sumÁrIo

1I
ntrodução

2I
mpacto da pandemIa

3m acrotendêncIas da
construção

4o que esperar de
2021?
Introdução
Com 2 milhões de empregos gerados e
uma participação direta de cerca de 5% nos
estabelecimentos e no valor adicionado bruto, a
construção é uma das mais importantes atividades
econômicas do Brasil. Além da significativa
representação, o setor está conectado com
diversas outras atividades, desde a compra dos
inúmeros insumos de materiais para a produção
até a vinculação de serviços complementares à
construção.
Em função desse amplo ecossistema, a McKinsey
(2020) afirma que a construção é o maior setor
industrial do mundo. No Brasil, além de argumentar
que a cadeia produtiva completa da construção
chega a 60% do PIB, a CBIC (2020) calcula que
cada R$ 1 milhão de investimentos no setor é capaz
de gerar 7,6 empregos diretos e 11,4 empregos
indiretos, gerando uma renda adicional na economia
de cerca de R$ 264 mil.
A despeito da grandeza, o futuro da construção é
incerto em inúmeros aspectos. Em primeiro lugar, a
década não foi acompanhada por um desempenho
positivo do setor. Após alcançar uma participação
de 6,2% do Valor Adicionado Bruto total da
economia, a desaceleração econômica brasileira e
a incerteza política dos últimos anos desacelerou
os investimentos, levando a uma condição atual de
pouco mais de metade da relevância que possuía,
com 3,4%.
De acordo com a McKinsey, o cenário de
dificuldades na década não foi exclusividade
brasileira. O setor enfrenta desafios de redução do
tempo e dos custos nas obras no mundo todo e o
crescimento da produtividade global da construção
na última década alcança apenas um terço do
desempenho dos demais setores.
Somente a partir de 2017 é que se iniciou a
recuperação no volume de lançamentos de
unidades e das vendas, de acordo com a CBIC
(2020), e, em 2019, a construção foi novamente um
dos destaques na geração de empregos do país.
4 - O que esperar da Construção em 2021
Era nesse cenário de recuperação da atividade que
o setor enfrenta a pandemia em 2020. Os efeitos
imediatos dessa recessão no setor ocorrem de
maneira ainda mais enfática que para as demais
atividades econômicas. De acordo com o IBGE
(2020), a construção é a atividade com maior
incidência de reflexos negativos da COVID-19 além
de ser o setor com menor nível de reação, sendo
que apenas 2,7% dos respondentes afirmaram
lançar um novo produto ou serviço durante a
pandemia.
Além disso, o período de quarentena e a
necessidade de maior controle sanitário despertam
novas tendências para o canteiro de obras e para o
mercado imobiliário. Nesse sentido, a redução de
aglomeração de trabalhadores indica necessidade
de maior controle na gestão das etapas de
construção e abre espaço para iniciativas off-site
building. Mudanças culturais de trabalho remoto
e cuidados com a desinfecção da casa também
pressionam por moradias com maior infraestrutura
de rede e com espaços mais amplos e bem
ventilados.
Se os desafios estão grandes, as perspectivas de
mercado de curto e médio prazo permanecem
positivas. A confiança dos empresários da
construção em estado otimista quanto a
investimentos e vendas indicam que deve haver
recuperação do nível de atividade do início do ano.
No médio prazo, o elevado déficit habitacional e a
tendência de crescimento populacional garantem
demanda potencial para novas moradias nos anos
subsequentes.
Diante dessas circunstâncias, a Caravela Soluções
traz neste relatório as principais tendências do setor
da construção, destacando como os impactos da
pandemia devem se refletir no mercado imobiliário
para 2021.
 TENDÊNCIAS - CARAVELA SOLUÇÕES - 5

