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(Tugrul Kurt)
Os theosebeís: etimologia
Os theosebeís apareceram primeiramente no período
Inscrições com os nomes dos
helenista; eram membros da crença do “Theós Hýpsistos”, theosebeís em Afrodísias
que era uma manifestação do monoteísmo pagão
fortemente prevalente na região do Mediterrâneo. O termo
theosebés significa “temente a Deus”. Há outros termos
que descrevem os theosebeís; phoboúmenoi e sebómenoi
em grego e metuentes (Deum) em latim. Além disso, a
cultura helenista não incluía somente as línguas grega e
latina, mas também era prevalente nos territórios
islâmicos em expansão. Há um elo óbvio entre o termo
siríaco hanpa ou hanputo, que também exprime, num
sentido amplo, “tementes a Deus”, e o termo alcorânico
hanîf. O termo não aparece no Novo Testamento como
theosebeís, (Atos 10: 2, 22, 35; 13, 16, 26), mas antes como
phoboúmenoi (“temer”/ “adorar” a Deus) e sebómenoi tòn
Theón (“adorar” a Deus).
De acordo com David Novak, os termos
phoboúmenoi e sebómenoi eram usados para exprimir ger
toshav no contexto rabínico (Proselytism in the Talmudic
Period [Proselitismo no Período Talmúdico], 137). Ger
toshav era usado para exprimir os gentios (pagãos) que observavam a Lei Noáquica,
rejeitavam a idolatria e adoravam com os judeus nas sinagogas, mas não se transformavam
ou se fundiam (convertiam) ao judaísmo (“O termo yirei Shamayim (tementes aos Céus) é
o equivalente rabínico a ‘tementes a Deus.’” In: Gottesfürchtige und Sympathisanten
[Tementes a Deus e Simpatizantes], 122). Assim os theosebeís têm uma relação profunda
com os judeus (The Image of the Non-Jew in Judaism: The Idea of Noahide Law [A
Imagem do Não Judeu no Judaísmo: A Ideia de Lei Noáquica], 28) e exerceu um papel
central no missionário judeu. A ideia comum de não judeus sobre o judaísmo é
erroneamente dominada pela crença de que é uma religião não missionária. Muito pelo
contrário na realidade, especialmente na Antiguidade, em que os judeus iam para missões.
Os eruditos chamam este fenômeno de proselitismo. (“Um movimento proselitista de tal
escopo, se pudermos julgar por movimentos paralelos no crescimento do cristianismo e
do Islã, por exemplo, pareceria necessariamente implicar na existência de simpatizantes
que tentariam fazer um sincretismo da religião velha com a nova.” (Veja The
Omnipresence of the God-Fearers [A Onipresença dos Tementes a Deus], de Feldman)
Também a evidência arqueológica encontrada na Ásia Menor, tal como inscrições,
apontam o nome de theosebeís: “theosebeís estão listados separadamente dos judeus; e
embora não todos os judeus da lista têm nomes judaicos, a maioria deles têm.” É
interessante que os nomes depois da expressão “kai hósoi theosebeís” são todos theosebeís.
Na verdade, os theosebeís, em contraste com os prosélitos, converteram-se somente
parcialmente à crença judaica, e como tais eram considerados impuros. Mas várias
evidências arqueológicas mostram que os theosebeís poderiam entrar na sinagoga e
participar nos serviços religiosos, o que indica o alto status econômico e social dos
theosebeís dentro da comunidade judaica.
A visão alcorânica
Os versículos alcorânicos
fornecem a cronologia dos hunafâ'
(tementes a Deus). De acordo com as
evidências arqueológicas e históricas,
podemos assumir que os theosebeís
apareceram pela primeira vez entre os
judeus da Diáspora, depois entre o
cristianismo gentio como os primeiros
destinatários de Paulo e, por último
mas não menos importante, na era
mequense durante o início do Islã. É
importante que se veja que o primeiro
período do Islã (em Meca) o Alcorão e
o Profeta (s.a.w.s.) quase aceitaram os
hunafâ' como uma comunidade
separada e seguidores de uma religião independente. Alguns exemplos do Alcorão
sustentarão a relação entre os theosebeís e os hunafâ': os versos mequenses elogiam os
hunafâ' (theosebeís). “E direcione sua face à Religião com um hanîf e nunca seja dos
associadores.”[1] Ademais, nos versículos medinenses os hunafâ' são referidos como parte
dos muçulmanos. “Abraão jamais foi judeu ou cristão; foi, outrossim, inclinado à
verdade, muçulmano [muslim: submisso a Deus], e nunca se contou entre os idólatras.”
[2] Isto nos permitirá argumentar que os theosebeís (hunafâ') eram componentes básicos e
uma das pedras angulares do Islã.
Os tementes a Deus exerceram um papel-chave semelhante no Islã primitivo tal
como os theosebeís para o cristianismo. Paulo incluiu os semimonoteístas na sua
mensagem. Semelhantemente, o Alcorão como um primeiro passo inclui os hunafâ' ao Islã.
Os theosebeís/hunafâ' estavam construindo pontes entre os seguidores duma religião
monoteísta (com os judeus e cristãos) e a nascente comunidade muçulmana; isto então
ajudou ao Profeta Muhammad (s.a.w.s.) a se reunirem sob uma nova religião.
Conclusão
Começando no período helenista, os “tementes a Deus” aparecem como um dos
membros do monoteísmo pagão tal como a seita do Theós Hýpsistos. Os “tementes a Deus”
são gentios atraídos pelo judaísmo, mas evitaram de se tornarem prosélitos. Assim, eram
pagãos que criam no monoteísmo, seguiam a maior parte da Lei Judaica e existiram até a
Antiguidade tardia entre os cristãos. Seguiam as principais regras da doutrina cristã. Logo,
eram judeus não judeus [não de sangue, mas só de religião] por um lado e não cristãos por
outro lado, entre pagãos. Parece um paradoxo, mas encontramos descrições semelhantes
em fontes islâmicas. O Alcorão afirma: “Abraão jamais foi judeu ou cristão; foi,
outrossim, inclinado à verdade, muçulmano [muslim: submisso a Deus], e nunca se
contou entre os idólatras.” No entanto, não é claro e comprovado que os “tementes a
Deus” eram os chamados hunafâ', mas o fato é que os theosebeís existiram e exerceram
uma parte importante na difusão do cristianismo gentio através da Ásia Menor na
Antiguidade tardia. Sobretudo, os tementes a Deus, no período islâmico os hunafâ',
estavam construindo pontes entre todos os grupos monoteístas.
No contexto islâmico, Abraão (a.s.) exerce um papel-chave como a manifestação da
crença monoteísta. Neste contexto, o Alcorão põe uma ênfase especial nos hunafâ'
(tementes a Deus) como um grupo monoteísta. Nas fontes islâmicas, o Profeta Muhammad
(s.a.w.s.) é mostrado como o legítimo destinatário do monoteísmo abraâmico.
Considerando todos esses pontos, seria de especial interesse para o judaísmo, o
cristianismo e o Islã revelar o contexto histórico dos hunafâ' para se entender a tradição e
legado monoteísta.
Fonte: https://themaydan.com/2017/07/hanifs-theosebes-god-fearers-common-link-
judaism-christianity-islam-historical-quranic-context/