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16/10/2020 ASPECTOS DE RÁDIO - PROPAGAÇÃO (1)

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ASPECTOS DE RÁDIO - PROPAGAÇÃO (1)


Autor: Marcio Eduardo da Costa Rodrigues (*)

Parte da Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio


Abril de 2000.
Autor: Marcio Eduardo da Costa Rodrigues.
Orientadores: Luiz Alencar Reis da Silva Mello e Flávio José Vieira Hasselmann.

1. Introdução

Este capítulo apresenta a conceituação básica da rádio-propagação, iniciando-se pela descrição de


mecanismos e características pertinentes a cada região do espectro de rádio-freqüências. Por serem de
maior interesse neste trabalho, as características de propagação em ambientes celulares serão exploradas
com um maior grau de profundidade, onde será dada especial atenção aos novos sistemas micro e
picocelulares, tanto interiores (indoor) quanto exteriores (outdoor).

O canal de rádio-propagação, pela sua natureza aleatória e dependente da faixa de freqüências utilizada,
não é de fácil compreensão, exigindo estudos teóricos e dados estatísticos para sua caracterização. Há
três formas (modos) básicas de propagação, a partir das quais podem ocorrer subdivisões. Os modos

podem ser compreendidos através do diagrama da [1].

Figura 3-1 - Modos básicos de rádio-propagação

O modo de maior importância no estudo da propagação em comunicações celulares é o modo das ondas
terrestres. Em especial, as ondas espaciais são predominantes na faixa de freqüências e distâncias
envolvidas nesse tipo de sistema. No diagrama da , a onda direta e a onda refletida no solo representam
mecanismos básicos de propagação. Nas situações práticas o que se encontra é, somada a esses dois

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mecanismos, a ocorrência de ondas espalhadas, difratadas e, dependendo do ambiente, ondas


transmitidas através de obstáculos.

Dependendo da faixa de freqüências utilizada, do ambiente e das distâncias envolvidas, haverá

predomínio de um ou alguns mecanismos sobre os demais. A [2] a seguir, apresenta um sumário das
faixas de freqüência rádio, suas características (mecanismos de propagação envolvidos) e aplicações.

Freqüências Mecanismos de Efeitos da atmosfera e do Aspectos de sistema Tipos de serviço

propagação terreno

onda “guiada” entre a atenuação em 100 Hz antenas (cabos comunicação com

ionosfera e a superfície da entre 0,003 e 0,03 dB/km aterrados) gigantescas; submarinos, minas

Terra e refratada até sobre o solo e de 0,3 taxas de transmissão subterrâneas;

grandes profundidades no dB/km sobre a água do muito baixas (1 bps) sensoriamento remoto
ELF
solo e no mar mar do solo

(30 - 300 Hz)

onda “guiada” entre a baixas atenuações sobre antenas de tamanho telegrafia para navios

camada D da ionosfera e o solo e no mar viável têm ganho e com alcance mundial;

a superfície da Terra e diretividade muito serviços de navegação;

refratada no solo e no baixos; taxas de padrões horários


VLF
mar transmissão muito

(3 - 30 kHz) baixas

onda “guiada” entre a desvanecimento em antenas de tamanho comunicação de longa

camada D da ionosfera e distâncias curtas devido à viável têm ganho e distância com navios;

a superfície da Terra até interferência entre a onda diretividade muito rádio-difusão e serviços

100 kHz, com a onda ionosférica e a de baixos; taxas de de navegação


LF
ionosférica tornando-se superfície transmissão muito

(30 - 300 kHz) distinta acima desta baixas

freqüência

onda de superfície a curta atenuação da onda de possibilidade de uso de rádio-difusão, rádio-

distância e em superfície reduz sua antenas de 1/4 de onda navegação e alguns

freqüências mais baixas e cobertura a 100 km; onda e antenas diretivas com serviços móveis

onda ionosférica a longa ionosférica forte à noite múltiplos elementos


MF
distância

(300 - 3000 kHz)

onda ionosférica acima da comunicação muito uso de antenas log- fixo ponto-a-ponto;

distância mínima; onda dependente do periódicas e conjuntos móvel terrestre,

de superfície a distâncias comportamento da horizontais de dipolos; marítimo e aeronáutico;

curtas ionosfera; onda de sistemas de poucos rádio-difusão


HF
superfície bastante canais

(3 - 30 MHz) atenuada

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Freqüências Mecanismos de Efeitos da atmosfera e do Aspectos de sistema Tipos de serviço

propagação terreno

propagação em efeitos de refração; antenas Yagi (dipolos fixo terrestre; móvel

visibilidade; difração; multipercursos; difração múltiplos) e helicoidais; terrestre e por satélite;


