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John Bunyan

Nele, brilhavam três grandes eminências: Era historiador, poeta e pregador em excelência.

John Bunyan nasceu em novembro de 1628, em Elstow, um vilarejo a cerca de 1,5 quilômetro da cidade de Bedford. Seu pai, Thomas Bunyan,
fabricava e consertava panelas e chaleiras. Sua mãe, Margaret Bentley, provinha de uma família mais abastada. John gostava de definir sua família com estando
“entre a multidão dos pobres lavradores”. Mesmo sem muitos recursos financeiros, os pais de Bunyan o enviaram à escola. No entanto, ele frequentou as aulas
tempo suficiente para apenas aprender a ler e escrever. Desde cedo aprendeu o ofício do pai e ajudou no sustento da família.
Sua mãe morreu em junho de 1644, e sua irmã mais nova um mês depois. Em agosto do mesmo ano, seu pai se casou novamente. Esse novo
relacionamento parece ter gerado o afastamento entre pai e filho, levando John a passar os três anos seguintes servindo como soldado na Guerra Civil Inglesa,
muito provavelmente apoiando os Parlamentaristas sendo liderado por Sir Samuel Luke. Os anos passados nesse conflito influenciariam a escrita de alguns
episódios dos livros de Bunyan no futuro. Somente um soldado experiente poderia escrever, com tanta riqueza de detalhes, as cenas de algumas das lutas
encontradas em O peregrino, por exemplo.
Cedo em sua vida, Bunyan se embrenhou em uma vida de jogos e bailes. Pouco depois de ser dispensado do exército, casou-se com sua primeira
esposa, entre 1647–48. Em sua autobiografia Graça abundante ao principal dos pecadores (Editora Fiel, 2012), ele afirma que, quando se uniram, os dois eram
“tão pobres quanto os pobres devem ser, sem possuir muitos implementos caseiros, além de um prato e uma colher, que compartilhávamos”. Apesar de serem tão
destituídos, a esposa de Bunyan trouxe consigo, como dote de casamento, dois livros — uma extravagância para aqueles tempos: The Plain Man’s Pathway to
Heaven (A Jornada do homem comum ao Céu) de Arthur Dent e The Practice of Piety (A prática da piedade) de Lewis Bayly. Essas duas obras e o
comportamento cristão de sua esposa influenciaram Bunyan a um despertamento espiritual. Tiveram quatro filhos, a primeira deles, Mary, nasceu cega e era alvo
de especial afeto de seu pai.

Sua conversão. Os quatro anos seguintes foram de intenso conflito espiritual interior para Bunyan: se, por um lado, sua carne almejava continuar na prática do
pecado, por outro, seu espírito, tocado pela graça divina, sentia o peso da condenação e o desejo de salvação. Certo domingo à tarde, enquanto jogava Tip Cat,
uma voz do Céu lhe veio à mente, que dizia: “Você abandonará seus pecados e irá ao Céu, ou continuará pecando e irá ao inferno?”. Naquele momento, Bunyan
não deu importância à profunda inquietação que lhe sobreviera ao espírito. Mas, pouco depois, buscou numa vida de legalismo a redenção de sua alma. Começou
a frequentar a igreja, mudou seu linguajar e a forma de se vestir. Contudo, quando confrontado por um sermão sobre a observância do Dia do Senhor, Bunyan
decidiu voltar aos seus velhos hábitos.
Em Graça abundante, conta como certa vez, enquanto passava pela rua, ouviu três ou quatro senhoras conversando “sobre seu novo nascimento, a
obra de Deus em seus corações e a forma pela qual se convenceram de seu estado natural de miséria. Falavam como Deus havia visitado sua alma com Seu amor
em Cristo Jesus e com que palavras e promessas foram renovadas, consoladas e sustentadas contra as tentações diabólicas”. Essa conversa levou-o a desprezar o
pecado em sua natureza.
Em 1650, veio a conhecer o pastor puritano John Gifford em sua casa paroquial na igreja de Saint John — então uma comunidade independente —,
em Bedford. Nesta ocasião, conversaram sobre a salvação e a verdadeira mensagem de Jesus. No entanto, a rendição definitiva de Bunyan a Cristo ocorreu um
ano depois influenciado pela conversa das senhoras, com o pastor Gifford e pela leitura de Comentário da epístola de São Paulo aos Gálatas (Ed. Sinodal, 2017,
vol. 10) que, depois da Bíblia, era seu livro de referência. Neste mesmo ano, começou a frequentar essa congregação em Bedford, embora permanecesse
morando em Elstow. Tornou-se membro e diácono em 1653.

