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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS – UNEAL

CAMPUS I – ARAPIRACA

CURSO DE DIREITO

ROGÉRIO PINHEIRO DE ARAÚJO

INTERNET: REFLEXÕES JURÍDICAS E SOCIAIS A RESPEITO DA VIABILIDADE


DE SEU ENQUADRAMENTO ENQUANTO DIREITO FUNDAMENTAL

ARAPIRACA

2019
1

ROGÉRIO PINHEIRO DE ARAÚJO

INTERNET: REFLEXÕES JURÍDICAS E SOCIAIS A RESPEITO DA VIABILIDADE


DE SEU ENQUADRAMENTO ENQUANTO DIREITO FUNDAMENTAL

Trabalho de Conclusão de
Curso de graduação apresen-
tado ao curso de Direito da Uni-
versidade Estadual de Alagoas
– UNEAL, como requisito parcial
para a obtenção do título de Ba-
charel(a) em Direito.

Orientador: Prof. Jádney Flávio


de Melo Aragão

ARAPIRACA

2019
2

ROGÉRIO PINHEIRO DE ARAÚJO

INTERNET: REFLEXÕES JURÍDICAS E SOCIAIS A RESPEITO DA VIABILIDADE


DE SEU ENQUADRAMENTO ENQUANTO DIREITO FUNDAMENTAL

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Estadual de Alagoas,


como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Bacharel em Direito,
com nota final igual a ______, conferida pela Banca Examinadora formada pelos se-
guintes professores:

Aprovado em ____ de _______________ de ________.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________

Professor Orientador: Prof. Jádney Flávio de Melo Aragão

____________________________________________________________

Professor Examinador:

____________________________________________________________

Professor Examinador:

Arapiraca

2019
3

A Deus, o qual deseja agradecimento em tudo


(Primeira Epístola de São Paulo aos Tessaloni-
censes, capítulo 5, versículo 181), a meu pais,
que me proveram o mínimo existencial durante
o tempo em que não pude contribuir financeira-
mente na manutenção de minha casa, a meu ir-
mão, que me incentivou a ingressar no curso de
Direito, à minha esposa, que suportou momen-
tos de ausência para a confecção do presente
trabalho e ao advogado José Marques Vascon-
selos Filho, que teve a confiança de compartilhar
livros necessários à confecção deste trabalho.

1 Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.
4

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a razoabilidade ou não de se consi-


derar a internet um direito fundamental digno de não só ser positivado na Constituição
Federal de 1988 como tal, mas, e principalmente, ser tratada dessa maneira na vida
corriqueira do Poder Público, tanto do Executivo enquanto responsável por prover di-
reitos básicos dos cidadãos, quanto do Legislativo enquanto responsável pela edição
de leis que resguarde os direitos fundamentais, bem como obrigue o primeiro poder a
implementar a referida provisão, quanto do Judiciário enquanto responsável por reco-
nhecer e determinar in concreto a implementação e o respeito a este objeto tão ne-
cessário e indispensável para a sociedade atualmente.

Palavras-Chave: Internet. Direito Fundamental. Dignidade da Pessoa Humana. Igual-


dade. Cidadania. Liberdade. Trabalho.
5

ABSTRACT

The present work aims to analyze the reasonableness or not of considering the internet
a fundamental right worthy of not only being affirmed in the Federal Constitution of
1988 as such, but, above all, being treated in this way in the ordinary life of the Gov-
ernment, both of the Executive as responsible for providing basic rights of citizens, and
of the Legislative as responsible for issuing laws that safeguard fundamental rights, as
well as forcing the first power to implement the provision, as well as of the Judiciary as
responsible for recognizing and determine in concrete the implementation and respect
for this object so necessary and indispensable for society today.

Keywords: Internet. Fundamental right. Dignity of human person. Equality. Citizen-


ship. Freedom. Job.
6

SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................................... 4
ABSTRACT ........................................................................................................................................... 5
SUMÁRIO .............................................................................................................................................. 6
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 7
1 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .................................................................. 9
1.1 Gerações dos Direitos Fundamentais .................................................................................... 9
1.2 Historicidade dos Direitos Fundamentais ............................................................................ 12
1.3 A Cláusula de Inesgotabilidade ou de Abertura Material dos Direitos Fundamentais .. 17
1.4 Direito Fundamental e Dignidade da Pessoa Humana ...................................................... 18
2 A INDISPENSABILIDADE DA INTERNET PARA O DIA A DIA DA SOCIEDADE ............... 21
2.1 A Internet Como Necessária ao Exercício da Cidadania .................................................. 21
2.2 A Internet Como Necessária à Educação ............................................................................ 26
2.3 A Internet como Irradiadora do Trabalho ............................................................................. 26
3 REFLEXÕES ACERCA DA RAZOABILIDADE DE ENQUADRAR A INTERNET COMO UM
DIREITO FUNDAMENTAL................................................................................................................ 29
3.1 Geração dos Direitos Fundamentais e a Internet ............................................................... 29
3.2 A Historicidade dos Direitos Fundamentais e a Internet ................................................... 31
3.3 A Cláusula de Inesgotabilidade dos Direitos Fundamentais e a Internet ....................... 32
3.4 A Cidadania e a Internet ......................................................................................................... 32
3.5 A Educação e a Internet ......................................................................................................... 33
3.6 O Trabalho e a Internet ........................................................................................................... 34
3.7 O Direito Fundamental, a Dignidade da Pessoa Humana e a Internet ........................... 34
CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 36
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 37
7

INTRODUÇÃO

A internet está impregnada de maneira tão umbilical na sociedade que se to-


rou um pressuposto necessário para o comércio, para a educação, para o trabalho,
para a cidadania e para tantas outras necessidades humanas. Em um curioso artigo,
um sítio eletrônico especializado em tratar de assuntos envolvendo tecnologia, base-
ado em outro artigo publicado em espanhol pela NetApp, afirmou que assim seria um
dia sem internet2:
Centenas de milhões de indianos perderiam o único tipo de tecnologia
que possuem em suas casas e mais de um milhão de agricultores em
todo o planeta não teriam como consultar as previsões de tempo e os
preços do mercado.
(...)
(...) As técnicas utilizadas pelos meteorologistas fazem uso da nuvem
para realizar milhões de cálculos todos os dias em várias partes do
globo, com base nos dados dos últimos 10 mil dias registrados. Um só
dia sem internet e sem essas informações impede que os cálculos das
previsões do tempo sejam realizados.
(...)
Ao fazer transações bancárias através dos caixas eletrônicos ou dos
dispositivos móveis nós gastamos em média US$ 0,59 e US$ 0,56,
respectivamente. Naturalmente, essas transações precisam de inter-
net para funcionar. Caso contrário, precisaríamos fazer todas as tran-
sações nos próprios bancos (o que também não é muito prático), e
elas custariam aproximadamente US$ 3,97.
(...)
Sem as conexões de internet, as centrais de controle de tráfego aéreo
não funcionariam e, consequentemente, impediriam a decolagem de
aproximadamente 87 mil voos.
Diante de tal caos gerado por um dia sem internet, perguntar se ela é um
direito fundamental se torna relevante, tendo em vista que literalmente todo o mundo
precisa dela para fazer praticamente tudo, mas nem todas as pessoas têm a possibi-
lidade financeira ou técnica de desfrutar dela.
A importância de se estabelecer se o direito à internet é ou não um direito
fundamental é que isso “estabeleceria uma obrigação por parte do Estado em promo-
ver o acesso à internet banda larga”3. Dessa maneira, isso daria guarida para que
pessoas desprovidas dela pudessem ingressar no Judiciário pleiteando que o governo
tomasse providências a fim de implementá-la.

2 QUAIS seriam as consequências de um dia sem internet em toda a Terra? Tecmundo. Disponível em
<https://www.tecmundo.com.br/internet/84690-consequencias-dia-internet-terra.htm>. Acesso em:
05/07/2019, às 19h21min.
3 MORAES, Eduardo de Abreu; FRANÇA, Viana Souza. ACESSO A INTERNET BANDA LARGA

COMO DIREITO FUNDAMENTAL DO CIDADÃO. Disponível em <http://www.publicadireito.com.br/ar-


tigos/?cod=5159f683253665f2> Acesso em: 23/04/2016, às 19h34min.
8

Outro motivo que revela a importância de tratar do assunto está atrelado ao


fato de a disparidade entre aqueles que têm acesso à internet e aqueles que não o
têm impactar diretamente na igualdade de desfrute de direitos fundamentais os mais
diversos. Por exemplo, aqueles que têm esse acesso possuem maior liberdade co-
mercial do que aqueles que não o têm, já que podem pesquisar online os produtos
que melhor atendam às suas expectativas, e no mais das vezes com preços até me-
lhores. Outrossim, aqueles que têm acesso à internet também possuem maior ampli-
tude de acesso aos postos de trabalho vagos, pois muitas vezes estes são divulgados
exclusivamente pela internet, como fazem algumas grandes empresas e os entes pú-
blicos que fazem concursos públicos para prover seus cargos vagos.
Caso a internet seja encarada como um direito fundamental, as pessoas que
não têm acesso a ela (e consequentemente não desfrutam igualmente dos direitos
fundamentais em relação aos que têm esse acesso) terão respeitados principalmente,
o direito à igualdade que se traduz também em igualdade de oportunidades; seja para
trabalhar, seja para estudar, seja para ter participação política, seja de ter ouvida a
sua voz.
9

1 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Para analisar se a internet se enquadra como direito fundamental, é necessá-


rio abordar a Teoria Geral dos Direitos Fundamentais, tendo em vista que todo direito
fundamental está alicerçado sobre essa teoria. Dessa maneira, o primeiro capítulo do
presente trabalho a abordará.
Já no segundo capítulo, a abordagem não se deterá ao aspecto jurídico, antes
focará o aspecto social da internet, expondo como as comunidades nacional e inter-
nacional a encaram para o dia a dia da sociedade.
Por fim, já no terceiro e último capítulo, a teoria geral dos direitos fundamentais
será recapitulada, mas já em cotejo com o que foi exposto no segundo capítulo, a fim
de se concluir se a internet deve ou não ser encarada como um direito fundamental.
1.1 Gerações dos Direitos Fundamentais
As chamadas gerações dos direitos fundamentais são uma tentativa de agru-
par os direitos fundamentais de acordo com o seu surgimento na história. Sobre o
assunto, leciona Flávio Martins:
Trata-se de uma classificação idealizada pelo jurista tcheco-francês
Karel Vasak, a partir de uma conferência proferida em 1979 no Insti-
tuto Internacional de Direitos Humanos, em Estrasburgo. Karel Vasak,
nascido em junho de 1929 na então Tcheco-Eslováquia, mudando-se
para a França para estudar Direito, adquirindo cidadania francesa, tor-
nando-se, em 1969, Secretário-Geral do Instituto Internacional de Di-
reitos Humanos em Estrasburgo, posição que manteve até 1980. Autor
da obra The Internacional Dimensions of Human Rights4.
Destaque-se que tal classificação dos direitos fundamentais não é tese mera-
mente acadêmica, mas é aplicada no dia a dia dos operadores do direito, uma vez
que foi citada e aplicada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), segundo se vê em
excerto do Mandado de Segurança número 22.164, a seguir colacionado:
Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) –
que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – re-
alçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direi-
tos econômicos, sociais e culturais) – que se identificam com as liber-
dades positivas, reais ou concretas – acentuam o princípio da igual-
dade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de ti-
tularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações so-
ciais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um mo-
mento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reco-
nhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores
fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribili-
dade.
[MS 22.164, rel. min. Celso de Mello, j. 30-10-1995, P, DJ de 17-11-
1995.]5

