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Em 1924 funda Dhâranâ Sociedade Mental-Espiritualísta, cujo


nome passa, em 1928 - em honra a Blavatsky - a Sociedade
Teosófica Brasileira, hoje Sociedade Brasileira de Eubiose.
Sua produção literária já publicada compõem-se de quatro
livros - O Tíbete e a Teosofia (1928-32), em parceria com Roso
de Luna; O Verdadeiro Caminho da Iniciação (1940), Ocultismo e
Teosofia (1949) e Os Mistérios do Sexo (1965) - e de inúmeros
artigos, em jornais e na revista Dhâranâ, órgão oficial da SBE,
fundada por ele em 1925 e ainda existente.
Para a formação dos instrutores da Escola e a instrução dos
discípulos, verteu do inglês e do francês parte da obra de HPB,
da mesma forma que, do espanhol, a de Roso de Luna,
comentando-as e atualizando-as. Ainda de Roso com quem
manteve intensa correspondência desde 1928 até à morte do
amigo, em 1931 - traduziu do francês a revolucionária e
profética obra científica Evolucion Solaire et Séries
o autor Astrochimiques (1909), que adianta a possibilidade teórica de
estudar a composição química do Sol e outros astros pela
análise do seu espectro de luz, hoje fato consumado. Também
de Roso, traduziu os 21 capítulos iniciais de O Tibete e a
Nascido em Salvador, BA, em 15 de setembro de 1883 e falecido em S. Teosofia, completando-o com outros tantos, da sua lavra.
Paulo, SP, em 9 de setembro de 1963, o professor Henrique José de Souza
adiantou-se demais ao seu tempo e só agora começa a ser devidamente Mas a grande obra literária de HJS são as suas Cartas,
reconhecido. escritas de 1924 até 1963, contendo as linhas-mestras da
Doutrina Eubiótica e as instruções diretivas da SBE, projetadas
Ombreiam com ele, no mesmo gênero literário, a mestra Helena Petrovna
até 2005. Essa imensa pregação epistolar foi revista e resumida,
Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica de Adyar, e o célebre cientista
sob sua orientação, na década de 1941-50, descartando-se os
e teósofo espanhol dr. Mario Roso de Luna. originais do período precedente. Pela desatenção de
Fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose, foi também mentor e colaboradores, perdeu-se uma parte, mas restam ainda,
patrono de lojas maçônicas e co-fundador, em 1905, em Salvador, Bahia, da organizadas cronologicamente e classificadas por assunto,
pioneira loja teosófica Alcyone. através de exaustivo Índice Remissivo das Cartas, cerca de 4 mil
Filho de rica e tradicional casa de Salvador, com a morte precoce do pai, páginas datilografadas! Porém, por expressa ordem do Mestre,
empresário teatral e exportador, e a seguir, a do irmão mais velho, abandonou esse material só virá a lume, revisto, após 2005. Até lá, deve
a faculdade de Medicina para assumir a direção dos negócios e o sustento da permanecer reservado aos alunos dos níveis mais adiantados da
famí1ia. Escola.

A guerra de 1914-1918 pôs termo tanto ao comércio como às trocas Além de literato, foi músico e poeta, sendo da sua autoria a
culturais com a Europa e, assim, aos seus tormentos de empresário a extensa coletânea de músicas (e letras) que enriquecem o
contragosto, pois teve de dissolver as empresas. Pôde então aprofundar-se nos Curso de Eubiose e outros eventos da SBE.
Conduzido, assim, por tão seguras mãos, o leitor que se debruce
estudos de filosofias, religiões e línguas antigas comparadas, de sorte que, em
sobre estas páginas com a mente livre do preconceito e o coração
1916, vamos encontrá-lo radicado no Rio de Janeiro, ocupado com o
pleno do anseio pelo auto-aprimoramento, certamente dará um
jornalismo e palestra públicas na sua especialidade e à testa de Samyama, uma
passo decisivo no Verdadeiro Caminho da Iniciação.
escola de filosofia oriental.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Souza, Henrique José de


O Verdadeiro Caminho da Iniciação / Henrique
José de Souza. -- 6. ed. -- São Lourenço, MG :
Sociedade Brasileira de Eubiose, 2001.

1. Ocultismo 2. Souza, Henrique José de 3.


Teosofia I Título.

01-0411 CDD-147

Índices para catálogo sistemático:

1. Eubiose : Teosofia : Filosofia 147

Todos os direitos para: Sociedade Brasileira de Eubiose.


Matriz: Av. Getúlio Vargas, 481, S. Lourenço, MG, Brcbil, CEP 37470-OOO.
Editora: Conselho de Estudos e Publicações da Sociedade Brasileira de
Eubiose.

Editores: Celso Agostinho Martins de Oliveira


Sérgio Órion de Souza
Capa: Melki-Tsedek, o Rei do Mundo; arte digital de Alexandre órion baseada em
original (óleo sobre tela) de Miranda Júnior.
Arte: Alexandre Órion

6ª Edição - Ano 2001

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Sumário

o autor e sua Obra ..............................................................................................7


Prefácio ..............................................................................................................13

1A PARTE - FIM DE CICLO


Introdução ..........................................................................................................31
Capo 1 - Ocultismo Prático .............................................................................105
Capo 2 - O Ocultismo comparado às Artes Ocultas ........................................163

2 A PARTE - O FUTURO IMEDIATO DO MUNDO


Capo 1 - Preâmbulo .........................................................................................197
Capo 2 - O Grande Choque .............................................................................201
Capo 3 - O Alvorecer de uma Nova Era .........................................................207
Capo 4 - O Ano de 1956 .................................................................................227
Capo 5 - Conclusão ........................................................................................233
Capo 6 -Demonologia Eclesiástica .................................................................239
Anotações ........................................................................................................257

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DEDICATÓRIA
Este livro, de acordo com o seu título, é
dedicado a todos aqueles que, heróica e
perseverantemente, desejam palmilhar O
Verdadeiro Caminho da Iniciação
O Autor

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o autor e sua Obra
Breve histórico da Sociedade Brasileira de Eubiose

A Sociedade Brasileira de Eubiose é uma entidade autônoma, com fins


culturais, constituída de livres-pensadores, Como escola iniciática, baseia-se na
Doutrina Eubiótica, revelada por seu fundador, o Professor Henrique José de
Souza,
Seu objetivo imediato é manter um núcleo de escol para o preparo do terreno e
das sementes da Era de Aquário que, segundo velhas tradições, surgirá na América, no
início do Século XXI, tendo o Brasil como foco irradiador.
Do vasto programa que vem empreendendo desde sua ftmdação, em 1924, faz
parte o combate ao analfabetismo, aos vícios e maus costumes sociais, ao
fanatismo, à superstição, à mentira, ao erro e tudo o mais quanto possa entravar a
evolução humana. Cultiva a fraternidade universal; dedica-se ao estudo comparado
das ciências, artes, filosofias e religiões de todos os povos, através das idades;
estimula o desenvolvimento do espírito de livre investigação e crítica, único
caminho capaz de transformar o homem em um ser superior, consciente, de si
mesmo e de seu destino.
Em 10 de agosto de 1924, um domingo, o professor Henrique José de Souza
funda em Niterói, RJ, uma sociedade civil com o nome Dhâranâ Sociedade Mental
Espírítualista. No segundo semestre de 1925 surge a revista Dhâranâ, órgão oficial de
divulgação da SBE, até hoje existente. Dhâranâ é o nome de um dos passos da ioga
de Patânjali, significando o sumo controle da mente. O termo sânscrito foi em
homenagem aos Adeptos orientais, os Mestres que até 1923 tutelaram HJS.
Em 8 de maio de 1928 Dhâranâ passa a se chamar Sociedade Teosófica Brasileira, com
os mesmos objetivos, porém sob nova tônica evolutiva.. Dhâranâ, a jóia do Oriente
ofertada ao Ocidente, pregara o desapego .. a introspecção, a busca do Eterno pelo
amor universal: a Doutrina do Coração. A STB, com o

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ensino da Teosofia, nome cujas raízes gregas anuncia sua natureza filosófica e
científica, apontava o entendimento da Obra do Supremo Arquiteto do Universo
através do estudo, da crítica, da inteligência: a Doutrina do Olho.
Todos os caminhos levam a Deus, diz o adágio, mas quem souber colocar sua
inteligência ao lado do coração alcançará na Terra as maiores alturas, completa HJS,
pois é da união desses dois princípios, a inteligência e o amor universal, que nasce
a Sabedoria.
A data de 8 de maio, assim como o nome Teosofia, foram em homenagem a
Helena Petrovna Blavatsky, fundadora da The Theosophical Society, nos Estados
Unidos, em 1875, falecida em 8 de maio de 1891. HPB fora discípula de Adeptos da
mesma confraria mahâyâna, o budismo filosófico primitivo, à época ainda
conservado no oeste do Tibete e norte da Índia, locais estes em que Henrique
esteve, adolescente, em 1899-1900, e de onde, posteriormente, receberia corres-
pondências, mensagens telepáticas e visitas daqueles excelsos Mestres, até os 40
anos de idade, quando obteve a completa Iniciação e o comando da Obra.
A missão de HPB fora a de introduzir a Sabedoria Tradicional no Ocidente,
cujos valores espirituais declinavam, pois, 5€gundo HJS, A civilização ocidental,
puramente européia, entrou em co;ar~o. Estamos num fim de ciclo e na alvorada de um
outro, que terá por ceí:~"::' de graL'itação as Américas.
Tais Mestres, Adeptos ou guardiães espirituais da Humanidade - seres bem
vivos e atentos aos movimentos sociais - haviam identificado, sobretudo na Europa
do último quartel do Século XIX. forças desagregadoras, em geral antagonistas
entre si, porém em conluio cego para abalar os pilares da civilização, retardando,
assim, a evolução esph'itual da humanidade: o capitalismo selvagem, explorador das
energ:as do trabalho sem a contrapartida da responsabilidade social; a àouxn"
~oc:.,::s~",. instigando a luta de classes, isto é, a guerra civil, o fratricídio,
cultiyada na revolta das massas contra o egoísmo e a falta de discemimento da
nobreza e da burguesia; o positivismo cético da ciência do "Século das luzes',
negiliedo a priori tudo que não fosse comprovado em laboratório; o~ /wcIo';;,Jis,,:os
racistas, verdadeiras religiões de Estado à espera dos seus Messias caóticos,. que
não tardariam a surgir, encarnados em Mussolini, Hitler e outros.
Lutando contra um contexto extremamente adverrso, HPB cumpriu heroica-
mente sua missão, mantendo por alguns anos a ST nos Estados Unidos da

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América, país destinado a ser, no século XX, o fiel da balança no concerto das
nações. Não suportando porém os contínuos ataques das forças adversárias, fez
retroceder a SI para o Oriente (Índia). Pouco antes de falecer, sob a inspiração dos
Adeptos, escreveu A Doutrina Secreta, um marco da filosofia espiritualista em
cuja Introdução anuncia o seu sucessor:
"No Século XX um discípulo mais preparado e com qualidades mui supe-
riores poderá ser enviado pelos Mestres da Sabedoria para dar provas definitivas
e irrefutáveis de que existe uma ciência chamada Gupta-Vidyâ (*J, fonte de todas
as religiões e filosofias atualmente conhecidas."
Assim como HPB fizera no século XIX, em preparação do século XX, esse
"discípulo mais preparado" semearia no século XX para a colheita no atual. Seu
legado é a Doutrina Eubiótica, mantida pela Sociedade Brasileira de Eubiose.
Em 1932 vamos encontrar a STB com a sede geral estabelecida na cidade do
Rio de Janeiro, na época capital política e cultural do país, já com quatro sedes,
inclusive em outros estados da União.
Em 1944 a matriz transfere-se do Rio de Janeiro para São Lourenço, Minas
Gerais, deixando no Rio, como filial, a sede já implantada. Segundo o Professor
HJS, a transferência da matriz da então capital do país para a pequenina São
Lourenço fora um a\'anço em sua missão e um marco cíclico que o futuro
reconhecerá.
No ano de 1946 foram iniciadas as obras do templo de S. Lourenço, na praça da
Vitória (**), vila Canaã. Em 10 de fe\'ereiro de 1947 é lançada solenemente a pedra
fundamental. No dia 24 de fevereiro de 1949, estando presentes o Professor e
familiares, o prefeito municipal e membros da Sociedade de várias partes do País,
acontece a inauguração do majestoso edifício, em estilo dórico, dedicado à paz
universal e ao Supremo Arquiteto do Universo, o Deus único de todas as religiões.
A data marca também a realização da primeira convenção geral da Sociedade, que
se repete anualmente até os dias atuais, congregando sócios e amigos do Brasil e do
Exterior.

Trata-se do nome sânscrito da Teosofia, ciência dos Deuses, Adeptos ou homens


(*)

superiores, mais tarde, Eubiose.


(**) Hoje, praça Helena Jefferson de Souza.

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Com o falecimento de HJS, em 9 de setembro de 1963, a presidência da
Sociedade passou para sua esposa e co-fundadora da SBE, senhora Helena
Jefferson de Souza, que posteriormente transferiu-a ao primogênito do casat
senhor Hélio Jefferson de Souza. Este, em 1969, mudou o nome da Instituição
para o atuat Sociedade Brasileira de Eubiose, mantendo seus princípios e
objetivos.
O termo Eubiose é um neologismo criado de raÍzes gregas. O prefixo eu
significa bem, bom, belo - expressões da Verdade, da Ética e da Estética, ou seja,
os princípios que regulam as coisas do espírito ou mente; da alma ou sentimento e
da forma ou corpo. Biós quer dizer vida; ósis indica ação, atividade. Assim,
Eubiose aponta o esforço por uma vida justa, útil e bela.
De fato, conforme o Professor:
Eubiose é a ciência do bem, do bom e do belo, ou então, E:ih'Gse é a ciência da
integração do Homem com o Todo, como fator f.::iÍii~:il':fe:
E mais por extenso:
Eubiose é a ciência da vida. E, como tal, é aquela 'Fê 2'::::':-" ::: meios de se viver em
harmonia com as leis da Natureza e conSe):;2':~:"'::"':~:' com as leis
j

universais, das quais as primeiras se derivam.


Além do templo de São Lourenço existe um símile e:I'. );,y.-a \aYà..JJIDa, ~IT,
fundado em 10 de fevereiro de 1976; e outro, fundado err" 2:'e re'.-ere:ro de 1967,
este, um templo-obelisco em forma piramidal com ')I rr,et,~':e al':'J:rà. situado
no ponto mais elevado da ilha de Itaparica, na cidade :'e YC::-2.C:-..:z., K-\ bem
defronte da capital baiana, Salvador, de modo que, à Il'D::é. :::'-.:::-.:Í:'3J.o. serve até de
referência para quem cruza as águas da baía de T occ:~ .~ Sa.:-:;Cl5.
Além de sócios-correspondentes em ,'árias partes ':c' :I',w-;.do, a SBE tem
atualmente departamentos e representações no BrasJ. :tü Cue, em Portugat na
Inglaterra e nos Estados l'nidos da América, Sobre:-.:.i,J ror suas atividades
culturais, é reconhecida como entidade de utilidade F-±:ica em vários estados e
cidades do Brasil.
Entre outras ilustres personalidades, a Eciios.e ieü:c.eu em São Lourenço o
núncio apostólico dom Sebastião Baggio. que deixo:l honrosas palavras no livro
de presença do Templo, e os ex-gm-ernadores de ~finas Gerais, Israel Pinheiro, e
de São Paulo, Adhemar de Barros,

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o ex-presidente da República Juscelino Kubitschek esteve na Matriz algumas
vezes. Em 1972 participou de uma cerimônia no Templo e proferiu palestra no
anfiteatro da sede social sobre a construção de Brasília. Por esse feito - a
construção da nova capital no planalto central brasileiro, evento este cheio de
significação, porém muito criticado pelos seus adversários políticos - JK recebeu
da Eubiose uma comenda da Ordem do Santo Graal, cuja medalha encontra-se no
Memorial JK, em Brasília, entre as mais valiosas insígnias conferi das ao grande
estadista. Durante a solenidade de entrega, no dia 9 de setembro de 1960, no
Palácio Guanabara, Rio de Janeiro, Juscelino disse:
Dentre as inúmeras manifestações que recebi prla construção de Brasília, nenhuma me
tocou 11'!ais o coração do que esta, por partir de uma instituição que não se acha vinculada
a nenhum grupo político Oll religioso, nem possui nenhuma discriminação racial e por ter
sido tal-ve: aquela que melhor entendeu o meu esforço na consecução desta grande obra.
Dezenas de milhares de pessoas já cursaram os graus de formação da Escola
Iniciática de RIS. Muitas radicaram-se nas localidades onde iam sendo abertas
novas sedes, contribuindo para o progresso das cidades eleitas. E todas essas
pessoas, de todos os níveis sociais e formação intelectual, distribuídas por lugares
os mais distantes do Brasil e do Exterior, vêm trabalhando, unidas, há longa data -
efeti,-amentet desde a assim chamada FUl1düção Espiritual da Obra, em 28 de
setembro de 1921 - no preparo das consciências para o modo eubiótico de vida,
que há de caracterizar o novo milênio.

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Prefácio

Se os homens não adquirirem convicções morais muito mais


completas e profundas, todas as tentativas de reforma política ou
social, além de ilusórias, concorrerão para aumentar a desordem. -
Montagut

Como foi dito no Prefácio da 1 ª edição que, diga-se de passagem, continua


o mesmo, além do mais, por seu valor antológico, "a obra foi escrita durante os
treze dias que antecederam o conflito que, de 1939 a 1945, ensangüentou quase
toda a Europa, para não dizer, dois terços do mundo". Distante, muito embora,
do teatro dos acontecli..lentos, seu autor escreveu-a sob as terríveis impressões
do cataclismo que se aproximava. O triste privilégio de uma visão superfísica
altamente desenvolvida não lhe deixava um só momento de repouso. Os mundos
por onde circulam os pensamentos humanos; onde vibram nossas emoções mais
íntimas; onde se grava tudo quanto de bom e de mau, de superior e de inferior se
projeta dos seres pensantes, mais do que nunca se lhe tornavam perceptíveis,
mais do que nunca lhe revelavam o estado de incerteza e aflição, de desespero e
pavor em que a humanidade se debatia. Por entre as nuvens de pensamentos de
piedade e amor, de receio e angústia; por entre as vibrações de ódio e orgulho,
de furor e revolta, entrelaçando-se numa caótica confusão, ele via os Dragões do
Mat rubros e flamígeros, incitando as hordas infindáveis de elementares
inferiores, recordando as épicas lutas da velha Atlântida, irrompendo em
colunas cerradas e ininterruptas das profundezas tenebrosas do astral. Na ânsia
de escapar à terrível visão, escreveu ao correr da pena, numa linguagem
descuidada, livre de atavios literários, com toda a franqueza e naturalidade, as
páginas que ides ler, através das quais, ao mesmo tempo que nos ensina o
verdadeiro caminho da iniciação, nos mostra a causa da atual decadência
espirituat nos

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aponta as ciladas armadas por toda parte pelos Nirmânakâyas negros, mas já
neste momento em que são escritas estas linhas, não mais obedientes a um
mesmo e único Senhor, e sim, na estrutura dclica de formal julgamento, contra
todos aqueles que se tornarem infiéis à Lei que a tudo e a todos rege, por isso
mesmo "atirados fora da corrente". Palavras estas que nem todos podem
compreender, mas que infelizmente não podem ser ditas com maior clareza.
Finalmente, aponta ele a única rota segura para que mais rapidamente, em
obediência às mais antigas profecias, se realize a colheita da semente restante,
destinada a formar a gloriosa civilização para cujo advento a Sociedade
Teosófica Brasileira (*) trabalha desde a sua fundação.
Dos misteriosos Arcanos da Natureza - pois que os cabalísticos são bem
outros agora, completamente desconhecidos dos mais conspícuos cabalistas -
arrancou o autor a causa de alguns fenômenos ainda por explicar, e da história da
evolução humana pôde delinear as páginas do capítulo a ser escrito dentro em
breve pela mesma civilização destinada a encerrar o ciclo da Sª Raça-Mãe (**), a
caminho de um interregno racial que, a bem dizer, não pode ser apontado
agora ...
Tão farto manancial de Revelações e Conhecimentos, principalmente, aos que
têm a ventura de viver sob o influxo potentíssimo do Cruzeiro do Sul e
escolhidos pelos Deuses para realizar a Obra que fará do Brasil o centro de maior
e mais brilhante esplendor de todas as civilizações até hoje criadas na face da
Terra.
Não falaremos de tudo quanto vem em caminho, pois o autor já o fez no seu
Futuro Imediato do Mundo, do mesmo modo que fará no decorrer deste livro.
"Escutemos, pois, com doçura e julguemos com bondade", como aconselha
Shakespeare - sem nos esquecermos da observação de Flamarion: Ce que nos
cannaissans n' est rien à caté de ceque naus ignarans -, sim, o livro que hoje
novamente apresentamos aos cultores do Ocultismo e da Teosofia, mesmo que
um tanto diferente daquele de 1940.

(*) Hoje, Sociedade Brasileira de Eubiose.


(**) ATeosofia chama raças-mães as sete grandes raças desenvolÚdas em cada ronda ou período
de vida de um globo. A atual é a quinta, ou ariana, tendo percorrido mais da metade de seu ciclo
evolutivo iniciado há, aproximadamente, um milhão de anos.

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InÚmeras talvez sejam as idéias novas que irão chocar o espírito desprevenido
do leitor, quer se trate de um leitor aprisionado à fé religiosa, quer daquele que
tenha adotado a fé materialista.
Entre elas estão, certamente, as que lhe garantem a existência de uma ciência
desconhecida; uma ciência que, tendo tido sua origem muitos milhões de anos
antes do nascimento da raça a que pertencemos, se mostra inalterável até hoje e
serviu em todos os tempos de anteparo à total degradação da humanidade.
No entanto, do estudo comparativo das religiões, ressalta a certeza de ter
existido, desde que o mundo é mundo, uma Sabedoria Única, anterior a todas as
filosofias religiosas e a todas as ciências. A ela se refere Frank no prefácio à sua
Cabala, denominando-a "chave de todos os sistemas religiosos".
Das suas Escolas, espalhadas pelos quatro cantos do mundo, na China como no
Japão, na Índia como na Mongólia, pelos vários rincões da Europa como pelas
montanhas da América do Sul, saíram os Hermés, os Orfeus, os Krishnas, os
Budhas e os Cristos, os Fohis e os Kukulkans, depois de ali terem bebido os
conhecimentos de que precisavam para fazer voltar à prístina pureza e adaptar às
novas necessidades evolutivas da humanidade as religiões e filosofias corrompidas
pelo orgulho, pela superstição e pela mentira.
A natureza dos ensinamentos essenciais, pregados por todas essas religiões,
prova-nos a identidade da sua origem.
Nenhum deles se propôs de ensinar qualquer coisa no\'a, revelar uma nova
verdade, mas tão somente ex:por a mesma Eterna Verdade latente em todas as
mitologias e escrituras sagradas.
Para conhecer a origem dessa Sabedoria, conservada incorruptÚ-el através das
idades, teríamos que remontar aos meados da ~ Raça-~Iãe, quando a humanidade
se iniciava no uso do prinópio mental, até então adormecido nas recônditas
profundezas do seu ser. O aparecimento dessa Sabedoria coincide estranhamente
com aparição da separação dos sexos, até ali fundidos no mesmo indivíduo. Sem
ela, o homem depressa recairia na animalidade donde há pouco saíra ..
Mas donde veio quem ministrou aos primeiros homens essa ciência, sob cujo
influxo se pôde evitar aquela queda e se conseguiu criar as poderosas civilizações
de cuja existência são testemunhos indiscutíveis os restos arqueológicos dispersos
pelos areais da África, pelos pântanos da Ásia Menor, pelas
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ilhas do Pacífico e pelas montanhas da América?
Só uma resposta se pode dar a essa pergunta: é a que se encontra nas velhas
teogonias e nas lendas e mitologias dos velhos povos, nos países das vetustas
muralhas e nos sinais misteriosos por toda parte abertos nos rochedos venerandos.
E tudo isso nos diz que, em obediência à Lei eterna da solidariedade universal,
doutros sistemas mais adiantados do que o nosso vieram os homens destinados a
servir de guias (*l e mestres à nascente humanidade terrestre.
Não há teogonia ou lenda que a esses enviados se não refira mais ou menos
veladamente. São os "portadores da palavra, mensageiros de Zeus", de que nos
falam os gregos ou a "voz que correu como uma mensagem do céu!!, citada pelos
hindus. São os "dragões ou serpentes de sabedoria" dos chineses; os "andróginos
divinos" das Estâncias de Dzyan; os "senhores do olho t1amejante", que deram a
lenda dos ciclopes; os que efuinaram aos homens todos os segredos da Natureza e
lhes revelaram a "palana inefável", hoje considerada perdida, a que se refere a
Doutrina Secreta; são, finalmente, os Construtores, os Vigilantes, os Pais ou
primeiros preceptores que, na forma de uma serpente, como nos ensina a Bíblia
cristã, deram à humanidade, simbolizada por Adão e Eva, o fruto colhido na
Arvore do Conhecimento.
Desapareceram no seio das águas, tragados por formidáveis cataclismos, os
continentes habitados pelas raças atlante e lemuriana. Tão forte foi o abalo sofrido
pelo globo que para sempre se perdeu a eterna primavera de Airyana, devido à
inclinação do eixo da Terra, que deixou de ser, como até então, paralelo ao eixo
celeste.
Desapareceram, também, uma após outra, as duas portentosas raças, e da face
da Terra - em conseqüência tal\'ez de crimes iguais aos que hoje se praticam -
foram para sempre varridas suas maravilhosas civilizações, salvando-se apenas as
sementes donde sairiam os atuais povos e, com elas, a Sabedoria Iniciática das
Idades que, desde então, se envolvem nos indevassáveis véus do Mistério.

(*) Não confundir o sentido deste termo com o que lhe é dado pelo Espiritismo. ~ão se trata de
guias habitando fora do plano físico, embora os possamos considerar senhores dos três mundos:
físico, astral e mental.

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o mau uso que os homens tinham feito dos conhecimentos divinos levou os
Senhores de Toda a Sabedoria a dividi-l os em Exotéricos e Esotéricos. Por terem
os homens anteposto as trevas à luz - Venit lux in mundum; et dilescerunt homines
majis tenebres; quam lucem (João; 3; 19) - criaram-se os Mistérios Maiores e os
Mistérios Menores; privando a maior parte da humanidade do ;;conhecimento das
coisas que são;;; como chamava Pitágoras à sua Gnose. As mesmas causas levaram
o Budhismo a construir; no Norte; a grande Barca ou Mahâyâna e; no Sul; a
pequena Barca ou Hínayâna; e obrigaram Cristo a dizer aos seus discípulos: /! A
vós, é-vos permitido conhecer os mistérios do reino de Deus; aos outros, essas
coisas lhes são dadas em parábolas/!.
Resultou desta diferenciação nos conhecimentos ministrados aos homens e
imposta pela necessidade de impedir a realização de crimes, como os assinalados
entre os antigos povos, surgirem duas correntes evolutivas: uma, COnstihlída por
aqueles que, tendo achado o Verdadeiro Caminho da Iniciação, penetram nos
Colégios onde bebem a Sabedoria Perfeita e donde saem com o título genérico de
Grandes Iluminados, sempre que o Mal ameaça esmagar o Bem; outra, formada
pela grande massa humana; cujo estado de consciência lhe não permite enfrentar
serenamente a nudez resplandecente da Verdade. Para os primeiros criaram-se os
Mistérios Maiores. Aos segundos bastam resquícios dessa mesma Verdade,
difundidos por todas as religiões e filosofias.
Há; porém; momentos em que esses mesmos resquícios da Verdade Una e
Imperecível de todo são esmagados pelos dogmas, pelas falsas interpretações, pelo
interesse, pela superstição e pela mentira. E a grande maioria humana, essa
humanidade que a si mesma se chama /! a grande órfã;;; por se julgar abandonada
dos deuses, retrocede no caminho da evolução; perde o sentido das grandes
verdades ocultas nos seus Livros Sagrados; deixa de ver na própria palavra religião
o perfeito significado de ';ligar-se a alguma coisa ou a alguém a quem já esteve
ligada;;; sente o egoísmo acordar em cada um dos seus membros; violento e
devastador; por não ter mais quem lhe demonstre; racional, filosófica e mesmo
cientificamente ser ela própria constituída de partículas que mutuamente se devem
auxiliar para que do sofrimento de alguns não resulte a desarmonia do grande
Todo.
É nessa altura que das Escolas Iniciáticas; onde conseguem chegar alguns dos
poucos que palmilham o Verdadeiro Caminho da Iniciação e aí adquiriram o
Conhecimento Perfeito; saem os Budhas; os Jeoshuas; os Confúcios e os
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Maomés para, mais uma vez, recordar aos homens transviados a Verdade Eterna
que os deve salvar. São os Budhas de Compaixão, esses seres extraordinários que,
conhecedores da razão por que existem mundos e homens e destes não ignorando
a origem e o fim, os vêm desviar, empregando o seu exemplo de altruísmo e suas
palavras de amor, do abismo em que ameaçam precipitar-se.
Sobre Eles se desencadeiam as iras de todas as religiões sectárias, cujo desejo
de predomínio se sobrepõe ao interesse coletivo. Utilizando a ignorância em que
souberam manter as massas, entravam a ação benéfica dos portadores da Arcaica
Verdade e acabam coroando-os de espinhos, expondo-os ao escárnio das
multidões, crucificados entre bandidos.
Mas as sementes por Eles lançadas criam raízes, de onde irrompe a árvore que
acaba substituindo os velhos edifícios religiosos, minados pelos preconceitos
milenares, pela superstição e erros de toda sorte. E antes que a Verdade
novamente seja deturpada, à sombra purificadora do novo credo crescem e
florescem as civilizações representativas doutros tantos marcos na vereda da
evolução humana.
A humanidade vulgar entregue a si mesma, livre do auxílio que lhe prestam
seus Guias - aquela minoria que marcha na vanguarda da evolução e da qual ela
permanentemente recebe os necessários impulsos, mesmo quando lhe não vêm por
intermédio de um homem ou de uma instituição, de um centro ou escola iniciática
-, estaria ainda mergulhada naquele mesmo estado de paradisíaca ignorância de
que nos falam as Escrituras Sagradas. Sem os Mistérios Maiores, onde "a essa
pequena minoria de eleitos se revela o segredo oculto nos mitos públicos", a
evolução humana não teria ainda ultrapassado a fase primitiva. E é o cético e
insuspeito V oltaire quem nos garante que" sem a instituição dos Mistérios não se
teria evitado em todos os tempos a queda dos homens na mais absàluta
animalidade".
Sem os Budhas de Compaixão, a crueldade, cinicamente pregada por
Nietzsche - esse "pseudofilósofo de sentimentos perversos", como o qualificou
Rosa de Luna - seria o principio diretor da humanidade. Por isso esses Mistérios
ensinados nas Escolas Iniciáticas marcharam sempre par a par das religiões e
filosofias populares para, no momento oportuno, surgir o ensinamento destinado a
evitar que elas arrastem os homens a uma total degradação. Sua influência se fez
sentir em todas as épocas, servindo de baluarte a todas as

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civilizações. São os conhecimentos adquiridos através dos Mistérios Maiores que
permitem tirar ao paganismo helênico a característica duma simples divinização
das forças naturais. Nós os encontramos no Egito, na Síria, na Pérsia, na Frígia, na
Trácia, na Tróada e na Samotrácia, como na Grécia e em Roma e mesmo entre os
Cristãos primitivos, vivificando os cultos populares a Ísis e Osíris, a Adônis, a
Mitra, Astartéia e Cibele, a Hécate, ao Cristo e aos famosos Coribantes e Cabires.
Porfírio e Jâmblico nos demonstraram a grande influência dos Mistérios
Maiores, ensinados nestas Escolas, sobre o neoplatonismo, que se liga a uma
tradição muito mais velha do que a Hélade.
Ninguém ignora a grande estima moral em que eram tidos pelos clássicos
greco-Iatinos esses Colégios Iniciáticos, cuja origem uma tradição transmitida por
Pausânias fez remontar ao Egito, onde se praticava o culto a Deméter. A pureza
dos ensinamentos ministrados nestes Colégios nos é denunciada por Cícero,
quando, em De natura deorum, chama a Elêusis de "a santa, a augusta, onde os
povos dos rincões mais remotos se vêm iniciar". É Píndaro quem, ao referir-se a
esses Mistérios Maiores, nos diz, cheio de unção: "Feliz aquele que viu essas
coisas, antes de ir para as regiões subterrâneas.
São de um hino a Deméter as seguintes palavras: "Feliz o homem da Terra que
contemplou os mistérios divinos! O seu destino, além da tumba, não será o
mesmo dos mortais vulgares". E é o Bhagavad-Gitâ que nos informa: "Só os
homens puros adoram os deuses; e o vulgo ignorante, as fadas e os duendes",
querendo com isto mostrar-nos a diferença que caracteriza as duas correntes
evolutivas em que se divide a humanidade: a dos Guias, Mestres, Mahâtmas, etc.,
constituída pela maioria que se acha em contato com os "Mistérios de Deus",
como dizia Jeoshua, e a grande massa a quem esses mistérios só podem ser dados
por parábolas.
Assim, pois, houve sempre, em todos os tempos, uma ciência secreta que, não
podendo ser ministrada senão aos homens puros, pelos males que seu conheci-
mento traria aos impuros, se recolhe aos Colégios Iniciáticos, de onde, nos
momentos de grande decadência moral, nas ocasiões em que a crueldade e o
egoísmo ameaçam afogar os princípios superiores latentes nos homens, surge
manifesta através de uma Instituição ou de um Deus para recordar-lhes a sua
origem didna e auxiliá-Ios a transpor mais uma etapa no camillho interminável da
evolução.

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Só ela pode ajudar o homem a expurgar seu Ego imortal dos pecados que
através de gerações sem conta, sobre si mesmo se acumularam; só ela pode
destruir os sofrimentos presentes, como efeitos que são de causas passadas. Era o
significado do Lysis progónon athemiston órfico, que Reinach traduziu por
"absolvição dos antepassados culposos".
Em quatro ciências dividem os hindus esses conhecimentos secretos:
1 ª) Y ajfía- Vidyâ, destinada a despertar no homem e na natureza os poderes
neles latentes, por meio de certos ritos, cerimônias místicas, sacrifícios etc.;
2ª) Mahâ-Vidyâ, a ciência cabalística que ensina a produzir fenômenos sur-
preendentes pela combinação de símbolos, números, palavras e cores;
3ª) Guhya- Vidyâ, que se fundamenta nos poderes secretos do som ou na
magia dos hinos, mantrans, etc.;
4ª) Âtma-Vidyâ, a verdadeira sabedoria espiritual nascida do altruísmo, a
mais digna de ser estudada, porque leva o homem à perfeição absoluta ...
Senhores desses conhecimentos, os guias da humanidade vulgar, os chamados
Adeptos, os membros da Jerarquia Oculta ou Fraternidade Branca não têm mais
dúvida sobre a irrealidade do mundo objetivo, do mundo sensível, feito de
aparências, simples criação deformada do mundo das idéias, do mundo racional
ao qual o homem está ligado pelo Pensamento. Conhecem, assim, o Homem,
cuja parte superior ou Mente se transforma na alma que, animada por um hálito
de vida, se encarna num corpo nascido da Terra. Nos seus Colégios Iniciáticos
ensinavam e ensinam ao homem sua tríplice constituição. "O Pai dos homens e
dos deuses nos constituiu de pensamentos na alma e de alma no corpo", diz
Proclus no Comentário sobre Timeu. "A alma desce ao corpo vinda do Todo,
trazida nas asas dos ventos impetuosos", ensina Aristóteles no Tratado daAlma.
A morte deixa de ser, para o iniciado nestas verdades, a torturante agonia da
humanidade vulgar. Ela é antes a grande libertadora, porque separa o pensamento
do corpo e o livra das inquietações e sofrimentos da vida carnal, fazendo-o voltar
aos campos etéreos, às regiões supremas, livre das máculas da vida terrena e
ilusória, para se unir ao Pensamento Total, única realidade inteligível.
Simultaneamente com esta consoladora interpretação da morte, nesses Co-

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légios se ensina a preparar a alma para atingir seus altos destinos.
É Olimpiodoro quem! no seu Comentário sobre Fedro de Platão! nos informa
que a finalidade das iniciações é fazer as almas voltarem à vida eterna! onde
Dionísios as tinha estabelecido na origem das coisas. Aquele que se não inicia!
/I

ficando apartado da sua origem! é lançado no bórboros! isto é! fica ligado à


geração! no próprio Tártaro".
Há! pois! como tentamos demonstrar ao leitor não totalmente esmagado pelos
preconceitos religiosos e outros! uma Ciência Superior e Esotérica! em cujas
escolas se desvendam aos homens que até elas conseguem chegar! trilhando o
Verdadeiro Caminho da Iniciação indicado neste livro! os segredos da Natureza!
único meio de lhes evitar o aniquilamento absoluto pelo abandono dos princípios
espirituais que os animam.
Os Mestres e discípulos dessa Ciência Eterna! sob o nome de Fraternidade
Branca! constituem a minoria humana! cuja missão é fazer avançar seus irmãos no
caminho que todos estão fadados a percorrer. São por isso os guias incansáveis!
sempre atentos e prontos a auxiliar aqueles que se mostram dispostos a seguir o
caminho que os leva até eles. De sua existência! posta em dúvida e mesmo
ridicularizada pelos homens do passado! não se pode mais duvidar.
Igualmente estaríamos em erro se puséssemos em dúvida a profunda influência
que essa minoria sempre exerceu! não só nos movimentos puramente religiosos ou
filosóficos! como em todos quanto de qualquer modo concorrem para a evolução
humana. A verdadeira história da humanidade não é essa que conhecemos! tão
cheia de narrativas contraditórias! mas uma outra, que se encontra oculta nas
grandes bibliotecas da Fraternidade Branca, para não dizer desde logo! do Mundo
de Duat. Quando ela vier à luz ficaremos sabendo que atrás de cada grande
movimento destinado a fazer avançar de mais um passo a humanidade está sempre
um ou mais membros dessa Fraternidade, inspirando e guiando aqueles que irão
mais tarde ilustrar as páginas da história vulgar.
Sem querermos levar o leitor aos pródromos da nossa raça, quando, nas
margens do mar de Gobi, em torno do Manu Vaivásvata, se agrupava o núcleo
humano que iria constituir a raça Ariana; sem querer recuar tanto nas páginas dessa
história desconhecida, lembraremos apenas, como prova da influência e
permanente ação da Fraternidade Branca, os movimentos que nos últimos séculos
vieram abrindo novas rotas ao espírito humano, e à frente das quais en-

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contramos as incompreendidas personalidades cuja origem e fim ainda hoje se
discutem. Foi, no século XIV, um Christian Rosenkreutz, preparando, à frente da
Rosa-Cruz, o advento da Renascença. Foi no século seguinte um Cristóvão
Colombo e um Cabral, redescobrindo os novos mundos destinados a servir de
berço às futuras civilizações cujos vestígios já em nossos dias se notam nas duas
Américas. São, nos séculos XVII e XVIII, os enigmáticos condes de São Germano
e Cagliostro, preparando e deflagrando a Revolução Francesa, destinada a dar aos
homens novas possibilidades de evolução, arrancando-os à negra escravatura
medieval. É, nos fins do século XIX, um Allan Kardec, provocando - sob a
influência dos Adeptos de certa Fraternidade Mexicana e com o fim de prevenir os
homens contra o perigo do materialismo grosseiro a que os erros e
desentendimentos perenes das religiões os tinham arrastado - o advento do
Espiritismo, destinado a servir de ponte de passagem entre as religiões dominantes
e a Teosofia (*); é uma H. P. Blavatsky que, logo após, desvenda aos filhos do
Ocidente os conhecimentos dessa mesma Religião-Sabedoria.
Todos esses extraordinários seres, como todos quanto dum modo ou de outro
concorrem para auxiliar os homens no caminho da evolução, foram enviados pela
Fraternidade Branca. Os movimentos por eles dirigidos e mais ou menos
realizados, nem sequer se teriam esboçado, não fosse o auxilio da mesma
Fraternidade. Só Ela sabe da oportunidade de tal ou qual movimento; e só dela
pode sair quem os dirija, principalmente quando se tem em vista arregimentar as
mônadas que deverão constituir as futuras raças.
O momento atual assemelha-se, na sua característica destrutiva, a todos
aqueles em que a humanidade se acha prestes a transpor um dos seu ciclos
evolutivos. A morte das civilizações, o desaparecimento das raças foi sempre
precedido de largas fases de convulsões de toda natureza. As desgraças a que
assistimos; a decadência moral de que somos testemunhos; os próprios cataclis-
mos que assolam e devastam nações e atiram na miséria populações inteiras; mas,
sobretudo, as guerras tremendas, nas quais o homem faz gala da mais

Não importa que dos fenômenos "espíritas" a cegueira dos homens, utilizando erradamente
(*)

seu livre arbítrio, criasse mais uma religião, uma vez que o objetivo principal da Fraternidade
Branca foi atingido. No mesmo erro caíram alguns teósofos, em flagrante desacordo com a
opinião da Mestra.

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requintada brutalidade - tudo isso não passa de repetição, em maior ou menor
grau, das cenas que precederam o fim de todas as civilizações.
Os povos ainda não descobriram essa lei cíclica a que tudo está sujeito. Ig-
noram que o próprio Universo a ela está subordinado. E quando, como agora, a
decadência e morte duma civilização se aproxima, o orgulho e o esquecimento
das palavras de amor e solidariedade, ensinados pelos inspiradores de suas
religiões, não lhes permitem morrer dignamente. Preferem destruir-se por si
mesmos, sob a direção de tiranos inspirados pelos Râkchasas Negros e auxiliados
pelo Carma que, através das idades, sobre si acumularam.
Foi assim em todos os tempos, e por desgraça nossa assim ainda é em nossos
dias, pouco importa que nas proximidades desses cataclismos, para defender e
prevenir os povos da terrível sorte que os espera e salvar os que disso sejam
dignos ou atendam aos seus clamores, su~am, como agora, os enviados da grande
Fraternidade Branca, perfeitamente aparelhados para combater as forças do Mal.
A maioria sorriu sempre de seus vaticínios; despreza seus avisos; vendo e
ouvindo os enviados de Shamballah, não os reconheceu. E, dando-Ihes as costas,
as multidões ignaras entregaram-se aos Senhores da Face Negra que, sedentos de
sangue, as lançavam umas sobre as outras, pondo em atividade seus poderes
nigromânticos e substituindo a divina cruz suástica, símbolo sagrado da
evolução, pela involutiva e diabólica cruz sovástica.
A minoria, porém, ouvindo as palavras dos Senhores da Face Resplandecente,
recolheu-se à Barca Salvadora por eles armada. São as sementes das futuras raças
e civilizações que o Manu transporta para lugar seguro e põe sob a proteção dos
Deuses. Desse modo, todas as vezes que a "grande órfã" está prestes a ser esmaga
da pelo peso dos seus crimes; quando a lei irresistível da evolução lhe impõe
mais um passo na escada infinita de Jacó, o Manu arvora sua Barca e nela
recolhe os que se desejam salvar ou, no tumulto que precede os grandes
naufrágios, conseguem ouvir sua voz de Pai amantíssimo.
Para isso ele se humaniza e sua presença é assinalada sempre que uma civi-
lização apresenta sintomas visíveis de desagregação; todas as vezes que os
homens se esquecem de sua origem divina; sempre que os Râkchasas Negros
ameaçam destruir a obra dos deuses, ou "Adharma se levanta e Dharma declina" ,
segundo suas próprias expressões quando, como Krishna, se dirigia a seu
discípulo A~una.