O aprisionamento. Seu talento para o ensino e pregação tornaram-se proeminentes, e ele pregava tanto em sua igreja quanto em outras comunidades para onde
era convidado. Neste tempo, a Igreja do Estado, ou Anglicana, regulava toda a atividade de pregação, qualquer grupo ou indivíduo que se lhe opusesse era
considerado ilegal e consequentemente perseguido.
Entre 1655–60, Bunyan envolveu-se em controvérsias com os Quakers. Os vários panfletos e livretos que produziu durante este período, como
resposta à doutrina Quaker, fizeram despontar seu talento literário. O ano de 1658 foi o da morte de sua primeira esposa e do primeiro indiciamento de Bunyan
pela atividade ilegal de pregação sem a devida licença da Igreja da Inglaterra, que acabou por não resultar em julgamento ou prisão. No entanto, nem mesmo
esses dois tristes fatos impediriam esse arauto divino de permanecer pregando a Palavra de Deus com ousadia.
Em 1659, aos 31 anos, casou-se pela segunda vez com uma jovem que tinha entre 17 e 18 anos, Elizabeth Bunyan, com quem teve mais dois filhos.
Em 1660, a perseguição aos não-conformistas, ou puritanos, se acirrou. O antigo Livro das Orações, promulgado no reinado de Edward VI (1547–53), foi
reativado, e proibido qualquer culto que não seguisse essa liturgia.
Ao saber que Bunyan estaria pregando no vilarejo de Lower Samsall, o juiz Francis Wingate emitiu um mandado de prisão contra ele. Quando estava
no meio do sermão, a polícia adentrou o ambiente e o levou preso, onde permaneceu aguardando seu julgamento. Seu indiciamento afirmava, mesmo que não
estivesse apoiado por testemunhas: “John Bunyan, da cidade de Bedford, trabalhador, tem se abstido de forma diabólica e perniciosa de vir à igreja para ouvir o
culto divino e é defensor comum de várias reuniões ilegais, que causam grande perturbação e distração dos bons súditos deste reino, contrariamente às leis de
nosso soberano senhor e rei”. Ao pronunciar sua sentença, o juiz Keeling disse: “Ouça seu julgamento: você será levado novamente à prisão, e por três meses
seguidos lá permanecerá.
Ao final desses três meses, se não se submeter a ir à igreja ouvir o culto divino, e a abandonar sua pregação, será banido do reino. Ou, se for
encontrado pregando de novo sem licença do rei, será enforcado por isso. Digo-lhe sem rodeios. Carcereiro, leve-o!”. A resposta de Bunyan foi: “Se me soltarem
da prisão hoje, pregarei de novo amanhã, com a ajuda de Deus!”. Foi condenado a 12 anos de encarceramento em 12 de novembro de 1660.
Sua esposa apresentou-se diante de juízes de cortes superiores em Londres em duas tentativas de apelação dessa sentença. Outros amigos também
intercederam por ele, porém foi tudo em vão.
Apesar do cárcere em Bedford ser repugnante, o tratamento dispensado aos prisioneiros era humanizado. De dentro da prisão, Bunyan participava na
fabricação de cadarços para sapatos, o que o ajudava no sustento da família. Recebia visitas regulares, especialmente de sua filha cega, que lhe trazia sopa para o
jantar, e ele também podia, por vezes, sair da prisão para visitar sua família e pregar. Em uma dessas ocasiões, um sacerdote anglicano soube da saída de Bunyan
e o delatou. Porém, neste dia Bunyan sentiu-se espiritualmente incomodado a voltar antes da hora marcada para o presídio. Quando o mensageiro chegou para
verificar se todos os prisioneiros estavam em suas celas e bem, a confirmação de que Bunyan estava presente afastou a suspeita. Mais tarde o carcereiro lhe
disse: “Você pode sair quando quiser porque sabe melhor do que eu quando deve retornar”.
Outra liberdade que também lhe foi conferida foi a de ler, estudar e escrever. Durante esse aprisionamento, Bunyan escreveu sua autobiografia Graça
abundante ao principal dos pecadores, que foi publicada em 1666. Entre seus livros favoritos, nesta fase de sua vida, estava O livro dos mártires, de John Fox.

Os últimos anos. Sua soltura ocorreu em 1672, quando foi emitida a Declaração de Indulgência pelo rei Charles II. Foi-lhe dada autorização para pregar na
região de Bedforshire com outros 25 ministros. Ficou, então, conhecido como o “bispo Bunyan”, dando a entender que seria o líder entre todos eles. O prédio da
igreja de Saint John, onde, antes do encarceramento, Bunyan frequentava e pregava, havia retornado à Igreja Anglicana, e a congregação agora se reunia em um
celeiro. A fama de Bunyan se espalhou, e até em Londres era convidado a pregar, onde, segundo um registro, em certa manhã gelada 1200 pessoas se reuniram
para ouvi-lo. Foi um tempo de descanso e prosperidade para esse provado servo de Deus.
Contudo, em 1675 a atitude do governo para com os puritanos mudou e muitas licenças para pregar foram revogadas, entre elas a de Bunyan. Em
março de 1676, após outra ordem de prisão, John Bunyan retornou ao cárcere onde permaneceu por seis meses. A tradição diz, na falta de relatos históricos
precisos, que teria sido nesta ocasião que ele teria escrito sua obra mais notável, O peregrino, publicado pela primeira vez em 1678.
Devido à sua popularidade, Bunyan teria recebido um indulto real e depois disso desfrutou de liberdade até o fim de sua vida. Sua influência cresceu e
seu ministério abrangeu pregações em quase todas as partes da Inglaterra.
Em seus últimos anos de vida, ainda escreveu muitas e excelentes obras, entre as mais conhecidas estão: The Life and Death of Mr. Badman (Vida e
morte do Sr. Maldoso, 1680), A Guerra Santa (1682), A peregrina (1684). John Bunyan escreveu um total de 61 obras entre panfletos, livretos e livros.
Morreu de gripe em 31 de agosto de 1688, em Londres, para onde fora apaziguar uma disputa entre pai e filho. Foi sepultado em Bunhill Fields,
cemitério dedicado aos puritanos.
Bunyan teve pouca educação escolar. Ele seguiu o seu pai no comércio de Tarish Tinker, e serviu no exército parlamentário de Newport Pagnell (1644–1647);
em 1649 ele casou-se com uma jovem mulher. Viveu em Elstow até 1655 (quando sua esposa morreu) e então se mudou para Bedford. Ele se casou de novo em
1659.
Em sua autobiografia, Grace Abounding ("Graça Abundante"), Bunyan descreve a si mesmo como um desregrado em sua juventude; mas não existe nenhuma
evidência que ele era pior que seus vizinhos: o único defeito que ele especifica é falar muito palavrão, dançar muito e ser muito namorador. O surpreendente
poder de sua imaginação o levou a contemplar atos de impiedade e profanação, muitas situações, experiências as quais ele transferiu para os seus livros. Em
particular ele era atormentado por uma curiosidade concernindo o "pecado imperdoável," e uma preposição que ele já o havia cometido. Ele continuamente ouvia
vozes alertando-o a "vender a Cristo," e era torturado por temerosas visões. Depois de severos conflitos espirituais ele escapou desta condição e se tornou um
entusiástico propagador do Evangelho e um cristão fervoroso. Ele foi batizado na igreja Batista em Bedford por imersão no River Great (Rio Grande) em 1653.
Em 1655 ele se tornou um diácono e começou a pregar, com marcante sucesso desde o início.

Bunyan discordava fortemente dos ensinos dos Sociedade dos Amigos e tomou parte, durante os anos 1656-1657, em debates escritos com alguns dos líderes
desse grupo. Primeiramente, Bunyan publicou "Some Gospel Truths Opened" ("Algumas Verdades do Evangelho Abertas") na qual ele atacou a crença Quaker.
O Quaker Edward Burrough respondeu com "The True Faith of the Gospel of Peace" ("A Verdadeira Fé do Evangelho da Paz"). Bunyan refutou o panfleto de
Burrough com "A Vindication of Some Gospel Truths Opened" ("Uma Vindicação de Algumas Verdades do Evangelho Abertas"), respondida por Burrough
com "Truth (the Strongest of All) Witnessed Forth" ("Verdade, A Mais Forte de Todas, Testemunhada Adiante"). Depois o líder Quaker George Fox entrou na
rixa verbal publicando uma refutação à redação de Bunyan em sua obra "The Great Mystery of the Great Whore Unfolded" ("O Grande Mistério da Grande
Prostituta Desvendado").
Em 1658 Bunyan foi processado por pregar sem uma licença. Não Obstante, ele continuou a pregar e não sofreu um aprisionamento até Novembro de 1660,
quando foi levado à cadeia municipal de Silver Street, Bedford. Ali ele ficou detido por três meses, mas, por se recusar a se conformar ou desistir de pregar, seu
encarceramento foi estendido por um período de aproximadamente 12 anos (com exceção de algumas poucas semanas em 1666) até Janeiro de 1672, quando
Carlos II emitiu a Declaração de Indulgência Religiosa.
Túmulo de John Bunyan, Bunhill Fields, City Road, Londres. (Janeiro de 2006)
Naquele mês, Bunyan se tornou pastor da igreja de Bedford. Em Março de 1675, ele foi novamente aprisionado por pregar, desta vez no cárcere de Bedford,
localizado na ponte de pedra sobre o rio Ouse, porque Carlos II havia anulado a Declaração de Indulgência Religiosa. (O mandado original, descoberto em 1887,
foi publicado em fac-símile por Rush and Warwick, London). Durante esse seis meses em que passou na cadeia, Bunyan realizou um dos sonhos literários dele:
escreveu Após seis meses ele foi liberto e devido a sua popularidade, não mais foi molestado.
A caminho de Londres Bunyan foi acometido por um forte resfriado, e morreu de febre na casa de um amigo em Snow Hill no dia 13 de Agosto de 1688. Seu
túmulo está localizado no cemitério de Bunhill Fields em Londres.

O Peregrino
Bunyan escreveu O Peregrino em duas partes, a primeira foi publicada em Londres em 1678 e a segunda em 1684. Ele havia iniciado a obra durante seu primeiro
período de aprisionamento, e provavelmente terminou-a durante o segundo período do mesmo. A edição mais recente em que as duas partes foram combinadas
em um único volume foi publicada em 1728. Seu nome completo é The Pilgrim’s Progress from This World to That Which Is To Come ("O Progresso do
Peregrino deste Mundo Àquele que está por Vir"). Uma terceira parte falsamente atribuída a Bunyan apareceu em 1693, e foi reimpressa em 1852.
O Peregrino é considerado uma das mais conhecidas alegorias já escritas, e tem sido amplamente traduzido em diversas línguas. Missionários Protestantes
geralmente o traduziam em primeiro lugar depois da Bíblia.
Outras duas obras de Bunyan são menos conhecidas: The Life and Death of Mr. Badman ("A Vida e Morte do Senhor Badman", 1680), uma biografia
imaginária, e The Holy War ("A Guerra Santa", 1682), uma alegoria. Um terceiro livro que revela a vida interior de Bunyan e sua preparação para seu designado
trabalho é Grace Abounding to the chief of sinners ("Abundante Graça para o chefe dos pecadores", 1666). É uma obra muito prolixa e, uma vez que sendo a
respeito da própria pessoa de Bunyan, poderia dar o parecer de ser intoleravelmente egocêntrica, exceto que sua motivação ao escrever tal obra foi somente com
o intuito de exaltar o conceito Cristão sobre a graça e confortar aqueles passando por experiências similares à sua.
As obras mencionadas acima têm sido publicadas em diversas edições, e estão acessíveis a todos. Existem notáveis coleções de edições de O Peregrino, e.g., no
Museu Britânico e na Biblioteca Pública de Nova York, agrupados por James Lennox.
Bunyan se tornou um popular pregador e um prolífico autor, apesar da maioria de seus trabalhos consistir em sermões. Em teologia, ele era um Puritano, mas não
havia nada de obscuro a seu respeito. O retrato desenhado por seu amigo Robert White tem sido reproduzido diversas vezes e mostra a atraente natureza de seu
verdadeiro caráter. Ele era alto, tinha cabelos ruivos, um nariz proeminente, uma boca bastante grande e olhos brilhantes.
Bunyan não era uma pessoa estudada, mas conhecia a Bíblia em inglês muito bem. Ele também foi influenciado pela obra Commentary on the Epistle to the
Galatians ("Comentário sobre a Epístola aos Gálatas") de Martinho Lutero, na tradução de 1575. Amava tudo o que dizia respeito aos cristãos da igreja Primitiva.
Mesmo com poucos recursos, conseguiu comprar importantes livros sobre o assunto, guardar folhetos e recortes de revistas, que eram pouquíssimas na época
dele.
Algum tempo antes de sua libertação final da prisão, Bunyan se envolveu em uma discussão com Kiffin, Danvers, Deune, Paul, e outros. Em 1673 ele publicou
Differences in Judgement about Water-Baptism no Bar to Communion ("Diferenças no Julgamento sobre Batismo nas Águas não são Barreiras para a
Comunhão"), onde ele sustentou a ideia de que "A igreja de Cristo não tem o direito de excluir da comunhão o Cristão que é um santo visível neste mundo, o
Cristão que anda segundo sua própria luz com Deus." Apesar de reconhecer que o "Batismo nas Águas é uma ordenança de Deus," ele se recusava a fazer disso
"um ídolo," assim como pensava que faziam aqueles que usavam disto como um preceito para excluir da comunhão os que eram reconhecidos como Cristãos
genuínos.
Kiffin e Paul publicaram uma resposta em Serious Reflections ("Sérias Reflexões", Londres, 1673), aonde eles discutiram em favor à restrição da Ceia do Senhor
aos devotos batizados, e receberam a aprovação de Henry Danvers em sua obra Treatise of Baptism ("Tratado de Batismo", Londres, 1673 ou 1674). Como
resultado da controvérsia, os Batistas Particulares (Calvinistas) deixaram aberta a questão da comunhão com os não-batizados. A igreja de Bunyan admitiu
pedobatismo aos membros e finalmente se tornou pedobatista (Congregacionista).
Bunyan se distingue por ter escrito O Peregrino, provavelmente o livro mais lido do idioma inglês e o traduzido em mais línguas que qualquer outro livro exceto
a Bíblia. O encanto da obra é atribuída ao interesse de uma história onde a intensa imaginação do escritor cria personagens, incidentes, e cenas vivas na mente de
seus leitores como coisas conhecidas e relembradas por eles mesmos, em seus toques de ternura e humor, em sua impressionante e comovente eloquência, e em
seu puro Inglês idiomático. Macaulay afirmou, "Todo leitor conhece o estreito e apertado caminho tão bem quanto ele conhece uma rodovia em que ele tem
andado pra frete e pra trás cem vezes" e ele adiciona: "Na Inglaterra, durante a última metade do século dezessete havia somente duas mentes capazes da
faculdade imaginária em um grau tão elevado. Uma dessas mentes produziu o Paradise Lost ("Paraíso Perdido"), John Milton, e a outra produziu The Pilgrim's
Progress ("O Peregrino"), Jonh Bunyan. Um dos seus livros mais extraordinários foi "Through This Cross You Will Win", cujo original foi descoberto 200 anos
após sua morte, e é hoje um dos seus livros mais desconhecidos e extraordinários, cuja trama é tão rica e apaixonante, que foi plagiada por uma cardeal da Igreja
Católica Romana[quem?]. Para esse livro Bunyan usou o subtítulo "The Church Who Survived in the Catacombs" (A Igreja que Sobreviveu nas Catacumbas)
Bunyan escreveu mais de 60 livros e folhetos, dos quais The Holy War ("A Guerra Santa") é o segundo em popularidade.

O Peregrino - A Viagem do Cristão à cidade Celestial é um livro escrito pelo pastor batista reformado John Bunyan e publicado na Inglaterra em 1678. O
livro é uma alegoria da vida cristã.
Bunyan relata, no prefácio e no posfácio, que escreveu O Peregrino como uma forma de alerta aos perigos e vicissitudes enfrentados na vida religiosa por
aqueles que seguem os ensinamentos bíblicos e buscam um caminho de perfeição para alcançar a coroa da Vida Eterna, citada no livro do Apocalipse na Bíblia.
O Peregrino tenciona levar o leitor a refletir sobre como deve ser vigilante na vida terrena, simbolizada pela jornada de Cristão.
Desde sua publicação, o livro jamais deixou de ser impresso. Depois da Bíblia, este é o livro mais conhecido no meio cristão não somente de fala inglesa, mas de
diversas línguas, inclusive na China, onde, clandestinamente, chegou-se a produzir 200 mil cópias que foram distribuídas em três dias.[1] O terceiro lugar, como
o livro mais publicado do mundo, pertence ao famoso O Pequeno Príncipe (título no Brasil), ou O Principezinho (título em Portugal), escrito pelo autor francês
Antoine de Saint-Exupery.
@aprendilendo_03/10/2020
Resenha de O Peregrino
Muito confundida com a “metáfora”, a alegoria, geralmente usada em contos, fábulas e lições morais, é caracterizada por trazer um sentido real para a fantasia,
transpondo todo o conceito de algo para uma nova forma, tendo, ainda assim, o mesmo significado, a exemplo disso, vemos o Leão de Nárnia, esse, alegoria
clara a Deus. Nesse contexto, é justamente essa a figura de linguagem presente em O Peregrino, livro escrito por John Bunyan enquanto estava preso por pregar
o evangelho sem permissão em anos de perseguição religiosa na Inglaterra.
Sobre a história: A partir dos sonhos de um narrador, acompanhamos a épica jornada de Cristão, homem advindo da cidade da Destruição o qual, após se deparar
com as verdades da Bíblia e ser orientado pelo bom Evangelista, parte por um caminho estreito até o lar daquele que prometeu tirar todos os seus fardos, Jesus
Cristo, na cidade Celestial. Para isso, terá primeiro de passar por diversos outros obstáculos, como o Vale da Morte e a Feira do Mundo e enfrentar demônios,
dragões e monstros cujo o único objetivo é destruir.
Composto por uma narrativa fantástica e instigante, o livro se sobressai quando o assunto é conseguir gerar identificação e trazer aprendizados enquanto nos
prende com uma enorme curiosidade sobre qual será o destino de Cristão. Ficamos realmente animados para saber, a todo o momento, qual será o próximo
desafio do personagem. Esse aspecto traz consigo a brilhante imersão do leitor na jornada a qual, por conta de sua forma direta e não muito descritiva dos
cenários, dá quase total liberdade para o preenchimento do ambiente com a imaginação de cada um. Apesar da obra ser uma clara mensagem aos cristãos, sua
característica gospel não tira de si a atratividade para os não religiosos, afinal, a história encontra-se repleta daquilo presente nos maiores clássicos épicos, como
dragões, gigantes, demônios, batalhas pela vida, redenção e a busca por um bem maior.
Capaz de trazer cada um para junto de Cristão, como se realmente fossemos seus companheiros até a porta final do caminho estreito, O Peregrino se destaca
dentre as melhores fábulas já escritas por meio de seu repertório infindável de lições as quais representam tão bem a jornada daquele que decide pegar a própria
cruz e seguir o nosso Salvador. Não é de se impressionar ser um dos livros mais lidos dos últimos três séculos. Ótima leitura.

