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CAPÍTULO SEGUNDO
A maior surpresa da vida de “Baby”
1
“Reino Atlântico”, país fictício
— Claro ... claro... com esse seu cérebro privilegiado, não
podia...
— E devo dizer... — interrompeu-o de novo que parece
um país... esquecido. Nunca se fala nele por motivo algum.
Não faz parte da OEA, da ONU ou de qualquer outro
organismo internacional. É um país bastante
subdesenvolvido e pouco menos que abandonado á sua
própria sorte, porque, segundo imagino, jamais admitiu a
ingerência de outras nações.
— Descreveu maravilhosamente o Atlantic Kingdom,
miss Montfort — respondeu Martin, para surpresa de
“Baby”.
— É muito amável, mas diga-me, mister Martin: essa
história de me escolher para rainha não passa de uma
brincadeira, não é verdade? Que desejam realmente de mim?
— Que seja a nossa rainha.
— Oh, vamos, mister Martin! Não insista nessa tolice!
Não lhe quero parecer convencida, mas sou uma garota
inteligente. Diga a verdade e compreenderei perfeitamente.
Que querem exatamente de mim’?
— Que seja a nossa rainha. A coroação terá lugar dentro
de uma semana.
— Então, insiste na brincadeira, hem? Está bem: eu
também tenho senso de humor e vou levar a coisa na troça.
Mas, naturalmente, rejeito sua proposta. Eu lhe fico
imensamente grata, mas declino de ser rainha. Boa-noite,
cavalheiros — despediu-os frontalmente, levantando-se.
Martin, Zabulon, Isaac e Joseph imitaram-na
automaticamente, parecendo consternados.
— A sua atitude nos leva ao desespero, miss Montfort —
murmurou Zabulon. — Sinceramente, quando a vimos
ficamos absolutamente convencidos de que é a rainha de que
o nosso país está necessitando.
— Vocês já estão ultrapassando o limite — disse a mais
astuta espiã do mundo, franzindo a testa.
— A brincadeira terminou, senhores! Quem teve a triste
idéia?
— Que idéia? — surpreendeu-se Martin.
— A de enviá-los tão elegantemente vestidos para uma
brincadeira tão deselegante. São excelentes atores. Em que
teatro trabalham? Quero vê-los em cena qualquer dia
destes...
— Miss Montfort, por favor! Que está dizendo?!
— Fui muito clara: vocês são atores e alguém os
contratou para uma brincadeira. Porém já terminou, embora
com êxito. Frankie! Sim, deve ter sido aquele maluco!
Brigitte Montfort desatou em deliciosa gargalhada e os
quatro homens se entreolharam, aparvalhados.
— Queira desculpar... — murmurou Isaac. — Quem é
Frankie?
— Frank Minello. Tínhamos combinado juntar juntos
depois de assistir a um luta de boxe. Quanto lhes pagou o
maluco?
— Miss Montfort! — exclamou Martin, enrubescendo até
às orelhas.
Brigitte estava prestes a tecer outro comentário sobre
Frank Minello quando bateram á porta de entrada do
luxuosíssimo apartamento do “Chrystal Building”, situado
em plena Quinta Avenida. Olhou para uma das portas que
davam para o salão.
— Vá ver quem é, Peggy.
A empregada apareceu sorrateiramente no corredor,
segurando firmemente uma ampola de vidro na mão
esquerda, perguntando a Brigitte:
— Que... que... faço com isto? ...
— Deixe-a comigo e vá atender. Deve ser Frankie, que
veio ver o resultado de sua brincadeira. Não fique olhando
para mim desse jeito, mulher! Tudo não passa de uma das
loucuras de Frankie! Será que não consegue entender?
Tomou cuidadosamente a ampola da mão de Peggy,
guardando-a numa gaveta da biblioteca. Os quatro
emissários do Atlantic Kingdom olhavam-na perplexos.
silenciosos, ofendidos.
— Querem tomar algo! — sorriu Brigitte. — Seu
excelente desempenho merece um brinde.
Nenhum dos quatro respondeu. Já se ouviam no corredor
os passos de alguém muito pesado e pouco depois o
gigantesco e atlético Frank Minello, chefe da Seção de
Esportes do “Morning News”, entrava no salão com passos
descomunais.
— Puxa! — exclamou. — Você ainda não está vestida?!
Falta pouco para começar a luta! Quem são esses
indivíduos? Parecem pingüins gigantes ...
Os quatro representantes do Atlantic Kingdom
enrubesceram muito, enquanto Frank Minello, com os braços
encolhidos, imitava maravilhosamente o andar e o grasnar
dos pingüins.
— Não deve ser tão grosseiro, Frankie. Afinal,
desempenharam muito bem o seu papel.
— Que papel?!
— O de emissários do Atlantic Kingdom, convidando-me
para ser rainha. A coroação seria dentro de uma semana.
Minello ficou de boca aberta, deixando-se cair
pesadamente numa das poltronas antes de comentar:
— Tinha que ser! Eu já sabia que mais cedo ou mais
tarde isso aconteceria!