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Aproxima-se uma daquelas transformações a que a humanidade está sujeita
de milênios em milênios. Remanescentes dos celta e germanos - 4ª e 5ª sub-
raças arianas, que há um milhão de anos desceram do planalto da Ásia central
em demanda do Ocidente; e, de sua passagem através dos velhos continentes,
deixaram vestígios imorredoiros, estando prestes a terminar seu ciclo evolutivo,
aceleram neste momento o fim natural a que tudo está sujeito, destruindo-se a
ferro e fogo.
A Fraternidade Branca, ou antes, a Agartha, "como verdadeiro celeiro espi-
ritual do mundo", sempre vigilante, mais do que em qualquer outro momento da
História humana, não podia deixar-nos entregues a nós mesmos, perdidos na
"selva negra" da ignorância, incapazes de encontrarmos uma explicação
satisfatória para os pavorosos tormentos que, em conseqüência daquele terrível
entrechoque de avalanches humanas, daquela inominável crueldade, tão
lancinantemente nos torturam.
E, como das outras vezes, em idênticas circunstâncias, diz-nos o autor do
presente livro, a Grande Fraternidade ergueu o facho redentor nas terras que de
longínquas datas vinha preparando para servirem de berço aos homens dignos
de escapar ao cataclismo atualmente em ação e predestinados a encerrar o 5º
grande ciclo da 4ª Ronda. Não importa que à humanidade vulgar passe
despercebido, ainda desta vez, o farol redentor erguido no cume da "Montanha
Sagrada" da nossa terra, nem distinga, entre a multidão dos candidatos à
salvação do mundo, os verdadeiros encarregados de manter vivas as chamas que
o animam.
Isto não alterará em nada a realidade dos fatos, nem evitará que os Senhores
de Todo o Conhecimento, os eternos defensores e Guias da humanidade,
forneçam àqueles por eles escolhidos, há séculos sem conta, para servir de nÚ-
cleos às novas raças, os elementos vitais da eterna Sabedoria de que só eles são
detentores, e graças aos quais o Fogo sagrado que desse farol irradia se irá
tomando cada vez mais perceptí\'el aos olhos dos homens que, tendo seguido o
Verdadeiro Caminho da Iniciação, de o \'islumbrarem sejam dignos.
Como das outras vezes, a grande maioria "terá olhos e não \'erá, terá ouvidos
e não ouvirá". E o leitor descuidado acenhlará seu sorriso displicente e irônico -
perfeitamente justificável ante as gargalhadas com que sempre foram recebidas
as grandes verdades e todas as perseguições de que em todos

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os tempos foram vítimas seus anunciadores - quando ler as linhas em que o autor
do presente trabalho afirma - e para tanto sobram-lhe razões que de certo
oportunamente revelará - que o único Caminho de salvação é, sob o ponto de
vista manúsico, o apontado pela Escola lniciática que os Guias da Humanidade
erigiram na Terra para cumprir a gloriosa missão de escolher dentre os homens as
sementes das futuras raças. Tantas são as "barcas de salvação" espalhadas pela
face da Terra, donas, na sua maioria, de fabulosas riquezas e cujos templos
majestosos e incrustados de oiro se acham sempre repletos de multidões atentas e
genuflexas, que naturalíssimo é o espanto ante a afirmativa de ser esta e não
aquela a escolhida pelos deuses para restaurar a Verdade perdida e acolher as
sementes da raça privilegiada.
Muitos dos timoneiros dessas pseudobarcas, velhas de milhares de anos e
cujos adeptos se contam por milhões, se dizem representantes de Deus na terra,
ou d'Ele terem recebido a última Revelação ... Essa idade que muitos julgam ser a
do próprio mundo e essa maioria realmente avassaladora e impressionante, aliada
às riquezas materiais de que são detentores, elas e todas as centenas de ramas e
sub-ramas em que se dividem e subdividem, constituem elementos mais do que
suficientes para levar a convicção àqueles que se deixam iludir pelo
aparentemente grandioso.
Obscurecida a razão humana ante as vozes de paz e amor com que nos
embalam no interior de suas imponentes catedrais, sinagogas e mesquitas;
toldada nossa memória pelas nuvens de incenso irrompendo de turíbulos de prata;
ofuscada nossa imaginação pelo esplendor de ritos milenares, esquecemos os
crimes de que estão repletas as páginas de suas histórias, não vemos nenhuma das
infinitas provas de sua falta de espiritualidade, quer quando perseguiam sábios,
queimavam desafetos, torturavam hereges, escravizavam silvícolas, vendiam
absolvições, tudo isso em nome dos seus respectivos deuses; quer quando,
mesmo em nossos dias, simultaneamente com palavras de amor e tolerância,
pronunciadas no interior dos templos, surgem nos arsenais e estaleiros para
benzer canhões, aeroplanos e encouraçados a fim de que melhor passam cumprir
sua missão destruidora, a fim de que mais certeiramente possam matar velhos,
mulheres e crianças, a fim de que mais ablmdantemente possam fazer correr o
sangue pelo mundo. Tudo isso desaparece ante as sugestivas e imponentes
cerimônias dos seus inexpressivos dogmas. Ficam apenas as afirmativas, por
todos os meios apregoadas, de serem elas e não outras as

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portadoras da Eterna Verdade, as encarregadas por Deus de salvar a humanidade
e reconduzi-Ia ao Paraíso que, por culpa sua, perdeu. E a grande massa humana,
assim iludida, segue o exemplo que lhe deixaram seus pais e avós e lhe dão todos
os seus amigos e conhecidos, dispensando-se do penoso trabalho de pôr em ação
a faculdade de raciocinar, e desprezando ou revoltando-se contra aqueles que por
ela se sacrificam.
Assim aconteceu há dois mil anos às margens do rio Jordão, quando ali
apareceu um dos grandes enviados da Fraternidade Branca, com o difícil encargo
de mais uma vez recordar aos homens o fraternal e humanitário preceito amai-
/I

vos uns aos outros". E o mesmo sucedeu sempre que houve necessidade de
quebrar os dogmas em que se enc1ausura a Verdade e evitar que o egoísmo de
todo se apossasse do coração dos homens.
Para os poucos não dominados por qualquer dessas religiões e escolas filo-
sóficas, capazes de lutar contra a inércia mental que leva o homem a preferir uma
mentira fácil a uma verdade para a elucidação da qual se necessite o sacrifício de
algum esforço; para os que, ao procurar o Verdadeiro Caminho, não têm em vista
um proveito pessoal imediato, mas o forte desejo de atender aos naturais
impulsos de sua alma; para os que se não acham ainda totalmente desprovidos da
faculdade de raciocinar e dispõem da coragem suficiente para lutar contra o
hábito, os preconceitos e o horror à novidade, acham-se abertos de par em par os
templos onde se ensina a Sabedoria Iniciática das Idades, graças à qual o homem
aprende a saber quem é, donde vem e para onde vai", destruindo as enganadoras
/I

ilusões em que vive acorrentado e aprendendo a extrair de todas as Bíblias a


Verdade ali guardada pelos Guias da Humanidade e atualmente de todo mutilada
pelos que tinham por dever mantê-Ia e propagá-Ia pura como a receberam.
O caminho para chegar aos Templos de Sabedoria, a Vereda que conduz o
homem à imortalidade pela posse dos seus princípios superiores é a apontada nos
longos e substanciais comentários ao pequeno opúsculo de HPB Primeiros
Passos no Caminho do Ocultismo.
Como o leitor desde logo verá, é um caminho penoso, cheio de obstáculos,
povoado de monstros que é preciso vencer, se quiser atingir o templo onde
habitam os Deuses e fazer parte daquela minoria superior pelo que oferece e não
/I

pelo que recebe", como, apontando para estas bandas, e a fim de

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prevenir-nos contra os perigos a que estamos sujeitos, nos lembrava o excelso sacerdote atlante, ao
desaparecer com seu povo no seio das revoltas e candentes águas oceânicas.
Os frutos desse Caminho são muito amargos. Loucura é tentar adoçá-Ios por outro meio que não seja o da
renúncia aos bens materiais e a tolerância para com todos e o amor desinteressado a seu semelhante.
Para vencer os obstáculos e destruir os monstros que dentro de nós mesmos irrompem, ameaçando
esmagar nossa firme vontade de vencer, não valem promessas, arrependimentos, riquezas, posições sociais
nem pedidos a sacerdotes nem súplicas a deuses.
Igualmente de nada valerá ouvir cerimônias que se não entendem, murmurar orações sem nexo, buscar
novas interpretações às palavras da Bíblia, comunicar-se com as almas do outro mundo, criar novas religiões,
como se fosse possível haver outra superior à da Verdade, ou como se as existentes não bastassem para nos
confundir e atormentar. Tudo isso é ilusório, assemelha-se à dolorosa parvoíce do avestruz que enterra a
cabeça na areia para não ver o perigo. A História aí está com suas páginas abertas para leitura dos que dese-
jam saber: as ilusões que se perdem sem que as lições criem raízes no espírito dos imprevidentes sempre
foram as que concorreram para a decadência espiritual em que nos debatemos - causa fundamental da
confusão social, dos desequilíbrios econômicos e de quantas misérias somos vítimas.
Foi esse estado caótico, esse esquecimento total das lições dos Mestres de Sabedoria, vindos ao mundo de
tempos a tempos, que propeliu a Grande Fraternidade Branca a vir novamente mostrar aos homens
escravizados pelo egoísmo qual, dentre as centenas de caminhos abertos a sua frente, é o único que deve ser
seguido para a conquista definitiva dos princípios de fraternidade e amor universais. Esse caminho é o
apontado nas páginas que seguem.
Possa o leitor, perdido como Dante na selva escura, achá-Io com o auxílio de sua própria intuição; e,
percorrendo-o a passo firme, atingir a Verdadeira Iniciação, "antes de mergulhar nos mundos subterrâneos".
Só assim, e não de outro modo, conseguirá, para além da tumba, um lugar diferente daquele a que estão
sujeitos os homens vulgares, evitando a queda no Tártaro sombrio a que se refere o divino PIa tão.

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PÁGINA EM BRANCO

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INTRODUÇÃO(1)

Do mesmo modo que o último soldado de um exército


pode, algumas vezes, com uma flecha inflamada... destruir
a mais sólida fortaleza do inimigo, assim também o homem
mais fraco, quando se faz campeão da verdade, pode
derribar as mais sólidas muralhas da superstição e do
erro.

Na época que atravessamos - fim de um ciclo apodrecido e gasto, para o


dealbar de um outro, portador de melhores dias para o mundo, pois que a vida
universal é repartida em ciclos - a quantidade, ou parte mais grosseira da
mentalidade humana suplanta a qualidade, ou parte mais sutil dessa mesma
mentalidade que se torna, portanto, a elite do presente momento histórico da
Humanidade.
Haja vista aqueles que, para melhor poderem governar, expulsam de seu País,
e portanto, de junto de si, os poucos capazes de ofuscar o falso brilho de suas
apagadíssimas personalidades.
A explicação de tal procedimento encontra-se na razão teosófica do carma
coletivo, esse carma criado pelos povos que, descuidando-se da própria evolução
e grandeza espiritual, afundam-se cada vez mais no vício, no crime e na miséria e
acabam tendo cada qual" o governo que merece".
Fenômeno, pois, indiscutível, de uma civilização em franco declínio!
Já há mais de meio século, dizia certo Adepto mais conhecido pelo nome de
Kuthumi.
"A parte intelectual da humanidade está formando, visivelmente,
duas mentalidades distintas: uma, que se prepara, inconscientemente,
para longos períodos de aniquilamento temporal, devido à deliberada
rendição do intelecto - ou antes, dizemos nós, do desprezo por sua
própria evolução -

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, ao aprisionamento nos estreitos sulcos da superstição e do fanatismo,
processo este que não pode deixar de produzir completa deformação do
princípio intelectual; a outra, dando largas às suas inclinações animais,
sem compreender que está sujeita à morte pura e simples - ou melhor,
distribuindo, pouco a pouco, a sua própria vitalidade -, dá lugar, em caso
de fracasso (ou morte), a séculos de degradação ... depois da dissociação
física, o Lasciate agni speranza, vai ch'entrate da Divina Comédia de Dante.
Tais classes intelectuais têm o poder de influir poderosamente no cérebro das
massas ignorantes, as quais, elevando suas vistas para as mais poderosas -
ou aparentemente, dizemos, colocadas em situação de destaque, neste
mundo de ilusões em que somos forçados a viver -, julgam seus exemplos
dignos de imitação, quando, de fato, degradam e arruinam moralmente
àqueles que deveriam ser guiados e protegidos.
"E assim, entre a decadente superstição e o mais decadente ainda materi-
alismo brutal, a branca pomba da Verdade só encontra reduzidíssimo sitio
onde descansar seus pobres e fatigados pés, tão mal acolhidos".
Esse "reduzidíssimo sítio" a que se refere o preclaro membro da Excelsa
Fraternidade, não é outro senão o representado pelos poucos homens que se
conservaram fiéis à Lei que a tudo e a todos rege. Tem igual sentido as
reduzidíssimas missões, núcleos verdadeiramente espirituais que ainda existem no
mundo, desde que a maioria, por sua vez, acompanhando a decadência cíclica,
arruinou-se, por suas próprias mãos, para não dizer, por falta de disciplina, ordem,
enfim, garantias espirituais, diante da mesma Excelsa Fraternidade, que enviava ao
mundo profano, através daquelas missões, o poderoso influxo de sua tão generosa
quão abnegada proteção.
Do mesmo modo, os "séculos de degradação, depois da dissociação física"
significa longo período de sofrimentos post-mortem, ou melhor, no mundo astral. Tal
período termina, na maioria das vezes, depois de infrutíferas encarnações da
Mônada, pela completa dissolução, já agora, dos últimos vestígios espirituais, o que
o mesmo é dizer segunda morte - à parte a errônea opinião de que a alm.a é imortal,
por confundi-Ia com o espírito, propriamente dito -, 8ª esfera, ou zero-dimensão,
região do não-ser, como nós mesmos a apelidamos.
São ainda do mesmo Adepto estas palavras:
"Em vista do crescente triunfo e, ao mesmo tempo, do mau emprego do
livre pensamento e da liberdade, inclusive dedicando-se à baixa magia -

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tão em voga no momento -, como deve ser restrito o instinto natural combativo
do homem para não cometer crueldades, tiranias e injustiças jamais ouvidas, se
não for através da sedativa influência da fraternidade e da aplicação prática das
doutrinas esotéricas do Budha? - e de quantos outros Seres têm vindo ao
mundo em defesa da evolução humana. Porque, segundo sabemos e quantos
acompanham fielmente nossos passos, a emancipação total do governo, desse
poder onipotente e único, é a Lei. Essa mesma Lei a quem muitos preferem
chamar de Deus, inclusive os sacerdotes; Budismo, Sabedoria Divina,
Iluminação, Teosofia, etc., significa também, para os filósofos de todos os
tempos, emancipação da lei humana. Uma vez desligadas e libertadas do peso
morto das interpretações dogmáticas, dos nomes pessoais, dos conceitos
antropomórficos e sacerdotes assalariados, as doutrinas fundamentais de todas
as religiões provarão ser idênticas em seus significados esotéricos. Osíris,
Krishna, Budha, Cristo etc., apareceram com diferentes nomes para o mesmo e
único Caminho Real, que conduz à beatitude final: Nirvâna - o que tanto vale
por Âtman imerso em sua luz, que é de todos. Por isso mesmo, um estado de
consciência, e não o ilusório Devakhan - comparável ao céu dos cristãos, na
mesma razão de um sonho, do qual se desperta para uma nova vida, em um
outro corpo, está entendido. O Cristianismo místico, ou seja, aquele que ensina
a nossa redenção por meio do Sétimo Princípio, esse libertado Paramâtman - o
Augoeides dos neoplatônicos, o próprio deus Cupido, de tão má interpretação
por parte dos neófitos -, chamado por alguns, Cristo, por outros, Budha, e que
eqüivale à regeneração ou renascimento em espírito, exprime uma verdade
idêntica à do Nirvâna budhico. Devemos nos unir ao nosso próprio Eu, em uma
vida transcendental e divina. \1as, se não quisermos ser egoístas, devemos,
também, envidar todos os esforços para que outros sintam essa mesma
Verdade, reconhecendo a realidade do Eu transcendente, o Budha, o Cristo ou
Deus de todo pregador. Razão por que o mesmo Budhismo Exotérico pode
conduzir os homens à Verdade Esotérica".
A mesma HPB procurou demonstrar a diferença entre Budhismo e
Buddhismo, ou seja, que o Exotérico deve ser escrito com "dd", e o Esotérico,
com um só" d". Nós, porém, preferimos distingui-l o, em nosso idioma, de modo
diferente: Budhismo, com "u", o exotérico ou religioso, e Bodhismo, com "o",
para o esotérico, filosófico etc., muito anterior a Gautama, o Budha. Mesmo
assim, erram todos aqueles que chamam de gautamismo ao primeiro, poi?, como
se verá mais adiante, o Bodhismo pregado pelo referido Ser é o segundo,

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como verdadeira essência de todas as religiões e filosofias. Por isso foi conservado
no seio das Grandes Fraternidades, como Doutrina Secreta, Sabedoria Iniciática das
Idades, Conhecimento Perfeito, Iluminação, etc. O termo Bodhismo tanto procede
do sânscrito bodi, com o significado de iluminação, Conhecimento etc., como do
tibetano bod, que possui o mesmíssimo sentido. E a prova é que ao Tibete se lhe dá
o nome de Bod-Yul, isto é, o País do Conhecimento, da Sabedoria Perfeita.
Temos do mesmo modo o termo Cristianismo, que provém do Christos (grego)
com o significado de ungido, iluminado, etc., e, por isso, em nada diferindo do
primeiro termo. Nesse caso, o cristão que ridicularizar um budhista, e vice-versa,
dá prova cabal de ignorância em semelhante assunto. É preciso aprendermos, em
primeiro lugar, as coisas, para, ao discuti-Ias, não nos sentirmos envergonhados
quando se nos provar não estarmos com a razão.
O Cristianismo propriamente dito não se inclui, entretanto, no que acima se
acha apontado, devido ao seu espírito puramente religioso. E, assim, preferiu
copiar de outras religiões, inclusive do Budhismo (com "u"), o que apresenta ao
mundo como exclusivamente seu.
Frei Domingos Vieira, no seu Dicionário da Língua Portuguesa, pág. 830,
quando fala do Budhismo, além de outras cousas, diz: "No Cristianismo há muitos
traços que revelam a influência do Budhismo na sua formação".
E o padre Huc, autor das principais obras Dans Ie Thibet, Dans Ia Tartarie e
Dans Ia Chine, que lhe custaram e ao seu dedicado companheiro, o padre Gabet, a
expulsão da Igreja e da Academia de França, por insinuações da primeira, por ter
afirmado verdades que lhe não convinham, demonstra que" os objetos em uso, tais
como o turíbulo, a croça, o pálio, etc., nos rituais lamaístas Lamaísmo ou
Budhismo tibetano -, são os mesmos da Igreja". Como o Cristianismo tivesse
aparecido 645 anos, mais ou menos, depois daquele, logo fica provada a asserção
do mesmo frei Domingos Vieira ...
Voltando ao termo Cristo, diz ainda H. P. Blavatsky:
"Cristo, como unidade, é uma simples abstração, uma idéia genérica
que representa a agregação coletiva das inúmeras entidades espirituais -
como emanações diretas da infinita, invisível e incompreensível Causa
Primeira - os espíritos individuais dos homens, erroneamente chamados
almas, os divinos filhos de Deus, dos quais só vislumbra alguma coisa a
ge-

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neralidade dos mortais. Alguns deles permanecem, para sempre, convertidos
em Espíritos Planetários, e outros - a mais escassa minoria - se unem, durante
a vida, a alguns homens ... Assim, tais Seres, semelhantes a Deus, como
Gautama, o Budha; Jesus -ou antes, Jeoshua -, o Cristo; Tissoo, Krisna - o
mesmo Yeseus Khrishna, que viveu 3.500 anos antes de Jesus Cristo e,
convenhamos ... nos dá idéia, pela grande semelhança dos dois nomes, do
segundo ser um plágio do primeiro -, e poucos outros ... estiveram, perma-
nentemente, unidos à condição de deuses na Terra. Outros, porém, como
Moisés, Pitágoras, Apolônio de Tíana, Plotino, Confúcio, Jâmblico e até
mesmo alguns santos da Igreja - pois não é a religião que faz o homem, e sim,
o caráter -, por terem estado, do mesmo modo, unidos em intervalos
históricos, pertencem à categoria de semideuses e dirigentes da Humanidade.
Uma vez separados de seus tabernáculos terrenos - "o pote de argila" bíblico -,
livres estão suas almas e unidas para sempre aos seus espíritos, que unidos
estão, por sua vez, às hostes luminosas pela mais perfeita solidariedade de
pensamento e de ação, sendo, por isso, chamados ungidos. Daí a significação
dos gnósticos quando afirmam que "Cristo sofreu espiritualmente pela
humanidade", o que importa em ter sido o seu Divino Espírito quem
principalmente sofreu (Ísis sem Véu, Tit. II, Capo IV). Estas e ainda outras
mais elevadas idéias são as de Marcião, o grande heresiarca, como lhe
chamam seus contrários, Epifânio e lrineu"(2).
Idêntica opinião sobre o termo Cristo, a do genial teósofo espanhot dr. Mário
Roso de Luna, em sua iniciática obra La Esfinge:
"O Cristo passional atormentado de todas essas lutas, prévias e indis-
pensáveis àquela formação, começa por se transformar no Cristus que, triun-
fante e gloriosíssimo, há de ressuscitar em seu dia, porque, segundo HPB, no
seu Glossário teosófico, este termo foi empregado no século V antes de J. c.,
por Ésquilo, Heródoto e outros. Os manteumata pythocresta, oráculos
transmitidos por um deus Pitio, por intermédio de uma pitonisa, são
mencionados pelo primeiro (Ésquilo, Capo 901). E pythocrestus, derivado de
chrao, chresterion, não é apenas o testemunho de um oráculo, mas um
oferecimento ao oráculo. Chrestes é aquele que explica os oráculos, um
profeta ou adivinho. E chresterios, aquele que serve a um oráculo ou a um
deus. O primeiro escritor cristão, Justino, o mártir, em sua primeira Apologia,
chama aos seus correligionários crestians.
"Chamam-se os homens a si mesmos de cristãos devido à ignorância, diz
Lactâncio (Livro IX, Capo VII). Os termos Cristo e Cristãos foram tirados do

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vocabulário do tempo dos pagãos. Chrestus significava, naquele vocabulário,
discípulo posto à prova, candidato que aspirava à iniciação, através de largas
provas e sofrimentos, depois de ser ungido, isto é, untado com azeite de oliva,
como o eram os iniciados da última cerimônia ritualística - a mesma Igreja a
copiou para os seus rituais, inclusive, o do batismo".
"Assim transformava-se o postulante no cristus, o purificado, o ungido, o
iluminado, em linguagem esotérica e misteriosa. Realmente, em simbologia
mística, Christus ou Christos significa que a vereda, o caminho, havia sido
percorrido e alcança da a meta. Significava, ainda, que os frutos do trabalho
penoso para unir a personalidade - de persona, ou através do qual o som se
manifesta, o que vale dizer, Verbo, Hálito, Espírito etc. - impermanente, de
barro, à indestrutível individualidade, transformavamno no Ego Imortal".
"No termo do Caminho se encontra o Cristus, o purificador. E uma vez
levada a efeito essa união eu-crística ou eucarística, o Crestus, o homem da dor
convertia-se no mesmo Cristus.
Paulo, o Iniciado, que sabia muito bem tudo isso, diz em Galatas, IV, 19 -
por sinal que pessimamente interpretado, inclusive pela Igreja: "Padeço de
dores de parto até que seja formado o Cristo dentro de vós"; isto é, "Eu, que já
possuo o Cristo dentro de mim ou em meu seio, padeço de dores de parto por
saber que não estais nas mesmas condições, isto é, iluminados por Ele".
Outrossim, quando em Efesus, III, 16/17, diz: "Todo Ser bom pode falar ao
Cristo em seu homem interno" - sem especificar religião alguma, pois, corno já
atrás dissemos, não é a religião que faz o homem, e, sim, o seu caráter ...
Ademais, Jeoshua, entrando em um templo pagão, para a Igreja, corno tudo
quanto é anterior ao mesmo Ser, expulsa, a chicote, os "vendilhões do templo".
E, muito mais interessante, quando o chama de "Casa de meu Pai". Assim
sendo, reconhece o valor do santo lugar, apesar de esse templo não pertencer à
sua religião)" (3).
"Mas - continua ele - os profanos que sabiam apenas o termo crestus
relacionar-se com os sacerdotes e profetas, devido ao fato de ignorarem o
verdadeiro significado oculto da palavra, insistiram, como o fizeram Lactâncio
e Justino, o mártir, em ser chamados crestãos, em vez de cristãos."
Interessante, ainda, o que afirma o incomparável teósofo por nós citado,

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quando entrevistado pela imprensal a respeito do IImessianismo religioso e
extemporânedl de Besant e Leadbeaterl através do hoje divino rebeldell Joe
11

Krishnamurti: (4)
110 messianismo foi sempre o achaque dos débeisl que esperam de um
enviado a redenção que só lhes pode vir de si mesmos. Prometeu encadeado
espera Epimeteu libertadorl na Tragédia de Ésquilo. Os Hebreus esperam um
rei. A Idade Média (vide História de Espanhal de Moreno Espinosal reinado de
Fernando IV)I também esperou pelo Cristo, e o Cristo que veio foi a
Renascençal onde arte e ciência se emanciparam do jugo religioso que os
oprimia'l
IIE quanto a Krishnal Budhal Jesusl Platãol etc'l foram seres superiores que nos
deram doutrinas eficazes para que nos redimíssemos com os nossos próprios
esforços. IIFaze por til que Eu te ajudareilll disse o mesmo Jeoshual enquanto no
portal de Delfos se lê: Gnôthe seautonl que tanto vale pelo Nasce te ipsum latinol ou
IIconhece-te a ti mesmolll todos eles comprovantes da sentença oriental: IIBusca
dentro de til o que procuras fora Nenhum deles fundou a religião confessional
11.

que se lhes atribui. Logol quem fundou todas elas foi o imperialismo psíquico
de seus pretensos discípulos quel escravos do inerte dogma que criavaml
esqueceram não ser religião uma crençal mas a dupla ligação de fraternidade
entre os homensl segundo a sua etimologia latina - do religal religarel ou tornar a
unirl ligarl etc. Imperialismo psíquicol portantol sucessor fatal de todo
imperialismo físico. Ao império romano sucedeu o império psíquico papal; ao
império físico espanholl o império psíquico jesuíta. Em Maomé os dois
imperialismos se apresentaram juntos. E assiml ao império físico inglês quer a
sra. Besant - nesse verdadeiro golpe de estado desferido no clássico e livre
pensamento teosófico - implantar o psíquico krishnamurtiano I'.
- E que pensais da tal religião mundial (5) da qual hoje quer que faça parte
I

a The Theosophical Society da Adyar? - pergunta o repórter.


11_ Nunca estive de acordo com a senhora Besant em mais esse golpe de
estado desferido no clássico e crítico livre-pensamento da Sociedade de Adyar l
cujo objetivol afora o da fraternidade universall é o do estudo comparado de
religiõesl ciências e filosofiasl não a crençal e menos a prática de religião
alguma - seu próprio lemal dizemos nósl o do Mahârâjah de Benaresl Satyât nâsti
paro Dharmal IInão há religião acima da Verdade II era o primeiro a contrariar
semelhante absurdo. O naturalista que disseca uma lagartixa o faz sem adorá-
Ia/'.

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"Livre pensadora no mais alto grau, a sua fundadora, Helena Petrovna
Blavatsky, lutou ao lado de Garibaldi em Mentana, contra o poder papal;
considerou as religiões como duplos véus lançados sobre a Sabedoria
Iniciática das Idades, que foi, antes de tudo, Ciência; uma ciência perdida, que
se faz necessário descobrir. Teosofia" não significa "ciência de Deus", mas
dos super-homens ou deuses (dos gregos): homens representativos, grandes
almas, mahâtmas ou gênios, jinas etc., segundo o Oriente. Seu livro Ísis sem
Véu nega toda espécie de Magia, "que exceda o poder e a compreensão do
homem". E em sua Doutrina Secreta termina proclamando:
"Só existe a religião única da natureza, da qual todos deduziram seus dogmas
até materializá-Ios em sua eterna poesia". Moisés e Maomé, ao proibirem o
uso da carne de porco não o faziam em nome da religião e sim da ciência."
- Não é, pois, de agora o nome Teosofia? - pergunta-lhe, ainda, o jornalista.
"- De modo algum. Teósofos ou neoplatônicos ecléticos e harmonistas
foram chamados os filósofos alexandrinos que, com Amônio Sacas, quiseram
deduzir da Gnose o estudo comparativo das religiões, normas científicas de
conduta. Teósofos chama César Cantu a Paracelso, Agripa, Van Helmont, etc.,
e sofista do século XII, ao arábico Asin Palácios".
De fato, Teosofia é o nome grego com que se procura definir a mesma Sabe-
doria Iniciática das Idades, Doutrina Secreta, Conhecimento Perfeito, iluminação,
etc. (em nosso idioma), todos eles como significação das designações sânscritas
Gupta- Vidyâ, Brahma- Vidyâ, Sanâtana-Dharma além de suas correlações, como já
provamos em outros lugares, com os próprios termos Bodhismo e Cristianismo.
E, como aquela valiosa instituição, outras mais passaram pelo rude golpe da
destruição, já que o mesmo Egito, ao lado da Índia, como verdadeiros pais
espirituais da Humanidade, também teve o seu declínio, como se pode ver através
das palavras que se seguem, transcritas de um outro estudo nosso:
liÀ medida que se avança na História, vê-se deslocar a universal hierarquia; a
multiplicidade dos cismas prejudicar, cada vez mais, a unidade primitiva; e de sob
as ruínas dos grandes colégios de magos - esses centros oficiais da alta iniciação
psíquica e mental donde irradiava outrora, sobre o mundo pacífico, o calor e a luz
dos Adeptos individuais - surgir a Verdade deturpada."

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"Ao ensinamento geral das universidades ocultas sucedem escolas privadas,
guiadas por mestres independentes. Fazem exceção, todavia, alguns santuários
célebres - Delfos, Mênfis, Preneste, Elêusis, etc. - cujo desmoronamento
inevitável é, por muito tempo, retardado, mas onde o nível do ensinamento
materializado vai baixando pouco a pouco".
"Despedaçada pela queda do Supremo Pontificado Universal, a centralização
hierárquica não mais opunha o seu dique tutelar à invasão das paixões. Os
sacerdotes transformaram-se em homens e o culto à mulher - ou, antes, ao sexo -,
às paixões desregradas, foi logo estabelecido. A pior das rotinas - a da inteligência
- elevou seu domicílio nos templos; ao espírito, substituiu a letra morta. Os
pontífices perderam logo a chave tradicional dos hieróglifos sagrados, para que
fosse realizada na Terra a famosa profecia de Thoth, Trismegisto:
"Egito! das tuas relíquias não restarão mais que as vagas recordações
em que a posteridade será a primeira a não dar crédito ...E, sobre a terra
fria, palavras apenas, contando a história da tua devoção ...O divino torna-
rá a subir ao céu - isto é, dizemos, "o Espírito da Verdade que, por tantos anos
pairou sobre ele, voltaria ao divino", por isso que o deixava abandonado às
suas próprias dores. A Humanidade, completamente abandonada, morrerá por
inteiro - pelo que se vê, a profecia estendia-se a mais do que ao Egito, pois
todos os povos, como dissemos, são oriundos daquele tronco e da Índia. E tu,
Egito, ficarás deserto e viúvo de homens e deuses! Terra santa que eras
outrora, amada dos deuses - como foi a Atlântida, donde o mesmo Egito é
rebento imediato - por teu espírito de devoção, serás a perversão dos santos, a
escola da impiedade, o modelo de todos os vícios e de todas as violências.
Então, cheio de desgostos por todas as coisas, o homem não mais terá pelo
mundo nem admiração nem amor".
Assim Hermés, o tríplice fundador da religião, da filosofia e da ciência, definiu
o futuro do glorioso Egito, o que o mesmo é dizer, o de todos os povos oriundos
daquele tronco). E isso porque, segundo já dissemos, todas as civilizações têm a
sua época de esplendores e, consequentemente, de decadência ou dec1ínio. É o
que acontece atualmente ao mundo, especialmente à Europa (6).
De fato, o Esoterismo cedeu lugar ao Exoterismo; a religião-Sabedoria - re-
presentada na mesma deusa Ptah, que tanto vale pela Pistis-Sophia grega, ou seja,
a mesma Teosofia ... - foi transformada; a idolatria sucedeu ao culto do verdadeiro
Deus; a superstição, à Magia; as desordens da moral arrastaram

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imediatamente as desordens sociais e os Faraós oscilaram em seus tronos. Apro-
veitando esses momentos de perturbações, como aconteceu depois à Índia e, mais
tarde, ao mundo inteiro, o inimigo invadiu o território; e o Egito inteiro, devorado
pelas chamas, desmoronou sobre os cadáveres de seus filhos.
Que resta hoje daquela inconcebível civilização de tão soberbas magnificências?
Ruínas e areia ...
Quanto à Índia, como dissemos, teve a mesma sorte, arrastando consigo, ao cair,
o Tibete e a Mongólia - à parte essa atração mística que muitos conservam ainda
pelo Oriente, por ignorarem tais coisas -, como verdadeiros centros espirituais que
foram do mundo. Seu ciclo de vida terminou, bem pode dizer-se, no ano de 1883,
quando desapareceu o seu último rebento, ou seja, o grande Ramakrishna, pois,
nessa ocasião, nascia no Ocidente uma outra pessoa destinada a servir de marco
espiritual que, na história evolucional dos seres, a própria Lei concedia se fixasse no
mesmo Ocidente.
E alguns anos depois do desaparecimento de Ramakrishna, desaparecia, por sua
vez, o último Brahmâtma da Índia, uma espécie de papa ou governo espiritual,
mantido ao norte do mesmo país, por sinal que tinha por símbolo, usado durante
muitos séculos, as duas chaves e a mitra, copiados pela Igreja para o seu Sumo
Pontíficie (7).
Desse modo, a Mongólia via terminar seu ciclo de atividade espiritual, com o
desaparecimento do 31 º e último da série dos Budhas- Vivos ou Bogdo-Khans,
cumprindo-se assim o apontado nas velhas tradições conservadas, secretamente, nos
mosteiros lamaístas.
Igual sorte teve o Tibete, com o desaparecimento das figuras do Dalai-Lama e
do Teshu-Lama - ou Trachi-Iama, como querem outros -, sucessores daquele e, por
sua vez, últimos dessas duas categorias de lamas tibetanos, os quais,ligados à
mesma Mongólia, representavam as três colunas vivas, ou Três Caminhos, senão, o
prodigioso mistério do Rei do Mundo e seus dois ministros ou colunas (8).
O Dalai-Lama, desaparecido há poucos anos, como 31 º e último da série, até
agora não encontrou substituto, mesmo com a reclamação daquele povo fanatizado
pelos sacerdotes do lamaísmo, ou antes, insuflado por eles, para valorizarem a sua
religião francamente decaída ... embora as últimas notícias dos jornais afirmem que
se cogita de tirar a sorte, entre duas crianças nascidas na época da morte do Dalai-
Lama, para que ele possa fazer o seu novo avatara.
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Telegramas anteriores diziam algo completamente diverso, isto é, "que o
fantasma do Dalai-Iama havia aparecido na floresta a alguns lamas, fazendo-Ihes
ver que não abusassem de seu nome, pois sabiam muito bem que a Lei exigia
fosse ele o último" ... Porém, como a ganância, a idéia de domínio já tinha feito
apagar o horror causado a tais lamas com a aparição e aquelas palavras, a sorte vai
decidir, fanática e traiçoeiramente, do destino do Lamaísmo tibetano. O futuro o
dirá dentro em breve ... (9).
Quanto ao Techu-Lama, expulso do Tibete pelo mesmo Dalai-Lama, devido a
políticas contrárias - já fizemos ver alhures que ambos eram simples tulkus, duplos,
sósias psíquicos, digamos assim ... senão, discípulos de outros seres mais elevados
-, logo que soube da morte do seu rival, volta ao Tibete. Querendo todavia impor
sugestões incompatíveis com os novos destinos, impostos ao mundo em geral pela
própria Lei, é novamente expulso do Tibete, vindo a morrer no seu exílio, que foi
a China.
E com isso realizaram-se as velhas profecias de que, "um dia o Oriente se
fundiria no Ocidente", para maior glória e vigor do Espiritualismo triunfante na
face da terra, para não dizer desde logo, em prol da evolução humana. E,
consequentemente, a manifestação do Espírito de Verdade, como Ele mesmo
prometeu a Arjuna -vide Bhagavad-Gftâ ou "o Canto do Bem-aventurado":
"Todas as vezes, ó filho de Bhârata! que Dharma - a lei justa - declina e
Adharma - a lei injusta - se levanta, Eu me manifesto para salvação dos bons e
destruição dos maus. Para restabelecimento da Lei Eu nasço em cada Yuga" -
idade.
Espada, pois, de dois gumes, na mesma razão do destruens et construens, embora
que, tal destruição não seja Ele quem a faça, mas os próprios homens, devido à
grande quantidade de matéria tamásica atraída para o seu redor, ou antes, a
predominante influência do Mal sobre o Bem, que tanto vale por afastamento da
Lei ou Dharma. Quanto ao resto ... incumbem-se os terremotos, as inundações, as
pestes, as guerras, as revoluções e todo esse mau lastro cármico que agora mesmo
irrompe por toda parte do globo, especialmente, como já dissemos, na velha
Europa. E agora, depois das duas guerras, irrompeu no Oriente.
Diz Roso de Luna:
"O grande filósofo Amônia Sacas, de Alexandria, que viveu entre o
segundo e terceiro séculos da nossa era, como fundador da escola
neoplatônica

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dos filaleteos ou amantes da Verdade, bem pode ser chamado o Pai da
Teosofia. Foi ele quem ensinou a religião das multidões correr pari-passu
com a filosofia e que com esta se foi corrompendo, gradativamente, por
vícios de conceitos, mentiras e superstições puramente humanas. Era ne-
cessário, pois, restituí-Ia à sua pureza original, expurgá-Ia da escória e
interpretá-Ia filosoficamente. Outro não foi o propósito de Jeoshua, o Cris-
to, tentando restabelecer - preste-se atenção -, na sua prístina integridade, a
Sabedoria Iniciática das Idades - ou Teosofia; reduzir o domínio da su-
perstição; corrigir os erros introduzidos nas diversas religiões, impulsionar
em resumo a tônica da Verdade, trabalho de todos os condutores de povos,
maiores ou menores, sempre que os homens - como agora - se acham
afastados da Lei. Isso mesmo nos é prometido por Krishna, no Bhagavad-
Gítâ (10) ao dirigir-se, como representante da Consciência superior, do
Espírito, do Ego, do Mestre, etc. a Arjuna, o discípulo, a alma, o eu-
inferior, visto que essa parte do grande poema hindu é para ser inter-
pretada por sete chaves diferentes: a evolução humana, universal, astral, as
jerarquias criadoras, o caráter ou a moral etc. "
O fato é que a frase bíblica "Ele já veio e vós não o reconhecestes" não se refere
apenas a um Ser, mas também a determinado movimento espiritual, especialmente
em um ciclo comprovante da queda ou decadência, como é aquele por que ora
atravessa o mundo. Movimento esse para o qual nem todos podem ser atraídos,
porquanto depende de uma recíproca verdadeira, para não dizer afinidade espiritual
entre as duas forças: centrípeta e centrífuga, isto é, o que foge do centro ou procura
atrair - o referido Movimento - e o que deve ser atraído - o aspirante à Verdade.
Esse Movimento é, no atual momento histórico, aquele em que se acha em-
penhada a Sociedade Teosófica Brasileira. Seu aparecimento no mundo, além de
concordar com as mais antigas profecias, veio precedido de assombrosos
fenômenos, como se pode verificar por sua própria história publicada em seu órgão
oficial, a revista Dhâranâ, nome que em sua homenagem ainda hoje conserva o
nosso órgão oficial.
A mudança desse nome para o atual, Sociedade Teosófica Brasileira, instituição
independente e autônoma, por isso que genuinamente nacional, sob o ponto de vista
diretivo, missão, etc. - já que, filosófica e teosoficamente falando, defende, antes de
tudo, o mais sublime de todos os ideais, que é o da Fraternidade Universal da
Humanidade - a mudança do nome, dizíamos, teve

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por objeto erguer dos seus escombros a Sabedoria Iniciática das Idades, ou
Teosofia, degradada pelo mau uso que outros fizeram de seu inconfundível nome,
através, como já dissemos, de religiões absurdas, como se as já existentes não
bastassem; e degradada também pela criação dum "messias" improvisado ou
"aborto de Bodhisattva" e tantos outros enxertos, aplicados no corpo virginal-
porque não dizer? - da própria deusa Ísis, hoje por nós ressuscitada.
Digamos, porém, das grandes dificuldades para se reconhecer um movimento
dessa natureza se a própria ocasião, o mundo, etc., permitem outros .
completamente opostos, dado o fato de que a luz não se manifesta sem a sombra;
do mesmo modo que, para se reconhecer a verdade, mister se faz existir a mentira.
Verdadeiros balcões construídos pelos "vendilhões do templo" são esses onde
se procura mascarar a verdade sob os mais sutis e complexos artifícios, e a
maioria dos quais aparece com o rótulo de espiritualismo ... Nessas espécies de
armadilhas - semelhantes às usadas pelos pescadores e caçadores para apanharem
o pobre animal em busca de alimento - difícil é distinguir o real do ilusório; o
verdadeiro do falso. No caso vertente, ofereciam o pão espiritual, como o mais
precioso dos alimentos. Quando alguém passa por uma desilusão ou grande
sofrimento na vida, costuma dizer-se ter comido" o pão que o diabo amassou". E
deste ... o há por toda parte do mundo, e com fartura!
O mesmo se pode dizer quanto à escolha do livro que deve preparar a mente
para ensinamentos mais elevados. Quan tas vezes a pessoa escolhe justamente,
aquele que deveria ser lido por último! ...
Existe uma infinidade de livros que deveriam ser retirados de circulação pelas
autoridades competentes, pois cogitando-se de uma nova geração, de um futuro
brilhante para a nossa raça, influência enorme tem o livro sobre a mentalidade
dos jovens e, conseqüentemente, sobre a moral. E se tal exigência já foi feita em
outras épocas por aqueles que se acham espiritualmente à frente da humanidade,
muito mais razão há para fazê-Ia agora, quando se passa por uma verdadeira
transformação cíclica, durante a qual se tem de "separar o bom trigo do joio",
para não dizer, a proveitosa semente que há de um dia germinar e produzir bons
frutos.
Enumerar os livros que não prestam é trabalho difícil, porque seu número
ultrapassa o espaço permitido em uma simples anotação. Todo livro que, antes

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de causar o bestial sorriso que afiara no mental e incide na parte inferior do corpo
que o sente - já que nem todos coram de vergonha ao fazer tal leitura ... ípso-facto,
é um livro condenável a jovens e velhos. Muito pior, quando tais livros se
ocultam com a preciosa capa do espiritualismo. É assim um Kâma-Sútra, por
exemplo, cujo título é o primeiro a nos dizer do seu conteúdo - kâma, paixão e
sútra, livro, isto é, no plural, livro das paixões ou dos sentimentos baixos,
inferiores, etc. -, não condiz, nem ninguém deve tomá-Ia como tal, com os
sentimentos de amor e de pureza que transcendem de nossa MãeÍndia. E, assim,
julgá-Ia por ele seria o mesmo que condenar a nossa própria mãe por lhe ter saído
no corpo uma chaga. No caso em apreço, a que lhe abriu no corpo o mau filho ou
os maus filhos que escreveram semelhante livro.
Incompatível, igualmente, com a mentalidade do século se acha o pernicioso
Livro de São Cípríano, cujos processos nele ensinados são previstos nos códigos
penais de todos os países civilizados. É um crime de lesa-evolução a leitura de
semelhante livro e, muito pior, a realização das práticas no mesmo contidas,
quase todas para prejudicar o próximo, a menos que os seus leitores e adeptos
queiram figurar entre os da "enxurrada desse fim de ciclo, apodrecido e gasto".
Assim sendo, teríamos por nossa vez de excluir da linguagem comum os termos
civilização, civilizado, etc., desde que a eles sé teria direito uma elite
insignificante - à parte o ligeiro pleonasmo, porquanto, elite é qualidade e a
grande massa representa a quantidade, a borra, a escória, a sair dessa
transmutação racial, alquímica que se vem operando em nossos dias, embora nem
todos a percebam, pelas mesmíssimas razões anteriormente expostas.
Um outro livro também digno de fogueira: O Segredo da Esfínge. Nele a autora
deixa perceber os seus próprios sentimentos recalcados, através de eróticas
comparações entre as coisas do sexo e do divino. Tal livro representa, seglmdo a
nossa opinião, uma dupla afronta: ao Ocultismo propriamente dito - ou ao que de
mais profundo possui o espiritualismo, nesse caso, Teosofia - e à sociedade no
que de mais puro e esperançoso ela possui: a sua mocidade.
Existe, também, uma outra senhora, defensora do "amor livre" que, discutindo
sempre de Bíblia em punho - à cata, como protestante que é, duma explicação
satisfatória para sutilezas e futilidades desta natureza: se Jesus bebeu ou não em
uma taça, copo ou o que fosse; ou aquela momentosa questão, que durou perto de
quatorze anos de cerradas discussões teológicas ... para se descobrir se de fato
Jonas foi ou não engolido por uma baleia, acabando por ficar
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provado que "não, devido à sua estreitíssima garganta"". O quanta species,
cerebro non habet! ... - que, discutindo sempre de Bíblia em punho, dizíamos, só
se especializou em escritos dessa natureza: sexo, sempre sexo!. E ambas, por
ignorarem que todo misticismo exagerado redunda em erotismo! Trata-se evi-
dentemente de casos patológicos a serem estudados e corrigidos, visto que,
segundo as novas teorias médicas - velhíssimas, aliás, por já serem usadas no
velho Egito -, trata-se de algumas das glândulas de secreção interna, ou
endócrinas, em estado de hiperfunção ...
Um psicanalista, por mais insignificante que seja, pode avaliar do caráter,
tanto de quem escreve como de quem lê, pois, no que diz respeito ao último -
semelhante ao "dize-me com quem andas, e eu te direi as manhas que tens" -,
"mostra-me os teus livros, ou a tua biblioteca, e te direi quem és".
O mesmo se poderia dizer quanto à maneira de adornar, principalmente o
quarto de dormir... pois muita gente se contenta em devorar com os olhos - o
mental inferior, melhor dito - o que lhe não foi permitido sentir de outro modo".
Quanto a outro livro que acaba de vir a lume, intitulado Nostradamus, é mais
uma antologia do que propriamente dito Ocultismo, mesmo que caoticamente
denominado Ciências Ocultas. Mesmo assim, possui a inconveniente propriedade
de abrir o apetite aos incautos - os de mentalidade jovem ou "impúberes
psíquicos", pouco importa a idade -, nas condenáveis práticas de necromancia ou
Magia Negra, ali fartamente expendidas, como se fora uma segunda edição,
correta e aumentada, do prejudicialíssimo Livro de S. Cipriano.
E chega, pois, como dissemos, não é possível enumerar todos os livros pre-
judiciais à evolução espiritual de cada leitor, em uma simples anotação como
esta. Frisamos, sim, que procedendo deste modo estamos dentro do nosso pro-
grama, "em prol do engrandecimento físico, moral e intelectual de nossa raça,
combatendo o analfabetismo, os vícios e os maus costumes sociais, o fanatismo,
a superstição, a mentira e o erro, onde quer que se manifestem".
Aos místicos, entretanto, indicamos a leitura do mesmo Bhagavad Gftâ, como
uma das mais belas passagens do poema hindu, o Mahâbhârata; A Voz do Silêncio,
de H. P. Blavatsky; A Luz do Caminho e Idílio do Loto Branco, de Mabel Collins; A
Vida Superior ou Regras do Raja- Yoga, por Rajaram Tukaram, etc. E àqueles que
por acaso lendo este nosso livro não o apreciem por quererem continuar fiéis a
sua religião, recomendamos a leitura das vidas dos santos da

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Igreja, A Imitação de Cristo, etc., onde encontrarão exemplo eficaz para sua
própria conduta, uma vez que, seglmdo dissemos: "não é a religião que faz o
homem, mas o caráter".
Aos que o possuem tão digno como a sua própria estirpe superior, ou divina,
mas não tenham ainda os conhecimentos que os possam conduzir à meta desejada,
interessam todos os livros do inconfundível teósofo e cientista espanhol dr. Mário
Roso de Luna, a começar por La Esfinge, que é bem a introdução de seu
monumento literário, um dos maiores do mundo. A seguir: De Sevílla al Yucatán,
ou uma viagem ocultista através da Atlântida de Platão; El Tesoro de los Lagos de
Somiedo; De Gentes del Otro Mundo; El Libro que Mata a laMuerte o El Libro de
Los Jinas, que ele mesmo dizia ser a sua melhor obra, e onde tinha sempre o que
aprender; En el Umbral del Misterio; Simbología Arcaica; El Simbolismo de las
Relígiones del Mundo, etc. E para conhecer a vida de H. P. Blavatsky, do mesmo
autor: Una Mártir del Siglo XIX o Helena Petrovna Blavatsky. E, quanto a esta,
leiam-se seus dois monumentos literários: Ísis sem Véu e A Doutrina Secreta.
O mesmo Roso de Luna escreveu em 30 dias sua prodigiosa obra Aberraciones
Psíquicas del Sexo ou O Conde de Gabalís - tradução e comentários da célebre obra
do Abade Villars - na esperança de poder evitar os desastrosos efeitos que a leitura
de semelhante livro pudesse ocasionar em mentalidades jovens ou de impúberes
psíquicos, como ele mesmo as chamava.
Transcrevendo aqui alguns trechos de Aberraciones Psiquicas del Sexo não
fazemos mais do que procurar comprovar o que por nossa vez, acabamos de dizer
a respeito da leitura de certos livros que de há muito deviam ter sido banidos da
circulação.
É do seu prefácio:
"O ser humano acha-se crucificado no sexo, podemos dizer, desde que
nasce até que morre. Semelhante limitação orgânica é a causa principal de
suas lutas, de suas desditas, no decorrer da existência.
Há no diálogo O Banquete do Amor, de E. Gomes de Baquero, uma pas-
sagem onde se transcreve estranha mitologia que fez caminho pelo Oriente e
ressuscitou no ocultismo moderno. É aquela em que ... Aristófanes descreve a
Humanidade como tendo tido, outrora, uma forma diferente da que conheciam
os gregos. Compunha-se ela de homens duplos de três clas-

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ses: uns, varões, outros, fêmeas e outros, misto de varão e mulher: os
andróginos. Tais homens, que eram como uma sólida parelha de irmãos
siameses, foram fortes e audazes. Conceberam o projeto de escalar o céu -
donde a Igreja copiou a Torre de Babei, com seu conseqüente castigo da
confusão das línguas - para lutar com os deuses, tal como acontecera, em dias
mais remotos, com os Titãs. Júpiter quis castigá-los, faltando-lhe porém
coragem para aniquilar tão soberba classe e também para não privar o Olimpo
do culto e dos sacrifícios que os mesmos lhe prestavam. Adotou um termo
médio: dividiu os homens duplos em duas metades, às quais Apoio deu os
necessários retoques a fim de os tomar mais perfeitos. Foi quando nasceram as
atrações do amor, as naturais e as que o homem normal considera aberrações -
fIa falta de ortografia" a que se refere Anatole France -, pela nostalgia de cada
um pela sua metade perdida - como uma das chaves mais grosseiras dos
'cavaleiros em busca de sua dama', a alma irmã, dos poetas, etc."
Os teósofos modernos citam os andróginos platônicos como reflexo da
antiga tradição esotérica de uma afastada raça bissexuada, tal como indica um
versículo do Gênese - 'macho e fêmea o criou', embora com uma explicação
mais simples, que não foi dada por falta de conhecimentos mais profundos -,
dentro da exegese bíblica, como expressão abreviada da criação da parelha -
forma dual, casal, etc. - primitiva, em a narração em que foram copiadas as
duas versões, eloísta e jeovista.
Não realizada, entretanto, a emancipação do crescimento, da vida intra-
uterina à puberdade, o sexo alcança, plenamente, com esta, seus tirânicos
direitos. É o que, acompanhando Freud, o dr. Maranon afirma, por sua vez, em
suas diferentes obras - Amor, Conveniência e Eugenesia, Os Estudos
Intersexuais na Espécie Humana, Madri, Morata, 1929 -, quando diz" que a
vida começa a cobrar semelhantes direitos muitos anos antes, fixando a idade
de cinco anos como os pródromos da sexualidade".
E logo que o sexo começa a impor seu categórico imperativo orgânico, e
também psíquico, nunca mais o perde. Em resumo, quando o homem está em
idade mais avançada, como também no fenômeno da menopausa a mulher, o
sexo descamba, de modo estranho, para diversas espécies de misticismo, que a
Ciência está bem longe ainda de conhecer. É a ferida de Amfortas no Parsifal
de Wagner, a chaga terrível, difícil de curar, a eterna propulsora de grandezas
e de loucuras, de heroísmos e de crimes, de sonhos, de esperanças e desilusões
protéicas; da arte, em suma, da História e da Vida!

