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13/04/2021 Flor de plástico

EDIÇÃO 64 | JANEIRO_2012

questões quase urbanas

FLOR DE PLÁSTICO
O que aconteceu quando Jaguaribara foi inundada por um açude e deu origem à
primeira cidade planejada do Ceará, com avenidas largas, casas e saneamento para
todos
PAULA SCARPIN

A Igreja Matriz de Santa Rosa de Lima era o xodó da população, que exigiu que se construísse uma nova
igreja exatamente igual a ela FOTO: ACERVO DO INSTITUTO DA MEMÓRIA DO POVO
CEARENSE_IMOPEC_2001

empre que um morador de Jaguaribara morria fora da cidade, o


povo enlutado percorria os 15 quilômetros da estradinha até o
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S
encontro com a rodovia mais próxima para recepcionar o
caixão e começar dali mesmo o cortejo. Num fim de tarde,
em outubro de 1985, Giovane Araújo voltava de férias e
avistou a multidão na entrada da cidade. “Deve ter morrido
alguém importante”, pensou. Conforme se aproximava, só
ouvia falar do prefeito Francini Guedes. “Tive a certeza de que
você tinha morrido, homem”, disse recentemente Araújo em sua
sala na Câmara dos Vereadores. Guedes, em visita à cidade, riu
e explicou: “Eu tinha mandado avisar à população que estava
voltando de Fortaleza com novidades sobre a barragem do
Castanhão.”

“Rapaz, ouvi dizer que o Castanhão agora vai sair do papel e


sua cidade vai ficar embaixo d’água”, dissera a Guedes outro
prefeito da região, Franciné Girão, numa conferência na capital.
“Imagina um prefeito saber de uma notícia dessas assim, em
porta de travessa”, indignou-se Guedes. Para esclarecer tudo,
falou com o governador Gonzaga Mota – que confirmou ter
autorizado estudos preliminares para a construção da
barragem.
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O Castanhão era uma lenda em Jaguaribara, a quase 300


quilômetros de Fortaleza. As crianças aprendiam na escola que,
em 1911, o geólogo americano Roderic Crandall, contratado
pelo Serviço de Geologia e Mineralogia, havia descoberto no
Boqueirão do Cunha um ponto ideal para represar o rio
Jaguaribe e aumentar a oferta de água na área. Arquivado, o
projeto voltara à baila em 1955, no governo de Juscelino
Kubitschek, mas foi logo preterido pela construção da barragem
de Orós. O tema ficou então bem menos popular que a morte de
Tristão Gonçalves, revolucionário da Confederação do Equador
que, segundo consta nos livros, foi morto numa emboscada nas
adjacências, em 1825, pondo Jaguaribara no mapa e inspirando
um marco de pedra como homenagem.

Trinta anos depois de Juscelino, no entanto, uma enchente do


rio Jaguaribe ressuscitou o Castanhão. O governo estadual
alardeou um projeto de açude fundamental para o
desenvolvimento da região: ele garantiria o abastecimento de
mais de 2,5 milhões de pessoas em Fortaleza, além de fornecer
água para o complexo industrial e portuário de Pecém,
planejado para ser polo siderúrgico e de refino de petróleo. A
barragem teria potencial para gerar 22,5 megawatts de energia
elétrica e produzir 4 mil toneladas de peixe por ano – sem falar
no potencial turístico. Seu volume chegaria a 6,7 bilhões de
metros cúbicos, três vezes maior do que Orós, e se justificaria
para controlar as inundações: seguraria a água para irrigação
nos períodos de seca e conteria as enchentes no baixo Jaguaribe
nos anos chuvosos.

Localizada no médio Jaguaribe, Jaguaribara não era castigada


por enchentes como a de 1985. A seca também não era um
problema: com seus 610 quilômetros de curso, o Jaguaribe já foi
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o maior rio intermitente do mundo, mas fora perenizado com a


construção de Orós. Dentro do limite do Polígono das Secas, a
cidadezinha era tão verde que não parecia caatinga. Ficava à
beira do rio, e a grande maioria de seus 8 mil habitantes vivia
dele: quase todos na pecuária e na agricultura de subsistência
nas vazantes, além de lavadeiras e pescadores. O governo
alardeava as benesses do açude em panfletos e cartazes. Poucos
duvidavam de que o sacrifício de uma cidade tão pequena fosse
um mal necessário.

No intervalo de trinta anos entre a construção de Orós e o


anúncio dos estudos para a construção do Castanhão, contudo,
a “era das grandes barragens” havia passado na maior parte do
mundo. Se no começo do século XX o represamento da água
para abastecimento e geração de energia simbolizava o domínio
do homem sobre a natureza, mais de cem anos depois estudos
de impactos socioambientais tiveram peso na preferência pela
construção de sequências de pequenas barragens em vez de
uma só de grande porte.