4 MARTINS JR., Flávio. Curso de Direito Constitucional. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2017. p.
747-748.
5 Supremo Tribunal Federal. A Constituição e o Supremo – art. 5º. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigobd.asp?item=31> Acesso em: 07/01/2018, às 20h06min.
10

Insta salientar que esse agrupamento dos direitos fundamentais em torno da


expressão gerações não é feito com mero espeque na sua cronologia, como a expres-
são gerações pode fazer parecer à primeira vista, mas sim, e principalmente, com
espeque nas reivindicações da sociedade à época de seu surgimento. Nesse toar,
ensina Dirley da Cunha Júnior:
As gerações dos direitos revelam a ordem cronológica do reconheci-
mento e afirmação dos direitos fundamentais, que se proclamam gra-
dualmente na proporção das carências do ser humano, nascidas em
função da mudança das condições sociais. A dizer, o desenvolvimento
da técnica, a transformação das condições econômicas e sociais, a
ampliação dos conhecimentos e a intensificação dos meios de comu-
nicação poderão causar substanciais alterações na organização da
vida humana e das relações sociais a propiciar o surgimento de novas
carências, suscitando novas reivindicações de liberdade e de poder6.
Não obstante a engenhosidade dessa teoria, “essa classificação recebe mui-
tas críticas, a começar de sua nomenclatura7, consoante Cunha Jr. explica:
Uma explicação prévia, contudo, se impõe. É que, para alguns auto-
res, a expressão gerações de direitos é equívoca, circunstância que
os anima a propor, com vantagem lógica e qualitativa, a sua substitui-
ção pela expressão dimensões de direitos, segundo o argumento de
que o termo gerações "pode ensejar a falsa impressão da substituição
gradativa de uma geração por outra", quando, na verdade, como este
próprio trabalho já teve a oportunidade de acentuar linhas atrás, o re-
conhecimento progressivo de novos direitos fundamentais é marcado
pela nota característica da complementaridade ou cumulabilidade. To-
davia, cremos que, só por esse fundamento, não se justificam as pre-
ocupações desses autores, haja vista que, como todos sustentam, in-
clusive eles próprios, a afirmação progressiva dos direitos fundamen-
tais ocorre no âmbito de um processo cumulativo e complementar, de
modo que os direitos das gerações anteriores não desaparecem com
o surgimento das novas gerações8.
Karel Vasak, de modo semelhante ao STF, ensinava que os direitos funda-
mentais possuem três gerações9, a saber:
a) direitos de primeira geração, que exigem a abstenção do Estado e fun-
cionam como escudos contra as ingerências deste na vida dos sujeitos
de direito. São exemplos desses direitos o direito de ir e vir, o direito ao
voto e o direito à privacidade;
b) direitos de segunda geração, que exigem intervenção do Estado no in-
tuito de prover condições dignas de sobrevivência para as classes des-
favorecidas da sociedade, bem como no intuito de refrear os abusos
que as classes mais abastadas praticaram (e por muitas vezes ainda
praticam) contra as mais pobres. São exemplos desses direitos o di-
reito à previdência social, o direito à saúde, o direito à educação e o
direito ao trabalho;

6 CUNHA JR., Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 6 ed. Salvador: Juspodivm, 2012. p. 615.
7 Idem. p. 748.
8 Ibidem. p. 615-616, grifos no original.
9 MARTINS JR., Flávio. Curso de Direito Constitucional. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2017. p.

748.
11

c) direitos de terceira geração, que são ligados à coletividade e são de


titularidade difusa, impossível de quantificar e individualizar os seus ti-
tulares. É exemplo o direito ao meio ambiente ecologicamente equili-
brado.
Nesse sentido e com algumas lições adicionais, ensinam Gilmar Mendes e
Paulo Gustavo:
Outra perspectiva histórica situa a evolução dos direitos fundamentais
em três gerações. A primeira delas abrange os direitos referidos nas
Revoluções americana e francesa. São os primeiros a ser positivados,
daí serem ditos de primeira geração. Pretendia-se, sobretudo, fixar
uma esfera de autonomia pessoal refratária às expansões do Poder.
Daí esses direitos traduzirem-se em postulados de abstenção dos go-
vernantes, criando obrigações de não fazer, de não intervir sobre as-
pectos da vida pessoal de cada indivíduo. São considerados indispen-
sáveis a todos os homens, ostentando, pois, pretensão universalista.
Referem-se a liberdades individuais, como a de consciência, de reu-
nião, e à inviolabilidade de domicílio. São direitos em que não des-
ponta a preocupação com desigualdades sociais. O paradigma de ti-
tular desses direitos é o homem individualmente considerado. Por
isso, a liberdade sindical e o direito de greve – considerados, então,
fatores desarticuladores do livre encontro de indivíduos autônomos –
não eram tolerados no Estado de Direito liberal. A preocupação em
manter a propriedade servia de parâmetro e de limite para a identifica-
ção dos direitos fundamentais, notando-se pouca tolerância para as
pretensões que lhe fossem colidentes.
O descaso para com os problemas sociais, que veio a caracterizar o
État Gendarme10, associado às pressões decorrentes da industrializa-
ção em marcha, o impacto do crescimento demográfico e o agrava-
mento das disparidades no interior da sociedade, tudo isso gerou no-
vas reivindicações, impondo ao Estado um papel ativo na realização
da justiça social. O ideal absenteísta do Estado liberal não respondia,
satisfatoriamente, às exigências do momento. Uma nova compreen-
são do relacionamento Estado/sociedade levou os Poderes Públicos
a assumir o dever de operar para que a sociedade lograsse superar
as suas angústias estruturais. Daí o progressivo estabelecimento pe-
los Estados de seguros sociais variados, importando intervenção in-
tensa na vida econômica e a orientação das ações estatais por objeti-
vos de justiça social. Como consequência, uma diferente pletora de
direitos ganhou espaço no catálogo dos direitos fundamentais – direi-
tos que não mais correspondem a uma pretensão de abstenção do
Estado, mas que o obrigam a prestações positivas. São os direitos de
segunda geração, por meio dos quais se intenta estabelecer uma li-
berdade real e igual para todos, mediante a ação corretiva dos Pode-
res Públicos. Dizem respeito a assistência social, saúde, educação,
trabalho, lazer etc.

10 État Gendarme é uma expressão que se refere ao Estado-Polícia, o que remete a ideia de que o
Estado deve intervir o mínimo possível na esfera privada dos sujeitos de direito, devendo se preocupar
com poucas questões sociais, como saúde pública, segurança pública e conservação de estradas e
ferrovias. Tal pensamento é tipicamente liberal (Disponível em <http://maltez.info/respublica/topicos/aa-
letrae/etat_gendarme.htm> Acesso em: 31/12/2018, às 19h57min.).
12

O princípio da igualdade de fato ganha realce nessa segunda geração


dos direitos fundamentais, a ser atendido por direitos a prestação e
pelo reconhecimento de liberdades sociais – como a de sindicalização
e o direito de greve. Os direitos de segunda geração são chamados
de direitos sociais, não porque sejam direitos de coletividades, mas
por se ligarem a reivindicações de justiça social – na maior parte dos
casos, esses direitos têm por titulares indivíduos singularizados.
Já os direitos chamados de terceira geração peculiarizam-se pela titu-
laridade difusa ou coletiva, uma vez que são concebidos para a prote-
ção não do homem isoladamente, mas de coletividades, de grupos.
Tem-se, aqui, o direito à paz, ao desenvolvimento, à qualidade do meio
ambiente, à conservação do patrimônio histórico e cultural11.
Embora o proponente da teoria das gerações dos direitos fundamentais tenha
idealizado apenas três gerações, há doutrinadores que avançam em quarta, quinta e
sexta gerações. Isso ocorre porque estes direitos são dinâmicos e não estáticos, e
porque Karel Vasak formulou sua teoria nos idos de 1979.
O terceiro capítulo do presente trabalho analisará de modo mais detalhado o
referido avanço e demonstrará como a internet tem sido encarada pelos constitucio-
nalistas.
1.2 Historicidade dos Direitos Fundamentais
Ao se estudarem os Direitos Fundamentais, mais especificamente suas ca-
racterísticas, aprende-se, entre outras coisas relevantes, que eles são históricos, ou
seja, que nem todos eles nasceram de uma só vez, mas gradualmente, sendo resul-
tado de debates e lutas históricas nas mais diversas áreas da sociedade. Nesse sen-
tido, Gilmar Mendes e Paulo Gustavo dizem que
A sedimentação dos direitos fundamentais como normas obriga-
tórias é resultado de maturação histórica, o que também permite
compreender que os direitos fundamentais não sejam sempre os mes-
mos em todas as épocas12.
Nesse ínterim, também é pertinente citar PAVÃO13:
Ressaltam Moraes e França (2014) que a sociedade não é estática e
que os institutos jurídicos evoluem com o intuito de se adaptarem a
novas realidades e, que de igual modo a concepção de direito funda-
mental vem abrangendo necessidades e direitos humanos que não
existiam.
Assinalam Moraes e França (2014), que a internet se configura como
uma das formas mais importantes de acesso a informação e educa-
ção, e, como estes direitos estão previstos na Declaração Universal
dos Direitos do Homem e na própria Constituição Federal, o acesso à

11 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 12 ed.
São Paulo, Saraiva, 2017. p. 128-129, versão eletrônica.
12 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 12 ed.

São Paulo, Saraiva, 2017. p. 127, versão eletrônica, grifou-se.


13 PAVÃO, Glaucia Damasceno. Acesso à internet como Direito Fundamental: O retrocesso promovido

pela possível limitação à internet fixa. Jus Brasil. Disponível em: https://victorguimaraesaraujo1.jusbra-
sil.com.br/artigos/613602798/acesso-a-internet-como-direito-fundamental Acesso em 19/04/2019,
18h30min.
13

internet também está contido implicitamente nos textos constitucio-


nais.
Saliente-se que, embora a historicidade ou a naturalidade dos direitos funda-
mentais seja tema deveras conturbado14, esses doutrinadores não são os únicos que
se posicionam a favor da historicidade deles. Norberto Bobbio, em sua obra “A Era
dos Direitos”, também se posicionou no mesmo sentido, e, diga-se de passagem, de
uma maneira tão clara e veemente que sua tese é digna de citação ipsis litteris:
(...) sempre defendi — e continuo a defender, fortalecido por no-
vos argumentos — que os direitos do homem, por mais funda-
mentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em
certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas li-
berdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não to-
dos de uma vez e nem de uma vez por todas15.
Isso significa que os direitos fundamentais nem sempre foram tal como são
atualmente, mas que houve um tempo em que sequer existiam e que houve outro
tempo em que eles passaram a existir, porém com uma configuração diferente da que
possui hodiernamente.
Exemplo é o direito fundamental à liberdade, tão naturalmente aceita nos âm-
bitos jurídico e popular atualmente, que, para mudar, houve debates os mais diversos.
No meio religioso, por exemplo, a concepção judaico-cristã do homem criado
à imagem e à semelhança de Deus como divina obra-prima da criação16 embasou o
surgimento e o desenvolvimento do direito à liberdade17, já que o homem é dotado de
livre-arbítrio de acordo com essa cosmovisão.
No meio filosófico, Immanuel Kant afirmava que a liberdade é o fundamento
último de todos os direitos fundamentais que existem 18, o que demonstra o valor dado
pela filosofia a esse direito.

