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CAMPUS I – ARAPIRACA
CURSO DE DIREITO
ARAPIRACA
2019
1
Trabalho de Conclusão de
Curso de graduação apresen-
tado ao curso de Direito da Uni-
versidade Estadual de Alagoas
– UNEAL, como requisito parcial
para a obtenção do título de Ba-
charel(a) em Direito.
ARAPIRACA
2019
2
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
____________________________________________________________
Professor Examinador:
____________________________________________________________
Professor Examinador:
Arapiraca
2019
3
1 Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.
4
RESUMO
ABSTRACT
The present work aims to analyze the reasonableness or not of considering the internet
a fundamental right worthy of not only being affirmed in the Federal Constitution of
1988 as such, but, above all, being treated in this way in the ordinary life of the Gov-
ernment, both of the Executive as responsible for providing basic rights of citizens, and
of the Legislative as responsible for issuing laws that safeguard fundamental rights, as
well as forcing the first power to implement the provision, as well as of the Judiciary as
responsible for recognizing and determine in concrete the implementation and respect
for this object so necessary and indispensable for society today.
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................................................... 4
ABSTRACT ........................................................................................................................................... 5
SUMÁRIO .............................................................................................................................................. 6
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 7
1 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .................................................................. 9
1.1 Gerações dos Direitos Fundamentais .................................................................................... 9
1.2 Historicidade dos Direitos Fundamentais ............................................................................ 12
1.3 A Cláusula de Inesgotabilidade ou de Abertura Material dos Direitos Fundamentais .. 17
1.4 Direito Fundamental e Dignidade da Pessoa Humana ...................................................... 18
2 A INDISPENSABILIDADE DA INTERNET PARA O DIA A DIA DA SOCIEDADE ............... 21
2.1 A Internet Como Necessária ao Exercício da Cidadania .................................................. 21
2.2 A Internet Como Necessária à Educação ............................................................................ 26
2.3 A Internet como Irradiadora do Trabalho ............................................................................. 26
3 REFLEXÕES ACERCA DA RAZOABILIDADE DE ENQUADRAR A INTERNET COMO UM
DIREITO FUNDAMENTAL................................................................................................................ 29
3.1 Geração dos Direitos Fundamentais e a Internet ............................................................... 29
3.2 A Historicidade dos Direitos Fundamentais e a Internet ................................................... 31
3.3 A Cláusula de Inesgotabilidade dos Direitos Fundamentais e a Internet ....................... 32
3.4 A Cidadania e a Internet ......................................................................................................... 32
3.5 A Educação e a Internet ......................................................................................................... 33
3.6 O Trabalho e a Internet ........................................................................................................... 34
3.7 O Direito Fundamental, a Dignidade da Pessoa Humana e a Internet ........................... 34
CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 36
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 37
7
INTRODUÇÃO
2 QUAIS seriam as consequências de um dia sem internet em toda a Terra? Tecmundo. Disponível em
<https://www.tecmundo.com.br/internet/84690-consequencias-dia-internet-terra.htm>. Acesso em:
05/07/2019, às 19h21min.
3 MORAES, Eduardo de Abreu; FRANÇA, Viana Souza. ACESSO A INTERNET BANDA LARGA
4 MARTINS JR., Flávio. Curso de Direito Constitucional. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2017. p.
747-748.
5 Supremo Tribunal Federal. A Constituição e o Supremo – art. 5º. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigobd.asp?item=31> Acesso em: 07/01/2018, às 20h06min.
10
6 CUNHA JR., Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 6 ed. Salvador: Juspodivm, 2012. p. 615.
7 Idem. p. 748.
8 Ibidem. p. 615-616, grifos no original.
9 MARTINS JR., Flávio. Curso de Direito Constitucional. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2017. p.
748.
11
10 État Gendarme é uma expressão que se refere ao Estado-Polícia, o que remete a ideia de que o
Estado deve intervir o mínimo possível na esfera privada dos sujeitos de direito, devendo se preocupar
com poucas questões sociais, como saúde pública, segurança pública e conservação de estradas e
ferrovias. Tal pensamento é tipicamente liberal (Disponível em <http://maltez.info/respublica/topicos/aa-
letrae/etat_gendarme.htm> Acesso em: 31/12/2018, às 19h57min.).
12
11 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 12 ed.
São Paulo, Saraiva, 2017. p. 128-129, versão eletrônica.
