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A paz se constrói pela paz!

Por Everardo Lopes*

Mais um portal se abre para que a segurança pública no Brasil abandone de vez o lema:
QUERES A PAZ, PREPARA-TE PARA A GUERRA.

A I Conferência Nacional de Segurança Pública deve ser este PORTAL.

Aconteceu em Brasília – DF, nos dias 8 e 9 de dezembro, a segunda reunião do Fórum


Nacional de Segurança Pública e a quarta da Comissão Organizadora Nacional da I
Conferência.

Durante dois dias, comandantes de Polícias Militares, Civis, Bombeiros, Secretários de


Segurança, Representantes de Trabalhadores de Segurança Pública, Ouvidores,
Organizações da Sociedade Civil, Representantes de Igreja, Maçonaria, ativistas de
movimentos pela Paz e de Direitos Humanos e conselhos de segurança comunitária, etc.
participaram da solenidade de assinatura do decreto que convoca oficialmente a I
Conferência.

Exercitaram e aprovaram a metodologia que será utilizada nas pré-conferências municipais,


estaduais e livres. E debateram os eixos que serão norteadores para os debates, a partir de
textos base apresentados pela comissão executiva da I conferência nacional, frutos de
colaborações de organizações da sociedade civil e de pessoas dedicadas ao tema,
organizações de gestores e trabalhadores em segurança pública.

Conhecemos os mobilizadores do Ministério da Justiça que, com sua paixão e


conhecimento, vão viajar por estados e municípios, sensibilizando gestores públicos,
trabalhadores de segurança pública e, em especial, a cidadã e o cidadão para assumirem
outra forma de compreender e praticar a segurança pública como DIREITO
FUNDAMENTAL.

Não será uma missão fácil, porque o tema não é fácil. Desconstruir uma cultura de
violência exige muito mais do que sabermos fazer um diagnostico.

É preciso misturar os saberes. Transformar as práticas cotidianas localizadas de fazer


o bem em uma cultura de PAZ nacional e planetária.

Horizontalizar as responsabilidades, romper preconceitos, expor as contradições das nossas


organizações perdidas no tempo e no espaço e deixar aflorar um novo caminho, sem
demagogia, sem a soberba da hierarquia exagerada, sem o romantismo piegas, sem o
bacharelismo onipotente. Esses são os pressupostos necessários para a construção desse
processo educativo. Como disse, não será uma missão fácil.

O portal é a I Conferência Nacional de Segurança Pública. E os protagonistas, todos que


queiram dar um passo nesse histórico momento de percepção da gravidade da crise dos
pressupostos que ainda sustentam a segurança pública em nosso país, como foi o caso mais
recente em Brasília – DF, onde um policial militar em uma atitude violenta feriu
gravemente um cidadão, com um tiro em sua nuca.

A conferência é um portal, para discutirmos vários aspectos da cultura de violência e


encontrarmos, juntos, caminhos para a segurança pública. Caminhos capazes de trazer
outros resultados para o exercício da atividade policial, que é apenas uma parte dessa
cultura de violência.

Todos os envolvidos nessa tragédia são vítimas da cultura de violência. O jovem que
recebeu o tiro, sua família, seus amigos, seus vizinhos e o policial que puxou a arma e
disparou o tiro que pode ser fatal, essa é apenas a ponta iceberg.

Se punirmos só o policial, estaremos punindo o ato de violência praticado pelo mesmo, se


este for punido e o sistema de segurança for analisado de forma sistêmica, aproveitaremos a
tragédia para, a partir da DOR, darmos mais um passo para a compreensão da
complexidade da cultura de violência que perpassa as instituições policiais de nossa
sociedade.

Por isso, o portal da I Conferência de Segurança Pública deve servir não só para tratar das
violências, mais também, para abrir nossos horizontes para uma nova relação entre as
pessoas, policiais ou não, gestores públicos ou não, pretos ou não, jovens ou não, gays ou
não, católicos ou não, mulheres ou não, pobres ou não, índios ou não, etc.

Como disse, não será fácil. Porém, será nobre. Queremos um país desenvolvido e, para tal,
precisamos desenvolver os laços de uma cultura que privilegie o diálogo, que sejam
sustentados sobre valores éticos de respeito a todas as pessoas e de ações de solidariedade.
A essas práticas, chamamos cultura de Paz pela Paz.

*Everardo Lopes é representante da Rede Desarma Brasil.

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