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Recensão Crítica

Artigo: "Alexandre 'O Grande' e a informação para o planejamento


estratégico"

Autor: Ricardo Crisafulli Rodrigues

Ano: 2007

UNIVERSIDADE ABERTA

Pós-graduação em Ciências da Informação

Planeamento Estratégico de Serviços de Informação

Docente: Ana Isabel Novo

Discente: Carla Torres Moreira

Fevereiro de 2021
Nota biográfica do autor
Ricardo Crisafulli Rodrigues é doutor em Ciência da Informação
(2011), pela Universidade de Brasília (UnB), Brasil. Realizou o
mestrado em Fotografia na “Scuola per la Fotografia di Moda” (1992),
Florença, Itália. Possui formação em Biblioteconomia pela
Universidade de Brasília (1979), com especialização em
Administração de Sistemas de Informação pela Universidade Católica
de Brasília (1981). Tem experiência nas áreas de Ciências da
Informação (com ênfase em Administração de Sistemas de
Informação e “Comutação” Bibliográfica) e de Fotografia e Imagem. É
consultor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia (Ibict) do Brasil e Professor da Universidade de Brasília.
Atualmente é presidente da Associação dos Bibliotecários do Distrito
Federal - ABDF e membro do Comité Permanente da Secção para a
América Latina e Caraíbas da Federação Internacional de Associações
e Instituições Bibliotecárias (IFLA).

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Resumo do conteúdo do artigo
O artigo “Alexandre 'O Grande' e a informação para o
planejamento estratégico”, da autoria de Ricardo Crisafulli Rodrigues,
apresenta uma peculiar abordagem que parte da análise das atuações
de uma figura relevante da História Mundial, como estudo de caso de
sucesso, e remete para o contexto atual no âmbito dos conceitos na
área da Gestão. O autor apresenta uma analogia entre a prática,
perante a atuação em contexto militar do rei da Macedónia –
Alexandre, “O Grande”, e a questão teórica relativa aos quatro
princípios fundamentais da Gestão, designadamente: planeamento;
organização; liderança; e controlo. Através de uma viagem histórica
revelam-se as qualidades de um líder que ainda hoje permanecem e
identificam as principais áreas de gestão, que conduzem a grandes
sucessos. Tal como o próprio título sugere destaca-se, neste artigo, a
importância da informação, tendo por base a sua aquisição, gestão e
uso para a concretização dos objetivos de qualquer entidade, no que
concerne ao seu planeamento estratégico.

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Análise crítica
Ricardo Rodrigues, no seu artigo “Alexandre 'O Grande' e a
informação para o planejamento estratégico”, recua ao século IV a.C.
e às conquistas do rei e militar da Macedónia, para evidenciar as
características de um líder, que ainda hoje é estudado como exemplo
de gestão. O autor estabelece uma dicotomia, bem conseguida, entre
o passado e o presente no entendimento do planeamento estratégico,
tendo por base as ações que levaram ao sucesso do rei Alexandre,
aquando das suas conquistas. Consideramos que, em paralelismo
com a problemática do planeamento estratégico de serviços de
informação, poderemos enquadrar os conceitos e as análises
realizadas considerando alguns estudos de caso referentes a
serviços/unidades de informação, nomeadamente em bibliotecas.

Para o desenvolvimento do artigo, Rodrigues segue o


entendimento geral do conceito de gestão, à semelhança do de
Maçães (2014) que refere a gestão como “o processo de coordenar as
atividades dos membros de uma organização, através do
planeamento, organização, direção e controlo dos recursos
organizacionais, de forma a atingir, de forma eficaz e eficiente, os
objetivos estabelecidos”. Numa análise histórica, Rodrigues refere a
importância de civilizações que, há mais de cinco mil anos,
evidenciavam “eficientes sistemas administrativos que utilizavam os
princípios de uma boa administração”. Decorrente desta perceção o
autor destaca e desenvolve os quatro princípios fundamentais da
gestão: planear, organizar, liderar e controlar, sublinhando a
simultaneidade que ocorre entre estas ações no processo decorrente
de uma entidade. São assim exploradas no artigo estas ideias
fundamentais da gestão, em analogia com as ações do rei Alexandre.
No contexto de serviços de informação poderemos remeter os
mesmos princípios, destacando o planeamento e a definição de
políticas, através de estratégias concertadas com a tutela, a gestão

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dos recursos da biblioteca, a promoção e o desenvolvimento de redes
com organizações, a motivação de equipas de trabalho, a gestão de
mudanças e o estabelecimento de planos de comunicação e
divulgação, entre outras respeitantes à definição estratégica da
entidade. Segundo Koontz e Gubbin (2013) salientamos que “Ao
definir políticas relativas ao papel e à missão da biblioteca pública,
devem ser privilegiados os serviços prestados.” (p. 20).