Pelo menos em teoria, não era diferente no Brasil. Na enchente


de 1985, engenheiros cearenses do Departamento Nacional de
Obras Contra as Secas, o DNOCS, apresentaram um projeto
defendendo a construção de doze barragens de médio porte na
região. O Castanhão poderia ser uma delas, mas com apenas 1,2
bilhão de metros cúbicos – e não 6,7 bilhões. O projeto assinado
pelo governo estadual, porém, veio de outra instituição, o
Departamento Nacional de Obras de Saneamento, o DNOS, com
sede no Rio de Janeiro, e pegou de surpresa os engenheiros
cearenses com um plano de Castanhão com quase 7 bilhões de
metros cúbicos – o equivalente a 2,5 Baías da Guanabara.

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O
engenheiro Cássio Borges, que foi diretor de Hidrologia do
DNOCS por mais de vinte anos, posicionou-se de
imediato contra a ideia da construção da imensa barragem
e se tornou a voz mais estridente na luta. Borges compilou
estudos e artigos de jornais e publicou em 1999 o livro A Face
Oculta da Barragem do Castanhão. Nele, argumenta que o
projeto com aquele volume de água seria de uma megalomania
sem justificativas técnicas. No exemplar de A Face
Oculta disponível na biblioteca municipal de Fortaleza, há uma
dedicatória para o governador Tasso Jereissati, assinada pelo
então presidente do sindicato dos engenheiros, com os seguintes
apelos: “Confiamos na lucidez e no alto senso de
responsabilidade de V. Exa.” e “Ainda há tempo.”

A primeira crítica de Cássio Borges dizia respeito à localização


do açude: a apenas 150 quilômetros do mar, na área mais
irrigada do estado. Segundo ele, o DNOCS nunca projetou uma
barragem naquele local porque ela estava longe de ser uma
prioridade. “As obras-chave para regularizar o abastecimento
do estado deveriam ser Banabuiú, Castanheiro e Aurora”, disse-
me Borges. “Esta última seria capaz de distribuir as águas do rio
São Francisco pelos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte,
além do Ceará, e com um custo de construção até oito vezes
menor que o do Castanhão.”

Borges afirmou que o volume ideal de armazenamento do


açude é de apenas 1,2 bilhão de metros cúbicos. “Toda barragem
acima de sua capacidade ótima de acumulação só serve para
evaporar”, escreveu. Segundo ele, um espelho d’água tão
grande, numa área tão quente, teria uma evaporação de milhões
de hectolitros. Com o volume de 6,7 bilhões de metros cúbicos,
o Castanhão perderia 36 metros cúbicos por segundo para a
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atmosfera – cerca de dezoito caixas d’água por segundo. E o


mais importante: se o açude fosse construído com 1,2 bilhão de
metros cúbicos, a inundação da cidade de Jaguaribara seria
poupada.

O engenheiro estranhou quando o DNOS publicou as


informações técnicas do Castanhão, estimando a área do
reservatório em quase 300 quilômetros quadrados. Rechecou as
projeções com uma equipe e chegou a uma área inferior em
mais de 50 quilômetros quadrados. Considerando o erro
inadmissível, levou o assunto aos seus superiores, e a
informação foi repassada ao DNOS – que se limitou a corrigir o
cálculo e pedir sigilo.

O prefeito Francini Guedes usou o erro como argumento contra


o projeto numa reunião com o governador Tasso Jereissati e o
ministro encarregado da obra, Vicente Fialho. A revelação
causou mal-estar e Fialho chegou a propor a punição de Cássio
Borges. Guedes protestou e o assunto terminou ali.

A
imagem do prefeito Francini Guedes em Jaguaribara, nas
eleições municipais de 1982, não era das melhores.
Nascido na vizinha Alto Santo, foi viver em Fortaleza,
onde veio a cursar economia. Na faculdade, conheceu uma
estudante de medicina jaguaribarense, com quem se casou. O
pai dela era um médico influente na cidade que, ao saber dos
planos do genro de fazer mestrado na França, convenceu
Guedes a se candidatar à prefeitura, oferecendo seu apoio.

Ele ganhou por pouco e não tinha maioria na Câmara. Em busca


de sustentação, aproximou-se de uma celebridade local, a irmã
Bernadete Neves. A freira paraibana, branquinha e mignon,
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havia chegado a Jaguaribara poucos anos antes. Liderara uma


missão da congregação Filhas do Coração Imaculado de Maria,
e atuava na Comissão Pastoral da Terra, instituição da Igreja
Católica, famosa por aliar a catequização à mobilização política.

