantes para as ciências.
Ainda que atuantes em um mesmo jogo social, os atores vivem realidades
diferentes. Um problema para um pode ser um bom negócio para o outro. As diferenças
e desigualdades são inerentes ao jogo social, principalmente ao se considerar as relações
de conflito e cooperação entre os jogadores, Cada um está marcado por sua experiência,
formação intelectual e intuitiva, pelo seu trabalho, seu status social, seus hábitos.

Quem acredita em participação, estabelece uma disputa com o poder. Trata-


se de reduzir e não de manter a quimera de um mundo naturalmente
participativo. Assim, para realizar participação, numa construção arduamente
levantada, centímetro por centímetro, para que não se recue nenhum
centímetro. (DEMO, 1993b, p.20 apud FRISTSCH, 1996).

Bordenave (1992, p.22 apud FRISTSCH, 1996) diz que participar é fazer parte,
tomar parte ou ter parte. Na definição do autor, a participação é, ao mesmo tempo,
instrumento para a solução de problemas e necessidades fundamentais do ser humano.
Como necessidade humana só pode ser concebida se o homem conjugar o fazer, o tomar
e ter parte nas realidades individuais e coletivas.
Em outras palavras, Demo (1993b apud FRITSCH, 1996) aponta como
característica da participação à condição de ser meio e fim, portanto é instrumento de
autopromoção, mas é igualmente a própria autopromoção.
Diante dessas premissas, o mundo não deve ser ajustado a uma explicação
teórica simples. A complexidade da realidade deve ser respeitada. Com essa intenção,
Matus (2000) afirma buscar um conceito mais amplo que abra espaço para os processos
criativos, negando a concepção das ciências determinísticas.
Portanto faço um apanhado em todos os capítulos, onde trazemos a importância
do planejamento como instrumental essencial na prática profissional, pois pensar
diferente nos remete ao Planejamento de Carlos Matus, que confronta a lógica
31

conservadora. Não tem como se desenvolver uma prática profissional, sobretudo no


Serviço Social, demandado pelas mais diversas e complexas questões sociais, sem
implementar o planejamento.
Pelo capítulo I, pode-se concluir que a lógica do planejamento social é a práxis
social, é determinante das relações sociais, fato que engloba aspectos políticos e
econômicos, dentro dessa realidade o planejamento torna-se indispensável para que se
chegue a um resultado. Diferente da lógica de planejamento do mercado, onde, cada vez
mais se preocupa com a produção, comercialização, consumo e lucro e deixando de lado
o ser social.
32

CAPÍTULO II
O PLANEJAMENTO E SERVIÇO SOCIAL

Na segunda metade da década de 1950, o ideário desenvolvimentista chega com


força a América Latina trazendo o discurso modernizador e o desenvolvimento como
estratégia fundamental para impedir que o continente torne-se terreno fértil para as
ideologias socialistas. Um povo “desenvolvido” estaria menos susceptível a participar
de movimentos reivindicatórios e lutas sociais.
Dentro do ideário desenvolvimentista, o planejamento econômico de governo
assume papel preponderante, incorporando-se aos discursos e às práticas de diversos
agentes governamentais, como símbolo da racionalidade técnica, da eficiência e da
eficácia da ação estatal.
O Serviço Social face à política desenvolvimentista e ao apelo à participação das
massas trabalhadoras, herança da política de massas do getulismo, se contrapõe à
tendência conservadora hegemônica da profissão, tendência esta que é respaldada pela
posição da igreja naquele momento. Numa sociedade burguesa, é sempre difícil
legitimar a participação política das massas trabalhadoras, e os setores mais
conservadores da sociedade brasileira sempre combateram com violência o populismo,
por verem nele o prenuncio da destruição do poder burguês.
Diante dessa realidade o Serviço Social, inicialmente, segundo Iamamoto (1983,
p. 343) se mostra relativamente alheio, à temática desenvolvimentista. O que não o
impediu de beneficiar-se da expansão econômica; das novas pressões pela ampliação de
seu consumo desencadeado pelas classes subordinadas; de desenvolver-se enquanto
instituição, absorver e aprofundar novas experiências e institucionalizar-se enquanto
profissão.
O Serviço Social aos poucos logra maior sistematização técnica e teórica de suas
funções, alcançando definir áreas preferenciais de atuação técnica. Aprofunda-se, no
plano do ensino, a influência norte-americana, voltando-se ao Serviço Social de Grupo,
que há tempo vinha sendo utilizado de forma tradicional (recreação e educação), na
década de 1950 começa a fazer parte dos programas nacionais do SESI, LBA, SESC,
em hospitais, favelas etc.; iniciando-se uma nova abordagem, que se generaliza na
33

década de 1960, que relaciona estudos psicossociais do participante com os problemas