Impacto da pandemIa
Até o início de 2020, o panorama econômico estavam com valores acima das suas médias
da construção era o de recuperação. Após uma históricas.
década de baixo crescimento, perda significativa
de participação no PIB e dificuldade de aumentar É nesse cenário que se assolou na construção
a produtividade, o ano de 2019 voltou a crescer e os efeitos da pandemia da COVID-19. De acordo
foi um dos responsáveis pelo bom desempenho com a pesquisa Pulso Empresa, do IBGE (2020),
no mercado de trabalho brasileiro. No período, o a Construção é apontada como o setor de maior
quadro de funcionários da construção subiu em incidência de efeitos negativos advindos da
3,6%, um incremento de 71 mil novas vagas de pandemia no ano de 2020, com quase metade dos
trabalho, enquanto o Brasil teve variação de 1,7%. respondentes assinalando uma piora nos seus
negócios.
Os dados da Sondagem da Indústria da Construção,
da Confederação Nacional das Indústrias (CNI),
mostram que, no início de 2020, os indicadores da
Construção estavam com desempenho favorável no ÍndIces de evoLução do nÍveL de atIvIdade e
país. O indicador do nível de atividade de janeiro de do nÚmero de empreGados
(ÍndiCe de diFusãO de 0 a 100 pOntOs)
2020, que indica o quão aquecida está a indústria
da construção, registrou 47,5 pontos, superando em
3,5 pontos o volume observado em 2019. O nível de
emprego no setor, por sua vez, atingiu 47,3 pontos, o
maior valor registrado desde 2013 e superou em 4,8
pontos o valor de 2019.

Além da atividade em alta, a confiança dos

empresários para a sequência do ano também
estava otimista (63,9 pontos), apontando que os
empresários estavam confiantes com as condições
atuais e com as perspectivas futuras da economia.
As expectativas para novos empreendimentos, FOnte: Cni (2020).
compras de matérias-primas e contratações

ÍndIce de conFIança do empresÁrIo da IndÚstrIa da construção

(ÍndiCe de diFusãO de 0 a 100 pOntOs)

FOnte: Cni (2020).

satIsFação com o Lucro operacIonaL e com a sItuação FInanceIra
(ÍndiCe de 0 a 100 pOntOs)
FOnte: Cni (2020).
Diante do cenário de incertezas, o nível de confiança
dos empresários iniciou uma trajetória de queda.
Após começar o ano superando 60 pontos, registrou
o seu pior desempenho em abril, com 34,8 pontos,
o menor valor da série desde outubro de 2015 (CNI,
2020).
De acordo com a CNI (2020), houve piora no
desempenho financeiro das empresas, em
consequência da queda do faturamento e do nível
de atividade. Como resultado, o índice de satisfação
com a situação financeira registrou 38,6 pontos
no primeiro trimestre do ano, representando uma
queda de 6,2 pontos em relação ao quarto trimestre
de 2019.
Além da insatisfação com a situação financeira e
a margem de lucro operacional retornar aos níveis
registrados no início de 2019, a margem de lucro
recuou 5,8 pontos nesse comparativo, revertendo
maior parte da melhora acumulada em 2019. Com
isso, a intenção de investimento dos empresários
para compras de máquinas e equipamentos,
pesquisa e desenvolvimento, e inovação de produto
ou processo, recuou fortemente em abril.
Os dados da CNI (2020) mostram que, a queda da
intenção de investir foi de 16,9 pontos, encerrando
abril com 25,7 pontos, contra 42,6 pontos em
março. Essa foi a maior variação negativa da série
e foi o menor valor desde julho de 2006, quando o
mês registrou 25,3 pontos.
6 - O que esperar da COnstruçãO em 2021
Após os primeiros impactos no setor, a atividade da
construção vem mostrando sinais de recuperação.
Estes sinais podem ser observados já a partir de
maio em vários dos indicadores de perspectivas do
empreendedor.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (CAGED) também mostram
que o saldo de admissões e desligamentos já se
recuperou das perdas ocorridas entre março e maio
de 2020. No caso da Região Sul, o saldo positivo de
junho, julho e agosto superaram a perda de mais de
11 mil funcionários no período de quarentena.
Dentre as atividades, as obras de rodovias (+2,8
mil vagas) e de estações de distribuição elétrica
(+2,9 mil vagas), provavelmente por atuarem
com contratos de médio e longo prazo. Além
destas duas, a construção de edifícios (+ 2 mil
funcionários) e obras de alvenaria (+ 1 mil) tiveram
maior destaque. Por outro lado, as incorporadoras
ainda mostram um quadro negativo no saldo de
admissões do ano.
Este cenário mais favorável às empresas de
construção de edifícios está ligado ao aumento da
demanda por minirreformas. Este movimento de
melhorias nas casas foi impulsionado pela própria
restrição de aglomeração das pessoas, que fez
com que o tempo em casa fosse maior e, por isso,
as reformas mais necessárias. Com isso, houve
 TENDÊNCIAS - CARAVELA SOLUÇÕES - 7