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A crucificação no sexo e pelo sexo não se manifesta apenas no homem.
Dela compartilham os animais, se é que, em si, não representa ela a caracte-
rística animal de sua complexíssima contextura, à guisa da simbólica flor de
lótus com as suas raízes no fundo do lago; seus talos emergindo das águas
tranqüilas; suas folhas estendendo-se, verdes e louçãs, nos ares, e suas flores,
alegria de nossa vista, saturando de fragrâncias todo o seu redor.
A Idade Média, na noite de sua ignorância, não foi muito além no problema
do sexo, até que apareceu o sábio Lineu, surpreendendo o mundo com a
revelação do sexo nas plantas e vendo nas flores - o maior encanto da natureza
animada, depois da mulher - um tálamo de amor, o cego amor vegetal! tálamo
em que, sobre o cálice floral - cálice, ou taça, havia de ser em dores e
amarguras! - masculinos estames e femininos pistilos uniam-se sublimemente
no policrômico seio da corola circunvaladora, para dar nascimento à semente,
como futuro germe de outras plantas análogas, querendo opor-se, com a sua
continuação indefinida sobre a Terra, à destruidora ação da Natureza,
realizando, assim, mais uma vez, o conhecido aforismo de que o amor é maior
do que a morte e que, Mors-Amor, Morte e Amor - como título genial da maior
das obras de d. Juan Valera - são os dois pratos da balança da Vida, cuja
oscilação eterna, que muito possui do fluxo e refluxo das marés, concorre para
manter a economia do Universo, fazendo com que a Morte vença o homem, e
seja, por sua vez, venci da pela Espécie, que é o verdadeiro sentido do que
pretendiam dizer os velhos hindus, através do simbolismo da eterna luta do
Brahmâ criador - Brahmâ não é um Deus, como vulgarmente se pensa, mas o
Germe, da raiz sânscrita brig, crescer, estender-se, propagar-se, etc. - e Shiva, o
destruidor, ou antes reformador, para novas criações ... "
E mais adiante:
"Muito tem ainda que estudar a Ciência a respeito do mistério do sexo na
Natureza, não se limitando apenas a animais e vegetais, além do homem, mas
estendendo-o a tudo quanto nos cerca, minerais, átomos, moléculas, células e
astros - os próprios cometas, dizemos, não possuem outro papel na construção
dos universos, etc., como se pode admirar, mesmo a olho nu, através, por
exemplo, dessa poeira cósmica, representada pela Via Láctea, que tanto vale
por espermatozoários, ejaculados - perdoe-se o fermo - pelos referidos astros
errantes, embora que hoje, palpitantes de vida, estejam passando por uma outra
transformação, independente dos mesmos astros -, ao estudo do sexo Universal
a Chave Mestra dos grandes

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segredos do Cosmos, porque, se o sexo, em si, é limitação, a união dos sexos
contrários é propagação indefinida: a finitude da dualidade vencendo, com a
sua recíproca penetração, o Infinito.
Porque orgânica e filosoficamente, o fenômeno da união sexual não é mais
do que a cessão que o elemento chamado masculino faz ao feminino, de algo
que aquele possui e de que este carece, razão pela qual a sabedoria da
Linguagem, a filologia - outra das chaves preciosas do Mistério que nos cerca
- denominou ao referido fenômeno, de comércio sexual, na mesma razão do
fenômeno comercial, nascido com a humanidade em forma de permuta ou
cessão de algo que se possui e dele se não necessita - ou antes, estorva,
incomoda, prejudica, etc., por sua abundância -, em troca de algo de que se
carece. E, assim, essa troca do que se tem, pelo que se não tem e se deseja, é
comum a tudo quanto existe no universo, constituindo, por isso, a mesma
essência da Vida, que é precisamente Vida pelo Sexo.
Destarte, a própria Química não vem a ser outra coisa senão o estudo do
sexo em moléculas e átomos. Se a Filogenia e Ontogenia nos ensinam que a
vida terrestre nasceu no mar, isto é, da água - não esquecer que no fenômeno
dos 5 tattvas ou forças sutis da natureza, apas ou água se acha antes de prithivi
-, a Química moderna já comprovou a existência de tal princípio que, na
presente obra, não nos é possível, cientificamente, desenvolver, ou seja: de
que todas as reações químicas produzem água ou decompõe água; ou,
finalmente, quando esta não se apresenta, por falta de algum dos seus
componentes, colocam os elementos da reação em condições de produzir água
ou decompor a água em uma reação posterior. Caso típico, por exemplo, o do
tricloreto e o pentacloreto de fósforo, que se combina com enorme energia, e
logo que se apresenta a água, decompõe esta, formando os ácidos fosfórico e
clorídrico.
Assim, se a água é a mãe e águas-mães são chamados os resíduos da
cristalização por via úmida, a água é, por sua vez, o filho em toda a reação de
ácidos e bases para formar o sal - união dos resíduos, ligaduras post-cópula,
como se poderia dizer, o que não é estranho, algumas vezes, no reino animal-,
sendo, além disso, a água o protótipo do androginismo químico, porque,
embora o voltâmetro decomponha a sua molécula em um átomo de oxigênio e
dois de hidrogênio, a verdadeira rotura da água nas reações a torna em duas
partes: uma, de um átomo de oxigênio (O), que age nas reações à guisa de
elemento ácido, e outra de uma oxidrila (OH), que, por sua vez, age como
elemento básico, tornando-se assim a

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água, por seu (H) hidrogênico, o último, o menos ácido dos ácidos, e por
seu (OH) oxidrílico, a primeira ou a menos alcalina das bases, o que, com
seu maior calor específico, é a causa da decisiva importância da água na
Natureza".
E tudo isso para demonstrar que o fenômeno sexual, vivendo em tudo e em todos,
não é um prazer mas uma necessidade fisiológica, que o vulgo prefere pagar a bom
preço, arruinando sua vida, física e moralmente, por não aceitar o sábio conselho
latino do uti, non abuti -"use, mas não abuse" ou "usar e não abusar" -, o que deve ser
aplicado a todas as coisas da vida - donde a indigestão por comer em demasia; a
embriaguez por fazer uso exagerado do álcool... e assim por diante. Por isso nenhum
outro remédio há melhor para as pessoas, mais consentâneo com a própria Natureza,
do que o matrimônio, ao qual nós mesmos já cognominamos amor a uma dimensão,
ou antes, "número um", na razão apenas da esposa. Assim o exige não só a moral
como a razão. Fora disso, o crime, a doença, a morte.
É por isso que o mesmo autor diz mais adiante, na referida obra:
"Micróbio moral algum existe que ataque tão diretamente a santidade do
Sexo como a má literatura, tão em voga no mundo, desde as cruezas de As
Mil e Uma Noites -: árabes, não as Mil e Uma Noites primitivas, ário-hindus,
hoje perdidas e que de cuja grandeza só podemos ter conhecimento através
das traduções cruamente feitas para o francês pelo dr. Mardrus e para o
castelhano, pelo nosso Blasco Ibáfiez - dizíamos, desde As Mil e Uma Noites,
até a obra do abade Villars, que vamos comentar através de toda essa
literatura medieval conhecida com o nome genérico de literatura picaresca
e hoje continuada, através de Iamentabilíssimo êxito, por escritores
colocados nas primeiras fileiras; por isso mesmo, procurando semear, com
as pétalas de rosa do seu primoroso estilo, a esterqueira da mísera realidade
que deveria ficar em silêncio, em honra da própria Verdade, já que elas, por
sua vez, representam uma verdade animal e não humana verdade. E isso, no
sentido de sublime ideal literário que, voando a imensas alturas, não
procurasse alcançá-Ias - como o zangão, em busca desse mesmo amor
animal, ou seja, atrás da abelha, amor esse que dentro em pouco a vida lhe
há de custar ... - justamente por sua própria elevação, já que a verdadeira
Arte deve encontrar-se sempre muito acima da realidade, melhor dito, dos
crus realismos que não são mais do que uma parte mínima e inferior
daquela Realidade, tal como para a Terra o estão os mesmos sóis do
firmamento ...

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Nesse ponto de vista, o conde de Gaballis possui inúmeros precursores,
do mesmo modo que fiéis continuadores".
Haja vista, para terminar tão longa anotação, um pseudo rosa-cruz que, por
felicidade, foi banido de nosso meio, pois, além de suas obras representarem o que
de mais indigno possui a Magia Negra - a aplicação dos hormônios, por processos,
digamos, etero-psíquicos, que tanto vale por imoralíssima vampirização -, trazia
missão mais séria para o Brasil...
Em resumo, para que o leitor possa fazer um juízo a respeito do autor de
Aberraciones psíquicas deZ sexo e de um número vultoso de obras que nenhum
outro seria capaz de produzir, transcrevemos aqui as palavras do escritor espanhol
sr. Waldo A. Insúa, como prefaciador de A Humanidade e os Césares, obra que, por
muito bem se ajustar à época atual da humanidade, convidamos o leitor a adquiri-Ia,
como preciosa jóia literária que deve figurar na sua biblioteca. Eis as palavras de
Waldo A. Insúa, dirigindo-se a seu amigo Roso de Luna:
11 Senhor dom Mario Roso de Luna
Meu querido amigo: Bem sabe Você que estou enfermo já há muitas
semanas e que não vejo meios de me curar de tão dolorosa moléstia.
Tal coisa me impede satisfazê-Io, como era meu desejo - acedendo a
seu pedido, que tanto me honra - de escrever o prólogo de seu novo livro
A Humanidade e os Césares.
Entretanto, que poderia eu dizer em tal prólogo que já não figure nos
títulos sugestivos de seus capítulos, como síntese maravilhosa das teorias
históricas, que V. assinala, audazes e revolucionárias, como tudo que sai
de sua pena forte e renovadora?
Quantos o conhecem - e são milhões os seus leitores - sabem que V. é
um dos nossos pensadores mais profundos, um dos nossos sábios mais
eminentes, um dos nossos oradores mais eloqüentes, algo que compendia
todas as cifras do talento e do gênio, em uma resultante que é algo mais do
que o gênio: o vidente.
Agora, porém, saberão todos eles, quando passarem os olhos pelas pá-
ginas de seu livro, que V. é, também, um historiador que não necessita das
fontes de Heródoto, nem dos antecessores de Tácito, para construir um
verdadeiro período histórico que, abarcando todas as idades - das mais
remotas às mais modernas - procura demonstrar que, em todos os tempos,
houve sempre homens-césares, sedentos de poder, riqueza e domínio, e

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homens-livres, que trabalharam silenciosamente para destruir esse tríplice jugo
de escravidão e assegurar às raças e aos povos sua liberdade e autonomia
individual.
Caiu o poder persa, como o egípcio, e já antes, caíra o indostânico, como, do
mesmo modo, caiu - envolvido em mágica catástrofe - o atlante.
Alexandre sucumbiu para que sucumbisse seu poder, como o orgulho de
Augusto foi maculado com a morte vergonhosa de Constantino XIII, ao
entregar ao árabe Maomé II, a bela Istambul.
O império alemão, lutando com os sucessores de São Pedro, durante séculos,
claudicou em Canossa, diante do Pontífice Gregório VII.
Que mais ainda? Nos dias de nossos avós, abatido foi o poder de Bonaparte
que, por algum tempo, julgou-se um novo deus, senhor do planeta Terra.
De todos esses poderes, levantados e caídos - tendo por base o sangue, a
ignorância, a miséria e a dor da humanidade - expressa V. em seu livro, com
verbo inflamado e entonação de santo reformador e austero, julgando-os como
devem ser julgados, isto é, que nenhum poder que vá de encontro à lei humana
que é a lei do mistério prevalecerá nem terá firmeza na Terra.
Este outro moderno poder que nasceu na Rússia e se alimentou e criou na
pátria de Goethe, morrerá também por lei de Deus - do Deus que repele
semelhantes poderes - e por virtude do esforço humano, que não deseja voltar
aos tremendos dias do feud.alismo, que tanto afligiram as gerações mortas, e
ainda fazem estremecer as vivas.
Querido Rosa, eu que tanto o admiro e e:3tlll\O, por sábio e bom que V. é,
não posso, infelizmente, dizer de seu livro o que tanto quisera dizer, pois, para
tanto, precisava estar bom e dispor de bastante tempo, a fim de poder fazer um
resumo de sua doutrina.
Pode ficar certo de ter produzido algo que não morrerá como morrem os
poderes na Terra alicerçados pela força, e que sua nova ciência histórico-
filosófica pode rir dos sábios possuidores de rótulo oficial, e dos gênios da
Academia - cujo valor conhecemos - pois que a sua é a ciência de um futuro
próximo.
Seu amigo e admirador mui sincero: Waldo A. Insúa
Madri, 21 de maio de 1916.

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Erro grave, pois, é afirmar que o discípulo pode palmilhar, só, a Vereda da
Iniciação, inclusive nas mal interpretadas teorias krishnamurtianas que, além de
concorrerem para uma debandada quase geral nas fileiras teosóficas, abso-
lutamente estranhas ao assunto, trouxeram outros inconvenientes mais graves,
todos eles dentro de uma liberdade de pensame.nto e de ação, que a própria Lei
proíbe, desde que tangenciadas para o lado inferior dos sentimentos humanos,
para não dizer puras exigências passionais, por partirem da alma animal, ou eu-
inferior, quase sempre tomado como voz interna ou Eu Superior, divino, etc.
Conveniências pessoais, mui propositadamente mascaradas com o verniz da
espiritualidade, para que se possa dar largas ao baixo instinto, mesmo que nem
sempre conscientemente, porque isso seria um crime, mas levado por esse
misticismo erótico, mui comum nos que preferem não equilibrar as duas conchas
da balança, com os nomes: Doutrina do Olho - da inteligência, da mente,
sabedoria, portanto - e do Coração - do amor ou fraternidade que deve existir
entre todas as criaturas.
E quanto aos tais poderes psíquicos, que é o engodo da maioria - nesse
criminoso egoísmo de querer suplantar os demais, se não, dominá-Ios como se
fossem feras diante do seu domador ... fazê-Ios curvar diante de uma prepotência
tola e absurda, desde que somos todos filhos de um Pai comum, provindos da
mesma origem -, por felicidade, nem um só conhecemos portador de tais po-
deres, a não ser os mesmos Adeptos que, diga-se de passagem, só os apresentam
àqueles que se fizerem dignos de semelhante privilégio.
Do mesmo modo, a tal mediunidade espírita, na maioria dos casos, peca por
inverídica, desde que o mesmo Kardec afirma:" de cem comunicações, noventa e
nove por cento são falsas". Ademais, o mesmo termo médium implica em sujet,
paciente ou passivo, para um ativo ou operador, pouco importa se encarnado ou
desencarnado.
Médiuns devemos ser todos, como mediadores entre o mundo superior e o
inferior ou humano, de nosso próprio Eu, nosso Cristo ou Deus. Mas nunca, em
doentia passividade, para influências externas, todas elas, sem exceção alguma,
perigosas para nossa própria evolução.
Já dissemos alhures: "Não se escreve sobre a campa dos nossos mortos que-
ridos a frase latina requiescat in pace, para sermos os primeiros a perturbar a

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sua paz, a sua tranqÜilidade, ou antes, sua nova missão, em um mundo aliás bem
perto do nosso ... " Mundo, sim, que bem poucos conhecem, sem o que dele não
abusariam a ponto de mistificarem - como fazem muitos - ou fingirem que estão
apoderados de um dos seus habitantes, o que não deixa de ser um engano, ludíbrio,
etc., a si mesmo, e como tal, sérios obstáculos para sua evolução.
Tal como a bruxa que, voluteando em torno da chama de uma vela, acaba por
queimar as asas e, finalmente, ocasionar a sua morte, assim os que, desconhecendo
os perigos do mundo astral, ousam invadir os seus domínios sem conhecimentos
prévios e, muito pior, os que passam o tempo a divertir-se com ele pelo simples
prazer e vaidade de se fazer passar por médium. Cedo ou tarde chegará o
desengano!
Já tivemos ocasião de dizer, em nosso estudo publicado no nº 73 de Dhâranâ,
capítulo VI - O Espiritismo no Ocidente - de A Minha Mensagem ao Mundo
Espiritualista , hoje com algumas modificações:
"O genial teósofo Raso de Luna termina a sua obra Ei Libro que Mata a ia
Muerte o Libro de ios finas com estas palavras:
"Quanto .ao Espiritismo, doutrina tão repreensível no emprego da
mediunidade provocada como respeitável em sua filosofia e manifestações
espontâneas através da História, é um repositório de fatos jinas - fenôme-
nos maravilhosos ou de procedência astral, dizemos -, dignos de um estu-
do científico imparcial, segundo insinuamos ou esboçamos entre os inú-
meros apontados nesta nossa obra.
De fato, as manifestações espontâneas, segundo seu próprio título, não
se sujeitam a artifícios grosseiros, nem tampouco às sugestões naturais do
ambiente das sessões espíritas: a luz mortiça, a corrente magnética
estabelecida em torno de uma mesa, pela assistência, o presidente e os
próprios médiuns; à expectativa ou anseio para que se apresente um ser
qualquer do astral, algo assim como o pescador que lança a rede sem
poder avaliar da espécie ou qualidade dos peixes que na mesma vão ser
colhidos. Repetimos, as manifestações espontâneas de nenhum modo
podem ser condenadas, pois são sempre feitas a pessoas privilegiadas -
principalmente por seu caráter superior, pureza de vida, etc. - e em mo-
mentos aflitivos da existência, quando o espírito se acha completamente
alheio às coisas do mundo ... "

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Mais adiante, dizíamos ainda:
"O que não se pode negar, entretanto, é que a magia negra infiltrou-se por toda
parte, embora em certos lugares mais do que em outros. Raros os que" escapam ilesos
dessa horrível pandemia - como outras coisas mais - resultantes desse ciclo em franca
decadência, para o dealbar de um outro, portador de melhores dias para o mundo.
Quanto ao que se refere ao nosso país, o grande mal teve sua origem quando os
portugueses começaram a dar caça aos negros, no início do século XVII, embora
que obedientes ao misterioso fenômeno da fusão monádica ibero-afro-americana,
no que diz respeito à sétima sub-raça ária; como a anglo-saxônia-americana, para a
sexta.
E o mal agravou-se com o próprio Espiritismo, por não se terem tomado a
tempo as providências capazes de evitar que o africanismo viesse aumentar o
pesado lastro da condenável prática - pois que, a teórica, que é a filosófica, só
merece os maiores encômios -, como aconteceu.
As levas de negros que vieram para o Brasil procediam da África super-
equatorial e meridional ou antes, sudanesa e bantu.
Dos sudaneses figuravam os Jalofas, Mandingas, Fulos, Haussás, Nagôs,
Achantis e Gêges, mui especialmente no estado da Bahia, todos eles, atraídos para
essa espécie de magia: a feitiçaria, donde o próprio termo mandinga, proveniente
de uma das referidas levas.
Entre os bantus figuravam os Angolas, Congos ou Cabindas, Benguelas,
Cassanges, Bángalas ou lnbangalas, Dembos, Macuas e Angicos, nos Estados do
Rio, Minas e São Paulo, bem como em Pernambuco e Maranhão, sendo que estes
mais chegados ao batuque, à capoeira, ou seja, a uma espécie de iniciação para a
luta, por meio de artifícios, passes enganadores ou ilusórios - maiávicos ou de
Mâyâ ... - para vencer o inimigo, etc.
Tal como foi dito no capítulo anterior, nenhum povo da Terra se acha mais
próximo dos lemurianos do que os de certos lugares africanos, embora que para o
Brasil tivessem vindo muitos negros hoje por todos nós lembrados como amigos
dos seus senhores e de uma fidelidade e dedicação a toda prova. Foram os mesmos
que nos embalaram na infância, que nos faziam rir com as suas grotescas
palhaçadas, em resumo, até hoje lembrados, num misto de saudade e de gratidão,
mui especialmente pelos brasileiros de mais de meio século de vida.
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Aos poucos foram desaparecendo, e, se existem ainda alglills, o número deve
ser insignificante. Deles descendem diretamente os nossos crioulos. E esses, não
podiam deixar de herdar, com algumas exceções, as "tendências" de seus pais.
Disso há uma prova bem frisante: as macumbas ou candomblés mantidos, até
hoje, em todos os estados do Brasil, de preferência nos morros e nos subúrbios;
devendo-se notar do mesmo modo que, se naquelas levas havia "pretos de alma
branca", nos candomblés de hoje existem "brancos de alma negra", porquanto a
maioria deles é dirigida por brancos, alguns até portugueses, na razão
involucional do "mestre que se faz discípulo", pois foram estes que deram caça
àqueles, nos dolorosos mas exigidos tempos da colonização. Na arte da capoeira
até hoje existem vários "mestres". Com vistas aos morros da Favela, do
Salgueiro, do Pinto, etc.
Quanto ao resto, observem-se os diversos termos que se fizeram bem nossos e
concorrem para a modificação da linguagem de um Estado para outro. Dentre
eles: urupemba, que é a mesma peneira; aripé, para alguidar; angu, pirão de
farinha cozida, porém mole; acaçá, angu de milho branco ou amarelo; aberém, a
mesma coisa que fermento; acarajé, bolinhos de feijão miúdo com azeite de
dendê; abará, a mesma coisa, mas cozido e não frito. O acaçá, de ambas as
qualidades, é até aconselhado nas convalescenças pelos próprios médicos, pcr ser
muito nutritivo.
Entretanto, são usados apenas nos famosos despachos que, para vergonha
nossa, são encontrados nas encruzilhadas das principais artérias.
Na América do Norte, onde houve também a escravatura negra, o africanismo
tomou certas modalidades que nada se parecem com as usadas até hoje no Brasil,
por alguns descendentes diretos dos negros, e quantos ficaram fiéis a semelhantes
demonstrações de verdadeiro selvagismo, embora que os civilizados façam a
mesma coisa de modo mais suntuoso ... As próprias religiões possuem suas
medalhas, amuletos, santinhos, etc., em substituição à patinha de coelho, ao dente
da cascavel, à figa, que, aliás, os brancos também usam, de azeviche, encastoadas
em oiro de lei. O próprio jazz e essas danças e cantos exóticos, que tanta gente
aprecia em lugar dos clássicos, possuem a sua origem no africanismo".
Vejamos agora a notícia publicada em certo jornal de Nova Y ork:
"Não há muito, esta cidade encontrava-se abalada pela selvageria de

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56
um novo e sangrento culto: o Vudu. Os fanáticos pertencentes a este culto
infernal dispunham-se a brindar seu misterioso deus com uma vítima hu-
mana, na pessoa de Rose Parrell. O culto vudu é de origem negra, porém,
praticado em Nova York pelos brancos que viviam em uma casa de vários
andares, do número 18 do Park Street.
Miss Rose Parrell fora certa tarde à referida casa para visitar uns
amigos que viviam no último andar. Quando se retirava, descendo as
escadas, ao chegar ao segundo andar sentiu que uma porta se abria
cautelosamente e que várias sombras se atiravam sobre ela, impedindo-a
de proferir o mais insignificante grito de alarme.
Pouco depois, a jovem era arrastada para um quarto iluminado por um
lampião de querosene. Aterrorizada, a infeliz gritou por socorro, porém
nenhum dos presentes fez o menor movimento. Duas pessoas - Joseph
Muc e sua esposa que eram os encarregados do sacrifício - uma parelha ou
forma caótica de um andrógino divino ... - , começaram a praticar
ferimentos em diversas partes do corpo da jovem. A esta altura, Miss
Parrell gritou com mais força, enquanto as outras pessoas procuravam
abafar a sua voz, cantando e dançando loucamente - se não era, ao mesmo
tempo, dizemos nós, o canto ou mantra para fazer baixar o deus, o santo,
etc. Quando Joseph Muc e sua esposa se dispunham a cortar os cabelos da
pobre moça, a porta abriu-se violentamente para dar passagem à polícia. A
quase sacrificada foi encontrada inanimada, junto de grosseiro altar
enfeitado com folhas de bananeira".
Já agora é duma aldeia portuguesa que nos chegam notícias de ter sido queimada
uma pobre senhora, na presença dos próprios filhos, que choravam diante de tão
horrível quadro, por amigos seus que, julgando-a possessa, e supondo ser aquele o
único meio de expulsar o mau espírito - como, entre nós, famoso centro de
"espiritismo científico" aplica surras tremendas nos obsessionados, razão pela qual é
muitas vezes visitado pela polícia, mas ... desgraçadamente, continuando seu
"nobilíssimo afã" de doutrinar e curar pobres vítimas do mesmo baixo espiritismo,
sem esquecer de possuir, bem em sua frente, o respectivo ervanário, onde as vítimas
levam nova surra, porém na extorsão dos seus minguados recursos ... -, mas,
dizíamos, julgando que tal processo não mataria a pobre mulher - com certeza por
conselho de alguma segunda edição do Livro de S. Cípríano, que incute muitas
asneiras no espírito da gente inculta, inclusive a de que "o possuído pelo demônio

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não sente o fogo! as feridas que se lhe façam no corpol/ ... -! nenhuma comoção
sentiam diante do atroz suplício.
Os nossos próprios jornais publicam um telegrama! proveniente de São Paulo -
ed. de 25.4.938 de O Globo -! noticiando a prisão de um macumbeiro que! além de
exercer a medicina e a cirurgia! chupava o sangue de jovens! o que fazia depois de
1/

praticar pequenas incisões nas pacientes! aplicando-lhes! depois! beberagens em que


entrava fel de boil/. O telegrama tinha por cabeçalho a fotografia do espertalhão ao
lado de uma das suas vítimas e objetos do cultol/ ... á Magia Negra.
1/

Citaremos aqui alguns trechos do artigo As enfermidades dos médiuns e perigos


que correm! da autoria de George O!Bourke! que publicamos no nº 71 de Dhâranâ, a
pedido de seu autor.
I/Em algumas importantes localidades das Antilhas - Centro e Sul da
América! e também na África e na Ásia! esta última muito mais perigosa
que todas juntas - chega-se à monstruosidade de desenvolver! como mé-
diuns! a infelizes crianças! deixando-Ihes em germe um ciclone vital que
as arruinará para sempre.
Uma das formas que caracteriza aos feiticeiros - com exceção dos
núcleos dedicados a curar - em sua maneira de atuar é o baile circular! em
grupos! acompanhados de cantos - aqui! como lá ... - que nada mais são
que evocações às suas más entidades protetoras! as quais se vão
apoderando! pouco a pouco! de todos os bailadores! e ao que donominam
eles de subir-Ihes o santol/ - novamente, tal como entre os nossos
macumbeiros.
Onde está a verdadeira monstruosidade! porém! é no utilizar-se crian-
ças em tais bailes! pois o que pretendem e acabam conseguindo! enfim! é
ligá-Ias às suas abomináveis práticas e, desse modo, prepará-Ias como ins-
trumentos futuros de maldades e até de crimes. Tais crianças, logo desen-
volvidas! serão de fato a massa principal dos magos negros! num futuro
bem próximo.
No baixo espiritismo ou aquele que entre nós possui o nome de macum-
ba! candomblé! etc. - desgraçadamente tão em voga em nosso país! como
já dissemos! com a proteção e assistência de muita I/gente final/! adeptos
do lêmuro-atlantismo decadente, chamanismo ou cananismo, canibalismo
e quantos termos procedem de Can, a raça negra! que para aí se encaminha
com fins que não honram a ninguém - quando um dos bailadores! homem

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ou mulher, é apoderado, diz-se também que "o santo baixou" - como no
próprio espiritismo: "o espírito baixou", etc. -, não havendo portanto nenhuma
diferença entre o que se pratica nas Antilhas e entre nós, a não ser os nomes
de tais santos; tudo o mais, isto é, o canto, a roda, os "despachos", etc., são
iguais.
Interessante, porém, que os nomes de tais santos são os mesmos da Igreja,
aliás como acontece em quase todos os centros espíritas, cujos protetores são,
quase sempre, Antônio de Padua, S. Francisco de Assis e outros mais,
inclusive, Teresinha do Menino Jesus, mesmo que antes de a Igreja a ter
canonizado não conhecesse ela os caminhos ou estradas astrais, que deveriam
conduzir seus passos para tão famosos centros, que não querem de modo
algum ser chamados de baixo espiritismo.
Sob essa capa grosseira e criminosa do africanismo existem reminiscências
das verdades primitivas, que se não encontram quer na Igreja quer nos centros
mais afamados do Espiritismo.
Conforme já dissemos, os Dhyân-chohâns, os Espíritos Planetários são os
mesmos Arcanjos da Igreja, sete, aliás, como sete é toda manifestação divina.
Pois bem, as linhas dos santos da macumba também são sete. Haja vista, na
de S. Jorge: Ogum (como chefe), Ogunié, Ogum-teché, Ogum-naí, Ogum-tab,
Ogum-leb e Ogum-dá."
E não terminam aí as reminiscências iniciáticas do passado.
São Jorge, como já explicamos em outros estudos, é uma seglmda edição do
Perseu e Andrômeda rrútológico e até do Sosiosh persa, o Maitréia transhimalaio
e do norte indiano, redentor do mundo, ou melhor dito, símbolo dessa redenção. O
mesmo representa todos esses cavaleiros de capa e espada ou lança, sempre em
busca de uma dama aprisionada em seu palácio; quando não, ameaçada de ser
devorada por um dragão, como os mesmos mitos de S. Jorge e Perseu. Cerv ''1tes,
no seu famoso D. Quixote, criticando a cavalaria antiga, sem o saber penetra nos
reinos da iniciação, quando faz o Cavaleiro da Triste Figura correr em busca de
sua dama, Dulcinea deI Toboso, e, para alcançá-Ia, embora só existindo em sua
mente doentia, tem que lutar - como essa pobre humanidade, em busca de falsos
ideais, que não o verdadeiro da Teosofia contra moinhos de vento, fantásticos
rebanhos de ovelhas, etc. Mas, em verdade, essa busca ou procura é como a dos
argonautas, para a aquisição do Tosão

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de Oiro, o fio ou colar de Sutrâtman, que une a alma ao Espírito, o eu-inferior ao
Eu-superior, etc. O mesmo, quanto a Prometeu acorrentado no Cáucaso, cuja
imagem simboliza essa llÚsera humanidade algemada nos grilhões da
incontinência a que a obriga seu próprio cárcere, ou Cáucaso, carnal.
E como tal redenção ligada se ache ao mesmo Sétimo Princípio teosófico,
Princípio átmico ou crístico - já falado em outros lugares deste estudo -/ que é o
estado máximo de Consciência que se pode alcançar na Terra, desde as mais sutis
ou delicadas lendas e iniciações de um passado distante da História até o falso e
grosseiríssimo africanismo de hoje, ele transparece aos olhos daqueles que sabem
descobrir "por baixo da letra que mata, o espírito que vivifica".
E assim, Prometeu encadeado espera por Epimeteu libertador, na tragédia de
Esquilo. A Bela Adormecida no Bosque - como também, Branca de Neve e os Sete
Gnomos / e não anões, como erroneamente se diz, obrigando-nos a um longo
estudo nesse sentido - espera que o Príncipe Encantado a venha despertar do
letargo a que chegou por haver comido a envenenada maçã - o fruto proibido -
dada pela fada má ou rainha, tal como a Magia Branca recebe da Magia Negra
toda sorte de ataques e perseguições.
Na mitologia, Psyche - Psichis, a alma - anda em busca de seu bem amado, ou
seja, o Espírito. Dessa união llÚstica ou eucarística nasce o Homem Perfeito,
Superior, por isso que Adepto, vitorioso ou redimido por suas próprias mãos.
Vejamos outros santos do africanismo relacionados com os da Igreja e também
adotados pelo Espiritismo.
Oxalá - nome que, como tantos outros de sufixo al: alfinete, alfinin, almofada/
etc., foi trazido para o nosso idioma no século IX, quando da civilização árabe na
península ibérica, e significa "se Deus quiser", "praza aos céus", "praza a Deus",
etc. - é o famoso Senhor do Bonfim da Bahia, um dos estados brasileiros onde
mais predominou o elemento africano, embora que ao próprio Deus dos cristãos
eles dêem o mesmo nome. Amanjá é, ao mesmo tempo, a Mãe D/ água e a Virgem
Maria.
Nesse ponto de vista, o africanismo está mais próximo da verdade do que a
própria Igreja, porquanto Maria vem de mare, o mar, como um símbolo positi-
vamente lunar, apásico ou aquático, na mesma razão da Vênus mitológica, nascida
das espumas das águas, e a deusa hindu Nârâyana, por sua vez, vogando sobre as
águas.
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Maria é, ainda, uma corrupção do termo sânscrito mâyâ, ilusão dos sentidos. E
a prova é que todas as mães dos grandes Iluminados, inclusive a de Yeseus
Krishna, que viveu no ano 3500 antes de Cristo, possuíam tal nome, embora que se
lhes desse também o de Devaki, como feminino de Deva, ou Deusa, como
feminino de Deus. O mesmo se deu com a de Gautama, o Budha, e tantos outros.
Logo a seguir vem outros santos, como sejam: o padroeiro desta nossa
Sebastianópolis; o de São Lázaro, Santa Bárbara, respectivamente, como Abaluaê,
Xangô, Oxumarê, sem falar no diabo - "o senhor das encruzilhadas", embora a
tradição nos diga que o diabo teme a cruz, nesse caso para o obrigar a obedecer aos
mágicos valores da farofa amarela, do galo preto, dos alfinetes e outros ingre-
dientes que já deveriam ter morto, mil vezes, os pobres garis, cujo penoso mister é
o de fazerem o asseio da cidade ... -, ao qual se dá o nome de Exu.
Os próprios pais de terreiro possuem o nome Ogam, que lido anagramaticamente
é o mesmo mago, ou aquele que pratica a magia, pouco importa se branca ou negra.
E com todos esses santos e linhas já se diverte o Espiritismo, chamando-as, tal
como os macumbeiros, de linhas de Um banda, pois que existem também as
silvícolas, cujos processos ritualísticos variam dos primeiros, quer nos pontos quer
nas oferendas.
E assim, para as de Umbanda: Pai João, Pai Anas tácio, Mãe Francisca e
quantos nomes adequados ... acodem ao cérebro astucioso de certos médiuns, para
os quais não existem mais re ... médios em matéria de evolução na presente vida e,
quem sabe?, em muitas outras, segundo a opinião dos mesmos Adeptos ...
Para os silvícolas: Urubatão, Junco Verde, Canela de Ferro, Caboclo Jurema e
outros mais, embora que entre os nossos Jinas do Brasil - como aquele chefe de
tribo, no Iucatã, com o nome Moures Vega - possam ter existido e até prestado
relevantes serviços a causas mais nobres ou elevadas; porém, já se vê, sob a direção
ou guia de outros seres (encarnados); por sua vez de categoria bastante elevada. O
próprio Anchieta com eles trabalhou para a sua missão futura ...
As macumbas africanas são, na maioria das vezes, inimigas das silvícolas.
Digladiam-se a golpes de despachos, cada qual mais forte e poderoso, à guisa
caótica das que se travaram e travam ainda entre râkchasas negros e os devas
protetores da humanidade.
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Quanto ao termo baixar o santo, é a mais degradada fórmula do fenômeno,
tantas vezes por nós explicado, ou seja, o da manifestação do Eu-Superior. Como
degradado, ainda, o de baixar o Espírito Santo, na seita dos Quakers (ou
tremedores), ou seja, aqueles que se põem a tremer como se estivessem atacados
de coréia ou dança de São Vito no momento da referida "descida".
Entre os Captas - cristãos jacobitas do Egito - há um ritual misterioso, em que
o sacerdote mais puro entre todos sopra a cabeça do discípulo onde se acha o
chakra coronal, sahasrâra, brahmananda - intimamente ligado à epífise e não à
hipófise como muitos julgam -, a fim de animar o próprio Fogo Celeste ou fazer
descer o Espírito sobre o discípulo. O próprio termo epífise, além de significar
mais acima, quer dizer também sobrenatural.
No Novo Testamento constata-se a "descida do Espírito Santo em línguas de
Fogo", no dia de Pentecostes, algo assim como uma iluminação crística, provinda
do Mestre sobre os discípulos ou apóstolos. Do mesmo modo, quando Jesus, ou
antes Jeoshua é batizado por João Batista, no rio Jordão; uma alegoria como as
anteriores. Ademais, o próprio termo João Batista - embora seu nome fosse
Yokanan -, possui as duas iniciáticas letras das cohmas do templo de Salomão,
que a própria Maçonaria delas faz uso, ou seja: Jakim e Bohaz, porém, na razão
dos dois Caminhos vedantinos, Jfiâna e Bhakti - doutrina do Olho e do Coração,
ou Conhecimento e Amor.
O conde Cagliostro adota o pseudônimo José Bálsamo pelas mesmas razões
acima apontadas, por pertencer à Maçonaria Egípcia.
Quanto ao termo Pentecostes (qüinquagésima), porque segundo lemos nas
Atas (Feitos, Capo II) 50 dias depois da Páscoa da Ressurreição, o Espírito Santo,
em forma de línguas de fogo, desceu sobre os apóstolos, que logo começaram a
falar em diversos idiomas - outra alegoria da Iluminação Perfeita, que recebe todo
aquele que se une ao seu Eu-Superior, seu Cristo ou seu Deus, de acordo com as
teorias ocultistas e Teosóficas, já apontadas.
O erudito escritor francês Stanislas de Guaita, uma das maiores sumidades em
matéria de esoterismo, falando do Espiritismo na sua maravilhosa obra de crítica
sintética Le temple de Satan, tem estas sapientíssimas palavras:
"Quanto ao Espiritismo, dizemos apenas que a evocação dos pseudo-
espíritos não tem outro resultado em regra geral senão atrair ou mesmo criar
seres não menos lemurianos e parasitários (vampiros), quase

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sempre inúteis, quando não, prejudiciais ou irreparavelmente funestos.
Madame Blavatsky - continua ele - via longe, quando predizia que o
resultado da última invasão espírita no Ocidente seria dentro em pouco a perda
segura e ruína total de milhares de almas, inconscientes vítimas de Allan
Kardec e de suas doutrinas subversivas.
Muitos se admirarão em me ouvir emitir uma opinião tão desfavorável ao
Espiritismo e de combater obstinadamente uma espécie de religião que conta
entre os seus apologistas um certo número de escritores respeitáveis e mesmo
verdadeiros sábios. Direi mais: tais espíritas como, por exemplo, Louis Michel
de Figaniéres, causam admiração aos ocultistas pelo poder de sua inteligência e
audácia de intuição. Suas obras - Caos de Sombra e de Luz - estão repletas de
visões audazes e profundas, mas para serem estudadas apenas à luz do
ocultismo.
Compreenda-se que eu não nego, com intenção reservada, o valor dos
espíritas. Não sou severo para com uma doutrina que é uma das mais notáveis,
mas sim para com as terríveis conseqüências onde ela, fatalmente, fracassou: a
promiscuidade psíquica e a anarquia espiritual.
O que falta aos dou tos do Espiritismo é o discernimento dos espíritos. Digo e
sustento que não é possível entrar em relações diretas com as Inteligências
Superiores, e até mesmo com as almas desligadas dos entraves carnais, sem
cair nas redes fatais da mentira e da ilusão. O culto dos antepassados consagra
na China, como em outra qualquer parte, a realidade de tais relações; porém,
estas não podem ser estabelecidas, senão através duma escala hierárquica.
Mister se faz uma ciência da qual bem longe se acham os adeptos do
Espiritismo".
Mais adiante:
"Inútil dizer que o Espiritismo não foi uma nova invenção. As formas
lemurianas que em todas as épocas se compraziam em passar por almas de
além-túmulo iludiam os homens muito antes que os espíritos mistificadores,
emigrados do mundo novo, inundassem o antigo com a sua ruidosa presença, e
muito antes também que Allan Kardec formulasse seu Evangelho Espírita e o
barão de Guidenstubbé obtivesse os fenômenos da escritura direta de que tão
orgulhoso se mostrou.
Se me perguntassem - continua ele mais adiante - em que consiste
essencialmente um médium, eu o definiria como: um homem (ou mulher)
atacado de uma incontinência vitat esgotando-se por nutrir com a sua
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substância fluídica - muito expansiva, e por isso mesmo, sujeita a perdas
ou "empréstimos" uma vampirização, portanto, a que todos se entregam-
uma multidão de larvas parasitárias, que vegetam e se multiplicam em sua
atmosfera astral, em seu nimbo oculto".
Por sua vez o não menos famoso escritor ocultista, René Guénon, diz em sua
prodigiosa obra Verreur spirite o seguinte:
"Rivail tomou o nome céltico Allan Kardec a conselho dos espíritos, por
ter sido o seu, em existência anterior; foi com tal nome que ele publicou as
diversas obras consideradas pelos espíritas franceses como fundamento de
sua doutrina, aliás, como continuam sendo hoje para os esparsos pelo
mundo. Dizemos que Rivail publicou tais obras mas nunca que fosse ele só
quem as escrevesse; com efeito, sua redação -logo da criação do espiritis-
mo francês - representa o esforço de um grupo de pessoas, das quais o
próprio Allan Kardec não era mais do que o porta-voz. Seus livros são,
pois, uma espécie de obra coletiva, ou o resultado de uma colaboração en-
tre diversas pessoas. E é por tal motivo que não admitimos a colaboração
dos espíritos proclamada por Allan Kardec, isto é, quando o mesmo afirma
que "as escreveu de acordo com as comunicações por ele e outros recebi-
das, e cujo trabalho foi por ele mesmo controlado, revisto e corrigido, po-
rém com o auxílio dos Espíritos Superiores. Com efeito, para os espíritas, o
homem pouco se modifica depois de desencarnar. Por isso mesmo não se
deve confiar no que dizem os espíritos: assim é que nos podem enganar, já
por simples divertimento, já por ignorância.
Resta, apenas, perguntar: como se pode distinguir os espíritos superiores dos
demais?
Outra opinião bastante divulgada entre os espíritas e completamente errônea é
aquela de que Kardec escreveu seus livros debaixo de uma certa inspiração. O fato é
que ele jamais foi médium mas, ao contrário, magnetizador. E era por meio de seus
sujets que ele obtinha semelhantes comunicações. O mesmo fez o bispo Leadbeater,
através da sua, que outra não era senão Mme. Besant, como ele deixa transparecer no
seu Cristianismo Místico e o próprio Charles Lancelin, famoso escritor francês, o
afirma em uma de suas obras ocultistas. Esquecendo ambos, operador e sujet, que os
próprios Mahâtrnas, com quem eles diziam se comunicar por esse meio, condenam,
in-limine, semelhantes práticas, condenação que também é feita pelas Regras da
Excelsa Fraternidade. Não é de admirar, portanto, ter Mr. Judge, por sua vez,
denunciado ao mundo teosófico ser a mesma se-

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nhora que se deixara hipnotizar pelo mago negro Gyanendra-Chakravarti. Soube,
entretanto, morrer condignamente a boníssima senhora, principalmente afastada de tudo
e de todos, em seus apartamentos ... preparando melhor sua futura encamação" - que ela
mesma afirmou será no Brasil.
De fato, grande é a diferença entre o hipnotizador e o sujet. Um é o ativo ou o que
domina a vontade do outro, melhor dito, automatiza a sua vontade, justamente o que os
Adeptos condenam; e quanto ao passivo, ao sujet, seu próprio nome o diz, para que se
possa avaliar da sua inferioridade psico-mental diante de outro ... Não há como provar o
contrário.
Em outros lugares, diz o mesmo autor de L' erreur spirite:
"Quanto aos espíritos superiores, com o auxílio dos quais suas obras fo-
ram corrigidas e coordenadas, não eram todos desencarnados; o mesmo
Rivail não foi estranho a esse trabalho, embora nos pareça não ter ele tomado
parte direta no mesmo. Assim, pois, o arranjo dos documentos de além-
túmulo, como se dizia, deve ser atribuído, sobretudo, a diversos membros do
grupo que se formou em torno do mesmo Kardec. Provável, sim, que a maior
parte deles, por motivos diversos, preferisse que tal colaboração ficasse
ignorada do público; ademais, sabia-se que, entre eles, havia alguns escritores
profissionais; o que fez duvidar, naquela ocasião, da autenticidade de tais
comunicações, ou, ao menos, da exatidão com que foram reproduzidas,
embora que seu estilo bem longe estivesse de ser impecável".
O famoso médium inglês Douglas Home diz de Allan Kardec o seguinte:
"Eu classifico a doutrina de Kardec entre as ilusões deste mundo e tenho
boas razões para isso ... Não ponho dúvida alguma sobre a sua perfeita boa fé
... Sua sinceridade projetou-se - nuvem magnética - sobre o espírito sensitivo
daqueles a quem ele chamava "seus médiuns". Seus dedos confiavam ao
papel as idéias que lhes eram impostas pelo mental alheio ... e Allan Kardec
recebia suas próprias doutrinas como mensagens enviadas do mundo dos
espíritos. Se os ensinamentos fornecidos de tal maneira emanavam realmente
das grandes inteligências que, segundo ele mesmo, eram os seus autores,
poderiam os mesmos tomar a forma que nós lhes vemos hoje? Onde, pois,
Jâmblico aprendeu tão bem o francês de hoje? E Pitá goras, por sua vez, pode
esquecer o grego, que foi sua língua natal, além da sua própria filosofia?
Nunca encontrei um só caso de clarividência magnética em que o sujet não
refletisse direta ou indiretamente as idéias do magnetizador. Tal coisa foi
demonstrada de modo frisante pelo mesmo