da estrutura social e utilização da dinâmica de grupo.
As iniciativas vinculadas ao Desenvolvimento de Comunidade apresentam nesse
período franco desenvolvimento, com o surgimento de uma série de organismos e a
realização de importantes Seminários. Esses organismos desenvolverão programas que
buscam sua inspiração na experiência norte-americana. Estarão essencialmente,
baseados em técnicas de Desenvolvimento de Comunidade e perseguem a modernização
da agricultura brasileira, tendo por estratégia a Educação de Adultos.
Três (03) Seminários realizados nesse período desempenham papel
extremamente importante para que o Desenvolvimento de Comunidade se solidifique
enquanto nova opção de política social para atuar nos meios sociais marginalizadas pelo
desenvolvimento econômico e, portanto, como nova disciplina.
Realiza-se em 1961, tendo também o caráter de ato preparatório de um encontro
internacional, no caso, a XI Conferência Internacional de Serviço Social, marcada para
a cidade de Petrópolis (RJ), em 1962. Com um intervalo de quatorze (14) anos em
relação ao último Congresso, este segundo encontro abrange do meio profissional dos
Assistentes Sociais irá ocorrer numa conjuntura bastante modificada. Após mais de uma
década de desenvolvimentismo sustentado em estratégias políticas populistas, a vitória
do “janismo” representa a possibilidade de um novo começo (MATUS, 1993).
A preocupação central do que poderia ser caracterizado como projeto
desenvolvimentista janista estaria na formação de uma nação forte e uma economia
globalmente forte. Desse eixo central decorre uma atenção especial ao social; a meta
prioritária é o homem e não o crescimento econômico em si mesmo.
A ênfase no social não é, assim, um alvo demagógico no projeto janista. Dá
grande importância à saúde, propondo, além da perspectiva de uma melhora no nível de
vida, campanhas e enriquecimento do sistema alimentar, contra a desnutrição infantil e
contra as insalubridades. E seu projeto educacional situa-se outro ponto de destaque: a
educação não é vista apenas a partir do prisma economicista de aumento da
produtividade. E sim numa perspectiva de reestruturação da sociedade, de “redenção do
país pela educação”, a visão da educação como um dos esteios do projeto de
desenvolvimento para integração nacional. O projeto janista propõe, enfim, em
desenvolvimento harmônico e humano. Percebendo a causa da crise na crise moral e
34

político-social, propõe soluções moralizantes, justiça social solidariedade. Preocupando


com a racionalidade, exige um planejamento democrático e a integração nacional.
A vitória do “janismo” representa, assim, a colocação na ordem do dia de uma
nova estratégia desenvolvimentista, que, mantendo, os grandes eixos do crescimento
econômico, passaria a centrar-se no homem, no pleno florescimento de suas
capacidades, tudo dentro da ordem e do respeito à dignidade da pessoa humana.
Diante dessa realidade, o Serviço Social deve urgentemente re-situar-se.
Readaptar-se, procurando sintonizar seu discurso e métodos com as preocupações das
classes dominantes e do Estado em relação à questão social e sua evolução. A
organização do II Congresso Brasileiro de Serviço Social aparece como um exemplo
bastante claro de uma estratégia de atualização em relação à ideias que agitam os setores
dominantes e às demandas objetivas que fazem à instituição Serviço Social.
De acordo com o momento, o tema central do Congresso será:
“Desenvolvimento Nacional para o Bem-estar Social”, sendo os trabalhos organizados,
segundo as modernas técnicas, em torno desse tema e sua particularização para o
Serviço Social.
Representa também um desafio. O governo solicita da instituição o cumprimento
de determinadas funções, dentre elas: estar em sintonia com a atual conjuntura; estar
presente junto a outros técnicos, se pondo a serviço do desenvolvimento nacional;
reaparelhamento das escolas de Serviço Social; a organização de cursos específicos de
pós-graduação; reforma universitária; aproximação das escolas em relação a
comunidades etc. No campo profissional, reivindica-se a fixação de uma série de
direitos, entre os quais carga horária reduzida (máximo de 30 horas semanais),
remuneração condigna (fixação do salário profissional), e a estimulação da organização
gremial.
Criticam-se as práticas paternalistas das grandes instituições assistenciais,
constata-se a inadequação das estruturas político-administrativa às exigências do
desenvolvimento sócio-econômico e a necessidade de medidas corretivas, verifica-se a
necessidade de medidas corretivas; verifica-se a necessidade de uma reforma
universitária, ao mesmo tempo em que se aplaude a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, que é combatida pela parcela da comunidade universitária que mais
se bate pela reforma. Pede-se melhor qualidade e pontualidade nos serviços prestados
pela Previdência, Salário-Família e Auxílio Desemprego. Reafirma-se a necessidade de
35

uma legislação agrária, de uma revisão de legislação social e sua extensão às populações
rurais.
Percebemos então que o Serviço Social não ficou imune a este movimento,
mesmo porque, ao longo de sua história, esta profissão é tencionada sintonizar seu
discurso e métodos às preocupações das classes dominantes e do Estado em relação à
questão social e sua evolução.
Dentro destas novas exigências é colocada a reformulação do currículo do
Assistente Social, situando como matérias básicas para o curso de Serviço Social a
economia, sociologia urbana e rural, planejamento e psicologia social e o
desenvolvimento de estudos sobre pesquisa social, cooperativismo, planejamento etc,
procurando reforçar os aspectos técnicos na formação do Assistente Social.
Os governos militares, a partir de 1964, reforçaram os discursos
desenvolvimentistas, atrelando-o à doutrina da “segurança nacional” no qual a
racionalidade técnica vinha acompanhada de práticas altamente pelo aparato estatal da
ditadura.
O planejamento enquanto conjunto de procedimentos técnicos visando uma dada
racionalidade operativa somente chegada ao Serviço Social com as transformações
políticas e sociais provocadas pelos governos militares. A autocracia burguesa provoca
uma profunda alteração no quadro institucional brasileiro, seja nos espaços
institucionais já configurados como espaços de trabalho para o Serviço Social seja nos
espaços que, nesse contexto passarão a demandar a presença profissional do Assistente
Social.

