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30/12/2019 Arbítrio, Onisciência e a Teoria do Caos - Ciência | Intérprete Nefita

Arbítrio, Onisciência e a Teoria


do Caos
Entendendo a matemática utilizada por Deus na construção do
universo e realidade.

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Por Luiz Botelho 05 de Agosto de 2018

Imagine que certa manhã, após se preparar para mais um dia de trabalho, você
perceba que perdeu a chave de seu carro. Após uma busca sem sucesso, você
decide fazer uma oração, na esperança que o Senhor o ajude a encontrar o item
tão necessário. Minutos depois, você se lembra aonde havia deixado a chave e
em humildade agradece a Deus pela singela ajuda. Já passou por uma situação
parecida?

Se sua resposta for positiva, você provavelmente vivenciou um dos paradoxos


teológicos e filosóficos mais complexos existentes. De que forma? A
complexidade da questão reside em dois conceitos que quando analisados além
da superfície possuem implicações difíceis de serem compreendidas. 

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A Onisciência de Deus

Um dos fundamentos mais básicos e pouco questionados no Cristianismo no


geral é a ideia de que cremos em um Deus onisciente; que conhece todas as
coisas, estejam elas no passado, presente ou futuro. As escrituras são inequívocas
sobre o assunto ao declarar que o Senhor é "Aquele que conhece todas as coisas,
porque todas as coisas estão presentes diante de seus olhos..."[1] sendo a
verdade "o conhecimento das coisas como são, como foram e como serão..."[2].

O problema filosófico debatido por milhares de anos consiste na ideia de que a


crença no conceito de onisciência desenvolve um conflito direto com a ideia da
existência do arbítrio. Se Deus conhece o fim desde o início, que diferença nossas
ações teriam além de duplicar aquilo que já estava determinado a acontecer? 

Voltemos, por hora, ao exemplo de sua chave perdida. Sendo Deus onisciente,
pode-se dizer que ele já sabia que você perderia a sua chave e poderia
igualmente e com antecedência saber se a encontraria ou não. Se tal resultado já
estivesse determinado na mente de Deus e sua capacidade de olhar o futuro,
faria diferença orar por intervenção divina a fim de que você encontre sua chave?
A oração nesse caso é proferida devido a nossa premissa inicial de que Deus é
capaz de agir para interferir na realidade a fim de tornar real algo que não teria
acontecido caso não tivéssemos orado. Compreende onde o paradoxo começa a
surgir?

Se Deus conhece o futuro, poderíamos dizer que Ele já sabe quem será salvo ou
não? A crença em um conhecimento absoluto de todas as coisas sugere que sim.
Nesse caso, para aquelas pessoas cuja visão futura de Deus sugere o fracasso na
exaltação, nenhum esforço será suficiente, porque Deus já viu o resultado. Se
Deus pode olhar seu futuro e ver que se formará em Medicina, possuiria você a
capacidade de alterar essa escolha para um curso de Direito? Se analisarmos pela
ótica da onisciência eterna de Deus a resposta é não, pois ele já viu que seu
futuro seria medicina. Se analisarmos pela ótica do livre arbítrio, a resposta é sim,
pois a decisão de que ramo de estudo seguir é unica e exclusivamente sua. 

A capacidade de alterar sua decisão, implicaria que a onisciência de Deus não é


absoluta. A capacidade de Deus de ver o futuro eterno de todas as coisas, por
outro lado, implicaria que todos nós estamos presos a uma sequência de eventos
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e escolhas que não podem ser diferentes, criando a ideia da existência de um


destino, algo que o Evangelho explicitamente declara ser falso.

"Se Deus possui um conhecimento absoluto prévio de toda a eternidade, então


nem mesmo Ele poderia alterar o futuro, porque fazê-lo seria falsificar seu
conhecimento anterior, e dessa forma tal informação não seria mais verdadeira."
[3] 

Como resolver tal problema paradoxal? A resposta parece estar em um conceito


matemático conhecido como a Teoria do Caos.

Onisciência e a Teoria do Caos

A Teoria do Caos é um conceito matemático que afirma que sistemas complexos


são definidos em sua maior parte por condições iniciais e que em meio ao caos
presente em sistemas complexos, existem padrões, constantes, variáveis e
diversos fatores iniciais, que quando alterados na menor das escalas, produziria
um resultado drasticamente diferente. [4]

Um dos pontos mais conhecidos nessa teoria é o chamado Efeito Borboleta, um


exemplo metafórico relacionado a Teoria do Caos que afirma que o bater de asas
de uma borboleta é capaz de iniciar uma série de eventos que em anos
culminarão em um furacão do outro lado do mundo. 

Provavelmente todos nós somos capazes de enxergar grandes eventos que


aconteceram em nossas vidas unicamente porque muito antes uma pequena
escolha desencadeou uma sequência de acontecimentos que conduziram a tal
grande evento. Se 13 anos atrás eu não tivesse decidido estudar o colegial no
período noturno, não teria conhecido os amigos que me apresentaram o
Evangelho e não teria servido uma missão. Sem servir em minha missão, não
teria conhecido a amiga que me apresentou minha ex-esposa, não teria me
mudado para os Estados Unidos e nem teria minha pequena filha Elisa e uma
série de outros fatores em minha vida atual. Tudo por causa de uma decisão tão
pequena como o "bater de asas de uma borboleta."

A relevância da Teoria do Caos no grande esquema de eventos do Evangelho e


onisciência de Deus parece estar delineada em um entendimento potencial, ao
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invés de absoluto de tal onisciência. Talvez a onisciência de Deus seja reflexo de


Seu conhecimento de todas as variáveis iniciais, e não do resultado final. 

Talvez a história do universo seja escrita e tenha seu final modificado a cada
esquina e a cada escolha, sendo Deus capaz de ver ou prever todas as sequências
de eventos possíveis dentro de cada ato ou evento escolhido conscientemente ou
por mero acaso. Nesse caso, diferente de um filme cujo final já está determinado,
o elemento "arbítrio" age como um modificador imprevisível, produzindo um final
diferente para o "filme" a cada escolha tomada. 

Conclusão

Dessa forma, é possível preservar a crença em um Deus onisciente, adotando


uma perspectiva potencial absoluta ao invés de apenas absoluta. Nesse cenário,
Deus pode ver o futuro em momento X, mas tal futuro muda a cada escolha de
sua criação, podendo ele ser diferente se o Senhor acessasse o mesmo futuro em
momento Y.

Como o físico teórico Paul Adrien Maurice Dirac afirmou, "Deus é um matemático
de uma ordem muito alta e Ele utilizou matemática avançada na construção do
universo."[5]

No campo da física, um determinado momento está associado a existência de


um local e um tempo. Desse princípio surgiu o conceito de "espaço-tempo",
sendo cada momento registrado em um ponto específico do espaço no universo
e um tempo específico da eternidade. Se Deus habita fora do espaço-tempo, é
absolutamente plausível como ele é capaz de acessar qualquer ponto da
dimensão do espaço e cruzá-lo a qualquer ponto da dimensão do tempo.

Em um mundo que retrata Deus como um mero ilusionista, capaz de tirar


coelhos de uma cartola sem uma explicação minimamente razoável de como seu
poder funciona, fico maravilhado em contemplar a criação e perceber que a ideia
de um Deus cientista e matemático é muito mais sensata e coerente. Tal
conhecimento nos relembra que cada página de nosso futuro é escrita em cada
pequena decisão, aqui e agora como o bater de asas de uma borboleta. 

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