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i

Ó meu Deus! Destes-me a razão, a luz da fé e, contudo, portei-me como um irracional, preterindo Vossa
divina graça aos vis prazeres mundanos, que se dissiparam como o fumo, deixando apenas remorsos de
consciência e dívidas para com Vossa justiça. Ah, Senhor, não me julgueis pelo que mereço (Sl 142, 2),
mas tratai-me segundo Vossa misericórdia! Iluminai-me, meu Deus; dai-me dor sobre meus pecados, e
perdoai-me. Sou a ovelha tresmalhada; se não me procurardes, perdido continuarei (Sl 118, 176). Tende
piedade de mim, pelo sangue precioso que por mim derramastes. Arrependo-me, meu Sumo Bem, de
Vos ter abandonado e de ter renunciado voluntariamente à Vossa graça.

Quisera morrer de dor; aumentai em mim essa contrição profunda e fazei que chegue ao céu para
exaltar ali Vossa infinita misericórdia…

Nossa Mãe Maria, meu refúgio e minha esperança, rogai por mim a Jesus; intercedei para que me
perdoe e me conceda a santa perseverança.

ii

Que me resta, meu Deus, das ofensas que Vos fiz, senão amarguras e penas e méritos para o inferno?
Não me acabrunha a dor que sinto, antes me consola e alivia, porque é um dom de Vossa graça que se
une à esperança de que me quereis perdoar. O que me aflige é o muito que Vos hei injuriado, meu
Redentor, que tanto me amastes. Merecia então, Senhor, que me abandonásseis; em vez disso, vejo que
me ofereceis o perdão e que Sois o primeiro a procurar a paz. Sim, meu Jesus, desejo a paz conVosco, e
mais que todas as coisas, desejo a Vossa graça. Arrependo-me, Bondade infinita, de Vos ter ofendido e
quisera morrer de pura contrição. Pelo amor que tivestes comigo, morrendo por mim na cruz, perdoai-
me e acolhei-me em Vosso coração; mudai o meu de tal modo que, se muito Vos ofendeu no passado,
mais passe a Vos agradar no futuro. Renuncio, por Vosso amor, a todos os prazeres que o mundo possa
oferecer-me e tomo a resolução de perder antes a vida do que Vossa graça. Dizei-me o que quereis que
eu faça para servir-Vos, pois que desejo executá-lo. Nada de prazeres, nem de honras e riquezas; só amo
a Vós, meu Deus, meu gozo, minha glória, meu tesouro, minha vida, meu amor e meu tudo. Socorrei-me,
Senhor, para que Vos seja fiel; concedei-me o dom do Vosso amor e fazei de mim o que Vos aprouver.

Maria, Mãe e esperança nossa depois de Jesus Cristo, acolhei-me sob vossa proteção, e fazei que eu seja
todo de Deus.

iii
Dai-me luz, Senhor, a fim de reconhecer minha maldade em ofender-Vos e a pena eterna que por ela
mereci. Sinto, meu Deus, grande dor de ter-Vos ofendido, mas essa dor me consola e alivia. Se me
tivésseis precipitado no inferno, como mereci, o remorso seria ali o meu maior castigo ao considerar a
miséria e a vileza das coisas que provocaram minha eterna desgraça. Agora, porém, a dor reanima,
consola e me infunde esperança de alcançar perdão, que oferecestes ao que se arrepende.

Meu Deus e Senhor, arrependo-me de Vos ter ultrajado; aceito com alegria essa pena dulcíssima da dor
de minhas culpas, e Vos rogo que a aumenteis e conserveis até à morte, a fim de que não deixe de
deplorar um só instante os meus pecados… Perdoai-me, meu Jesus e Redentor, que, por terdes
misericórdia de mim, não a tivestes de Vós mesmo, e vos condenastes a morrer de dor para livrar-me do
inferno. Tende piedade de mim! Fazei, portanto, que meu coração se conserve sempre contrito e
inflamado no Vosso amor, pois que tanto me tendes amado e aturado com tanta paciência, a ponto de,
em vez de castigar-me, me cumulardes de luz e de graça… Agradeço-Vos, meu Jesus, e Vos amo de todo
o coração.

Não sabeis desprezar a quem Vos ama; peço, pois, que não aparteis de mim o Vosso rosto divino.
Acolhei-me na Vossa graça e não permitais que torne a perdê-la…

Maria, Mãe e Senhora nossa, recebei-me como vosso servo e uni-me a vosso Filho Jesus. Suplicai-lhe
que me perdoe e que me conceda, juntamente com o dom do seu amor, a graça da perseverança final.

iv

Soberano Senhor do céu e da terra! Bem infinito e infinita Majestade, como é que os homens podem
menosprezar-Vos, se tanto os tendes amado?… Entre eles, Senhor, a mim amastes particularmente,
favorecendo-me com graças especialíssimas, que não concedestes a todos; e eu desprezei-as mais que
os outros. A Vossos pés me prostro, ó Jesus, meu Salvador! Não me repilais da Vossa presença (Sl 50,13),
ainda que bem o mereça por causa de minha ingratidão; mas dissestes que não sabeis desprezar um
coração contrito que volta para Vós (Jo 6,37). Meu Jesus, pesa-me de Vos ter ofendido; e se na vida
passada não Vos conheci, agora Vos reconheço por meu Senhor e Redentor, que morreu para salvar-me
e para ser amado por mim… Quando, meu Jesus, acabará a minha ingratidão? Quando começarei a
amar-Vos verdadeiramente?…
Hoje, Senhor, tomo a resolução de amar-Vos de todo o meu coração, e não amar a ninguém mais do que
a Vós. Ó bondade infinita, adoro-Vos por todos os que Vos não amam. Creio em Vós, espero em Vós,
amo-Vos e me ofereço inteiramente a Vós. Assisti-me com a Vossa graça… Se me favorecestes quando
não Vos amava nem desejava amar-Vos, quanto mais deverei esperar de Vossa misericórdia agora que
Vos amo e desejo Vos amar? Dai-me, Senhor, o Vosso amor… amor fervoroso, que me faça olvidar as
criaturas todas; amor fortíssimo, que supere todos os obstáculos que se oponham ao que Vos agrada;
amor perpétuo, que não possa cessar. Tudo espero dos Vossos merecimentos, ó meu Jesus, e da Vossa
poderosa intercessão, ó Maria, Mãe e Senhora nossa!

oração ato de contrição:

Não me move meu Deus, para querer-Te,

O Céu que me tens prometido,

Nem me move o inferno, tão temido,

Para deixar por isso de ofender-Te.

Tu me moves, Deus meu, move-me o ver-Te

Cravado em uma cruz, escarnecido;

Move-me o ver teu Corpo tão ferido,

Movem-me Tuas afrontas e Tua morte;

Move-me, enfim, Teu amor e de tal maneira

Que, ainda que não houvesse Céu, Te amaria,

E, ainda que não houvesse inferno, Te temeria.

Nada tens que dar-me porque Te quero;

Porque, se não esperasse o que espero,

Te queria o mesmo que Te quero.

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