— Pois já aconteceu. Frankie. Agora, pague homens para
que eles possam voltar para o seu teatro e nós possamos
assistir á luta. Vamos, homem! Enquanto isso, irei vestir-me.
Adeus, cavalheiros. Foi um prazer conhecê-los.
Encaminhou-se para a porta que levaria ao seu quarto,
porém Frank Minello saltou da poltrona como um canguru.
— Um momento! gritou. — Que história é essa de pagar
a esses pingüins. Brigitte?!
Ficou de pé com as pernas abertas e as mãos nos quadris,
de testa franzida. visivelmente irritado. Brigitte também
contraiu as sobrancelhas, olhando para os quatro homens. Já
estava convencida de que tudo aquilo não fora idéia do
menino grande Frankie.
— Bem ... Acho que me enganei, senhores... — disse
“Baby”, pausadamente. — Quem os enviou?
Martin tornou a abrir a pasta, retirou quatro folhetos de
capa verde-claro e os entregou a Brigitte, que os recebeu um
pouco hesitante.
— São os nossos passaportes turísticos — disse Martin.
— Como sabe, o nosso país não mantém relações
diplomáticas com terra alguma. Como somos vizinhos dos
Estados Unidos, gostaríamos de ter pelo menos relações
amistosas com este país, o que não acontece. Não obstante,
não encontramos dificuldade alguma em ingressar como
turistas. Pode comprovar a autenticidade dos vistos
consulares e certificar-se de que viemos realmente de
Atlantic Kingdom.
A espiã examinou os passaportes. Ela dificilmente se
enganaria em tais assuntos, como profunda conhecedora dos
processos de falsificar documentos. Além disso, ninguém se
daria ao trabalho de forjar quatro passaportes simplesmente
para fazer uma brincadeira momentânea.
Quando ergueu os olhos, Martin lhe entregou alguns
jornais e várias fotografias. As fotos eram suas, copiadas de
algumas que vez por outra apareciam no “Morning News” .
E nos jornais, todos de Atlantic Kingdom, as suas fotografias
ocupavam toda a primeira página e tinham legendas
indicando que ela seria a rainha. As páginas internas estavam
cheias de artigos e resultados de votações, pelos quais se
podia ver claramente que Brigitte Montfort Bierrenbach
tinha sido acolhida com muita alegria e carinho. Em alguns
jornais havia artigos de página inteira elogiando os olhos
azuis de Brigitte e chamando-a “Rainha dos Olhos Azuis”.
— Mas... isso é inaudito!
— Mas é verídico, miss Montfort.
— Devo estar sonhando... Eu lhes peço que me
desculpem por minha atitude quase agressiva, mas...
— Nós compreendemos, pois não é comum procurar-se
uma rainha fora do país.
— Mister Martin, isso não faz sentido.
— Para nós faz muito sentido. Talvez lhe cause
estranheza o fato de nenhuma noticia sobre o assunto ter sido
publicada no exterior, mas estabelecemos um serviço de
censura rigoroso que vigiou inclusive a correspondência
epistolar e os telegramas pessoais até o momento de sairmos
do país na manhã de hoje. Mas acho que não demorará muito
para que a imprensa do mundo inteiro procure entrevistá-la.
— Vamos esclarecer tudo isso! — rugiu Minello. — De
que estão falando’?!
— Esses cavalheiros querem que eu seja a rainha do seu
país, Frankie. Eu já lhe disse isso. Mas estão levando a coisa
a sério, embora eu a considere fantástica. Está claro que não
é possível! Se não foi você o autor da brincadeira, deve ter
sido outro.
— Não se trata de uma brincadeira, miss Montfort! —
protestou novamente Martin.
— Mas o senhor deve compreender que...
— Compreendemos perfeitamente sua surpresa é muito
natural que não compreenda inicialmente, mas pode estar
certíssima de que Atlantic Kingdom necessita de sua direção.
— Mister Martin... eu... jamais pensei em renunciar à
minha cidadania norte-americana, nem mesmo em troca de
um trono.
— Não perderá sua nacionalidade ao se tornar a rainha do
meu país.
— Mas... não, eu não compreendo! Não pode deixar de
ser uma brincadeira cuja graça ainda não consegui alcançar.
Além disso, deve haver em sua pátria uma mulher capaz de
reinar sobre o seu povo, mister Martin.
— Nossa primeira iniciativa foi fazer uma triagem entre
as mulheres de nossa terra e escolher as melhores, porém as
escolhidas não satisfizeram as exigências; depois, repetimos
a operação em âmbito mundial e, para podermos chegar a
uma conclusão que não permitisse dúvidas nem criticas,
tivemos de recorrer a um cérebro eletrônico. Fizemos a
programação com vinte e cinco mil mulheres de
praticamente todas as nacionalidades e a IBM nos deu uma
resposta definitiva:
— Expediente USA 1007. Era o expediente de Brigitte
Montfort Bierrenbach.
— Eu sabia! — gemeu Frank Minello. — Eu sabia que
isso teria de acontecer algum dia! Mas esperava que pelo
menos não fosse escolhida para rainha! Vocês não levarão
Brigitte daqui, seus raptores! Se acham que...