14 Ives Gandra é favor da corrente jusnaturalista dos direitos fundamentais, por exemplo, algo que pode
ser verificado na seguinte obra: MARTINS, Ives Gandra. A nova constituição e o Direito natural, Revista
de Direito Civil, Imobiliário, Agrário e Empresarial, v. 07, n.26, out./dez. 1983. Inezil Penna Marinho
também o faz em MARINHO, Inezil Penna. O Direito natural como fundamento de uma teoria do direito
Justo e Os pressupostos de uma sociedade justa, Brasília: Instituto de Direito Natural, 1979. A celeuma
acerca da origem dessa característica dos direitos fundamentais fica ainda mais acirrada quando Hans
Kelsen, considerado pela comunidade jurídica um ícone do positivismo, recorre ao direito natural para
subsidiar a constituição: “É verdade que a norma fundamental não é uma norma de direito positivo e,
neste ponto, está a única semelhança entre a teoria da norma fundamental e a teoria jusnaturalista”
(KELSEN, Hans, KELSEN, Hans. A justiça e o direito Natural. Título Original: Das Problem der Gerech-
tigkeit.Tradução de Jõao Batista Machado, Coimbra: Arménio Amado editor, 1979).
15 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 7ª Tiragem. São: Editora Elsiever, 2004. p. 8, versão eletrô-

nica, grifou-se.
16 SARLET, Ingo Wolfang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitu-

cional. 6 ed. São Paulo, Saraiva, 2017. p. 335, versão eletrônica.


17 Destaque-se ainda que essa cosmovisão embasou também o fundamento mais importante do Direito

Constitucional: a dignidade da pessoa humana. Acerca do assunto, Dirley da Cunha Júnior comenta:
“(...) exatamente porque o homem é criado à imagem e semelhança de Deus, o cristianismo antigo
pronunciava uma mensagem de libertação do homem, na sua afirmação da dignidade da pessoa hu-
mana que pertence a todos os homens sem distinção, o que sugere uma igualdade fundamental de
natureza entre eles” (CUNHA JR., Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 6 ed. Salvador: Juspodivm,
2012. p. 590)
18 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 7ª Tiragem. São: Editora Elsiever, 2004. p. 13, versão eletrô-

nica.
14

Outro exemplo de direito que se transfigurou ao longo da história é o direito à


igualdade.
No constitucionalismo francês, por exemplo, isonomia se reduzia a uma igual-
dade abstrata, universal e incapaz de contemplar as particularidades de determinados
grupos de pessoas19. Era a clássica igualdade formal, que considerava todas as pes-
soas como indistintamente iguais20.
Nessa época, tratamento desigual era sinônimo de tratamento injusto, não
importasse qual fosse o fundamento. No entanto, essa “justiça” se mostrou injusta
com o tempo, pois “por exemplo: um tributo fixado com um valor idêntico para todos
seria formalmente igual, mas profundamente desigual em relação ao seu conteúdo,
por equiparar todos os contribuintes, independentemente de seus rendimentos”21.
Tal situação levou a uma reflexão acerca do conteúdo desse direito.
A partir de então, nasce a igualdade material, que consiste no clássico bro-
cardo apregoado tanto por Aristóteles como por Rui Barbosa de tratar os desiguais na
medida de suas desigualdades para, no fim, gerar igualdade22.
Com base nessa nova concepção de igualdade, a Medida Provisória nº
213/2004, convertida em lei pela Lei nº 11.096/2005, criou o Programa Universidade
para Todos (Prouni), que destina bolsas de estudos integrais e parciais para pessoas
de baixa renda. Destaque-se, porém, que tal medida acirrou calorosos debates, e mui-
tos afirmavam que esse diploma legal era inconstitucional, porque violaria frontal-
mente o direito à igualdade.
Com efeito, a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Con-
fenen), em litisconsórcio com o partido político Democratas (DEM) e com a Federação
Nacional dos Auditores-Fiscais da Previdência Social (Fenafisp), ingressou com a
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 3.330 pleiteando o reconhecimento da
inconstitucionalidade desse documento normativo em virtude de suposta violação do
direito à igualdade.
A Suprema Corte, no entanto, posicionou-se a favor do novel diploma legal,
tendo em vista que, em vez de menoscabar o princípio da igualdade, o documento o
enaltece:
EMENTA: AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE. ME-
DIDA PROVISÓRIA Nº 213/2004, CONVERTIDA NA LEI Nº
11.096/2005. PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS – PRO-
UNI. AÇÕES AFIRMATIVAS DO ESTADO. CUMPRIMENTO DO
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA ISONOMIA.
(...)
3. A educação, notadamente a escolar ou formal, é direito social
que a todos deve alcançar. Por isso mesmo, dever do Estado e uma
de suas políticas públicas de primeiríssima prioridade.

19 MENDES, op. cit., p. 128-129.


20 NOVELINO. Manual de Direito Constitucional. Volume Único. 9 ed. São Paulo Método, 2014. p. 459-
460, versão eletrônica.
21 NOVELINO, op. cit., p. 462.
22 NOVELINO, op. cit., p. 460.
15

(...)
5. Não há outro modo de concretizar o valor constitucional da igual-
dade senão pelo decidido combate aos fatores reais de desigualdade.
O desvalor da desigualdade a proceder e justificar a imposição do va-
lor da igualdade. A imperiosa luta contra as relações desigualitárias
muito raro se dá pela via do descenso ou do rebaixamento puro e sim-
ples dos sujeitos favorecidos. Geralmente se verifica é pela ascensão
das pessoas até então sob a hegemonia de outras. Que para tal via-
gem de verticalidade são compensadas com esse ou aquele fator de
supremacia formal. Não é toda superioridade juridicamente conferida
que implica negação ao princípio da igualdade.
6. O típico da lei é fazer distinções. Diferenciações. Desiguala-
ções. E fazer desigualações para contrabater renitentes desigua-
lações. A lei existe para, diante dessa ou daquela desigualação
que se revele densamente perturbadora da harmonia ou do equi-
líbrio social, impor uma outra desigualação compensatória. A lei
como instrumento de reequilíbrio social.
7. Toda a axiologia constitucional é tutelar de segmentos sociais bra-
sileiros historicamente desfavorecidos, culturalmente sacrificados e
até perseguidos, como, verbi gratia, o segmento dos negros e dos ín-
dios. Não por coincidência os que mais se alocam nos patamares pa-
trimonialmente inferiores da pirâmide social. A desigualação em fa-
vor dos estudantes que cursaram o ensino médio em escolas pú-
blicas e os egressos de escolas privadas que hajam sido contem-
plados com bolsa integral não ofende a Constituição pátria, por-
quanto se trata de um descrímen que acompanha atoada da com-
pensação de uma anterior e factual inferioridade (“ciclos cumula-
tivos de desvantagens competitivas”). Com o que se homenageia
a insuperável máxima aristotélica de que a verdadeira igualdade
consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desi-
guais, máxima que Ruy Barbosa interpretou como o ideal de tra-
tar igualmente os iguais, porém na medida em que se igualem; e
tratar desigualmente os desiguais, também na medida em que se
desigualem.
(...)
[ADI 3.330/DF, Pleno, Relator Ministro Ayres Brito, j. 03/05/2012]23
Em outra ocasião e com base na mesma concepção de direito à igualdade
praticaram-se atos administrativos que destinaram vagas no ensino superior para afro-
descendentes (“cotas raciais”). Mas, mais uma vez, houve ferrenhas oposições, as
quais levaram o DEM a impetrar a Arguição de Descumprimento de Preceito Funda-
mental (ADPF) nº 186 para anular tais atos.
O STF, contudo, posicionou-se reafirmando e enaltecendo mais uma vez a
acepção material do princípio da igualdade, da seguinte maneira.
EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUN-
DAMENTAL. ATOS QUE INSTITUÍRAM SISTEMA DE RESERVA DE
VAGAS COM BASE EM CRITÉRIO ÉTNICO-RACIAL (COTAS) NO

23 Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3530112>


Acesso em: 22/02/2019, às 22h13min, grifou-se.
16

PROCESSO DE SELEÇÃO PARA INGRESSO EM INSTITUIÇÃO PÚ-


BLICA DE ENSINO SUPERIOR. ALEGADA OFENSA AOS ARTS. 1º,
CAPUT, III, 3º, IV, 4º, VIII, 5º, I, II XXXIII, XLI, LIV, 37, CAPUT, 205,
206, CAPUT, I, 207, CAPUT, E 208, V, TODOS DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.
I – Não contraria – ao contrário, prestigia – o princípio da igual-
dade material, previsto no caput do art. 5º da Carta da República,
a possibilidade de o Estado lançar mão seja de políticas de cunho
universalista, que abrangem um número indeterminados de indi-
víduos, mediante ações de natureza estrutural, seja de ações afir-
mativas, que atingem grupos sociais determinados, de maneira
pontual, atribuindo a estes certas vantagens, por um tempo limi-
tado, de modo a permitir-lhes a superação de desigualdades de-
correntes de situações históricas particulares.
II – O modelo constitucional brasileiro incorporou diversos mecanis-
mos institucionais para corrigir as distorções resultantes de uma apli-
cação puramente formal do princípio da igualdade.
III – Esta Corte, em diversos precedentes, assentou a constitucionali-
dade das políticas de ação afirmativa.
IV – Medidas que buscam reverter, no âmbito universitário, o qua-
dro histórico de desigualdade que caracteriza as relações étnico-
raciais e sociais em nosso País, não podem ser examinadas ape-
nas sob a ótica de sua compatibilidade com determinados precei-
tos constitucionais, isoladamente considerados, ou a partir da
eventual vantagem de certos critérios sobre outros, devendo, ao
revés, ser analisadas à luz do arcabouço principiológico sobre o
qual se assenta o próprio Estado brasileiro.
V - Metodologia de seleção diferenciada pode perfeitamente levar em
consideração critérios étnico-raciais ou socioeconômicos, de modo a
assegurar que a comunidade acadêmica e a própria sociedade sejam
beneficiadas pelo pluralismo de ideias, de resto, um dos fundamentos
do Estado brasileiro, conforme dispõe o art. 1º, V, da Constituição.
VI - Justiça social, hoje, mais do que simplesmente redistribuir
riquezas criadas pelo esforço coletivo, significa distinguir, reco-
nhecer e incorporar à sociedade mais ampla valores culturais di-
versificados, muitas vezes considerados inferiores àqueles repu-
tados dominantes.
VII – No entanto, as políticas de ação afirmativa fundadas na discrimi-
nação reversa apenas são legítimas se a sua manutenção estiver con-
dicionada à persistência, no tempo, do quadro de exclusão social que
lhes deu origem. Caso contrário, tais políticas poderiam converter-se
benesses permanentes, instituídas em prol de determinado grupo so-
cial, mas em detrimento da coletividade como um todo, situação – é
escusado dizer – incompatível com o espírito de qualquer Constituição
que se pretenda democrática, devendo, outrossim, respeitar a propor-
cionalidade entre os meios empregados e os fins perseguidos.
VIII – Arguição de descumprimento de preceito fundamental julgada
improcedente.
17

[ADPF nº 186, Pleno, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, j.