O ex-prefeito e a freira são amigos até hoje. Bernadete frequenta


a casa de Guedes em Fortaleza e serve de guru emocional para
toda a família. Mas quando o assunto é política, o afeto é
deixado de lado. A irmã está alinhada ao PT. O político, que já
foi eleito duas vezes deputado pelo PSDB e presidiu o diretório
estadual do partido, é tão convicto que tem um barco chamado
Tucano I.

Na época da barragem, Bernadete e Guedes também tiveram


reações opostas. A freira queria mobilizar a população para
derrubar o projeto, e o prefeito, que dava a luta como perdida,
acreditava que deveria garantir as indenizações da população.
Guedes conseguiu uma verba do governo para que um grupo
de Jaguaribara visitasse outras cidades que precisaram ser
transpostas.

O grupo visitou a barragem de Sobradinho, na Bahia. Souberam


que algumas famílias ainda não haviam sido reassentadas e
começaram a se preocupar. Conheceram São Rafael, no Rio
Grande do Norte, transposta para a construção da barragem
Armando Ribeiro Gonçalves, e a barragem de Itaparica, em
Petrolândia, Pernambuco. Encontraram casas mal construídas,
rachaduras, esgotos e fossas estourando, moradores que não
haviam sido indenizados. A preocupação aumentou.

Bernadete Neves acionou sua rede de contatos e procurou


orientação do Movimento dos Atingidos por Barragens. Com
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aliados também dentro do governo, a irmã e seus adeptos não


faltavam a nenhuma reunião em que o assunto fosse o
Castanhão. “A gente saía de Jaguaribara às três da madrugada,
ia de ônibus ou caminhão, o que desse, levando uma panela de
comida”, disse. “Às vezes, as cadeiras estavam todas reservadas,
mas a gente fazia de conta que não via, se sentava no chão e
exigia a palavra.” Ela abriu um armário de ferro, na casa
paroquial de Jaguaribara, e mostrou as prateleiras de pastas
etiquetadas em que guarda atas das mais de mil reuniões que
frequentou desde o anúncio da construção da barragem.

A Associação de Moradores de Jaguaribara foi fundada em


1989, quando se abriu a concorrência para a construção da
barragem. A primeira ação da Associação foi recolher 229
assinaturas apontando a inconstitucionalidade do edital, já que
não constava dele o obrigatório Relatório de Impacto
Ambiental. Jeso Freitas, o primeiro presidente da entidade,
lembrou com saudade desse período crítico: “Era uma cidade
onde não acontecia nada, e de repente todo mundo precisou se
unir para defender o lugar em que a gente cresceu: era reunião
na praça, viagem, peça de teatro, debate.”

Bernadete Neves conheceu as irmãs Célia e Fátima Guabiraba,


que trabalhavam na sede da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil em Fortaleza e começavam a organizar o Instituto da
Memória do Povo Cearense, um misto de museu, biblioteca,
editora de livros e produtora de filmes. A convite de Bernadete,
elas foram a Jaguaribara e organizaram oficinas de fotografia,
teatro e cordel, e fizeram registros de reuniões e festividades.
Célia Guabiraba conseguiu uma câmera com um amigo e
produziu Castanhão: A Resistência de um Povo. Intercalando
cortes bruscos, imagens tremidas de entrevistas e discussões dos
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moradores, mostraram no vídeo uma entrevista do ministro


Vicente Fialho na televisão defendendo a barragem. Ao final,
um grupo de jovens cantava o hino de Jaguaribara, que acabara
de ser composto: “Estão querendo destruir nossa cidade/ Com a
barragem Castanhão/ Adeus, Jaguaribara/ Adeus, meu
coração.” Ao violão, com um cabelo vasto, barba e 20 quilos
mais magro, Jeso Freitas, o presidente da Associação, lembrava
um revolucionário dos anos 60.

Como o governo estadual havia pedido um financiamento de


350 milhões de dólares ao Banco Mundial, a Associação de
Moradores convenceu mais de 2 mil pessoas a enviar cartas
pedindo que o dinheiro não fosse liberado. Algumas das cartas
eram confusas: diziam que a construção do açude contribuiria
para a destruição da floresta amazônica. O Banco Mundial
reestudou o projeto e julgou o pedido improcedente. Após dez
anos de indefinição, no final de 1995, o presidente Fernando
Henrique Cardoso assinou a ordem de serviço para que fossem
iniciadas as obras de construção da barragem.

