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Ao que tudo indica nesta história, eu como uma bela mocetona, sempre fui

vista como a diabólica dos olhos de cigana obliqua e dissimulada demais para
a época. Mas como nem tudo é o que parece, resolvo por meio deste, contar-
lhe minha versão da história, caro leitor.

A recordar de minha mocidade , lembro-me perfeitamente dos tempos na Rua


de Matacavalos, onde eu e Bentinho crescemos juntos e criamos um vínculo
inseparável até então.

Eis que passávamos tanto tempo juntos que até mesmo José Dias
desaprovava nossa relação. Mas apesar de tudo nada nos separava, até que
a ideia de seminário imposta por Dona Glória veio à tona para nos preocupar.

Eu como sempre muito insistente, tentei dar-lhe todas as soluções cabíveis


para nos tirar dessa terrível separação, mas nada adiantou. Tudo o que pude
fazer foi prometer a Bentinho que jamais me casaria com outro. E assim fiz.

Com a ida de meu amado ao seminário, passei por terríveis noites chorando a
falta de Bentinho, tendo que acordar então no dia seguinte, com a melhor das
feições para que nada entregasse aos vizinhos e amigos nossa imensurável
paixão.

Com o passar do tempo tudo que pude fazer foi me aproximar de Dona Glória
e ganhar sua confiança para que quando chegasse a hora, a senhora me
concedesse a honra de casar com seu protegido filho, a quem eu desejava
tanto.

Entremeio a toda essa situação, acabei por conhecer Escobar, amigo de


Bentinho cujo qual era tão próximo e adorado por todos da família, até mesmo
pela intocável Justina, que não havia de ralhar com ele por haver motivo
algum.

Logo após tanta espera, noticias boas vieram. O casamento de minha querida
amiga Sancha com Escobar, e então uma filhinha, a qual deram o nome de
Capitolina em minha homenagem.

Como não há de ficar de fora, meu casamento com Bentinho também veio à
tona. Tudo o que sempre pedi a Deus foi que me concedesse um filho,
sempre pedi em minhas orações.
Como Deus é sempre muito bondoso, consegui então que queríamos, nosso
filho: Ezequiel.

Vivi dias felizes e de muito orgulho com meu marido advogado e com meu
filho. Apesar de todos os ciúmes escrúpulos de Bentinho, sempre nos
tratamos muito bem.

Ao crescer do nosso filho, Bentinho começa a imaginar coisas sem sentido


que me desgastaram muito. Acusava-me de ter o traído com Escobar e
desconfiava que Ezequiel não era seu filho, mesmo após a morte por
afogamento de seu amigo.

Na beira do delírio, Bentinho, como sempre extremamente possessivo,


cismou com esta ideia, e creio eu, que após aquele episódio de aperto de
mãos com Sancha e dos desejos que tivera, imaginara que sua esposa fosse
capaz de fazer o mesmo. Nunca o vi sendo tão tolo.

Acontece então que Bentinho, tomado por ciúme, tenta suicídio e quando
nosso filho o interrompe, quase que o mata também.

Ao fim dessa história meu querido ex amor disse para o próprio filho que não
era seu pai. Tudo por terríveis acusações.

Nos separamos então, eu não vivi uma vida amargurada, muito pelo contrário,
sempre estive ciente de que estava certa perante a Deus e à todos.

Meu filho então que se humilhou atrás do pai, mas sem obter respostas. Dom
Casmurro foi Bentinho, que virou o frio sem coração por não acreditar em
mim, sua esposa que o esperou desde criança até o momento de destreza
onde foi humilhada com terríveis acusações.

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