26/04/2012]24
Tudo isso demonstra que o rol de Direitos Fundamentais não é estático, mas
dinâmico, que se dilata e se adapta com o tempo. Assim, a liberdade e a igualdade,
como visto há pouco, não têm o mesmo tratamento jurídico que tinha há um ou dois
séculos; esses direitos estão mais ampliados e com um viés cada vez mais adaptado
às diversas nuanças sociais, notadamente com relação às classes menos favorecidas
da sociedade.
Até aqui percebeu-se que tanto a liberdade quanto a igualdade passaram a
ter uma cosmovisão jurídica diferenciada a medida que a história humana avançou.
Para o escopo específico do presente trabalho, faz-se necessário se perguntar qual é
a visão que se tem da internet na comunidade jurídica atualmente, pergunta que será
respondida no terceiro capítulo.
1.3 A Cláusula de Inesgotabilidade ou de Abertura Material dos Direitos Funda-
mentais
A cláusula de inesgotabilidade ou de abertura material dos direitos fundamen-
tais é uma previsão nas constituições de cada Estado no sentido de que há direitos
fundamentais que, embora não estejam escritos nela, o estão em outros diplomas
legais ou até mesmo são mera decorrência do regime jurídico-constitucional adotado
por esse Estado.
No caso brasileiro, a CRFB/1988 estabelece essa cláusula no seu artigo 5º,
parágrafo 2º, que diz que
os direitos e garantias fundamentais expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Fe-
derativa do Brasil seja parte (grifou-se)
Saliente-se que a cláusula de inesgotabilidade dos direitos fundamentais não
é novidade da CRFB/1988, mas algo presente em constituições anteriores. Essa rea-
lidade o professor Dirley da Cunha Júnior demonstra com maestria em sua obra:
As Constituições brasileiras, com exceção da de 1824, sempre re-
conheceram a fundamentalidade material dos direitos fundamen-
tais. É constante na história constitucional brasileira o caráter aberto
das normas que enunciam os direitos fundamentais.
Com efeito, a Constituição de 1891 estipulava, no seu art. 78:
“Art. 78. A especificação das garantias e direitos expressos na Cons-
tituição não exclui outras garantias e direitos não enumerados, mas
resultantes da forma de governo que ela estabelece e dos princípios
que consigna".
A Constituição de 1934, no art. 114:
“Art. 114. A especificação dos direitos e garantias expressos nesta
Constituição nao exclui outros, resultantes do regime e dos princípios
que ela adota".

24 Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6984693>


Acesso em: 22/02/2019, às 23h29min, grifou-se.
18

A Constituição de 1937, no art. 123:


“Art. 123. A especificação das garantias e direitos acima enumerados
não exclui outras garantias e direitos, resultantes da forma de governo
e dos princípios consignados na Constituição. (...)”.
A Constituição de 1946, no art. 144:
“Art. 144. A especificação dos direitos e garantias expressos nesta
Constituição não exclui outros direitos e garantias decorrentes do re-
gime e dos princípios que ela adota”:
A Constituição de 1967, no art. 150, § 35:
“Art. 150. (...).
(...).
§ 35. A especificação dos direitos e garantias expressos nesta Cons-
tituição não exclui outros direitos e garantias decorrentes do regime e
dos princípios que ela adota".
A Emenda nº 01/69, no art. 153, § 36:
“Art. 153. (...).
(...).
§ 36. A especificação dos direitos e garantias expressos nesta Cons-
tituição não exclui outros direitos e garantias decorrentes do regime e
dos princípios que ela adota".
E, finalmente, a Constituição de 1988, no art. 5º, § 2º:
“Art. 5º.(...).
(...).
§ 2º. Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou
dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte"25 (grifou-se).
Com efeito, é desnecessário que um direito esteja previsto de modo expresso
na CRFB/88 ou em um tratado internacional de direitos humanos do qual o Brasil faça
parte, basta que ele seja assim considerado como decorrência do regime jurídico ado-
tado pelo Brasil.
No terceiro capítulo, arrazoar-se-á se a internet pode ser vista como direito
fundamental a título de decorrência do regime jurídico adotado pelo Direito Constitu-
cional brasileiro.
1.4 Direito Fundamental e Dignidade da Pessoa Humana
Dirley da Cunha Jr., discorrendo a respeito do conceito de direitos fundamen-
tais, diz que
os direitos fundamentais são todas aquelas posições jurídicas favorá-
veis às pessoas que explicitam, direta ou indiretamente, o princípio da

25 Op. cit. p. 672-673.


19

dignidade humana, que se encontram reconhecidas no texto da Cons-


tituição formal (fundamentalidade formal) ou que, por seu conteúdo e
importância, são admitidas e equiparadas, pela própria Constituição,
aos direitos que esta formalmente reconhece, embora dela não façam
parte (fundamentalidade material) 26.
Dessa maneira, no escólio das lições do supracitado doutrinador, direito fun-
damental é toda e qualquer posição jurídica favorável que explicita de modo direto ou
indireto a dignidade da pessoa humana, tenha ou não esse direito previsão expressa
na Constituição Federal.
Dessa maneira, o critério para se definir o que é ou não um direito fundamental
é a dignidade da pessoa humana, já que aquele é uma manifestação desta, e, conse-
quentemente, torna-se preciso definir (ou pelo menos formar uma noção sobre) o que
é dignidade da pessoa humana, para se verificar de que modo a internet a irradia.
Malgrado seja inconteste e pacífica a impossibilidade de se definir com preci-
são cirúrgica o que é dignidade da pessoa humana no âmbito doutrinário, como reco-
nheceram doutrinadores de renome como Luís Roberto Barroso27, um conceito que
se pode adotar para esse instituto jurídico, devido à credencialidade da obra e também
de seu autor, é o formulado pelo professor Ingo Wolfang Sarlet28:
(...) temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e
distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do
mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade,
implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres funda-
mentais que assegurem a pessoa contra todo e qualquer ato de cunho
degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e pro-
mover sua participação ativa e co-responsável (sic) nos destinos da
própria existência e da vida em comunhão com os demais seres hu-
manos.
Do conceito de dignidade da pessoa humana que foi exposto acima, conclui-
se que ela vem a ser o fundamento dos direitos e deveres fundamentais. Para o es-
copo do presente trabalho, tratar-se-á somente o primeiro aspecto (dignidade humana
enquanto o fundamento de direitos).
Nessa ambiência, cabe salientar que, na precisa definição de Dirley da Cunha
Jr. sobre o que são direitos fundamentais, foi destacado pelo autor que estes são
posições jurídicas favoráveis aos seus titulares, porque se não fossem favoráveis, se-
riam deveres e não direitos.
Assim, pode-se concluir que a dignidade da pessoa humana embasa a exis-
tência de direitos fundamentais, os quais dá ao seu titular a prerrogativa de exigir do
Estado que lhe proteja de abusos praticados pelos particulares ou pelos entes públi-
cos, que lhe propicie mecanismos que lhe possibilitem lograr uma vida minimamente

26 CUNHA JR., Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 6 ed. Salvador: Juspodivm, 2012. p. 574-575.
27 BARROSO, Luís Roberto. A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional Contemporâ-
neo: A Construção de um Conceito Jurídico à Luz da Jurisprudência Mundial. 3ª reimpressão. Belo
Horizonte: Fórum, 2014.
28 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais. 4ª Edição – Revista

e Atualizada. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 60.


20

digna e que lhe promova meios em que possa atuar na definição de seu próprio des-
tino e no destino da nação que integra.
No mesmo toar, manifestam-se MORAES e FRANÇA29:
Para que uma pessoa consiga traçar, com autonomia, seu plano
de vida e, consequentemente, ter uma vida digna, é absoluta-
mente necessário que esse indivíduo tenha condições materiais
de desenvolver suas capacidades, suas habilidades, e suas apti-
dões, para que seja, faticamente, possível que ele consiga cum-
prir suas metas e atingir uma vida, na sua concepção, almejada.
Uma pessoa que não teve suas habilidades exploradas e incenti-
vadas dificilmente terá um amplo leque de opções de vida.
Por outro lado, um indivíduo que tenha sido exposto a vários tipos de
informações, vários tipos de experiências, e, que tenha desenvolvido
suas habilidades, poderá escolher, pois obteve acesso as opções de
escolha, e, consequentemente, colocar em prática um projeto de vida
que o satisfaça, que o torne feliz, e consequentemente, que propicie
uma vida digna, uma vez que observados outros direitos fundamentais
já consagrados.
Neste sentido, verifica-se que a habilidade de se comunicar, é uma
das mais importantes capacidades humanas. A comunicação a nível
mundial, e a incrível facilidade de acesso a todo tipo de informação,
tornam a internet uma ferramenta indispensável para a educação e
para o desenvolvimento do indivíduo, relacionando-a aos parâmetros
estabelecidos pelo principio da dignidade humana.
Pontuamos, portanto, que a Internet cumpre um papel essencial no
desenvolvimento das habilidades humanas, uma vez que propaga
com agilidade informação, o que implica na ampliação do leque
de projetos de vida, e, consequentemente, numa existência hu-
mana digna, propiciando a observância efetiva de direitos funda-
mentais expressamente reconhecidos.
A partir desses conceitos e teses de direito fundamental e dignidade da pes-
soa humana, passar-se-á a discorrer sobre a maneira como a internet a irradia no
terceiro capítulo, tomando por base alguns dos direitos fundamentais previstos na
CRFB/1988.