2.1. PLANEJAMENTO E RUPTURA COM O TRADICIONALISMO NA


PROFISSÃO

Este novo aparato institucional, moderno no discurso, mas conservador em suas


concepções corresponderá aos ditames do governo autoritário, tendo como
características a centralização, o tecnicismo e a verticalização das decisões. Estas
características, como já foi dito, marcam a planificação enquanto elemento dos
discursos e das práticas da lógica institucional dos governos militares. Planificação esta
que também será incorporada ao segmento hegemônico dos Assistentes Sociais que irão
aderir aos pressupostos do Regime.
36

Com efeito, a busca pela modernização e pelo bom desempenho técnico é pauta
dos dois encontros mais significativos: Os seminários de Teorização de Araxá, em 1967
e o seminário de Teorização de Teresópolis em 1971. Embora o Serviço Social
continue, de modo geral, circunscrito a funções executivas, distante das instâncias do
planejamento de governo propriamente dito, no período em tela, uma preocupação em
conferir às suas práticas e um caráter técnico. Nessa perspectiva, o planejamento será
incorporado às práticas dos Assistentes Sociais em sua busca por legitimar sua
competência técnica.
As lutas de categoria superação do conservadorismo culminam da “virada
histórica” no Congresso de 1979 onde foram alterados os pressupostos teóricos,
metodológicos e políticos da profissão, Esta “virada” representou um avanço no sentido
de romper com uma visão a-histórica de profissão e com os pressupostos conservadores
da adaptação do indivíduo ao meio social, que mesmo no período onde o discurso da
modernidade técnica dava o tom, prevaleciam.
Porém, todas essas alterações por suas próprias características, ao buscar romper
om qualquer elemento vinculado a períodos considerados ultrapassados da profissão,
excluíram sob o argumento do “desvio positivista”, qualquer componente metodológico
e/ou técnico que não estivesse vinculado diretamente à perspectiva
transformadora/revolucionária que, passava a orientar os rumos da profissão. No
contexto histórico político brasileiro em que foi efetivada, diga-se no final dos anos
1970, início dos anos 1980 essa perspectiva representava a adesão da profissão, em sua
parcela hegemônica, à possibilidade de uma transformação social radical para o país a
partir da extinção da ditadura.
É, portanto, que este período tenha se caracterizado pela radicalidade no trato
das questões que passariam a orientar o Serviço Social dali em diante, no sentido de
romper com quaisquer referências teóricas, metodológicas ou técnicas que significasse
lembrasse qualquer vinculação com os pressupostos conservadores que orientam a
profissão desde suas origens. Ora, o planejamento, identificado mecanicamente com o
modelo de planejamento incorporado pela parcela hegemônica do Serviço Social no
período autoritário, não desfrutará de qualquer prestígio ou simples espaço de relevância
no âmbito do Serviço Social que se colocava como elemento da transformação social.
Assim, se reforma curricular que se segue à mudança do padrão hegemônico na
37

profissão no final dos anos 70, e durante quase toda a década de 80, o planejamento não
adquire maior relevância.
Na segunda metade dos anos 80, quando a realidade brasileira, do ponto de vista
social e político já dava claros sinais de que o fim da ditadura não significava a
transformação imediata da sociedade rumo a um novo sistema social político e
econômico, ao mesmo tempo em que o mundo alardeava o “fim da história”,
significando o fim das utopias que fundamentaram suas referências na teoria social
crítica, ao Serviço Social coloca-se a necessidade imperiosa de rever alguns de seus
pressupostos. Se, do ponto de vista político ideológico permanece o compromisso com
uma perspectiva de transformação rumo a uma ordem social mais justa, é necessário re-
instrumentalizar a profissão para atuar, no plano da realidade concreta, ou seja, uma
atuação que acontece nos marcos da sociedade capitalista.
Surge então o desafio: o Serviço Social, em seus pressupostos ético-políticos,
defende e atua na perspectiva de uma transformação social, mas deve fazê-lo dentro das
instituições do atual modelo social, o que requer um aprimorado sentido de competência
em seus aspectos ético-políticos, mas também em seus aspectos técnicos. É dentro dessa
perspectiva que o planejamento aparecerá, não apenas nos currículos das instâncias de
formação, mas também nos instrumentos normativos da profissão, tais como a Lei
8662/93 que regulamenta a profissão de Assistente Social.
O projeto profissional é o instrumento mais utilizado pelos Assistentes Sociais
em sua prática, pois inúmeras vezes o processo de planejamento está implícito no
cotidiano institucional, sem uma expressão formal. Deve-se recordar que o projeto
concretiza as decisões, sinaliza para ações que operacionalizam a intenções e objetivos
contidos nos planos. Por essa razão é ressaltada a importância do projeto profissonal
estar vinculado ao planejamento, de modo que não se realize apenas ações pontuais e
imediatas.
Na ação cotidiana do Assistente Social, os sistemas de avaliação e controle
devem ser coerentes com os objetivos que se quer atingir. Podem ser identificados em
um primeiro momento: a avaliação da instituição em si, abarcando aspectos para os
quais pode-se construir alguns indicadores, tais como coerência e pertinência social da
sua missão, integração com o seu entorno, comunidade ou região, competência no
desempenho de tarefas, atualidade de seus processos de trabalho, flexibilidade para
incorporação de novas demandas, visibilidade e reconhecimento social e sua forma de
38