12 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 12 ed.
pela possível limitação à internet fixa. Jus Brasil. Disponível em: https://victorguimaraesaraujo1.jusbra-
sil.com.br/artigos/613602798/acesso-a-internet-como-direito-fundamental Acesso em 19/04/2019,
18h30min.
13
14 Ives Gandra é favor da corrente jusnaturalista dos direitos fundamentais, por exemplo, algo que pode
ser verificado na seguinte obra: MARTINS, Ives Gandra. A nova constituição e o Direito natural, Revista
de Direito Civil, Imobiliário, Agrário e Empresarial, v. 07, n.26, out./dez. 1983. Inezil Penna Marinho
também o faz em MARINHO, Inezil Penna. O Direito natural como fundamento de uma teoria do direito
Justo e Os pressupostos de uma sociedade justa, Brasília: Instituto de Direito Natural, 1979. A celeuma
acerca da origem dessa característica dos direitos fundamentais fica ainda mais acirrada quando Hans
Kelsen, considerado pela comunidade jurídica um ícone do positivismo, recorre ao direito natural para
subsidiar a constituição: “É verdade que a norma fundamental não é uma norma de direito positivo e,
neste ponto, está a única semelhança entre a teoria da norma fundamental e a teoria jusnaturalista”
(KELSEN, Hans, KELSEN, Hans. A justiça e o direito Natural. Título Original: Das Problem der Gerech-
tigkeit.Tradução de Jõao Batista Machado, Coimbra: Arménio Amado editor, 1979).
15 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 7ª Tiragem. São: Editora Elsiever, 2004. p. 8, versão eletrô-
nica, grifou-se.
16 SARLET, Ingo Wolfang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitu-
Constitucional: a dignidade da pessoa humana. Acerca do assunto, Dirley da Cunha Júnior comenta:
“(...) exatamente porque o homem é criado à imagem e semelhança de Deus, o cristianismo antigo
pronunciava uma mensagem de libertação do homem, na sua afirmação da dignidade da pessoa hu-
mana que pertence a todos os homens sem distinção, o que sugere uma igualdade fundamental de
natureza entre eles” (CUNHA JR., Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 6 ed. Salvador: Juspodivm,
2012. p. 590)
18 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 7ª Tiragem. São: Editora Elsiever, 2004. p. 13, versão eletrô-
nica.
14
(...)
5. Não há outro modo de concretizar o valor constitucional da igual-
dade senão pelo decidido combate aos fatores reais de desigualdade.
O desvalor da desigualdade a proceder e justificar a imposição do va-
lor da igualdade. A imperiosa luta contra as relações desigualitárias
muito raro se dá pela via do descenso ou do rebaixamento puro e sim-
ples dos sujeitos favorecidos. Geralmente se verifica é pela ascensão
das pessoas até então sob a hegemonia de outras. Que para tal via-
gem de verticalidade são compensadas com esse ou aquele fator de
supremacia formal. Não é toda superioridade juridicamente conferida
que implica negação ao princípio da igualdade.
6. O típico da lei é fazer distinções. Diferenciações. Desiguala-
ções. E fazer desigualações para contrabater renitentes desigua-
lações. A lei existe para, diante dessa ou daquela desigualação
que se revele densamente perturbadora da harmonia ou do equi-
líbrio social, impor uma outra desigualação compensatória. A lei
como instrumento de reequilíbrio social.
7. Toda a axiologia constitucional é tutelar de segmentos sociais bra-
sileiros historicamente desfavorecidos, culturalmente sacrificados e
até perseguidos, como, verbi gratia, o segmento dos negros e dos ín-
dios. Não por coincidência os que mais se alocam nos patamares pa-
trimonialmente inferiores da pirâmide social. A desigualação em fa-
vor dos estudantes que cursaram o ensino médio em escolas pú-
blicas e os egressos de escolas privadas que hajam sido contem-
plados com bolsa integral não ofende a Constituição pátria, por-
quanto se trata de um descrímen que acompanha atoada da com-
pensação de uma anterior e factual inferioridade (“ciclos cumula-
tivos de desvantagens competitivas”). Com o que se homenageia
a insuperável máxima aristotélica de que a verdadeira igualdade
consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desi-
guais, máxima que Ruy Barbosa interpretou como o ideal de tra-
tar igualmente os iguais, porém na medida em que se igualem; e
tratar desigualmente os desiguais, também na medida em que se
desigualem.
(...)