29 MORAES, Eduardo de Abreu; FRANÇA, Viana Souza. ACESSO A INTERNET BANDA LARGA
COMO DIREITO FUNDAMENTAL DO CIDADÃO. Disponível em <http://www.publicadireito.com.br/ar-
tigos/?cod=5159f683253665f2> Acesso em: 23/04/2016, às 19h34min. (grifou-se)
21

2 A INDISPENSABILIDADE DA INTERNET PARA O DIA A DIA DA


SOCIEDADE

O primeiro capítulo tratou de analisar de um ponto de vista jurídico a Teoria


Geral dos Direitos Fundamentais, tendo em vista que no terceiro capítulo será neces-
sário retomar as ideias lá expressas.
O presente capítulo fará uma abordagem mais social da internet, analisando
como ela está imbricada na sociedade e como ela se faz necessária para o dia a dia
desta. Assim, vejamos algumas áreas, a título meramente exemplificativo, da indis-
pensabilidade da internet para a sociedade.
2.1 A Internet Como Necessária ao Exercício da Cidadania
A internet se tornou indispensável para o exercício da cidadania em relação
ao acesso à informação, uma vez que o Poder Público divulga os gastos de dinheiro
público em plataformas na internet.
Dessa maneira, qualquer pessoa poderá acompanhar o dispêndio do dinheiro
público caso tenha acesso a internet, sendo desnecessário deslocar-se para os pré-
dios públicos para terem tal informação.
Nesse sentido, comentam MORAES e FRANÇA30:
A experiência cotidiana corrobora, ainda, a importância da internet
para a obtenção de informações de todo o tipo. Por meio dessa rede
mundial de computadores, pessoas se informam sobre doenças, re-
médios, lugares, outras pessoas, instituições de ensino, enfim, se
mantêm ligadas ao mundo.
Essa ferramenta adquire um papel ainda mais relevante para a ci-
dadania à medida em que órgãos públicos lançam mão da inter-
net para se comunicarem com a população.
A internet também irradia a cidadania porque é instrumento para a reivindica-
ção de direitos. Por exemplo, uma moradora de Paraisópolis, São Paulo, bairro situ-
ado vizinho ao Morumbi, bairro de luxo, relata que seu local de morada é humilde e
que no período de chuvas as enchentes já atingiram um metro e meio de altura, mas,
embora grandes emissoras de televisão como a Rede Globo de Televisão e a Record
tenham comparecido à localidade, não se dispuseram a divulgar a situação caótica do
lugar31.
Nesse caso, a residente desse bairro afirmou em entrevista que com a internet
ela mesma pôde e pode divulgar a omissão do poder público em solucionar problemas
que afetam toda a comunidade, assim como qualquer outro morador pode fazê-lo,
especialmente quando se considera que emissoras televisivas, embora aparente-
mente solidária incialmente, não divulgaram de fato a matéria, o que ocasionaria o
ocultamento da aleivosidade estatal se essas pessoas não tivessem acesso à internet.

30 MORAES, Eduardo de Abreu; FRANÇA, Viana Souza. ACESSO A INTERNET BANDA LARGA
COMO DIREITO FUNDAMENTAL DO CIDADÃO. Disponível em <http://www.publicadireito.com.br/ar-
tigos/?cod=5159f683253665f2> Acesso em: 23/04/2016, às 19h34min. (grifou-se)
31 “DOCUMENTÁRIO INTERNET LIVRE FREENET – DUBLADO”. Disponível em www.you-

tube.com/watch?reload=9&v=V08BM5lzltQ&feature=youtu.be. Acesso em: 27/12/2018, às 18h42min.


22

Outra situação que exemplifica de modo semelhante o tratado no momento é


a de um professor da cidade de Caramuri, Amazonas, entrevistado no mesmo docu-
mentário que a moradora de Paraisópolis. Ele afirmou que pelo fato de sua cidade se
situar distante demais dos centros urbanos (cerca de nove horas de viagem através
de rios), as necessidades da comunidade eram praticamente desconhecidas pelo Po-
der Público. Entretanto, afirma ele, que, com o acesso à internet, será possível mostrar
às autoridades a existência dos indivíduos desse lugar e de suas necessidades, o que
demonstra que a internet é um indispensável canal de reivindicação de direitos funda-
mentais.
Nesse sentido, declara LUVIZOTTO (2016)32:
(...) compreende-se a importância fundamental da internet como ferra-
menta para disseminação de conteúdos informacionais de caráter po-
lítico e social, bem como, como suporte para organizar ações coletivas
(...)
Pode-se afirmar que as ações coletivas são sadias dentro de um am-
biente político e social plural como o brasileiro e projetam atores polí-
ticos que passam a exigir do poder público a efetivação de direitos
civis, políticos e sociais garantidos por lei. Trata-se de um componente
advindo do amadurecimento das democracias.
Destaque-se que Eduardo Moraes e Viana França também encaram a internet
como um instrumento deveras importante para a fiscalização do Poder Público no que
tange ao cumprimento das leis33:
A internet possibilita eficácia a legislação, como por exemplo, facili-
tando o controle do cidadão as contas públicas e assim a fiscalização
dos órgãos públicos, efetivando o poder conferido aqueles, previsto na
Constituição brasileira vigente.
LUVIZOTTO (2016) também comenta uma experiência no sítio eletrônico Vote
na Web, que, segundo ela, é uma plataforma desenvolvida na internet por uma inicia-
tiva privada e que tem o intuito de divulgar projetos de lei do Congresso Nacional para
que as pessoas manifestem suas opiniões quanto a eles, votando simbolicamente a
favor ou contra.
Ainda, a referida pesquisadora comenta que
o website reúne mais de 740 mil usuários cadastrados, mais de 10
milhões e 500 mil votos computados, mais de 340 mil comentários e
6.340 projetos cadastrados. Esses números sugerem que o website
possui uma visibilidade relevante e que possibilita a interação entre os
usuários, dado que pode ser verificado pelo grande número de comen-
tários deixados nos projetos de lei em todo site. Muitos desses comen-
tários foram feitos por usuários que pretendiam dialogar um com os
outros e opinar, concordando ou não, com o comentário de outro cida-
dão.34

32 LUVIZOTTO, Caroline Kraus. Cidadania, Ativismo e Participação na Internet: Experiências Brasilei-


ras. Revista Comunicação e Sociedade, vol. 30, 2016. p. 298.
33 MORAES, Eduardo de Abreu; FRANÇA, Viana Souza. ACESSO A INTERNET BANDA LARGA

COMO DIREITO FUNDAMENTAL DO CIDADÃO. Disponível em <http://www.publicadireito.com.br/ar-


tigos/?cod=5159f683253665f2> Acesso em: 23/04/2016, às 19h34min.
34 Ibidem. p. 303.
23

Ainda outra situação bastante comum é o uso da internet para organizar gru-
pos de manifestações que reivindicam direitos. A título de exemplo, a BBC News re-
latou que o Facebook foi a principal ferramenta de organização das manifestações de
julho de 2013 por passagens de ônibus mais baratas35.
Outrossim, fora do Brasil pode-se visualizar a internet como fundamental para
a organização de movimentos sociais, a exemplo dum evento que depôs uma ditadura
que durava duas décadas na Tunísia. Acerca deste ocorrido, relata Manual Castells:
Tudo começou num lugar totalmente inesperado, em Sidi Bouzid, uma
cidadezinha de 40 mil habitantes na empobrecida região central da
Tunísia, ao sul de Túnis. O nome de Mohamed Bouazizi, vendedor
ambulante de 26 anos, agora está gravado na história como o daquele
que mudou o destino do mundo árabe. Sua autoimolação por fogo às
11h30min da manhã de 17 de dezembro de 2010, diante de um prédio
do governo, foi seu último grito de protesto contra a humilhação que
era para ele o repetido confisco de sua banca de frutas e verduras pela
polícia local, depois de ele recusar-se a pagar propina. O primo de
Mohamed, Ali, registrou o protesto e distribuiu o vídeo pela internet.
Houve outros suicídio e tentativas de suicídios simbólicos que alimen-
taram a ira e estimularam a coragem da juventude. Em poucos dias,
começaram a ocorrer demonstrações espontâneas por todo o país,
iniciando-se nas províncias e depois se espalhando para a capital, no
começo de janeiro, apesar da repressão selvagem da polícia, que ma-
tou pelo menos 147 pessoas e feriu outras centenas.
(...)
(...) A conexão entre comunicação livre pelo Facebook, YouTube e
Twitter e a ocupação do espaço urbano criou um híbrido espaço pú-
blico de liberdade que se tornou uma das principais características da
rebelião tunisiana, prenunciando os movimentos que surgiriam em ou-
tros países36.
Sobre essa manifestação, um “blog” da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP)37 declarou que nem direitos básicos de primeira geração exis-
tiam na Tunísia até que se organizassem através da internet e das redes sociais ma-
nifestações para os reivindicar.
E não foi somente na Tunísia que a internet foi fundamental para a organiza-
ção de manifestações para fazer valer direitos violados. No Egito também esse instru-
mento foi indispensável, conforme Manuel Castells esclarece em seu livro já citado no
bojo deste trabalho:
A Revolução de 25 de Janeiro (Thawarat 25 Yanayir), que em dezoito
dias destronou o último faraó, nasceu das profundezas de fatores
como opressão, injustiça, pobreza, desemprego, sexismo, arremedo
de democracia e brutalidade policial. Ela foi precedida de protestos

35 BRASILEIROS ‘descobrem’ mobilização em redes sociais durante protestos. BBC News. Disponível
em https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/07/130628_protestos_redes_personagens_cc.
Acesso em: 27/12/2018, às 19h53min.
36 CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança: Movimentos sociais na era da internet. Edi-

tora Zahar. Rio de Janeiro, 2012. p. 24-25.


37 GARTNER, Heitor. Egito e Síria: o papel das tecnologias digitais na Primavera Árabe. Disponível em:

<http://blog.pucsp.br/culturadigitalri/?p=84> Acesso em: 23/04/2019, às 20h29min.


24

políticos (depois das eleições fraudulentas de 2005 e 2010), lutas pe-


los direitos das mulheres (rudemente suprimidos na Quarta-Feira Ne-
gra de 2005) e conflitos trabalhistas, como a greve das fábricas de
tecidos de Mahalla-al-Kubra em 6 de abril de 2008, seguida de distúr-
bios e da ocupação da cidade em reação a pressão sangrenta aos
grevistas. Dessa luta nasceu o Movimento da Juventude 6 de Abril, o
qual cirou um grupo no FAcebook que atraiu 70 mil seguidores. Aleed
Rashed, Asmaa Mahfouz, Ahmed Maher, Mohammed Adel e muitos
outros ativistas desse movimento desempenharam papel de destaque
nas manifestações que levaram à ocupação da praça Tahrir em 25 de
janeiro. Fizeram-no juntamente com muitos outros grupos formados
em conspirações de bastidores, enquanto se ampliavam pela internet.
A mais destacada dessas iniciativas foi a rede criada em torno do
grupo do Facebook Tomos somos Khaled Said, em alusão à memória
do jovem ativista espancado até a morte pela polícia em junho de 2010
num cibercafé, em Alexandria, após distribuir um vídeo mostrando a
corrupção policial. O grupo, criado por ael Ghonim, jovem executivo
do Google, e Abdul Rahman Mansour, teve a adesão de dezenas de
milhares de pessoas no Egito e em todo o mundo (Ghonim 2012). Es-
ses e outros grupos convocaram seus seguidores no Facebook para
se manifestar em frente ao Ministério do Interior, em protesto contra a
brutalidade policial que há décadas aterrorizava os egípcios. Escolhe-
ram 25 de janeiro por ser o Dia nacional da Polícia38.
Além da criação do referido grupo no Facebook para manifestações no Egito,
ainda houve manifestações individuais que se popularizaram através da internet,
dando apoio aos sujeitos de direito a fim de que eles se manifestassem em prol de
direitos básicos. Manuel Castells cita um caso:
A revolução egípcia foi dramatizada, seguindo o exemplo tunisiano,
por uma série de autoimolações (seis no total) em protesto contra o
aumento do preço da comida, que deixara muitas pessoas com fome.
E foi transmitida à juventude egípcia por uma das fundadoras do Mo-
vimento da Juventude 6 de Abril, Asmaa Mafhouz, de 26 anos, estu-
dante de administração da Universidade do Cairo.
Em 18 de janeiro, ela postou um vlog em sua página do Facebook
mostrando seu rosto coberto por um véu e se identificou pelo nome
antes de declarar:
Quatro egípcios atearam fogo ao corpo... Gente, que vergonha! Eu,
uma moça, postei que vou sozinha à praça Tahrir portando uma ban-
deira... Estou fazendo este vídeo para lhes passar uma mensagem
simples: nós vamos à praça Tahrir em 25 de janeiro... Se vocês fica-
rem em casa, vão merecer tudo que está sendo feito com vocês, e
serão culpados perante sua nação e seu povo. Vão para as ruas, en-
viem SMS, façam seus posts na rede, levem consciência às pessoas.
Alguém carregou o vlog no YouTube, e ele teve uma difusão viral por
milhares de pessoas. Tornouse conhecido em todo o Oriente Médio
como “O Vlog que Ajudou a Desencadear a Revolução”. Das redes da
internet, o chamado à ação se espalhou pelas redes sociais de ami-
gos, famílias e associações de todo tipo. As redes conectavam-se não

38CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança: Movimentos sociais na era da internet. Edi-
tora Zahar. Rio de Janeiro, 2012. p. 46.
25

apenas a indivíduos, mas às redes de cada um deles. Particularmente


importantes foram as redes de torcedores de clubes de futebol, princi-
palmente o al-Ahly e seu rival Zamolek Sporting, que tinha uma longa
história de enfrentamento com a polícia39.
Ainda em relação às manifestações egípcias, o Estado, até aquele momento
ditatorial, buscou extirpar o acesso à internet naquele país, assim como governos di-
tatoriais buscaram extirpar o direito à liberdade de manifestação do pensamento e de
reunião quando se sentiram ameaçados na história do Brasil. Manuel Castells conta
como foi essa experiência:
Nenhum desafio à autoridade do Estado fica sem resposta. Assim, no-
caso das revoluções árabes e no Egito, houve repressão direta, cen-
sura à mídia e bloqueio da internet.
A repressão não pode sustentar-se contra um movimento de massa
apoiado por redes de comunicação sob atenção da mídia global sem
que o governo esteja plenamente unificado e possa operar em coope-
ração com potências estrangeiras influentes. Como essas condições
não estavam presentes no Egito, o regime tentou tanto a repressão
violenta quanto o bloqueio da internet. Desse modo, buscou fazer
aquilo que anteriormente nenhum regime ousara: a grande descone-
xão, cortando o acesso à internet em todo o país, assim como as redes
de telefonia celular. Pela importância desse fato para o futuro dos mo-
vimentos baseados na internet, e porque ele de fato faz eco aos dese-
jos implícitos ou explícitos da maioria dos governos do mundo, vou me
estender de forma um tanto detalhada sobre o que aconteceu, como
aconteceu e, mais importante, por que essa iniciativa fracassou.
Desde o primeiro dia dos protestos, o governo egípcio censurou a mí-
dia no país e tomou medidas para bloquear os sites de mídia social
que ajudaram a convocar os manifestantes e a difundir notícia sobre o
que estava ocorrendo nos locais públicos. Em 27 de janeiro, ele blo-
queou as mensagens de texto e os serviços de mensagens do Black-
berry. Nas noites de 27 de janeiro, o governo egípcio bloqueou quase
totalmente o acesso à internet. Não havia um interruptor central a ser
ativado. O governo usou uma tecnologia muito mais antiga e eficiente.
Fez sucessivas ligações telefônicas aos quatro grnades provedores de
serviços de internet – Link Egypt, Vodafone/Raya, Telecom Egypt e
Etsalat Misr – e ordenou que desligassem as conexões. Empregados
dos provedores de internet acessaram cada um dos endereços de
seus roteadores, que continham as listas de todos os endereços co-
nectados em cada provedor, e deletaram a maioria deles, ou todos,
impedindo que se pudesse acessá-los de dentro ou de fora do país.
Assim, não era preciso que cada ISP (Internet Service Provider, Pro-
vedores de Serviços de Internet) desligasse fisicamente seus compu-
tadores; só precisavam mudar o código40.
Esses fatos demonstram que a internet é indispensável para que os mais di-
versos povos (egípcio, tunisiano e brasileiro, por exemplo) exerçam a cidadania, seja

39 CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança: Movimentos sociais na era da internet. Edi-
tora Zahar. Rio de Janeiro, 2012. p. 46.
40 CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança: Movimentos sociais na era da internet. Edi-

tora Zahar. Rio de Janeiro, 2012. p. 53.


26

para acompanhar os gastos públicos, seja para reivindicar direitos, seja, ainda, para
os fazer nascer.
2.2 A Internet Como Necessária à Educação
Como afirmou José Moran (2001),
Não podemos ver a Internet como solução mágica para modificar pro-
fundamente a relação pedagógica, mas ela pode facilitar como nunca
antes, a pesquisa individual e grupal, o intercâmbio de professores
com professores, de alunos com alunos, de professores com alunos41.
Há pessoas que, por morarem distantes, não podem realizar um curso supe-
rior nas dependências das próprias instituições de ensino, mas somente à distância.
Para tal situação, muito corriqueira atualmente por sinal, a internet se torna impres-
cindível para o crescimento acadêmico.
Por outro lado, a ausência de tal instrumento é fator de exclusão na área de
educação, pois esta se restringirá àquelas pessoas que têm acesso a ela, criando
mais um fator de desigualdade social, entre tantos que o Brasil já tem.
Nesse contexto, é de bom alvitre que se considere que o documentário que
se encontra disponível no sítio do YouTube e se intitula “DOCUMENTÁRIO INTER-
NET LIVRE FREENET – DUBLADO”42 demonstra uma realidade que expõe incontes-
tavelmente a necessidade da internet para a educação das pessoas: o sistema Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) exigem o
uso de internet para a inscrição nas avaliações, para o acompanhamento das notas
obtidas na realização do certame, para o ingresso em cursos de ensino superior pú-
blicos e privados e para a escolha do curso e da universidade que se pretende cursar.
Sem acesso à internet, o indivíduo não tem como ingressar no ensino supe-
rior, e se tal situação persistir no Brasil o resultado será “a criação de uma elite tecno-
crata”, como disse Frank la Rue, então Relator da ONU para Liberdade de Expressão
no referido documentário. Em outras palavras, a desigualdade no acesso à internet
manterá a desigualdade social que o Brasil tanto sonha erradicar.
2.3 A Internet como Irradiadora do Trabalho
Considerando que muitas vezes os postos de trabalho só aceitam candidatu-
ras via internet, seja no setor público, seja no privado, torna-se indispensável para o
indivíduo o acesso a ela para que se logre mais e melhores opções e condições de
trabalho.
À guisa de exemplo e no âmbito do estado de Alagoas, pode ser vista a seguir
a previsão contida no Edital nº 1 – PMAL, de 28 de julho de 2017, que lançou o con-
curso público para o provimento de vagas no cargo de soldado combatente da Polícia
Militar do Estado de Alagoas, no item “4.2”, que assim prevê:
Será admitida a inscrição somente via internet, no endereço eletrônico
http://www.cespe.unb.br/concursos/pm_al_17_soldado, solicitada no

41 MORAN, José. Novos desafios na educação: a Internet na educação presencial e virtual. Pelotas:
Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Editora, 2001. p. 19-44
42 “DOCUMENTÁRIO INTERNET LIVRE FREENET – DUBLADO. Disponível em: https://www.you-

tube.com/watch?v=V08BM5lzltQ. Acesso em: 19/04/2019, às 18h23min.


27

período entre 10 horas do dia 1º de agosto de 2017 e 18 horas do


dia 30 de agosto de 2017 (horário oficial de Brasília/DF)43
Ainda no âmbito do mesmo estado, pode ser vista previsão semelhante no
Edital Nº 1 – PMAL, de 21 de junho de 2018, que lançou novo concurso público para
provimento de vagas no cargo de soldado combatente da Polícia Militar do Estado de
Alagoas, cujo item “4.2” dispõe da seguinte maneira:
Será admitida a inscrição somente via internet, no endereço eletrônico
http://www.cespe.unb.br/concursos/pm_al_18_soldado, solicitada no
período entre 10 horas do dia 25 de junho de 2018 e 18 horas do dia
24 de julho de 2018 (horário oficial de Brasília/DF)44.
A nível federal, as previsões editalícias também caminham no mesmo sentido,
a exemplo do concurso para provimento de cargos e formação de cadastro de reserva
nos cargos de analista judiciário e técnico judiciário do quadro de pessoal da justiça
federal de 1º e 2º graus do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1),
cujo item “7.2” assim dispõe:
Será admitida a inscrição somente via internet, no endereço eletrônico
http://www.cespe.unb.br/concursos/trf1_17_servidor, solicitada no pe-
ríodo entre 10 horas do dia 13 de setembro de 2017 e 18 horas do
dia 3 de outubro de 2017 (horário oficial de Brasília/DF)45.
Como último exemplo dessa verdade, cite-se o concurso para provimento de
cargos de técnico judiciário e analista judiciário na sede do Tribunal Regional Federal
da Quinta Região (TRF-5) e nas Seções Judiciárias dos Estados de Pernambuco, Ce-
ará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Sergipe, lançado pela Fundação Carlos
Chagas no ano de 2017, cujo item “2” do tópico “IV. DAS INSCRIÇÕES” assim esta-
belece:
As inscrições ficarão abertas, exclusivamente, via Internet, no período
de 10h do dia 02/10/2017 às 14h do dia 27/10/2017 (horário de Brasí-
lia), de acordo com o item 3 deste Capítulo46.
No mesmo sentido do tratado aqui, comentam Eduardo Moraes e Viana
França47: “Identificamos que é por meio da internet (e em vários casos, somente por
ela) que se faz inscrição em processos seletivos públicos”.
É importante destacar, por ser relevante e notório, que a remuneração de ser-
vidores públicos é substancialmente maior que a do empregado celetista. Nos editais
já mencionados, as remunerações para o cargo de soldado combate da Polícia Militar
do Estado de Alagoas, o qual exige tão só que o servidor tenha nível médio completo,
era de R$ 3.522,88 (três mil, quinhentos e vinte e dois reais e oitenta e oito centavos)

43 Disponível em <http://www.cespe.unb.br/concursos/PM_AL_17_SOLDADO/arqui-
vos/ED_1_2017_PM_AL_17_SOLDADO_ABERTURA.PDF>. Acesso em 26/08/2019, 21h36min, grifos
do edital.
44 Disponível em <http://www.cespe.unb.br/concursos/pm_al_18_soldado/arqui-
vos/ED_1_2018_PM_AL___SOLDADO_EDITAL_DE_ABERTURA.PDF> . Acesso em 26/08/2019, às
21h40min, grifos do edital.
45 Disponível em <http://www.cespe.unb.br/concursos/TRF1_17_SERVIDOR/arqui-
vos/ED_1_2017_TRF_1__REGI__O_17_ABERTURA.PDF>. Acesso em 26/08/2019, às 21h43min,
grifos do edital.
46 Disponível em <https://www.trf5.jus.br/index.php?option=com_phocadownload&view=cate-
gory&download=8418:edital01-2017-trf5&id=46:servidores>. Acesso em 26/08/2019, às 21h47min.
47Ibidem.
28

para o concurso realizado no ano de 2017 (primeiro exemplo citado) e de R$ 3.744,47