VHF
tropodifusão pelo relevo; sistemas de baixa e rádio-difusão; rádio-

espalhamento média capacidade farol


(30 - 300 MHz)
(ondas espaciais)
troposférico

propagação em efeitos de refração; antenas Yagi (dipolos fixo terrestre; radar

visibilidade; difração; multipercursos e dutos múltiplos), helicoidais e móvel terrestre e por


UHF
tropodifusão (faixa alta); difração e de abertura; sistemas satélite; rádio-difusão e

obstrução pelo relevo de média e alta TV; celular e PCS


(300 - 3000 MHz)
(ondas espaciais)
capacidade (Personal

Communication

Systems)

propagação em desvanecimento por antenas de abertura; fixo terrestre e por

visibilidade multipercursos; sistemas de alta satélite; móvel terrestre


SHF
atenuação por chuvas capacidade e por satélite;

(acima de 10 GHz); sensoriamento remoto;


(3 - 30 GHz)
obstrução pelo terreno radar

propagação em desvanecimento por antenas de abertura; rádio acesso fixo e

visibilidade multipercursos; sistemas de alta móvel; sistemas por

atenuação por chuvas; capacidade satélite; sensoriamento

absorção por gases; remoto


EHF
obstrução por edificações

(30 - 300 GHz)

Tabela 3-1 - Aspectos gerais de rádio-propagação

A faixa de freqüências escolhida para os primeiros sistemas celulares, e que ainda é predominante, está
situada na faixa entre 800 MHz e 900 MHz. Essa escolha não é casual, estando vinculada a uma série de

fatores, entre eles: [1]

- para o uso de antenas omnidirecionais eficientes, mantendo um tamanho adequado para sua
instalação nos terminais móveis, a freqüência utilizada não pode ser muito baixa – antenas
mais eficientes têm comprimento entre l/8 e l/4, onde l é o comprimento de onda, que
aumenta com o decréscimo da freqüência. Logo, freqüências muito baixas acarretariam em
antenas grandes. Assim, é imposto um limite inferior à faixa de freqüências;

- pela característica de alta mobilidade dos sistemas celulares e por, na maioria das vezes, o
usuário estar imerso no ambiente urbano, situações de visibilidade entre móvel e base são
pouco prováveis, inviabilizando faixas de freqüência mais altas, que se fundamentam nesse
mecanismo de propagação. A comunicação deve ser estabelecida primordialmente pelos
mecanismos de reflexão, difração e espalhamento, e ainda, a onda propagante deve ser capaz
de penetrar edificações. Esses fatores impõem um limite superior à faixa de freqüências.

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Pelo exposto, conclui-se que as faixas adequadas seriam as de VHF (30 MHz– 300 MHz) e especialmente
UHF (300 MHz – 3000 MHz). Fatores como interferência com outros sistemas na mesma faixa (televisão e
sistemas militares e aéreos, entre outros) e desenvolvimento tecnológico incipiente na época, levaram à
delimitação de um subgrupo dentro das faixas adequadas, que resultou na faixa hoje utilizada.

2. Mecanismos e efeitos de propagação

Os mecanismos de propagação predominantes na faixa de freqüências usada em sistemas celulares são:


visibilidade, reflexão (incluindo múltiplas reflexões e espalhamento) e difração (incluindo múltiplas
difrações). É usual se denominar a reflexão especular de reflexão apenas, e a reflexão difusa de
espalhamento.

O efeito de propagação que se pronuncia é o multipercurso, pois o sinal resultante recebido é devido à
composição de inúmeras versões do sinal original transmitido, que percorreram diferentes percursos
determinados, em grande parte, pelas reflexões e difrações que sofreram. Outro efeito de propagação é o
que se manifesta através da flutuação do nível de sinal devido a obstruções geradas pelo relevo ou criadas
pelo homem. Esse efeito é conhecido por sombreamento.

