Você está na página 1de 3

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN

Departamento de Ciências Biomédicas – DCB


Faculdade de Ciências da Saúde – FACS
Curso de Medicina

Millena Fontes Soares

Relatório de observação psíquica e relação médico (aluno) – paciente

No dia 12 de fevereiro do corrente ano, às 13:00hrs, eu e alguns colegas de


curso fomos ao Hospital Regional Tarcísio Maia, acompanhados pela professora
Bianca Medeiros Valente, da disciplina de Psicologia Médica. Na oportunidade
pudemos conversar com um paciente para analisar o seu estado psíquico e a
relação médico – paciente. Dessa forma, na ala masculina da clínica médica,
conversamos com o paciente R.C.A. de 56 anos do leito 34E, o qual estava
acompanhado pela sua esposa de 46 anos. Perguntamos um pouco sobre a história
clínica do paciente, para que pudéssemos conhecer um pouco mais dos motivos que
o levaram até o hospital, e ele relatou que se encontrava na unidade hospitalar
desde a última sexta-feira (07/02) com um quadro clássico de pé diabético e estava
durante esses dias esperando para a realização do processo de debridamento em
dois dos seus dedos. O senhor R.C.A. é diabético há 16 anos e já apresentava, no
pé contralateral, dois dos seus dedos amputados, bem como apresentava problemas
de coração, nos quais já lhe fizeram passar por procedimento cirúrgicos. Pudemos
notar que tanto o paciente como a sua esposa que estava lhe acompanhando são
bastante abertos para a conversa com o médico, gostam se tirar dúvidas a respeito
da enfermidade em questão e apresentar os sintomas e insatisfações quanto as
suas condições, bem como mostraram-se acessíveis para os possíveis tratamentos
sugeridos pelos médicos. Além disso, pudemos notar uma certa carência de
conversa nos dois, o que tornou mais fácil a nossa aproximação, demonstrando
assim, ser possível estabelecer uma boa relação médico – paciente.

No entanto, no decorrer da conversa com ele e com sua esposa, nos foi dito
que o paciente não seguia à risca todas as recomendações médicas, bem como não
realizava de maneira satisfatória todos os tratamentos, confessando que apesar da
boa relação com os médicos, sendo ciente dos riscos à sua saúde, o paciente
mostrou-se “teimoso” ao não realizar procedimentos que potencializariam a sua
melhora. Percebemos então que esse fato era de grande preocupação para a sua
esposa, pois essa displicência do seu marido quanto ao tratamento resultava em
vários episódios que terminava em vários dias no hospital. Desse modo,
acompanha-lo no hospital por vários dias tinha grande impacto na vida da
acompanhante, uma vez que precisava afastar-se do trabalho, passava várias noites
dormindo em uma cadeira – fato que lhe causava grande desconforto e estresse - e,
o que lhe deixava mais preocupada, era deixar os seus filhos sozinhos em casa,
uma vez que um deles tinha passado por um procedimento de transplante de
medula óssea e precisava de maiores cuidados, fato que se tornava bem
complicado para eles principalmente por residirem na cidade de Almino Afonso,
distante cerca de 133Km de Mossoró, onde estava hospitalizado. Assim, ela tinha
que abrir mão de várias responsabilidades para poder acompanhar o seu esposo no
hospital. Com isso é visível o impacto da doença não só na vida do paciente, com
também na vida daqueles que estão ao seu redor.

Ao indagarmos ao paciente sobre o seu sentimento diante de toda essa


situação, pudemos perceber uma grande insatisfação principalmente pela situação
de desconforto em que se encontrava e que refletia sobre toda a sua família, apesar
de ter consciência de que aquilo era fruto do seu descuido. Além disso, podemos
perceber grande tristeza do paciente quando ele relatou sobre o seu trabalho de
feirante, pois devido às suas situações de saúde ele não conseguia mais trabalhar
na venda de verduras em várias cidades vizinhas, porém sentia muita falta da sua
rotina de trabalho, uma vez que por estar impossibilitado de trabalhar sentia-se uma
pessoa impotente, ficando dependente do benefício que ele recebia por invalidez.
Assim, pudemos ver que os agravos da sua doença não estavam relacionados
somente as patologias fisiológicas, como também à impactos psicológicos na vida
do senhor R.C.A. Essa questão me fez refletir sobre uma justificativa de o paciente
mostrar-se tão “teimoso” aos tratamentos: notei que o grande desejo de poder
continuar trabalhando, o fazia burlar os procedimentos de tratamento, pois com a
sua dura rotina de trabalho ele não tinha tempo de se alimentar melhor e fazer
menos esforços.
Por fim, nos despedimos do senhor R.C.A. e da sua esposa e agradecemos
pela grande contribuição para nossa vivência. Desse modo, a partir dessa conversa
pudemos perceber que passar vários dias em um leito hospitalar resulta em um
desgaste enorme e que por trás de uma doença, seja ela de alta gravidade ou não,
há grandes impactos psicológicos não só para quem está enfermo, como também
para todos aqueles que rodeiam essa pessoa. Além disso, tais impactos
psicológicos podem afetar a rotina do paciente dificultando mais ainda o processo de
tratamento e cuidados.

Você também pode gostar