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Allan Kardec. Sob o império de sua vontade enérgica, seus médiuns não
foram mais do que máquinas de escrever, que reproduziram, automatica-
mente, seu& próprios pensamentos. Se, algumas vezes, as doutrinas
publicadas não estavam de acordo com seus desejos, ele as corrigia a seu
gosto. Sabe-se que Allan Kardec não era um médium. Ele não fazia senão
magnetizar ou "psicologizar", perdoe-se o neologismo, pessoas mais im-
pressionáveis do que ele. De fato, tal coisa é exata, salvo a correção dos
"ensinamentos", que não deve ser atribuída apenas a ele, mas, a todos os
de seu grupo; ademais, o próprio teor das comunicações podia já ser uma
influência das outras pessoas que assistiam às suas sessões".
Foi ainda Daniel Douglas Home - famoso médium com quem trabalhou William
Crooks, antes de conhecer miss Florence Cooch e ao qual seus espíritos não
avisaram que ia morrer no desastre do Titanic, como aconteceu - quem, algumas
horas antes de desencarnar, confessa ao dr. Filippe David, seu médico assistente:
"Devo dizer que essa multidão de espíritos, diante dos quais se prostravam as almas
crédulas e supersticiosas, jamais existiu. Quanto a mim, nunca os encontrei no meu
caminho" ...
Diante disso, vale a confissão para exemplo de muitos ...
Citaremos, agora, alguns fatos que, por se terem passado em nosso país e sendo
do conhecimento de inúmeras pessoas, valem por preciosos atestados a favor do que
estamos provando até agora e do próprio dito de Allan Kardec de que "de cem
comunicações noventa e nove por cento são falsas ... "
Não pode haver ninguém no Brasil que desconheça aquela expedição levada a
efeito pelo vespertino A Noite, em busca do famoso aviador conde de Saint Roman,
pelo fato de repetidas afirmativas de certo centro espírita desta capital, "de que o
mesmo se encontrava em uma ilha deserta, esfarrapado e faminto, a pedir
socorro" ... E tal expedição, como se sabe, resultou inócua, além dos enormes
prejuízos trazidos ao referido vespertino, pois que, na ilha apontada, nem em outras
prováveis, foi encontrado o menor vestígio da passagem do conhecido aviador.
Mesmo que tivesse morrido e os urubus devorado as suas carnes, deveriam, ao
menos, restar... os ossos. Nada, absolutamente nada!
Não faz muito, telegramas de certo Estado do sul do País traziam a notícia de
que, em um dos seus mais acatados centros, o espírito de Rio Branco afirmara,
categoricamente, ser o substituto de Pio XI o Cardeal F ... E o resultado do
escrutínio recaiu sobre o único que a Igreja possuía apropriado à situação polí-
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tica do mundo, quer por seu alto descortino, quer por outras razões, que não vem ao
caso explicar: o cardeal Pacelli. E nós, entretanto, que estamos ainda no mundo dos
vivos, afirmávamos, havia mais de um ano, que seria justamente este o sucessor de
Pio XI.
Outrossim, aquele famoso opúsculo largamente espalhado, por um ou mais
centros espíritas desta capital, onde os espíritos afirmavam, na infalibilidade de sua
existência na quarta dimensão, que o Brasil iria ser dirigido pelo Sr. Plínio Salgado
(santa blasfêmia! ), hoje escrevendo uma nova Vida de Jesus, para nos dar o
trabalho de escrever uma terceira, se as inúmeras existentes no mundo não
bastassem para provar a verdadeira, inclusive, em palavras soltas, que se encontram
em diversas partes deste estudo.
Já agora um livro que denota a sanidade mental do famoso médium que o
escreveu, ou seja, Revelação dos Papas, mas onde existem diversas comÚnicações de
pessoas que de nenhum modo poderiam ocupar a cadeira papal, dentre elas
Gautama, o Budha. Este, apresentando-se em uma das sessões do centro a que
pertencia o famoso médium, pede perdão aos presentes por ter dado ao mundo uma
doutrina tão errônea ... e que se comprometia, na próxima encarnação, tornar-se
espírita ... Horror dos horrores! Um Ser da 6ª Ronda, como afirmava um dos mais
preclaros membros da Excelsa Fraternidade, apresentar-se em uma sessão espírita e,
muito pior, fazer semelhante promessa! Diante de tamanha involução, acudiu-nos
logo à mente aquela passagem da vida de Pitágoras onde, certa vez, um dos seus
discípulos, batendo em um cão, o Mestre repreendeu-o e fez-lhe ver que no uivar do
pobre animal reconhecera a voz de um seu amigo de outra encarnação ... Sim,
porque, nesse andar, o inconfundível Ser, venerado em todos os tempos e em
diversas partes do globo por milhões de criaturas, acabaria - com o respeito e
reverência que o Mesmo nos merece, como todos os demais, Jeoshua, Confúcio,
Krishna, etc. -, no reino inferior humano! ...
Agora mesmo que estávamos escrevendo este livro viemos a saber que o grande
Krishna - o Espírito de Verdade, do Bhagavad-Gítâ, um dos mais preciosos avataras
que se conhecem - se manifestou em um centro de espiritismo da capital!!! Onde
estará o juízo e o pudor de semelhante gente?! Se de passarem os olhos por Os
Grandes Iniciados, de Schuré, ousam semelhante profanação, a que extremos serão
levados quando fizerem leitura mais profunda de Ocultismo e Teosofia! Acabarão
por fazer com que o próprio Ishvara - a Divindade Suprema,
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o Logos donde emanam todas as individualidades - se manifeste nos tais centros
para, nas sessões de doutrinação, se penitenciar, como o fez o "budha" da Reve-
lação dos Papas, não por ter dado ao mundo "doutrinas errôneas" mas por nele
ainda permitir a existência dum número tão grande de idiotas!. ..
Jesus, esse continua ainda sua dolorosa peregrinação" de Herodes para
Pilatos", ou seja, de um centro para outro, quando não preferem encamá-Io em um
oficial de policia, isto é, usando armas e prendendo gente, numa decadência tal
que envergonharia os lipikas, como senhores do Carma!
Por seu lado HPB, "já foi marinheiro", "uma menina muito interessante", ou
agindo por intermédio duma médium paulista que, tendo de cor algumas estrofes
da A Doutrina Secreta, fazia-se passar pela prodigiosa autora da não menos
prodigiosa obra Doutrina Secreta, a par de Ísis sem Véu e outras mais. Estas feias
ações virão a ter a mesma recompensa que o destino deu à médium Santa Dica,
hoje ... repleta de filhos, mas abandonada do repórter do famosíssimo vespertino
A Reação, que a desviou do caminho traçado, coisa por nós prognosticada quando a
mesma nos visitou em Niterói, na rua General Andrade Neves, 305, onde a STB
tinha sua sede com o nome Dhâranâ.
Não ficam nessas pessoas, porém, os diversos "avataras" de HPB, sem um
motivo determinado ... Ela também esteve em famosa maga negra tida como
"santa mulher", "benfeitora da humanidade", etc., e desaparecida bruscamente do
mundo, talvez por um "choque de retomo", por sinal que não suportava o retrato
da Mestra em qualquer lugar que honrasse seu nome, mas apenas nas macumbas,
disfarçadas com várias denominações. Admitia, no entanto, que nos dessem caça
de automóvel, provocando desastres ou, querendo mesmo matar-nos por outros
processos, inclusive o de vayu precipitado, em plena sessão pública, julgando que
fôssemos "cegos de espírito" ou não clarividente ... E isto nos obrigou a suspender
as sessões públicas, para infelicidade do povo, exigindo cartões de convite que
nos permitissem "separar o bom trigo do joio". Podíamos, entretanto, servir-nos
das autoridades policiais, desde que o nosso programa, rigorosamente executado
há longos anos a favor do engrandecimento físico, moral e intelectual desse
mesmo povo, a isso nos dava direito, além de estar em jogo a nossa própria vida,
mas, se tal fizéssemos, deixaríamos de ser espiritualistas, como somos. Carma
incumbe-se sempre de cumprir o seu dever, principalmente a favor de quanto
possua origem divina, como acontece com a excelsa Obra em que estamos
empenhados!
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o coronel Olcott entretanto, "pondo suas barbas de molho", não quis acom-
panhar HPB - como o fez na última encarnação - nessas duvidosas excursões "por
mares nunca dantes navegados", pois que, ninguém mais do que ela condenou a
prática do espiritismo ...
"Santa Teresinha", por sua vez, faz chover flores em certo núcleo de Niterói,
para gáudio do florista da rua cel. Gomes Machado, que lhe fica próximo ...
E assim por diante, em matéria de "iniciados" e pessoas célebres no "mundo
espiritualista" ...
Outro fato interessante no Espiritismo é a divergência de opiniões entre os
espíritos mais elevados, em várias questões, como no diagnóstico e tratamento das
moléstias. É fácil de comprovar essa estranha divergência. Um mesmo indivíduo
que recorra a diversos centros espíritas receberá de cada um deles diferente
diagnóstico e diferente tratamento!
O mesmo é dizer que toda a sabedoria do mundo de quarta dimensão não difere
da deste inferior mundo em que vivemos e onde peregrinamos de consultório em
consultório médico para, em cada um deles, obtermos opinião diferente sobre os
males que nos atormentam. Cremos, muito mais, nesses casos esporádicos de um
privilegiado que, possuidor da clariaudiência e se seu carma lho permitir - menos
se estiver à frente de uma missão qualquer no mundo, pois, nesse caso, tudo
conspira contra ele, como um eterno crucificado nessa mesma obra ou missão! ... -
venha um dia a ouvir, com toda a clareza e nitidez, a Voz do seu próprio Eu, de sua
consciência Imortal, seu Espírito, seu Cristo ou seu Deus, permitindo-lhe apontar o
medicamento ou mesmo o médico que possa livrar o doente de tantos martírios ...
Ademais, "tudo é possível ao que crê".
Quanto às operações astrais, não passam, comumente, de pura ilusão. Os
doentes continuam na mesma, embora às vezes se afirme, como num caso recente,
que o paciente chegou a ver o médico, os assistentes, enfermeiras e até sentiu o
cheiro do anestésico, coisa inadmissível, pois, tratando-se duma operação no astral,
devia ser indolor e inodora, dispensando não só um processo operatório todo
humano como o emprego ou necessidade da anestesia.
Não faz muito, certo vespertino carioca, que mantém uma seção dedicada ao
Espiritismo, publicava em letras gordas o nome de uma pessoa de responsabilidade,
atualmente em um dos Estados brasileiros ... que vinha assistindo a diversas
materializações em um centro espírita daquela localidade. Diante desta
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propaganda indébita, ou sem sua autorização, a pessoa visada achou por bem
voltar a tal centro, onde tinha ido por insistência de pessoas amigas, para ter uma
certeza dos fenômenos ali ocorridos.
Em vez de comentarmos o fato, preferimos transcrever alguns trechos da
carta que recebemos de uma pessoa residente no lugar e cujo caráter, acima de
qualquer suspeita, nos merece, e a centenas de pessoas, o maior respeito e
consideração:
Nunca F. negou ou afirmou coisa alguma a respeito das tais sessões a que o
obrigaram a assistir - o negrito é nosso -, para que, sem sua autorização,
abusassem de seu nome. E mais, aborrecido ficou pelas inúmeras cartas que
recebia de todo o Brasil, procurando saber o que de verdade havia sobre o
assunto.
E assim, resolveu voltar lá para assistir a uma prova mais concludente do
que se passava em tal centro espírita, inclusive a materialização do espírito
duma "bailarina" que distribuía flores entre os assistentes, etc.
Desconfiados, então, devido a alguém ter dado com a língua nos dentes, os
tais espíritas, ao invés de mandarem F. assentar-se na primeira fila de cadeiras,
como tinham feito nas poucas vezes que ele ali fora, colocaram-no na última,
fazendo ocupar a primeira só por senhoras ... Deste modo não poderia F. tocar
nem mesmo divisar melhor a materialização ...
Interessante notar que, antes de a materialização ter lugar, por intermédio da
pessoa ou médium que fica oculto em um gabinete, outro "espírito" de voz
tronante fez um discurso por detrás da cortina, dizendo entre outras coisas:
"Não temos necessidade de sábios neste recinto - pudera! quem, a não ser a
ignorância e a superstição, podem acreditar em encenações tão grosseiras! Do
mesmo modo agem certos dirigentes de povos que expulsam os sábios para
melhor poderem dirigir as massas ignaras, como aconteceu com Freud,
Einstein e outros mais ... Igualmente, é terminantemente proibido tocar nas
vestes, ou sequer num fio de cabelo da aparição - o que podia pôr-lhe "a calva à
mostra".
F. enfiou a carapuça que lhe cabia e esperou pelo fim da função, a fim de
dar a devida resposta.
Quando a dançarina começou a distribuir flores pelos presentes, ao chegar a
vez de F. este tomou entre as suas mãos os dedos ossudos do fantas-

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ma, mui seus co11hecidos ... e antes que este entrasse para o cubículo, como
fazia sempre, F. encaminhou-se para o meio da sala onde o fantasma ainda se
achava vestido de branco, com sua grinalda de noiva na cabeça - noiva
bailarina? ... - e, chamando a atenção dos presentes, observou ao dono da casa
que fazia questão que o fantasma se desmaterializasse ali mesmo na presença
de todos. A materializada - que sabe falar com "voz do outro mundo" - ficou
paralisada no lugar - talo susto que apanhou por aquilo não fazer parte do
programa do dia ... - vindo em seu socorro o dono da casa que, esbravejando -
além do mais, valentão - fez ver que "não admitia semelhante exigência" - "crê
ou morres", dizemos nós ... - e que o reclamante fora ali apenas para perturbar
a sessão - quanto a sua dignidade, ninguém ligou importância, havendo apenas
a preocupação de não serem desmascarados. E, ao mesmo tempo, que ele se
retirasse do recinto".
Diante disso, F. teve que tomar uma atitude mais enérgica ... declarando
que não sairia dali, sob pretexto algum; ao contrário, fazia questão que
retirassem a cabeleira da "materializada" - duplamente materializada, dizemos
nós ... -, pois que por baixo iria aparecer a fisionomia bem conhecida de dona
F." - a esposa do dono da casa.
Além de outras citações, todas confidenciais, da referida missiva, sua distinta
signatária termina com estas palavras:
"O mais interessante foi o virmos a saber, no dia seguinte, que o dono da
casa teve a petulância de fazer crer aos assistentes que F. tinha sido apoderado
por um mau espírito, com o fim de desmoralizar o centro". E os beatos
bateram no peito, dizendo amém, isto é, acreditando piamente em mais essa
invencionice, embora tivessem visto a "materializada", toda aflita e trêmula,
levada para o interior da casa, como qualquer pessoa que está passando mal.
O fato é que F., além de achar "muito espírito" no álibi ... soube perdoar
todo o ridículo a que o expuseram pois, afinal de contas, tudo isso não passou
duma função ou brincadeira, como aquela dos fantasmas dos amigos de
Chopin, que acabaram por lhe inspirar a sua famosa Marcha Fúnebre ... "
Tudo isso é simplesmente horrível sob o ponto de vista "enganoso",
"mistificador", etc. Dia virá em que seus autores ficarão sabendo quão exigente é
o astral, quer em vida, quer post-mortem ... para aqueles que ousam divertir-se com
ele!!! Igualmente horrível é a situação de um casal cujos destinos se acham
ligados pelos mais elevados laços espirituais, ao mancomunarem-se com

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semelhante farsa! Que exemplo podem dar tais pais aos seus queridos filhos! ...
Em nossa capital (*1 também existe um "centro espírita familiar", onde se dão
"assombrosas materializações" de espíritos, de moedas antigas, flores, etc. e onde
já se prometeu trazer para o recinto um tesouro oculto. Brevemente ninguém mais
ali trabalha, pois teremos repetido o milagre dos pães e dos peixes ...
Acontece, porém, que em tais sessões o dono da casa deve ficar deitado em seu
leito, no andar superior ... manejando seus cordéis, através de pequenos buracos
abertos no soalho, realizando, assim, com o auxílio dum comparsa, colocado no
andar inferior, as famosas "materializações" ... Verdadeira "função" própria para
crianças, ou seja, teatro de marionetes.
Citamos estes fatos em defesa do Ocultismo e da Teosofia, para não dizer, dos
ideais da nossa própria Obra, porquanto os truques nas sessões espíritas são
demasiado conhecidos e dispensavam que com eles perdêssemos o tempo. O
próprio cinema tem servido para explicar como tais truques são feitos e como é
fácil aos incautos confundi-Ias com a realidade ou com os verdadeiros fenômenos
de Ocultismo e Teosofia os quais, como já foi dito, só podem ser dirigidos por
Adeptos, Mahâtmas etc. E isso mesmo, somente diante daqueles que de tal
método de iniciação se tornarem dignos e ao qual Eles chamam de Mâyâ-Yoga,
Mâyâ-Budhista - ilusório, fantástico, etc. -, embora existam verdadeiros, para
outros fins.
A mesma HPB destes teve que se servir, já se vê, com o auxílio dos referidos
Seres, pois os puramente mayávicos correram por sua própria conta, como os
realizados no The Miracle Club antes de fundar a The Theosophical Society, em
Norte América.
Dos mesmos fenômenos se serviu a nossa Obra e a eles assistiram centenas de
pessoas, inclusive representantes da imprensa carioca e fluminense, para não falar
nos por nós realizados desde a mais tenra infância, testemunhados não só pela
fallli1ia como pelos amigos que nos visitavam, dentre os quais se encontram
nomes que honram a nossa Medicina, como os de Nina Rodrigues tudo isso na
Bahia, nosso torrão natal- e Alfredo Brito, Diretor da Faculdade de Medicina
daquele estado - que chegou ao ponto de nos oferecer um espelho giratório,
embora muito bem soubesse que, para hipnotizar e levar a efeito

(*1 Rio de Janeiro.

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outros fenômenos, dispensávamos qualquer meio mecânico -, o dr. Souza Leite,
da clínica de Charcot, na Salpetriére, etc.
E todos esses assombrosos fenômenos, praticados desde a nossa infância até
quando a Obra fez sua eclosão espiritual em São Lourenço, em 1921, nunca,
absolutamente nunca, foram provocados por pseudo-espíritos, ou antes, kâma-
rupas, larvas, micróbios astrais, etc., mas, como já dissemos, por verdadeiros
Espíritos encarnados, Mahâmas, Grandes Almas, Gênios ou Tinas, Super-homens,
etc., o nome que lhes quiserem dar, contanto que designe o que realmente são:
mantenedores ou fiéis guardiães da Sabedoria Iniciática das Idades, por outro
nome, Teosofia.
Podemos citar centenas de escritores de nomeada que defendem os mesmos
princípios por nós expendidos, sem falar nos únicos dignos do título de Espíritos
Superiores - equivalentes a Mahâtmas ou Grandes Almas -, como únicos guias ou
instrutores que são da humanidade, por isso mesmo acima de qualquer suspeita,
pouco importa se incompreendidos pelos que dão preferência às "coisas do outro
mundo" aliás, como costumam fazer consigo mesmos, buscando fora o que se
encontra em seu próprio seio.
Seja-nos lícito, apenas, transcrever, em tal lugar, os maravilhosos conheci-
mentos teosóficos que ressaltam destas palavras extraídas de Aberraciones Psí-
quicas deZ Sexo, do inconfundível Roso de Luna:
"Além do mais, porque o terrível dilema da vida, o duelo à morte, com os
poderes invisíveis ou potestades do ar, como dizia S. Paulo em sua Epístola aos
Colossenses, é o de dominar ou ser dominado por semelhantes daimones. É esta
a diferença essencial entre o adepto da Magia que chega a dominá-Ios e o pobre
médium espírita e, em geral, todos os emocionais passivos, sempre dominados,
como simples joguetes, em mãos daqueles".
Por isso, de um e de outro, diz a mesma HPB:
"O Adepto pode estimular em animais e plantas a ação das forças biológicas
- nós mesmos já fizemos em duas plantas, magnetizando diariamente uma delas
que tomou um desenvolvimento rápido e assombroso, enquanto que a outra,
não magnetizada, continuava sua marcha evolucional de acordo com a
Natureza. Ambas foram apresentadas ao 22 Congresso Internacional de
Psicologia Experimental, em Paris, no ano de 1913 -, até além dos limites que,
ordinariamente, chamamos naturais, sem no entanto contrariar a Natureza,
favorecendo-a, ao contrário, com a intensificação do princípio vital.

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o Adepto é capaz de alterar a condição sensorial e emotiva do corpo
astral de quem não seja Adepto; pode valer-se, a seu talante [pudera! se,
como já dissemos, representa a própria Lei ... ], das entidades elementais ou
espíritos da Natureza; porém, de nenhum modo, dominar o espírito humano,
quer encarnado quer desencarnado, porque todo espírito é chispa divina, não
sujeita a externas influências.
Existem duas espécies de clarividência: a psíquica e a espiritual. A clari-
vidência dos modernos sujets - ou pacientes, para os operadores do hipno-
tismo, etc. - difere da das antigas pitonisas apenas nos processos de produzir
o estado lúcido e da maior ou menor acuidade dos sentidos astrais. Nem uma
nem outra, porém, se aproxima da perfeita e onisciente clarividência
espiritual, podendo, apenas, vislumbrar a verdade através do véu da natureza
física.
O princípio mental, denominado Favâtma pelos iogues hindus, é o me-
dianeiro - ou intermediário - para os elementos espirituais e materiais do
homem, pois que, por uma parte domina e por outra se acha sujeito ao
cérebro físico. A clareza e exatidão das percepções espirituais da mente
dependem, enquanto se acha ligada ao corpo material, de seu grau de relação
com o princípio superior. E quando tal relação lhe permite agir,
independentemente dos princípios inferiores e unida ao superior, então
percebe a verdade, sem o menor vestígio errôneo. Tal estado é aquele que os
hindus denominam de Samâdhi, a mais elevada condição espiritual a que
pode chegar o homem na Terra.
Os vocábulos sânscritos Prânâyâma, Pratyahâra e Dhâranâ - este último
adotado pela nossa Sociedade, no seu início, e até hoje, por seu órgão oficial -
exprimem outros tantos estados psíquicos.
Em Dhâranâ, por exemplo, é como se o corpo físico estivesse em completa
catalepsia, visto que é subjetiva e clarividente a percepção da alma livre.
Porém, como não deixa de funcionar o principio sensitivo do cérebro físico,
as percepções mentais continuarão mescladas com as percepções objetivas do
mecanismo cerebral, donde a memória e a fantasia toldando a visão perfeita".
Daí a escolha do nome para a atração de algo que vivia na Mente Universal,
para que esta se manifestasse na face da Terra, pois que, em 1921, já o havia feito,
espiritualmente: a Obra em que estamos empenhados. Do mesmo modo a exigência
de certa meditação, onde ressalta o prodigioso nome sânscrito P AX,

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que nada tem que ver com o latino escrito e pronunciado do mesmo modo, visto que em
sânscrito seu significado é: "a atração de forças psicomentais para determinado núcleo,
movimento, associação, etc., da mais elevada espiritualidade". Daí os benefícios
usufruídos pelos praticantes dessa meditação ou Ioga, que ainda hoje é usada por todos
aqueles que dão ingresso em nossas fileiras.
Porém, continua HPB:
"O Adepto sabe como suspender a função mecânica do cérebro. E assim,
claras, puras, verdadeiras e inalteráveis são suas visões. Enquanto que o
vidente, incapaz de anular as vibrações astrais, percebe apenas imagens mais
ou menos incompletas, por meio do cérebro, o clarividente sujeita à sua
vontade todas as suas potências psíquicas e faculdades físicas e não pode
tomar as sombras como realidades. Sua percepção é diretamente espiritual,
sem o que seu Eu Superior ou subjetivo esteja eclipsado pelo eu inferior ou
objetivo. Tal é a verdadeira clarividência espiritual que, segundo afirma
Platão, eleva a alma acima dos deuses menores, até identificá-Ia com o
simples, puro, imutável e imaterial Nous, o Mental Superior ou princípio
reencarnante. No ponto de vista cósmico, equivale ao Mahat sânscrito.
Tal é o estado que Plotino e Apolônio chamaram de União com Deus; os
antigos iogues, Ishvara; e os modernos, Samâdhi. Entretanto, a clarividência
espiritual é tão diferente da psíquica como uma estrela o é dum simples
vagalume.
Amônio Sacas, o Teodidactos - ensinado ou instruído por seu Deus diz
que a memória é a única potência que diretamente se opõe ao dom da
perfeição e da previsão.
O médium não pode subjugar, voluntariamente, seus corpos mental e
físico, mas necessita da alheia - ou estranha - intervenção de uma entidade
desencarnada, de um hipnotiza dor terreno ou de algo que artificialmente o
obrigue a entrar em transe - por isso que, para nós, não interessava o espelho
giratório oferecido tão gentilmente pelo ilustre diretor da Faculdade de
Medicina da Bahia, mas, apenas, essa mesma gentileza ou prova de estima,
respeito, etc., que lhe merecia um jovem de 23 anos ... -, enquanto que aos
Adeptos e Iogues basta um rápido instante de concentração e isolamento.
Entre os meios artificiais de que se valiam os antigos para determinar o
estado de transe, citaremos as colunas de bronze do Templo de Salomão; as

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campainhas e granadas de oiro de Aarão e dos sumos pontífices hebreus; os
sinos sonoros suspensos em torno da estátua de Júpiter Capitólio; as taças de
bronze empregadas nos Mistérios durante o Kora; e as taças, também de
bronze, circularmente pendentes de um aro de 200 granadas, que serviam de
capitéis para as colunas. As sacerdotisas que, no norte da antiga Germânia,
agiam sob a direção dos hierofantes, só podiam profetizar através do
marulhar das ondas, ou olhando insistentemente a rápida corrente de um rio.
As sacerdotisas do Dédona, para o mesmo fim, postavam-se sob a túnica de
Zeus ou se deixavam hipnotizar pelo movimento e sussurrar da brisa entre as
folhas das árvores ou pelo murmúrio do regato que umedecia suas raízes.
O Adepto não precisa valer-se desses artifícios, pois lhe basta a simples
ação de sua potência volitiva. Segundo o Athama- Veda, a atuação volitiva é a
forma superior da oração, como única que obtém imediata resposta. Do grau
de intensidade do desejo - a vontade em ação, dizemos nós -, depende a sua
realização e esta, por sua vez, da pureza interior - daí a dificuldade com que
lutam nos centros espíritas, não só os médiuns como os presidentes, a
assistência ou operadores.
As entidades que se valem da matéria astral do corpo do médium ou das
auras - melhor dito dos auras, pois que este termo em Ocultismo deve ser
masculino e não feminino, como querem tod9S - dos assistentes são, em
geral, os elementais ou entidades não purifica das ainda - pelo que se vê,
nossa mesmíssima opinião, como é a de todos os conhecedores do assunto -,
porque os espíritos puros - ouçam bem os espíritas! - não querem nem podem
manifestar-se objetivamente. Desgraçado do médium que cai em poder das
entidades astrais! (Destes está repleto o Hospício Nacional, sem falar
naqueles cujos males temos constatado com a nossa própria vidência ... e até
socorro espiritual!).
Da mesma maneira que o médium, em estado cataléptico, projeta
espectralmente um braço, uma cabeça ou a mão, do mesmo modo podia
projetar todo o seu veículo astral, deixando aparecer por inteiro esse corpo.
Algumas vezes essa projeção é o resultado da vontade do Eu Superior do
médium - isso, sim, que se pode tomar como manifestação espontânea do
mesmo modo que, isoladamente, a de um mensageiro que algo tenha a dizer-
nos, como já apontamos em outros lugares -, sem que do fenômeno tenha
consciência o eu-inferior. Geralmente, porém, a vontade do médium é
paralisada pela influência das entidades elementares e elementais que se

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apoderam de seu corpo astral e o projetam pelo efeito duma ação análoga à
do hipnotizador em relação ao seu sujet.
Tem razão Fairfield em afirmar que" quase todos os médiuns se acham
afetados por uma enfermidade orgânica ou desequilíbrio psíquico e, em
alguns casos, as transmitem a seus filhos". Em troca, engana-se por completo
ao atribuir semelhantes fenômenos psíquicos às mórbidas condições
fisiológicas do médium, porquanto os Adeptos da Magia Superior gozam
quase sempre de robusta saúde mental e física, pois só eles são capazes de
produzir a seu talante fenômenos psíquicos - não confundir, dizemos nós, Adeptos
independentes ou de missões avulsas com aqueles Seres que se acham à
frente de determinada missão, quanto maior, muito pior! para esses pobres
crucificados, na razão daquela sentença iniciática: "quanto maior a nau, maior
a tormenta" ... Esses, raros, aliás, têm todos o mesmo fim, que é o de se
darem em holocausto pela Humana Causa ...
No Adepto agem harmoniosamente, ou em equilíbrio, corpo, alma e es-
pírito, ao passo que no médium o corpo é uma massa de matéria cataléptica
da qual, para ser utilizada ou para servir de veículo às entidades inferiores,
psíquicas ou astrais, retiraram-se, quase sempre, a alma e o espírit~ que as
ammava.
Os Adeptos não podem, apenas, projetar espectralmente e à sua vontade
uma parte mas todo seu corpo astral - e, algumas vezes, senão a maioria
delas, esqueceu-se de dizer o autor, seu corpo causal. Por isso se diz que
todos eles podem enviar seus pensamentos, etc., nas seis direções cósmicas.
Em troca, os médiuns não empregam força de vontade alguma, pois lhes
basta saber, antes do transe, o que deles esperam os investigadores - neste
caso, auto-sugestão, afirmamos nós mais uma vez. Quando o Ego do médium
- se o tiver, pois a maioria já o perdeu ... - não estiver entorpecido por
influências estranhas, agirá fora da consciência física com tanta segurança
como nos casos de sonambulismo e suas percepções objetivas e subjetivas
serão de agudeza igual às do sonâmbulo, porque quanto mais sutil for o
veículo em que o Ego age, tanto mais delicadas e agudas suas percepções.
É sabido que o órfico Epimênides foi dotado de santas e maravilhosas
qualidades, entre elas a de desprender-se de seu corpo físico desdobramento
astral-, sempre e durante o tempo que quisesse. Muitos outros filósofos
antigos possuíram a mesma faculdade. Apolônio de Tíana podia deixar
conscientemente o corpo físico a qualquer momento, e provocar fenômenos à
luz do dia - sem auxílio de espíritos de qualquer
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natureza - como, por exemplo, quando em presença do imperador Domiciano
e de grande número de pessoas desapareceu de repente para tornar a aparecer,
depois de uma hora, na gruta de Puteoli. Do mesmo modo o taumaturgo
pitagórico Empédocles de Agrigente não teve necessidade de ninguém para
ressuscitar uma mulher, nem exigiu condições preestabelecidas - como as das
sessões espíritas - para desviar uma tromba d' água que ameaçava cair sobre a
cidade. Esses teurgos eram magos e, por isso mesmo, podiam agir à vontade,
ou antes, realizar todos esses prodígios que jamais fariam se fossem médiuns.
Do mesmo modo não era preciso Simão, o Mago, ficar em transe para
elevar-se nos ares na presença de centenas de testemunhas, entre as quais se
encóntravam seus próprios discípulos e os mesmos apóstolos.
Idêntico recurso é dispensado, para a realização de iguais maravilhas, pelos
lung-gom ou lamas voadores tibetanos, que também poderíamos chamar jinas
corredores, visto que gom, gim ou jina significa a mesma coisa, e long quer dizer
correr, andar depressa, voar, etc. Deles se ocupa o capítulo XLIV de O Tibete e a
Teosofia, publicado em Dhâranâ. O conto infantil Bota de Sete Léguas simboliza
tudo isso, entrando aí o sete como número cabalístico, ou antes, da mais
transcendente Magia.
Como diz Paracelso:
"Tais obras não necessitam de conjurações nem cerimônias, nem forma-
ção de círculos, nem defumações especiais. É tal a elevação do espírito hu-
mano que não se encontram palavras para se dizer a que ponto ele pode
chegar... Se pudéssemos ajuizar até onde alcança o seu poder, nada era
impossível para nós na Terra. Imutável e eterno como Deus é o espírito do
homem - "Com fé, corno um grão de areia que és, dirás àquele monte que se
atire ao mar e ele se atirará". A imaginação se educa e robustece pela
confiança em nossa vontade. A confiança deve confirmar a imaginação,
porque estabelece a vontade".
Este poder sobre os daimones ou elementais - esclarece Roso de Luna -, e
não demônios no sentido errôneo que lhe dá a Igreja - constitui a Dhâkhini-
Vidhyâ oriental, própria do verdadeiro Adepto que antes realizou o Grande
Sacrifício de sua personalidade ou Dhâkhini-Mukha.
O grande filósofo Schopenhauer jamais duvidou de tais coisas, como
prova em seu Parerga e Paralipômenos. E relacionados, ainda, com tudo
quanto vimos apontando, se acham os absurdos contos de Chistopher,

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Shezer e Kircher - Oedipus Aegytiacus; Os Dragões, de Petrarce, do quadro
de Simon de Sienne, em Notre Dame di A vignon, e quantos dragões
míticos tivemos ocasião de examinar em nossa obra EI simbolismo de Ias
religiones deI Mundo. Semelhantes mistérios são decifrados com a chave
mestra da Iniciação; mas também podem ser momentaneamente abertos
com a gazua dos estupefacientes, tanto os que eram conhecidos
antigamente, como o peiote, a respeito do qual publica hoje uma revista
médica:
A planta que maravilha os olhos e encanta os ouvidos foi descoberta
por um farmacêutico francês. É um pequeno cactus sem espinhos, cujos
estranhos alcalóides provocam fortíssima excitação da imaginação
subconsciente, exteriorizada por uma espécie de embriaguez visual que
produz algo semelhante a sonhar desperto, além de transformar os sons em
imagens coloridas ou iluminadas. Os índios huichols, do México,
consideram o peiote - assim se chama a planta - como algo sagrado;
mastigam a folha durante as festas rituais e provocam, com isso,
maravilhoso êxtase."
Não se trata de nenhuma fantasia. A planta, com todas as suas surpreendentes
propriedades, existe - há alguns exemplares no Jardim Botânico do Rio. O Dr.
Ruthier tirou dela a maravilhosa substância, com fins científicos; o professor Emile
Perrot teme que venha aumentar os estragos da cocaína, da morfina e da heroína. E a
pedido do segundo, o advogado Edouard Tercinet solicitou ao Tribunal do Comércio
a proibição da indústria e comércio, com o resultado dos estudos do dr. Ruthier.
Não se sabe, ainda, se os efeitos da planta são muito tóxicos, e alguns os acham
parecidos com os do fumo e sem vantagem alguma para a saúde.
Se, para felicidade humana, fosse o peiote inofensivo ou, pelo menos, pouco
tóxico, que outra descoberta poderia ser comparável à de sua magia? Converter os
sons em brilhantes imagens num tempo em que somos atordoados pelas invencíveis
buzinas dos automóveis! Transformar em coloridos museus, as discussões de seus
chefes; os gritos da sogra, o choro noturno do bebê, a reclamação duma dívida, os
discursos de Pradera e as felicitações da Páscoa, do Natal e do Ano-Bom!
Entre a poesia, a antiga, não a desprovida de metrificação e cadência ... que
converte em imagens os sons, nossa vida poderia tornar-se mais feliz. Cami-
nharíamos em êxtase, cercados de profundo silêncio, envoltos em ondas

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multicores - como o aura dos santos e o esplendor dos luzeiros que brilham nas
noites de luar. Traríamos nas pupilas toda a gama do arco-íris e com ela
tingiríamos os estúpidos e insultuosos "buzinamentos", que nos maltratam e
perseguem. As conversações feminis se nos apresentariam com os matizes de
Rubens e Ticiano e, em vez de suportarmos a voz roufenha do vizinho do lado,
um tanto alcoolizado ... ou o fanhoso grasnar da velha vitrola do de cima, so-
nharíamos como sonhava Murilo.
Muitos progressos deve o século à química e não nos deixarão mentir os cava-
lheiros maduros sem sua bengala e as mais do que quarentonas damas, de faces
rosadas e lábios de carmim; nenhum, porém, como este do peiote, pois só o fato
de tornar suportáveis as discussões, as buzinações, a vitrola, o rádio e outras
coisas mais ... o farmacêutico seu descobridor conquistou a imortalidade.
Poetas, escultores, pintores: erguei-lhe uma estátua!
Sonha, enfim, nos lábios do bom conde - continua ele, criticando a obra do
abade Villars - uma terrível revelação:
"Faz-se necessária uma grande renúncia antes de receber o dom da Sa-
bedoria; mister se faz renunciar ao Sexo, ao recíproco e indeclinávellaço que
liga uma metadae do gênero humano à outra, e que representa asa-O crossanta
lei que nos faz vir a este mundo de misérias!"
A respeito dessa exigentíssima renúncia pelos "prudentes" ou "sábios" irmãos
cabalistas do tal conde, diz, por sua \-ez, HPB no capítulo anteriormente citado e
que agora completamos:
"Obras como a dó conde de Gabalis têm que ser analisadas com muito
cuidado, demonstrando o verdadeiro caráter transcendente de seus velados
ensinamentos, pois, do contrário, transformar-Ios-íamos em arietes para des-
truir aqueles outros que não podem possuir o estilo humorístico, por tratar-se
de coisas misteriosas para não dizer de todo sagradas. Mais verdades são ditas
na tal sátira, repleta de fatos eminentemente ocultistas e reais, do que a
maioria das gentes, especialmente os espíritas, pode imaginar!
Já se disse que a redentora Magia Branca difere bem pouco das
necromânticas práticas da feitiçaria, exceto nos efeitos; consistindo apenas a
diferença, se boa ou má é a intenção.
A regras e condições preliminares para se dar ingresso nas sociedades de
Adeptos, quer da direita quer da esquerda, são, por sua vez, idênticas em
muitas coisas ...
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Por isso, diz Gabalis ao autor:
"Os sábios jamais o admitirão na Sociedade se não renunciar, antes, a
algo que não pode permanecer em competência com a Sabedoria: a de ter
relações carnais com mulheres".
E conclui o autor o presente capítulo de sua obra Aberraciones psíquicas deZ
sexo com estas palavras:
"Tudo isso nos obriga a um novo capítulo dedicado ao comércio
carnal com as entidades invisíveis que, em má hora, preconiza Gabalis e,
hipocritamente, acredita o abade Villars, por detrás do disfarce de suas
pretensas ironias de "espírito forte".
Porém, como demasiadamente longa tivesse sido esta análise, no que diz
respeito às necessárias comprovações dos diversos erros que envolvem ainda o
Espiritismo e, muito pior, ao pseudo-ocultismo que existe por aí, vamos tratar da
verdadeira origem do surto espírita no Ocidente, repetindo o que já dissemos num
dos capítulos de nossa Mensagem ao Mundo Espiritualista, publicada em o nº 78 de
Dhâranâ:
" Assim é que nossa tese de hoje - já sustentada por outros anteriormente,
embora sem conhecerem certos detalhes sobre a origem desse "surto espiritualista
no Ocidente" - vi~a provar que o mesmo não procedeu do chamado "mundo dos
mortos", mas daquele em que vivemos. Sim, de seres superiores que, por seu alto
saber e perfeição, se fizeram guias ou instrutores da humanidade. A maioria desses
seres vive em certos pontos da Terra, tão secretos que o mesmo é dizer fora deste
mundo de dores em que vivemos. Daí serem denominados homens representativos,
mahâtmas, gênios ou jinas e só estabeleceram comunicação com o mundo através
de pupilos ou discípulos seus, aos quais aparecem - não importa como, nem
quando - para lhes dar instruções, conselhos e outras coisas mais que não vem ao
caso apontar. Alguns, incumbidos de missões especiais, vem à face da Terra,
apresentando-se, porém, tão disfarçados que bem difícil seria reconhecê-Ios entre
os homens vulgares. Hoc opus, hic labor est , aí é que está a dificuldade.
"Mas - dirão os espíritas e quaisquer outros que não sabem ainda o ponto que
queremos atingir - tal coisa é uma contradição palmar com o que vindes afirmando,
pois tais seres são os primeiros a condenar as práticas do animismo..."

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A razão está exposta em tudo quanto vamos dizer:
O movimento espírita é demasiadamente conhecido para o repetirmos aqui
em seus menores detalhes. Diremos, apenas, que não passou de uma tentativa
enérgica para refrear os baixos instintos, ou melhor, uma tentativa para modi-
ficar, ao menos em grande parte, o humano caráter, pois que de há muito o
"materialismo bravio" vinha rompendo o dique tutelar do Espiritualismo, com
suas imundas enxurradas, que chegaram a ponto de colocar a humanidade na
horrível situação em que se acha presentemente e que é desnecessário mostrar
por ser de todos sobejamente conhecida. (Deixemos isso para o último capítulo
desta obra, sob o título O Futuro Imediato do Mundo).
"Para os grandes males, grandes remédios". E o único e grande remédio de
que se podia fazer uso para suster a queda cada vez maior da humanidade, era
despertar no seio dos homens o que ali jazia em estado latente, como reminis-
cência de seu passado já morto. Era fazer vibrar a veste ou corpo - rupa, em
sânscrito -, a veste que esteve em atividade ou se desenvolveu durante a 3ª e 4ª
raças - lernuriana e atlante -, a fim de provar aos homens a existência de um
mundo imediatamente superior ao nosso, onde a alma se sujeita a outras expe-
riências ou processos de aperfeiçoamento, sem necessidade de se manifestar no
físico, a não ser em casos excepcionais ... até o dia de suá nova encarnação.
Desse modo, provando aos homens a existência da alma, se dava o primeiro
passo para os convencer da existência do Espírito e da necessidade da vitória
deste sobre a Matéria. A estas primeiras tentativas se deu, erradamente, o nome
de Espiritismo pois, tratando-se de alma - psiquê, mundo psíquico -, seu ver-
dadeiro nome é Animismo, tanto mais quanto é do mundo astrat segundo os
próprios espíritas, que vêm os seres por ele evocados em suas sessões.
Ademais, somente os fenômenos considerados milagres pela massa inculta
poderiam influir no espírito dessas massas a ponto de modificar as tendências da
época, que o materialismo grosseiro nelas enraizara. Fez-se como se costuma
fazer com as crianças que, para cumprirem seus deveres, é necessário oferecer-
Ihes doces e brinquedos ... Era ainda motivo para agir-se desse modo o fato de se
saber que nem todas as mentalidades se adaptam aos altos conhecimentos ou
querem dispensar esforços naquilo que, mais hoje, mais amanhã, têm fatalmente
de fazer. Raros são os que se não fazem "adeptos da lei do menor esforço". Daí o
chamar-se eleitos - segundo a frase bíblica "muitos serão os chamados e poucos
os escolhidos" - ou constituírem uma elite aqueles
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que, fugindo a essa regra, não necessitam assistir a tais fenômenos, nem adquirir
outras dádivas, físicas ou psíquicas ... para trilharem o verdadeiro caminho. E isso,
ainda, por se esquecerem, os que assim não agem, da conhecida frase ou sentença
atribuída a Jeoshua: "Felizes dos que não viram e creram".
Assim é que, acionados por outras potências ou Inteligências mais elevadas, as
Fraternidades - a que chamamos jinas, de origem atlante, sementes vitoriosas
daquela raça que, por força da Lei, foram mantidas no mundo - se incumbiram de
tão árdua tarefa, tendo à frente a de Iucatã, no México.
Neste caso pensamos diferentemente mesmo daqueles que citamos - pouco
importando opiniões contrárias -, afirmando que, tanto a família Fox de Hydesville,
em Nova York, como Kardec com todos os seus auxiliares, encar-
, ,
nados ou desencarnados, e toda essa avalanche de médiuns assinalada na his-
tória do Espiritismo, não passaram de meros instrumentos - pouco importa se
inconscientes - nas mãos dos referidos Seres, aos quais está afeta a direção da
humanidade da qual são os verdadeiros guias, motivo pelo qual são chamados
Adeptos da Boa Lei, isto é, dessa mesma Lei que a tudo e a todos rege.
Meditem os de espírito mais lúcido em que se não devem ver as coisas de cima
para baixo, donde já viemos, mas de baixo como reflexo que é do que está em
cima. Isto significa que a própria divindade, manifestada como homem na Terra, só
no fim da evolução total da Ronda deve voltar a seu próprio mundo, o divino,
Superior, etc. Daí as velhas teogonias se referirem à "queda do Espírito na Matéria"
...
Assim sendo, contestarão muitos: todos os erros que acabais de apontar ao
Espiritismo recaem sobre tão excelsos Seres? Sim e não, dizemos nós. Sim, porque,
tendo-se dado em holocausto pela humana causa, sobre seus ombros lançaram o
pesado Carma Universal- daí a designação teosófica de Nirmânakâyas, deixando de
usufruir as felicidades espirituais a que têm direito, para ficarem neste mundo como
"espectros de si mesmos", digamos às sim, enquanto houver uma só alma para ser
salva ou redimida. E não, porque, sendo Eles senhores absolutos de todo o Saber
Perdido - para não dizer o summum-bonum da espiritualidade, representantes, por
isso mesmo, da Lei Universal - em condições se achavam e se acham de lançar
mão do referido recurso para atenuar o grande mal reinante, ou aquele que servia
de obstáculo à própria evolução humana - Similia, similibus curantur! No caso
vertente, curar o mal com outro

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mal semelhante: o de um passado remoto dessa mesma evolução e que só pode
ressurgir entre os homens em casos excepcionais, quer em um indivíduo, quer
numa coletividade ou agremiação espiritualista dentro da Lei, quer no mundo em
geral, como se deu com o referido movimento.
E a prova é que Eles mesmos, para equilibrarem os maus efeitos que de
semelhantes recursos adviriam - haja vista os centros mistificadores, as pessoas
arruinadas por uma mediunidade sem controle, mesmo havendo espíritos protetores
em tais centros -lançaram mão de outros Seres e Movimentos, já aí na razão do
Contraríus contraríís, ou seja, o próprio valor do estado de consciência da raça atual-
Manas, o Mental, o Pensamento, etc.
E assim, por exemplo, H. P. Blavatsky vem prevenir aos prosélitos do Espi-
ritismo que não sorvessem, de um só gole, a taça venenosa do Segundo Vestíbulo,
de que fala A Voz do Silêncio:
"O nome do segundo Vestíbulo é o da Instrução - instrução probatória, ou
de provas, experiências, lutas com os obstáculos e quanto de falso existe em
semelhante lugar. Nele encontrará a tua alma as flores da vida; porém, debaixo
de cada flor, uma serpente se acha enroscada".
Tal vestíbulo, como se sabe, não é outro senão o do mundo astral- o mundo
psíquico ou anímico, de percepções super-sensíveis e de visões enganadoras. É,
portanto, o mundo da grande ilusão ...
Daí resultou ter Helena Petrovna Hann de Fadeef Blavatsky, como missão
principal, dirigir o ressurgimento da Teosofia no Ocidente ou daquele Saber
Perdido para os homens, mas carinhosamente guardado, há milênios, nas criptas
silenciosas do Egito, nas cavernas e templos do Tibete, da Índia e da Mongólia,
para não dizer desde logo, em quantas fraternidades jinas se acham espalhadas pelo
mundo. Fazendo ressurgir a Teosofia, HPB distribuiu aquele saber parcialmente, de
acordo com a evolução da sua época.
Não nos devemos ainda esquecer que o Espiritismo e a Teosofia tiveram seus
surtos na América do Norte, em épocas diferentes. Apareceu o primeiro em 1847,
como que para preparar o terreno onde, 28 anos depois, ou seja em 1875, se deviam
lançar as sementes do Puro Conhecimento ou Teosofia. Tal como se deu com o
homem, cuja parte mais densa, a alma, veio antes da parte mais sutil, o mental ou
espírito. Na sucessão destes dois movimentos, vemos a marcha evolutiva da própria
mônada, através dos seus sete estados de consciência.