Índice de intenção de investimento

(Índice de 0 a 100 pontos)

Fonte: CNI (2020).

sensível aumento nas admissões de pedreiros e Estimativa de impacto da pandemia

serventes de obras, capazes de lidar com esse tipo
de atividade.

Se as minirreformas foram a tônica da construção

no curtíssimo prazo, as operações imobiliárias
aparecem na sequência com boas recuperações.
Esta retomada é influenciada pela queda drástica
da taxa básica de juros Selic para a casa de 2%.
Com isso, investimentos financeiros são menos
rentáveis e a busca de retorno financeiro a partir da
valorização de imóveis se torna mais atrativa.

De acordo com os dados do Registro de Imóveis

do Brasil, foram registradas 9.018 operações do
mercado de imóveis de Florianópolis até julho
deste ano, representando uma retração de 12,1%
em relação ao mesmo período de 2019. Contudo,
considerando apenas o mês de julho, cerca de 1,6
mil operações imobiliárias foram realizadas no
município, o que representa um aumento de 34,9%,
com os ajustes sazonais.

Portanto, a retomada do setor que vinha se

desenhando até o início do ano esbarra em
uma drásticas alterações de mercado a partir
da pandemia. Não bastassem as dificuldades
de manutenção da rentabilidade, ainda incidem
sobre o setor diversas tendências de mercado e
de produção que dão tons de incerteza quanto ao Fonte: IBGE (2020).
futuro da atividade.
Macrotendências da construção
Em uma década conturbada não apenas no cenário nacional como também internacional, o setor vem
passando por modernizações e adequações produtivas, onde se destacam a entrada de diversas startups
e de novas tecnologias para aumentar a produtividade da construção. De acordo com a McKinsey (2020),
existem algumas tendências no setor da construção que indicam uma mudança disruptiva ocorrendo na
dinâmica de produção e cadeia da atividade. Antes da COVID-19, acreditava-se que a disrupção do setor da
construção deveria começar a ocorrer dentro dos próximos 5 anos.

Pressão dos custos e na sofisticação de Digitalização e decisões baseadas em dados

produto
As preferências dos consumidores estão mais
sofisticadas e há um crescente interesse por
performance e sustentabilidade, que estão
ligados a questões como a eficiência energética,
interações digitais com as unidades domiciliares e
adaptabilidade das estruturas. Com isso, as obras
precisam ser mais eficientes e planejadas, de modo
a ofertar o máximo de sofisticação com baixo
custo.
Regulações para sustentabilidade e segurança
do trabalho
A discussão global já existente acerca do impacto
da construção e dos materiais utilizados na cadeia
de produção sobre as mudanças climáticas deve
se somar a novas regulações sanitárias e de
segurança do trabalho, impondo ajustes no setor.
Modularização e a automação da produção
As dificuldades de trabalho presencial em grandes
equipes torna ainda mais crucial a pré-fabricação
de componentes longe dos canteiros de obras.
Além disso, a produção de materiais em ambientes
controlados pode melhorar a qualidade do produto.
A McKinsey destaca que a digitalização também
deve incrementar significativamente a produtividade
do setor. Com o maior controle de processos da
cadeia produtiva, as empresas do setor devem
seguir por caminhos mais eficientes e produtivos.
O uso de BIM (Building Information Modeling) para
criar projetos 3d completos antes mesmo do início
da produção, é um exemplo de ajuda na prevenção
de riscos e na otimização da construção.
Ao mesmo tempo, as decisões baseadas em dados
também devem ser condicionantes da eficiência
do setor. A concorrência e a sofisticação dos
mercados exigem que as empresas sejam cada vez
mais assertivas quanto ao local e à adaptabilidade
de suas instalações.
Mais startups e tecnologia na cadeia produtiva
As startups devem acelerar a disrupção dos
modelos de negócios atuais, bem como a adoção
das novas tecnologias. A predominância de
empresas de pequeno porte também diminui as
barreiras à entrada do setor e estimula entrantes na
cadeia produtiva.