inserção na esfera pública. Tem como objetivo apreciar a capacidade de resposta e


influência da organização.
O outro foco de avaliação incide sobre os serviços prestados aos seus usuários, a
partir da implementação de um sistema de planejamento. Um terceiro foco é a avaliação
do próprio desempenho profissional, ajuizando, a partir dos resultados obtidos, as
necessidades de aprimoramento, atualização e reciclagem. Pensar sobre o trabalho
desenvolvido a partir de seus resultados e não de discursos sem relação com a realidade.
A avaliação possibilitará ao profissional apreciar os fatores que são decorrentes de
fragilidade de sua ação ou de fatores à mesma. Esse procedimento tem duas dimensões
significativas: de um lado contribui para o aperfeiçoamento profissional individual e de
outro para o da categoria, na medida em que relato da experiência pode ser partilhado e
apreciado pelos demais profissionais.

Seria simplista e mecânico associar a emergência e generalização dos


chamados movimentos sociais urbanos à degradação das condições de vida.
Talvez seja mais adequado afirmar que esses movimentos contribuíram (e
seguem contribuindo), mais que qualquer exercício técnico ou acadêmico,
para dar visibilidade a certas irracionalidades, expor carências novas e
antigas (VAINER E SMOLKA, 1991, p.22 - GONÇALVES, 2005).

É para esse grupo da sociedade que o Serviço Social, de modo especial se


destina. Entendemos que a atualização que se impõe ao Serviço Social deve considerar a
inserção da profissão no momento histórico atual, como valor a ser agregado, a visa
potencializar a ação profissional dos Assistentes Sociais, isso sem perder de vista, os
espaços já conquistados, referente a uma prática profissional que vem tentando se firmar
e se legitimar, a partir de uma perspectiva de crítica às sociedades marcadas pela
exclusão social e econômica da maioria das populações.

2.2. PERCEPÇÕES SOBRE O PLANEJAMENTO NA INTERVENÇÃO


PROFISSIONAL

Optamos por aplicar a técnica de entrevista semi-estruturada junto aos


Assistentes Sociais que por meio de convênio junto a Universidade Federal Fluminense,
prestam supervisão de estágio. Considerando que o universo destes supervisores era
restrito do ponto de vista quantitativo, então optei por trabalhar com 04 (quatro)
39

supervisores, sendo que 01 (um) deles não deu retorno ao meu convite para realizar a
entrevista. Cabe ressaltar que mesmo se tratando de um universo restrito do ponto de
vista quantitativo, do ponto de vista qualitativo este universo é muito significativo, por
se tratar de profissionais que atuam em diferentes áreas e em diferentes tempos de
atuação.
A pesquisa foi desenvolvida com base em entrevistas abertas, na qual as
perguntas foram respondidas dentro de uma conversação informal, onde a interferência
do entrevistador foi mínima. As entrevistas foram orientadas por dois eixos: O primeiro
se refere à importância que estes profissionais atribuem ao planejamento de ações na
prática do Serviço Social e o segundo, refere-se à utilização do planejamento na sua
prática. Estendi este segundo eixo para que, caso o profissional utilizasse o
planejamento em sua prática, que explicasse a forma e em caso negativo que
apresentassem uma causa. Desta forma foi possível obter o maior número de
informações sobre o tema, segundo a visão do entrevistado, e também obter um maior
detalhamento do assunto em questão.
Para análise dos dados colhidos nas entrevistas utilizamos a proposta do método
hermenêutico-dialético (O método hermenêutico-dialético é uma técnica de entrevistas
que permite a interação dos entrevistados entre si (sujeitos da pesquisa) e destes com o
pesquisador. Nesta técnica, o pesquisador, mesmo realizando entrevistas individuais
com cada sujeito da pesquisa, possibilita que suas falas possam ser lidas pelos outros
entrevistados, que elaboram uma síntese da sua e das demais respostas, conduzindo ou
não modificações na sua resposta original.), mencionado na obra de Minayo (1994), que
me possibilitou situar as falas dos entrevistados no seu contexto.
Com base nos eixos que nortearam as entrevistas podemos observar que é
unanimemente mencionado entre os entrevistados a importância que dão ao
planejamento. Contudo dentre as falas dos 03 (três) entrevistados, apenas o primeiro
esmiuçou sua compreensão acerca desta importância que é conferida ao planejamento.
Em sua visão, o planejamento é de suma importância por lhe permitir organizar suas
ações nos mais variados momentos, com base na sistematização de suas ações,
documentação, ou seja, aqui fazem referência ao planejamento como uma importante
técnica, um instrumento que quando apropriado por determinadas categorias
profissionais, lhes confere maior possibilidade de concretização de suas metas.
40

Este primeiro entrevistado completa, que do ponto de vista profissional, como


Assistente Social, ele vê o planejamento como “[...] um dos principais instrumentos, que
o trabalho do Assistente Social tem”. E que, em relação a outras categorias
profissionais, com as quais já trabalhou, percebe que “[...] o Serviço Social tem em sua
formação, essa preocupação com o planejamento [...]”, e que em sua opinião “[...] isso é
algo que nos qualifica e diferencia de outras categorias profissionais”. Enfatiza ainda
que os demais profissionais têm hábito de criticamente dizer que “[...] para o Assistente
Social, tudo tem que planejar, fazer projeto [...]”, mas ele defende dizendo que “[...] isso
é algo que caracteriza nossa profissão”.
Ainda em relação a este eixo o primeiro entrevistado (1) questiona:

[...] não sei até que ponto as universidades estão acompanhando estas
discussões persuasivas com relação ao planejamento. Porque como qualquer
área do conhecimento ele precisa ser problematizado, pensar a metodologia a
ser utilizada para se concretizar e viabilizar este planejamento. E ressalta: em
minha formação, tive o prazer de fazer uma disciplina específica no Serviço
Social, que era Planejamento e Administração em Serviço Social, então nessa
disciplina vimos os princípios básicos e históricos do planejamento e
trabalhamos com autores que lidavam com dois tipos de planejamento, que é
o planejamento normativo e o estratégico, que claro para o nosso perfil
profissional, seria muito mais apropriado usar o planejamento estratégico, até
mesmo para garantir o direito desse usuário.

