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Resenha

Héber Asafe Areias Felix

SIMONTON, Ashbel Green. O Diário de Simonton; Organizado por Alderi Souza de


Matos. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. 207p.

Ashbel Green Simonton nasceu em 20 de janeiro de 1833 em WestHanover,


Condado de Dauphin, Pensilvância, nos Estados Unidos. Iniciou os estudos em
Direto, mas foi direcionado para estudar teologia no Seminário de Princeton. Foi
enviado ao Brasil pela Junta de Missões de sua Igreja em 1859, sendo o pioneiro do
presbiterianismo no Brasil. Simonton foi um grande instrumento de Deus e sua vida
e obra estão relatados em seu próprio diário.
O Diario de Simonton é uma obra que compila os escritos contidos no diário
do plantador da Igreja Presbiteriana do Brasil, Ashbel Green Simonton. O conteúdo
deste livro foi organizado pelo Rev. Alderi Souza de Matos e traduzido diretamente
das palavras do missionário americano. A obra é composta por uma introdução
elaborada pelos organizadores, o diário em si e três apêndices finais, contendo
imagens do Rev. Simonton e seu tempo.
A introdução busca situar o leitor no contexto da época do Rev. Simonton,
falando sobre questões históricas, culturais, familiares e outros elementos
vivenciados pelo pastor. A introdução apresenta uma síntese bibliográfica de sua
vida, bem como resume o conteúdo do diário. Essa introdução é importante para a
compreensão de partes, principalmente introdutórias que são difíceis para a
compreensão do momento vivenciado por Simonton. 
O conteúdo do diário em si, segundo os próprios organizadores do livro, pode
ser dividido em três partes. A que vai de 1852 a 1854 que compreende a viagem ao
sul dos Estados Unidos; a segunda parte que está entre 1854-1859 sobre o estudo
do direito, a conversão e a vocação ministerial de Simonton; e, a terceira parte que
narra sobre o trabalho missionário no Brasil, entre 1859 a 1866, com o desfecho da
vida desse importante servo de Deus que serviu à Igreja de Cristo como evangelista
em terras longínquas.
A primeira parte narrada por Simonton em seu diário fala sobre os anos de
sua juventude ainda antes de sua conversão. Embora filho de presbiterianos, cujo
avô foi um ministro evangélico, Simonton ainda buscava viver alguma experiência
que o fizesse encontrar seu lugar no mundo. O primeiro registro em seu diário foi
feito em 5 de novembro de 1852, quando tinha apenas dezenove anos, apenas.
Viajando pelo sul dos EUA, o jovem buscava assinaturas para uma revista
presbiteriana. A viagem foi de grande aprendizado, durando alguns meses, nos
quais pôde descrever traços da cultura local, da vegetação, da fauna, e,
principalmente das pessoas e seu modo de viver naquela região diferente da sua.
Durante esse período Simonton foi convidado a lecionar em uma escola em
Starkville a disciplina de letras clássicas sendo também responsável, durante um
tempo, pela direção da escola.
A segunda parte do livro, com início em 1854, trata sobre os primeiros passos
nos estudos do direito, quando Simonton ainda jovem vive o dilema entre o chamado
ministerial e os estudos acadêmicos. Durante os anos que se seguiram, Simonton
demonstrou um crescente sentimento religioso, indo frequentemente à igrejas e
salões de cultos. Um despertamento espiritual parece ganhar corpo. Dúvidas
começam a surgir no coração de Ashbel com relação à sua salvação, até o
momento no qual ele deposita plenamente em Cristo sua confiança, por volta do
anos de 1855. Nesse mesmo ano, já no seminário, Simonton registrou em 14 de
outubro, depois de ouvir um sermão do Dr. Charles Hodge sobre a evangelização
aos pagãos, que entendia que a vontade de Deus é que partisse para outras nações
a fim de proclamar o Evangelho. Durante esse tempo surgiu o desejo de servir no
Brasil como pioneiro.
A terceira parte da obra aborda o tempo no qual Simonton serviu no Brasil.
Entre 1856 e o início de 1859 não foram feitos muitos relatos no diário. Em 1858 foi
ele escreveu formalmente à junta de missões estrangeiras da igreja do norte dos
Estados Unidos, candidatando-se como missionário. Em 13 de dezembro daquele
ano foi recebido para o serviço no Brasil. Em 28 de junho de 1859 o missionário
embarcou para o Brasil, aportando no Rio de Janeiro alguns meses depois, em 12
de agosto de 1859, data histórica para a Igreja Presbiteriana do Brasil. O pioneiro
descreveu, naquele dia, a beleza e os encantos da cidade. Durante seu primeiro ano
em terras brasileiras Simonton registrou suas primeiras experiências com o
aprendizado da língua, com a pregação.O diário conta também as experiências do
plantador quando em uma viagem de volta à sua terra natal conheceu a jovem Helen
Murdoch, com a qual se casou e regressou ao Brasil. O casal teve uma filhinha.
Infelizmente a esposa de Simonton faleceu por complicações do parto em 1863.
Esse foi um duro golpe para ele.
Nos anos que se seguiram, o pioneiro trabalhou intensamente em solo
brasileiro, principalmente entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Em 1962 foi
organizada a igreja do Rio. Anos depois, com a chegada de seu cunhado Alexander
Blackford e outros missionários foram organizadas as igrejas de São Paulo e Brotas.
Naquele momento houve a possibilidade para a organização do primeiro presbitério,
em 1865. Simonton foi um missionário ativo e visionário, fundando um seminário
para preparação de líderes locais, que foi denominado de seminário primitivo. O
missionário teve influência também na ordenação do primeiro pastor protestante
brasileiro, José Manoel da Conceição. Simonton viveu até 1867, falecendo ainda
jovem, com apenas 36 anos de idade, deixando um legado precioso para a IPB.
Esta obra tem um valor inestimável para a Igreja Presbiteriana do Brasil.
Obviamente é importante observar o gênero literário no qual foi escrito, visto que é
um diário pessoal. O autor não tinha a intenção de que fosse publicado como livro, já
que continha informações pessoais. Mas a forma como foi trabalhada pelos
organizadores dá ao leitor a sensação de uma boa leitura, instrutiva e proveitosa. A
obra, portanto, é recomendada a todos aqueles que querem adquirir uma maior
compreensão da vida e da obra do pioneiro do presbiterianismo no Brasil.

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