— Quer servir-nos um uísque, Frankie? — interrompeu-o
mansa e irresistivelmente Brigitte. — Por favor, conserve
essa bocarra fechada enquanto eu discutir o assunto com
esses cavalheiros educados.
— Se esses pingüins pretendem levar você daqui, terão
de passar por cima do meu cadáver — bramiu o gigante.
— Eu não disse que aceito a proposta — sorriu “Baby”,
ainda incrédula. — Continuo achando que não passa de uma
brincadeira complicadíssima. Possivelmente um programa de
televisão, hem, mister Martin?
Martin movia negativamente a cabeça, sorrindo. Frank
Minello serviu o uísque enquanto Brigitte folheava os
jornais, pensativa. De repente, olhou para Martin.
— Quem é a rainha atual?
— Morreu há três anos, miss Montfort. Passamos todo
esse tempo sem rainha, resolvendo desajeitadamente os
assuntos oficiais. Existe uma Câmara dos Comuns formada
por vinte membros. A governança está a cargo de um
Conselho dos Quatro.
— Conselho dos Quatro... São os senhores?
— Exatamente. Somos os mais altos dignitários de
Atlantic Kingdom.
Brigitte passou a mão pela testa.
— Aceitarei como verdadeiras as suas palavras coisas
publicadas nestes jornais, para não ficarmos discutindo à toa,
mas rejeitarei inflexivelmente a proposta. Sinto muito.
— Nós lhe suplicamos...
— Lamento sinceramente, mister Martin. Poderei ajudá-
los de qualquer outro modo a resolver qualquer problema,
porém...
— O de uma guerra, por exemplo? — sorriu
amargamente, Martin.
— Como?!
— Uma guerra. miss Montfort. O nosso povo quer uma
rainha e jamais aceitaria ser governado por um rei. Não
impedimos que a rainha se case, mas o seu marido será
apenas um príncipe consorte, sem qualquer ingerência na
direção do país.
— Mas por que haverá uma guerra se o seu país não tiver
uma rainha?
— A verdade é que... as coisas não vão muito bem. Os
desastres políticos, econômicos e sociais se sucedem em
Atlantic Kingdom e o povo está absolutamente convencido
de que tudo isso decorre de estarmos há três anos sem uma
rainha. Pior ainda, acha que a Câmara dos Comuns e o
Conselho dos Quatro, apoiados pelo Exército, são os
responsáveis e exploram a nação em benefício próprio.
— E não será verdade, mister Martin? — sorriu “Baby”,
maliciosamente. — Não estarão abusando dos privilégios e
explorando quatro milhões de pessoas indefesas?
— Absolutamente, miss Montfort! Mas o povo acha que
sim e, se não tiver prontamente a quem admirar, respeitar,
confiar e adorar, haverá uma guerra intestina, uma revolução
de conseqüências lamentáveis. Nós poderíamos ter escolhido
para rainha qualquer das mulheres que vivem no Palácio
Real, mas não o fizemos precisamente por honradez. Que
nos custava colocar qualquer delas no trono e tapar a boca do
povo? No entanto, fizemos justamente o contrário: reunimos
dados sobre vinte e cinco mil mulheres, sugeridas pelo
próprio povo e, finalmente, alugamos na IBM um cérebro
eletrônico que foi desembarcado no porto de nossa Capital, a
adorável e aprazível Queen City, diante de milhares de
concidadãos. Todos sabem de que material “alimentamos” o
IBM, estão cientes de tudo. Trabalhamos durante seis meses
sem parar, quase chegando à estafa, e gastamos milhões de
dólares. Tudo isso seria evitado se os nossos propósitos não
fossem honestos. Mas agimos com correção e quatro milhões
estão á espera de sua rainha ou... de uma revolução!
— Quando partiríamos? — foi a pergunta incisiva de
Brigitte, que fez Frank Minello abrir os olhos e a boca como
se tivesse esbarrado com um fantasma.
— Amanhã. Bem... Amanhã sairíamos dos Estados
Unidos, mas esta noite partiríamos de avião para Miami a
fim de evitar a avalancha de jornalistas internacionais.
Sairíamos de Miami às nove da manhã, também de avião,
chegando ao Aeroporto Internacional de Queen City ás onze.
Durante a noite e na viagem nós atualizaríamos sobre
tudo o que precisa saber para entrar triunfalmente em
Atlantic Kingdom. Depois, seria aos poucos familiarizada
com a pátria. Mas a coroação teria de ser urgente, para
evitarmos derramamento de sangue, a morte de milhares,
talvez milhões de inocentes.
Martin não sabia que, com essas palavras, ferira fundo a
fina sensibilidade da agente “Baby” da CIA.
— Aceito, mister Martin.
Os quatro ficaram ofegantes de emoção, contendo a custo
uma explosão de alegria para não perder a linha própria à
condição de membros do Conselho dos Quatro de Atlantic
Kingdom. Mas logo receberam uma ducha fria, quando
Frank Minello também declarou, furioso:
— Eu também aceito!