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Esboço
O jovem peregrino chamado simplesmente Cristão, atormentado pelo desejo de se ver livre do fardo pesado que carrega nas costas, segue sua jornada por um
caminho estreito, indicado por um homem chamado Evangelista, pelo qual se pode alcançar a Cidade Celestial. Na narrativa, todas as personagens e lugares que
o peregrino depara levam nomes de estereótipos (como: Hipocrisia, Boa-Vontade, Sr. Intérprete, gigante Desespero, A Cidade da Destruição, O Castelo das
Dúvidas, etc.) consoante os seus estilos, características e personalidades.
No ínterim, surgem-lhe várias adversidades, nas quais ele padece sofrimentos, chegando a perder-se, ser torturado e quase afogar-se. Apesar de tudo, o
protagonista mantém-se sempre sóbrio, encontrando auxílio no companheiro de viagem Fiel, um concidadão seu. Mais adiante na trama, Fiel é executado pelos
infiéis da Feira das Vaidades que se opőem à busca dos dois peregrinos. Contudo, Cristão acha um outro companheiro, chamado Esperançoso, que mais tarde lhe
salvará a vida, e eles seguem a dura jornada até chegarem ao destino almejado.
A obra é uma alegoria contada como se fosse um sonho, voltando-se sempre a extrair dos eventos narrados alguns ensinamentos bíblicos, nos moldes das
parábolas bíblicas.

Resenha: O Peregrino
Título: O Peregrino
Autora: John Bunyan
Páginas: 235
Editora: Mundo Cristão
Ano: 1684
Classificação: 3/5