O
lhando para trás, vejo esse período como uma época
de contracultura, de tropicália de Jaguaribara, guardadas
as proporções”, disse Honorina Queiroz no gramado de
sua casa, em nova Jaguaribara, usando a internet sem fio em seu
notebook. Professora de geografia e filosofia na rede estadual,
ela viveu a agitação na adolescência. “A gente sabia que a
cidade ia durar pouco, então aproveitava cada cantinho, não
saía de dentro do rio, fazia piquenique, pescava e assava o peixe
ali”, contou. “E havia uma preocupação em registrar tudo, todo
mundo estava produzindo teatro, poesia, cordel.”

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Enquanto a nova cidade ainda estava sendo construída,


Honorina foi conhecer as obras e ficou encantada com as casas
novas, as ruas largas, a escola, as praças. “Mas, quando a gente
voltou à velha Jaguaribara, a ficha caiu”, lembrou. “A gente
olhava aquela esquina em que a gente tinha namorado, a casa
de nossos avós, e entendeu que logo nada mais daquilo ia
existir. Foi o maior chororô.”

Célia Guabiraba convidou um grupo de jovens para organizar a


Casa da Memória de Jaguaribara. Os integrantes batiam de
porta em porta e perguntavam aos moradores se gostariam de
doar algum objeto para o museu da cidade. Entre as relíquias,
estão um banco de madeira de mais de 200 anos, a camisa com
marca de bala e sangue que o pai de uma moradora vestia
quando foi assassinado, uma garrafa de cerâmica que passou
por três gerações e a bicicleta colorida de uma criança que quis
participar das doações.

O professor de educação física Ivan Bezerra depositou três


grandes álbuns de fotografia sobre a mesa de jantar. Preferiu ele
mesmo manusear os volumes, abrindo com cuidado as capas
aveludadas e virando delicadamente os papéis de seda. Meses
antes de o Castanhão cobrir a velha Jaguaribara, ele contratou
um fotógrafo profissional e fez questão de acompanhá-lo para
orientar uma a uma as 113 edificações que queria registrar.

“Sei que todo mundo sofre, mas a dor de ninguém aqui se


compara à minha”, disse, ao fechar o último álbum. E explicou:
a história da família Bezerra se confunde com a história de
Jaguaribara. O território onde ficava a antiga cidade era
originalmente um sítio de propriedade dos avós de Ivan
Bezerra. Segundo ele, foi a solidariedade cristã que fez seus
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parentes doarem parte significativa do território original para a


construção de prédios públicos, de moradias humildes, de ruas,
da praça principal e da própria igreja matriz.

N
ova Jaguaribara começou a ser construída em 1995. Ivan
Bezerra achou que receberia uma gorda indenização pelas
terras. Mas a maioria delas não era escriturada, ou o
usucapião estava valendo havia muito tempo. Restava a
alternativa de que as terras escrituradas fossem recompensadas.
Quase caiu para trás quando soube qual era o valor da
indenização pelo metro quadrado de suas terras: entre 15
centavos e 4 reais, no máximo. Precavido, pesquisara quatro
cidades da região, e soube que em Tabuleiro do Norte o metro
quadrado valia 90 reais. Quando passou a informação para o
grupo encarregado da mudança, riram dele. “Nunca me senti
tão humilhado”, disse. “E tanto que a minha família fez por essa
cidade.”

Ivan Bezerra foi o último a deixar Jaguaribara. Na cidade nova,


passou muito tempo fechado em casa. Toma antidepressivos até
hoje e se consulta com um psicólogo em Fortaleza. Dez anos
depois, mais forte, pretende se candidatar à prefeitura.

O DNOCS assumiu tanto a construção da barragem quanto a da


nova cidade. O Departamento encomendara uma pesquisa de
seis alternativas para a relocação a uma empresa de consultoria.
Foram estudadas as características físicas, como geologia,
relevo, recursos naturais e vegetação dos lugares onde se
poderia fazer a nova cidade. Verificou-se também o impacto
ambiental e o potencial econômico de cada local para
desenvolvimento da população. Os habitantes escolheram a
nova localidade. Ela ficava na junção de Jaguaribara com três
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outros municípios – que também precisaram submeter suas


populações a um plebiscito para autorizar a construção.

Falava-se que seria uma cidade moderna, com uma igreja nos
moldes da de Brasília ou de Pampulha. Mas a Igreja Matriz de
Santa Rosa de Lima era um xodó da população, que exigiu que
a nova igreja tivesse os moldes da antiga. O governo do estado
assumiu o projeto de reassentamento e formou um grupo com a
socióloga Afonsina Lima e os arquitetos Marcelo Colares e
Luiza Marilac. Eles praticamente moraram na cidade durante
sete anos, tentando envolver a população no projeto. O trio
alugou uma casa e passava quase toda a semana ali,
frequentando rodinhas de senhoras nas calçadas, botequins,
tomando banho de rio com as lavadeiras. “Nunca assisti a tantas
missas na minha vida”, disse Colares. Para ele, o projeto do
DNOCS “não era ruim, mas desagradava porque tinha sido
imposto”.