— Que... que... que... disse, mister. — balbuciou Martin,
com os lábios trêmulos.
— Eu disse que também irei para lá, rapazes. Talvez, com
um pouco de sorte, eu me torne o seu príncipe consorte. Que
vidão! Brigitte minha esposa e eu na maior vadiagem! Com
mil demônios! Tenho que ir para esse reino encantado.
— Bem ... Na realidade, mister, não consideramos a sua
presença.
— Qual seria o inconveniente? — indagou Brigitte,
sorrindo.
— Haverá apenas os inconvenientes que decida Sua
Majestade! — inclinou-se Martin. rapidamente imitado pelos
outros três.
— Pois não vejo inconveniente algum declarou a
internacional “Baby”, acariciando “Cícero”. — Frankie é um
homem amigo e ficarei mais tranqüila tendo-o ao meu lado
nos primeiros dias de reinado. Além disso, eu gostaria que
ele assistisse à minha coroação.
— Se Vossa Majestade me permite sugerir — murmurou
Martin — seria melhor partirmos imediatamente.
— Mas... e a minha bagagem?
— Vossa Majestade já dispõe de completo vestuário no
Palácio Real. Podemos sair imediatamente, jantar no avião,
passar a noite em Miami e chegar a Atlantic Kingdom antes
do meio-dia para que o povo possa vê-la á satisfação. Vossa
Majestade terá apenas que vestir-se... e partir.
— Levarei também “Cícero” e Peggy, mister Martin.
Haverá algum inconveniente?
— Em absoluto, Majestade.
— Será uma bomba! — gritou Frank Minello,
entusiasmadíssimo. — Serei o favorito de uma rainha! Santo
Deus, que vidão! Viva a Rainha!
“Cícero” dava saltos enormes. Bem... Enormes, para o
seu tamanho. E Peggy parecia prestes a desmaiar. Os cinco
homens estavam satisfeitíssimos, especialmente Minello, que
continuava considera aquilo uma brincadeira divertidíssima e
originalíssima, esquecendo por completo a luta final pelo
campeonato mundial de pesos-pesados no Madison Square
Garden.
“Baby” olhou cada um dos membros do Conselho dos
Quatro.
— Espero, senhores — disse, com voz maviosa e com um
sorriso gélido — que tenham falado a verdade, porque, caso
contrario — seu sorriso desapareceu — eu ficaria
terrivelmente irritada...
CAPÍTULO TERCEIRO
Havia princesas e... um preceptor
CAPÍTULO QUARTO
O pesadelo da rainha
CAPÍTULO QUINTO
Um duende e... morte horripilante!
CAPÍTULO OITAVO
O duende do príncipe-consorte
CAPITULO NONO
O erro de não conseguir errar...
3
Ver Numa Viagem de Prazer
— Então, nada temos a temer dessa mulher. Seria muito
diferente se ela fosse, por exemplo, a tal agente “Baby” da
CIA.
— Nem pronuncie esse nome — disse Kurvanian,
estremecendo. — É o pesadelo de todo o serviço secreto
russo. Mas vamos assistir a essa cerimônia. Essa mulher tem
uma classe excepcional!
— Deveras?
— Não acha? Repare bem, Bolonov.
— Estou reparando, mas acho que nenhuma mulher que
se venda, seja por que motivo for, tem classe. Nem mesmo
quando se venda por cinco milhões de dólares, e nós
sabemos que ela entrou em conchavo com o Conselho dos
Quatro.
— Quase chego a lamentar — suspirou Kurvanian —,
pela decepção que me causa. Mas a verdade é que sua
venalidade nos proporcionará o maior elogio até agora feito
pelo Kremlin.
— Esperemos que assim seja — murmurou Bolonov. —
O nosso trabalho foi lento. monótono e árduo.
— Mas dentro de uma semana estará terminado, Essa
mulher abdicará e... Atenção para a tela!
***
Na tela, os dois oficiais que custodiavam a coroa se
haviam aproximado do trono e colocavam o manto sobre os
ombros da rainha, que o atou ao pescoço com extrema
facilidade. Depois e sempre de acordo com o protocolo de
Atlantic Kingdom, o oficial-general de mais alta graduação
se aproximou dela, oferecendo-lhe numa almofada, o cetro
que simbolizava o mando. Por fim recolheu a coroa trazida
na almofada pelo chefe da Guarda Nacional. Com a coroa
entre as mãos, o general se voltou para a Saia do Trono.
exibindo-a a todos, lentamente, descrevendo um semicírculo.
Voltou-se para a rainha, que permanecia imóvel, com a
cabeça inclinada. Nesse momento a rainha ergueu a cabeça
para receber a coroa, que foi colocada sobre seus cabelos
negros. O general recuou dois passos e, antes de se inclinar
respeitosamente, disse:
— Eis a nossa Rainha! Viva a Rainha!
***
— Bem ... — sorriu Bolonov — Agora, ela dirá algumas
palavras e nossa parte estará terminada. Vou desligar.
— Espere. Não temos pressa. Ouçamos o que vai dizer.
— Como queira. camarada Kurvanian.
