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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

28ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DA CAPITAL


PROMOTORIA DA DEFESA DO MEIO AMBIENTE

Excelentíssimo Promotor de Justiça do Meio Ambiente


Dr. Rogério Ponzi Seligman

O COMITÊ GESTOR DO PARQUE LINEAR DO CÓRREGO

GRANDE - PLCG, pessoa jurídica de direito público, composto pelas

Associações de Moradores localizadas ao longo do Rio Córrego Grande e órgãos

públicos afins e o FÓRUM DA BACIA DO ITACORUBI, entidade composta

por Associações de Moradores da Bacia do Itacorubi; vêm, mui

respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por intermédio da

advogada, representante da OAB junto ao Comitê Gestor do Parque Linear do

Córrego Grande (Decreto 19.240/2018 – ao final), apresentar

REPRESENTAÇÃO ADMINISTRATIVA em face do

MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS, pessoa jurídica de direito

público, inscrito no CNPJ sob o nº 82.892.282/0001-43, representado na

pessoa do Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral, Dr. UBIRACI FARIAS,

com endereço na Rua Conselheiro Mafra, nº 656, 7º andar, Bairro Centro,

Florianópolis/SC, CEP nº 88.010-914, telefone (48) 3251.6903.


I – DO OBJETO DA REPRESENTAÇÃO

A presente Representação Administrativa tem por objeto provocar o


Ministério Público de Santa Catarina – MPSC, por intermédio da Promotoria
de Justiça de Defesa do Meio Ambiente da Capital, a instaurar o Inquérito
Civil Público, com vistas a apurar a legalidade da desafetação e venda de
área da Prefeitura de Florianópolis, definida inicialmente como ACI (uso
previsto para edificação de equipamentos comunitários), área com atributos
ambientais que não permitem parcelamento, edificações, aterros e quaisquer
outras obras; e com vocação para sua incorporação à poligonal do Parque
Linear Urbano do Córrego Grande – PLCG.

II - BREVE HISTÓRICO DOS FATOS

1. O Fórum da Bacia do Itacorubi, instância que congrega Associações


Comunitárias da Bacia do Itacorubi e atua na condução de assuntos de interesse
comum das entidades que representa, e o Comitê Gestor do Parque Linear do
Córrego Grande - PLCG constituído por representantes de instituições públicas,
da iniciativa privada, da comunidade científica e de usuários, através de entidades
da sociedade civil organizada; tomaram conhecimento da DESAFETAÇÃO
de imóvel pertencente a Prefeitura Municipal de Florianópolis - PMF,
localizado na Rua Acelon Eduardo da Silva, s/nº, imóvel 13 do
Loteamento Lira Tênis Clube, com inscrição imobiliária nº
5248005.1443.001-007.
2. A desafetação está prevista no Projeto de Lei - PL nº 18.171/2021,
aprovado pela Câmara Municipal de Florianópolis, o qual autoriza a PMF
a desafetar e alienar imóveis públicos.
3. O referido imóvel é um terreno de 2.589,33 m² (dois mil,
quinhentos e oitenta e nove vírgula trinta e três metros quadrados),
oriundo do parcelamento do solo do Loteamento Lira Tênis Clube e doado
ao Município de Florianópolis como Área Comunitária Institucional - ACI,
com uso previsto para edificação de equipamentos comunitários como
creches, escolas, postos de saúde entre outros.

Vejamos as imagens do Projeto do Loteamento aprovado em 28/04/2003:

4. Apesar desta área ter sido considerada como ACI – Área


Comunitária Institucional, no Mapa de Microzoneamento do Plano Diretor
de 2014 e Geoprocessamento da PMF consta como ARP 2.5 - Área
Residencial Predominante, permitindo edificação de 02 andares e Taxa de
Ocupação de até 50%.

5. Entretanto, o terreno em análise possui condicionantes ambientais


relativas à declividade (superior a 25°) e a vegetação nativa (Floresta
Ombrófila Densa) em estágio avançado de regeneração, que não permitem
parcelamento de solo, edificações, aterros e quaisquer outras obras, em
conformidade com o art. 88, inciso IV do Plano Diretor de Florianópolis
(Lei Complementar nº 482/2014), vejamos os mapas a seguir:
6. Ademais, o referido imóvel foi avaliado (valor de mercado) em R$
1.700.000,00 (um milhão e setecentos mil reais), considerando, apenas as
características do imóvel, sua localização e todos os elementos que
interferem na sua valorização ou desvalorização do valor de mercado,
desconsiderando suas características ambientais.
(...)