Sinopse: 'O Peregrino' é uma narrativa cheia de emoção e suspense. Bunyan relata a viagem de Cristão, um peregrino espiritualmente abatido que viaja rumo à
Cidade Celestial. No decorrer da aventura, ele se encontra com personagens de carne e osso, mas que possuem nomes alegóricos, tais como Evangelista,
Adulação, Malícia, Apoliom e Vigilância. Passa por lugares sombrios e medonhos, como o Desfiladeiro do Desespero, o Pântano da Desconfiança, a Feira das
Vaidades e o Rio da Morte. Surge em cada encruzilhada um novo desafio que ameaça sua chegada ao destino final. O enredo mescla-se à interpretação
simbólica, e o resultado é uma incrível experiência literária espiritual.
'O Peregrino' é a maior obra de ficção na história do cristianismo. Para milhões de leitores, a história de Cristão serve como supremo modelo de perseverança em
meio a dificuldades.
Quando me deparei com a sinopse de O Peregrino fiquei de imediato encantada, pois, a meu ver, a ideia central da obra é mais do que genial. Além disso, a
sinopse me remeteu a um dos mais lindos pensamentos que já li, do grande teólogo e escritor C.S Lewis: “Eu descobri em mim mesmo desejos os quais nada
nesta Terra pode satisfazer. A única explicação lógica é que eu fui feito para outro mundo.” Sim, fomos feitos para outro mundo e nossa vida terrena nada mais é
do que uma peregrinação rumo à Nova Jerusalém. Dessa forma, O Peregrino é uma alegoria muito bem escrita e, se bem analisada, um tanto quanto verossímil à
vida terrena. No entanto, o fato de algumas coisas em sua narrativa entrarem em desacordo com a Bíblia fez-me por vezes torcer o nariz.
A história criada por John Bunyan no século XVII se inicia com este relatando que se deitou em uma caverna e ali adormeceu. Neste momento de descanso teve
um sonho muito especial, um sonho que passa a ser detalhadamente narrado em terceira pessoa, o sonho de um cristão caminhando rumo à Cidade Celestial.
O protagonista, Cristão, recebe a notícia de que a cidade em que habita vive sob iminente destruição. A partir daí Cristão passa a viver em tremenda angústia e
desespero, pois não sabe o que fazer para escapar do vindouro fim. Na sequencia, depois de vários aflitivos dias, Evangelista indica o caminho por onde Cristão
deve fugir, após a informação ser recebida ele não pensa duas vezes e, deixando para trás a família que não aceitou o convite, dá início a sua solitária
peregrinação.
“Se conseguir chegar à Cidade Celestial tenho certeza de que lá estarei seguro. Tenho de arriscar: voltar é morte certa, mas avançar é o medo da morte, e a vida
eterna jaz além. Por isso vou prosseguir. (...) Bem, lá espero ver bem vivo aquele que, morto, vi pendurado na cruz; e ali espero livrar-me de todas essas coisas
que até hoje estão em mim e que me aborrecem. Lá, dizem que, não existe morte, e lá viverei com a companhia que mais me agrada. Para dizer bem a verdade,
só posso mesmo amá-lo, pois foi ele quem me aliviou o fardo. Estou cansado da enfermidade que trago dentro de mim; prefiro estar onde não morrerei mais, ao
lado daqueles que continuamente bradam: “Santo, Santo, Santo”.
A odisseia de Cristão consiste em trilhar caminhos difíceis como o Vale da Sombra da Morte, passar por inúmeros desconfortos como o cansaço, conhecer
personagens nada agradáveis/confiáveis como a Ignorância, sofrer com males que assolam a alma humana como o medo e, sobretudo, desenvolver um espírito
de alerta para não se desviar do único caminho que podia levá-lo à salvação.
“Procurei então Cristão com o olhar, para vê-lo subindo o morro. Percebi que, se antes corria, passara a caminhar, e depois a escalar apoiando nas mãos e nos
joelhos, tão íngreme era a subida. Ora, mais ou menos a meio caminho do cume havia um caramanchão aprazível, feito pelo Senhor do morro para descanso dos
exaustos viajantes.”
Por um lado eu gostei muito da obra, pois sua linguagem é atual, sua narrativa prende o leitor, tanto o nome dos personagens quanto os diálogos que eles travam
com Cristão são interessantes e, além de tudo, há muita verdade. Por outro lado, chegou a um certo ponto em que a narrativa, pelo menos para mim, tornou-se
cansativa e repetitiva. Além disso, alguns pontos levantados pela história entraram em total desacordo com a Bíblia. Mas, ainda assim foi uma boa experiência
literária, visto que a história de O Peregrino possui uma simplicidade bonita e uma veracidade instigante. Assim sendo, acredito que se trata de um clássico capaz
de agradar a muitos.
http://www.oasisliterario.com/2017/03/resenha-o-peregrino.html
PREFÁCIO
PREFÁCIO
O Peregrino, escrito por John Bunyan, é conhecido como clássico, onde quer que se fale a língua inglesa. É vendido por todos os preços e lido por todas as
classes. Ricamente ilustrado, elegantemente encadernado, ornamenta a biblioteca do rico. Ou simples e rasgado pelo uso, se encontra na prateleira do pobre. As
crianças acham profundo encanto nas suas histórias de perigos e conflitos, de desespero e de vitória. Homens tão ignorantes que mal sabem ler, ficam fascinados
com a sua leitura. E homens instruídos, embora não simpatizem com o seu objetivo religioso, sentem o poder do seu gênio e são levados a admirar as suas
belezas, as suas terríveis criações e sua alta compreensão da natureza humana. Os crentes novos, no início de carreira, o lêem para conforto e incentivo nas lutas;
os veteranos da fé, que ainda permanecem para cá do rio, vêem nele, fielmente retratadas, as dores e as tribulações que já passaram. O Peregrino é um livro
universal - apela para todos os povos, todas as classes e todas as religiões de todos os tempos. E o que excita a nossa admiração é o saber que foi escrito por um
homem sem instrução, descendente de uma tribo
vagabunda, que o escreveu espontaneamente, inconscientemente, sem esforço, como se o fizesse mais para expandir o tumulto de imagens que lhe ia no cérebro.
Mas faltar-nos-ia o tempo, e o espaço não permite discorrer sobre todas as belezas deste livro. Quanto mais o estudamos tanto mais vemos nele o segredo da sua
popularidade que, excetuando a Bíblia, é sem rival entre os livros. Com prazer, pois, o recomendamos a todos os amigos da boa leitura, e é nosso sincero desejo
que alguns dos leitores sejam levados a começar esta mesma jornada do peregrino, e que aqueles que já a começaram, prossigam nela, com coragem e galhardia,
até completarem a peregrinação que Bunyan tão admiravelmente traçou.

Esquema do livro

O PRIMEIRO ESTÁGIO - A deplorável condição de Cristão - Obstinado e Volúvel - O Pântano da Desconfiança - Sábio-Segundo-o-Mundo - Monte Sinai -
Conversa com Evangelista
O SEGUNDO ESTÁGIO - O Portão - conversa com Boa-Vontade - a Casa do Intérprete - Cristão recepcionado - as visões ali lhe mostradas
O TERCEIRO ESTÁGIO - Cristão perde seu fardo na Cruz - Simples, Preguiça, Pressunção, Formalista, Hipocrisia - desfiladeiro da Dificuldade - o palácio
Belo - os leões - fala com Discrição, Piedade, Prudência e Caridade – maravilhas mostradas a Cristão - ele é equipado O QUARTO ESTÁGIO - Vale da
Humilhação - conflito com Apolion - Vale da Sombra da Morte
O QUINTO ESTÁGIO - Discurso com Fiel - Loquaz e Fiel - O caráter de Loquaz
O SEXTO ESTÁGIO - Evangelista alcança Cristão e Fiel - Feira da Vaidade – os Peregrinos são perseguidos - o martírio de Fiel
O SÉTIMO ESTÁGIO - Cristão e Esperança - planície do Alívio - Colina do Lucro - Demas - o Rio da Vida - Vaidade - Gigante Desespero - os Peregrinos
presos - o Calabouço - a Chave da Promessa
O OITAVO ESTÁGIO - As Montanhas das Delícias - recepcionados pelos Pastores
O NONO ESTÁGIO - Cristião e Esperança encontram Ignorância - Volta-Atrás - Pequena-Fé - o Lisonjeador - a rede - castigado por um Ser Brilhante - Ateu -
Esperança fala de sua conversão - discurso de Cristão e Ignorância
O DÉCIMO ESTÁGIO - Conversa de Cristão e Esperança - o apóstata - o país de Beulá - Cristão e Esperança passam o Rio - boas-vindas na Cidade Celestial