[ADI 3.330/DF, Pleno, Relator Ministro Ayres Brito, j. 03/05/2012]23
Em outra ocasião e com base na mesma concepção de direito à igualdade
praticaram-se atos administrativos que destinaram vagas no ensino superior para afro-
descendentes (“cotas raciais”). Mas, mais uma vez, houve ferrenhas oposições, as
quais levaram o DEM a impetrar a Arguição de Descumprimento de Preceito Funda-
mental (ADPF) nº 186 para anular tais atos.
O STF, contudo, posicionou-se reafirmando e enaltecendo mais uma vez a
acepção material do princípio da igualdade, da seguinte maneira.
EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUN-
DAMENTAL. ATOS QUE INSTITUÍRAM SISTEMA DE RESERVA DE
VAGAS COM BASE EM CRITÉRIO ÉTNICO-RACIAL (COTAS) NO
26 CUNHA JR., Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 6 ed. Salvador: Juspodivm, 2012. p. 574-575.
27 BARROSO, Luís Roberto. A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional Contemporâ-
neo: A Construção de um Conceito Jurídico à Luz da Jurisprudência Mundial. 3ª reimpressão. Belo
Horizonte: Fórum, 2014.
28 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais. 4ª Edição – Revista
digna e que lhe promova meios em que possa atuar na definição de seu próprio des-
tino e no destino da nação que integra.
No mesmo toar, manifestam-se MORAES e FRANÇA29:
Para que uma pessoa consiga traçar, com autonomia, seu plano
de vida e, consequentemente, ter uma vida digna, é absoluta-
mente necessário que esse indivíduo tenha condições materiais
de desenvolver suas capacidades, suas habilidades, e suas apti-
dões, para que seja, faticamente, possível que ele consiga cum-
prir suas metas e atingir uma vida, na sua concepção, almejada.
Uma pessoa que não teve suas habilidades exploradas e incenti-
vadas dificilmente terá um amplo leque de opções de vida.
Por outro lado, um indivíduo que tenha sido exposto a vários tipos de
informações, vários tipos de experiências, e, que tenha desenvolvido
suas habilidades, poderá escolher, pois obteve acesso as opções de
escolha, e, consequentemente, colocar em prática um projeto de vida
que o satisfaça, que o torne feliz, e consequentemente, que propicie
uma vida digna, uma vez que observados outros direitos fundamentais
já consagrados.
Neste sentido, verifica-se que a habilidade de se comunicar, é uma
das mais importantes capacidades humanas. A comunicação a nível
mundial, e a incrível facilidade de acesso a todo tipo de informação,
tornam a internet uma ferramenta indispensável para a educação e
para o desenvolvimento do indivíduo, relacionando-a aos parâmetros
estabelecidos pelo principio da dignidade humana.
Pontuamos, portanto, que a Internet cumpre um papel essencial no
desenvolvimento das habilidades humanas, uma vez que propaga
com agilidade informação, o que implica na ampliação do leque
de projetos de vida, e, consequentemente, numa existência hu-
mana digna, propiciando a observância efetiva de direitos funda-
mentais expressamente reconhecidos.
A partir desses conceitos e teses de direito fundamental e dignidade da pes-
soa humana, passar-se-á a discorrer sobre a maneira como a internet a irradia no
terceiro capítulo, tomando por base alguns dos direitos fundamentais previstos na
CRFB/1988.
29 MORAES, Eduardo de Abreu; FRANÇA, Viana Souza. ACESSO A INTERNET BANDA LARGA
COMO DIREITO FUNDAMENTAL DO CIDADÃO. Disponível em <http://www.publicadireito.com.br/ar-
tigos/?cod=5159f683253665f2> Acesso em: 23/04/2016, às 19h34min. (grifou-se)
21
30 MORAES, Eduardo de Abreu; FRANÇA, Viana Souza. ACESSO A INTERNET BANDA LARGA
COMO DIREITO FUNDAMENTAL DO CIDADÃO. Disponível em <http://www.publicadireito.com.br/ar-
tigos/?cod=5159f683253665f2> Acesso em: 23/04/2016, às 19h34min. (grifou-se)
31 “DOCUMENTÁRIO INTERNET LIVRE FREENET – DUBLADO”. Disponível em www.you-
Ainda outra situação bastante comum é o uso da internet para organizar gru-
pos de manifestações que reivindicam direitos. A título de exemplo, a BBC News re-
latou que o Facebook foi a principal ferramenta de organização das manifestações de
julho de 2013 por passagens de ônibus mais baratas35.