Considerando o planeamento como a função inicial, e


primordial, ao nível da gestão, porquanto permite a determinação e
estabelecimento dos objetivos e meios para os alcançar, bem como
das estratégias e ações a desenvolver, o autor ressalva que se devem
“considerar fatores, como ambientes internos e externos, informação
e comunicação, políticas, propaganda, métodos, recursos humanos e
materiais, e lideranças”, como forma de se estabelecerem planos de
curto, médio e longo prazo, bem como planos estratégicos e
operacionais. No contexto do rei Alexandre são consideradas as
situações de carácter pessoal que lhe permitiram estabelecer ações
abrangentes de âmbito político, material e humano, e que o
enquadraram num contexto de longo prazo, no planeamento e gestão
estratégica. Este entendimento encontra-se corroborado também pela
definição de gestão estratégica de Maçães como “um conjunto de
decisões e ações que determinam o desempenho a longo prazo de
uma organização”, ressalvando que o seu estudo “enfatiza a
avaliação e a monitorização da envolvente externa e interna com o
objetivo de aproveitar as oportunidades, defender-se das ameaças
(…) e potenciar os recursos e capacidades da organização”, e
sublinhando que o processo deverá englobar a “definição da missão
da organização, a formulação e implementação da estratégia e a
avaliação e controlo dos resultados.” (2014). Assumindo a
importância da informação e comunicação no planeamento
estratégico, Rodrigues cita as pertinentes abordagens de

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Schermerhorn relativamente à gestão em que “os pilares da
administração estão intrinsecamente ligados à informação ou aos
dados que se tornem úteis para a tomada de decisão” acrescentando
que a “informação inteligente é necessária para lidar de maneira
efetiva com grupos externos”. Consideramos que de facto uma boa
gestão da informação irá permitir um maior e melhor planeamento e
promover estratégias mais adequadas e orientadas para uma
entidade. No contexto das bibliotecas, como indicam Koontz e Gubbin
(2013), “Os gestores da biblioteca devem estar a par dos
desenvolvimentos dentro e fora do âmbito da biblioteconomia, que
possam ter impacto no desenvolvimento do serviço. Devem dedicar
algum tempo à leitura e ao estudo para poderem antecipar o efeito
das mudanças, especialmente as tecnológicas, na futura configuração
do serviço” (p.79). Destacamos a pertinente abordagem, realizada
pelo autor, relativa ao “serviço de inteligência” do rei Alexandre,
constituído por inúmeros especialistas de diversas áreas e que lhe
permitiram aceder à toda uma vasta informação técnica para delinear
de forma adequada os seus planos e desencadear as ações
necessárias para a prossecução dos objetivos. Acrescendo também o
facto de o exército da Macedónia possuir uma configuração
hierárquica eficaz, com uma cadeia de comando pequena, que
permitiu uma comunicação eficiente entre todos os elementos e
alcançar os planos previstos com sucesso. Avocando a estratégia
como via fundamental para conseguir atingir os objetivos de um
plano, Rodrigues destaca o papel do rei Alexandre ao assumir
estratégias, através de planos operacionais de curto prazo,
minuciosamente traçados, que se tornaram essenciais para o êxito
das batalhas, e que lhe permitiram alcançar a formação de um
grandioso império. Afigura-se, deste modo, a relevância do processo
de gestão estratégica como “sequência de cinco etapas, que inclui o
diagnóstico da situação atual, a análise estratégica, a formulação da
estratégia, a implementação da estratégia e a avaliação e controlo

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dos resultados” (Maçães, 2014). No último ponto referente ao
planeamento, o autor do artigo aporta a tecnologia enquanto
“combinação de equipamentos, conhecimento e métodos que permite
que uma organização possa produzir resultados”. Consideramos que
esta inclusão da tecnologia enquanto conhecimento permite, de modo
eficiente, assinalar os recursos existentes e potencia-los ou introduzir
novos recursos que estimulem a consecução dos objetivos previstos,
através de um efetivo planeamento estratégico. Reportando ao
contexto dos serviços de informação assinalamos os instrumentos de
gestão referidos por Koontz e Gubbin (2013) “- análise do meio
envolvente/ - análise das necessidades da comunidade/ -
monitorização e avaliação/ - aferição de desempenho” (p.79).