7. Consta no Projeto de Lei 18.171/2021 que o imóvel em análise é


de propriedade da Autarquia de Melhoramento da Capital – COMCAP,
que não existe interesse público primário ou secundário (aqui entendido
como aquele que alcança o interesse da coletividade) e que há interesse do
Município em ter autorização para desafetar e alienar os imóveis descritos
no referido Projeto de Lei.
8. Por fim, informamos que este imóvel cujo zoneamento era ACI é
lindeiro à poligonal do Parque Linear do Córrego Grande, criado pela Lei
Municipal nº 9.455, de 23 de janeiro de 2014, e, diante das condicionantes
ambientais do terreno, entende-se que sua vocação é ser incorporado à
poligonal deste Parque Urbano, para obtermos a preservação da vegetação
nativa (Floresta Ombrófila Densa) em estágio avançado de regeneração, a
manutenção e reforço do corredor ecológico entre as Unidades de
Conservação do Parque Natural Municipal do Maciço da Costeira e do
Parque Natural Municipal do Manguezal do Itacorubi.

Vejamos a imagem da área da PMF que é lindeira a poligonal do


Parque Linear (em verde):
III – DO IMPEDIMENTO LEGAL PARA INTERVENÇÕES NO
IMÓVEL

9. Inicialmente importante destacar que, segundo o Decreto nº


17.926/2017 que regulamenta a Lei nº 9.455/2014, que cria o Parque Linear
do Córrego Grande, compete ao Comitê Gestor como órgão consultivo do
Parque Linear manifestar-se sobre obra ou atividade potencialmente
causadora de impacto no seu entorno. Vejamos o art. 4º, inciso V do
referido Decreto:

Art. 4º Compete ao Comitê Gestor, como órgão consultivo do Parque Linear do Córrego
Grande:

(...)

V - manifestar-se sobre obra ou atividade potencialmente causadora de impacto no


entorno do Parque; e

(...)

10. Sendo que, neste caso, em conformidade com as regras


urbanísticas municipais, mais precisamente o art. 88, inciso IV do Plano
Diretor de Florianópolis (Lei Complementar nº 482/2014) não é permitido
o parcelamento do solo, edificações, aterros e quaisquer outras obras em
glebas com declividade igual ou superior a vinte e cinco graus (25º).
Vejamos:

Art. 88. Não é permitido o parcelamento do solo, as edificações, os aterros e quaisquer


outras obras:

(...)

IV - em glebas com declividade igual ou superior a vinte e cinco graus; e

(...)

11. Conforme já informado, a área em análise além de possuir

vegetação da mata atlântica (nativa) em estágio avançado de regeneração,


possui, segundo o geoprocessamento da PMF (imagem abaixo), declividade

igual a vinte e cinco graus (25º). Vejamos:


12. Portanto, entende-se que o referido imóvel não possui
características ambientais que permitam qualquer tipo de intervenção
(parcelamento, edificação, aterro, dentre outras), tampouco sua
desafetação e alienação onde perderia suas características de imóvel
público e o seu domínio (animus domini) passaria aos interesses de
particulares.

IV – DO INTERESSE DA COLETIVIDADE SOBRE O BEM IMÓVEL

13. Se levarmos em consideração que o Parque Linear do Córrego


Grande – PLCG é um importante corredor ecológico, de aproximadamente
5 km, que conecta duas Unidades de Conservação, quais sejam o Parque
Natural Municipal do Maciço da Costeira, onde se encontra a Cachoeira do
Poção, e o Parque Municipal do Manguezal do Itacorubi, onde também está o
Parque do Jardim Botânico; que esse importante corredor ecológico
possibilita o deslocamento de animais entre as Unidades de Conservação -
UCs, a dispersão de sementes e aumento da cobertura vegetal entre as duas
UCs isoladas, mitigando os efeitos da fragmentação desses ecossistemas; e
ainda, que o imóvel da PMF encontra-se numa posição geográfica
estratégica em relação ao PLCG; conclui-se que a vocação deste imóvel é,
indubitavelmente, ser incorporado à poligonal do PLCG.