(três mil setecentos e quarenta e quatro reais e quarenta e sete centavos) para o
concurso realizado no ano de 2018. Ademais, tanto os concursos realizados para o
TRF-1 quanto o realizado para o TRF-5 previam a remuneração de R$ 6.376,41 (seis
mil trezentos e setenta e seis reais e quarenta e um centavos) para o cargo de Técnico
Judiciário, cuja formação exigida é tão só em nível médio.
Por outro lado, é consabido que a grande maioria dos empregos disponíveis
no Brasil, os quais podem ser assumidos e concorridos sem a necessidade de acesso
à internet, possui remuneração de um salário-mínimo mensal, sendo muito comum
que os empregadores exijam o nível médio como requisito básico para assumir o posto
de trabalho, isto é, a mesma formação exigida para que se assuma um trabalho que
remunere bem melhor e que como diferença exige o acesso à internet para a respec-
tiva candidatura.
Como consequência, aquelas pessoas que não tiverem acesso à internet não
terão subsídios para conseguirem trabalhos melhores remunerados, passando estes
a serem destinados tão somente a uma parcela da população que tenha esse acesso,
ou seja, manterá a desigualdade social no âmbito profissional.
29

3 REFLEXÕES ACERCA DA RAZOABILIDADE DE ENQUADRAR A


INTERNET COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL

O presente capítulo buscará refletir se é razoável enquadrar a internet como


um direito fundamental, retomando, para tanto, as ideias contidas no primeiro e no
segundo capítulos.
3.1 Geração dos Direitos Fundamentais e a Internet
Viu-se no primeiro capítulo que os direitos fundamentais são classificados em
gerações, de acordo com a ordem cronológica de seu surgimento e de acordo com as
demandas sociais que lhe ensejaram.
Aqueles constitucionalistas que se dedicaram a analisar se a internet seria ou
não um direito fundamental teceram seus comentários a respeito do assunto.
Por exemplo, Paulo Bonavides defendeu a internet como um direito de quarta
geração, pois os direitos que se enquadram nesta, segundo os ensinos desse doutri-
nador, envolvem a universalização e a globalização de elementos da sociedade como
cultura, economia e direitos cibernéticos. In verbis:
O Brasil está sendo impelido para a utopia deste fim de século: a glo-
balização do neoliberalismo, extraída da globalização econômica (...)
(...)
Há, contudo, outra globalização política, que ora se desenvolve, sobre
a qual não tem jurisdição a ideologia neoliberal. Radica-se na teoria
dos direitos fundamentais. A única verdadeiramente que interessa aos
povos da periferia.
Globalizar direitos fundamentais equivale a universalizá-los no
campo institucional. Só assim aufere humanização e legitimidade um
conceito que, doutro modo, qual vem acontecendo de último, poderá
aparelhar unicamente a servidão do porvir.
A globalização política na esfera da normatividade jurídica introduz os
direitos da quarta geração, que, aliás, correspondem à derradeira fase
de institucionalização do Estado social. São direitos da quarta geração
o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao plura-
lismo. Deles depende a concretização da sociedade aberta do futuro,
em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o
mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência.
A democracia positivada enquanto direito da quarta geração há
de ser, de necessidade, uma democracia direta. Materialmente
possível graças aos avanços da tecnologia de comunicação, e le-
gitimamente sustentável graças à informação correta e às aberturas
pluralistas do sistema. Desse m odo, há de ser também uma demo-
cracia isenta já das contam inações da mídia manipuladora, já do her-
metismo de exclusão, de índole autocrática e imitarista, familiar aos
monopólios do poder. Tudo isso, obviam ente, se a informação e o
pluralismo vingarem por igual com o direitos paralelos e coadjutores
30

da democracia; esta, porém, enquanto direito do gênero humano, pro-


jetado e concretizado no último grau de sua evolução conceitual48.
Urge destacar que o supracitado doutrinador não está sozinho nesse pensa-
mento, tendo em vista que Dimitri Dimoulis e Leonardo Martins a defendem em sua
obra Teoria Geral dos Direitos Fundamentais49, e que José Joaquim Gomes Canotilho
também o faz em seu livro Direito Constitucional e Teoria da Constituição50.
Já Perez Luño considera a internet como direito de terceira geração. Para
sustentar tal posicionamento, esse jurista afirma que a internet se trata de liberdade
informática e que é ingênuo classificar os direitos fundamentais, quaisquer que sejam,
em quarta, quinta ou sexta gerações, tendo em vista que faltaria clareza teórica para
tanto51.
Ele mesmo, ainda, salienta que, para que a internet seja tratada de modo sério
e adequado, é necessário que se rompam com os maniqueísmos liberal-social, direi-
tos individuais-direitos sociais, capitalismo-socialismo e afins, porque a internet de-
manda tanto a abstenção estatal, como a intervenção dele, a depender da situação.
Explica-se: o teórico aduz que a internet envolve a liberdade na web, o que requer
abstenção por parte do Estado, mas ao mesmo tempo envolve o dever de o Estado
implementar modos de acesso a ela, o que configura a necessidade de sua interven-
ção.
Outrossim, prossegue Perez Luño, é mister frisar que o Estado inexoravel-
mente deve intervir para evitar, conter e combater abusos de usuários contra usuários.
Dessa maneira, como ora o Estado precisa se abster e ora precisa intervir,
Perez Luño defende ser impossível classificar a internet como direito de primeira ou
de segunda gerações, bem como defende ser impossível classificá-la como direito de
quarta, quinta ou sexta gerações, mas que o correto é classificá-la como de terceira
geração52.
O que é curioso dessa dissensão que existe entre Perez Luño e os doutrina-
dores citados anteriormente a ele é que mesmo não havendo consenso sobre a qual
geração pertence a internet, eles são insofismavelmente unânimes num ponto: a in-
ternet é um direito fundamental.
Percebendo essa mesma realidade, discorrem Rosane Leal da Silva e Gis-
laine Ferreira Oliveira:
Independente das divergências doutrinárias sobre a terminologia a ser
aplicada e qual geração/dimensão melhor albergaria os direitos decor-
rentes do desenvolvimento das TIC, resta claro que os autores não
ignoram seus impactos no direito. Diante disso, sustenta-se que o
acesso à internet tem respaldo para se inserir no rol dos direitos fun-
damentais, especialmente considerando que a Constituição Federal
de 1988 apresenta dispositivos referentes aos direitos fundamentais

48 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 15 ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 570-571
(grifou-se).
49 DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. 4ª. ed. rev., atual.,

ampl. São Paulo: Atlas, 2012. p. 22.


50 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7ª ed. Coimbra: Almedina,

2006. p. 386.
51 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. ? Ciberciudadaní@ o ciudadaní@.com?. Barcelona: Gedisa, 2003.
52 Ibidem.
31

em diversas partes do texto constitucional, bem como se declara


aberta para abranger aqueles decorrentes da ordem internacional53.
Portanto, as gerações de direitos fundamentais servem como base para se
reconhecer a internet como direito fundamental porque os teóricos concordam com
sua fundamentalidade até mesmo no momento em que divergem a respeito de seu
correto enquadramento em uma das gerações dos direitos fundamentais.
3.2 A Historicidade dos Direitos Fundamentais e a Internet
No primeiro capítulo, vimos que os direitos fundamentais recebem nova visão
no desenrolar da história humana. A liberdade, que não era um direito no período
monárquico, passou a sê-lo no período democrático.
Outrossim, a igualdade, que era encarada de uma forma no período em que
existiam somente os direitos fundamentais de primeira geração, passou a ser vista de
um modo diferente quando surgiram os direitos de segunda geração.
Com relação à internet, passar-se-á a ver doravante qual é a situação em que
a internet se encontra no presente período histórico.
Nessa ambiência, cite-se que a Organização das Nações Unidas (ONU) reco-
nheceu a internet como direito humano em dezesseis de maio de 2011. Cite-se tam-
bém que o Poder Público vem dando publicidade às suas ações através de portais
eletrônicos, algo que não fazia em tempos pretéritos da história, portais esses que
exigem acesso à internet para que sejam acompanhados. Outrossim, considere-se
que muitos postos de trabalho são divulgados exclusivamente através da internet e
que a candidatura a eles também se dá única e exclusivamente através da internet,
como no caso de concursos públicos. Ainda, destaque-se que há cursos os mais di-
versos que funcionam à distância, os quais propiciam às pessoas que moram em lo-
cais mais distantes o acesso à formação acadêmica, o que seria impossível sem a
internet.
Assim, observa-se que ao longo da história a internet já se tornou indispensá-
vel para o trabalho, para os estudos e para o exercício de direitos fundamentais (e.g.
acesso à informação, cidadania, educação, trabalho). Assim, é imperioso que ela seja
tratada como direito fundamental que é, pois é indispensável ao exercício de direitos
fundamentais os mais diversos.
E nem se diga que a internet tem um caráter meramente mediador ou instru-
mental, pois ela se enquadra na classe de direitos que, caso inexista, impede o exer-
cício de outros direitos. Explica-se: o direito fundamental ao transporte está positivado
no art. 6º da CFRB/88, e é indispensável para a sociedade na medida em que nem
todas as pessoas podem comprar um carro ou uma motocicleta para se deslocar para
o trabalho ou para a escola. Não obstante, não se veem com frequência discussões a
respeito da mera função mediadora ou instrumental desse direito para o exercício de
outros direitos, como o direito ao trabalho ou o direito à educação.
Ora, o direito fundamental ao transporte não é considerado mero mediador,
instrumento ou pressuposto ao exercício de outros direitos fundamentais, mas sim um