Este olhava fixamente para a teta. A rainha se havia
sentado no trono, tomando posse dele. Por trás, apareceu um
oficial da Guarda Nacional que colocou um microfone junto
ao trono para que as palavras da rainha recém-coroada
chegassem a todos os cantos do salão e, através dos serviços
de rádio e televisão, a todo o país.
— Acho que vai dizer umas tolices — comentou
Bolonov.
— Ouça, homem!
A voz de Sua Majestade soou com toda a clareza na sala
da pequena casa praiana:
— Querido povo de Atlantic Kingdom. Agradeço o
carinho demonstrado durante esta semana de estada entre vós
e sei que me dedicariam esse carinho durante toda a minha
vida. Mas esta noite tive tempo para refletir longamente e
decidi abdicar.
— Está louca! — exclamou Bolonov. — Não tem de
fazê-lo agora! Essa mulher é uma estúpida! Devia esperar
alguns dias para que ninguém suspeitasse!
— Cale-se! — gritou Kurvanian. — Escute!’
— ... família real — prosseguia a rainha recém-coroada.
— E creio que essa família real tem todos os direitos sobre
este trono. Assim, tomei a decisão e tenho já escritos os
documentos que dão validez a essa decisão. Agora só me
hasta firmá-los com os plenos poderes que me confere a
coroa.
Um novo personagem apareceu na tela do televisor,
trazendo um pergaminho e um cavalete. Colocou o cavalete
diante da Rainha e, sobre este, o pergaminho, entregando
uma pena á soberana, que começou a firmar o documento
ante o assombro e a expectativa dos convidados.
— Quem é esse sujeito? — perguntou Kurvanian.
— Acho que é o preceptor de uma das princesas.
— Que papel representa em tudo isso?
— Não sei. Mas estou certo de que essa mulher é uma
idiota e me pergunto por que não esperou uma ou duas
semanas para abdicar completamente e nomear um
Presidente e um Conselho de Três.
— Talvez Martin não lhe tenha sabido dar devidamente
as instruções.
— Então o miserável do Martin é que deve ser
considerado idiota! Vou...
Kurvanian lhe exigiu silêncio, apontando para a tela, na
qual se via a rainha sorridente após firmar o documento.
— Eis aqui as minhas primeiras e últimas disposições de
Rainha. Numa delas, nomeio Regente de Atlantic Kingdom
Conrad Harris Baldford, o qual, com poderes plenos e
absolutos, governará este país até que a Rainha tenha dezoito
anos. Refiro-me á nova e autêntica Rainha, em favor da qual
abdico desde este mesmo instante, também normal e
legalmente, com documentos firmados...
A Princesa Mary Lou apareceu no corredor e se
encaminhou diretamente para o trono. Agora, o silêncio era
ainda maior, forçado, incrédulo. Todos os olhares estavam
fixos na menina, que subiu à plataforma do trono e se
colocou diante de Sua Majestade, a qual se levantou e,
sorrindo retirou a coroa da cabeça. Sempre sorrindo,
colocou-a na cabeça da menina e levou-a por uma das mãos
até ao trono ajudando-a a sentar-se.
Mais sorridente do que nunca. Brigitte Montfort voltou-se
para os presentes e disse:
— Eis a nossa Rainha! Viva a Rainha!
Ivan Bolonov deixou-se cair numa poltrona. depois de
quase se lançar contra o aparelho de televisão. Tinha o rosto
tão pálido que mais parecia um cadáver. Kurvanian, de pé
junto a ele, estava igualmente pálido, enxugando o suor frio
da testa com um lenço.
— Estamos perdidos... — gemeu. — Fomos traídos por
aqueles quatro suínos.
— Talvez seja coisa dela — murmurou roucamente
Bolonov.
— Você está louco?! Essa mulher não tem capacidade
mental suficiente para planejar tudo isso! Tudo foi preparado
pelo Conselho dos Quatro! Não pode ser de outro modo!
— Acho que devemos acalmar-nos. Kurvanian. Sim. isso
é o que temos de fazer: acalmar-nos. Devemos analisar
detidamente a situação atual.
— Não há nada que analisar... Está bem claro: essa
mulher abdicou em favor de uma princesa real e nomeou
Regente do Reino esse Conrad Harris Baldford. Posso dizer
o que significa, sem necessidade de analisar coisa alguma: o
país nos escapou das mãos. Até que essa menina atinja os
dezoito anos. Atlantic Kingdom será governado com plenos
poderes exclusivamente pelo Regente. E estou certo de que
souberam escolher o homem adequado pura que nem sequer
ouça uma proposta nossa!
Bolonov passou a língua pelos lábios e olhou para a tela,
na qual se via o escudo do país como fundo para a execução
do Hino Nacional. A cerimônia havia terminado. Desligou o
televisor e tornou a deixar-se cair na poltrona, transpirando
tanto quanto Kurvanian.
— Moscou sabe quais eram exatamente os seus planos?
— indagou.
— Eu disse aos chefes que seria uma grata surpresa para
eles. Só isso. Mas dentro de poucas horas verão o vídeo-tape
e...