Outrossim, fora do Brasil pode-se visualizar a internet como fundamental para
a organização de movimentos sociais, a exemplo dum evento que depôs uma ditadura
que durava duas décadas na Tunísia. Acerca deste ocorrido, relata Manual Castells:
Tudo começou num lugar totalmente inesperado, em Sidi Bouzid, uma
cidadezinha de 40 mil habitantes na empobrecida região central da
Tunísia, ao sul de Túnis. O nome de Mohamed Bouazizi, vendedor
ambulante de 26 anos, agora está gravado na história como o daquele
que mudou o destino do mundo árabe. Sua autoimolação por fogo às
11h30min da manhã de 17 de dezembro de 2010, diante de um prédio
do governo, foi seu último grito de protesto contra a humilhação que
era para ele o repetido confisco de sua banca de frutas e verduras pela
polícia local, depois de ele recusar-se a pagar propina. O primo de
Mohamed, Ali, registrou o protesto e distribuiu o vídeo pela internet.
Houve outros suicídio e tentativas de suicídios simbólicos que alimen-
taram a ira e estimularam a coragem da juventude. Em poucos dias,
começaram a ocorrer demonstrações espontâneas por todo o país,
iniciando-se nas províncias e depois se espalhando para a capital, no
começo de janeiro, apesar da repressão selvagem da polícia, que ma-
tou pelo menos 147 pessoas e feriu outras centenas.
(...)
(...) A conexão entre comunicação livre pelo Facebook, YouTube e
Twitter e a ocupação do espaço urbano criou um híbrido espaço pú-
blico de liberdade que se tornou uma das principais características da
rebelião tunisiana, prenunciando os movimentos que surgiriam em ou-
tros países36.
Sobre essa manifestação, um “blog” da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP)37 declarou que nem direitos básicos de primeira geração exis-
tiam na Tunísia até que se organizassem através da internet e das redes sociais ma-
nifestações para os reivindicar.
E não foi somente na Tunísia que a internet foi fundamental para a organiza-
ção de manifestações para fazer valer direitos violados. No Egito também esse instru-
mento foi indispensável, conforme Manuel Castells esclarece em seu livro já citado no
bojo deste trabalho:
A Revolução de 25 de Janeiro (Thawarat 25 Yanayir), que em dezoito
dias destronou o último faraó, nasceu das profundezas de fatores
como opressão, injustiça, pobreza, desemprego, sexismo, arremedo
de democracia e brutalidade policial. Ela foi precedida de protestos
35 BRASILEIROS ‘descobrem’ mobilização em redes sociais durante protestos. BBC News. Disponível
em https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/07/130628_protestos_redes_personagens_cc.
Acesso em: 27/12/2018, às 19h53min.
36 CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança: Movimentos sociais na era da internet. Edi-
38CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança: Movimentos sociais na era da internet. Edi-
tora Zahar. Rio de Janeiro, 2012. p. 46.
25
39 CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança: Movimentos sociais na era da internet. Edi-
tora Zahar. Rio de Janeiro, 2012. p. 46.
40 CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança: Movimentos sociais na era da internet. Edi-
para acompanhar os gastos públicos, seja para reivindicar direitos, seja, ainda, para
os fazer nascer.
2.2 A Internet Como Necessária à Educação
Como afirmou José Moran (2001),
Não podemos ver a Internet como solução mágica para modificar pro-
fundamente a relação pedagógica, mas ela pode facilitar como nunca
antes, a pesquisa individual e grupal, o intercâmbio de professores
com professores, de alunos com alunos, de professores com alunos41.
Há pessoas que, por morarem distantes, não podem realizar um curso supe-
rior nas dependências das próprias instituições de ensino, mas somente à distância.
Para tal situação, muito corriqueira atualmente por sinal, a internet se torna impres-
cindível para o crescimento acadêmico.
Por outro lado, a ausência de tal instrumento é fator de exclusão na área de
educação, pois esta se restringirá àquelas pessoas que têm acesso a ela, criando
mais um fator de desigualdade social, entre tantos que o Brasil já tem.