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Daí o nosso próprio dito de que os dois movimentos se completam, servindo o
Espiritismo de ponte para alcançar a Teosofia, que o mesmo é dizer, o animismo de
degrau para atingir o espiritualismo. Não deixamos, porém, de prevenir que o fato
de permanecer em tal ponte ou degrau por muito tempo faria com que jamais se
alcançasse o lado oposto e toda a estrutura acabasse por apodrecer, perdendo a
razão de ser, como na realidade aconteceu ao mesmo Espiritismo. Muito pior agora
na passagem de um ciclo para outro, onde as cousas da inteligência devem
sobrepujar as da alma ou do psíquico.
Sim, porque o fenômeno dual- o Espiritismo com a Teosofia se completam, mas
não são iguais como muitos pensam - ocorreu, como já foi dito, na América do
Norte, por ser naquela parte do globo onde deveria surgir uma nova civilização, por
nós conhecida com o nome de 6~ sub-raça do ciclo ariano. Razão, portanto, de ter
sido ali que H. P. Blavatsky fundou a The Theosophical Society, cuja missão não
era outra senão a de preparar o advento da referida civilização. E, portanto, lugar
onde deveria continuar sua sede, se não fora a campanha sofrida pela mesma HPB,
por parte não só dos espíritas como dos protestantes e católicos, especialmente
porque, sendo Ela uma "divina rebelde" soube defender com verdadeiro heroísmo a
missão que pesava sobre seus ombros. E se mais não pôde fazer a heróica
missionária - sendo até forçada a regressar à Índia, país que nada tinha a ver com tal
missão - foi devido ao seu bondoso auxiliar que, além de possuir uma alma de
criança, incapaz de enfrentar obstáculos daquela natureza, propendia mais para o
misticismo - como prova, logo que chegou à Índia, sua estreita ligação com o
Budhismo do Sul, ou de Ceilão - do que para a inteligência. Esse desequilibrio no
fiel de sua própria balança espiritual ocasionou a ruína total da S. T. de Adyar,
como o futuro o demonstrou. Desequilíbrio fatal que tem ocasionado e continuará
ocasionando a ruína de outros centros ou indivíduos, por muito tempo ainda ...
Passemos adiante. Em 1874, ou seja, um ano antes da fundação da referida
Sociedade, HPB e Olcott encontravam-se na América do Norte. Exatamente meio
século depois, ou seja, no ano de 1924, outro movimento teve lugar na América do
Sul - Niterói, Brasil. Tal movimento, cuja aparição espiritual se dera 3 anos antes,
trazia, por sua vez, como missão, preparar o advento da subraça complementar à
primeira, visto que, no final de todas as Raças-Mães, as duas últimas sub-raças
quase que se interpenetram. Ademais, na face da Terra existem Seres trabalhando
para outra Ronda, como disse um dos Kut-Humpas,

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quanto mais para uma simples sub-raça embora destinada a servir de origem à
última Raça-Mãe, a sétima, através dos esplendores do estado de consciência
átmico ou crístico, como o chama a própria Teosofia. Há ainda como razão, até
hoje secreta, da simultaneidade do aparecimento da 6ª e 7ª sub-raças o fato de que,
sendo uma a representante de Budhi e a outra de Atmâ, estes dois princípios se
não poderem manifestar separadamente, formando, ligados a Manas, a verdadeira
Tríade Superior.
Surgiu, pois, aquele Movimento na América do Sul, com a fundação material
da STB, realizada, como se sabe, a 10 de agosto de 1924 - em um domingo, por
isso mesmo, dia, mês e ano do Sot por se tratar de um novo Sol Espiritual que
vinha banhar o mundo com seus raios benfazejos ... -, visto que a fundação
espiritual se tinha dado três anos antes, a 28 de setembro de 1921, no cume de uma
montanha sagrada, como acontece a todas as obras destinadas a grandes missões
históricas - Monte Gólgota, Tábor, Sinai, Meru, Mória, etc. - e também por ser
sempre numa montanha que os manus fazem a escolha das sementes para uma nova
civilização ou raça.
Tal como o Movimento levado a efeito na América do Norte 50 anos antes por
HPB, também o iniciado no Brasil foi precedido pelos mais desconcertantes
fenômenos, como se verá quando a história da STB for publicada.
Em resumo, a Fraternidade de Iucatã, no México, está para o movimento
espiritualista de Norte América como a de MachuPichu, próximo a Cuzco, no
Peru, está para o da América do Sul, cujo núcleo central é o Brasil, para não dizer
a Sociedade Teosófica Brasileira, como um Colégio de Iniciação física, moral e
intelectual de todos aqueles que, desde já, queiram formar a privilegiada semente
do novo ciclo racial ou civilização, portadora de melhores dias para o mundo.
Donde seu precioso lema: Spes messis in semine ou seja, a esperança da colheita se
acha na semente.
Já dissemos, à página 213 do nº 77 de Dhâranâ, que na referida fraternidade
esteve HPB quando, muitos anos antes da fundação da sua sociedade, fez uma
tournée em volta do mundo, demorando-se na América do Sul, inclusive no Rio.
Igualmente afirmamos que Roso de Luna, quando da sua série de Conferências
Teosóficas na América do Sul, em 1909-1910, conversou com um dos membros
daquela mesma Fraternidade, por sinal presente a uma das suas conferências em
Valparaiso, no Chile. E não ficaram apenas aí nossas afirmativas,

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86
pois chegamos a apontar uma fraternidade Jina, em Mato Grosso, no Brasil, para
onde foram levados devido a velhas lendas e tradições" o coronel Fawcett e seu
fi

filho, sobre os quais paira até hoje o maior dos mistérios, passando ora por mortos,
ora por terem sido encontrados em uma tribo da região compreendida entre os rios
Kulusen, Kuluene e das Mortes, estando o filho casado com uma índia, filha do
chefe da tribo. E assim por diante ...
Repetimos: "a Fraternidade de Iucatã é francamente atlante, ou melhor, como
já dissemos, a fiel depositária da vitória da Mônada, ao passar por aquele estado
fi

de consciência, como exige a própria Lei". E a prova a damos através da mais


preciosa de todas as chaves, que é a filológica.
O termo Iucatã, de origem maia para uns, mas na realidade, verdadeiramente
atlante, não possui o significado que muitas pessoas julgam, embora o que vamos
dizer seja de todo desconhecido do mundo como, aliás, é tudo quanto sobre o
mesmo assunto já nos foi dado dizer. Yu significa eu e catan, pedaço, fração, parte
de um todo. Neste caso, mesmo sem forçar a imaginação, temos: lugar onde se
acham os vários eus - mônadas, jivatmas, o que quiserem - dos remotos tempos da
Atlântida.
Seu outro nome, Anahuac, que quer dizer a terra salva das águas, demonstra
sua verdadeira origem, podendo ainda ser decomposto em Anas-hua-can, ou seja, o
reino da deusa das águas - Ísis, Maya, etc.
Catan, por sua vez, procede de Kat, Kut, etc., donde se originaram os termos,
tidos por tibetanos e nabateanos", Kút-Humi e Qu-tamy, ambos com o excelso
significado de super-homens, semi-deuses ou metade divina metade humana. Na
mesma razão de mahâtmas, jinas ou gênios, etc.
Não esqueçam os mesmos espíritas e também os teosofistas que o termo Katie-
King que se deu a um elemental- tido como o espírito de uma oriental, das
experiências de William Croohes, e que deixou em poder deste um cacho de ca-
belo - está dentro do mesmo étimo, para provar que sua origem foi bem outra, isto
é, a mesma fraternidade jina. E assim, mais acertadamente deveria chamar-se de
Katie-Queen - como feminino de king ou rei, em inglês -, para provar que se tratava
de uma rainha, chefe ou guia de outros elementais ou mesmo jinas, desde que tal
categoria de seres compreende uma série que vai dos menos aos mais elevados ou
evoluídos, na razão setenária das coisas, isto é, desde o Mahâtma ou Homem
Perfeito, ao ser do mais inferior reino da natureza...

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o mesmo se pode dizer daquele famoso elemental que muito auxiliou HPB
nas suas materializações e outros fenômenos que foi obrigada a realizar para
atender às exigências dos "teosofistas da primeira hora", incapazes, como as
crianças, de acreditar em algo ou cumprir o seu dever sem que antes se lhes dêem
brinquedos ou doces ... Seu nome, John-King, tem a mesma origem que o de
Katie-King, visto que John, João, Joan, Jam ou Jim, Jina, significa tudo a mesma
coisa e King é, como vimos, rei, chefe, guia, etc.
Para maiores elucidações sobre tudo quando estamos enunciando, vamos
trasladar para aqui as nossas próprias palavras, quando tivemos que interpretar o
estilo marajoara da capa da nossa revista, n.oo 91 a 94:
"No caldeamento dos ramos e famnias de velhas civilizações, inclusive a
atlante, ou seja, da descida das Mônadas pelo místico Itinerário de 10, para a
formação das respectivas 6ª e 7ª sub-raças do ciclo ariano - que abrange as
Américas Meridional e Setentrional -, destaca-se o ramo Shoshone, do qual brotou
o Chichemeca, irradiando-se outros, como o Tolteca, Nahuatl, Maya, Kichua,
Tsental, etc.
Os Quíchuas habitaram Guatemala e México, enquanto os Toltecas - como
antigo povo mexicano - foram suplantados pelos Astecas, cujo último imperador
Guatimazin foi mandado supliciar por Fernando Cortez.
A grande civilização maia - da qual se ocuparam eminentes teósofos, como o
genial polígrafo espanhol Mário Roso de Luna, em sua contribuição para o estudo
dos códices Anahuac, intitulada La Ciencia Hierática de ios Mayas ocupava, antes
da invasão tolteca, toda a costa oeste da América Central e depois o Estado atual
de Tabasco até o de Tamaulipas. Encontra-se hoje nos Estados mexicanos de
Chiapas e de Tabasco, na península do Iucatã e na maior parte de El Salvador e
Honduras. Ordinariamente, dividem-se os maias em três grupos: 1) os Maias de
Guatemala, sub-divididos em três sub-grupos: Nam, Kché e Pokonchi; 2) os do
Iucatã, Tabasco e Chiapas, sub-grupos: Tzantal e Maias propriamente ditos; 3) os
Huasteques. O mais importante é o que se encontra no Iucatã e nos confins da
Guatemala.
Os toltecas, ramo de uma fanu1ia étnica e lingüística mui extensa, os nahuas,
não se reconheciam, segundo suas próprias tradições, como autóctones. Pre-
tendiam ter vindo de um outro país, bastante povoado, situado a NO do México e
só se terem estabelecido no centro de Anahuac após longas vicissitudes -

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com vistas à Atlântida. Chegaram a um alto grau de civilização, principalmente no
que diz respeito à arte de construir. O próprio termo tolteca acabou por significar
construtor.
Não deixa de ser interessante apontar aqui a maneira de os toltecas construírem
suas cidades por cima de iníindáveis galerias subterrâneas. Até hoje, devido à
deficiência dos métodos de investigação, os mais cultos arqueólogos não chegaram
a dar com a razão dessas galerias. Mesmo que sejamos tomados por fantasistas,
desejamos consignar aqui nossa opinião: as galerias subterrâneas das colossais
cidades toltecas serviram para os seus mais conspícuos representantes, quase
sempre sacerdótes, se comunicarem com o chamado mundo jina ou agartino,
naquela mesma razão por nós apontada de se poder passar subterraneamente de
Cuzco, Peru, para a serra do Roncador, em Mato Grosso.
Também serviam para que, na iminência de catástrofes, abalos sísmicos, etc., o
povo eleito, ou antes, os poucos que ficavam fiéis às velhas tradições, pudessem ser
guiados para a Terra Santa que resiste a qualquer cataclismo. O termo Ilha
Imperecível, que se dá a Shamballah das antigas tradições transhimalaias, poderá
nortear os que, inteligentemente, queiram dedicar-se a semelhantes pesquisas de
ordem puramente esotérica. Para tanto, os brasileiros contam com elementos
preciosos dentro do Brasil, não sendo impossível encontrar espírito de verdade nas
palavras de Tristão de Alencar Araripe, nas suas Cidades Petrificadas e Inscrições
Lapidares no Brasil, quando enuncia profeticamente:
"Largo horizonte se nos descortinará, mostrando-nos a América outro-
ra culta, e depois subvertida por medonha catástrofe da natureza, surgin-
do talvez das trevas a tão decantada e tão duvidosa Atlântida".
E mais adiante:
"Façamos a nossa epigrafia ante-cabralina, analisemos os caracteres,
critiquemos as inscrições e a arte epigráfica poderá talvez no futuro
revelar arcanos, de que hoje mal podemos cogitar" - Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, Parte I, VoI. L.
As galerias toltecas sugerem imediatamente aquela passagem rnítica do Noé
bíblico que se salva com sua família dentro de uma barca, pelos mesmos
construída. O termo arca ou barca, por sua vez, acha-se estreitamente ligado a
quantas "barcas de salvação" se conhecem através das tradições, inclusive as

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que têm o nome de Mahâyâna - Grande Barca - do Budhismo do Norte e Hinayâna -
Pequena Barca - do Budhismo do Sul, na Índia. Há ainda a Barca de Osíris das
tradições egípcias.
A Igreja Católica Romana, que tem copiado e feito passar entre os ignorantes, é
claro, por seu o que nunca saiu de si, chama-se a si mesma de Barca de S. Pedro.
Certos críticos originam este conceito do fato de ser Pedro um pescador. Apurando,
porém, a interpretação com a chave que só a Teosofia possui, constatamos que o
símbolo radica-se na passagem de Jesus e a adúltera. Ele, calmamente, sem se
perturbar com a bulha palavrosa da multidão, desenha na terra a figura de um peixe
e, só então, dá atenção ao povaréu, sentenciando: "Quem estiver isento de pecado,
que lhe atire a primeira pedra". Peixe representa o signo de Piscis, que se acha
vinculado adstritamente ao mistério do sexo. Com esta simples elucidação, entende-
se claramente que Jeoshua - Jeoshua Ben Pandira é o verdadeiro nome de Jesus
Cristo, como temos dito várias vezesajuíza exatamente a questão sexual, não só
daquela infeliz, talvez vitimada pela moral estreita da época, mas de todos os
homens. Por isso admiramos as palavras de Dante, quando, diante dessas questões,
aconselha: "Guarda e passa", isto é, olha e silencia.
Por ser bom e necessário, tornemos aos nomes Moiska, Moisés, etc., incluindo o
mesmo Noé bíblico, pois que, como dissemos no começo deste estudo, refere-se a
um manu ou guia de um povo, e não chefe de famI1ia como interpreta a Igreja
Católica. A prova temo-Ia no próprio nome Noé que, lido anagramaticamente, dá o
Eon grego, cujo significado é: a manifestação da Divindade na Terra.
Assim, todo manu quando vê seu povo, sua gente, os eleitos na iminência de ser
destruído por uma catástrofe, o conduz para a Arca ou Agartha, tal como faziam os
sacerdotes mais cultos dos toltecas, habitualmente o mais alto de todos eles, por ser
a manifestação da Divindade na Terra consoante o apontamos."
E chega, pois só esta anotação vale por toda a obra, principalmente no que diz
respeito à decadência de um ciclo para o dealbar de um outro, portador de melhores
dias para o mundo.
Inútil o querermos avançar por uma senda que não é a nossa. O guia mais eficaz
do Ocultismo não é, precisamente, aquele que descobre o caminho da evolução, mas
o que auxilia a descoberta do Mestre. Motivo pelo qual a maio-

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ria palmilha o caminho da esquerda ou smaritta, o lunar ou perigoso, que conduz à
Magia Negra, e a minoria, o da direita ou diritta,o solar ou da Magia Branca, na
razão dos dois caminhos do Inferno de Dante, pois que ele mesmo, no Capítulo I,
Verso 1 e lI, faz ver que:
Da nossa vida em meio da jornada,
Achei-me em uma selva tenebrosa Tendo
perdido a verdadeira estrada
Selva tenebrosa, sim, como aquela das Escrituras Orientais, ou seja, a floresta
negra de A vidyâ, a ignorância, a falta de conhecimentos superiores, onde de fato
estão perdidos quase todos os homens, por terem preferido" o caminho do menor
esforço", o aparentemente mais largo e mais fácil de ser percorrido. É o mesmo
Jungfrau das lendas escandinavas, de que o grande Wagner se serviu para as suas
imortais obras musicais; por isso mesmo, selva virgem, floresta negra, igual às de
vários contos que embalaram a nossa infância, como aqueles de Joãozinho e AnÍta
que, perdendo-se no caminho, se embrenharam por negra floresta, indo ter à casa da
fada má, mui propositadamente preparada para fazer cair na armadilha, quantas
crianças - pouco importa a idade, se velhos há aos sete anos e crianças aos 70 e
mais ... - se deixam levar por" doces e brinquedos", como os da referida casa da fada
má, que residia em tão obscuro lugar. E assim, quase sempre, nos referidos contos,
aparece a boa fada que vem livrar as crianças de sucumbirem em tão terríveis
lugares ... pois outra não é senão a Teosofia, como Iluminação ou espiritual Farol,
capaz de clarear a longa e espinhosa vereda da vida, a quantos dela se queiram
aproximar, ou antes, socorrer.
Quanto à aparente dificuldade de ser encontrado O Verdadeiro Caminho da
Iniciação, o que tanto vale por verdadeira missão - a fim de não ir ter ao dantesco
portal onde se liam as ameaçadoras palavras: Lasciate ogni speranza, o voi ch'entrate
(abandonai toda esperança, ó vós queentrais), vejamos o que diz o grande Iluminado
que foi Claude de Saint-Martin, no seu Ecce Homo:
"Julgo fazer uma advertência salutar sobre tais fatos, dizendo-vos: Ho-
mens, meus irmãos, meus amigos, desconfiai dessas alegrias e desses
transportes que vos ocasionam semelhantes missões, dirigidas por aqueles
que se dizem protegidos pelos deuses e sobre os quais vos firmais com
tanto prazer.
Por que não haveis de compreender não ser possível existirem tantos
bens na Terra? Estais certos de que esses gozos que vos são prometidos,
inclusive o da salvação eterna e que de antemão vos trazem felicidade,
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sejam remédio seguro para vossos males, para as vossas feridas? Ou, pelo
contrário, retardam as alegrias perduráveis que podeis sentir no vosso imo?
Guardai-vos com prudente reserva, no meio dos prodígios e das predições que
vos cercam a respeito de semelhantes missões, dirigi das e protegidas por tal
gente".
E mais adiante:
"O que pode servir, nessas manifestações ou movimentos exteriores, para
discernimento entre o verdadeiro e o falso - o negrito é nosso - é a superfi-
cialidade dos resultados de tais missões, pois elas não passam de simples
sombras de obras verdadeiras. Tudo nelas trescala a humano, a interesses
pessoais, a começar pelo vil metal - como se alguém pudesse vender ou
comprar a verdade, ou antes, adquirir a superação sem ser por esforços
próprios -, embora que sob promessas enganadoras de felicidade, grandeza,
etc." - por toda parte ... elas se acham oferecendo-nos a sorte grande na loteria,
a conquista de posições, a felicidade no amor, etc.
"Nesse caso, obras pouco vivificantes - ou antes grosseiras - para se liga-
rem ao plano da Grande Obra Divina, cujo fim principal é atrair-vos, nova-
mente, para o vosso centro interno - ouvi bem, irmãos espíritas, se, como
parece, buscais a verdade fora de vós, nas mãos de outrem: os espíritos -, onde
Ele se acha, em lugar de subdividir-vos em centros externos, frágeis,
tenebrosos, corrompidos, onde Ele, de modo algum pode ser encontrado."
E assim completa ele, mais adiante, seus conselhos:
"Homens presentes, passados e futuros! Todos vós que representais um
pensamento do eterno Sopro da Vida, pensai o que seriam vossas luzes, vossas
felicidades se todos os germes divinos que vos constituem estivessem em
franco desenvolvimento, em plena atividade!
Mas, se sob o privilégio da vossa divindade, persistirdes em viver, ainda,
alquebrados pelo peso dos gemidos e pesares de vossa atual existência, os
quais vos interdizem os gozos ultraterrenos, procurai, ao menos, fazer refletir
sobre vós os traços dos raios de vosso Sol Gerador, esforçai-vos para ser
aquilo que foi o homem numa época que já passou para vós ... mas, de que a
ela não fostes estranhos, como testemunham a beleza de vossa estrutura física
e a pujança da vossa mentalidade.
E se perdestes a memória dessa época maravilhosa do passado, deveis tão
preciosa perda, única e exclusivamente, às religiões pervertidas pelo interesse
e maldade de seus sacerdotes.

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Sim, porque as religiões - embora sejam verdadeiros freios para
aqueles que não sabem guiar-se na vida senão por esses meios tão
incompletos, tão deficientes para se alcançar uma nítida compreensão das
coisas - jamais poderão conduzir o homem ao seu verdadeiro destino,
visto não ser pelo temor a um Deus vingativo e às penas infernais que ele,
'livre de paixões, isento de temores e munido duma fé inabalável em si
mesmo' - 'Faze por ti que Eu te ajudarei' ... -, poderá alcançar o pináculo
da Glória, ou o cume da Montanha onde tremeluz o Triângulo Mágico da
Iniciação."
De fato, as seitas são ramas pequenas que das maiores se derivam. Porém, umas
e outras, extraídas do mesmo Tronco: a Religião-Sabedoria - através de seus
diversos nomes: Sanâtana-Dharma, Gupta-Vidyâ, Brahma-Vidyâ, etc., que tanto
vale por Sabedoria Perfeita, Iluminação, Conhecimento, etc., conforme já foi dito
em outros lugares deste estudo - ou a mesma oferecida ao mundo, de modo
parcelado, pois de acordo com o estado evolutivo de cada época, por todos os
Iluminados que ao mundo vieram.
Já uma vez dissemos poderem os homens - o que é muito diferente de deverem
- possuir qualquer religião: católica, protestante, budista, muçulmana, etc., como
grosseiras adaptações iniciáticas de épocas anteriores, mesmo que venham
acrescidas do prefixo neo como, por exemplo, neopitagorismo, etc. Acompanhando
a própria evolução, deve ele, entretanto, sujeitar-se à nova forma ou modalidade
com que se apresenta ao mundo essa mesma Verdade. Donde o Rig Veda dizer: "A
verdade é uma só, embora os homens lhe dêem nomes diferentes."
É essa babeI espiritualista que concorre indiretamente para a discórdia entre os
homens pois, possuindo cada qual um fragmento apenas da Verdade Total, julga-se
senhor absoluto dessa Verdade. O mesmo seria se cada um dos possuidores do
fragmento dum vaso, partido em mil pedaços, se julgasse possuidor do vaso
inteiro ...
Se os homens possuíssem uma só crença, um único ideat não se digladiariam
tão estupidamente como fazem. Já tivemos mesmo ocasião de dizer que "na hora
em que os homens cogitarem de um idioma e de um padrão monetário único, terão
dado o primeiro e mais importante passo para a concórdia universal".
A Teosofia é a nova modalidade com que se apresenta a Verdade Una, bem
diferente das formas fracionadas e obscuras com que a têm revestido, através do
considerável número de religiões e ideais que até hoje debalde procuraram
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resolver o problema da felicidade humana. Ela nos mostra o degrau evolutivo que
no presente momento devemos transpor e se os homens, surdos ao seu clamor e
cegos ante o esplendor das Eternas Verdades que Ela apregoa, preferirem continuar
sua marcha pelos velhos e perigosos caminhos da involução, agem como alguém
que, em vez da comodidade do automóvel ou da rapidez do avião, preferisse
utilizar nas longas jornadas o carro de bois ou mesmo a diligência.
Nenhuma religião, já dizia H. P. Blavatsky, concorreu tanto para o derrama-
mento de sangue como o Cristianismo e o Maometismo ou Islarnismo. Não pelas
mãos dos que passam por seus respectivos fundadores pois, Iniciados que eram,
não fizeram mais do que apresentar ao mundo duas brilhantes facetas da primitiva
Religião-Sabedoria, mas por aqueles que logo adulteraram os seus princípios: os
sacerdotes ávidos de dinheiro e poderio - contrariando a iniciática frase atribuída a
Jeoshua: "meu reino não é deste mundo" - e que, por tudo isso, aconselhavam aos
homens a fazerem o que eles disserem e não o que fizerem.
Quanto ao Cristianismo, o papa atual, um homem de grande envergadura
cultural e espiritual, acaba de ordenar que a igreja volte ao Cristianismo primitivo,
ou aquele adotado até o 4Q Concílio, e que admitia, por exemplo, a transrnigração
da alma.
"A Humanidade, tal como a Natureza - diz por sua vez o incomparável Roso de
Luna em sua monumental obra A Humanidade e os Césares -, possui suas estações.
E se a noite medieval não foi mais do que um inverno cruel para o despertar da
idade moderna, a futura bem poderá ser, para o mundo, a Primavera, num ressurgir
de todas as delícias de um passado pré-histórico como o da Atlântida, que se julgou
para sempre perdido.
De tudo se falou, mais do que possa julgar nossa vaidade ocidental, nos mais
antigos livros do Oriente, porque, para esses desconhecidos monumentos da
antigüidade sábia, a Ciência era una e abarcava, em suprema síntese, tudo quanto
se refere à Natureza, à Humanidade e ao Homem".
E nós mesmos, em velho artigo intitulado Ontem e Hoje ou Poder Temporal e
Poder Espiritual:
"O cientista que raciocina segundo o plano da percepção dos sentidos é o que se
acha mais afastado do reconhecimento da verdade, porque toma todas as ilusões
produzidas pelos sentidos como realidades e repele as revelações de
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sua própria intuição. O filósofo incapaz de perceber a verdade, procura adquiri-Ia
por meio da inteligência, podendo dela aproximar-se até certo ponto. Só aquele que
adquiriu a condição consciente da verdade, reconhecendo-a por percepção direta, a
ela se acha intimamente unido e não pode absolutamente enganar-se".
Tal condição é incompreensível para a maioria dos indivíduos, tanto cientistas
como filósofos, e absolutamente inadmissível para os completamente ignorantes.
No entanto, existiram e existem homens que alcançam aquele estado. São os
verdadeiros teósofos, pois só estes representam, como um verdadeiro cristão ou um
verdadeiro budista, as formas humanas onde a Alma Espiritual Universal chegou a
ser consciente. Mas não basta dizer-se teósofo para estar de posse dessa
consciência, como não basta dizer-se cristão ou budista para ser um Cristo ou um
Budha.
Diz Franz Hartman:
"Um verdadeiro cristão é inteiramente diverso do meramente externo.
Os primeiros cristãos formavam uma organização secreta, uma escola de
ocultistas - o mesmo Jesus esteve entre os Essênios, como uma escola
dessa natureza, dos 13 aos 30 anos, de que a Bíblia não se ocupa -,
adotando certos símbolos e sinais a fim de representarem as verdades que
compreenderam e, dessa maneira, poderem comunicá-Ia entre si,
ocultando-a dos ignorantes. Do mesmo modo, um teósofo verdadeiro não
é um sonhador mas uma pessoa essencialmente prática. Por sua pureza de
vida - refere-se ele a um Adepto e não a um simples estudante de
Teosofia -, consegue adquirir verdades elevadas, impossível de serem
recebidas por indivíduos comuns".
Assim aconteceu ao sapateiro Jacob Boehme, que dum momento para outro se
tornou um iluminado, devido, naturalmente, ao acúmulo de skhandas ou tendências
favoráveis que trazia de anterior ou anteriores existências. O mesmo se deu com
Antônio Vieira que, como se sabe, havia sido anteriormente um péssimo aluno.
"A Verdade é uma só, embora os homens lhe dêem nomes diferente", diz o
Rig- Veda, um dos mais antigos livros do mundo.
Por isso, para encontrar a "verdade verdadeira", digamos assim, mister se faz
atirar para longe as falsas vestes com que a mesma se apresenta ao mundo,

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através das diversas religiões que não passam de embaciados espelhos onde se
reflete a Religião Única ou Única Sabedoria.
"Mas, onde está a verdade?" perguntou-nos certa vez conhecido intelectual.
"Por detrás da Mentira", respondemos. Para diferenciar uma da outra é preciso ser
Adepto. Daí a iniciática frase oriental: "Do ilusório conduz-me ao Real; das trevas
à Luz; da morte à Imortalidade".
Os homens de todas as partes do globo, onde Ela chegou a ser conhecida,
tiveram a mesma percepção. E isto explica o motivo por que as revelações de todos
os profetas são idênticas, quando eles alcançam o mesmo poder. Só os termos
diferem.
Se a ciência e a religião, a natureza e a moral, o universo e o homem fossem
dois termos irredutíveis e sem princípio superior, falsos também seriam eles,
fatalmente: uma ilusão e nada mais.
A ciência abstrata é um verbo inanimado; ela isola e dispersa. Porém, a Sa-
bedoria, que é a Ciência do Amor aplicada à Alma e à Humanidade, une e
concentra, pois que Ela é o Verbo vivo.
E quanto ao quererem apoderar-se dos dois Poderes, temos, para se opor a tal
pretensão, não só o "dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus",
recomendado por Cristo e tão mal seguido por seus pretensos discípulos, como as
sapientíssimas palavras de Antônio Vi eira que vamos transcrever de sua Arte de
Furtar, Capo L:
"É o sacerdócio isento da jurisdição dos leigos por decreto divino e hu-
mano. E com isso está que há muitos casos em que os eclesiásticos ficam
sujeitos às leis civis, como os seculares; e para melhor inteligência desta
verdade, havemos de pressupor que este mundo é como o corpo humano que
não se pode governar sem cabeça; e até os brutos, diz S. Jerônimo, Epístola
4: Duclares sequuntur suas; in apibus príncipes sunt; grues unum sequuntum ardine
litterata, isto é, os graus seguem um que os guie; as abelhas têm uma que as
governa; e todos os animais reconhecem domínio em outros. Os homens
levados desses ditames da natureza, que é lei muito forçosa, para não serem
mais estólidos que os brutos, fizeram reis e escolheram magistrados a quem
se submeteram, para serem regidos.
E também se colhe que o papa não é senhor temporal de tudo, porque
Cristo só lhe deu o poder espiritual, e o temporal só os povos lho poderiam
dar e não consta que lho deram."
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Mais errado estará ainda aquele que pense poder livrar-se do trabalho de
procurar a Verdade, pagando a outro para que o faça em seu lugar, esquecido do
ensinamento de Jeoshua: "faze por ti, que eu te ajudarei". É dentro e não fora de
nós que devemos procurar a Verdade, coisa que, em geral, não se ensina, por
ignorância dos métodos destinados a realizar tamanho empreendimento.
O verdadeiro caminho da iniciação acha-se, por isso mesmo, em mãos da
Sociedade Teosófica Brasileira, para não dizer do Brasil, como "santuário da
iniciação moral do gênero humano a caminho da sociedade futura", desde que ela,
a STB, não podia ser edificada em outro lugar da Terra senão no Brasil, como seus
dirigentes e protagonistas só em tão privilegiado lugar podiam encarnar-se.
A Teosofia, representando uma nova modalidade da Verdade Una, é a própria
deusa Ísis que só aos poucos pode desvendar seu virginal corpo ao mundo,
aguardando que o homem alcance o cimo da extensa e prodigiosa escada da
evolução - que é a mesma da visão de Jacó - para só então se mostrar em todo o
seu esplendor.
Providencial exigência da Lei que a tudo e a todos rege! Se o pouco que dessa
Verdade foi dado ao homem descobrir é por ele empregado em detrimento do
próximo - haja vista a aviação, que em vez de servir para encurtar distâncias, ou
antes, aproximar os homens uns dos outros, a fim de melhor se amarem e
compreenderem, é hoje a mais poderosa arma de destruição ... -, que aconteceria
se ele já estivesse de posse do conhecimento integral dessa mesma Sabedoria
Oculta ou Teosofia?
Por isso ela tem os Mahâtmas por seus fiéis guardiães, e isto basta para que
compreendamos a impossibilidade da sua rápida e total divulgação no mundo
profano, o que de modo algum significa não ser dada aos eleitos - a elite, a
semente, digamos assim -, pois jamais algum manu, Moisés inclusive, negou o
maná - ou man-hu?, como o interpelou o povo hebreu - caído do céu, maná que
não é outro senão o precioso fruto da Árvore da Sabedoria - a Árvore de Bodi, sob
a qual o Budha resolveu todos os problemas da Vida - ou a mesma ... Teosofia. Já
dizia Jeoshua: "Dai de graça o que de graça receberdes", sem no entanto se
esquecer de ensinar: "Não atireis pérolas aos porcos", isto é: não regateeis o fruto
de tão preciosa Árvore aos sedentos de Luz, mas ... negai-o àqueles que deles
farão mau uso!

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Do mesmo modo dizem os Mahâtmas: "A Porta acha-se aberta a todo aquele
que, com sinceridade, deseje colaborar conosco a favor da felicidade humana",
pois outra maior não há do que a espiritual.
Nessas palavras acha-se contido um verdadeiro compêndio de filosofia, para
aqueles que sejam capazes de ler "por baixo da letra que mata o espírito que
vivifica" ..
Quanto ao saber humano, por maior que seja, como já dissemos, jamais lhe
será possível divulgar o que de precioso existe fora da sua ciência pois, como
também já dissemos, "a ciência termina onde a Teosofia começa". E sem falar-
mos nos erros que ele mesmo encontra em cada passo que dá no seu pseudo-
progresso!
Já o grande Iniciado que foi Paracelso afirmava: "O que uma civilização
considera como o máximo de saber é considerado pela vindoura como inútil e até
prejudicial". E de todas as ciências terrenas, nenhuma tão repleta de erros como a
Medicina. Não necessita uma civilização, como diz Paracelso, reconhecer os
prejuízos e inutilidades do que se tem por bom e verdadeiro. Muitas vezes, em
menos de um ano, quer a propedêutica, quer a terapêutica, se sujeitam a enormes
modificações. E foi esta a razão que nos levou a dizer alhures que a Medicina
também está sujeita ao império da moda. A que agora está em vigor é a das
vitaminas, embora os últimos números das revistas européias, principalmente as
alemãs, chamem a nossa atenção para os gravíssimos perigos que podem ocorrer
com a aplicação errônea desta ou daquela vitamina em indivíduos que dela não
necessitam (11).
E é assim que a Astronomia de hoje é a Astrologia de ontem; a Química, a
Alquimia; a mesma Medicina, a Magia Teúrgica. O mesmo se podendo dizer de
todas as ciências, embora todas elas estejam muito longe de atingir o máximo dos
conhecimentos humanos ou mesmo todos os conhecimentos por aquelas
atingidos e que, por isso e por ignorância, são chamados super-humanos,
sobrenaturais, etc.
A Medicina, outrora a mais sagrada de todas as ciências, deve olhar seus
próprios conhecimentos através de dois prismas: o puramente humano, por isso
mesmo sujeito a erros, e o superior ou divino - por estar ainda oculto ou secreto -,
por baixo daquele, como "por debaixo da letra que mata se encontra o espírito
que vivifica". E, assim,acabará descobrindo grandes coisas ...

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Afirmava Paracelso: "Ê ignorância estudar o corpo humano depois de morto".
Referia-se à impossibilidade de estudar, naquelas condições, certos centros de
força - ou chakras, como lhes chamam os hindus - e dos quais falaremos tanto
quanto nos for possível no Capítulo 2 desta obra, deixando para a próxima os
detalhes que possam ser levados ao conhecimento do público.
Níhíl noví sub sole! De fato, nada existe de novo debaixo do sol. E é por isso que
o homem não inventa coisa alguma. Ele apenas consegue descobrir o que se acha
encoberto por baixo dos véus maiávicos - ilusórios - de sua própria ignorância das
coisas superiores ou divinas.
Ao contrário do que julga a maioria, não pode ser admitida a tolerância para
com o erro, para com todos os obstáculos - verdadeiras forças - que interdizem a
evolução humana. Assim pensam os Adeptos da Boa Lei; assim o ensinaram e
disso deram proveitosos e sábios exemplos todos os Grandes Seres que ao mundo
vieram. As próprias Regras ou Mandamentos do Manu, donde saíram os códigos
penais de todos os países, apontam os erros e as penalidades a que todos estão
sujeitos, embora aqui a Justiça se apresente em forma de Carma. E este nem
sempre é esgotado no homem que vai para a cadeia, por tudo na vida não passar
de estados de consciência.
Será preciso que aquele que ali sofre por se ver privado da liberdade, afastado
de sua faml1ia, dos entes que ama, além de em semelhante lugar levar vida
exemplar, se ache cônscio de que está, de fato, pagando uma pena merecida pelo
crime praticado. Deverá, ainda, admitir que juiz, promotor, jurados, etc.,
condenando-o, nada mais fizeram do que cumprir seu dever para com a segurança
pública, o Estado, etc. Só assim seu carma será esgotado.
Mas se, ao contrário, além de se sentir bem em tal lugar, nenhuma importância
ligar à falta de liberdade, aos seus parentes e amigos, mantendo constante revolta
contra aqueles que o julgaram, sairá dali nas mesmas condições em que entrou,
sendo, por isso, obrigado a pagar em outra existência o crime que praticou na
Terra e do qual não sentiu remorsos nem mesmo ligou importância à pena humana
que lhe foi imposta.
Certos códigos sagrados chegam a ponto de aconselhar que se apontem os
criminosos à Justiça, a começar pelos que lesam o fisco, etc., por se tratar de um
bem público de que um ou mais indivíduos despojaram a coletividade, privando-a,
assim, de benefícios de que carece, tais como: escolas, creches, hospitais, etc.

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o que se deve, isso sim, é dar um outro caráter às cadeias, transformando-as
em verdadeiras escolas de educação integral - física, moral e intelectual, base da
espiritualidade perfeita -, coisa de que, aliás, já cogita o nosso governo. E aos
positivamente "tarados" dêm-lhes sanatórios apropriados, pois já o grande Nina
Rodrigues afirmava que "as cadeias deviam ser transformadas em sanatórios".
Mesmo porque, aquela terapêutica baseada na educação física, moral e intelectual,
aplicada aos degenerados psíquicos e fisiológicos, não deixa de ser eficaz nem de
concorrer para a modificação de cada um, tornando-o um ser superior, digno e
capaz de ser útil à pátria e aos seus semelhantes, de acordo com sua própria
jerarquia humana.
Por seu lado, às religiões, aos centros verdadeiramente espiritualistas - em
obediência aos altos deveres que lhes impõe a mesma Lei - cumpre auxiliar o
Estado na sua obra de regeneração social, que o mesmo é dizer pelo engrande-
cimento da pátria, principalmente quando desta se conhecem os altíssimos destinos
na História da Humanidade.
Não nos esqueçamos daquele prodigioso Adepto tibetano que se fez chefe duma
quadrilha de bandidos, para atenuar o mal que eles praticavam, e aos poucos os foi
encaminhando para o Bem, a ponto de os transformar em seus discípulos (12).
Não há necessidade, no Ocidente, de lançar mão de tão perigoso processo.
Basta-nos ir às próprias cadeias, aos morros, aos lugares onde a cultura geral não
chegou, a toda parte, enfim, onde haja necessidade do nosso espiritual apoio,
mesmo que, no começo, sejamos mal recebidos. Gutta cavat lapídem, a gota acaba
por cavar a pedra, o que eqüivale ao conhecido aforismo Água mole em pedra
ff

dura tanto bate até que fura".


"As almas rebeldes são as que se salvam", diz um dos oráculos de Zoroastro.
Sim, as almas que não suportam as injustiças, a mentira, o erro proposital, o crime,
seja o que for que possa servir de obstáculo à evolução humana, são as únicas que
se salvam, porque só elas, penetrando na consciência ou âmago das coisas, sabem
muito bem diferenciar o verdadeiro do falso, o real do ilusório, o Bem do Mal.
Divinos rebeldes são, por isso mesmo, os Adeptos. E a própria HPB recebeu
esse título, conquistado pela sua eterna rebeldia contra o erro, a mentira, a ilusão, a
falsidade, enfim, com que a maioria dos homens procura revestir a face externa das
coisas, cuja face interna ou verdadeira cada vez mais se oculta.

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11A crítica mútua - dizia a mesma HPB - é a política mais sadia e ajuda a
estabelecer regras finais e definitivas na vida prática e não meramente teórica.
Temos tido teoria demais".
E já agora famoso Adepto:
“A crítica, em si, não é mais do que a mecânica do juízo; a análise das
partes que conduzem ao conceito de um fim determinado. É, portanto, como
mecanismo, neutra, isto é, a cor da sua conveniência quem lha dá é o crítico.
Têm-se reprovado a censura, veneno que corrói, tanto ao que a emite como
ao que a recebe, gerando sinistros elementares que enriquecem os esforços do
Mal... E à censura acharam de chamar crítica.
A censura não é mais do que uma parte da crítica, no que esta tem de mais
inferior, como fruto da análise apaixonada que se tem por malícia. Esta, sim, é
que é o grande e perigoso morbo de nosso caráter, a última e mais sutil
expressão de ódio, o micróbio que, antes de tudo, deve exterminar em si o
aspirante à vida superior. Tal é o fundamento de toda a ética do discipulato.
O renascimento espiritual, de que tanto se fala em certas místicas teosóficas,
é bem diferente do que se pensa. Ele representa o máximo valor, não
espetacular, mas real e interno, das iniciações. Visa transformar-nos em
crianças, melhor dito, fazer-nos renascer em pureza. Não a pureza que
represente uma repressão, uma fictícia castração, mas aquela que apresenta a
característica da essencialidade, visto ter por princípio anular em nosso imo
todo assomo de malícia. Aquele que não é malicioso não censura.
Deixar, porém, de criticar? Não. A crítica, quando despojada de seus ele-
mentos negativos, torna-se a mais poderosa tribuna do aperfeiçoamento.
O indivíduo, ao atirar para longe de si a forma mais sutil do ódio, a malícia
criadora da censura, livra sua mente das pesadas correntes que a aprisionam no
seu interior e faz desabrochar a intuição, como florescência da supercrítica.
O homem superior - ouça-se bem - é um grande crítico, principalmente se
sua máscara visível oculta uma outra que ele não pode mostrar a profanos ... É
um Ser que, possuindo determinada função na Terra, possui, ipso-facto, natural e
esclarecida visão em relação aos demais seres e coisas. E é o ajustamento no
conjunto de semelhante visão e intuição que lhe dá a faculdade de criticar.

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A arte do verdadeiro ocultista consiste em aperfeiçoar, pelo poder da
crítica, não só o que ainda lhe resta de imperfeição, como aquilo que clara-
mente se apresenta através dos seus semelhantes - o negrito é nosso -, e que
se deve considerar completamente diverso de censura.
E nada disso influi para não reconhecermos as virtudes dos outros, em vez
dos seus defeitos quando, no silêncio solene das nossas meditações que tanto
vale pelas do nosso "sepulcro interno" - as relembrarmos como sublimes
exemplos para nós mesmos.
Muitas vezes passamos por maus julgadores e falsos juízes, senão, por
aplicadores de castigos morais, principalmente aos olhos daqueles que,
possuindo lastro maior de defeitos, não podem admitir, nem de leve, se
critique o que eles não deixam transparecer aos olhos do mundo. Esses são os
"jesuítas", muito mais indignos do que outros que,humildemente, se deixam
criticar por aqueles que, paternalmente - muitas vezes retendo no peito a
grande dor produzida por essa maneira de agir -, o fazem na certeza plena de
estarem praticando o Bem, quando não é por amor ao próprio Bem, ao desejo
incontido de ver felizes os que sofrem na vida por descaso de si mesmos,
como se fosse possível enganar a Voz da Razão ou do Silêncio, que outra não
é senão a do Eu-Interno ou Consciência Imortal.
Não vemos todos esses princípios, hermeticamente expostos, refletidos na
qualidade-mater de toda obra de arte? Não foi superando - graças à
infatigável autocrítica - que a arte foi perdendo todas as imperfeições de uma
técnica insuficiente, de uma valorização inadequada, duma expressão
errônea, até alcançar a obra-prima definitiva que palpita, de modo vago,
como ideal de perfeição, no interior da sua própria alma?
E a arte vital, a arte da evolução humana, é bem superior a todas as artes,
porque é a arte por excelência. O mundo é uma grande tela que o verdadeiro
teósofo ou ocultista, como eterno criador, deve aperfeiçoar cada vez mais, a
si mesmo se aperfeiçoando ...
Sócrates e PIa tão - com as suas idéias arquetípicas, a cuja concepção se
chega precisamente através da supercrítica - dão-nos o fundamento da moral
e da arte, sendo os luminares dos dois cumes humanos, no século máximo da
Grécia: Péricles e Fídias.
A crítica, assim libertada, é o veículo por onde se verte e condiciona a
força criadora do pensamento consciente. Desde a imperfeição das formas
físicas, até às tortuosidades do caráter a serem aplainadas, o verdadeiro

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teósofo, graças a uma crítica oportuna, projetará sempre sobre os corpos e
as almas a perfeição do arquétipo, como uma verdadeira invocação à la-
tente perfectibilidade de tudo quanto existe.
Neste caso, a crítica é o mais poderoso veículo da evolução humana.
Razão por que se não deve deixar de criticar, devendo-se, porém, "saber
criticar..."
Foi baseado nesses princípios que procuramos escrever tão despretensiosa obra,
à qual demos o título O Verdadeíro Camínho da Inícíação, como comentário ao
precioso opúsculo de HPB Prímeíros passos no camínho do ocultísmo. E sua longa
introdução - como o leitor inteligente deve ter percebido - teve por fim não só
mostrar a decadência do atual ciclo racial, assunto que voltaremos a tratar no último
capítulo da obra, como de provar não estar de posse da Verdade a maioria do que
por aí se apresenta com o rótulo de espiritualismo. É essa "maioria" que nos deve
dar a certeza da existência duma "minoria" sob a tutela, ou tendo por guia a Grande
Fraternidade Branca, incumbida de manter o excelso Fogo da Sabedoria Divina ou
Sabedoria dos Deuses, até que o último dos homens se tenha libertado das férreas
cadeias da ignorância em que vive.
A todos, pois, o mesmo direito de criticar a nossa obra.