8 - O que esperar da Construção em 2021


O que esperar para 2021?
Aliado à recuperação da atividade do setor da
construção, em curso desde o início de 2019
e às condições macroeconômicas favoráveis,
principalmente em relação à baixa taxa de juros,
que favorece a obtenção de crédito e o investimento
em ativos reais, existem 9 grandes mudanças
na dinâmica do setor que devem movimentar a
construção no ano de 2021.
A primeira delas é de uma abordagem de marketing
e de entrega dos serviços da construção como
produtos padronizados, com largo grau de
repetibilidade e com o uso de elementos pré-
fabricados. Com isso, uma segunda mudança
identificada é a especialização das empresas
em nichos de mercado definidos, tais como
apartamentos de luxo para famílias solteiras e
condomínios comerciais, por exemplo. Com essa
mudança, exige-se das empresas eficiência e boa
condução dos negócios, capazes de diminuir os
riscos potenciais associados à especialização do
portfólio.
Na cadeia de valor, as tecnologias de materiais
e design de produto devem levar as empresas a
se integrar no processo produtivo. Integrações
verticais ou alianças estratégicas com atuação
próxima de empresas da cadeia devem ser mais
frequentes. Esta tendência ocorre como reflexo
da digitalização e da interação de modelos BIM,
otimizando as plataformas logísticas, melhorando
o controle e reduzindo fricções durante o processo
fabril.
A necessidade de investimentos para ampliação
do uso de novas tecnologias, da especialização
e da integração da cadeia, também conduz as
empresas em um caminho de consolidação. Este
movimento também vai ao encontro da entrega dos
serviços da construção como produtos, permitindo
a padronização e repetibilidade dos negócios.
Outros fatores resultantes destas condições são
a necessidade de investimentos em marketing,
tecnologia e recursos humanos. O marketing
TENDÊNCIAS - CARAVELA SOLUÇÕES - 9
está ligado a necessidade de aproximação e de
manutenção do relacionamento das empresas com
o público.
Assim como na indústria automobilística, as
empresas devem atuar no sentido de criar uma
marca forte, que estabeleça algum nível de conexão
seus clientes. Na tecnologia, os recursos devem
ser direcionados a máquinas e equipamentos.
A construção caminha para se tornar um setor
mais intensivo em capital, usando produtos
automatizados, drones e softwares capazes de
otimizar o controle do processo produtivo. Essa
intensificação do uso de máquinas e aparelhos
requer mais investimentos em trabalhadores
qualificados, que possam atuar fora dos canteiros
de obras e que consigam atuar com os softwares e
tecnologias disponíveis.
Alerta-se que estas mudanças do setor devem
romper as barreiras geográficas. Na medida que as
soluções de materiais e digitalização forem capazes
de diminuir os entraves logísticos, os investimentos
de marca e de padronização dos materiais devem
fazer com que as grandes empresas atuem em
escalas globais. Além disso, essas mudanças
devem diminuir a fragmentação existente da cadeia
produtiva da construção.
Pandemias de tal magnitude deixam
inúmeras marcas e novos costumes na
população, especialmente nas residências e
na operacionalização de edifícios de saúde e
serviços básicos. Neste sentido, repensar as
arquiteturas, a eficiência dos edifícios e o modo
de venda para o consumidor são essenciais
para o sucesso do setor.
Nesse sentido, deve-se atentar para mudanças
nas arquiteturas dos novos edifícios,
destacando-se as buscas por melhorias nas
infraestruturas de telecomunicações, espaços
maiores, mais ventilados e possivelmente
cômodos de higienização, tipo mud room.