O modelo da igreja também foi votado num plebiscito. Em seu


apartamento na praia de Iracema, em Fortaleza, Afonsina Lima
contou que, tentando usar uma linguagem apropriada à
população, a pergunta do plebiscito era: “Você prefere que a
nova igreja seja: igual / igual, mas maior / ou diferente?” Ela se
lembrou às gargalhadas de uma cédula que veio com a
observação: “Vocês, doutores, querem parecer inteligentes…
mas se é igual, não pode ser maior, se é maior, não é igual!”
Ainda assim, essa alternativa foi a que ganhou.

O arquiteto encarregado tentou mudar os altares dos santos,


mas a população, revoltada, exigiu que tudo fosse exatamente
igual. As imagens sagradas foram transportadas num carro do
Corpo de Bombeiros, como numa romaria motorizada, seguida
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por dezenas de ônibus, carros e motos. Antes da demolição da


igreja velha, o altar passou por uma “dessacralização”, feita por
um padre.

Marcelo Colares explicou por que os prédios todos tiveram que


ser demolidos: “Além de a água do Castanhão ser destinada ao
consumo humano, e os prédios juntarem lodo e micro-
organismos, eles não foram construídos para se sustentar
embaixo d’água. Poderiam acontecer acidentes tanto em
embarcações quanto com algum mergulhador gaiato que
resolvesse visitar a igreja submersa.”

O
Parque da Saudade foi a primeira obra concluída na nova
Jaguaribara. O cemitério da cidade velha encerrou suas
atividades dois anos antes da mudança. Os que morreram
no intervalo foram os primeiros habitantes da nova cidade,
construída a 55 quilômetros da original. Os corpos que estavam
enterrados no antigo cemitério foram exumados depois da
mudança dos vivos, e organizados em gavetas no Parque da
Saudade. O solo também foi removido e preenchido com cal
virgem – exigência do Relatório de Impacto Ambiental. Como o
Castanhão era voltado para consumo humano, não poderia
haver vestígios de restos mortais na velha Jaguaribara.

E
stagiários e arquitetos desenharam a planta da cidade
velha e organizaram uma tabela indenizatória. Havia cinco
tamanhos diferentes de casas, de 50 a 150 metros
quadrados. Cada morador ganharia uma casa igual ou maior
que a antiga. Quem tivesse mais de um imóvel, ou um com mais
de 150 metros quadrados, receberia o restante em indenizações.
Quem morava de aluguel ou de favor, receberia um imóvel
menor, de 36 metros quadrados.
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Havia ainda quem preferisse receber apenas o dinheiro da


indenização, para reconstruir a vida em outra cidade. Houve
um único caso, de uma senhora, que quis o terreno e a
indenização da casa em dinheiro, para construir a nova como
bem entendesse. Era Luzia Brejeira, a cafetina de Jaguaribara.
Vislumbrando o lucro nos peões carentes, foi a primeira a partir,
com suas meninas, para a cidade ainda em construção. Dito e
feito: no seu terreno, os peões construíram uma mansão em
troca de favores.

Para cada tamanho de casa, os arquitetos desenharam três


plantas diferentes, “para não ficar parecendo conjunto
habitacional”, como explicou Colares. Todos queriam morar
perto de seus antigos vizinhos, mas montar essa vizinhança era
um quebra-cabeça. Como os imóveis eram maiores, a área
urbana da cidade saltou de 50 para 300 hectares. Por causa
disso, precisaram aumentar o número de praças, já que as
Nações Unidas recomendam 16 metros quadrados de área verde
para cada habitante.

Como a população tinha a palavra final, os arquitetos faziam


campanhas quando consideravam uma modificação essencial.
Foi o que ocorreu com o revestimento de paralelepípedos nas
ruas. “É muito mais caro do que o asfalto, mas é muito melhor
em termos de drenagem do solo, de dissipação do calor e até de
limite de velocidade”, justificou o Colares.