E alerta:
[...] em muitas instituições o que prevalece é o modelo normativo, aquele
planejamento que vem de cima pra baixo, é uma forma de se pensar em
objetivos e as metas da instituição. Ou seja, a instituição decide quem vai
pensar esse planejamento e quem irá passar ou reproduzir para aqueles que
vão executar.

Dentro desta realidade este primeiro entrevistado constata:

[...] o Assistente Social, tem que, muitas vezes, engolir esses objetivos e
métodos da instituição. Guiado, na maioria das vezes por resultados
quantitativos, e deste modo, ao próprio usuário, não lhe é dada à
oportunidade de participar do planejamento, de algo que vai ser destinado a
ele mesmo.

E neste comentário revela um conhecimento acerca do planejamento, quando faz


um contraponto entre o cenário de planejamento, apresentado anteriormente, com a
perspectiva do planejamento estratégico. Mas chama atenção para o fato de que:
41

[...] o planejamento estratégico está muito presente em discurso, mas que em


termos práticos não ocorre. Isso devido ao fato de que o planejamento não é
um instrumento por si só, ele tem também um conteúdo político, e que este
aspecto tem que ser ressaltado, principalmente quando você está uma
instituição, ele tem seus objetivos fechados.

Destacamos que sobre este questionamento o segundo entrevistado não avançou


além do pronunciamento de que considera importante o planejamento e que o utiliza em
sua ação profissional, mas não ofereceu maiores detalhes de como o faz, ressaltando
apenas as iniciativas institucionais acerca do planejamento.
O terceiro entrevistado diz que o planejamento é fundamental, que sem ele não
se consegue avançar, e que este instrumental permite se mensurar aquilo que se pensou,
se você está conseguindo ou não. Dentro deste aspecto, também os 03 (três)
entrevistados são enfáticos ao responderem que utilizam o planejamento, contudo, sob
diferentes perspectivas.
O primeiro entrevistado (1) diz usar muito o planejamento, e continua “[...] ele
me permite sair daquelas ações isoladas, em sua opinião é o que predomina nas
instituições, e nestas cada um desenvolve suas práticas a seu modo, já com o
planejamento é possível pensar de forma mais coletiva”. E avaliar “[...] qual é o
resultado coletivo deste trabalho, que objetivos e metas coletivas que vai atingir”. No
desenvolver do planejamento norteador de suas ações evidencia “[...] sempre procurei
envolver as outras pessoas, enfatizando a importância de se construir um projeto
coletivo, que implica pensar e planejar coletivamente”. E avança nesta descrição quando
destaca:

[...] o planejamento se dá em vários níveis, por exemplo, quando se está em


relação direta com o usuário, orientasse o planejamento para sua intervenção,
que determinará a dinâmica a ser utilizada, quem será entrevistado, farei
visitas ou não? [...].

Segundo este profissional “[...] o próprio caso vai trazer elementos para esse
planejamento”. E faz referência ao planejamento em nível macro, no qual se
estabelecerão “[...] metas para o trabalho de um modo geral, que envolverá a
participação de outros profissionais que, na sua opinião, é bem mais difícil”. Já fora
dessas equipes multiprofissionais, percebe que o profissional tem muito mais autonomia
e menciona a própria lei que regulamenta a profissão e código de ética, como
42

normativas que preveem essa autonomia para se planejar em nível mais micro, na
relação direta com o usuário.
O segundo entrevistado (2) fala que a instituição em que atua é criado
anualmente um planejamento, no intuito de organizar e executar ações a serem
desenvolvidas. E que em suas atividades “[...] de certa forma desenvolvia planejamento,
no qual se estabelecia planos de ação para o ano, documentávamos nossos encontros,
procurávamos dar continuidade às ações, socializávamos com representantes da
sociedade e ouvíamos suas considerações etc”. E avança dizendo, “[...] tentávamos fazer
um planejamento também junto às estagiárias, mas o desconhecimento por questões
base acerca do Sistema de Garantias de Direitos, não nos permitia ter mínimas
condições para fazer isso”. Ou seja, apresenta esse despreparo como causa limitadora de
sua intervenção.
O terceiro entrevistado (3) diz que sempre reforça a importância do
planejamento, mas que “[...] não se consegue seguir um planejamento a risca”, isso
devido ao fato de que a instituição coloca demandas e urgências. Ou seja, dentro dessa
visão, o planejamento é algo preestabelecido, inalterável, que não avança diante das
instituições. Isso fica evidente quando, com frustação, em uma de suas falas é
explicitado que em suas atividades, mesmo desenvolvidas de forma criteriosa,
planejada, com base num cronograma e com metas estabelecidas, “não dá para seguir a
risca seu planejamento, devido ao fato de ter que relativizar seu planejamento diante da
realidade vivenciada.
Dentro desta visão o planejamento é apresentado como algo ”[...] complicado
[...], por não existir específicas determinações da instituição para sua intervenção. Ou
seja, na visão deste profissional, o planejamento deve definir ações que devem ser
seguidas “a risca”, tal como planejamento determinam os modelos normativos de
planejamento. Há, sem dúvida, uma clara associação entre o planejamento em geral e o
planejamento normativo.
Nos discursos dos três entrevistados, (embora com maior ênfase no segundo e no
terceiro) o planejamento é associado a uma função macro-institucional, cabendo ao
Serviço Social pouca margem de autonomia.
A partir do resultado das entrevistas, podemos observar que devido à
compreensão limitada acerca do planejamento, se faz necessário recoloca-lo como um
instrumental que mesmo inserido no mercado de trabalho, não seja aprisionado às
43