Nesse contexto, é de bom alvitre que se considere que o documentário que
se encontra disponível no sítio do YouTube e se intitula “DOCUMENTÁRIO INTER-
NET LIVRE FREENET – DUBLADO”42 demonstra uma realidade que expõe incontes-
tavelmente a necessidade da internet para a educação das pessoas: o sistema Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) exigem o
uso de internet para a inscrição nas avaliações, para o acompanhamento das notas
obtidas na realização do certame, para o ingresso em cursos de ensino superior pú-
blicos e privados e para a escolha do curso e da universidade que se pretende cursar.
Sem acesso à internet, o indivíduo não tem como ingressar no ensino supe-
rior, e se tal situação persistir no Brasil o resultado será “a criação de uma elite tecno-
crata”, como disse Frank la Rue, então Relator da ONU para Liberdade de Expressão
no referido documentário. Em outras palavras, a desigualdade no acesso à internet
manterá a desigualdade social que o Brasil tanto sonha erradicar.
2.3 A Internet como Irradiadora do Trabalho
Considerando que muitas vezes os postos de trabalho só aceitam candidatu-
ras via internet, seja no setor público, seja no privado, torna-se indispensável para o
indivíduo o acesso a ela para que se logre mais e melhores opções e condições de
trabalho.
À guisa de exemplo e no âmbito do estado de Alagoas, pode ser vista a seguir
a previsão contida no Edital nº 1 – PMAL, de 28 de julho de 2017, que lançou o con-
curso público para o provimento de vagas no cargo de soldado combatente da Polícia
Militar do Estado de Alagoas, no item “4.2”, que assim prevê:
Será admitida a inscrição somente via internet, no endereço eletrônico
http://www.cespe.unb.br/concursos/pm_al_17_soldado, solicitada no
41 MORAN, José. Novos desafios na educação: a Internet na educação presencial e virtual. Pelotas:
Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Editora, 2001. p. 19-44
42 “DOCUMENTÁRIO INTERNET LIVRE FREENET – DUBLADO. Disponível em: https://www.you-
43 Disponível em <http://www.cespe.unb.br/concursos/PM_AL_17_SOLDADO/arqui-
vos/ED_1_2017_PM_AL_17_SOLDADO_ABERTURA.PDF>. Acesso em 26/08/2019, 21h36min, grifos
do edital.
44 Disponível em <http://www.cespe.unb.br/concursos/pm_al_18_soldado/arqui-
vos/ED_1_2018_PM_AL___SOLDADO_EDITAL_DE_ABERTURA.PDF> . Acesso em 26/08/2019, às
21h40min, grifos do edital.
45 Disponível em <http://www.cespe.unb.br/concursos/TRF1_17_SERVIDOR/arqui-
vos/ED_1_2017_TRF_1__REGI__O_17_ABERTURA.PDF>. Acesso em 26/08/2019, às 21h43min,
grifos do edital.
46 Disponível em <https://www.trf5.jus.br/index.php?option=com_phocadownload&view=cate-
gory&download=8418:edital01-2017-trf5&id=46:servidores>. Acesso em 26/08/2019, às 21h47min.
47Ibidem.
28
48 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 15 ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 570-571
(grifou-se).
49 DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. 4ª. ed. rev., atual.,
2006. p. 386.
51 PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. ? Ciberciudadaní@ o ciudadaní@.com?. Barcelona: Gedisa, 2003.
52 Ibidem.
31
53SILVA, Rosane Leal da; OLIVEIRA, Gislaine Ferreira. A Universalização do Acesso à Internet Como
Novo Direito Fundamental: Das Políticas de Inclusão à Educação Digital. Publica Direito. Disponível
em: < http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=2b31595206d7115e > Acesso em: 07/01/2019, às
20h44min.
32
54 SILVA, Rosane Leal da; OLIVEIRA, Gislaine Ferreira. A Universalização do Acesso à Internet Como
Novo Direito. Publica Direito. Disponível em <http://www.publicadireito.com.br/arti-
gos/?cod=2b31595206d7115e>. Acesso em 13/12/2018, às 19h55min.
55 Ibidem.
33
direitos básicos demonstra o que no fundo todas as autoridades já sabem: que a in-
ternet é um direito tão fundamental que, caso a sociedade atual fique sem ele, ela não
só ficará privada do usufruto só da internet, mas ficará privada do exercício de uma
série de outros direitos, sobretudo, nesse contexto, da manifestação do pensamento,
da reunião e da cidadania.