Mas não houve tempo para discutir os novos jardins, e


contrataram um técnico da Embrapa para assessorar o plantio
de rua. O técnico enfatizou que, por ser uma área virgem, era
preciso ter cuidado redobrado: uma vegetação estranha ao
ecossistema da região poderia causar o desequilíbrio ecológico.
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Só se usou mata nativa. E como uma árvore leva anos para


crescer, foi necessário trazer 10 mil árvores já grandes da mata
para a cidade. “Admito o erro porque aprendi com ele”, disse
Colares. “Para retirar cada árvore, foi necessário abrir uma
clareira.”

Quando as obras terminaram, em agosto de 2001, foi organizado


um cronograma de mudanças rua a rua. Na noite anterior, em
cada rua se fazia uma festa de despedida. O cineasta cearense
Rosemberg Cariry registrou algumas delas. Em quatro fitas de
material bruto, há inúmeras imagens de velhinhos tocando forró
em ruas de terra batida, com pouca iluminação, e casais
dançando juntinho – tudo em ambiente de velório.

A Granero foi contratada para fazer a mudança. Doentes,


idosos, grávidas e mulheres com crianças de colo foram
transportados de ambulância. Em 25 de setembro de 2001, o
governador Tasso Jereissati inaugurou a cidade de nova
Jaguaribara com uma solenidade na praça da Igreja Matriz,
seguida de uma missa campal em que o discurso preponderante
era uma analogia com a chegada à Terra Prometida. No fim,
subiu ao palco o cantor Fagner, que animou a festa madrugada
adentro. A freira Bernadete Neves não quis tomar parte. Mas, fã
de Fagner, dormiu na casa paroquial para poder escutar o show.

Pouco tempo depois da mudança, Colares foi chamado às


pressas para acudir um fenômeno. Hordas de insetos de toda
sorte haviam invadido a cidade e consumiam mantimentos,
portas e móveis. Como a ideia das plantas nativas não fizera
sucesso – alguns moradores não queriam “mato” na frente de
casa –, substituíram a árvore da caatinga, sem folhas nove meses

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por ano, por outras de sombra aconchegante. Foi necessário


fazer um bloqueio químico na cidade para acabar com a praga.

A maioria dos moradores da zona rural preferiu não se mudar


imediatamente. Circulava o boato de que a barragem levaria
mais de dez anos para subir, e eles esperavam a concretização
dos projetos de irrigação, pecuária ou pesca antes de abandonar
suas casas. Dona Odá e o marido, Chico Moreira, decidiram
ficar um pouco mais até venderem os animais e se aposentarem.
Dona Odá, no entanto, se sentiu mal e desmaiou. Passou por
neurologista, psiquiatra e fez uma batelada de exames em
Fortaleza. O diagnóstico foi depressão clínica por medo da
mudança. Chico Moreira ficou no sítio, mas começou a ter medo
de assaltos. A região estava deserta, muita gente tinha ido
embora, as linhas de telefone haviam sido cortadas e ele ouviu
dizer que havia saqueadores se aproveitando da situação.
Numa noite, ouviu um barulho e encontrou dois homens dentro
de sua casa. Ágil aos 70 anos, ele os espantou com uma
espingarda. Vendeu o restante dos animais muito abaixo do
preço e foi embora no dia seguinte.

P
rimeira cidade planejada do Ceará, nova Jaguaribara é a
única do estado com 100% de saneamento básico –
Fortaleza não chega a 60%. Planejada para crescer até 75
mil habitantes, poderia ter sido idealizada pelo barão
Haussmann: suas ruas e calçadas são largas e têm canteiros
centrais. Não há cruzamentos, apenas retornos e rotatórias.
Predominam as vias de mão única. Os novos prédios públicos
têm arquitetura moderna e foi construído até um aeroporto com
capacidade para voos comerciais. O ponto de encontro da velha
Jaguaribara, a pracinha da Igreja Matriz de Santa Rosa de Lima,

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migrou com o mesmo nome, mas ganhou outras treze


concorrentes.

Dez anos depois da mudança, entretanto, a cidade nova


continua com os mesmos 8 mil habitantes, em sua maioria
aposentados ou desempregados. Os poucos donos de carros na
cidade não veem necessidade de obedecer aos retornos e
rotatórias, a mão dupla é a regra em todas as faixas. No
“perímetro urbano”, não é mais permitido plantar e criar
animais para consumo na cidade. A arrecadação de impostos,
que já era inexpressiva, diminuiu. Todos na cidade, até a
secretária que lhe oferece um cafezinho, tratam o prefeito
Edvaldo Almeida Silveira por “Bacurau” – uma ave que dorme
pouco e, segundo ele, uma referência ao fato de ser trabalhador.
Ele alega que ficou impossível arcar com os gastos do município
sem uma contribuição gorda. Até o ano passado, pingava na
conta da prefeitura uma cota de 96 mil reais do governo
estadual, e a conta não fechava. Bacurau pediu o dobro da cota
para janeiro, e a burocracia travou o processo: até a cota de
sempre parou de ser depositada. Como solução emergencial, o
prefeito optou por cortar gastos.