Apologia do Autor ao seu Livro Embora outros até neguem tal ato acerbo. Para talvez encontrar? Pois a meu livrete,
Quando, no início, peguei da pena Para ver quem dera o conselho melhor, (Mesmo sem ilustrações que farão
A escrever, mal imaginava a cena, Convinha um teste (dos males o menor). Um ou outro homem tomá-lo na mão)
Que fora compor assim urra livrete. Pensei ainda que, se de fato o negasse Não lhe faltam as coisas mais excelentes
Não, pensava em outro motete, Aos que aplaudiriam tal desenlace, Que se achara em idéias ousadas, mas
Mas, já quase concluído – por quê, não sei, Mais não lhes faria que sonegar só ausentes.
Sem me dar conta, a este me atirei. Uma tão grande alegria; ah, dó! "Bem, rasas ainda não estou plenamente
E assim foi: eu, escrevendo sobre o anelo Aos contrários à publicação convencido
e a corrida dos santos nesta era do evangelho, Disse: "Ofendê-los, isso não". De que este seu livro há de vingar se posto e
Súbito vi-me enredado numa alegoria Mas conto seus irmãos o desejam, lido."
Sobre sua viagem e o caminho à eterna alegria Abstenham-se de jurar, até que o vejam. "Ora, qual o problema?" "É lúgubre. " "E
Em mais de vinte coisas que pus no papel; "Se não queres ler, esquece, moço. daí?"
Isso feito, já mais vinte na cabeça, ao léu, Uns amam a carne, outros o osso" “ Mas soa falso. " “Pois bem sei que por aí
A se multiplicar se atiraram novamente, Sim, para como acalmá-los ter, Alguns forjam versos como tais, macaios,
Como centelha que voa de brasa ardente. Resolvi então com eles debater: Mas fazer reluzir a verdade e brilhar seus
Mas pensei: se vocês se reproduzem tão "Não devo escrever nesse estilo assim? raios."
rápido, Mas sem de vista perder, teu bem, o fim, “Mas querem solidez.” “Dize, homem, o que
Melhor é pô-los de lado, pra que afinal, E com tal método. Por que não ouso? pensas. "
vápidos, Alguns amam a carne, outros o osso. " “Afogaram os fracos; metáforas nos cegam,
Ad infinitum não se multipliquem a corroer Sombrios, claros, se suas gotas de prata tensas.”
O livro em que me debruço a escrever. Fazem escorrer, a terra, nutrindo a nata, Solidez, meu caro, vem de fato à pena
E assim fiz, sem ter ainda idéia distinta A nenhum repreende, mas louva a ambos, Do que escreve coisas divinas, serenas;
De assim exibi-lo a todos, papel e tinta. Acalenta o fruto que juntos geram tantos. Mas será devo eu buscar, procurar solidez,
Só pensava em fazer nem sei quê; Pois ela assim mistura, para que no seu fruto Porque falo em metáforas, rasas com lucidez?
Nem me esforcei, portanto, não vê? Não se distinga um do outro, em bruto. Não firam as leis de Deus, do Evangelho,
Por agradar ao próximo, não, Faminta, a ela bem convém; farta, porém outrora
Pois o fiz para mim mesmo, adulão. Os dois vomita, os abandona sem bem. Expostas por símbolo, vagueza e metáfora?
Nem nada nesses rabiscos despendi "Vede os meios que usa o bom pescador Ora,
Senão tempo vago, horas soltas em si; A pegar o peixe? Que engenho, que lavor? Qualquer homem são a censurá-las reluta
Tampouco quis sendo contornar, por bem, Lança ele mão de toda inteligência, vede? Para que não venha a assaltar, em luta,
Pensamentos piores, que me desviem além. Cercados, linhas, anzóis, ganchos e redes. A sabedoria sublime. Antes, se humilha
Assim, pena ao papel, comprazer tanto, Porém peixes há que nem linha nem anzol E , procura descobrir, por carneiros e
Logo vazei as idéias em preto e branco. Podem pegar, de noite e mesmo à luz do sol. novilhas,
Pois sabendo já o método, todo aceso, Mas a esses só se procura às apalpadelas ov elhas e novilhos, bordados e braseiros,
Arranquei e tudo me veio; e, teso, Ou se não pode pescá-los, ventos sem velas. Pássaros e ervas, e pelo sangue de cordeiros,
escrevi até afinal vir a obra ao lume, “E como planeja o caçador a ave capturar? O que Deus lhe falou; e feliz a raça
Essa grandeza de doce, fino perfume. Modos tantos, tantos que nem vale nomear: Que nessas coisas ache luz e graça.
Ora, quando assim pus o ponto final, Armas, redes, arapucas, luzes e sinos; Não se apresse em concluir, portanto,
Mostrei aos outros, para ver, banal, Rasteja, avança, levanta; apura o tino, Que almejo solidez, sou rude e tanto;
O que diriam; se iriam condenar ou aplaudir. Mas como prever todas as suas posturas? O que é sólido não o demonstra nem lesa;
Alguns: "Viva"; outros: "Morra", a brandir. Pois nenhuma dele fará senhor das alturas. Nem o que vem erra parábolas nos despreza,
Alguns: "Esqueça"; outros: “Publique, John". E assobia, pipila para pegar esta aqui; Para não recebamos levianamente o doloroso,
Alguns: "Não ; outros: "Parece até bom ". Mas se o faz, não perde aquela outra ali? Tam pouco nos prive da alma o gozo.
Via-me numa encruzilhada, e não sabia "Se pérolas no papo do sapo houvesse, Minhas palavras, nublosas, sombrias, retêm
O que de melhor a fazer havia. Congo na concha da ostra, a messe; A verdade, como cofres o ouro contêm.