Falando de uma maneira mais geral a respeito da utilização da internet para
fazer manifestações sociais, Sail Shetty, que ocupou o cargo de secretário-geral da
Anistia Internacional, em entrevista dada à revista Exame Abril, reconheceu que
Não há nenhuma dúvida de que as redes sociais tenham desempe-
nhado um papel muito importante ao permitir que as pessoas se reú-
nam. Mas temos que ter sempre em mente que isso dá também, aos
governos, a oportunidade de tomar medidas duras contra a popula-
ção56.
Dessa maneira, verifica-se no cotidiano não só dos brasileiros, mas também
no do mundo afora que a internet é imprescindível à reivindicação de direitos, o que é
uma manifestação de cidadania.
3.5 A Educação e a Internet
No segundo capítulo, percebeu-se que o acesso ao ensino superior atual-
mente se dá somente com o acesso à internet, haja vista que é indispensável realizar
a inscrição no Sisu, uma plataforma que funciona exclusivamente através da internet.
Outrossim, viu-se que muitas pessoas não possuem uma faculdade ou uni-
versidade que oferte cursos superiores na modalidade presencial próximo de suas
residências, o que inviabilizaria seu acesso ao ensino superior, o que a internet tem a
capacidade de suprir e, assim, aumentar os índices de desenvolvimento educacional.
Destaque-se que tal pensamento é esposado por pesquisadores da área do
presente trabalho. Por exemplo, Eduardo Moraes e Viana França dizem:
(...) o princípio da dignidade humana será cumprido quando pro-
picia-se à pessoa acesso aos elementos essenciais já previstos
na constituição, bem como, fomentando–se a educação, cultura e
informação (direitos também previstos constitucionalmente e mundial-
mente), que atuam como elementos essenciais a análise crítica do ser
humano, bem como, ao seu rol de escolhas57
Em outra oportunidade, os mesmos pesquisadores concluem que há livros
que podem ser acessados livremente pelo público através da internet: “Por meio ainda
da internet é possível ter acesso a milhares de livros de domínio público digitalizados,
assim como já se pode, de maneira legal, comprar e baixar músicas e filmes”58
Com efeito, é no mínimo razoável concluir que a internet irradia o direito à
educação de um modo que, sem ela, esse direito não seria irradiado e ainda serão
59 PAVÃO, Glaucia Damasceno. Acesso à internet como Direito Fundamental: O retrocesso promovido
pela possível limitação à internet fixa. Jus Brasil. Disponível em: https://victorguimaraesaraujo1.jusbra-
sil.com.br/artigos/613602798/acesso-a-internet-como-direito-fundamental Acesso em 19/04/2019,
18h30min.
35
Outras muitas ideias foram enunciadas no sítio eletrônico da Câmara dos De-
putados, que tornou pública uma enquete que indagava acerca da opinião popular
acerca da fundamentalização e constitucionalização da internet no art. 5º da Consti-
tuição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988)60, e houve opiniões
semelhantes à de Roncolato:
Apesar da INTERNET ser um BEM, não deve ser considerado um di-
reito fundamental. As pessoas vivem sem internet!
Uma tese semelhante foi esposada por outro participante da enquete, porém
com exemplos práticos:
(...) a internet é apenas um complemento, por tal motivo, entendo que
não deveria ser denominado (sic) garantia fundamental, pois funda-
mentais é (sic) o cumprimento e atendimento de outras necessidades
básicas que estão acima da internet [saúde, educação, segurança, la-
zer e acesso à justiça são citados pelo participante da enquete] (...)
Outra ideia que se apresentou contra a fundamentalização e a constituciona-
lização do direito à internet aduz que esta não irradia a dignidade da pessoa humana,
por isso não deveria ser considerada direito fundamental, conforme se vê nas palavras
que se transcrevem:
Direitos Fundamentais são aqueles bens jurídicos que são indispen-
sáveis à dignidade da pessoa humana. Com certeza, o acesso à inter-
net não se enquadra neste conceito.
Não obstante ao que foi exposto, é inconteste que a internet no mínimo é
indispensável ao desenvolvimento pessoal na educação, no trabalho, na cidadania,
no acesso à informação, no direito à reunião e na organização de manifestações po-
pulares para reivindicar direitos fundamentais os mais básicos, bem como que a co-
munidade jurídica a enxerga tanto como um direito fundamental que a sua divergência
se dá tão somente na classificação mais adequada para ela em relação às gerações
dos direitos fundamentais.
Nesse contexto, faz-se desnecessário citar novamente o manancial de estu-
diosos que se manifestaram favoravelmente ao enquadramento da internet enquanto
direito fundamental.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS