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Análise do processo de conformação da empresa Estaleiro Vom Wasser do Brasil.

Conformação TM-262
Artur Texeira Magalhães
Universidade Federal do Paraná, Departamento de Engenharia Mecânica.
Artur@evw.com.br – Curitiba, PR, Brasil

Luiz Felipe Beltzac

Universidade Federal do Paraná, Departamento de Engenharia Mecânica.


- Curitiba, PR, Brasil
Resumo. Este documento apresenta uma análise dos processos de conformação empregados
pela empresa Estaleiro Vom Wasser do Brasil Ltda. Os alunos acompanharam o processo de
produção de um componente de um dos modelos de embarcação produzidos pela empresa. A
visita e o relatório foram efetuados em conformidades com a atividade proposta pelo
professor Paulo V. Marcondes, doutor em engenharia mecânica.
Palvras chaves: Dobra de tubos, Calandragem de tubos, Aco Inox AISI 316
1. Introdução

Os alunos visitaram o Estaleiro Vom Wasser, que está situada na Rua João Fain, 342,
Boqueirão, Curitiba – PR, telefone para contato: (41) 3344-2600. A empresa está em
atividade faz um ano, e produz embarcações em fibra de vidro. Além de laminar casco e
convés dos modelos W260F e W300F, que são catamarãs de 18’ e 24’ de comprimento,
respectivamente, o estaleiro produz seus diversos componentes em aço inox AISI 316. Esta
liga foi escolhida, pois estas peças enfrentam o ambiente marinho diariamente, e este aço é o
que melhor resiste a estas condições. A empresa foi escolhida, visto que, o aluno Artur é
estagiário na empresa, o que facilitou a abertura da empresa para a visita acadêmica.

1.1. A empresa

O Estaleiro Vom Wasser do Brasil é uma empresa criada por três sócios com experiência
no ramo da indústria, e que, compartilhavam o gosto por barcos e o sonho de produzi-los.
Com o encerramento das atividades de outro estaleiro, situado em São José dos Pinhais, a
oportunidade da abertura do estaleiro, foi facilitada, pois os projetos já existentes foram
comprados. Os projetos, que atualmente são W260F e W300F, passaram por várias correções
e adaptações, para entrar nos padrões de qualidade e do mercado. Os dois modelos
comercializados pela empresa são catamarãs motorizados, voltado para pesca em mar aberto
(até 20 milhas da costa), Um novo modelo será lançado no início de julho, o qual será o W326
Santorini, uma embarcação que compartilha o mesmo casco do W300F, porém possui um
convés voltado para esporte e passeio e é 2’ de comprimento maior. È um modelo que presa
pelo conforto e navegabilidade. O estaleiro produz seus modelos com um sistema de
laminação tecnológico, utiliza técnica de laminação sanduiche e infusão a vácuo. O setor de
fabricação de componentes metálicos é composta por um operador que é gerenciado e
analisado pelo projetista da empresa. O setor está equipado com uma calandra de tubos, uma
dobradeira manual de tubo, máquina de solda TIG, Máquina de Solda por eletrodo revestido,
entre outras.

Figura 1 - Modelos W260F e W300F

A empresa disponibiliza de ampla área construída. A cede é formada por cinco barracões, sendo
eles: Setor de laminação, Setor de montagem e fabricação de componentes, este setor ocupa dois
barracões interligados, Setor de desenvolvimento e Modelagem e setor de retrabalho e manutenção
de moldes. Mesmo sendo uma grande área que a empresa possui, os proprietários acham que em
breve, o espaço não será suficiente. Vestiário, cozinha e banheiros de ótima qualidade são
oferecidos pela Vom Wasser. A empresa possui uma política interessante, no qual, os donos são os
diretores e tomam as decisões sempre com conselhos dos seus funcionários. O desenvolvimento das
embarcações e dos componentes é feita com opiniões e idéias de todos os funcionários. A empresa
vê seus funcionários como parceiros, que terão o investimento retornado, após este período de
investimentos e entrada no mercado náutico. A empresa é divida em quatro setores de trabalho:
administrativo, produção, comercial e desenvolvimento. Mas, como a empresa é pequena, há
funcionários que atuam em mais de um setor.

1.2. Guarda Mancebo

O componente analisado é o guarda mancebo do W300F. Este é um componente para a


segurança dos tripulantes e de função estética para a embarcação. A peça está situada na proa
(área frontal) da lancha. A matéria-prima da produção do guarda mancebo é um tubo de 1”
com parede de 1,2 mm de aço inox AISI 316.

Figura 2 - Guarda mancebo do modelo W300F

2. Análise do processo de conformação


Para a manufatura do modelo analisado, são usados dois processos de conformação,
curvamento mecânico por trabalho a frio (calandragem) e dobramento manual de tubo.

2.1. Curvamento mecânico por trabalho a frio

É utilizada uma calandra de acionamento mecânico de três manilhas, modelo Utec M-2
que possui motor elétrico de potencia 1,5cv e as matrizes utilizada possuem diâmetros 140mm.
Neste modelo de calandra, a manilha (matriz) superior é móvel em quanto às inferiores são
fixas. O motor elétrico movimenta as manilhas inferiores. É utilizado um parafuso de potência
para regular a altura da manilha superior.
Figura 3 - Modelo esquemático do funcionamento de uma calandra de três manilhas.