— Espere. Talvez ainda possamos tentar algo ...Talvez,
em Moscou acreditem que este seja o nosso plano, pelo
menos enquanto nós procuramos uma solução.
— Não diga tolices. Neste momento, uma dezena de
agentes da MVD já sabe o que ocorreu e Moscou terá a
verdade em menos de duas horas: o Conselho dos Quatro nos
traiu, nos ludibriou. Isso é fácil de compreender. Ninguém
acreditará em outra coisa se não que fomos burlados como
imbecis por esses quatro homens!
— É... Isso é o que acreditarão. Mas... Não lhe parece
estranho? É inacreditável. Esses homens são por demais
ambiciosos. Estão corrompidos, iam ganhar cem milhões de
dólares. Não podem ter sido eles.
— Quem, então? A rainha dos olhos azuis? — indagou
com sarcasmo, Kurvanian.
— Por que não? — duvidou Bolonov. — Por que não?!
— É impossível... Impossível! Seriam necessárias uma
astúcia e uma audácia diabólicas!
— Antes, você desconfiava dessa mulher, vendo em seus
olhos algo que não o agradava. Não desconfia mais?
— Escute: para idealizar tudo isso, para levar o plano a
cabo tão de surpresa, essa mulher teria de ser uma velha
raposa conhecedora de todos os truques das intrigas
políticas. da espionagem, de... de tudo!
— Ela esteve em Moscou como uma inocente
intermediaria entre a CIA e a MVD não é verdade?
— É.
— E se não fosse tão inocente? E se fosse uma
especialíssima agente norte-americana? Você poderá dizer
que a coincidência seria demasiada, mas... por que não? Não
se esqueça de que foi escolhida por um cérebro eletrônico.
— Você mesmo me disse que Martin havia alterado a
engenhoca pura que saísse um nome qualquer, pois de outra
forma não haveria um meio de encontrar uma mulher
capacitada para ser rainha. Seria demasiada casualidade —
insistiu Kurvanian.
— E se o cérebro eletrônico tivesse funcionado direito?
— Tolice, Bolonov! Acho que o melhor que temos a
fazer é partir imediatamente deste país.
— Não. Se a jogada foi dos Quatro. Eles não nos
deixarão escapar. Tudo estará vigiado, inclusive, talvez, esta
casa. Mas, se não foi coisa deles por certo nos chamarão ou
virão até aqui. Logicamente, em Moscou considerarão o
assunto maquinado pelos Quatro e nos declararão ineptos.
Mas... e se os Quatro nada tivessem a ver com a coisa?
Poderíamos suavizar o nosso fracasso informando a Moscou
que a culpa foi dessa mulher e talvez pudéssemos saber de
mais coisas sobre ela. Vamos esperar, camarada Kurvanian,
porque é a única coisa que podemos fazer. Tenhamos calma,
porque, se esses homens tem de vir, sem dúvida surgirão
antes do anoitecer.
***
Exatamente ás dez da noite, os Quatro chegaram a
casinha praiana. Ivan Bolonov lhes abriu a porta, deixando-
os entrar, em silêncio. Quando chegaram à pequena sala.
viram Kurvanian desgrenhado, pálido, com o rosto contraído
demonstrando impaciência e preocupação.
— Estamos dispostos a escutar — disse Bolonov
Os Quatro não estavam menos pálidos do que os dois
russos. Martin, como sempre, elegeu-se porta-voz do grupo:
— Foi ela! — deixou escapulir, num sopro. — Foi essa
mulher! Têm de acreditar!
— Ela planejou tudo? Não pode ter sido esse Não, não,
não... Ela idealizou tudo. Conrad não sabia de nada meia
hora antes da coroação. Foi quem mais se surpreendeu. Foi
ela!
— É impossível que uma mulher imbecil tenha
conseguido armar essa jogada contra nós, mister Martin —
disse friamente Kurvanian.
— Não é nenhuma imbecil! É ... é uma víbora. Uma
víbora, podem estar certos!
— Parece que sua idéia triste de mexer no cérebro
eletrônico teve más conseqüências — rugiu Bolonov. —
Talvez tivesse sido melhor deixá-lo funcionar normalmente.
Quem sabe se ele não escolheria...
— Funcionou normalmente — sussurrou Martin,
parecendo encolher.
— Como’?! — exaltou-se Kurvanian.
— O... o cérebro eletrônico funcionou bem. Ontem, o
representante da IBM me procurou e me perguntou se os
serviços de sua empresa tinham sido satisfatórios. Eu lhe
disse que sim e que já podia levar a máquina, acrescentando
que, se houvesse qualquer defeito decorrendo de nossa
atuação, nós pagaríamos o conserto. O homem sorriu e disse
que um IBM raramente apresenta defeitos e que, quando isso
acontece, a própria máquina os conserta sem incomodar os
clientes e que... que, além disso, os seus técnicos tinham
feito uma vistoria, constatando que funcionava
perfeitamente. Tanto assim que pretendem enviar o cérebro a
outro cliente.
— A máquina funcionou bem — repetiu pausadamente
Bolonov. — Isso quer dizer que essa mulher reúne as
condições exigidas para ser rainha!
