profundamente contemplativa era a vocação de pescar tradicionalmente. Pois como se poderia descrever uma linha de trabalho na qual o trabalhador dispendeu horas e horas no oceano aberto — talvez o maior símbolo do mundo natural do Único? Certamente, se há alguma vocação que tenha afinidade com a meditação estimulante, é a pesca; e, quanto ao caso da Antiga Judeia em particular, perguntar-se-ia se qualquer pescador hebreu com inclinações espirituais falharia em lembrar de hinos aquosos como o Salmo 93:4 enquanto no mar. Com certeza, as palavras famosas de Cristo (a.s.) para São Pedro e Santo André em Mateus 4:19, “Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens,” soma um grau ainda mais profundo de significância sagrada à pesca — mas este é um grau que pertence especificamente aos profetas e aos santos que trabalharam como pescadores em algum momento, tal como os dois discípulos de Jesus (a.s.) citados e, numa data mais tardia, ao grande místico sevilhano Abu Madyan (m. 1193 ou 1198). E é também importante notar que, de acordo com o apócrifo Testamento dos Doze Patriarcas (que pode, de um ponto de vista islâmico, conter fragmentos de verdade tal como nos textos canônicos, pois estes não foram perfeitamente preservados tampouco), o filho de Jacó (a.s.) Zebulão (o qual, deve ser lembrado, teve uma conclusão favorável no Alcorão 2:133 pela virtude de ser incluído no testemunho coletivo de crença dos Filhos de Jacó (a.s.) “quando a morte se aproximou” [idh hadara … l-mautu] do seu pai profético) foi o primeiro pescador — um ponto significante, espiritualmente falando, precisamente porque toda arte ou ciência creditada de ter se originado de um justo patriarca ou profeta (por exemplo, como algumas tradições folclóricas islâmicas mantêm, a fabricação de pentes por Sete (a.s.), a tecelagem por Enoque (a.s.), e assim por diante) pode, em algum sentido, ser considerado um ofício em concordância essencial com a fitra quando desempenhado da maneira que o venerável iniciador intencionou originalmente. E Deus sabe melhor.
Traduzido ao português por: Ya'qûb 'Abd al-Jabbâr Ghîmârâish (al-Brâzîli al-Tijâni)