14. Vejamos, abaixo, a localização do imóvel em análise (círculo


vermelho) para o alcance dos objetivos do Parque Linear no cumprimento
de suas finalidades ecológica-ambiental e integração das políticas de
conservação ambiental, dentre outras.
15. Importante ressaltar que o PLCG, além de um corredor
ecológico é também um corredor de acessibilidade e de lazer, que conecta
por intermédio de trilhas e ciclovias os Bairros do Córrego Grande, Santa
Mônica e Itacorubi, e as localidades do Sertão do Córrego Grande, Jardim
Guarani, Jardim Albatroz, Jardim Germânia, Jardim Itália, Jardim Anchieta
e Parque São Jorge.

16. Neste ínterim, destaca-se que o Plano de Uso do Parque, a ser


elaborado pela FLORAM e pelo Comitê Gestor, deve prever a conservação dos
recursos naturais e da biodiversidade desta área para amenizar os
impactos das atividades antrópicas do entorno.
17. Lembrando que o Parque Linear tem por propósito ser um
espaço público de lazer, contemplação e educação ambiental, cumprindo
com as finalidades ecológica-ambiental, paisagística, de lazer,
macrodrenagem, corredor de articulação multifinalitário, integrando as
políticas de conservação ambiental, mobilidade, segurança, educação,
cultura, saúde, valorização econômica e atratividade turística.

18. Para isto estão previstas áreas para equipamentos de apoio às


diversas atividades a serem desenvolvidas como banheiros e
equipamentos de esporte e lazer, que devem ser introduzidos em toda a
extensão do Parque, com a instalação de obras de arte, jardins, mirantes e
a utilização da água como recreação.

19. De acordo com os artigos 9º e 10 da lei de criação do Parque


Linear (Lei 9.455/2014), o seu Plano de Uso poderá prever a expansão e
ampliação de sua área, considerando medidas ambientais como a
recuperação das APPs, bem como daquelas áreas com condicionantes
ambientais diversas de APP. Além das medidas ambientais, poderá prever
medidas educacionais com a previsão e inclusão de espaços que permitam
o ensino formal/informal e a participação de escolas e universidades, com
ênfase em trabalhos integrados de educação ambiental e pesquisa.

20. Nesta oportunidade, informamos que está em curso um


Abaixo Assinado da comunidade para a defesa desta área, solicitando a
incorporação deste imóvel ao PLCG. Informamos, também, que o Comitê
Gestor do PLCG solicitou Parecer Técnico da FLORAM sobre a
importância dessa área para o PLCG.
Por fim, diante do todo exposto, REQUER-SE do representante do
parquet a instauração do Inquérito Civil Público, com vistas a apurar a
legalidade da desafetação e venda da área da Prefeitura de Florianópolis,
frisa-se área com atributos ambientais que não permitem o parcelamento,
edificações, aterros e quaisquer outras obras; e com vocação para sua
incorporação à poligonal do Parque Linear Urbano do Córrego Grande –
PLCG.

Nestes Termos.
Pede Deferimento.
Florianópolis, 16 de março de 2021.

Jaçanã Martins Bittencourt


CRBio 17.171-03
Representante da OAB no Comitê Gestor do PLCG
OAB/SC 17.394

Membros do Comitê Gestor do PLCG:


Aracídio de Freitas Barbosa Neto - FLORAM
Glória Martins - COMCAP
Emiliana Debetir – UDESC
João Henrique Pereira - SMI
Walter Widmer - IFSC
Jaçanã Bittencourt - OAB
Joana Baldo - AMOSC
Milena Risuenho – AMJA
Mônica Duarte - CCCG
Hilton Barreto - CONJORGE
Thereza Sardinha – CONFIA
Rosângela Mirela Campos – ACOJAR
Hélio Carvalho Filho - Fórum da Bacia do Itacorubi
Membros do Fórum da Bacia do Itacorubi:
Áureo Junior - AMOVIM
Sergio Raulino – ABI
Magna Amaral – CONJORGE
Mônica Duarte - CCCG
Cesar Floriano - AMOSC
Henriette La Rovere - CONFIA
Maurício Sens - ACOJAR
Leandro Machado Fernandes - CONJARDIM
Fabiano Faga Pacheco - AMOBICI

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