exigências do mesmo. E sim que é preciso articulá-lo de forma favorável à dinâmica


relação que se tem com a sociedade, às partes envolvidas no confronto, suas intenções e
projetos e os protagonistas emergentes. Isso de modo especial no período de formação.
Faz-se necessário compreender que na elaboração de um plano sempre haverá
divergências, oposições e conflitos entre os atores envolvidos, conflitos que devem ser
enfrentados via negociação democrática e participativa, evitando-se o uso de
autoritarismo e comportamentos antiéticos. E que esta negociação é vinculada à
capacidade de compreensão dos processos sociais e informações relativas ao objeto do
planejamento. Deste modo se mostram de forma mais explícita as visões corporativas,
individualistas e de cooptação política ou de qualquer outra ordem. Sendo assim, quanto
mais democrática for a construção do Plano, maiores serão as chances de se evitar
conflitos futuros.
Desta forma se o plano “não dá pra ser seguido à risca” é porque não foram
levados em consideração os aspectos. Com base na fala do terceiro entrevistado, pude
observar que para ele deve haver um “modelo” que oriente o que será realizado pelo
Serviço Social, e que o planejamento deveria corresponder a este “modelo”. Para este
profissional, também as demandas do dia a dia e as intitulas de emergenciais, colocam
por terra qualquer iniciativa de se colocar um planejamento em prática.
VASQUEZ (1977) classifica esse tipo de prática como práxis reiterativa: nela,
há um projeto, preexistente à ação (modelo) – o real só se justifica por adequação a ele.
É uma prática limitada ao existente: não produz uma nova realidade, nem mudanças
qualitativas, não transforma, embora possa ampliar a área do já criado, multiplicando
quantitativamente o produzido. Não faz emergir uma nova realidade humana.
Por outro lado, esse entendimento revela uma compreensão da prática
profissional onde o Assistente Social, dentro das características da planificação
normativa, é um mero executor das determinações ou do planejamento desenvolvido
pela instituição que trabalha. Cabe ressaltar que esta visão de planejamento reflete a
compreensão de uma realidade estática que deverá ser adequada a um plano
previamente estabelecido. Uma realidade onde os procedimentos pré-fixados resumem o
“fazer” profissional. Deste modo o horizonte da apreensão do real é limitado às
categorias relacionadas imediatamente ao seu objeto, as quais, por vezes, separam a
vida social em compartimentos estanques, isolados entre si.
44

Iamamoto (2002) indica que o exercício da profissão passa a exigir uma ação de
um sujeito profissional que tenha competência para propor, negociar e construir os seus
projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções
profissionais sempre na busca de equidade. Requer, pois, ir além das rotinas
institucionais, do ativismo e buscar apreender o movimento da realidade. Traduzindo,
significa repensar o Serviço Social na sua contemporaneidade, com vistas a traduzir o
mundo moderno.
O planejamento normativo não leva em conta os diferentes atores sociais, grupos
da sociedade, setores de uma mesma empresa etc. Que detentores de interesses e
comportamentos próprios fazem esta relação ser permeada por conflitos. Neste ponto
por vezes esse tipo de planejamento estagna, por não possuir viabilidade política, por
não ter levado, nem conseguir levar em consideração a importância da existência de
forças oponentes que, caso tivessem sido envolvidas, mesmo com os desafios de abarcar
suas demandas, na elaboração do plano, se revelariam potenciais forças de apoio ao
planejamento.
A grande problemática é que, em se tratando de um profissional que presta
supervisão de estágio, esta visão apresenta problemas na medida em que o supervisor
espera que o estagiário apenas “aprenda” tais procedimentos pré-definidos. Nessa
perspectiva são comuns as queixas de supervisores, que, com concepções semelhantes,
lamentam que o estagiário chega ao campo de estágio “sem saber fazer nada”. Nesse
sentido, tanto as concepções de planejamento, como de estágio, revelam uma concepção
da prática profissional, que por sua vez, revela uma concepção de mundo e de
sociedade.

A situação é a explicação da realidade, elaborada por uma força social em


função da sua ação e da sua luta com outras forças sociais. Ela se refere ao
ator da explicação, seus oponentes e aliados, suas ações, às ações de seus
oponentes aliados, assim como à realidade social construída no processo
social. Essa realidade apresenta-se como dada num certo momento da
formação social, mas é produto da luta constante por manter, reproduzir e
transformar o sistema. Esta explicação situacional é alternativa ao conceito
tradicional de diagnóstico (...) (MATUS, 1993: 219 – Gonçalves, 2005).