Sentado numa cadeira de plástico em sua sala, o presidente do


Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jaguaribara apontou
para um vasto terreno seco e cercado em frente à sua casa.
“Nosso projeto de irrigação é esse tabuleiro aí, que está assim há
oito anos”, disse Francisco Saldanha. “A promessa é que
teremos pecuária leiteira, mas ainda nem plantaram o capim – e
depois de plantado, ainda leva noventa dias para o gado poder
comer.” Aos 76 anos, ele sempre viveu do trabalho de
subsistência. “A gente tem uma casa boa, que não tinha lá, mas
sempre tinha alguma vaquinha para comer, um açude para ir
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pescar, ninguém passava necessidade. Nós temos água


encanada aqui, mas a gente não tem dinheiro para pagar, então
a gente usa pouco. Tem gente que a cada três meses vende um
animal para pagar a água.”

Saldanha começou a tirar galões do canal que está sendo


construído para transportar a água do Castanhão para o porto
de Pecém e a capital. Seguranças armados, que vigiam o canal
dia e noite, avisaram que isso não era permitido, mas ele
insistiu. Um dia, chegando ao canal, foi cercado por um grupo
de seguranças e policiais. “Disseram que ninguém pode mexer
na água. Respondi que quando a gente veio para cá a promessa
não foi essa. E agora é para servir a Fortaleza e nós aqui
sofrendo?” Acuado, vendeu as vacas e hoje só cria galinhas.

“N
ão tiro uma vírgula do que escrevi no meu livro”,
disse Cássio Borges. “Hoje o Castanhão não serve
para nada além da piscicultura, função que o rio
Jaguaribe já exercia na velha Jaguaribara.” Para o engenheiro, o
canal com capacidade de 26 metros cúbicos por segundo que
está sendo construído para transportar água do açude para
Fortaleza e Pecém é obsoleto. “Pecém só precisaria de 3 metros
cúbicos por segundo, e Fortaleza até agora não precisou de uma
só gota do Castanhão”, disse. “É possível que no futuro venha a
precisar, mas é para isso que está sendo feita a transposição do
rio São Francisco.”

Muitas famílias ainda viviam espalhadas pelo campo na região


que seria coberta pelo Castanhão em 2004. As comportas
haviam sido abertas, mas o açude dependia da chuva para
atingir sua capacidade máxima. Naquele ano, a estação chuvosa
foi intensa, e muitos moradores foram pegos desprevenidos.
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Giovane Araújo, presidente da Câmara de Vereadores, foi


convocado às pressas para resgatar as famílias com um
helicóptero. “Imaginei que ninguém ia querer subir no
helicóptero, mas fiz a primeira tentativa”, disse. Não deu outra.
Muita gente já estava presa em ilhas formadas pelas áreas mais
altas. Araújo não conseguiu resgatar ninguém assim.

Voltou para a terra e seguiu de barco no resgate. Passou 21 dias


dormindo no Castanhão, embaixo de chuva, comandando o
resgate das famílias. Nenhuma pessoa morreu afogada, mas não
foi possível salvar todos os animais. “O jumento, por exemplo,
paralisa”, explicou. “Eu fazia uma viagem com uma família e,
quando voltava, ele estava com a água na barriga. Mais uma
viagem, e ele com água no pescoço. Na terceira, estava morto.
Não sei qual é esse instinto dele, de não procurar sobreviver.”

“Eu nunca tive um sonho que se passasse aqui, na cidade nova”,


disse a mãe de Giovane Araújo, dona Loló, sentada numa
cadeira de balanço no seu alpendre. “Eu gostava daquela vida
mais simples. O marido ia pescar no rio que passava atrás de
casa, eu cozinhava para as crianças. Quando a gente chegou, o
velho adorou a cidade, dizia que isso aqui era o progresso. Mas
ele não durou vinte dias, logo morreu de uma barriga d’água
que trouxe de lá.”

Na velha Jaguaribara, dona Loló gostava de pôr a cadeira na


calçada e ficar até a noite conversando com os vizinhos. Como
as casas eram conjugadas, todos moravam perto. “Hoje quase
não se vê esse convívio, parece uma cidade-fantasma”, disse.
Logo que se mudou, se perdia com frequência nas ruas da nova
Jaguaribara. Nas poucas vezes em que saía de casa, para ir à
missa, ia para um lado diferente. Quando encontrava um
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conhecido, tinha vergonha de perguntar para que lado era a


própria casa: “Para me prevenir, parei de ir à missa de sandália
de salto.”