O tubo a curvar é introduzido no sistema de três matrizes de eixos paralelos, e disposto


como vértices de um triângulo isóscele. As extremidades dos tubos não sofrem deformação
neste processo, pois não é possível obter a alavanca, visto que, para deformar as extremidades
o tubo mantém contato apenas com duas manilhas. Deslocando-s apenas a matriz superior e
mantendo fixas as inferiores, obtém-se o grau de curvamento desejado. O movimento das
matrizes inferiores, que é feito no sentido horário e anti-horário, combinado com o
posicionamento da matriz superior resulta no curvamento do tubo. Durante a calandragem é
importante observar o paralelismo das matrizes e as extremidades do tubo, para evitar erros de
calandragem.

Figura 4 - Processo de calandragem em andamento


2.2. Dobramento de tubo

A empresa possui uma curvadora de tubos e perfis Marinaro CTM 1 ¼”, a qual curva
tubos de até 1 ¼” de diâmetro. No dobramento manual, o tubo sofre uma deformação por
flexão. O raio obtido é conferido pela matriz escolhida para o dobramento. A matriz é apenas
um apoio fixo e a deformação é resultado da força aplicada ao braço do equipamento. Como
mostra a foto abaixo:

Figura 5 – Dobra em execução.

Neste procedimento o tubo sofre tensões em duas direções opostas para provocar a flexão
e a deformação plástica. A parte externa da dobra sofre tensões de tração e a parte interna
tensões de contração. Neste processo a peça está sujeito ao retorno elástico, o qual deve ser
previsto pelo projetista.
Figura 6 - Modelo que exemplifica as tensões resultantes na peça e a linha neutra.

Quanto menor o raio de dobramento, maior será a tensão de tração na região externa da
dobra. Define-se o raio interno mínimo de dobra, como o menor valor admissível para o raio
para se evitar grande variação na espessura do tubo na região dobrada.

Figura 7 - Dobradeira Marinaro CTM 1 ¼”-


3. Possíveis falhas

Os processos adotados pela empresa Vom Wasser são manuais, ou seja, a qualidade
obtida nas peças manufaturadas depende, diretamente, da habilidade do operador. Mesmo
com um operador experiente, a repetibilidade do processo é afetada.
Defeitos já observados pelos responsáveis pelo processo são: o enrugamento da parte
interna das dobras com raio interno pequeno. Isto é causado pelo excesso de material na parte
contraída da dobra. E, pequenas desvios nos ângulos e raios, devidos a erros do operador.
Outras possíveis falhas no processo, que não foram observados na empresa, são: a
recuperação elástica do material e o empenamento devido a tensões residuais. O retorno
elástico ocorre devido à fração da tensão que permanece no domínio elástico do material, o
que deve ser compensado pelo operador. A recuperação elástica na dobra será tão maior
quanto for à tensão de escoamento do material.

Figura 8 – Enrugamento no raio interno da dobra em outro componente da embarcação.

4. Ações para garantir as dimensões e a qualidade dos manufaturados.

A principal ferramenta utilizada pela Vom Wasser para garantir a forma das peças
conformadas é um gabarito em aço, que foi desenvolvido com base no protótipo do guarda
mancebo.
Após observar o enrugamento na parte interna da dobra, a solução encontrada pela
empresa foi aumentar o raio de dobramento na peça. Para evitar empenamento após a
soldagem dos apoios na peça conformada, as soldas são feitas com a peça no gabarito. O que
garante o não empenamento do guarda mancebo.
Figura 9 - Gabarato do Hard Top

5. Conclusão

Como a escala de produção do Estaleiro Vom Wasser é pequena, os processos utilizados


são os que possuem o melhor custo benefício, devido ao custo de equipamentos comandados
por computador. Porém, isto gera dependência da empresa ao operador experiente.
Como o material utilizado é o aço inox AISI 316, alguns cuidados durante o processo
deve ser tomados, para evitar possível contaminação do material. Toda e qualquer
contaminação ou perda de cromo durante o processo, irá refletir na durabilidade do material,
que irá enfrentar a maresia e condições climáticas adversas, o que aumenta a possibilidade de
ocorrer corrosão no material.
Para melhorar o processo aconselhamos que o operador seja treinado constantemente. O
investimento em equipamentos mais atuais, com possíveis comandos digitais, facilitaria e
melhoraria o processo e diminuiria os custos à longo prazo. O estudo das formas deve ser
feito previamente no projeto, para diminuir os custos de prototipagem.
O método de gabarito é uma excelente forma de garantir as dimensões do manufaturado,
porém deixa o processo demorado. Visto que qualquer desvio da peça com o gabarito faz com
que uma nova operação de conformação seja efetuada.

6. Agradecimentos

Agradecemos ao Engenheiro Mecânico Julio Xavier Vianna Jr. e ao Designer Haroldo


Nocera por nos proporcionar a visita para que realizássemos esta análise dos processos de
conformação da sua empresa. Agradecemos a Rafael Castilho (designer e responsável pela
produção) e ao Emerson (operador) por nos acompanhar e responder a nossas questões de
maneira simples e sucinta. Agradecemos ao Professor Paulo V. Marcondes pelos conselhos
dados durante as aulas e por gerar esta atividade, que nos leva ao lado prático da nossa futura
profissão.

7. Referências

Moro, N & Auras, A. P, 2006, Processos de Fabricação: Conformação Mecânica II


Schuler, 1998, Metal Forming Handbook.

American Society of Tool and Manufacturing Engineers, Die Design Handbook.

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