Quando do projeto de um sistema, a determinação exata das características de mecanismos e efeitos é


muito importante. Os mecanismos de propagação determinam a atenuação de propagação no enlace e,
consequentemente, o valor médio do sinal no receptor. A compreensão dos mecanismos envolvidos é
básica para o cálculo do raio máximo de uma célula. Por outro lado, os efeitos de propagação determinam
as flutuações rápidas e lentas do sinal em torno de seu valor médio. As flutuações que reduzem o valor do
sinal abaixo da média são o que se denomina desvanecimento (em pequena escala ou, usualmente,
desvanecimento rápido; e em larga escala ou, usualmente, desvanecimento lento). O correto
entendimento das características dos efeitos de propagação é básico para a estimativa do desempenho do
sistema e cálculo de cobertura das células.

2.1. Mecanismos básicos

Serão descritos a seguir alguns mecanismos importantes para a compreensão da rádio-propagação,


especialmente em comunicações móveis. Antes, porém, serão apresentados alguns conceitos básicos.

Ganho máximo de uma antena

(3-1)

O termo “isotropicamente” é utilizado para definir a irradiação uniforme de energia em todas as direções.
Conhecendo-se PT e GT (ganho máximo da antena transmissora), é possível se determinar a densidade de

potência a qualquer distância do transmissor.

Área efetiva de recepção

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Outro conceito importante é o de área efetiva de recepção de uma antena, definido por :

(3-2)

onde :

l = 3x108 [m/s] / f [Hz] - comprimento de onda

com :

f - freqüência

GR - ganho máximo da antena receptora

Conhecendo-se a densidade de potência na recepção, a potência recebida é encontrada através do


produto entre a densidade de potência e a área efetiva de recepção da antena.

A relação entre densidade de potência e o campo elétrico recebido é estabelecida, em campo distante,
por :

(3-3)

onde :

s - densidade de potência [W/m2]

E - módulo do campo elétrico [V/m]

h - impedância intrínseca do meio [W]; no espaço livre : h = h0 = 120p @ 377 W

A densidade de potência a uma distância d, para uma antena isotrópica é dada por , onde PT é a

potência transmitida. Para uma antena de ganho GT , o ganho multiplica a expressão de densidade de

potência, gerando :

(3-4)

Igualando as expressões (3-3) e (3-4) chega-se, no espaço livre, a :

(3-5)

A potência recebida será :

(3-6)
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Serão agora apresentados os mecanismos de propagação envolvidos nas comunicações celulares.

(*) O autor, MÁRCIO EDUARDO DA COSTA RODRIGUES (marcior@centroin.com.br) graduou-se em


engenharia de telecom pela UFF em dezembro de 1997, concluiu o mestrado em "Ciências em Engenharia
Elétrica (Telecomunicações)" com ênfase em "Rádio-propagação - Comunicações Móveis e Rádio Acesso"
pelo CETUC / PUC-Rio - RJ em abril de 2000 e obteve certificação em PMP (Project Management
Professional) pelo PMI (Project Management Institute) em 2004.
Atuou profissionalmente na NEC do Brasil S.A. como estagiário, na DSC Tecnologia Ltda como engenheiro
responsável pela área de Engenharia de Telecomunicações da unidade DSC Telecom e na WiNGS Telecom
Ltda onde é Gerente de Engenharia até a presente data; nesta empresa coordena e executa projetos de:
- cobertura de rádio-freqüência (projeto pioneiro de celular no Metrô Rio, cobertura em plataformas de
petróleo, coberturas em ambientes indoor, entre outros),
- projetos de software para cálculo de rádio-enlaces,
- projetos de emissão de relatórios de conformidade (exposição da população a irradiação
eletromagnética), segundo critérios Anatel, para operadoras de telefonia celular e rádio,
- projetos de WLAN/WiFi (redes locais sem fio),
- projetos de enlaces ponto-a-ponto para backbone de operadoras celulares/SMP, envolvendo
planejamento de freqüências e uso do software de cálculo PathLoss e
- suporte à equipe de desenvolvimento de software, especificando algoritmos, entre outros.

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