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Capítulo 1

OCULTISMO PRÁTICO
(Importante para os estudantes)

Inúmeras são as pessoas que andam em busca de um ensinamento prático de ocultismo. Toma-se, pois,
necessário expor, de uma vez por todas, o seguinte:
a) A diferença essencial entre o ocultismo teórico e prático; entre aquele que é geralmente conhecido com
o nome de Teosofia e o que o vulgo denomina de Ciência Oculta; e
b) A natureza das dificuldades inerentes ao estudo deste último.
É bem fácil se tomar teósofo. Qualquer indivíduo de inteligência mediana e um certo gosto pela
metafísica, ou que se conduza por uma vida pura e isenta de egoísmo, sentindo maior prazer em oferecer do
que em receber algo do próximo; que esteja sempre pronto a sacrificar suas próprias alegrias por amor a
outrem, amando a Verdade, a Bondade e a Justiça pelo que elas representam e não pelas vantagens que das
mesmas possam usufruir, este é um teósofo.
"Dai de graça o que de graça receberdes", ensina Jeoshua aos seus discípulos ou apóstolos, referindo-se
aos conhecimentos que dia a dia lhes ia oferecendo, visto que a Verdade não se compra nem se vende. Razão
por que a Teosofia, antes e acima de outro qualquer ideal, prega e pratica a fraternidade humana, sem
distinção alguma de raça, casta, crença, cor, etc.
É esta a verdadeira interpretação da frase atribuída a Jeoshua e não a que lhe dão a Igreja e demais credos
religiosos, pois não há caridade maior que a do pão espirituat que tanto vale por aquele maná caído do céu,
símbolo do precioso fruto da Árvore da Sabedoria.
"Cada qual puxa a brasa para a sua sardinha", diz o velho brocardo. E assim,

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vemos o próprio J eoshua - O Jesus bíblico - proclamado pelos anarquistas como
dos seus; exemplo tomado por todos os credos, inclusive pelo Espiritismo, que o
venera como "um grande médium". Neste caso, agindo por conta dos "espíritos" e
não dominando-os, como fez com o possesso, de cujo corpo expeliu inúmeros,
fazendo-os passar para uma manada de porcos que, pouco a pouco, se foram
atirando ao rio. E desta forma o Espiritismo - julgando que qualquer homem, ao
sobressair na vida por sua cultura moral e intelectual, e os mais elevados Seres que
vieram a este mundo estariam neste caso, o deve a um "espírito superior que o
acompanha" - retira o direito ou privilégio da evolução humana e se esquece de
que esse mesmo espírito superior, por sua vez, viveu em corpo humano ... sem o
que não poderia haver evolução.
A verdade, porém, está naquela resposta do mesmo Jeoshua, quando o in-
terrogaram sobre sua estirpe, nome e procedência: "Ego sum qui sum"; resposta de
que se serviram, igualmente, Cagliostro e São Germano e a qual, por si só,
comprova não ser este mundo o reino de nenhum deles.
Por isso que Eles, sem exceção alguma, de acordo com suas várias jerarquias,
são fiéis defensores da sinarquia e nunca da anarquia, pois por anarquia se entende
tudo quanto esteja fora dos verdadeiros princípios da harmonia. Nesse caso, sem
governo, sem direção ou chefia, coisa inadmissível, mesmo nos planos superiores
aos da matéria, para o equilíbrio perfeito entre a Ordem ou Paz, Amor ou Justiça e
a Sabedoria ou Verdade.
Acontece, porém, que nos ciclos de decadência, como este que estamos atra-
vessando, mesmo com chefia, existe a anarquia, caracterizada pelo geral de-
sentendimento, motivado pela diversidade filosófica e religiosa já apontada na
introdução deste livro; por essa verdadeira babeI que afastou, cada vez mais, o
homem da Unidade primitiva ou Religião-Sabedoria, sustentada pelos únicos que
podem ter direito ao título de Chefes ou Guias, não apenas de um povo, mas de
toda a humanidade, como Espiritual Failll1ia, onde se refletem os próprios anseios
da Divindade, através de sua tríplice manifestação ou, antes, tríplice expressão:
Vontade, Atividade e Sabedoria.
Esses Chefes ou Guias não são outros senão os preclaros membros da Excelsa
Fraternidade, que na Terra se mantêm desde os meados da 3ª Raça-Mãe, ou seja,
desde que a humanidade começou a ser digna desse nome. Àparte o que
atualmente se pode dar o nome de Fraternidade Branca, depois que o Oriente

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cedeu o seu papel ao Ocidente, a STB possui hoje os seus próprios Adeptos, por
sua independência, como centro de irradiações espirituais para o mundo.
Mais anarquizado do que se acha o mundo, especialmente a velha Europa,
não é possível! Por muito menos, talvez, foi destruída a Atlântida e, anterior-
mente, a Lemúria!
Estava, porém, escrito que em nosso continente - onde o vírus pestilencial das
ideologias decadentes só encontrou acesso em mentalidades da mesma natureza,
não de acordo com o similia similibus curantur propriamente dito, mas com o
similia similibus congregantur - se devia processar a seleção ou escolha da boa
semente para o ciclo vindouro - separação do bom trigo do joio" - e, a fim de
ff

manter em perfeito equilíbrio a Lei Universal, dessa anarquia se viu livre a


grande maioria cujos anseios de paz e irresistível atração para algo superior, que
ela mesma desconhece, hão de fatalmente servir de exemplo às demais nações do
mundo.
Dessa escolha e de manter vivo o Fogo de tamanha e tão transcendente
Verdade vem incumbindo-se a Sociedade Teosófica Brasileira há longos anos;
nunca, absolutamente nunca se afastando um milímetro sequer das construtivas e
prodigiosas diretrizes que a própria Lei lhe traçou e que devem ser seguidas
fielmente, sejam quais forem as lutas e sacrifícios, para que tão excelso
empreendimento se mantenha na privilegiada pátria que tem por nome Brasil.
Por isso afirmamos, sem temores nem restrições de espécie alguma, que a
STB representa a expressão máxima da vontade divina na face da Terra, como
asseveram os Adeptos nas mensagens que à mesma sociedade constantemente se
dignavam enviar. Diante dessas mensagens, ninguém ousaria contrariar a opinião
desses Adeptos, nem, muito menos, levantar o antemural grosseiro do
materialismo para impedir que as puríssimas águas lustrais emanadas da STB
continuem a banhar a superfície da Terra, a começar pela Canaã ou da promissão,
que é o mesmo Brasil, cujo nome, só por si, demonstra achar-se em seu seio "o
Santuário de Iniciação moral do gênero humano, a caminho da sociedade futura".
No que diz respeito à parte material, como conseqüência lógica da espiritual,
basta-nos observar o que transcende das diretrizes que a Revolução de 1930
iniciou e o Estado Novo procurou consolidar.

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Já em 1931 dizíamos em nosso artigo Ontem e Hoje, ou Poder Temporal e Poder
Espiritual - v. números 52 a 66 de Dhâranâ -, contestando aos profiteurs de todas as
ocasiões políticas:
"Não vamos dar crédito a essas fanfarrona das de alguns representantes clericais
quando dizem que os principais chefes da revolução saíram de seminários, porque
isso seria desvirtuar o verdadeiro sentimento que os levava a nunca deixarem de se
vangloriar por "haver lutado pelo soerguimento material, moral e intelectual da
nossa raça", quando não se apresentavam como os próprios "redentores da pátria
Brasileira."
Que é isso, senão a objetivação, no mundo físico, do que de espiritual transcende
da obra grandiosa em que a STB está empenhada desde 1924?
Não há como provar o contrário ... Mesmo porque, dias mais gloriosos para o
Brasil vêm em caminho. Confiança, pois, em nossos próprios destinos!
Continuemos o livro que estamos comentando - Primeiros passos no caminho do
ocultismo (13).
"Outra coisa, porém - diz ainda HPB -, é penetrar o caminho que con-
duz ao conhecimento do que se deve fazer e ao justo discernimento do
bem e do mal; caminho que dá também ao homem poderes por meio dos
quais conseguirá fazer todo o bem que desejar, muitas vezes sem que, em
aparência, tenha necessidade de levantar um dedo".
Razão por que, de acordo com outros ensinamentos seus:
"Teósofo não crê em milagres divinos nem diabólicos, em bruxos, pro-
fetas, ou augúrios, mas tão-somente em Adeptos capazes de realizar fatos
de caráter fenomênico a quem julgar, por palavras e atos ... O estudante de
Ocultismo não deve professar religião alguma, embora tenha o dever de
respeitar todas as opiniões e crenças, para chegar a ser Adepto da Boa Lei
- menos quando se trate de prejuízos contra a evolução da humanidade.
Não deve sujeitar-se aos preconceitos e opiniões de ninguém e formar as
suas convicções de acordo com as regras de evidência que lhe proporcione
a ciência a que se dedica, sem atender a encômios de fanáticos
sonhadores, nem a dogmatismos teológicos. Jesus pregou uma doutrina
secreta (oiça-se bem!) e secreta, naquele tempo como ainda hoje,
significava: Mistérios da Iniciação, que foram repudiados ou alterados
pela Igreja".

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V oltaire caracterizou em poucas palavras os benefícios dos Mistérios, ao dizer que
"entre o caos das superstições populares existia uma instituição que evitou sempre a
queda do homem em absoluta animalidade: a dos Mistérios".
E quanto à provecta rebeldia de HPB, em demanda da suprema espiritual Meta,
acha-se expressa nestas palavras:
"Há uma Lei eterna na Natureza, que propende sempre para ajustar os
opostos e produzir uma harmonia final- Sinarquia, portanto, e não a anarquia
deturpada dos extremistas de hoje.
Graças a esta lei de desenvolvimento espiritual, que sobrepujará a física e
a puramente espiritual, a humanidade ver-se-á livre de seus falsos deuses,
encontrando-se, finalmente, redimida por si mesma.
Se se prescindir dos ensinamentos secretos, fica a religião reduzida à
fraude e à mentira. Entretanto, as massas precisam de um freio moral, porque
o homem vive sequioso pelo mais além e não pode, portanto, passar sem um
ideal qualquer que lhe sirva de farol e de consolo - embora algumas vezes
este consolo acabe em desconsolo, para não dizer desengano. Quem o
duvidar, "vasculhe" a própria consciência, ou faça um estudo retrospectivo de
sua vida, mesmo em matéria religiosa ... Ao mesmo tempo, nenhum homem
vulgar, embora nesta época de geral cultura, pode satisfazer-se com verdades
demasiadamente metafísicas e sutis - daí a Teosofia destinar-se apenas à elite
ou eleitos, à boa semente, etc. - de difícil compreensão, que originam o
perigo de suplantar, com o cerrado e absurdo ateísmo, a fé em Deus e seus
santos. Nenhum verdadeiro filantropo ocultista poderá supor, nem por um
instante, que a humanidade possa subsistir por muito tempo ainda sem
religião, embora as de nossos dias, principalmente as ocidentais, que se
limitam à santificação do domingo - confissões, rezas, bentinhos, etc. -
valham tanto como se delas prescindíssemos. Porém, se, como disse Bunyan,
"a religião é a melhor armadura do homem", também é o que mais embaraça
seus livres movimentos e, contra a sua capa de hipocrisia, lutam ocultistas e
teósofos.
Se afastarmos essa capa, tecida pela fantasia humana e arrojada sobre a
Divindade pela mão astuciosa de sacerdotes ávidos de domínio e poderio,
não bastará ao homem o verdadeiro ideal da Divindade, o único Deus vivo da
natureza. Os primeiros albores do século XX anunciam o destronamento do
deus de cada país e a proclamação da única e universal Divindi1de. Não o
Deus da mísera piedade, mas a imutável Lei, COlllo \) Deus da Justiça

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retribuidora. Não o Deus da misericórdia, que é um simples incentivo
para se cometer o mal e nele reincidir. Quando o primeiro sacerdote
inventou a primeira prece egoísta, perpetrou-se o mais nefando crime de
lesa-humanidade.
Esses albores a que ela se refere já se fazem sentir de modo patente por toda
parte do globo, muito embora tenhamos a deplorar que essa manifestação se faça
através de lágrimas e sangue por culpa da própria humanidade que, na falta de
discernimento na escolha do verdadeiro caminho a seguir, - o Caminho Teosófico
- destruiu as sólidas muralhas outrora a protegê-Ia contra as águas invasoras do
materialismo bravio que hoje inlilldam quase toda a superfície da Terra.
Afastamento da Lei, portanto ... donde esse choque entre as forças do Bem e as
do Mal.
Foram nossas palavras, ainda, naquele artigo e número do citado órgão oficial,
a revista Dhâranâ, em 1931:
"Dentro em breve assistiremos ao choque tremendo entre duas forças que
desde já se dão combate sem tréguas: O Bolchevismo e o Fascismo - depois, o
nazi-fascismo e todas as suas derivadas, através de símbolos e camisas diferen-
tes ... -, cujo choque arrastará a Igreja ao abismo fatal da morte. Mas, desse
tremendo embate ... surgirá uma terceira potência que, por ser a síntese da
espiritualidade, Teosofia, Doutrina Arcaica ou Saber Divino, virá sublimar e
regenerar o homem, elevando-o através das regiões ultra-físicas do Universo. Esta
é a Verdade que, em todos os tempos, foi pregada pela boca de quantos
Iluminados ao mlilldo vieram",
E como prova do que com tanta antecedência afirmamos sobre tão trágicos
escombros - e a fim de servir de anteparo indestrutível às águas turvas do
materialismo, que o mesmo é dizer, à enxurrada deste "fim de ciclo apodrecido e
gasto" - aquela mesma Lei que rege os destinos de homens e coisas, procurou
construir o "dique tutelar", que outro não é senão o excelso edifício espiritual
denominado Sociedade Teosófica Brasileira. Nome e edifício esses que honram e
dignificam a própria pátria de seu nascimento e, por isso mesmo, de impossível
desmoronamento ... "
***

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"Outrossim - continua o livro por nós comentado -, há um fato importante
que deve ser conhecido do estudante: é a enorme responsabilidade, quase sem
limites, assumida pelo instrutor para com o discípulo. Desde os gurus -
instrutores - do Oriente, ensinando abertamente ou em segredo - pouco importa
-, até certos cabalistas dos países ocidentais que tomam o encargo de ensinar a
seus discípulos os rudimentos da Ciência Sagrada - hierofantes estes muitas
vezes ignorando os perigos que sobre si próprios atraem - todos eles se acham
submetidos à mesma inviolável Lei. Desde a ocasião que eles começam
efetivamente a ensinar, desde o instante em que conferem a seus discípulos um
poder qualquer - físico, psíquico ou mental- assumem a responsabilidade de
todos os erros desses mesmos discípulos, relacionados com as ciências ocultas,
erros, digamos assim, de omissão ou comissão, até ao momento em que, pela
iniciação, tais discípulos se transformam em mestres, por sua vez responsáveis.
É uma lei religiosa grandemente venerada e observada pela Igreja oriental
ortodoxa, em parte esquecida pela romana e de todo abolida pela protestante.
Ela data dos primeiros tempos do Cristianismo e se baseia nessa mesma Lei
que acaba de ser exposta e da qual é símbolo ou expressão. É o dogma dos
sagrados laços existentes entre padrinhos de uma criança na pia batismal (14).
Eles atraem para si todos os pecados do recém-batizado, o qual recebe a
unção como a usada nas antigas iniciações (pois em verdade é um mistério), até
o dia em que a criança se tornar uma unidade responsávet sabendo diferenciar o
bem do mal. Não é outra a razão de os instrutores serem reservados e se exigir
dos cheIas - discípulos -, para comprovar a sua aptidão e o desenvolvimento e
qualidades necessárias à segurança entre o mestre e o discípulo, sete anos de
rigorosas provas" (15).
Quanto à responsabilidade do mestre para com o discípulo, dos erros deste recaírem
no primeiro, acha-se expressa em leis que somente a discípulos muito avançados podem
ser reveladas. Entretantof podemos afirmar que tem relação com a própria escolha
(numérica) das mônadasf para não dizerf com a multiplicidade ou diversidade com que a
mesma Divindade se manifesta na Terra. "Tudo propende para a Unidade"f dizem todas
as filosofias do mundo. Ef de modo menos veladof escreve Santo Agostinho: "Viemos da
Divindade e para Ela havemos de ir"f o que tanto vale pelo verdadeiro sentido da parábola
do filho pródigo que volta à casa paternaf e não a grosseira interpretação que lhe deram a
Igreja e outros credos religiosos ocidentais.

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A mesma coisa nos ensina a mitologia, quando nos apresenta o Júpiter plutônico
devolvendo a seu irmão Júpiter olímpico as setas (as mônadas), depois de fo~adas no
fogo de Vulcano, ou seja, no fogo da experiência, através das múltiplas encarnações
das mesmas mônadas.
Responsabilidade muitíssimo maior é a de um chefe ou "mestre" de obras, donde
a Maçonaria copiou o termo, e a Igreja tirou o seu José carpinteiro, justamente
porque, quanto maior for o número de discípulos, maior será também o número de
erros ou faltas. Daí o acharem-se" crucificados" nessa mesma cruz de madeira que,
tanto o Pai como o Filho, segundo o plágio da Igreja, de antiquíssimas iniciações, são
hábeis em construir.
É dever, portanto, do discípulo, por amor e respeito ao próprio mestre, possuir a
maior "vigilância dos sentidos" para não fazer sofrer Aquele que lhe serve de guia na
espinhosa vereda da Iniciação.
***

"Ocultismo não é Magia, muito menos mágica. É relativamente fácil


aprender o emprego dos sortilégios e métodos de se servir das forças mais
sutis, embora materiais, da natureza física; os poderes da "alma animal" -
poderes psíquicos ou de Psyche, a alma, etc., pois" alma animal" não deixar
de ser pleonasmo. Melhor seria, pois, dizer "alma humana", eu-inferior, etc.
- são rapidamente despertados, (16); as forças que seu amor, seu ódio, suas
paixões podem movimentar ou pôr em atividade são prontamente
desenvolvidas. E representa feitiçaria, magia negra, etc., visto ser o fim ou
objetivo o que define a espécie de magia: se para o bem, magia branca; se
para o mal, magia negra. Não é possível fazer uso de forças espirituais
desde que exista no operador a menor parcela de egoísmo - de fato, todos
os praticantes daquela espécie de magia só têm em mira o seu próprio
interesse: serem felizes nos amores, no jogo, na obtenção de favores, etc.,
raramente se preocupando em favorecer o próximo. Se o objetivo não
estiver isento do menor vislumbre de impureza, poderá concorrer para que
a força espiritual se transforme em psíquica que, agindo no plano astral,
ocasionará funestos resultados ... Os poderes e as forças da natureza animal
tanto podem ser empregadas pelo homem egoísta e vingativo como pelo
altruísta e magnânimo. Os poderes e as forças do Espírito se prestam
àqueles cujo coração esteja repleto de pureza. E é isso o que se chama
Magia Divina".

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Já dizia Gautama, o Budha: "Luta em primeiro lugar pelos de teu sangue e de tua
raça ... Guarda os teus siddhis - poderes psíquicos - para a tua vida futura", o que
perfeitamente demonstra as palavras acima transcritas. Este dever nos é imposto pelo
próprio Carma, que nos obrigou a encarnar nesta ou naquela pátria, nesta ou naquela
fmm1ia, de acordo com as nossas skhandas ou tendências de vidas anteriores. Daí
surgiu, ainda, a expressão aparentemente egoísta "Ma teus, primeiro os teus", que
demonstra a necessidade de se defender em primeiro lugar a pátria de nosso
nascimento; depois, a faffil1ia; e, finalmente, os nossos ideais - quando valiosos, já se
vê, ou que não estejam afastados da Lei -, se é que os três reunidos não formem a
unidade ou a base de todas as concepções ideológicas.
Estes são os princípios que, desde a fundação da nossa Obra e antes de quaisquer
outros, figuram nos seus Estatutos.
Sem falar em outras especificações dignas de nota, como sejam: a proibição de
demonstrações de poderes psíquicos - onde entra a mediunidade provocada -,
dogmatismos religiosos, manifestações de ordem política, por seu espírito dissolvente,
etc. E quanto ao que diz respeito à formação racial, como principal razão de sua
existência, "o combate intensivo ao analfabetismo, aos vícios e maus costumes sociais,
à superstição, à mentira e ao erro onde quer que se manifestem".
Já se disse na Introdução - tomando como exemplo a própria vida de Jeoshua e de
outros Iluminados, até chegar à mesma HPB - que no seu começo foi exigida à nossa
Obra a prática dos chamados "fenômenos", na razão da Mâyâ-Vâda ou mesmo Mâyâ-
Yoga, sem o que não poderia ser feita a "separação do bom trigo do joio". Só depois de
satisfeita esta exigência foi-lhe imposta a que dizia respeito à sua verdadeira
finalidade. A própria Dhâranâ, que continua sendo a nossa instituição com o nome de
Sociedade Teosófica Brasileira - mudança de nome motivada pelas causas já expostas
na Introdução - tinha como subtítulo Sociedade Mental-Espiritualista, para demonstrar
que aquelas suas primeiras credenciais ao mundo eram apenas as únicas que esse
mesmo mundo exige para acreditar nesta ou naquela coisa que se apresente com
caráter superior ou divino.
Terminada a fase inicial, com ela se foi grande parte do elevadíssimo número de
pessoas que figurava nas fileiras de Dhâranâ, porque, "adeptos da lei do

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menor esforço", não se preocupavam com a sua própria evolução, que exige
esforços verdadeiramente sobre-humanos.
Esta atitude era comentada pelos Adeptos, a que tanto nos referimos, com estas
frases: "Não importa, pois é de qualidade que fazemos questão e não de
quantidade", verdadeiro comentário àquela sentença de todos bem conhecida:
"Muitos serão os chamados e poucos os escolhidos".
Tratava-se, porém, de uma Obra de tal natureza e de tão elevados desígnios
que tudo quanto contra ela se fizesse devia ser vencido. E assim, não houve
obstáculos, sacrifícios de toda espécie, campanhas de difamação, mentiras, enfim,
em luta para suplantar a Verdade que não fossem magistralmente destruídas. As
forças do Bem acabaram, como em geral acontece, por aniquilar as forças do
Mal...
Voltemos, porém, aos fenômenos psíquicos.
Ninguém ignora a quanto o mesmo Jeoshua se expôs, provocando tais fe-
nômenos. Quanto a HPB, foram eles a maior razão dos seus sofrimentos, a ponto
de proferir aquelas memoráveis palavras: "Amontoai pedras, teósofos! Amontoai-
as, irmãos e boas irmãs, e lapidai-me até à morte por ter eu querido, com a palavra
dos mestres, vos fazer felizes!"
Daí a revolta de todos esses Seres, de todos os mestres a que a Mártir se
referia, diante de tamanhas injustiças! Foram elas que levaram o próprio J eoshua,
de olhos fitos nos céus e ... os pés calcando "o reino de Satã", exclamar por sua
vez: "Co~a de víboras, quando me verei livre de ti?"
Em resumo: os milagres de hoje são feitos através da inteligência, pois nin-
guém anda para trás. Assim o comprovam as prodigiosas descobertas de Edson,
Einstein, Curie, Santos Dumont e tantos outros. E isso por estarmos em pleno
domínio do desenvolvimento mental, como sabem todos os teósofos e ocultistas.
E já que estamos "com a mão na massa", como se costuma dizer, apontemos
outras coisas mais que não foram discutidas na introdução e que bem demonstram
a decadência do fim do ciclo.
Um dos casos mais dolorosos que conhecemos da prática indébita dos poderes
psíquicos, ou sem a direção de um mestre, guia, Adepto, etc., é o de certo
indivíduo que, tendo feito aquisição de todos os livros que figuram no catálo-

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go de certa empresa editora com pretensões a "associação espiritualista", acabou
por morrer de modo verdadeiramente digno de compaixão.
Foi assim que, em certo domingo do ano de 1925, dois rapazes nos procuraram
em nossa casa para, verdadeiramente aflitos, saber de nós se seu pobre pai
pertencia à nossa sociedade, como pertencia a tantas outras. E, explicando a causa
da sua aflição, disseram que seu pai, tendo gasto mais de três contos e quinhentos
com a aquisição de livros da referida empresa, começara por se tornar um fanático.
Inteiramente dominado pelos assuntos desses livros, deixou todos os seus negócios
correrem à revelia, nenhuma importância ligou mais à fmru1ia, pela qual sempre
revelara o máximo afeto, e passou a exigir que todo o seu alimento fosse
rigorosamente pesado. Finalmente, na manhã daquele domingo, encontraram-no
estirado na sua cama, como se houvesse perdido os sentidos, tendo nas mãos um
bilhete onde pedia que" o não enterrassem, pois se achava em franco
desdobramento". Na parede havia pedido idêntico.
Informados de que seu infeliz pai não pertencia à nossa sociedade - onde
fatalmente lhe teríamos corrigido todas essas superstições, e destruído quantos
enganos os livros por ele adquiridos lhe meteram na cabeça - demos-lhe o único
conselho cabível na ocasião: que avisassem a polícia, pois o pobre homem acabara
de morrer. .. de inanição.
Um outro, em Morrinhos, no estado de Goiás, leitor assíduo dos livros da
mesma empresa editora - que, se de fato fosse instituição iniciática, procuraria
manter um curso metódico de ciências ocultas -, enterrou-se vivo, dizendo que "ia
entrar em catalepsia e depois voltaria a si" ... Dentre as inúmeras pessoas que
assistiam à experiência, uma teve a caridade de avisar a polícia que, depois de
aberto o túmulo, encontrou já cadáver o pobre fanático das "ciências ocultas" ... Ele
ignorava, e os livros que leu não lho explicaram, que a catalepsia, como um dos
quatro estados de hipnose - torpor, letargia, catalepsia e sonambulismo -, exige um
operador para despertar o "paciente", como fazem os próprios faquires hindus,
dentre os quais podemos citar aquele que, nas ocasiões de viajar, punha em estado
cataléptico a própria mãe, por não ter quem dela cuidasse, e aquele outro que ficou
quarenta dias enterrado, com sentinelas de guarda ao "túmulo", por ordem do
Príncipe de Gales, mais tarde Jorge V, alarmado com a extraordinária façanha.
Quem se submete a tais experiências leva a língua voltada sobre o esôfago, além de
passar antes por outras operações. Tirado do "túmulo", para voltar a si, a língua é
reposta na sua posição normal e sofre o movimento de
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tração - vai-vem - como se costuma praticar nos casos de asfixia por submersão
ou quando se é atingido por correntes elétricas de alta tensão.
Do "choque de retorno", como se costuma dizer em Ocultismo, conhecemos
vários casos, podendo, dentre eles, citar o sofrido por ilustre escritor ocultista, por
ter enviado um pensamento contrário, ou antes, de ódio, a um seu desafeto,
justamente quando este se encontrava em plena meditação, isto é, em perfeito
estado de paz e tranqüilidade, enviando talvez, quem sabe? um pensamento a
favor de seu próprio desafeto ou do próprio mundo ... Deste choque resultou a
morte do escritor, dando razão ao adágio popular que é bem uma sentença: "O
feitiço vira contra o feiticeiro" ... Suas obras, por sinal bem conhecidas no mundo
ocultista e teosófico, nunca mais foram reeditadas, devido à oposição da fanu1ia,
cuja repulsa contra as "ciências malditas" se mantém viva até hoje.
Ciências Malditas, sim, quando aplicadas ao mal; Benditas, entretanto, quando
aplicadas ao bem.
Dentre os "choques" desta natureza que se tornaram célebres podemos ainda
citar o sofrido pelo famoso ocultista Eliphas Levi, o abade Alphonse Constant,
autor de Dogma e Ritual de Alta Magia, A Chave dos Grandes Mistérios, etc. Este
ocultista, como ele mesmo narra, meteu-se a evocar o espírito de Apolônio de
Tíana, absurdo igual ao de evocar Cristo ou Gautama, o Budha e, o que é ainda
pior, servindo-se não da bagueta, como se usa em tais casos, mas da espada, que
só se utiliza contra larvas astrais, principalmente as que se costumam encontrar
nas chamadas casas mal-assombradas. E o "choque" recebido foi de tal ordem que
sua vítima para sempre perdeu o juízo. Terminou a vida, fato que bem poucos
sabem, vendendo frutas pelas ruas ...
Voltemos aos tais candomblés de que já falamos na Introdução e onde as
vítimas são inúmeras, de parte a parte, isto é, tanto do lado dos "pais de terreiro" e
seus asseclas, como dos visados pelas feitiçarias ou mandingas, especialmente no
norte do País, pois os do Rio e Niterói onde, embora haja alguns afamados, a
maioria não passa de charlatões.
Conta-se, no entanto, muita coisa tétrica a respeito desses poucos mas famosos
destas últimas cidades, principalmente dos de Niterói. De um deles se diz que
acabou com a vida de respeitável senhora, esposa de célebre médico da capitat
vitimada por misteriosa moléstia nos intestinos; doença tão séria e misteriosa

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que o esposo e outros médicos não souberam descobrir nem muito menos curar ...
Coisa semelhante se diz ter acontecido a uma alta patente do exército.
Nós mesmos temos sido vítimas de alguns deles. Um nos mandou certo
pacotinho contendo um talismã, para o mal, já se vê, de mistura com certos
ingredientes. Recebemos o fatídico "presente" quando nos achávamos à mesa com a
fanu1ia, das mãos de uma criança de 7 (1) anos, a quem o emissário do feiticeiro o
entregara no portão de nossa casa ...
Logo vimos de que se tratava e, correndo ao encontro do portador, apenas
pudemos lobrigar um automóvel amarelo, muito conhecido em Niterói, que partia a
toda velocidade, e o portador da preciosa" dádiva" que disfarçadamente se
esgueirava ao longo da calçada, sobraçando uma pasta ... Longos anos se passaram
depois disso e, apesar dos sofrimentos e amarguras provenientes da espinhosa
missão em que estamos empenhados e que, qual pesado madeiro, moral e
fisicamente nos suplicia e torhrra, ainda aqui estamos em nosso humilde posto. O
mesmo se não pode dizer do famoso mandingueiro que, imitando Judas na mística
tragédia de Cristo, se enforcou em uma árvore de seu próprio terreiro. O infeliz,
apesar de não ter feito mais do que cumprir o necromântico dever dos que exercem
tão miserável profissão, pois fora pago para liquidar o diretor-chefe de Dhâranâ,
sofreu, pelo mandatário, o inevitável choque de retorno.
A Lei não seria, porém, totalmente justa se deixasse sem punição aqueles que,
procurando-nos, tudo podiam pretender, menos os conhecimentos capazes de os
conduzir à Redenção.
A mandatária da "preciosa dádiva" - tal como a nós mesmos aconteceu pouco
antes de a conhecermos ou sete dias depois da fundação da Obra, em 1924, ao
sermos apanhados nas ruas de Niterói por um automóvel a toda velocidade - a cujo
condutor evitamos, como era nosso dever de "cristandade", o linchamento com que
o povo o queria castigar, e o próprio flagrante exigido pela lei -, pagando assim o
segundo tributo de sangue ao mundo, pois outro, como criança escolhida para
semelhante missão, já tínhamos pago ao cairmos sobre a lança de um jardim,
espécie de "prova crística" - a mandatária da "preciosa dádiva", dizíamos, e gratuita
inimiga, depois de várias e novas tentativas, como cartas ameaçadoras, anúncios de
morte prefixando datas, etc., acabou sofrendo o choque de retorno fatal, na forma
de um atropelamento por automóvel que, segundo soubemos, para sempre a
impossibilitou de sair de casa.

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Vem a propósito, por nos parecer muito interessante e por, em tudo isso,
haver um profundo mistério, narrarmos o primeiro encontro com essa pessoa:
Capengando ainda, em conseqüência do desastre de automóvel a que acima
nos referimos, aceitamos, por intermédio de certo "professor de Ocultismo", tipo
perfeito de charlatão, o convite de almoçar em casa de nossa futura e gratuita
inimiga, na companhia do "professor" encarregado da apresentação.
Sentados bem em frente dessa pessoa, ocorreu-nos perguntar-lhe
repentinamente:
- A senhora não esteve no British Museum de Londres, onde tentou con-
templar a célebre múmia de Katsbeth?
Nervosa e pálida como, aliás, ficou toda a família, respondeu:
- Sim, por sinal que os guardas não quiseram descerrar a cortina verde que
encobria a múmia, com o intuito de preservar-me da fatalidade que cai sobre
quantos a examinam ou tocam.
- No entanto, retorquimos, foi desde então que a senhora começou a perder a
vista ...
- De fato! respondeu ela, cada vez mais assombrada.
Quanto ao "professor", que não nos conhecia muito bem ... com dificuldade
terminou a refeição e ... de todo se lhe foi a coragem para atender às súplicas das
dezenas de sofredores que, no jardim e varanda, aguardavam sua vez para, com a
ajuda do charlatão, "ressuscitarem" fortes, rijos e remoçados ...
Com que amargura contemplamos toda aquela multidão, vítima de carma
patológico, ou seja, de erros de um passado mais ou menos remoto!
Regressando a casa, apressadamente, para presidirmos à sessão de Dhâranâ
que se efetuava em nossa própria residência, na rua Santa Rosa, 426 e depois de
narrarmos o ocorrido, nova surpresa nos esperava. Desta vez, como que para
formar, com a mulher que acabáramos de deixar, uma forma dual caótica, em
contraposição à parelha paradisíaca, tratava-se de um homem que, ao ter-
minarmos nossa narrativa, exclamou assombrado:
- Que estranha coincidência! Também estive no British lvluseum e, ao entrar
na secção das múmias, levei um escorregão, batendo com o rosto no solo ... E os
guardas me disseram: "o senhor não acha que é o bastante para não en-

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frentar a múmia de Katsbeth?" E, meio atordoado, dei-me pressa a sair de tão
trágico lugar.
Terminou, perguntando-nos, curioso: -
Que acha o senhor de tudo isso?
Limitamos nossas respostas a um seco: "coisas do passado", pois já tínhamos
descoberto terem sido os dois ... os principais fabricantes da famosa múmia de
Katsbeth e, por conseguinte, os agentes dos nirmânakâyas negros que, à frente de
seu exército de encarnados e desencarnados, nos perseguem de vida em vida. Nesta,
eles se apresentam na sua forma-dual, à guisa do casal Coulomb de HPB, movendo-
nos as habituais perseguições sem, no entanto, saberem que, com elas, concorreram
para estreitar, cada vez mais, os laços espirituais que unem os primeiros membros
da S TB, os da letra D, que representam de fato a indestrutível Farmlia.
Outro fato, igualmente interessantíssimo, se deu conosco, este, porém, na Bahia
e quando tínhamos ainda 18 anos de idade, isto é, dois anos depois de termos
voltado daquela fuga acidentada para Portugal, daí para Goa, Ceilão e, finalmente,
Índia ou Srinagar, província de Caxemira e termo final da nossa ... obrigatória
aventura.
Fôramos convidados por dois condiscípulos para irmos assistir aos assombrosos
fenômenos que se davam no famosíssimo candomblé da Pulquéria, na estrada do
Garcia, do qual se devem lembrar todos os baianos daquela época, se é que ele não
existe ainda hoje.
Trata-se de um dos que o próprio dr. Nina Rodrigues incluiu em sua valiosa
obra O Feiticismo na Bahia, talvez daquele que maior número de vítimas tem
ocasionado, entre as quais se conta certo intendente - prefeito - que, além de ter
sido expulso do cargo - primeiro caso no Brasil, diga-se de passagem -, teve toda
sua fortuna confisca da, tudo isso em conseqüência de um simples despacho colocado
na escadaria da Intendência Municipal.
Postados, eu e meus dois companheiros, bem em frente ao famoso terreiro e à
sombra de uma gameleira - a gameleira é denominada pelo africanismo de "pai
louco", o que nos faz lembrar o termo sânscrito loka, que significa lugar, etc., e
termo que encontramos no nosso próprio idioma ao nos referirmos à loca de tal ou
qual animal. Na gameleira colocam eles alimento para o santo, além de lhe
emolarem o tronco com alvos lençóis ... -, ouvíamos os cantos e
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contemplávamos as danças cujo mistério tanto assombrou o famoso clínico baiano e
onde as mulheres, "tomadas pelos santos", rodopiam como fusos, mantendo em
equilíbrio sobre a cabeça moringues ou quartinhas cheios d'água, e retiram com as
mãos nuas, de uma lata posta ao fogo, o bambá, espécie de rolo ou esponja feita com
o bagaço do dendê, mergulhado ou aos saltos dentro de um líquido efervescente e
grumoso.
Apreciávamos, pois, todas estas reminiscências dos remotos tempos lemurianos
ou da decadência atlante, no início da evolução humana, quando, sem quase disso
nos darmos conta, sentimos de nós se apossar estranho e invencível horror por tudo
aquilo.
Tal como se estivéssemos munidos da lâmpada de Aladim ou AlIah-Djin, o Jina-
de-Deus, fizemos parar automaticamente e sem pronunciar uma palavra ou fazer um
gesto tudo quanto se passava no famoso terreiro. Protagonistas e assistentes, em
número vultoso, como que movidos por um só pensamento, produzido - quem sabe?
- pelo satânico ser que nunca perde de vista sua vítima, lançaram olhares furiosos
para o nosso lado, ao mesmo tempo que um preto alto e um tanto curvado para a
frente, metido no seu camisu - nome por eles dado a uma espécie de casaco fechado
em cima e que vai até abaixo dos joelhos, semelhante à veste usada pelos iogues e
swamis hindus -, se encaminhou para nós e, depois de nos mirar de alto a baixo,
insolentemente, nos lançou a seguinte apóstrofe:
"Não negue que foi o autor de tão estúpida brincadeira! Se o lugar lhe não agrada,
por que veio nos incomodar? Retire-se, imediatamente, se não quer ser posto daqui
para fora a pontapés!" E, vendo que nos não movíamos, antes, nos seus olhos
cravamos os nossos, como duas flechas inflamadas, achou prudente mudar de tom e
atitude ... convidando-nos, com um sorriso bestial, a entrar e a tomar parte nas festas
de Ogum. A nossa resposta foi dar-lhe as costas e a tão execrando lugar, embora só
a muito custo pudéssemos arrancar dali nossos companheiros, que pareciam
pregados ao chão, além de protegidos pelas protuberâncias do grosso tronco da
"necromante gameleira" - de gameleira vem o termo gamela, ou bacia de madeira
usada antigamente. Já muito afastados do lugar para onde eles mesmos nos tinham
levado, conseguiram, os amedrontados companheiros, sair do mutismo em que
vinham mergulhados, para procurarem saber de que meios lançáramos mão para
produzir semelhante "milagre" , Fez-nos sorrir a infantilidade daqueles bondosos
amigos, cujas imagens neste instante se refletem em nosso cérebro com saudades
por um tempo que não volta mais e ... conti-

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nuamos em silêncio nossa marcha a caminho de casa. Como reflexo da visita ao
candomblé da Pulquéria, tivemos aquela noite um terrível sonho onde lutamos
com horrível dragão, vencendo-o; façanha que recorda as de S. Jorge e Perseu,
esmagando iguais adversários, ou a de Davi derrotando o gigante Golias ...
Quantas pessoas não viram no filme Zumbi mais do que uma fantasia destinada
a emocionar os espectadores? Puro engano. Aquilo que parece fantasia reproduz a
mais atroz das realidades e o enredo do filme consta das lendas haitianas. No
artigo 249 da Constituição do Haiti, a par das penalidades respectivas, se descreve
a natureza do crime denominado zumbi: "fazer ressuscitar corpos de indivíduos
que não tenham morrido em conseqüência de qualquer lesão séria e cuja inumação
tenha sido feita há poucas horas". Este execrando crime é praticado pelos feitores
ou donos de fazendas, conhecedores dessa espécie de magia, a mais negra de
todas, com o intuito de aproveitar o trabalho gratuito desses seres recém-falecidos.
Para os manter em perfeita submissão, não se lhes dá de comer nenhum alimento
que leve sal pois, segundo a lenda, o sal tem a propriedade de despertar em tais
"indivíduos" a lembrança de que não mais pertencem a este mundo, o que os faz
voltar aos túmulos donde os tiraram. Citam-se vários casos desta natureza.
Haiti é, como todas as Antilhas, um remanescente atlante cujo povo, princi-
palmente na época da decadência ou depois da luta entre" deuses e demônios" de
que veladamente nos fala o Bhagavad-Gftâ, desceu ao mais inferior estado de
consciência. Herdeiros desses remotíssimos povos é, pois, natural que os haitianos
conservem o conhecimento de tão horrível feitiçaria. Para nos convencermos,
porém, de que ela ainda hoje se pratica, necessitamos ter presente o artigo 249 da
Constituição, onde se registram o crime e as penalidades. O fato é conhecido de
algumas pessoas, entre as quais se encontra o autor do filme Zumbi. Ele também
não é ignorado das fmm1ias haitianas, o que se comprova pelo cuidado que têm
em sepultar seus mortos próximo às estradas mais freqüentadas, a fim de lhes
evitar a horrível... ressurreição.
É de um casal de pastores protestantes o apelo lançado ultimamente ao povo
civilizado por terem presenciado qualquer coisa semelhante, senão pior: o
assassínio de pessoas à distância ... sugando-lhes o sangue! O conhecimento dessa
façanha veio-Ihes na forma de um desafio. A tribo que eles catequizavam, disse-
Ihes o chefe ou Ogam - mago, lido ao contrário - passaria toda para a sua religião
se eles fossem capazes de realizar aquele feito ou outro maior; do
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contrário, ficaria provado que o deus da tribo era mais forte e poderoso, devendo os
protestantes passar a adorá-Io. Coisa idêntica presenciaram em outra ilha do
Pacífico onde, segundo eles e o próprio Papus, existe uma tribo cujos feiticeiros
enterram pregos na cabeça, servindo-se de um martelo de pau e praticam outras
façanhas de tal modo assombrosas que nelas não acreditaria o mundo civilizado se
lhas fossem contadas.
Foi com o mesmo Papus que se passou o seguinte caso por ele mesmo relatado:
certa ocasião um colega e amigo seu o convidou para passar as férias de verão em
sua residência, nos arredores de Paris. Durante o primeiro passeio matinal cruzaram
com conhecida feiticeira daquela região, apontada como tal pelo próprio amigo de
Papus, acompanhada do seu cão. Tanto a feiticeira como o animal de tal forma
implicaram com a respeitável figura do conhecido médico ocultista que o último
avançou ferozmente para ele como se quisesse devorá-Io. À noite, quando fazia
suas meditações, o famoso ocultista pressentiu mover-se, com estranha trepidação,
a cortina que separava seu quarto de extenso corredor. Não havia nenhuma corrente
de ar, entre o corredor e o apartamento, capaz de produzir tal movimento.
Aproximou-se e, levantando a cortina ... nada viu de anormal. Seu pensamento,
porém, se voltou para o sucedido durante o dia, em companhia do amigo, em cuja
casa se achava hospedado. Na noite seguinte, ao deitar-se, colocou prudentemente à
mão sua espada - como todos sabem, Papus era oficial médico do exército - e
esperou que o fenômeno se reproduzisse.
Ao soarem as doze badaladas da meia-noite a cortina começou a trepidar, como
se, por trás, houvesse alguém se esforçando para rasgá-Ia ou transpô-Ia. O conheci-
do ocultista, que aguardava aquele momento, saltou rapidamente da cama e desferiu
tremendo golpe com a espada. Ouviu-se lancinante grito, como o de alguém que
houvesse sido mortalmente ferido. Ele mesmo ficou horrorizado e, afastando a
cortina ... nada viu no longo corredor. Todos em casa dormiam a sono solto.
De manhã bateram apressadamente à sua porta e, ao querer saber a causa de um
apelo tão matinal, deu de cara com o amigo que lhe vinha pedir para acompanhá-Io
em visita à tal feiticeira, horrorosamente golpeada no ventre durante a noite e que
desejava, à viva força, falar com o "homem barbado com quem cruzara na
antevéspera", homem barbado que não era outro senão o próprio Papus.
Atendeu ao apelo e quando, na companhia do amigo, chegou junto da feri-

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da, a horrível megera, olhando-o como uma fera que tivesse sido golpeada no
momento exato em que ia lançar seu traiçoeiro golpe, dirigiu ao ocultista as
seguintes palavras: "Maldito sejas tu, a quem eu desejava aniquilar... Foste mais
forte do que eu ... " E caiu para trás, banhada numa golfada de sangue ... !
É este o fim de todos os magos negros, quando antes não têm a desgraça de
ficarem cegos, paralíticos ou atacados por moléstias verdadeiramente
horripilantes.
Não deixaremos de fazer aqui uma advertência às pessoas que gostam de
rogar praga ou lançar maldições sobre seus desafetos. Que tais pessoas se não
esqueçam de que o pensamento é uma força ... e de que esta pode voltar-se contra
aquele que a emana, dando razão ao dito popular" do feitiço virar contra o
feiticeiro".
O caso que acabamos de citar é um dos muitos a que estão sujeitos aqueles
que desejam o mal do próximo. Mas, do mesmo modo, um bom pensamento, um
desejo altruístico pode voltar a quem o emite, desde que a pessoa a quem foi
dirigido dele não for merecedora. Não se deve, porém, ter tais pensamentos
apenas com o desejo egoísta de ser contemplado com essa prova de amor, mesmo
para com "o inimigo", e sim, com o desejo sincero de que ele seja perdoado do
mal que nos quer; que possa entrar no bom caminho, reconhecendo seu erro. O
mal deve ser sempre retribuído com o bem, deixando à Lei o encargo de
equilibrar as boas e más ações de cada um. E neste caso é o próprio indivíduo
quem se castiga ou premia e não a Lei ou qualquer entidade. Daí a famosa
sentença atribuída a Jeoshua: "Quem com ferro fere, com ferro será ferido" ... e a
do Alcorão: "dente por dente, olho por olho".
Os praticantes de boa Magia, pouco instruídos, ainda, dos perigos a que estão
expostos, devem, antes de mais nada, cuidar do próprio caráter, o que nos leva a
lembrar-lhes a proveitosa lição dada por aquele Mahâtma já referido, pertencente
à Linha dos Kút-Humpas: "Nenhum proveito se tira de repetir quantas vezes se
queira a palavra sagrada - AUM -, desde que se não possua um caráter superior.
Sem isso nenhum resultado prático advirá".
A própria HPB afirmava que "entre a mão direita e a esquerda existia apenas
um tênue fio de teia de aranha", querendo com isso mostrar-nos a facilidade que
há em se passar da branca magia para a negra ou fatal, mesmo sem que o
indivíduo se aperceba de tão infeliz transição.

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É por tudo isso e muito mais ainda, inclusive a taxativa proibição exarada num
dos parágrafos das Regras da Fraternidade Branca ou Grande Fraternidade, que
nós não estamos de acordo com certos teosofistas quando fazem rasgados elogios
a magos negros com quem convivem, reconhecendo-os como "pessoas distintas,
amáveis, nobres", etc. Amáveis, sim, para melhor disfarçar as traiçoeiras intenções
envoltas na negra capa ou manto, negro manto, necromantus ou necromante ...
Sorrisos e palavras gentis, como as do lobo faminto que se disfarça em ovelha
para mais facilmente penetrar no redil... e com mais segurança fazer o seu
estrago, isto é, devorar as suas incautas vítimas. Assim fez o lobo do conto de A
Bela e a Fera ou do Chapeuzinho Vermelho, fingindo-se de avozinha da pobre e
incauta menina ...
Podemos garantir, com toda a segurança, não haver um só Adepto no mundo
que não desse a esses incautos indivíduos - amigos conscientes de magos negros e
deles tão grandes admiradores que chegam a considerá-los "amáveis e distintos"
-, o mesmo título de magos negros. E se, por uma dessas espirituais
condescendências, muitas vezes condenáveis, o Adepto quisesse modificar
semelhante título, empregaria o de "mago cinzento", como mescla das duas
espécies de magia que aos mesmos caracterizam.
Todo aquele que entrar em uma carvoaria com vestes alvas e limpas fica
fatalmente sujeito a sair imundo de semelhante lugar: nenhum simbolismo mais
apropriado a tudo quanto vimos enunciando.
"Vigilância dos sentidos" é o eterno aviso dos mestres aos seus discípulos ou
pupilos, a fim de que não venham a ser "atirados fora da corrente", outra
expressão por eles empregada para definir a saída da Boa Magia ou Branca, para
a má ou Negra, o que tanto vale, ainda, "por se perder na negra floresta de
Avidyâ", da ignorância, por ter tomado o caminho da esquerda, ao invés do da
direita, perigo a que todos estão sujeitos e que o mesmo Dante aponta na sua
Divina Comédia, mas de que todos se podem livrar pela simples vigilância dos
sentidos. Os próprios magos negros são denominados membros da mão esquerda.
Em estilo moderno, poderíamos chamá-los "os que andam fora da mão", através
das artérias da cidade.
Como se sabe, a descoberta do rádio representa o mais valioso esforço do
progresso humano. Por seu intermédio pode ser educado o povo, o que realmente
se tem feito em certas diretrizes. Certas, sim, porque, em muitas, o rádio

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vem concorrendo para a involução do povo, que tanto vale dizer, para a sua
degradação. Haja vista figurar em algumas estações de nosso broadcasting "A hora
da macumba", como indecentíssima propaganda do africanismo... o que não
deixa de ser vergonhoso e deprimente para os nossos foros de país civilizado e,
muitíssimo mais grave ainda, por se tratar de um país que deve servir de exemplo
aos demais, principalmente aos de Europa, em franca decadência, como vimos
provando até agora e melhor acentuaremos no último capítulo deste livro.
Igualmente prejudiciais à evolução da raça são esses concursos infantis de
músicas carnavalescas, de que tanto se orgulham certos pais que não sabem
procurar melhor divertimento nem educação mais sadia para seus queridos filhos.
Inconsciência lamentável e funesta a desses pais, agindo de um modo que seria
inadmissível por parte de quem possuísse a nítida e exigida compreensão no que
diz respeito a matéria educacional, especialmente de seus próprios filhos.
Que é a infância, senão o futuro de uma raça que pretende ser forte e pode-
rosa? "Os direitos da puerícia - já dizia o grande Victor Hugo - são mais sagrados
do que os do pai, porque se confundem com os do próprio Estado". Do mesmo
modo nos diz Paul Strauss: "Educar a criança é cultivar o seu espírito,
enriquecendo-o com os conhecimentos necessários ou úteis; é sufocar-lhe no
coração os germes das paixões e dos vícios que crescem conosco e nele implan-
tar, ainda, o amor ao bem e à virtude".
Gina Lombroso, a ilustre filha do grande César Lombroso, doutora em Letras
e Medicina, diz na sua obra de alta psicologia, L'âme de la femme, cuja leitura
aconselhamos a toda mãe carinhosa e boa: "É um fato não se encontrar entre as
mulheres um Dante, um Shakespeare, um Newton - de vez em quando, dizemos
nós, aparece uma mme. Curie e outras, como a mesma Gina Lombroso -, porém,
a verdade é que, fazer poemas ou descobrir as leis universais não é assunto nosso;
a mulher não pode consagrar a uma obra prima senão aquilo que em sua alma não
for absorvido pelas preocupações da família. E isso porque nenhuma excelsitude
poderá jamais exonerá-la de suas humildes funções de mãe, para as quais o
instinto a atrai e a natureza a destina. A passionalidade prepara, instintivamente,
as mulheres a auxiliar os demais, antes de que a produzir por conta própria".

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É ainda Michelet quem nos diz: "Les hommes superieurs sont les fils de leur
mere; ils en reproidusent l'empreinte morale ausi bien que les traits." Efetivamente, a
mãe é a melhor mestra que a humanidade conhece e admira e a mais apta a formar
cidadãos dignos e cônscios dos seus deveres cívicos e até mesmo espirituais, bem
como esposas e filhas exemplares que se não esquecerão jamais de praticar os
ensinamentos e exemplos daqueles que lhes deram a vida e lhes guiaram os passos no
caminho da adolescência. O esplendor de Esparta foi uma conseqüência legítima do
prestígio que ali gozavam as mulheres, as quais se conduziam tão patrioticamente
como os homens, que lhes bebiam no seio generoso o excelente alimento do corpo e
do espírito.
O mesmo Victor Hugo, na prodigiosa inspiração de sua pena, define o papel do
homem e da mulher do seguinte modo:
"O homem pensa, a mulher sonha. Pensar é possuir uma larva no cére-
bro; sonhar é ter na fronte uma auréola. O homem é a águia que voa; a
mulher, o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço; cantar é conquistar
a alma. O homem tem um fanal: a consciência; a mulher, uma estrela: a
esperança. O fanal guia; a esperança salva.".
São inúmeros os países europeus que já instituíram prêmios aos casais que
tiverem filhos e isto, sendo uma prova de que a maioria os evita, é ao mesmo tempo
uma prova da decadência do ciclo atual. Daí o criminoso métíer dos faíseurs e
faíseuses d'anges, contra os quais toda repressão das autoridades é pouca.
Quanto ao crime, esse outro indício certo da mesma decadência, é dele res-
ponsável a própria sociedade, não lhe cabendo, por isso, o direito de reclamar contra
aquilo que tanto rebaixa o seu prestígio.
Já dizia o visconde de Bonald:
"Esperar o delito para o punir, quando é fácil corrigi-l o, é uma barbárie
inútil, um crime de lesa-humanidade que desonra um código e um governo.
Inconscientemente ou não, os favorecidos excitam os apetites das clas-
ses inferiores e não será arrojando aqui e ali um porta-moedas, mais ou
menos recheado, que se conseguirá acalmar a sede de oiro entre os
deserdados.
O exemplo tem que vir de cima, se é que se deseja pôr termo aos senti-
mentos de inveja que explodem em forma de roubo, assassínio ou anarquia.

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Quando um povo colocar a instrução acima do dinheiro; quando todas
as honras forem para o homem instruído, para o sábio, para o benfeitor, aí,
então, o pobre, atraído pelas radiantes fulgurações de semelhante ideal,
imitará o exemplo que lhe dão, porque o povo é um grande imitador e
segue sempre o caminho que lhe traçam os que vão à sua frente. Se naque-
les que o conduzem apenas encontrar o vício, ao vício será conduzido; se
for a virtude que ali domine, para ela se voltará do mesmo modo".
Quase em toda parte do mundo, já o dissemos alhures, o indivíduo que comete
uma falta é condenado a uma pena já por si difamante, sem que o juiz que lha aplica
leve em conta os recursos morais e intelectuais que acaso possua o delinqüente. Só a
uma coisa se atende: à culpabilidade. Daí se deduz que não se procura educar o
criminoso, no sentido de uma conduta mais humana. Todo o esforço é exercido
sobre o castigo, sem que ninguém pareça suspeitar que castigar não é educar. O fato
de castigar pode fazer parte de um sistema educativo; porém, por si só não pode ser
fecundo em resultados. Acontece, com efeito, que o criminoso não renuncia, de
modo algum, a cometer novos crimes quando se lhe der a liberdade. O que ele faz é
acautelar-se de modo a evitar novo castigo. Ensinaram-lhe, unicamente, a agir com
cautela.
Em resumo, a segurança pública depende do nível moral da sociedade. Por
conseguinte, o criminoso não deve ser castigado e, sim, educado e vigiado, até que a
sua mentalidade o obrigue a seguir a linha reta.
E não será com a difusão dessa literatura, explorada por certa classe de intelec-
tuais, a que já nos referimos na Introdução desta obra e tão do sabor da péssima
moral dos nossos dias, que se conseguirá o resultado desejado. Nem muito menos
utilizando o escândalo como assunto predileto, empregado por certos jornais para
multiplicarem as edições e tomar a imprensa, que tão espalhafatosamente difunde as
misérias humanas, incompatível com o progresso de nossa raça.
O resultado de tão condenável processo jomalístico nós o vemos todos os dias: é
a repetição dos mesmos crimes e até dos suicídios, levados a termo pelos mesmos
processos anteriores, minuciosamente descritos.
E por isso, terminamos aquele nosso artigo de 1931, com as seguintes palavras:
"Reconstruir! é o brado que nos compete! Sim, reconstruir o homem, o pen-
samento, a morat os costumes; reconstruir a escola, o lar; reconstruir o caráter, ao
mesmo tempo que se transmude o cérebro".

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E essa "reconstrução", já o dissemos em outros lugares, o Estado Novo a vem
realizando de acordo com as possibilidades da época. Todos os seus esforços estão
conjugados para o soerguimento geral de tão privilegiada pátria como é a brasileira
(*).

Mesmo assim, este novo estado de coisas não é mais do que um período de
transição para um outro que virá após a conflagração e no qual deverá colaborar o
nosso continente, por ser nele que surgirá a nova civilização, como há longos anos
vimos anunciando. Assim o exigem seus próprios destinos. Dela sairá o homem
educado segundo o sistema integral ou teosófico, que visa os três corpos de que o
mesmo se compõe: o físico, para as funções perfeitas do organismo, ou o cidadão
apto a defender a pátria e, por conseguinte, a família; o psíquico, para a perfeição dos
sentimentos, para a formação do caráter, para a transformação da alma inferior em
alma superior ou divina e, finalmente, o mental, para enriquecer o Espírito ou a
Inteligência.
Este será o homem sintético do futuro, o Homem brasileiro, digamos assim, no
que ao nosso próprio país diz respeito.
Continua o livro que estamos comentando:
"Quais são, pois, as condições exigidas para se tornar um verdadeiro
estudante da Divina Sapiência? Sim, porque nenhuma instrução desse gê-
nero pode ser dada sem que se exijam certas condições que devem ser rigo-
rosamente observadas durante os anos de estudo, sine qua non ... Ninguém
pode nadar sem entrar n'água onde os pés não encontrem fundo. Nenhum
pássaro pode voar sem que suas asas se agitem, dispondo de espaço a sua
frente e tenha coragem para se elevar nos ares. Aquele que deseje manejar
uma espada de dois gumes - como é a da Magia - deve estar senhor da arte
de esgrimir, sob pena de se ferir ou, o que é pior, a um seu semelhante, logo
ao primeiro ensaio.
Avaliam-se as condições exigi das para se abordar, com segurança, o es-
tudo da Divina Sabedoria, isto é, sem perigo de ver tal magia se transfor-
mar em feitiçaria, citando algumas regras privativas de que se servem os
instrutores orientais. As passagens que se seguem são escolhidas entre ou-

(*) OAutor tinha a esperança de que o Estado Novo, que vigorou de novembro de 1937 a
outubro de 1945, pudesse realizar profundas transformações sociais no Brasil, não querendo
dizer, no entanto, que ele concordasse com o regime ditatorial. (N. da E.)

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tras muitas, só explicadas "a boca pequena" - melhor dito, "de boca a ouvido" e,
mesmo assim, somente aos discípulos mais avançados:
1- O lugar escolhido para se receber semelhante instrução deve ser pre-
parado de modo a não oferecer nenhuma distração ao espírito e conter objetos
que exerçam influência magnética. Entre eles, as cinco cores sagradas - as dos
tattwas ou forças sutis da natureza, dizemos nós, embora existam mais duas
secretas -, desenhadas num círculo. O lugar deve ser isento de toda influência
maligna que possa existir no ar - inclusive, a derivada dos ataques que os
nirmânakâyas negros fazem a quantos se dedicam à Magia Branca. Igualmente
deve estar longe de ruídos, do bulício da cidade e, sempre que possível, em uma
casa em centro de terreno, o mais afastada que se puder da rua.
Tal lugar deve ser reservado, isto é, não servir a outro fim. As cinco cores
sagradas são as do prisma, dispostas de certa maneira, pois trata-se de cores
muito magnéticas.
Por influência maligna entendem-se todas as perturbações produzidas pelas
discórdias, questões, sentimentos maus, etc., que, imprimindo-se imediatamente
na luz astral, ou seja, na atmosfera do lugar, permanecem "flutuando no ar".
Esta primeira condição, embora fácil de obter-se, na prática é uma das mais
difíceis.
2 - Antes de o discípulo possuir o direito de estudar "face a face" deverá
adquirir uma compreensão preliminar em escolhido grupo de upâsakas -
discípulos, cujo feminino é upâsikâs -laicos, que deve sempre ser formado por
um número ímpar - cinco, não só para estarem de acordo com o número de
cores acima apontado, como com o da raça, que é a quinta ...
"Face a face", neste caso, quer dizer um estudo independente - embora
vigiado de perto pelo guru, pressentido ou não pelo discípulo - ou afastado dos
outros, logo que o discípulo receba sua instrução face a face consigo mesmo
(seu Eu Superior, Divino) ou com o seu guru. Então terá chegado o momento
de receber a parte da instrução que lhe cabe, segundo o emprego que fez do seu
saber. Isto somente se dará nos fins do ciclo de instrução.
3 - Antes que tu (o instrutor) divulgues ao teu lanú (discípulo) as boas (ou
santas) palavras do T...amrín, ou lhe permitas fazer os preparativos para o Dubjeb,
observarás se seu mental se encontra inteiramente purificado e em paz com
todos os seus outros /leus". A falta deste cuidado fará com que as palavras de
Sabedoria e da Boa Lei sejam espalhadas e conduzidas pelo vento.

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Lamrin é uma obra de instruções práticas, escrita por Tsong-Kapa, em duas
partes: uma, para uso eclesiástico e exotérico e outra para uso esotérico. "Fazer
os preparativos para o Dubjeb" quer dizer preparar os objetos destinados à
prática da vidência, tais como espelhos e cristais.
Os "outros eus" designam os condiscípulos - os que aprendem debaixo da
exigência do mesmo número. Desde que não reine a máxima harmonia - seria
preferível dizer equilíbrio - entre os estudantes, nenhum sucesso é possível -
nem podia deixar de ser assim, na razão de cinco frações para um todo: o guru.
Donde, como já foi dito, a responsabilidade do mestre pelos erros do
discípulo ...
É o instrutor que faz a seleção, segundo a natureza magnética e elétrica dos
estudantes, reunindo e combinando, com o maior cuidado, os elementos
positivos e negativos - o que se pode chamar de "formas-duais", pares, etc., ou
de forças opostas, para que se dê o mesmo equilíbrio.
Todas essas exigências obedecem a outras razões que a própria HPB não
soube, ou não pôde revelar, mas que dizem respeito ao raio de cada um dos
discípulos. Vem daí aquela frase que a própria Igreja até hoje não conseguiu
interpretar e que começa "meu Pai e o vosso", em vez de "nosso Pai". Referia-se
Jesus ao que a Si mesmo dizia respeito, nada tendo a ver com a Causa Primária,
como todos julgam. E fiquemos por aqui ...
Digamos, antes, a maneira pela qual era feita tal escolha no Egito: o sacerdote
dela encarregado, que não era ainda o dirigente do futuro grupo, punha o neófito,
completamente despido, de pé sobre um instrumento composto de laminas
metálicas, umas em posição horizontal e outras em posição vertical. O candidato
ao discipulado ia passando de lâmina em lâmina horizontal, ao mesmo tempo que
o sacerdote feria com um martelo de madeira a lâmina vertical correspondente.
Quando o tom produzido pela lâmina estava em harmonia com o do examinando,
este caía ao solo em estado de catalepsia. E, assim, conhecida a nota, se conhecia,
por sua vez, o raio, o astro, etc., de cada um dos componentes do grupo, que logo
era apresentado a seu mestre ou guia.
4 - Durante o estudo, os upâsakas devem ter o máximo cuidado em viver
unidos como os dedos da mesma mão. Incutirás no seu espírito que tudo quanto
prejudicar a um, prejudicará aos demais - especialmente, dizemos nós, ao guru.
E, se a alegria de um não encontrar eco no coração dos outros, é porque as
condições exigidas não existem e, como tal, inútil será continuar.

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Tal fato não pode acontecer se a prévia escolha foi feita segundo as exi-
gências magnéticas - digamos antes: legais ... Têm-se visto discípulos que,
embora dessem esperanças e apresentassem condições que lhes permitam
reconhecer a Verdade, foram obrigados a esperar durante muitos anos devido
ao seu caráter e à dificuldade de adaptação, de se colocarem no" diapasão" de
seus condiscípulos. Pois ...
HPB termina este trecho do seu trabalho com a fórmula que até agora não
encontrou solução, isto é, em francês, para onde foi traduzida sua obra: Car 1...
que quer dizer: "porque menos 1", no círculo ou grupo magnético formado pelo
mestre e seus discípulos, quebrada ou destruída se acha a magia, ou melhor, a
fórmula numérica por Lei exigida. E, com isso, com menos um, todo o esforço do
mestre fica, por sua vez, inutilizado ...
5 - Os condiscípulos devem estar afinados pelo guru como as cordas de um
luth (lira, vina, etc.), cada uma diferente das outras - na razão de "raios",
senão, como dissemos, daquele instrumento egípcio que servia para a escolha
dos discípulos -, emitindo, porém, sons em harmonia com os demais.
Coletivamente, representam o instrumento por inteiro, repercutindo ao mais
leve contato do mestre - ou Unidade, o Todo, etc., para o exigido número de
frações ou discípulos (17).
Assim, seu Mental se abrirá às harmonias da Sabedoria - sem estabelecer
confusão, pois que, nas escolas vulgares, o discípulo tem que evoluir
lentamente ou de acordo com o que vai adquirindo em conhecimento, isto é,
desde o ABC às altas matemáticas - para vibrar como Conhecimento em cada
um, e em todos produzindo efeitos agradáveis aos deuses tutelares os mesmos
Chohâns, arcanjos, etc., dirigentes dos astros ou raios, a que está ligado cada
um dos discípulos -, úteis aos discípulos - ou, melhor dito, que lhe são afins,
Desse modo, a Sabedoria se gravará para sempre nos seus corações e a
harmonia da Lei jamais será destruída - com vistas às tendências ou skhandas,
os poderes psíquicos ou siddhis, como bagagem a ser conduzida de uma
encarnação a outra.
6 - Aqueles que desejam adquirir conhecimento, conduzindo sempre seus
siddhis, deve logo renunciar a todas as vaidades da vida - e segue-se a enu-
meração dos siddhis, que a própria autora não quis apontar, mas todos eles
dentro do que a consciência de cada um, que nunca falha, acusa como bons ou
fav'Jráveis, afastando os erros ou faltas capazes de os prejudicar.

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7 - Ninguém tem o direito de se sentir diferente dos seus condiscípulos
dizendo: "Eu sou, dentre todos, o mais sábio, o mais perfeito, o mais agra-
dável ao mestre", mas sim, considerar-se sempre discípulo, - mesmo por-
que, à nossa frente existe sempre algo superior ou mais elevado, que deve-
mos respeitar, venerar, etc. Seus pensamentos devem estar, em primeiro
lugar, fixos no coração, a fim de eliminar os de hostilidade contra qualquer
ser da Terra. O coração deve, de fato, encontrar-se repleto de amor para
com os demais seres, para com tudo quanto existe na natureza, sob pena de
nenhum sucesso poder ser obtido.
S - Um discípulo não deve temer senão a influência viva externa (ema-
nações magnéticas de criaturas) - ou antes, de seus auras repletos de larvas
astrais, formadas por seus próprios atos e pensamentos de ordem maléfica.
É a isso que se chama de boas ou más tendências, porquanto, para elas se
não perderem, desde que escritas no Akasha, no Livro julgador dos
Lipikas, permanecem em redor do seu próprio criador. Donde o carma de
cada um ou o seu bom ou mau destino, etc. Deve ter o máximo cuidado
em separar seu corpo exterior (o físico) de toda influência estranha - sem o
que, como conservar seu próprio aura isento de influências ou perturba-
ções maléficas? Nenhum outro, senão ele, deve servir-se de seu prato -
maneira de dizer, pois a frase se aplica a tudo quanto lhe diga respeito,
embora no Ocidente seja bem difícil levar-se tudo isso ao pé da letra,
mas ... tanto quanto seja possível. Deve evitar todo contato corporat quer
de humanos, quer de animais, isto é, de tocar ou ser tocado ... - na razão
daquele nolli me tangere atribuído a Jeoshua, que tanto vale "não me
toques".
Não se deve esquecer aquela passagem bíblica onde Jeoshua proíbe a um dos
seus discípulos assentar-se em determmada pedra, por na mesma ter estado um
leproso. Porém, o que os comentadores da Bíblia ignoram é que Jeoshua se refere ao
leproso moral, porquanto ao físico Ele beijou a face, para servir de exemplo aos
mesmos discípulos ...
Quanto às árvores, plantas, etc., muitas são as que deviam ser incluídas naquele
"não me toques", pelos malefícios que de si irradiam. Está, entre elas, a própria
figueira, não pelo fato mítico de Judas a ter escolhido para enforcar-se, mas por se
tratar de árvore saturnina das mais prejudiciais, por ser "vampirizante". Pior do que
esta só a sonífera mancenilha, que dá morte ao incauto adormecido à sombra de sua
atraente ramagem. Delas se afastam as próprias feras, que têm o cuidado de arrastar
para longe os cadáveres encon-

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trados à sua sombra para, tranqüilamente e sem perigo, os devorarem.
É da mesma natureza a tão familiar samambaia com que se ornamenta a
entrada e mesmo o interior de quase todas as nossas residências. Suas "garras", a
própria secura e a cor verde desmaiada de seus ramos denunciam seu poder
vampirizante, isto é, o poder de atrair algo que se não possui de quem o tenha em
demasia. Daí a "vampirização" poder ser feita entre pessoas de vitalidades
diferentes.
Somos assim levados a denunciar os inconvenientes de pessoas idosas dor-
mirem com crianças. É extraído das obras do dr. Papus o caso de uma criança que
definhava cada dia mais sem que os médicos encontrassem uma explicação para
tão misteriosa moléstia. Chamado o famoso ocultista, quis logo saber com quem
dormia o doente. E quando lhe informaram que era com sua avó, ordenou a
suspensão de semelhante hábito, pois era a única razão de a criança definhar cada
vez mais. Aceita a determinação, seis meses depois ... morria a idosa senhora por
falta da vitalidade que ela, talvez inconscientemente, extraía do pobre pequeno
em pleno alvorecer da vida!
Dizemos "talvez inconscientemente" porque há indivíduos que, conhecedores
do assunto, se dedicam à vampirização consciente e, por isso, como verdadeiros
magos negros, são merecedores de toda repulsa. São aqueles que, nos cinemas,
nos bancos dos jardins ou praças públicas, nos bondes, etc., procuram sempre
tomar lugar junto de pessoas muito mais jovens do que eles. Não é raro ouvir-se
dizer" depois que saí de ao pé daquele velho - não quer isto dizer que os moços
não possam realizar vampirizações conscientes, pois velhos e moços as fazem,
muitas vezes tão inconscientemente como as samambaias ou as mancenilhas -
sinto-me abatido, cansado, como se a vida me faltasse". Para evitar esse perigo,
não há melhor processo do que o de fechar os pólos que, no corpo humano, se
acham nas extremidades. Bastará, pois, cruzar os braços ou as pernas, o que aliás
é uma comodidade natural a quem tenha de ficar muito tempo assentado, para que
todo o perigo de vampirização desapareça. Se o indivíduo for um "vampirizador"
consciente, mago negro, portanto, diante desse gesto fatalmente se levantará do
lugar, buscando uma outra vítima ignorante dos processos defensivos contra tão
indigno meio de arrancar de outrem aquilo que lhe falta, contrariando, quando se
trata de velhos, o conhecido dito: "se hei de morrer, morra meu pai que é mais
velho", dito que, embora egoístico e maldoso, está de acordo com a lei natural das
coisas, que manda que os mais
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velhos, os mais gastos, morram antes dos mais jovens, dos mais fortes, exceto
quando o dedo do carma, que intervém sempre nas questões da vida humana, se
manifesta contrariamente àquela lei. Haja vista os que nascem para morrer horas
depois, quando já não vêm mortos ao mundo.
Desde a fundação do nosso Colégio Iniciático, seguindo os salutares preceitos
do nolli me tangere foi adotada a saudação da mão espalmada sobre o peito,
abolindo-se o anti-higiênico aperto de mão, até hoje usado apenas entre os
ocidentais. No Oriente nunca se usou essa forma de cumprimento. Hindus, árabes,
etc., se saúdam uns aos outros levando a mão à fronte, aos lábios e ao peito, como
se dissessem "saúdo-vos nos três mundos da matéria", ou curvando apenas o busto
para a frente.
E se o aperto de mão é desaconselhável, além do mais, por facilitar a trans-
missão de moléstias, que diremos dos cumprimentos inventados pelos extremismos
deste pobre ciclo em franca decadência, onde nos aparecem mãos espalmadas e
punhos cerrados a projetar-se no espaço, como que desafiando a própria
Divindade? Tais gestos simbolizam o mais baixo servilismo, a restrição da
liberdade de pensamento e de ação, reduzindo-a "àquela liberdade que se dá à alma
animal de se atolar cada vez mais no lodaçal imundo de suas vis paixões, como
aquelas almas do Inferno de Dante a debaterem-se em charcos de matérias fecais".
Não param, porém, nos apertos de mãos os condenáveis contatos. Quantas
pessoas não acham interessante e gracioso beijar o focinho de seu gatinho angorá,
sem lhe passar pela cabeça que todo gato é asmático, ou do seu lulu da Pomerânia,
cuja língua está sempre a lamber a manifestação purulenta da vulgar moléstia de
que são vítimas todos os cães ... e que eles transmitem ao homem! Iguais provas de
carinho são dadas ao puro sangue que acaba de vencer o Grande Prêmio! Raro é o
filme que reproduza uma corrida onde se não veja uma dama chique beijar o
focinho ou as ventas do cavalo vencedor, ignorando que o mormo é uma doença
cavalar e transmissível ao homem. .. E essa pouco edificante cena é, por sua vez,
repetida pelas famosas estrelas do cinema, para inveja de muitos idiotas, que para
estarem no lugar do cavalo dariam uma fortuna ... Coisas da época, para não dizer:
O tempora, o mores! - Ó tempo, ó costumes!.
A proibição de qualquer contato imposta aos discípulos pelas regras que
estamos traduzindo atinge os próprios objetos usados pelos outros. E nesse caso,

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que diremos dessas xícaras mal lavadas de que nos utilizamos nos botequins e das
quais se servem igualmente os portadores das mais horríveis moléstias? Em
muitas delas, das poucas vezes que fomos forçados a entrar em tais lugares, já
vimos os vestígios rubros dos lábios que acabaram de as tocar ou, assente no seu
fundo, o restinho de açúcar que a água, parcimoniosamente empregada, ou o auto
clave inutilizado ou esquecido, não conseguiram eliminar. E não falemos nos
copos d'água alinhados ao longo do balcão à disposição do público e donde os
restos neles deixados nem sempre são postos fora, antes se acumulam para serem
aproveitados pelos incautos que assim vão transmitindo uns aos outros as
moléstias de que são portadores. Estes descuidos pelos mais elementares princí-
pios de higiene, junto a outras causas como a climática e a moradia em arranha-
céus ou casas de apartamentos, já cognominados pela verve carioca de
"apertamentos", justificam a estatística ultimamente publicada pelos jornais, onde
nos dizem haver três casos fatais de hlberculose em cada 24 horas, pequena volta
que a ampulheta do tempo dá ... para nos aproximar do nosso túmulo ...
Horríveis são, ainda, quer higiênica, quer esotericamente falando, as conse-
qüências que podem advir da necessidade de servir-se, uma pessoa sã, dos
aparelhos sanitários dos cafés, restaurantes e outros lugares públicos. Doenças
perigosíssimas ali nos podem atingir, não só pelo simples contato com tais lugares
como pelas emanações, ou, antes, vibrações etéricas de que os mesmos lugares se
acham repletos. Algo assim como aquele animal filamentoso que, no rio
Amazonas, tem a capacidade de subir pelo jato da urina do imprevidente que ousa
satisfazer dessa forma uma necessidade fisiológica.
De vibrações, cada qual mais perigosa, está tudo repleto. Felizes os que
possuem um automóvel que os livre dos assentos do bonde e dos ônibus, cheios de
vibrações malsãs ... Quantas vezes, mesmo os ignorantes destes assuntos, se
sentem mal ao tomarem um lugar deixado por outro, a começar pela aflição
causada pelo calor proveniente de um corpo estranho?
E este instinto, esta espécie de pavor ao ter que ocupar um lugar em tais
condições, provém da Voz interna que nos segreda o perigo a que estamos
expostos, como é a mesma Voz que nos faz levar imediatamente a mão ao lugar
onde sintamos uma dor; gesto instintivo que nos diz, além do mais, estar no
magnetismo irradiado das mãos a maior de todas as medicinas, desde que se saiba
aplicá-Ia. Do assunto trataremos mais detalhadamente em nossa próxima obra, A
Ciência da Vida ou como se tornar Adepto.
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Falando em vibrações, não podemos deixar de nos referir às que emanam dos
cemitérios e que só um clarividente pode descrever. Nesses lugares, que muitos
sentem prazer em visitar, vêem-se aqui os duplos etéricos baloiçando sobre as
frias campas, semelhantes àquelas" almas-árvores" a que se refere Dante na sua
Divina Comédia; e, acolá, os kâmâ-rúpas, ou corpos astrais, como forma que toma
Kâmâ, o 4º princípio teosófico, depois da morte, vagando entre as quadras, como
verdadeiras "almas-penadas", alguns, olhando assombrados para as suas próprias
campas e outros, contemplando os vivos que passam, lamurientos e cobertos de
crepe!
E muito pior ainda do que esse espetáculo nada reconfortante são as pútridas
emanações etero-psíquicas ou astrais que se desprendem das campas abertas há
pouco tempo, as quais, além da perniciosa repercussão nos corpos astrais dos
vivos, tornam o lugar mais do que insalubre.
O aparecimento de inúmeros casos de câncer entre os habitantes dos bairros
próximos aos cemitérios levou os radioestesistas de Paris e outras cidades a fazer
várias experiências, graças às quais se constatou a existência de pútridas
infiltrações vindas dos cemitérios; infiltrações que atingiam um raio tanto maior
de ação e, por conseguinte, um número tanto maior de bairros quanto mais antigos
eram os cemitérios. E tudo isso porque a Igreja é a maior inimiga do econômico e
higiênico, na extensão da palavra, processo da cremação dos corpos, pela
infantilíssima razão de no dia de Juízo não poderem eles ressuscitar e apresentar-
se ao Cristo-Julgador!!! Mesmo que já fossilizados alguns e outros completamente
desaparecidos, devido às eternidades que sobre os mesmos pesam! ...
A própria estética da cidade exige semelhante providência, já que a maioria
está longe de conhecer os graves prejuízos que sofre a população, provindos do
mundo astral. A própria Índia possui os seus fornos crematórios, que têm o nome
de ghates e se acham postados em certos lugares afastados das margens do
Ganges, o rio sagrado onde se banham e dessedentam os fanáticos do Sul. porque
os espirituais valores da Índia se acham ao Norte, confinando com o Tibete. Nas
cidades onde não existem esses templos-crematórios, os cadá\'eres são colocados
em pé e amarrados a um poste de madeira, depois do que são untados com uma
resina especial destinada a permitir a mais rápida combustão do corpo. Desse
processo, além de outras vantagens, resulta a destruição do duplo etérico
simultaneamente com o corpo físico, evitando, portanto, uma
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grande parte dos prejuízos que decorrem das visitas aos campos santos ... e a
permanência desses "farrapos semi-humanos, semi-astrais" nas sessões de
animismo, erradamente chamadas de espiritismo, sempre ávidos de se agregar aos
freqüentadores de tais sessões, que dali saem carregando-os às costas, como que
para reproduzir nesta vida aquela lenda tibetana do assassino carregando, no
astral, a sua vítima durante vários séculos. Para não falar no enormíssimo número
de obsessões que de tudo isso resulta. Fala mais alto do que nós o Hospício
Nacional, onde as vítimas desses fantasmas clamam contra algo que os segue, os
maltrata, os persegue ...
Nem só dos cemitérios vêm emanações prejudiciais, mas também dos ne-
crotérios, dos matadouros, dos açougues, dos lupanares, pois todos esses lugares
possuem suas vibrações próprias, como já tivemos ocasião de demonstrar por
meio de projeções luminosas e explicações verbais, em uma série de conferências
que fizemos na matriz da STB, na rua Buenos Aires, 81, 2º andar (*), às quais, por
sinal, assistiu, enchendo completamente o salão, o que de mais culto possui a
sociedade carioca e fluminense.
Como medida contra os malefícios provenientes de certas vibrações ou de
estranhas atrações, merece ainda ser apontada a própria ornamentação do interior
das casas.
Dessa ornamentação, além das espadas, punhais, espingardas e tudo quando
faça lembrar o assassínio entre irmãos ou criaturas provindas da mesma origem,
devem ser banidos os quadros de batalhas sangrentas, de caçadas, de animais
mortos, principalmente apresentados de cabeça para baixo, etc.; as peles, por mais
valiosas que sejam, os pássaros engaiolados, pelo simples prazer de os ouvir
cantar - muitas vezes de saudades por sua antiga liberdade -, as cores
avermelhadas, etc. Tudo isso, além do mal que produz ao espírito das crianças,
atrai as larvas astrais que se alimentam de semelhante vampirização ... e desperta
sentimentos de furor. Não esquecer que o próprio boi e outros animais se
enfurecem diante da cor vermelha - que é a do sangue ... de que se alimentam os
"vampiros" -, como prova o processo usado pelos "capinhas" - reminiscência
atlante - nas condenáveis touradas.

(*) A
matriz da Sociedade Teosófica Brasileira, atual Sociedade Brasileira de Eubiose, fica hoje
na Av. Getúlio Vargas, 481, São Lourenço, Minas Gerais. (N. da E.)

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Ademais, já todo mundo sabe, especialmente os mais provectos ocultistas, a
ação das cores na terapêutica. O azut por exemplo, é calmante, sedativo,
hipnótico, etc., apropriado, por isso, aos quartos de dormir; o encarnado é, ao
contrário, excitante, provocando idéias violentas, belicosas e tornando irascível
aquele que lhe sofre a influência; o verde atua sobre o aparelho gastrointestinat
donde as "cólicas saturninas" provoca das pelo chumbo que entra na composição
dessa cor que, esotericamente falando, tem sua influência dirigida para o fígado.
E assim, com as demais cores que, sabiamente aplicadas no interior das
habitações, eliminariam uma infinidade de perturbações de toda natureza.
O que nesse interior também se não deve admitir - principalmente se seus
habitantes querem passar por nobres e distintos - é o chamado "futurismo';, essas
pinturas a que se deu o nome de arte, quando na realidade não passa de uma das
provas ,mais frisantes da decadência do ciclo atual...
O ambiente do santuário do lar - nome que por si mesmo justifica tudo quanto
se possa dizer e fazer em sua defesa - ao invés de tristonho, pesado,
exageradamente luxuoso - onde há luxo, há desconforto -, deve ser alegre,
transpirando geral felicidade, para que faça jus, também, à doce paz do lar com
que os poetas o cantam.
A "incompatibilidade de gênios" - e todas as demais razões que este usual
pretexto encobre - com que os casais se apresentam no pretório pedindo divórcio
é uma das causas para que aquela doçura se torne, muitas vezes, amarga como o
fel... Isso se evitaria, porém, se tal incompatibilidade fosse compreendida ou
observada antes do casamento, a menos que uma das partes, por meio de artifícios
e enganadoras promessas, levasse a outra a cair na "armadilha". Essa
imprevidência torna-se, no futuro, o mais sério fator das péssimas vibrações
dentro do lar! Para as evitar, só um remédio na realidade conhecemos: o divórcio,
que a religião condena, mas que nenhum jurisconsulto digno desse nome deixará,
em sã consciência, de apoiar, tendo em vista, principalmente, o interesse dos
filhos. Porque, entre permanecerem na companhia do cônjuge que está com a
razão - principalmente se ele souber se conduzir dignamente e dignamente puder
explicar as razões da separação - e continuarem em companhia de ambos -
assistindo às suas disputas, aos pesados insultos e até, não raro, às agressões
físicas, tudo isso realizado pelos pais na presença dos filhos,

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cujos sofrimentos não vêem - só achará preferível esta solução e condenável a
outra, trazida pelo divórcio, quem nada entenda de educação infantit a influência
que os exemplos exercem sobre as crianças ou queira, simplesmente, tapar o sol
com um dedo!
Somos, pois, a favor do divórcio, por sermos contrários ao casamento sem
amor e ainda por mil outros motivos que seria longo enumerar, todos eles dentro
do Esoterismo, que nos ensina não haver harmonia entre raios ou astros
desarmônicos. E quem jamais pensou em saber se os casais que se pretendem unir
vibram sob a influência dos mesmos "raios" ou dos mesmos astros? Exigência
seria esta descabida num meio onde nem sequer se procura evitar, com um
simples exame médico, a união entre casais portadores de moléstias contagiosas
ou hereditárias, destinadas a produzir uma raça de tarados e imbecis ... num meio
onde, para o exercício de qualquer função, mesmo a mais modesta, se exige uma
prova de capacidade moral e intelectual, menos para a de ser pai ou mãe, função
que a todas sobrepuja pela dificuldade, importância e nobreza e a cujo perfeito
desempenho se liga o futuro da própria pátria.
Tudo isso aumenta o número de desarmonias entre os casais, resultante dos
erros, dos equívocos que essas providências preliminares poderiam evitar. E nada
mais justo, nada mais humano do que dar a quem erra o direito de corrigir o erro,
coisa que só se obtém com o divórcio. Aqueles que lhes são contrários,
contentando-se com o desquite, mostram-se partidários das situações dúbias e
falsas; favorecem a imoralidade derivada do concubinato de uma ou ambas as
partes, especialmente se o "remédio jurídico" é reclamado, estando o casal em
pleno vigor da mocidade, como sói acontecer na maioria dos casos.
E mais uma vez somos obrigados a culpar a Igreja pela manutenção entre nós
desse perigoso entrave sociat causador de tantos suicídios e de tantos crimes,
embora nela haja "remédio" para destruir os " indissolúveis laços matrimoniais"
bastando, para tanto, poder-se pôr em ação o velho provérbio de que "quem
governa o mundo é o dinheiro" ...
Diga-se que as sociedades carecem de modificações dos costumes, de,
transmutação do cérebro, etc., e concordamos perfeitamente. Isso, porém, deve
ser feito por nós mesmos e não pagando a outros para que o façam em nosso
lugar. Foi isto que nos ensinaram todos os grandes Seres que a este mundo
vieram, a começar pelo príncipe Sidarta Gautama, o Budha, quando diz: "a

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mente humana iluminada é maior do que um anjo e um deus: a razão intuitiva
está acima do sacerdote e da revelação; o domínio de si mesmo é melhor do que o
sacrifício e o culto". Seu lema era "justiça" e de seus ensinamentos se conclui,
com clareza, não ser uma ilusão a lei do Carma ou de Causa e Efeito, ação e
reação, distribuição e retribuição, através das encarnações da alma em diversos
corpos humanos.
E quem não crê - ou finge não crer, aguardando que a Igreja se manifeste a
respeito, como em breve fará ... - nessas duas Leis da Reencarnação e Carma, não
possui freio na vida, como as religiões julgam ser os por elas criados.
Essas duas sábias Leis são o verdadeiro estímulo para se viver heróica e abne-
gadamente, servindo a si mesmo e ao próximo, como filhos de um Pai comum ou
membros da mesma espiritual família, com o nome de humanidade.
Voltemos às perturbações a que estão sujeitas as inúmeras farm1ias cujos lares
infelizes visitamos e cujos sofrimentos nem sempre podem ser escondidos sob os
artifícios de que se é obrigado a lançar mão para satisfazer uma sociedade
hipócrita, egoísta, cheia de vícios - àparte raríssimas, embora notáveis, exceções -
e desenganos muito maiores, talvez, do que os nossos. Em todos esses lares, para
o clarividente, se acha o ambiente revelador, repleto de rubras formas-
pensamentos ornadas de garras aduncas, verdadeiras setas que penetram no
coração dos residentes em tais habitações. E se não falam a linguagem humana,
nem por isso expressam menos claramente suas azedas discussões, sempre
envoltas em ódio, traição, maldade, onde se repete sempre o mesmo estribilho:
"Miserável, mil vezes morresse antes de casar contigo! Tu és minha desgraça, a
minha ruína! Desde o dia maldito em que te conheci, nunca r ais tive sossego!" E
de mistura com estas formas-pensamentos, outras voluteam, caprichosas e
estonteantes, parecendo soltar estrídulas gargalhadas, como que aplaudindo toda
aquela cena macabra, que olhos físicos não vêem, mas o coração daqueles que
acaso concorreram para semelhantes uniões - positivamente ilegais em face das
Leis superiores ou divinas - pressentem através de cruciantes espinhos.
Preferíamos, mil vezes, passar por fantasistas, ou que outro epíteto nos quei-
ram dar, a termos que guardar silêncio sobre coisas que a própria Lei exige sejam
por nós apontadas ao mundo, se outros homens e compêndios mais yaliosos do
que o nosso o não tivessem feito anteriormente.

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Continuaremos, por isso, não como aquelas formas-pensamentos, repisando
sempre as mesmas expressões de ódio e desespero, necromanticamente impressas
no ambiente dos lares infelizes, mas repisando! sim, com o amor e inteligência de
que formos capazes, tudo quanto à nossa consciência parecer útil dizer ao mundo.
E pudéssemos nós dar às nossas palavras a doçura que tinham as mãos de um
Cristo ou de um Budha quando! paternal e carinhosamente, acariciavam
cabecinhas das crianças, para, como Ele! por nossa vez, mitigarmos o sofrimento
desses pequeninos anjos que, por força do carma inflexível, são obrigados a
presenciar as cenas degradantes dos seus lares e, sob a égide ou proteção dos
devas! à sombra de suas asas benfazejas! choram a miséria moral de sua própria
ascendência.
Era para destruir essas formas-pensamentos! para purificar o ambiente repleto
de larvas astrais e levar a tranqüilidade aos corações aflitos que Jeoshua, ao
penetrar no interior de um lar! pronunciava as sacrossantas palavras: IIQue a Paz
de meu Pai esteja convosco".
O lar é como uma alma-grupo, ou mesmo como um grupo de estudantes! igual
ao apontado por HPB nas regras do opúsculo que estamos comentando! cujo
mestre ou mestres são aqui os donos ou chefes da casa. A eles! por isso, cabe dar
aos filhos e a quantos vivem sob sua proteção o exemplo de alto descortínio moral
e intelectual. E, pelo precioso ambiente que souberem formar em volta de si!
conseguirão conquistar o respeito! admiração e benquerença de todos. Desses
privilegiados lares! alguns também temos visitado e! forçoso é confessá-Io, só
neles nos sentimos bem! porque só neles, como diria Jeoshua! IIreina a Paz de
meu Pai". O cuidado para que essa harmonia se não quebre! para que o ambiente
de um lar feliz se não perturbe! deve levar o chefe ao máximo empenho na escolha
dos amigos que o freqüentam e, principalmente! na escolha da criadagem!
mormente na destinada ao preparo dos alimentos. O aura desses seres pode estar
repleto de larvas e outros habitantes do astral e já a mesma HPB afirmava: IINo
mundo só temo o mau magnetismo de certas pessoasll•
Na falta de clarividência, que nem todos possuem! se poderá utilizar a inte-
ligência ao fazer a seleção dos amigos e dos empregados. Em primeiro lugar!
temos, para nos servir de guia, a velha sentença popular que diz que "o rosto é o
espelho da alma". Vem em seguida a maneira de falar, que revela sempre o caráter
de quem fala, a não ser quando se trata de um mistificador! contra o

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qual a caderneta da polícia nos pode valer. Finalmente, o aspecto geral da pessoa
também nos servirá de valioso auxílio, pois neste, como em todos os casos da
vida, a higiene também reclama seus direitos.
O magnetismo lançado por uma cozinheira sobre os alimentos que prepara
pode trazer as mais funestas conseqüências para a harmonia e até para a saúde
dos que deles se tenham de servir. O próprio autor deste livro teve uma filha a
quem, por sinat deu o nome de Alina por saber que era a reencarnação de outra,
desencarnada meses antes, fato que ela mesma confirmou ao dizer certa vez à sua
mãe: "eu já morri uma vez e você me cobriu com uma colcha cor de rosa", o que
fez a mãe exultar de contentamento, por ver confirmadas nossas afirmações. Essa
criança, dotada de uma clarividência notávet sabia defender-se das larvas astrais
ou mau magnetismo emanado da cozinheira, desmagnetizando, com gestos
próprios e com toda a circunspeção, o alimento antes de o ingerir. A primeira vez
que assim procedeu tinha quatro anos de idade e ao perguntar-se-lhe porque fazia
isso, respondeu com toda a naturalidade: "Sim, porque desconfio das vibrações
de Maria", nome da cozinheira que então possuíamos.
A multiplicidade de Marias está a exigir que em cada lar houvesse quem
seguisse o exemplo dessa criança, substituindo, vantajosamente, a prece que
algumas pessoas instituíram para um dos momentos mais sagrados da vida, ou a
cerimônia do rabino israelita que assiste à matança do gado destinado aos seus
prosélitos e único que irá abastecer os açougues, introduzindo a mão no ventre de
cada animal e pronunciando as orações ritualísticas. A desmagnetização dos
alimentos exige, porém, certa perícia, além de ser horrível ter necessidade de
empregar semelhantes processos de defesa antes de todas as refeições,
principalmente porque isso faria sofrer a pessoa que as preparasse e que, por sua
ignorância e falta de proteção em matéria educacionat não pode ser totalmente
culpada das más vibrações com que impregna os alimentos que manuseia. A elas
se aplica com justiça a sentença atribuída a Jeoshua: "A quem muito for dado,
muito será pedido" ...
Entre as vibrações úteis ou prejudiciais aos moradores de uma casa estão as
emanadas não só da sua pintura interior e exterior, como até dos números
gravados nos seus portões ou fachadas. Nos números, nos sons e nas cores reside
o grande mistério da vida. "Conhecer a ciência dos números e a arte da Vontade -
diziam os sacerdotes de Mênfis - é possuir a chave com que se abrem as portas
do Universo". Cada número representa a expressão de uma
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força viva capaz de destruir ou construir, ser favorável ou desfavorável aos que o
manejam ou aos que se acham sob a influência das suas vibrações. Seria descabido,
neste passo, aprofundarmos o estudo transcendente dos números. Chamaremos
apenas a atenção para os efeitos maléficos de alguns deles.
O número 12, por exemplo, correspondente à letra hebraica Lamed ou "L" do
nosso idioma - representando, nas lâminas do Tarô, O Enforcado -, na mais grosseira
das interpretações a que pode ser submetido dá-nos a idéia de castigo, de morte
violenta, de miséria, etc. Assim, todo aquele que estiver a par da ciência dos
números, evite residir em casas de tal número ou cuja soma de seus algarismos seja
12. A nossa própria experiência nos leva a afirmar não haver felicidade para aqueles
que moram numa casa 12. Referimo-nos, está claro, à felicidade material e não à
espiritual, única verdadeira.
Evite-se, pois morar em casa de número 12 ou naquela cuja soma de seus
algarismos seja 12. O chefe de uma faml1ia, nosso conhecido, próspero e feliz antes
de ir morar no 66 de uma casa de certa rua de S. Cristóvão caiu, depois disso, na
miséria, acabando por suicidar-se. Outro nosso vizinho, depois que veio a habitar o
39, viu agravados seus males, bem como os de toda a família, um mês depois de
entrar nessa casa. A nossa própria experiência nos leva a afirmar não haver
felicidade para aqueles que moram numa casa 12. Referimo-nos, está claro, à
felicidade material e não à espiritual, única verdadeira.
Como representante da esterilidade, falta de equilíbrio, etc., citaremos o 2,
culpado muitas vezes dos castigos impostos antigamente às mulheres que não
oferecessem filhos ao mlmdo.
Contrariamente a este, temos o 13, considerado como fatal por ser figurado no
respectivo Arcano pela Morte, portadora da foice ou do alfange. É um número de
cujas vibrações emanam os princípios de geração, construção, etc.
Entre os números mais preciosos para casas residenciais está o 4, especialmente
quando seguido de um zero, o que nos dá 40, idade da razão ou quando se manifesta
o Fogo de Kundalinf, isto é, quando o discípulo se torna Adepto.
Devemos, porém, notar que as vibrações dos números não chegam para nos
trazer os benefícios ou os malefícios que eles representam. Tudo isso está
subordinado ao carma individual ou coletivo das famílias que residem nas