Segundo MATUS (1993, p.288)

Meu plano estará sempre pronto, mas estará sempre em processo de revisão.
Não haverá tempo para o “plano-livro”. Devo calcular rapidamente e com
capacidade de antecipar a mudança situacional real. Esse cálculo deve ser um
processo incessante e permanente de pré-alimentação do futuro e de
45

retroalimentação do passado recente. Assim, meu plano se parece mais com a


estratégia num jogo que com um desenho normativo (...). No entanto, o plano
tem muito de jogo e também muito de desenho. É um jogo em que cada um
de nós deve desenhar o objetivo que procura. Meu programa direcional é meu
desenho. Nele, preciso minha situação-objetivo, os problemas que valoro na
minha situação inicial e os projetos de ação com os que enfrentei (MATUS,
1993: 288 – GONÇALVES, 2005).

Isto nos leva a perceber que é necessário rever e redimensionar a formação do


Assistente Social, a partir das reais necessidades de sociedade. A proposta de
planejamento estratégico de Matus é construída sobre a designação de planejamento
elaborado com base em situações, ou seja, que se desenvolve através do desenho de
mudanças situacionais que ocorrem em um contexto de forças sociais oponentes. Logo
o ponto de partida é a situação inicial, com a qual nos deparamos no dia a dia e a meta é
a situação-objetivo a que se pode chegar através de diversas trajetórias, que implicam
diversas situações intermediárias, que serão viabilizadas através de nosso planejamento.
Em suma, mesmo reconhecendo os embates e os desafios que o cotidiano
coloca ao profissional frequentemente obrigando-o a dar respostas imediatas, o que
podem não permitir fazê-lo uma reflexão mais aprofundada. Faz-se necessário conhecer
novas ferramentas que possibilitem lidar com essa realidade. Pois mesmo as ações
imediatas que exercemos são antecedidas por nossa intencionalidade, são elas que dão
identidade ao nosso trabalho, logo que estar aí o início do caminho para repensarmos a
forma com que estamos desenvolvendo estas práticas.
46

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desse trabalho foi apresentar algumas reflexões sobre planejamento


enquanto ferramenta de trabalho para o Assistente Social. Evidentemente, não tivemos a
intensão de esgotar esta análise, mas sim de iniciar um debate sobre as dificuldades
paradigmáticas deste tema e dar continuidade ao projeto de uma intervenção qualificada
e crítica do Serviço Social.
Também buscamos realizar um levantamento bibliográfico com autores que se
identificam com o tema, fazendo uma comparação das diversas ideias por eles
declaradas. Procuramos abordar um breve histórico sobre o desenvolvimento do
planejamento, e como se faz (ou não) presente, enquanto instrumental que possibilita a
organização e dá intencionalidade à ação profissional.
Vimos, junto a Carvalho e Netto (1994), como a situação atual que aloca os
Assistentes Sociais como prestadores de serviços, executores de atividades finalísticas,
visa descaracterizar a profissão como um trabalho, e a exclui da intermediação direta da
relação capital-trabalho. Além disso, esta prática obscurece a natureza política da
profissão, limitando sua intervenção a ações instrumentais, determinando a própria
representação que os profissionais têm das suas funções. Também, de acordo com os
autores, é preciso romper com o hiato entre o passado conservador do Serviço Social e
os indicativos práticos de uma nova racionalidade e instrumentalidade.
As escolas de Serviço Social vêm se multiplicando e colocando um grande
número de profissionais no mercado de trabalho. O Serviço Social como profissão,
sofre alterações nas suas formas interventivas e operativas, onde lhe são demandados
competências e procedimentos inerentes às novas tecnologias e das últimas novidades
administrativas. Esta modernidade esta de fato ditando o perfil profissional dos novos
Assistentes Sociais. Neste cenário, o que se verifica é o desenvolvimento de tensões no
processo de formação profissional que são intensificadas à medida que existe a
dificuldade de se debater conhecimentos que definem os procedimentos operacionais da
intervenção social.
A título de conclusão, cabe enfatizar que a discussão em torno do planejamento
enquanto instrumentalidade do Serviço Social traz uma inegável contribuição para o
redimensionamento da profissão. Esta constatação, aliada ao aparato metodológico e
técnico operativo no Serviço Social, oferece aos profissionais uma possibilidade
47