Parecia prestes a desfalecer, com expressão aparvalhada e
o olhar fixo num ponto inexistente.
— Isso... isso mesmo. Pensei ter conseguido alterar o
funcionamento, mas... mas não consegui — lamuriou-se
Martin.
— Mas então, que espécie de mulher será essa, que está
capacitada para governar um país, que abdica da coroa, que
destrói os planos por nós longamente elaborados? —
exaltou-se Bolonov. — Que diabo de mulher será essa?!
— Eu não disse que ela não me agradava? — sussurrou
Kurvanian.
— É assombroso! Até agora, só uma mulher conseguiu
jogadas parecidas com...
Os dois russos ficaram olhando um para o outro,
desfigurados, transpirando em abundância. Não podiam estar
certos do que lhes ocorrera, porém a realidade lhes martelava
o cérebro. Kurvanian passou a mão pela testa, como se com
isso pudesse afastar a idéia que o perseguia naquele instante.
— Não pode ser... — gemeu. — Seria uma coincidência
espantosa, inacreditável — olhava para Martin. — Ela não
os delatou?
— Não. Ignoramos o que pretende. Se quisesse, já fazer
algo contra nós, já estaríamos detidos e vocês também.
— Por isso não saímos daqui. Sabíamos que seria inútil
tentar fugir, que tudo estaria vigiado — declarou Kurvanian.
— Estamos certos de que ela não disse coisa alguma a
nosso respeito a quem quer que seja — afirmou Zabulon,
lívido.
— Mas... por quê? O lógico seria prendê-los e obriga-los
a nos denunciar. Sabemos muito bem que não teríamos
possibilidade alguma de escapar e aguardamos porque
tínhamos alguma esperança. Mas não é lógico! Talvez ela
ache que a nossa detenção e os interrogatórios inevitáveis
provocariam grande alvoroço político, uma tensão
internacional. Não fugimos por considerarmos inútil
qualquer tentativa, mas se nem vocês foram presos... Por
quê?
— Foi o que você sugeriu: talvez não queira provocar
conflitos políticos — interveio Bolonov.
— Então, que pretenderá? Como espera solucionar este
assunto? — indagou Kurvanian, agitadíssimo.
— Tem os seus cinco milhões esperando por ela nos
Estados Unidos — lembrou Martin. — Talvez só esteja
interessada no dinheiro.
— Nada disso! — rugiu Kurvanian. — Vocês, os Quatro,
estão redondamente enganados. Ela quer algo mais. Armou
uma grande jogada que a coloca no cimo da astúcia política e
da espionagem. Mas isso só é do conhecimento de algumas
pessoas. Vejamos: nós seis e esse Conrad, o novo Regente.
Preparou uma jogada tão importante que talvez a MVD
chegue a conclusões importantíssimas sobre ela quando
enviarmos o relatório. Podemos ... momento! Um momento!
Vocês não foram seguidos?
— Não. Claro que não.
Os dois russos se entreolharam, com os olhos faiscando.
— Bem — murmurou Kurvanian. — Não sei o que ela
está tramando, mas o certo é que vamos tentar fugir daqui e,
como vocês são os únicos que nos conhecem...
O olhar trocado entre os russos tinha sido muito
expressivo, porém os Quatro só compreenderam a verdade
quando cada russo sacou da pistola provida de silenciador.
— Não! — gritou Martin. — Esperem! Não podem...
Não chegou a concluir. Os Quatro foram crivados de
balas, lançados uns contra os outros, salpicando-se
mutuamente de sangue. Em menos de cinco segundos jaziam
no chão tragicamente misturados, uns em cima dos outros.
Joseph e Zabulon ainda gemiam, porém mais quatro disparos
solucionaram a questão. Os quatro cadáveres formaram um
grotesco montão manchado de vermelho.
— Vamos... — disse friamente Kurvanian. — Só eles nos
conheciam, de modo que temos muitas possibilidades de
escapar. Se essa mulher for realmente a agente “Baby”,
estará liquidada. Enviaremos a informação à MVD e
esperaremos que a revelação atenue os efeitos de nosso
fracasso no outro assunto. Não deixe nada de importante,
Bolonov.
— Recolherei os portfolios.
Em menos de um minuto os dois russos saiam para o
alpendre.
— Levantem as mãos, camaradas — disse uma voz. — E
voltem para o ninho...
Os dois ficaram por um instante petrificados. Depois,
ainda sem erguer os braços, se viraram e olharam para o
homem alto, atlético, de rosto simpático e traços rebeldes.
Parecia um desportista.
— CIA? — indagou Bolonov.
— Levantem as mãos de uma vez e entrem.
Os dois obedeceram, entrando na pequena sala e quando
se viraram, viram o recém-chegado muito pálido, olhando
para os cadáveres.
— Sentem-se — ordenou o gigante. Caso se atrevam a
mover uma orelha terei um bom pretexto para apertar o
gatilho.
Os russos tornaram a obedecer. Viram o homem retirar
um maço de cigarros do bolso, mas compreenderam a
verdade quando ele apertou o maço e um dos cigarros
sobressaiu meia polegada.