Outra etapa relevante da gestão é a da organização, que irá


permitir a concretização dos planos previstos através da articulação
das ações e funções de cada elemento de uma instituição. Rodrigues
revela o senso de organização do rei Alexandre no respeitante ao seu
exército, e à sua estruturação e definição das tarefas, assinalando
que “A interação entre os diversos segmentos do exército foi outro
grande trunfo dos macedônios”. Maçães destaca a importância da
estrutura organizacional uma vez que é o “meio pelo qual os gestores
dividem, agrupam, coordenam as tarefas de modo que a organização
funcione e atinja os objetivos pretendidos” (2014). No caso das
bibliotecas destaca-se nesta etapa o papel do gestor da biblioteca que
deve garantir a adoção de diversos sistemas apropriados, como, por
exemplo, o controlo gestão financeira e utilizar eficazmente os seus
recursos. É neste sentido que a organização está associada à decisão,
sendo essencial o estabelecimento de uma hierarquia de tomada de
decisão, e de identificação das tarefas, por departamentos, e das
funções desenvolvidas por cada colaborador da instituição. Destaca-
se ao nível da gestão organizacional a área operacional da logística,
que Rodrigues remete para o departamento que trata do

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planeamento e da concretização das atividades de projeto,
desenvolvimento, aquisição, armazenamento, transporte, distribuição
e manutenção de material para fins administrativos ou de operação,
incluindo o pessoal e as instalações físicas. Neste sentido o autor
evidencia a excecional organização logística do exército macedónio,
referindo que “Todas as questões logísticas eram centralizadas de
modo a tornar a sua compreensão bem clara e objetiva”. Em todas as
movimentações do exército era acautelado, por vezes
antecipadamente, o carregamento de materiais e suprimentos, que
permitiram o avanço do exército e conduziram ao sucesso das suas
batalhas. Numa perspetiva mais contemporânea poderemos
relacionar esta área à gestão de operações que Maçães destaca como
a função central de qualquer organização uma vez que “contribui
significativamente para o alcance dos objetivos da organização e para
a manutenção das vantagens competitivas” (2014). Numa analogia
com as bibliotecas poderemos destacar as operações internas que,
por exemplo, permitam o acesso a serviços e recursos prestados à
comunidade.

Relativamente à área da liderança e recursos humanos, o autor


do artigo destaca a gestão dos recursos humanos reportando-se ao
soldado macedónio e à importância da valorização e da criação de um
“espírito de profissionalismo” que revelaram ser determinantes para a
conduta de todo o exército. A valorização dos recursos humanos é
cada vez mais assumida pelas organizações porquanto se assumem
como uma valorização para a prossecução e alcance dos seus
objetivos, assegurando a eficácia da organização. Ao nível da
liderança Rodrigues destaca a capacidade do rei Alexandre para
motivar e liderar, bem como a confiança que depositava nos seus
subordinados o que levava a um desempenho extraordinário de todo
o exército, mesmo em situações difíceis. Ao nível da gestão, afigura-
se a importância de distinguir um líder de um gestor, tal como refere

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Maçães “Um líder deve ser um bom comunicador e ser capaz de
influenciar, motivar e inspirar os outros. O gestor assegura que os
objetivos são atingidos, através de planos, orçamentos, aplicações de
recursos, organização, resolução de problemas e controlo de
objetivos” (2014). Importa no contexto atual e no destaque atribuído
ao papel do gestor considerar as suas competências para liderar no
sentido de motivar os seus recursos humanos no alcance dos
objetivos da entidade. Ainda nesta área, temos a considerar o
empreendedorismo, que Rodrigues remete para a tomada de decisões
rápidas, antecipação de problemas e o assumir de riscos que
permitiram ao rei da Macedónia os inúmeros êxitos nas suas
batalhas.

Por fim, destaca-se o controlo enquanto “função de gestão que


consiste em monitorizar as atividades e assegurar que estão a ser
executadas conforme planeado, bem como encontrar e explicar as
diferenças entre o planeado e o realizado (análise dos desvios) e
desencadear as ações corretivas necessárias para manter ou
melhorar o desempenho.” (Maçães, 2014). Rodrigues ressalva a
importância desta etapa ocorrer nas anteriormente descritas,
referindo que as ações do rei eram realizadas com base num contínuo
controlo que lhe permitiu inclusivamente a alteração de planos e que
resultou na prossecução e manutenção das suas conquistas e do seu
império. É também neste ponto que o autor destaca um dos poucos
erros que o rei Alexandre cometeu, uma vez que não assegurou a
continuidade do seu percurso por um sucessor, o que resultou,
aquando da sua morte prematura, na dissolução de todo o território
conquistado. Num ponto de vista organizacional consideramos
essencial o assegurar da continuidade de uma entidade, tendo em
conta as etapas descritas e no sentido de uma procura ativa e
estabelecimentos de redes e parcerias que potenciem o seu
desenvolvimento.

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