Afinal pensei: "Como estais divididos, Se coisas que nada prometem contêm Muito usaram de metáforas os profetas
Irei publicá-lo, sem vos dar ouvidos". Melhor coisa que ouro; desdenha acaso quem Para expor a verdade; sim, e se a meta
Pois, pensei, alguns o fariam, percebo, (tendo noção disso) lá olhe com topete É Cristo e seus apóstolos, claramente resulta
Que as verdades até hoje estão, sim, ocultas. Três coisas ouso propor, depois as submeto O que deixa por fazer e o que faz também.
Acaso temo dizer que a divina autoridade, aos que me são melhores, e isso prometo. Ainda te mostra como corre, vivaz,
Que com primor humilha toda sagacidade, 1. Não acho negado me seja usar, isento, Pra chegar ao portão da glória e da paz.
É em todo canto dessas coisas tão plena Esse meu método, pois não violento Mo stra ainda o que, esbaforido, corre à toa,
(sombrios símiles, alegorias), e que à centena palavras, coisas, leitores; nem severo sou Como pura alcançar imperecível coroa.
Brotam do mesmo livro os raios de luz e o Por usar figuração ou símile; mas sim, vou, Aqui vês também porque é que esses moucos
brilho E o quanto puder, escancarado o peito, Desperdiçam tanto esforço e morrem, loucos.
Que transforma mesmo a noite mais escura Elevar a verdade, de um ou doutro jeito. Este livro de ti fará verdadeiro viajante.
em idílio? Negado, disse eu? Não, o direito eu tenho E se por ele te deixares guiar adiante,
Vinde, que quem me censura examine a sua (Exemplo há, também, dos que com empenho Até a Terra Santa te levará, nas monções,
vida, Mais a Deus agradaram cora palavras ou atos Desde que compreendas as suas orientações.
E ali ache palavra mais sombria e descabida, Que qualquer homem que hoje vive de fato) Sim, fará os inertes ativos, rijos,
Que no meu livro não cabe. Sim, e saiba e De assim me expressar, assim declarar a ti E aos cegos, pudera, fará ver prodígios.
core, Coisas as mais excelentes que jamais eu vi. Buscas então algo raro é proveitoso?
Pois nas suas melhores coisas há palavras 2. Creio eu que os homens (altos como Verias verdade num enredo assombroso?
piores. troncos) És acaso esquecido? Lembrar-te-ias
Que nos ergamos diante de homens Escrevera em diálogos, e ninguém, nem os Do ano novo ao final de dezembro, todos os
imparciais; broncos, dias?
E contra um ouso apostar dez, ou mais, Os desprezam por assim escrever. Se, porém, Pois lê minha fantasia, que feito pua penetra,
Que encontrarão sentido, e belo, nessas linhas Violentam a verdade, malditos sejam, e E, tornara, ao desesperado consolo decreta.
latas, também Em palavras tais está este livro escrito,
Bem mais belo que suas mentiras em Os ardis que usem. Mas que livre seja a Que até aos lânguidos desperta o grito.
sacrários de prata. verdade Novidade até parece, mas nada contém, não,
Vem, verdade, mesmo em bandagem rente, Para lançar-se a ti e a mim, como a Deus S enão os fios do Evangelho, sincero e são.
Orienta o juízo, retifica a mente, agrade, Queres acaso te ver livre da melancolia?
Afaga o entendimento, a vontade domina; Pois quem é que sabe, mais que o primeiro Queres prazer, mas longe da louca agonia?
T ambém a lembrança preenche, ensina, Que nos ensinou a arar, saber certeiro, Queres ler enigmas, é sua precisa solução,
Cora aquilo que deleita nossa imaginação; Guiar nossa mente e pena a esse intento? Ou preferes te afogar na tua contemplação?
Enfim, mitiga, peço, a nossa preocupação. Por ele o vil anuncia o divino elemento. Queres a carne? Será não preferes, destarte,
Sensatas palavras deve usar T imóteo, bem 3. Creio que a ordem divina, por este mundo Ver um homem nas nuvens, ouvindo falar-te?
sei, afora, Anseias ver-te num sonho, mas sem dormir?
E recusar as fábulas supersticiosas da grei. Semelha esse método, no qual as causas, sem Ou não preferes a um só tempo chorar é rir?
Mas Paulo, sóbrio, não lhe proíbe jamais mora, Não te atrai a ti mesmo te perderes sem dano?
O uso de parábolas, pois se ocultara nas quais Chamara uma coisa a expor a outra a reboque. Pra depois te achares sem passe sobre-
E sse ouro, essas pérolas e pedras preciosas, Usá-lo posso então, sem que nada sufoque humano?
Que, tanto vale escavar, e com mãos ciosas. Os raios dourados da verdade; possa, antes, Queres tu mesmo ler, sem sequer saber o quê,
Permita-me unta palavra roais, ó homem de Espalhar esse método raios os mais brilhantes. Sabendo porém, por essas linhas mesmas que
Deus! E agora, antes ainda de largar minha pena, lês,
Estás acaso ofendido? Quiseras me Mostrarei o valor do meu livro nessa arena. Se estás ou não abençoado? Ah, vem então,
exprimisse eu Confiarei, ele como a ti, ao zelo ardente E abre meu livro, uma só mente, um só
com palavras, quem sabe, de roupagens Que ergue o fraco e prostra o valente. coração.
outras, Este livro perante teus olhos traceja
Ou fora eu mais explícito nessas coisas O homem que ao prêmio perene almeja;
poucas? Mostra-te para onde ele vai, de onde vem,

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