Além de muitas pessoas se perderem porque as casas eram


parecidas, muita gente se incomodava com o fato de os vizinhos
passarem por dentro dos quintais para cortar caminho. Não
demoraram a subir muros e personalizar os imóveis com cores
diferentes e texturatos.

S
egunda-feira é dia de missa no cemitério em Jaguaribara.
Como os moradores decidiram em plebiscito pelo modelo
de cemitério-parque, sem jazigos, o único vestígio
simbólico para diferenciar a popularidade dos defuntos (ou o
peso do luto dos remanescentes) são os arranjos de flores. Em
meio a uma monotonia de crisântemos, murchos ou de plástico,
reina soberano um túmulo com um arranjo fresco de rosas
brancas no formato de um coração, e a clássica inscrição
“Saudades de amigos e familiares”. O corpo de Idelfonso Maia
Cunha jaz ali há um ano, mas seu séquito de fãs mantém o
túmulo impecável. Ele foi o responsável pelo preenchimento de
várias valas no Parque da Saudade.

Matador profissional nascido no município de Alto Santo, mas


jaguaribarense de coração, ele esteve na capa de uma revista
Isto É de agosto de 1988, sob o título de “O maior matador do
Nordeste”. Acusado de mais de quarenta mortes, cumpriu
quase vinte anos de pena e vivia entre Jaguaribara, onde deixou
três viúvas, e Fortaleza, onde foi morto. “Acho que veio mais
gente no enterro dele do que na inauguração da cidade”,
lembrou Jeso Freitas durante uma visita ao cemitério. Ex-
presidente da Associação de Moradores e coordenador da Casa
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da Memória de Jaguaribara, Freitas contou que o povo tem certa


simpatia pela figura de Cunha, que representava o pistoleiro
nordestino à moda antiga: conquistador, vingativo, e justiceiro
em muitos casos. “As pessoas o comparam com os traficantes
hoje e o veem com nostalgia”, disse.

Poucas horas antes de uma missa no cemitério, a funerária Anjo


da Guarda preparou uma festa de inauguração no centro de
nova Jaguaribara, com sorteios de brindes e música alta. A três
quadras dali, um rapaz entrou correndo numa barbearia,
seguido por um homem armado que atirou nele, no barbeiro e
em um cliente. O rapaz morreu na hora, mas os ferimentos no
barbeiro e no cliente não foram graves. Segundo se espalhou
rapidamente, o rapaz vendia cocaína para um traficante rival, e
foi morto para servir de exemplo. Mortes como essas são
comuns na nova Jaguaribara, e houve quem brincasse que o
dono da funerária era, na verdade, o traficante. Uma semana
antes, os moradores vizinhos ao cemitério ouviram gritos de
socorro e barulhos de tiros vindos do terreno ao lado. Na manhã
seguinte, encontraram o corpo de um rapaz. “Essa escuridão
também facilita”, acredita Jeso Freitas.

No ano passado, a Companhia Energética do Ceará ganhou o


direito de cortar a iluminação pública de Jaguaribara, depois de
sete meses de inadimplência geral. O prefeito Bacurau explicou
a situação assim: “Pensa num jovem que ganha um carrão do
pai, mas não tem nenhuma renda. O pai precisa pagar as
prestações, pôr gasolina e pagar também o estudo do filho até
ele poder se manter e manter o carro sozinho.” O prefeito está
no final de seu terceiro mandato, o primeiro deles na cidade
nova. O carrão a que ele se refere é a nova Jaguaribara, o
caprichado prêmio de consolação que os habitantes da cidade
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original ganharam quando ela foi condenada pela construção do


açude Castanhão.

Jeso Freitas critica o fato de o prefeito passar por cima de


resoluções do plano-piloto da cidade, autorizando a liberação
de quiosques nas praças e as casas populares com a metragem
inferior à mínima de 75 metros quadrados, e até sem
saneamento básico. Para Bacurau, não há conflito em liberar o
comércio numa cidade em que o desemprego é o maior
problema. “Outros grandes comerciantes também
desobedeceram ao plano-piloto e construíram um 2º andar na
loja, mas disso ninguém fala”, disse. “Só o pobre é criticado
porque é visto como estorvo.”

Segundo ele, a companhia de água deve providenciar em breve


o saneamento das casinhas, e não houve precipitação porque era
uma urgência, “até mesmo porque na outra cidade não existia
saneamento básico e todo mundo vivia bem”. Para ele, “o plano
diretor foi rasgado há muito tempo – e tinha que ser rasgado,
porque era um sonho”.

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