— Já estão a caminho? — perguntou o atleta.
— Já. Estão com você? — respondeu uma voz de mulher.
— Estão. Mataram os Quatro.
— Tenha muito cuidado, Frankie. Mate esses indivíduos
sem a mínima vacilação, impiedosamente, à menor suspeita.
Chegaremos dentro de cinco ou seis minutos. Não se
descuide, por Deus!
— Terei a grande satisfação de matá-los se moverem um
fio de cabelo, mas ande depressa.
***
Brigitte guardou o diminuto emissor-receptor e olhou
para Conrad.
— Não pode correr mais, mister Conrad?
— Faço o que posso. Já sei... Já sei... Isso não tem
mérito... Irei mais depressa. Sabe que ainda não me refiz da
surpresa.
— A que se refere? Não descuide do volante!
— Fique tranqüila... Eu me referia ao túnel.
— É um bom sistema para sair do palácio sem ser visto.
Uma vez no mausoléu, não é difícil sair, à noite, para os
jardins reais.
— Não se esqueça, senhor Regente, de que Mary Lou
jamais deverá ter conhecimento da existência desse
subterrâneo.
— Não saberá. É tudo tão surpreendente... e tão horrível.
Quem havia de pensar isso de Jonás? Seu desaparecimento
causará estranheza, mas entendo que não poderemos dar
explicações. Enfim...
— Só se dá explicações quando não há outro remédio —
sorriu friamente “Baby”. — Principalmente em casos como
este.
— Eu a considero uma mulher extraordinária,
desconcertante. Não consigo compreendê-la, mas pode estar
certa de que eu a admiro profundamente e me pergunto como
poderei agradecer tudo o que fez por Mary Lou e por minha
pátria.
— Bastará que jamais revele a quem quer que seja o que
fiz, porque, caso contrário, encurtará a minha vida.
— Pode contar com o meu eterno silêncio Que faremos
agora? Que estará para acontecei nessa casa que o seu amigo
diz existir na beira da praia’?
— Agora, mister Conrad, encerraremos o assunto da
única maneira possível, pois temo que esses homens tenham
tirado conclusões muito acertadas sobre a minha
personalidade. Além disso, são assassinos.
— Que pensa fazer’?
Brigitte Montfort sorriu gelidamente.
— Já verá. Mas, haja o que houver, mister Conrad, aqui
terminará a minha intervenção, ficando o resto a seu
encargo. Dará a quem de direito as explicações que julgue
convenientes. Quando nos separarmos, eu voltarei sozinha
para o palácio, saltarei as grades e entrarei pelo mausoléu
real. Isso será tudo. O resto será por sua conta. De acordo?
— De acordo.
Três minutos depois o carro parava na casinha á beira-
mar e Brigitte descia rapidamente. Quando Conrad se reuniu
a ela na pequena sala, a enorme automática calibre 45, de
Frank Minello, já estava na mão direita da espiã. Conrad
olhou para os russos e abriu a boca pura fazer uma pergunta,
mas foi interrompido.
— Saiam! — disse Brigitte. — Os dois, mister Conrad!
Você ouviu, Frankie?!
— Mas eu ...
— Fora!
Minello passou a língua pelos lábios, segurou Conrad por
um braço e os dois saíram da casa. Os russos olharam
fixamente para a bela mulher dos mais belos olhos azuis.
“Baby” olhou ligeiramente para os quatro cadáveres.
— Vocês são dois assassinos! — declarou. —
Compreendo e admiro os espiões, inclusive quando matam
por ordens superiores, expressas, ou quem mereça morrer.
— Era a nossa segurança pessoal... — balbuciou
Bolonov.
— Ah ... Estimo que compreendam. Também se o de
matar por segurança pessoal, não é verdade? Evidentemente,
um espião identificado está muito próximo da morte. Muita
agradecida por admitirem o fato. Agora, cavalheiros.
— Espere! Apenas... uma pergunta ... Você é “Baby”, da
CIA?
— Não...
Do alpendre, Frankie e Conrad ouviram dois estampidos.
Os dois russos continuaram sentados, cada um numa
poltrona. com um orifício no meio da testa. Brigitte os
contemplou friamente e sorriu com igual frieza, só então
concluindo a resposta:
— Não... Não sou apenas a agente “Baby”, da CIA, seus
desnaturados. Sou muito mais do que isso. Sou um ser
humano que não mata por prazer.
***
Quatro dias depois. a rainha-menina de Atlantic Kingdom
se despedia da rainha que abdicara em seu favor, da mulher
que seria pura sempre carinhosamente lembrada por quatro
milhões de ilhéus. Ao seu lado, no Porto de Queen City,
estava Conrad Harris Baldford, o homem que, com apenas
dois dias de regência, consolidara três empréstimos no total
de cento e vinte e cinco milhões de dólares e solicitara a
admissão de sei país em todos os organismos internacionais,
a lado das nações democráticas.
Da amurada do transatlântico. Brigitte contemplou até
perder de vista, milhares e milhares de mãos num
prolongado adeus.
FÉRIAS...