concreta de tornar visível o compromisso do Serviço Social com uma consciência ética
que viabilize a proposta presente na cultura profissional.
Se por um lado avaliamos que a pesquisa ainda carece de aprofundamento
teórico para dar conta de suas diversas lacunas, por outro ela nos possibilitou concluir
que urge recolocar o planejamento nas discussões, problematiza-lo tanto nos espaços
acadêmicos (suporte teórico) como nos campos de intervenção do profissional de
Serviço Social. Nota-se que nas entrevistas realizadas o planejamento ainda ocupa um
espaço impreciso, traduzindo conceitos pouco claros, o que confirma a nossa hipótese
inicial.
Fica claro que é necessário ter no planejamento a superação de mero instrumento
tecnocrático, enfatizando suas possibilidades de garantir uma ação competente. Os
entraves que surgem devem ser analisados e incorporados em propostas mais flexíveis e
compatíveis com as exigências que vêm sendo feitas ao Serviço Social, que possibilitem
atender às exigências de articular planejamento e intervenção profissional. Este é um
desafio colocado ao Assistente Social.
Os resultados de nossa pesquisa de campo, ainda que tematizando um universo
limitado, revelam que a visão de planejamento ainda permanece atrelada a referências
formais, uma espécie de “roteiro” a ser seguido e que tem sua eficácia e sua efetividade
mensuradas a partir da capacidade do profissional em “ajustar a realidade ao que foi
especificado no documento-plano”. O planejamento, assim, não é visto como um
instrumental que possibilite imprimir alterações concretas na realidade, dando um
contorno definido e identificável à ação profissional. Isto porque, entre os entrevistados,
o planejamento não é pensado como instrumento político que exige um cuidadoso
processo de negociações em diferentes níveis, articulando e compatibilizando diferentes
posições, prioridades, exigências políticas e propostas de diversos segmentos e de
sujeitos sociais envolvidos.
Nessa direção, o planejamento situa-se como um processo de compreensão da
realidade e opções estratégicas, que tem tempo e espaço bem definidos,
consubstanciados em ações encadeadas e tendo em vista determinados objetivos. Sua
implementação deverá produzir uma alteração sensível no real, alterações que são
incorporadas à nova situação, o que dá a dinâmica e flexibilidade do processo. Todo o
plano necessita, por isso mesmo, de revisões sistemáticas, e exige um acurado sistema
de monitoramento, controle e acompanhamento para permitir a avaliação.
48

O plano ganha relevância política quando supera sua condição de simples


instrumento formal burocrático, o que ocorre quando se consegue, durante sua
elaboração, ampliar a discussão e participação dos interessados, produzir um
conhecimento sobre as necessidades sociais dos grupos e segmentos aos quais se destina
e colocar em evidência os responsáveis pela gestão dos setores que estão sendo
planejados. Esta concepção de planejamento ainda não é suficientemente clara nos
discursos dos profissionais entrevistados.
Esperamos que este trabalho se constitua em uma contribuição a um processo de
reflexão acerca da utilização do planejamento no exercício profissional do Serviço
Social, e colocá-lo de forma decidida, como um instrumental que nos permite não
apenas romper definitivamente com tendências conservadoras ou estacionarmos na
intencionalidade de um agir diferente, mas empreender um efetivo avançar.
49

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Acesso em: 11/03/2016

SCHUH, Diego Joel. Planejamento: uma disciplina imprescindível a formação


profissional em Serviço Social. Tese (Mestrando em Serviço Social), Pontifícia
Universidade do Rio Grande do Sul. Disponível em: <
www.unisc.br/cursos/graduacao/servico_social/artigos/artigo_diego2.doc - Acesso em:
7/10/2015.
52

ANEXO I

ROTEIRO PARA ENTREVISTA:

1. Em contato telefônico, perguntar se o entrevistado aceita que sua fala seja gravada.
2. Primeiramente vou informar que se trata de um trabalho de conclusão de Curso no
qual abordarei a questão do planejamento como instrumental para a intervenção em
Serviço Social.
3. Esclarecer que as falas não serão identificadas.
4. Informar ao entrevistado que ele falará livremente, mas que eu gostaria de começar
perguntando:

a) O que ele entende por "planejamento” ?


Depois que ele (a) responder a esta pergunta (deixar que ele (a) fale o quanto desejar,
sem interrupções), perguntar :
b) Que importância você atribui ao Planejamento de ações na prática do Serviço Social
?
Depois, perguntar :
c) Você utiliza o planejamento na sua prática profissional ?
Se ele (a) responder - NÂO ;

Perguntar :

Por quê ?

Deixar que ele (a) fale o quanto desejar;

Se ele (a) responder - SIM;

Perguntar:

De que forma?

CONCLUSÃO:

É na fala de cada um que poderemos fundamentar nossa análise...


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ANEXO II

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado(a) Senhor(a) Cidadão(ã),

Gostaríamos de convidá-lo(a) para participar da Entrevista “Planejamento em Serviço


Social: uma ferramenta para ação profissional”. Este estudo é uma exigência da Disciplina de
“Trabalho de Conclusão de Curso”, do Curso de Serviço Social de Rio das Ostras da Universidade
Federal Fluminense – UFF, com Orientação do Professor Ramiro e Professoras Antoniana Defilippo e
Marcia do Rocio Santos. Este Estudo tem por objetivo de compreender como os assistentes sociais
utilizam o planejamento em sua dimensão operativa. As informações coletadas terão finalidades
científicas.
Neste sentido, gostaríamos de pedir seu consentimento para gravar o áudio da Entrevista
que será realizada com você, já com o prévio consentimento informado. A gravação será transcrita e
apenas o material transcrito será utilizado como material didático e científico. As gravações de áudio
não serão utilizadas e serão descartadas.
Ressaltamos que os dados pessoais serão garantidos em sigilo, sendo esta a
responsabilidade da estudante e do professor envolvido neste estudo.
A participação neste Estudo é livre, voluntária e sem custos. Tanto a estudante quanto o
profissional tem a liberdade de recusar-se a participar ou retirar seu consentimento a qualquer
momento, sem nenhuma penalização e sem prejuízo pessoal.
Pelo presente manifesto expressamente minha concordância e meu consentimento para
realização do Estudo de Campo acima descrito.

________________, ____/____/______. ________________, ____/____/______.


Local e data Local e data

________________________________ Michelle Aparecida Araújo de Carvalho


Nome Nome da estudante

______________________ 13472833 209640-78 .


RG RG e matrícula UFF

_______________________________ _______________________________
Assinatura Assinatura

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