53SILVA, Rosane Leal da; OLIVEIRA, Gislaine Ferreira. A Universalização do Acesso à Internet Como
Novo Direito Fundamental: Das Políticas de Inclusão à Educação Digital. Publica Direito. Disponível
em: < http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=2b31595206d7115e > Acesso em: 07/01/2019, às
20h44min.
32

direito fundamental. A internet, portanto, que é indispensável para o exercício de di-


reitos fundamentais como a educação, o trabalho, a cidadania e o acesso a informa-
ção, também não pode ser tratada como mero instrumento, sob pena de se aplicar
racionalidades diferentes para casos evidentemente semelhantes e, ao mesmo
tempo, de se violar o postulado jurídico que diz ubi eadem ratio ibi idem ius (onde
houver o mesmo fundamento, haverá o mesmo direito).
Assim, faz-se razoável concluir que a situação histórica no qual o mundo se
encontra atualmente enseja o reconhecimento da internet como um direito fundamen-
tal.
3.3 A Cláusula de Inesgotabilidade dos Direitos Fundamentais e a Internet
No primeiro capítulo, fez-se a abordagem da referida cláusula de inesgostabi-
lidade, a partir do que se concluiu que não é mister que um direito fundamental esteja
previsto de modo expresso na CRFB/88 ou em um tratado internacional de direitos
humanos do qual o Brasil faça parte para que seja tratado como tal, mas sim que
decorra do regime jurídico adotado pelo Direito Constitucional brasileiro.
Por outro lado, caso o Brasil tenha aderido a um tratado internacional de di-
reitos humanos que preveja a internet como direito fundamental, pode-se afirmar com
maior segurança jurídica que verdadeiramente ela o é. Nesse contexto, deve-se con-
siderar que o Brasil internalizou o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
de 1966 através do Decreto número 592 de 1992, o qual prevê o direito ao acesso à
informação independentemente de fronteira como direito, e também o Pacto de San
Jose da Costa Rica de 1969 mediante o Decreto número 678 de 1992, que detém a
mesma previsão54.
Com efeito, a internet é um direito fundamental porque, também com base na
CRFB/1988, art. 5º, § 2º, está previsto em tratados internacionais internalizados pelo
Brasil segundo a tramitação constitucional de internalização prevista no referido dis-
positivo55.
3.4 A Cidadania e a Internet
Viu-se no segundo capítulo como as pessoas das mais diversas nacionalida-
des necessitam da internet para fazer valer direitos humanos básicos, como a liber-
dade e a igualdade.
Os fatos narrados dos contextos tunisiano e egípcio servem para demonstrar
como a internet é um direito fundamental para que os cidadãos possam não apenas
expressar suas opiniões, mas reivindicar direitos básicos, como a liberdade, o voto, a
alimentação e, sobretudo, a uma vida digna.
Esses fatos também servem para demonstrar que uma sociedade que está
organizada sem ter a internet como um direito fundamental está sobremaneira atra-
sada democraticamente, sobretudo porque não propicia meios eficazes de exercício
do direito à cidadania.
Ademais, a atitude arbitrária do Estado egípcio em bloquear o acesso à inter-
net num momento em que o povo egípcio a estava usando para reivindicar os referidos

54 SILVA, Rosane Leal da; OLIVEIRA, Gislaine Ferreira. A Universalização do Acesso à Internet Como
Novo Direito. Publica Direito. Disponível em <http://www.publicadireito.com.br/arti-
gos/?cod=2b31595206d7115e>. Acesso em 13/12/2018, às 19h55min.
55 Ibidem.
33

direitos básicos demonstra o que no fundo todas as autoridades já sabem: que a in-
ternet é um direito tão fundamental que, caso a sociedade atual fique sem ele, ela não
só ficará privada do usufruto só da internet, mas ficará privada do exercício de uma
série de outros direitos, sobretudo, nesse contexto, da manifestação do pensamento,
da reunião e da cidadania.
Falando de uma maneira mais geral a respeito da utilização da internet para
fazer manifestações sociais, Sail Shetty, que ocupou o cargo de secretário-geral da
Anistia Internacional, em entrevista dada à revista Exame Abril, reconheceu que
Não há nenhuma dúvida de que as redes sociais tenham desempe-
nhado um papel muito importante ao permitir que as pessoas se reú-
nam. Mas temos que ter sempre em mente que isso dá também, aos
governos, a oportunidade de tomar medidas duras contra a popula-
ção56.
Dessa maneira, verifica-se no cotidiano não só dos brasileiros, mas também
no do mundo afora que a internet é imprescindível à reivindicação de direitos, o que é
uma manifestação de cidadania.
3.5 A Educação e a Internet
No segundo capítulo, percebeu-se que o acesso ao ensino superior atual-
mente se dá somente com o acesso à internet, haja vista que é indispensável realizar
a inscrição no Sisu, uma plataforma que funciona exclusivamente através da internet.
Outrossim, viu-se que muitas pessoas não possuem uma faculdade ou uni-
versidade que oferte cursos superiores na modalidade presencial próximo de suas
residências, o que inviabilizaria seu acesso ao ensino superior, o que a internet tem a
capacidade de suprir e, assim, aumentar os índices de desenvolvimento educacional.
Destaque-se que tal pensamento é esposado por pesquisadores da área do
presente trabalho. Por exemplo, Eduardo Moraes e Viana França dizem:
(...) o princípio da dignidade humana será cumprido quando pro-
picia-se à pessoa acesso aos elementos essenciais já previstos
na constituição, bem como, fomentando–se a educação, cultura e
informação (direitos também previstos constitucionalmente e mundial-
mente), que atuam como elementos essenciais a análise crítica do ser
humano, bem como, ao seu rol de escolhas57
Em outra oportunidade, os mesmos pesquisadores concluem que há livros
que podem ser acessados livremente pelo público através da internet: “Por meio ainda
da internet é possível ter acesso a milhares de livros de domínio público digitalizados,
assim como já se pode, de maneira legal, comprar e baixar músicas e filmes”58
Com efeito, é no mínimo razoável concluir que a internet irradia o direito à
educação de um modo que, sem ela, esse direito não seria irradiado e ainda serão

56 NA Primavera Árabe internet é faca de dois gumes. Disponível em < https://exame.abril.com.br/tec-


nologia/na-primavera-arabe-internet-e-faca-de-dois-gumes/> Acesso em 23/04/2019, às 20h24min.
57 MORAES, Eduardo de Abreu; FRANÇA, Viana Souza. ACESSO A INTERNET BANDA LARGA

COMO DIREITO FUNDAMENTAL DO CIDADÃO. Disponível em <http://www.publicadireito.com.br/ar-


tigos/?cod=5159f683253665f2> Acesso em: 23/04/2016, às 19h34min.
58 Ibidem.
34

perpetuadas grandes desigualdades sociais as quais o Brasil se prontifica diuturna-


mente a combater.
3.6 O Trabalho e a Internet
Viu-se no segundo capítulo que a internet é indispensável para que as pes-
soas tenham chances de ter um trabalho que remunere melhor, que sem ela as suas
oportunidades de labor se restringirão a empregos privados remunerados em sua mai-
oria com apenas um salário-mínimo mensal.
Outrossim, explanou-se que cargos públicos pagavam mais do que seis salá-
rios-mínimos mensais, a exemplo dos concursos realizados pelo TRF-1 e pelo TRF-5
para o provimento dos cargos de técnico judiciário em suas respectivas dependências,
exigindo apenas o ensino médio completo para os seus candidatos.
Por fim, comparou-se que a mesma formação é exigida no setor privado, mas
que a remuneração é bem mais baixa (um sexto nos casos do parágrafo anterior), e
que essas são basicamente as únicas oportunidades às quais as pessoas que não
têm acesso à internet teriam.
Com efeito, é imperioso concluir que sem a internet se tornará muito mais
difícil, quiçá impossível, alcançar um trabalho no qual o sujeito de direitos possa en-
contrar alguma satisfação, tendo em vista que não sentirá que a discrepância salarial
existente entre dois postos de trabalho que exigem exatamente a mesma formação
será explicada a contento.
3.7 O Direito Fundamental, a Dignidade da Pessoa Humana e a Internet
Arrazoou-se no primeiro capítulo que direito fundamental é toda aquela posi-
ção jurídica que confere ao seu titular a prerrogativa de exigir de um sujeito de direito
determinado comportamento, ou seja, que é uma posição jurídica favorável, de cré-
dito, e que é aquilo que irradia a dignidade da pessoa humana.
Apesar de internet ser indispensável e irradiar os direitos acima abordados, é
preciso destacar que há quem defenda que a internet não se enquadra no conceito
de direito fundamental. A título de exemplo, veja-se a tese apresentada a seguir, for-
mulada por Roncolato, um dos fundadores da internet e vice-diretor da Google Vint
Cert. Segue sua posição:
A tecnologia é um ativador de direitos, mas não um direito por si só.
Existem altos padrões para determinar se algo é um direito humano.
Devem ser itens que os seres humanos precisam para ter uma vida
saudável e significativa, como proibição da tortura e liberdade de opi-
nião. É um erro colocar qualquer tecnologia em particular nesta impor-
tante categoria. O tempo vai mostrar que estamos valorizando as coi-
sas erradas59.
De acordo com esse pensamento, um direito só seria fundamental se ele fosse
indispensável à subsistência, como, por exemplo, o direito à vida, o direito à saúde ou
o direito à segurança.

59 PAVÃO, Glaucia Damasceno. Acesso à internet como Direito Fundamental: O retrocesso promovido
pela possível limitação à internet fixa. Jus Brasil. Disponível em: https://victorguimaraesaraujo1.jusbra-
sil.com.br/artigos/613602798/acesso-a-internet-como-direito-fundamental Acesso em 19/04/2019,
18h30min.
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Outras muitas ideias foram enunciadas no sítio eletrônico da Câmara dos De-
putados, que tornou pública uma enquete que indagava acerca da opinião popular
acerca da fundamentalização e constitucionalização da internet no art. 5º da Consti-
tuição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988)60, e houve opiniões
semelhantes à de Roncolato:
Apesar da INTERNET ser um BEM, não deve ser considerado um di-
reito fundamental. As pessoas vivem sem internet!
Uma tese semelhante foi esposada por outro participante da enquete, porém
com exemplos práticos:
(...) a internet é apenas um complemento, por tal motivo, entendo que
não deveria ser denominado (sic) garantia fundamental, pois funda-
mentais é (sic) o cumprimento e atendimento de outras necessidades
básicas que estão acima da internet [saúde, educação, segurança, la-
zer e acesso à justiça são citados pelo participante da enquete] (...)
Outra ideia que se apresentou contra a fundamentalização e a constituciona-
lização do direito à internet aduz que esta não irradia a dignidade da pessoa humana,
por isso não deveria ser considerada direito fundamental, conforme se vê nas palavras
que se transcrevem:
Direitos Fundamentais são aqueles bens jurídicos que são indispen-
sáveis à dignidade da pessoa humana. Com certeza, o acesso à inter-
net não se enquadra neste conceito.
Não obstante ao que foi exposto, é inconteste que a internet no mínimo é
indispensável ao desenvolvimento pessoal na educação, no trabalho, na cidadania,
no acesso à informação, no direito à reunião e na organização de manifestações po-
pulares para reivindicar direitos fundamentais os mais básicos, bem como que a co-
munidade jurídica a enxerga tanto como um direito fundamental que a sua divergência
se dá tão somente na classificação mais adequada para ela em relação às gerações
dos direitos fundamentais.
Nesse contexto, faz-se desnecessário citar novamente o manancial de estu-
diosos que se manifestaram favoravelmente ao enquadramento da internet enquanto
direito fundamental.

60 Disponível em: <http://arquivo.edemocracia.camara.leg.br/web/internet/forum/-/message_bo-


ards/message/1702236?menuTopo=0> Acesso em: 19/04/2019, às 18h44min.
36

CONCLUSÃO

A partir do presente trabalho, percebeu-se que a internet é tão indispensável


à vida da sociedade que não a tratar de maneira juridicamente adequada (ou seja,
não a tratar como direito fundamental ao qual todos devem usufruir) perpetuará as
desigualdades sociais as quais o Brasil se propõe diuturnamente a combater.
Sem ela, o leque de opções de compra será menor, as oportunidades de tra-
balho serão menores, as oportunidades de estudo, a cidadania restará comprometida,
pois muitos direitos não poderão ser reivindicados na arena pública, enfim, as pessoas
não poderão gozar de uma vida que se possa chamar de jurídica e constitucional-
mente digna.
37

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