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casas portadoras de tais números e até às vibrações nessas casas deixadas pelos
antigos moradores.
Existem, ainda, os de grande elevação moral, como o 7 que, ótimo sob o ponto
de vista espiritual, é péssimo para a vida material.
Terminemos este comentário sobre vibrações lembrando o perigo de se ofe-
recer roupas usadas a pessoas cujo caráter e vida não conhecemos. As vibrações
dessas pessoas, cruzando-se com as nossas, mantidas nas peças de roupas
longamente usadas, podem provocar uma repercussão mperfísica semelhante ao
que acontece com os choques à distância por meio de envotamento - feitiço,
magia negra, etc. -, neste caso, porém, inconscientemente, por parte da pessoa a
quem dermos a roupa.
Não é permitido possuir nenhum animal, com exceção, algmnas vezes, do cão,
como símbolo da fidelidade, etc. Os próprios Adeptos, principalmente os que
fazem longas jornadas/ possuem sempre um/ porém/ por eles mesmos escolhido/
de acordo com a sua docilidade/ etc. Proíbe-se igualmente tocar em certas árvores
e plantas. O discípulo deve viver em sua própria atmosfera - o ambiente formado
por seu aura/ algo assim como um /, casulo" que ele mesmo houvesse construído
por suas próprias mãos. E isso/ com o fim de individualizá-Io por meios ocultos ...
9 - O mental deve ser firme ou resistente a todos os impactos, salvo às
verdades universais da natureza, para que a Doutrina do Coração não so-
brepuje a Doutrina do Olho (isto é, para que tudo se não venha a
transformar num ritualismo sem sentido).
Mais uma vez a tradutora para o francês da obra de HPB demonstrou
fragilíssimos conhecimentos de Esoterismo/ porquanto faz ver/ entre parênteses,
que tais palavras representam "um ritualismo vazio de sentido". Vamos provar
que/ ao contrário/ em tão poucas palavras existe um mundo de filosofia.
Quando se diz que a Doutrina do Coração/ não deve suplantar a do Olho/ tem-
se em vista a conhecidíssima exigência, ao menos entre verdadeiros discípulos e
Adeptos/ de que ambas devem viver equilibradas como as duas conchas de nossa
balança espiritual.
De que serve/ por exemplo/ um discípulo de boníssimo coração mas sem os
conhecimentos teosóficos capazes de o conduzir através da excelsa Vereda da
Iniciação? Do mesmo modo, de nada adiantará essa bondade, por maior que
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seja, àqueles que vivem em ânsias de possuir os mesmos conhecimentos. Os ricos
de sabedoria, dotados de grandes conhecimentos, corno conseguirão, por sua vez,
encontrar aquele Caminho se seus corações estão alheios às doutrinas de amor e
da caridade a favor do próximo? A inteligência é uma arma perigosa em mãos
criminosas.
Boníssimo coração possuía a tradutora de HPB. No entanto, seu poder de
raciocínio mostrou-se aqui muito aquém do exigido, impedindo-a de ver "por
baixo da letra que mata" daquelas palavras por ela interpretadas corno "um
ritualismo vazio de sentido" o "espírito que vivifica" que elas encerram e aqui
procuramostraduzrr.
Comprova, ainda, o não ter ela perfeitamente equilibrados os dois pratos da
balança ou as duas doutrinas, o fato de se deixar conduzrr corno uma criança pelo
mental do bispo Leadbeater - a quem outrora expulsara da sociedade que dirigia,
por motivos que não desejamos expor neste livro ... -, o único e verdadeiro
causador da decadência de urna sociedade digna de melhor sorte, pois representa
lágrimas e sacrifícios sem conta daquela heroína e mártir que se chamou Helena
Blavatsky.
Papel ingratíssimo teve esse homem, que era ao mesmo tempo bispo e teósofo,
de estabelecer a confusão em semelhante meio ... corno o prova ter sido convidado
a tornar parte no congresso eucarístico realizado em Sidney e ter, . pressuroso,
aceitado tal convite, quando sabia que a Igreja não tolera a Teosofia.
E tem razão a Igreja para esta intolerância, porquanto teosofia é Saber, é
Verdade, é o Todo e não apenas fração, e é a origem de tudo quanto existe na
Terra. E quem no Todo se embrenha deixa de ser fanático e supersticioso ... Daí
essa intolerância, que se torna muitas vezes agressivamente combativa, princi-
palmente no interior, onde seus prosélitos pertencem àquela mentalidade a que
nos referimos no começo da Introdução, servindo-nos das palavras de um Adepto
ou Mahâtma (18).
De tudo isto é causa o desequilíbrio das duas conchas da nossa balança
esprritual com que nós comparamos, por diversos motivos tirados das sete chaves
cabalísticas, os dois caminhos da Iniciação; comparação que se pode justificar
com o simples estudo do corpo humano, onde vemos os seus dois lados regulados
pela própria respiração, que deve ser perfeita pelas duas narinas - a da esquerda,
ou Idâ, e a da direita, ou Pingalâ, para que, semelhantes aos dois

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pratos de uma balança, se mantenha em equilíbrio o fiel ou Sushumnâ e perrnita
que fluam, através da respiração assim equilibrada, os cinco tattwas ou forças sutis
da natureza. Teremos, assim, equilibrados, por todos estes mistérios, como melhor
explicaremos em nossa futura obra, o sistema neurovegetativo centrat na razão do
vago para o esquerdo ou lunar, e do simpático para o direito ou solar, fato que a
Medicina está longe de conhecer e do quat até hoje, ninguém falou.
A mesma comparação é ainda justificada pelo estudo da mão. Em Quiro-
mancia, o dedo médio pertence a Saturno como deus do tempo ou do destino. É,
portanto, o Caminho do Centro, o fiel da balança, Carma. Os dois dedos que
restam de cada lado, representam as conchas da balança, os dois caminhos laterais,
Jfí.âna e Bhakti, ou Sabedoria e Amor. Para não dizer ainda que os cinco dedos de
cada mão representam os já referidos tattwas ou forças sutis da natureza. E para
que a matemática divina, como sempre, em tudo se manifeste durante toda a 5ª
raça-mãe, que é esta que ainda estamos atravessando, o mundo se comporá apenas
de cinco continentes.
10 - Nenhuma nutrição animat seja ela qual for; nada que possua vida
orgânica deverá ser absorvida pelo discípulo. Outrossim, não deve fazer uso
do ópio, vinho ou álcoot pois todos eles são como os Lhamayins (maus
espíritos) que se prendem aos imprudentes; eles devoram o entendimento.
Lógico compreender que o álcool concorra para que aqueles que dele façam
uso adquiram um mau magnetismo. Para o clarividente tais pessoas não podem
ocultar esse vício tão prejudicial à saúde e à própria evolução do homem. Todos
eles possuem o corpo astral envolvido em uma espécie de teia ou malha cinzenta
com lampejos rubros. E, estudando-se melhor seu ovo áurico, notar-se-á que o
indivíduo se tornou um receptáculo de influências perturbadoras, pois todos eles
se acham, por sua vez, cercados de larvas ou micróbios astrais, quando não de
verdadeiros kâmâ-nlpa. Nesse caso, para não usarmos subterfúgios, o alcoólatra é
um ser prejudicial a si e a quantos dele se aproximam ... E, tendo chegado àquelas
condições, não lhe é possível abandonar o vício.
Quanto à alimentação de que fala a regra acima, motivo é para grandes estudos
que nos reservamos para fazer em nossa próxima obra.
Aqui nos limitaremos a dizer que é erro considerar a alimentação yegetariana
como racional para o homem. Esse erro por parte da maioria dos teosofistas

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- empregamos este termo para designar os simples estudantes de teosofia! e o de
teósofos para os possuidores dos superiores conhecimentos que nem a todos é
dado receber em uma só vida -! vem do fato de não ser preciso! com-a alimentação
vegetariana! sacrificar a vida dos animais. Esquecem-se os teosofistas que a planta
também morre ao ser arrancada do solo onde se acha arraigada ... Às próprias
crianças não permitimos que maltratem as árvores! chegando ao ponto de lhes
dizermos: IINão vedes como dói quando nos arrancam os cabelos? Assim acontece
às plantas! pobres coitadas! quando lhes arrancamos as folhas! Deixemos que estas
apodreçam e o vento se incumba de as levar para longe! pois também nossos
cabelos e nossas unhas caem ou mudam! como caem e mudam as escamas dos
peixes e as penas das avesll•
Os animais herbívoros possuem os intestinos maiores que os carnívoros. E os
nossos! que não se acham nas condições dos primeiros! demonstram que não
podemos! de modo algum! ser exclusivamente vegetarianos(19). O problema da
alimentação é tão complexo como o do sexo. Se tais ou quais indivíduos podem
deste se absterem completamente! já a outros isso é impossível. Nesta questão ou
nesta impossibilidade! influi o temperamento! o qual se acha enquadrado em
diversos fatores! todos eles envolvidos em tendências ou skhandas de outras
encarnações - carma! portanto - que a esta se passaram através da própria
constituição orgânica! fenômeno sobre o qual muito terá que dizer a debatida
questão endocrínica. Razão por que a todo indivíduo! antes de tomar certas
resoluções na vida! deve auto-estudar-se para não ter que se arrepender
tardiamente por ter dado um mau passo na vida.
E a Medicina está bem longe ainda de conhecer profundamente o valor e a
função das glândulas de secreção interna. Por isso é que! quando deseja equilibrar
uma glândula! lança mão do tratamento poliendócrino! isto é! do tratamento de
todas! prejudicando! assim! as que se acham equilibradas ou em perfeito
funcionamento. Existem! porém! os casos visíveis! como sejam! por exemplo! o
do hipertireoidismo - bócio! exoftalmia! tremura das mãos! taquicardia! pressão
arterial elevada! etc. -! cujo tratamento pelo iodo! etc.! senão pela glândula que a
completa no organismo! na razão dos mesmos centros de força ou chakras! produz
resultados satisfatórios. Do mesmo modo o hipotireoidismo! que traz a falta de
dinamismo! o isolamento! mutismo e outros indícios! denota que o indivíduo
necessita justamente do uso da referida glândula.

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o que é certo, porém, é existirem outros tratamentos não conhecidos ainda pela
medicina, por isso ocultos, esotéricos, cuja revelação o próprio carma universal, ou
melhor, a Lei ainda não permite. O que vem provar aquela sábia sentença que diz:
"quanto mais pesado fizeres o mundo, mais o mundo pesará sobre ti". O fato de os
homens possuírem outrora longevidade advinha de não fazerem uso de semelhante
tratamento, positivamente condenado pela Lei. Daí, Roso de Luna e outros o
denominarem de magia cinzenta, por ser empregado pela Medicina para o bem,
devido a ignorar o mal que do mesmo resulta para a evolução humana, sendo que o
pior de todos eles é o sistema Voronoff, por se utilizar do enxerto de um animal (o
símio) que, ao contrário do que se supõe através da teoria de Darwin, descende ele
do homem e não inversamente. Trata-se da reprodução entre os últimos
degenerados da 3ª raça, a lemuriana, e um animal semelhante à nossa lontra, de
pelos bronzeados, quadris elevados ou acima do resto do corpo, tendo um pequeno
rabo em forma de larga franja. Essa desproporção entre os quadris e o resto do
corpo concorria para que o referido animal, ao caminhar, imprimisse certos
movimentos ou requebros aos quadris e aos órgãos sexuais, que despertaram os
baixos instintos daqueles degenerados, levando-os a um cruzamento ilegal,
digamos assim, por estar fora da Lei.
A reprodução resultante do cruzamento entre os homens-animais das primeiras
raças, recém-saídos do reino anterior e tendo deste ainda os vestígios internos e
externos, com animais propriamente ditos, não é hoje possível devido à própria
evolução que, dando ao homem um aspecto ou organização diferentes ou
destruindo-lhe aqueles vestígios que o confundiam com os animais, tornou hoje
infrutíferos semelhantes cruzamentos, considerados, por isso, aberrações sexuais.
Se de tal cruzamento fosse possível uma reprodução, ela constituiria uma espécie
de animais que se viria juntar à que saiu dos degenerados lemurianos - que a
ciência pode identificar com os seus homens da caverna ou trogloditas -, com
animais que, no seu reino e naquelas remotas idades, bem poderiam passar por"
superiores".
O estudante de Ocultismo nunca deve tomar ao pé da letra o que julgar bom e
perfeito sem o controle de um outro mais experimentado: guru, mestre .. instrutor, o
nome que lhe quiserem dar, mas nunca um homem 'iulgar, mesmo que portador de
títulos científicos e honoríficos. Quem dá valor aos homens é a Lei e não os demais
homens, pelo fato de saberem mais do que este ou aquele,

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principalmente se esse valor lhe vem de conhecimentos sobre assuntos que a
própria ciência é a primeira a reconhecer como ainda não integralmente revelados,
ou antes, por ela ainda não estudados. Não queremos, com isso, desmerecer os
valores dos sábios que representam, quase sempre, a síntese de uma época ou
ciclo, para o qual estão como um manu racial ou sub-racial está para a raça ou
sub-raça; e um Budha de Compaixão, para um ciclo maior, dentro da própria "lei
da relatividade"; e, por isso, evitam que a humanidade fracasse, mantendo viva e
em atividade a lei dessa mesma evolução a cargo dos excelsos membros da
Grande Fraternidade Branca. Donde o serem chamados Adeptos da Boa Lei, isto
é, a que mantém na Terra, a começar pela escolha de discípulos para que se façam
iguais a Eles e, finalmente, se venha a constituir uma humanidade de Adeptos ou
Homens perfeitos, de acordo com a mesma Lei da Evolução. E é a essa época
futura que as escrituras orientais denominam de Satya-Yuga, Idade de Ouro,
Eterna Primavera, etc., sonhada por Platão e outros filósofos.
Essa mesma idade já teve lugar na Atlântida quando, de acordo com seu
próprio nome, Satya-Yuga, Idade de Ouro ou Eterna Primavera, havendo, por-
tanto, uma só estação, os homens possuíam um só temperamento. Por isso eram
puramente frugívoros. Com a catástrofe atlante, que fez com que a Terra se
desviasse 23° de seu eixo primitivo, os homens passaram a ter quatro tempera-
mentos diferentes: linfático, bilioso, nervoso e sangüíneo, sendo que, em alguns
casos, o temperamento chega a ser complexo, como, por exemplo, no bilioso, no
próprio sangüíneo também se apresenta o nervoso. Daí a dificuldade na Medicina
no que diz respeito à terapêutica: enquanto a certos homens um medicamento pode
fazer bem, a outros, ao contrário, pode levá-Ios até a morte. Donde o velho axioma
"há doentes e não doenças". Não se fale no que diz respeito às doenças crônicas,
que as próprias epidemias atingem, de preferência, como na gripe, por exemplo, o
coração, o fígado, o baço, etc., o que em verdade precisa conhecer o médico para
tratar não só o mal reinante de que foi atingido o seu doente e mais a sua própria
doença.
Em nosso Colégio Iniciático, que é a Sociedade Teosófica Brasileira, se ensina
aos discípulos mais adiantados, por exemplo, como deve agir em relação com a
própria natureza: alimentação, sono, posição da cama, coisas que devem ou não
usar, etc., e até cOmo saber se uma pessoa vai ou não morrer, mesmo sem possuir
clarividência, mas apenas pela ciência dos tattwas ou forças sutis da natureza.

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Ademais, além de o homem não ter os intestinos do comprimento dos dos
animais herbívoros, para ser vegetariano, sua constituição na época atual não é
igual à dos tempos atlantes, como não o será futuramente em outras idades ... E
com isso, a um linfático, por exemplo, não se deve aconselhar a abstenção da carne,
como a um pletórico - sangüíneo, etc. - se não deve dizer que faça uso da mesma.
Quanto ao regime lácteo, deve ser condenado in-limine, à parte opiniões
contrárias. O leite materno, na mulher, é para seu filho como o da vaca e outros
animais é para o seu ou para os seus, sendo, portanto, natural que nem o homem
nem o animal façam uso do leite que os alimentou no primeiro período da vida e,
muito menos, na razão inversa. O caso de uma criança, por falhar o leite materno,
ter que usar o do animal e alguns animais terem sido salvos com o de mulher,
representa exceção à regra, mesmo assim, no período apropriado.
Todo indivíduo que sofre do fígado, de uma colite, etc., não se dá bem com
semelhante regime; como se não dá com o vegetariano, por ser de difícil digestão.
Só quando chegar aquela época a que nos referimos acima - a Satya-Yuga ou
Idade de Ouro - é que todos os temperamentos serão iguais, isto é, um só. Época,
portanto, em que tudo e todos se modificarão, desde que a evolução humana corre
com a do próprio globo terrestre. Que a deste se não acha de todo atingida, nem ele
completamente formado, temos uma prova nos próprios movimentos sísmicos,
perfeitamente comparáveis a doenças internas que se revelam na pele ou periferia.
E que admira isso, se o próprio Sol as tem, como o demonstram as já conhecidas
teorias das manchas solares influindo poderosamente na saúde dos habitantes do
nosso globo? Os movimentos sísmicos são, pois, como as doenças internas da Terra
que, aflorando à pele ou crosta, a transformam, tornando-a cada vez mais
apropriada à existência humana. Daí a diversidade que se nota nos tipos raciais,
onde um esquimó é tão diferente de um europeu e este de um habitante das zonas
tropicais. E isto constitui um fator para a diferenciação do alimento entre os povos
de zonas de tão diferentes climas. A que convém a um filho dos trópicos é
imprópria a um esquimó, que deve ser positivamente carnívora, indo buscar na
matéria gordurosa ou oleaginosa das focas, das baleias ou
. dos ursos polares as calorias de que seu organismo precisa para resistir às baixas
temperaturas de regiões tão próximas aos pólos.
Assinalemos, ainda, que a vida das cidades intoxica o homem, fato já bem

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conhecido de todos. Aquele que vive no campo tem mais probabilidade de
prolongar a existência do que o que vive na cidade. Aconselhável é, portanto, que
este procure, ao menos uma vez por ano, um repouso longe das cidades, entre as
árvores e as montanhas. É seguindo este preceito que tanto se vulgarizou,
principalmente na Europa e na América, o hábito de se passar os domingos longe
da cidade, procurando recuperar forças perdidas durante uma semana de lutas
tremendas, na conquista da própria subsistência e na de quantos se acham sob sua
guarda e proteção, ou seja, a famI1ia.
Entretanto, erram aqueles que transformam esses salutares passeios em pi-
queniques ou convescotes durante os quais reproduzem a mesma vida atribulada
e doentia das cidades, os" comes-e-bebes" e outras coisas mais que não fica bem
apontar aqui, que totalmente lhe roubam os benefícios que pretendiam adquirir.
"Nem tanto nem tão pouco", ensina o velho provérbio.
Entre os vários fatores escolhidos ou inventados pelo progresso para a
destruição do homem, nenhum tão eficaz como o asfalto e o cimento. As pessoas
obrigadas pela profissão a marchas repetidas pelas ruas pavimentadas de asfalto
dentro em pouco se acham inutilizadas. As moléstias inerentes ao caso são, antes
de tudo, o câncer. A Rússia só agora descobriu tal coisa, quando nós a
apontáramos há muitos anos. Sem falar no cloro na água, provocando a
poliomielite (paralisia infantil), que até agora ninguém deu crédito. às nossas
palavras, outrossim, as hemorróidas - quem já as tiver verá seus sofrimentos
agravados imediatamente, principalmente no verão -, erisipela e,
consequentemente, algumas do aparelho circulatório. Para não falar na insolação,
nessa época do ano, principalmente ao passar a pessoa do sol para a sombra. A
verdadeira maneira de purificar a água é pela ozonificação, embora o elevado
preço do aparelho que a produz, razão por que a água da chuva é melhor do que
outra qualquer.
Dos mesmos males se ressentirão os que habitam as residências situadas em
ruas do mesmo calçamento, como já o são quase todas as ruas da cidade, especi-
almente se a moradia for de cimento armado. Como se sabe, tanto o cimento
como o ferro são condutores de calor e umidade. Tratando-se de uma cidade
como a nossa, cujo clima é exatamente quente e úmido, podemos avaliar a que
perigos estão sujeitos seus habitantes, desde que em tempo não se cogitou de
corrigir semelhantes inconvenientes, tão prejudiciais à saúde de nosso povo.

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Juntem-se a isso os ciclópicos e inestéticos arranha-céus, elevados por toda
parte sob pretexto de resolver o problema do espaço e que - só por ter o progresso
lhes dado uma feição pseudonobre, principalmente no interior - diferem das
monumentais construções da ilha da Páscoa, Palenque e outras mais, existentes
em certas regiões do mundo, como indício seguro de terem sido habitadas pelos
seres da}l raça-mãe, a lemuriana. Essas habitações coletivas, substituindo as
residências particulares e isoladas, vieram concorrer para nossa desgraça moral e
física.
Desgraça moral ou psíquica, sim, pois outro nome se não pode dar às vibra-
ções com que ininterruptamente somos chicoteados, vindas dos ruídos dos ele-
vadores, quando funcionam, está claro!; da bomba d'água, quando há água, já se
vê; dos aparelhos de rádio, através dos quais se digladiam as estações
irradiadoras, consoante o gosto de cada morador; das discussões sobre futebol,
corridas de cavalos e sobre outras mais íntimas, travadas de família para família e
mil vezes mais prejudiciais ainda. Tudo isso concorre horrivelmente para abalar
os nervos ... e dá razão de ser aos repetidos crimes e suicídios que ultimamente
vêm tendo lugar em tão condenáveis habitações. Junte-se, também, a tudo quanto
se vê e ouve, aquilo que não se sabe, não se vê nem se ouve, e que é a maioria, ou
seja, as vibrações psíquicas, formando um ambiente que nós, com a autoridade
que nos dá o fato de sermos videntes congênitos, consideramos tão más e
perniciosas como as dos cemitérios, necrotérios, matadouros de gado, etc., a que
já nos referimos, embora cada uma delas tenha o seu modo ou poder de atração.
Desgraças físicas também, pois que às moléstias provocadas pelo asfalto
juntam-se os constantes e infalíveis resfriados e reumatismos derivados do
material empregado nessas construções e da disposição dos seus cômodos,
sujeitos às mais desencontradas correntes de ar.
As crianças pertencentes às famílias residentes nos arranha-céus são sempre
pálidas, nervosas, tristonhas, bem diferentes das que recebem os vivificantes raios
do sol, pois que, sem prâna ninguém nem ser algum existente na Terra pode
manter em equilíbrio perfeito o seu organismo.
São inúmeros os cientistas que condenam in limine os arranha-céus, princi-
palmente se construídos como no Brasil. Há bem pouco, famoso construtor
francês, de passagem por nossa capital, apontando o teto do apartamento da

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fanu1ia que fora visitar, proferiu em tom sentencioso: "eis aí o maior perigo da
vida atual do homem!"
E que o arranha-céu não passa de uma atração perigosa para os que se deixam
levar por adornos e enganosas considerações de que diminui o esforço despendido
numa casa particular, respondem por nós as consecutivas mudanças de uma
apartamento para outro e mesmo deste andar para aquele e da procura de casas
isoladas por parte daqueles que experimentaram os "encantos" do arranha-céu ...
Para terminar, repetimos aqui as palavras do sr. Henry H. Curran, ex-presidente do
Conselho Municipal de Manhattan, declarando, há já dez anos, "que o arranha-céu,
que era uma novidade, é hoje uma calamidade que deve desaparecer". Nosso
conselho, pois: fugi dos arranha-céus em vossa própria defesa e na dos vossos
filhos antes que seja tarde.
11- A meditação, a abstinência em todas as coisas - como, por
exemplo, "não poder passar sem esta ou aquela coisa" -, a sinceridade,
pois no Ocidente a mentira é um esporte, se de fato o discípulo quer
progredir no Verdadeiro Caminho da Iniciação; a observância dos
deveres morais, os bons pensamentos; as boas ações e boas palavras,
assim como a benevolência para com todos e o completo esquecimento
de si mesmo, tais são os processos mais eficazes para se adquirir o
conhecimento e se preparar para receber uma sabedoria mais elevada.
Já dissemos que se não deve tomar ao pé da letra o que indicam tais regras,
especialmente no Ocidente, onde o meio, o clima e outros fatores diferem, por
completo, da vida no Oriente. E assim, "abstinência em todas as coisas", como
exige a regra acima, pode ocasionar gravíssimos prejuízos ao discípulo, ao invés de
progresso e, por que não dizer? enfraquecer-lhe o heroísmo de que necessita para
prosseguir a marcha triunfal através da Vereda da Iniciação.
Igualmente no que diz respeito ao "completo esquecimento de si mesmo".
Se é em um corpo físico que a Mônada evolui, como devemos esquecer, por
completo, esse mesmo corpo? Muitos fanáticos chegariam ao extremo de se
esquecerem até dos mais comezinhos princípios de higiene, a começar pelo banho,
a limpeza da boca e tudo quanto faz parte dessa defesa natural exigida a todas as
criaturas humanas, além da obrigação que todos têm de se apresentar diante de seus
semelhantes respeitável e dignamente ... Pois se os próprios animais, que também
são criaturas ... procuram, a seu modo, expurgar de si as imundícies que os
cobrem ...

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Por tudo isso se recomendam as três principais yogas: Hatta- Y aga ou ciência do
bem-estar físico; Gnâna-Yaga, em 2º lugar e não 3º, como quer a maioria, dedicada à
alma, mundo astral ou Jina, como o próprio termo, gnâna, jnâna, jim ou jina indica; e,
finalmente, Râja- Y aga, destinada à união do mundo mental inferior com o superior. O
próprio termo râja quer dizer real. E nenhuma outra realeza! ou mesmo realidade existe
na evolução humana além dessa união llÚstica ou eucarística que tanto vale por
superação.
E assim temos: físico! alma e espírito, na razão dos três corpos de que o homem se
compõe. Sem o que não ,! seria feito à semelhança de Deus"! como Uno e Trino.
Ademais! é princípio básico de higiene e já bastante conhecido de todos:
Mens sana in carpare sano.
É ainda pela mesma razão que A Voz do Silêncio nos fala nos três mundos ou
veshbulos:
"O nome do primeiro vestíbulo é ignorância - A vidyâ, o que tanto vale por
mundo físico, ou onde a mesma ignorância prevalece. É o vestíbuloportal, etc.
- em que viste a luz e no qual morrerás - mundo fenomenal e da consciência
terrestre apenas.
O nome do segundo é instrução - probatória ou mundo astral, de tantos
enganos, inclusive para os "espíritas" e aqueles que, não possuindo vidência!
tomam verdadeiros magos negros como mestres! pois aí se revestiu de
enganadoras formas que iludem os mais perspicazes ...
Nele encontrará tua alma as flores da vida - o que a pessoa plantou ou
semeou na vida física - mas olha que! debaixo de cada flor uma serpente se
acha enrosca da - a serpente do Mal! o dragão do Umbral, de que fala Bulwer
Lytton! no seu iniciático romance Zanoní.
O nome do terceiro vestíbulo é Sabedoria - por isso se não pode ficar no
astral, como querem os espíritas! pois o astral é uma ponte que liga o mundo
físico ao mental -! a fonte inesgotável de Onisciência, ou seja! a região da
plena consciência espiritual- ouçam bem os nossos irmãos espíritas - além da
qual nenhum perigo mais existe para aquele que alcançou tal ponto".
Citemos! finalmente! a última das regras que HPB trasladou para o livro que estamos
comentando:
12 - Não é senão observando estTitamente as regras precedentes que o

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discípulo pode adquirir, com o tempo, os Siddhis - poderes - dos Arhats e
atingir a grandeza que, pouco a pouco, o tornará Um com o Todo Universal.
Estas 12 citações foram tomadas entre 73 regras - 78, dizemos nós -, cuja
enumeração seria inútil por não possuírem sentido para o Ocidente. Esses
poucos fragmentos bastam, porém, para se compreender quão enormes são as
dificuldades com que o Caminho se apresenta - por isso chamado A estreita
Vereda, a Espinhosa Vereda e, pelo Budismo, o Caminho das Pâramitâs ou
das Virtudes, que são: Dâna, a caridade; Schita, a pureza; Kshânti, a
paciência; Viryâ, a energia; Dhyâna, a contemplação e Prajfí.â, a Sabedoria -,
quão grandes são as dificuldades, dizíamos, para o upasaka ou discípulo
nascido nos países ocidentais.
Toda educação ocidental tem por base o princípio da luta e da compe-
tência - donde a rivalidade. Cada criança é forçada a aprender o mais rapi-
damente possível, a fim de ultrapassar, por todos os modos, seus compa-
nheiros de classe. O que erradamente se pode chamar de concorrência
amistosa é assiduamente cultivado, mantendo-se esse mesmo espírito for-
tificado e vivo em todos os detalhes de manifestações da vida - haja vista, por
exemplo, o futebol, onde rara é a partida que não termine em lutas,
ferimentos, etc., mesmo entre aqueles que se consideravam amigos e, como
tais, cordialmente se apertavam as mãos antes do início da luta. A causa disto
vem justamente desse princípio de concorrência já apontado, que acaba por
explodir em forma de ódio, de agressão, etc.
Com semelhantes idéias incutidas no homem desde a infância, como
poderia um ocidental manter-se, perante os seus condiscípulos, "como os
dedos de uma mão"? Além disso, esses discípulos não são escolhidos entre si,
de acordo com a estima e simpatia despertada por eles próprios. A escolha é
feita pelo Instrutor levado por outras razões e quem deseja ser, de fato,
estudante de Ocultismo deve, desde logo, banir do coração todo sentimento
de aversão ou antipatia.
Quantos ocidentais se poderiam encontrar em condições de tentar ao menos uma
experiência neste sentido?
E que dizer dos menores detalhes da vida cotidiana, inclusive aquela exigência de
não tocar nem ser tocado, nem mesmo pelos seus mais próximos parentes e mais
íntimos amigos?
No Ocidente, comentamos nós, o discípulo deve evitar, quanto possível, transgredir
essas regras, mas, entre dever e poder, existe muita diferença. Não

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poderá, por isso, negar um aperto de mão, um abraço, etc., a um parente ou amigo e
muito menos recusar-se a aceitar essa prova de afeto dos parentes e mesmo de
pessoas de certa posição social que, deste modo, o querem distinguir. Seu exemplo,
porém, e de quantos o queiram seguir, será, mais cedo ou mais tarde, fatalmente
imitado, quando os demais forem aos poucos compreendendo os motivos, mais do
que razoáveis, de semelhante atitude. Eles irão vendo que, pondo mesmo de lado as
razões esotéricas, bastam as exotéricas para seguir tal exemplo, entre as quais está a
da higiene que, pelo fato de se desejar sua manutenção, muito ao contrário de
despertar suscetibilidade, só pode provocar aplausos.
Continua HPB:

Quanto todas estas exigências se afastam das noções ocidentais, em


matéria de amizade e boas relações! Quanto tudo isso parece frio e rígido!
Egoísta, ainda, poderão muitos dizer, essa abstenção em ser agradável a
outros por amor do seu próprio desenvolvimento - exemplo, como disse-
mos acima, a ser imitado e não criticado ou condenado, principalmente
por quem desconhece as causas dessa aparente frieza. Os que assim pen-
sam, transfiram para outra existência a grande felicidade de palmilhar o
verdadeiro caminho da iniciação, mas que não se orgulhem da sua preten-
dida falta de egoísmo, porquanto agem, de fato, sob falsas aparências, com
as quais se deixam enganar; obedecem a noções convencionais em matéria
emotiva e sentimentalista ou a uma pseudocortesia, coisas da vida real e
jamais inspirações da verdade.
Mas, pondo mesmo de parte essas dificuldades que podem ser classifi-
cadas de externas, o que de modo algum lhes diminui a importância, como
procederiam os estudantes do Ocidente para se "afinarem pelo mesmo
diapasão", desde que tal coisa lhes fosse exigi da? (20).
Tão forte se tornou a personalidade na Europa e na América que não há
escola, mesmo de artistas, cujos membros se não odeiem ou entre si não
tenham ciúmes. O ódio e o ciúme - os dois andam sempre de mãos dadas -
entre oficiais do mesmo ofício tornaram-se proverbiais. Cada qual procura
a todo custo suas próprias vantagens, galgar elevados degraus - pouco lhes
importando que os demais, muitas vezes "amigos seus", vão ficando para
trás em posições de menor destaque. E isto nos prova que todas aquelas
gentilezas, tão apregoadas na vida, não passam de inexpressivas máscaras
com que se cobrem os demônios do ódio e da inveja.

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No Oriente, o espírito de não-separatividade é tão fortemente incutido
desde a infância como o da rivalidade o é no Ocidente. Ali, a ambição pes-
soal, os desejos e sentimentos pessoais não são fomentados até ao ponto de se
tornarem absorventes. Logo que o terreno é naturalmente bom, é cultivado no
sentido desejado e a criança torna-se um homem em que o hábito de
subordinar o eu-inferior ao Eu-Superior é forte e poderoso. No Ocidente,
entretanto, as pessoas julgam que suas próprias simpatias e antipatias por
coisas e pessoas são princípios, diretrizes ou normas com que devem regular
seu modo de agir, mesmo que disso não façam lei para a sua vida, nem
procurem submetê-Ia aos outros.
E termina o primeiro capítulo da sua obra aconselhando aos da sua sociedade para
meditarem sobre as palavras de um artigo de Path:
"A chave de cada degrau é o próprio aspirante. Não é o temor a Deus que
representa o começo da Sabedoria, mas o conhecimento do eu, que é a
mesma Sabedoria".
Dedicamos esta anotação à transcrição de diversas estrofes do Bhagavad-Gitâ que
completam as regras citadas por HPB e, portanto, maiores luzes poderão trazer ao nosso
leitor, desde que se trate de um sedento de Luz:
"Os homens puros adoram os deuses; os passionais, os Yak-shas - gênios
da natureza; os demais, o vulgo ignorante, as fadas e duendes - embora
existam para nos servir e não para que sejamos seus servos. Isso, porém,
quando soubermos dominar a Natureza, para que esta, por sua vez, escrava e
submissa, obedeça às nossas ordens.
Os homens que praticam rigorosa austeridade, não ordenada pelas es-
crituras - os místicos devocionais, quase sempre eróticos, desequilibrados,
etc., para não dizer logo, fanáticos e supersticiosos, pois que lhes faltam
aqueles "lampejos de gênio" a que se referia um dos Kút-Humpas - e, no
entanto, continuam possuídos de egoísmo e vaidade - outros gênios
malfazejos que interdizem a humana evolução -, deixam-se impulsionar pela
violência de seus passionais desejos. E, atormentando, incessantemente, o
conjunto dos elementos constitutivos de seus corpos e também a Mim que em
seu interior resido - o Eu, a Consciência Imortal, o Cristo ou o Deus em cada
homem -, dão provas de possuir obsessão demoníaca.
De três espécies são os alimentos gratos aos homens, como três, os sacri-
fícios, as austeridades e as dádivas. Ouve as suas distinções:

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Os alimentos que aumentam a vitalidade, a energia, o vigor, a saúde, o gozo
e o bem-estar, os oleaginosos, apreciáveis, nutritivos e agradáveis, são os
preferidos pelos homens puros.
Aos passionais apetecem, quase sempre, os alimentos amargos, ácidos,
salgados, quentes, secos e ardentes, os quais ocasionam moléstias, dores ou
sofrimentos que acabam por causar a morte - antecedida pelo artritismo.
Os homens tenebrosos preferem os alimentos rançosos, avariados - com
vistas aos amantes do faísandê, do Camemberg, Rocquefort e outras coisas mais
-, insossos, podres, corrompidos, quando não, as sobras de alimentos e iguais
imundícies - a tanto não vai o mais miserável dos ocidentais, a não ser tratando-
se de um degenerado psíquico e fisiológico. Esses fatos só acontecem onde
impera a fome, como, por exemplo, em alguns lugares do Oriente. Na China,
no Tibete, etc., já tem havido casos de famintos chegarem a devorar cadáveres
putrefactos, quando não se matam uns aos outros, por não encontrarem coisa
que lhes sirva de alimento.
Puro é o sacrifício oferecido pelos homens, sem visarem recompensa
alguma. E principalmente quando, de acordo com o aconselhado nas Escrituras,
se acham firmemente convencidos de que, ao oferecerem o sacrifício, não
fazem mais do que um dever.
Passional, ó príncipe dos Bhâratas! - Krishna dirigindo-se a Arjuna, na razão
do Eu-Superior aconselhando o eu-inferior - é o sacrifício oferecido visando
resultados pessoais - fruto de um esforço obrigatório - ou por simples
ostentação.
É sacrifício tenebroso o oferecido contrariamente à Lei por homens faltos de
fé, sem distribuir alimentos nem entoar cânticos, nem fazer dádivas aos
sacerdotes - os da época de Krishna, ou seja, os verdadeiros, especialmente no
sentido de ermitão, anacoreta, etc., e nunca os de hoje que vivem vida faustosa
à custa da crendice pública ...
A reverência tributada aos deuses, aos sacerdotes, aos mestres e aos sábios;
a pureza, retidão, continência e mansidão concorrem para a austeridade do
corpo.
A conversação honesta, amena, verídica e instrutiva, além do habitual
estudo das escrituras, concorrem para a austeridade das palavras.
A agudeza mental, a igualdade, o silêncio concorrem para a austeridade da
mente.
Pura é essa tríplice austeridade se, com excelente fé, a praticam os ho-
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mens harmonizados, sem visarem esperanças nem recompensas.
É passional, variável e transitória a austeridade que se leva a cabo por
simples ostentação, com o propósito de atrair estima, honra e respeito.
Tenebrosa, ainda, a austeridade dimanante de preconceitos e praticada com
torturas corporais ou com intenção de prejudicar a outrem.
Puras, também, as esmolas feitas a verdadeiros necessitados - sim, porque
aos falsos só servem para lhes aumentar os vícios -, com generoso desin-
teresse, sem oportunidade de lugar e de tempo e sem outro objetivo que o do
cumprimento do dever - "Dai com a direita o que a esquerda não veja".
Passionais, as esmolas feitas a contragosto, com a esperança de que as
mesmas se multipliquem ou tragam outras recompensas."
HPB sintetiza todas as regras ou códigos, nas seguintes palavras:
" Vida casta, mente livre e sem preconceitos, coração puro, intelecto se-
quioso de conhecimentos, percepção espiritual lúcida, fraternal carinho para
com toda a humanidade, boa disposição para receber e transmitir conselhos e
instruções, boa resignação e ânimo no sofrimento das injustiças pessoais que
nos possam afetar, firmeza inabalável de princípios, valorosa defesa dos
injustamente atacados, devoção perseverante para com o ideal do progresso e
perfeição da humanidade que a Ciência Sagrada descreve: tais são os degraus
de oiro pelos quais o principiante pode alcançar o Templo da Sabedoria
Divina."
Ouçamos, finalmente, o que diz o diário de um Adepto a respeito da linguagem
oculta, como poder de comunicação divina:
"O ignorante diz: Eu sei. O discípulo: Assim o aprendi. O mestre: Assim
diz a Lei."
A - Os dons que acompanham o conhecimento e o poder. Este é o princípio
essencial do ensinamento esotérico. "Pede e receberás". Tal coisa exige:
10) Que a mente se liberte de toda e qualquer autoridade: o aspirante
responde às suas próprias perguntas;
20) Utilização consciente dos processos mentais: "O Adepto é a
florescência de uma geração de gênios."
B - O poder de responder às perguntas:
l0) De si mesmo;
20) Do mestre;

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3º) De seus semelhantes.
Quando se torna possível a linguagem correta?
1 º) Quando o discípulo aprender a silenciar - no Egito era prova exigida no
primeiro ano; no Ocidente, quão difícil seria tal coisa! Quanto se perde em
Siddhis só em falar!
2º) Quando perdeu a mania de se lastimar. "Antes que a voz possa falar na
Presença do mestre deve o discípulo ter perdido semelhante poder" - o de se
lastimar. Tal defeito está baseado:
a)no instinto da própria defesa;
b)na crítica e condenação;
c)na crueldade;
d)no amor próprio;
e)na precipitação;
f) na falta de verdade.
3º) Quando as palavras não possuem efeitos cármicos
4º) Quando nenhuma voz discordante pode alcançar o mestre.
5º) Quando canta o Canto da Vida.
6º) Quando não se queixa.
Em que se baseia a linguagem correta?
1º) Em ouvir a Voz do Silêncio - da Consciência, do Eu-Interno. "Dá-se o
ouvido ao que aprende, para que saiba como falar".
2º) Na meditação. "Por meio da meditação corrigimos os erros do mau
canto".

3º) Na verdade ou de conformidade com a realidade.


Quem ouve os nossos sons ou a voz que emitimos?
1 º) A linguagem dos homens, na Terra, não pode alcançar os Deuses. A
Magia consiste em se dirigir a eles através da sua linguagem (Patanjali, III,17).
2º) O grande Ser predominante no raio do conhecimento em que o homem
penetrou.
3º) Os mestres.
4º) Nossa própria mônada.

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5º) A humanidade.
"A primeira tarefa da alma que fala é fazer saber aos homens que falou".

ALGUMAS NOTAS SOBRE A VOZ


1 - "O Alento, Voz, Eu ou Verbo é a síntese dos sete sentidos" (Doutrina
Secreta),
2 - A Voz que o aspirante procura ouvir:
a)a Voz do Silêncio;
b)Voz que fala das nuvens - ou a Voz arcangélica de seu próprio raio ...
c) a tênue e queda Voz.
3 - Terá que desenvolver o sentido do ouvido - com vistas ao centro de
força laríngeo, em sânscrito, Vishuda ...
a)o ouvido é o primeiro sentido oculto que se desenvolve;
b)corresponde à primeira atividade Divina: "Deus Filho";
c) precede à visão. "Eu ouvi de Ti, pelo sentido do ouvido; porém, agora
meus olhos Te vêem" (Job). "Se tu não ouves, não podes ver" ...
4 - Se as vozes não se aquietam, a Voz não pode ser ouvida.
a)as vozes do mundo que nos cerca. Os sons do plano físico;
b)as vozes dos nossos desejos;
c) as vozes dos outros homens - "Dizem ... Que dizem? Deixa que digam".
5 - A voz da opinião e da Doutrina na esfera da religião ou da filosofia.
6 - A voz dos nossos próprios pensamentos.
Por conseguinte:
A linguagem se converteu em Som. As palavras têm que se transformar na
Palavra. O destino é dirigido pela Voz celestial do protótipo invisível, expresso no
Tetragrammaton sagrado - ou, melhor, na mão de quem Ele se acha ... e que HPB
preferiu designar por uma reticência, por não lhe ser permitido repetir seu Nome.
Porém, de preferência, em relação com o que "Não fala" e que, por isso, podemos
chamar de Vigilante Silencioso ou por nosso íntimo homem astral.

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Todos estes conselhos servem de tema de meditação para quem, de fato, deseja progredir na espinhosa
Vereda da Iniciação. Com outro fito não foram eles apontados aqui...
Quão grande e verdadeiro aparece, então, ao estudante de Ocultismo que começa a compreender
algumas das verdades precedentes, a resposta do oráculo de Delfos a quantos procuravam a Sabedoria
Oculta; palavras tantas vezes e tão insistentemente repetidas pelo sábio Sócrates:
Homem, conhece-te a ti mesmo.

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Capítulo 2

o OCULTISMO COMPARADO ÀS ARTES OCULTAS


Tenho ouvido dizer, embora sem acreditar, que certas pessoas podiam, por meio de
poderosos sortilégios mágicos, fazer curvar aos seus complexos destinos as leis da Natureza
(21). - Milton

Algumas cartas, provocadas pelo artigo precedente (22), testemunham a profunda impressão causada
em certos espíritos pelo ocultismo prático. Tais cartas concorrem grandemente para demonstrar e reforçar
as duas seguintes conclusões:
a) Que existem mais homens cultos e distintos acreditando na existência do Ocultismo e da Magia -
duas coisas completamente diferentes uma. da outra do que possa julgar o materialista contemporâneo; e
b) Que a maioria dos crentes - inc1usin muitos teósofo5. melhor dito. teosofistas - não possui uma
idéia perfeita sobre Ocultismo .. confundindo-o com Ciências Ocultas em geral, compreendendo a magia
negra.
Suas maneiras de interpretar os poderes que o Ocultismo confere e os processos a empregar para os
adquirir são tão diversos como fantasiosos. Alguns, para se considerarem um Zanoni, julgam suficiente
que um mestre da Arte lhes mostre o caminho. Outros julgam apenas necessário atravessar o canal de
Suez e ir até a Índia para se transformarem num Rogério Bacon, num Cagliostro ou num autêntico São
Germano... A maioria, tomando por modelo Margrave, na sua eterna juventude, esquece ter sido a alma o
preço que lhe foi imposto por esse privilégio de incessante renovação... Outros, confundindo Ocultismo
com feitiçaria, pura e simples, querem fazer "surgir das trevas do Stix, através
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da terra que se abre, os pálidos fantasmas da região da Luz". E diante de tão
assombroso feito, logo se consideram um Adepto dos mais elevados...
Leva-os essa convicção a retirar de si o rótulo de magos negros para o atirarem
sobre aqueles que desejam, a viva força, arrancá-los do caireI do abismo onde estão
prestes a submergir.

Nicolau Paganini, tido como


"o violinista do Diabo". As
lendas afirmam que ele trazia no
seu violino, como cordas,
as tripas de seu mestre. Falso.
A verdade é que Paganini
era a personificação
de um jina ou agartino.
Sua vida, mais complicada do
que se possa imaginar - pois
levou toda ela, como Sócrates, .
"vivendo para morrer", ou antes,
"aprendendo a morrer"... ―
dá-nos o direito de escrever,
se vida tivermos até lá,
uma obra com o título
A Reabilitação de Paganini(*)

Basta dizer que certa vez, na hora do seu concerto, foi que lhe lembraram que seu
violino estava empenhado, e a toda pressa um amigo deu o dinheiro para o artista
resgatá-lo. E isso o havia feito para salvar um amigo pobre em hora aflitiva ...
De outra vez, o mesmo fato se deu com a sua casaca, que estava em precário
estado e fazia rir, muitas vezes, as platéias que o ouviam pela primeira vez. Mas,
quando o grande violinista olhaya a assistência de frente, empunhava o arco e o
brandia para a frente, como se fora uma bagueta mágica, repuxando-a

(*)
Tal obra não chegou a ser escrita. (N. da E.)

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Em novamente para si, e começava os primeiros acordes, a assistência ficava atônita,
nosso quase sem respirar ... ninguém retirava os olhos do mágico severo e ...
Ocidente incompreendido. Justamente por essa e outras maneiras de se conduzir na vida,
altamente inclusive desaparecer bruscamente para aparecer tempos depois, que o com-
paravam ao Diabo.
Eis a verdade, inédita: era um exílio mágico, digamos assim, nas ruínas de
certo castelo oculto na floresta. Por que não dizer, metido num caixão mortuário,
que ele desejava fosse o seu quando chegada a sua hora ...
Paganini nasceu a 18 de fevereiro de 1784 - soma XX, o Julgamento, segundo
a interpretação cabalística do Taro Seu aperfeiçoamento foi feito sob a direção do
famoso violinista Alexandre Rolla de Palma.
A magia cerimonial segundo as regras apontadas por mero gracejo de Eliphas
Levi - já dissemos que acabou vendendo frutas pelas ruas ... -, é ainda um alter-
ego imaginário da filosofia dos Arhats - Adeptos do 4" grau budhista - da
antigüidade. Em uma palavra, os prismas através dos quais o Ocultismo aparece
são tão variados, tão diversamente coloridos quanto o possa conceber a
imaginação humana.
É possível que a indignação e o desespero desses candidatos ao Poder e à
Sabedoria sejam enormes no momento em que, com toda a franqueza, se lhes
revela a verdade ... Mas, em nossos dias, é não somente útil como necessário
desiludir a maioria, antes que seja tarde. E semelhante verdade pode ser dita em
poucas palavras: entre centenas de pseudo-ocultistas, no Ocidente, não há nem
meia dúzia que possua sequer uma idéia aproximada da ciência de que procuram
se tomar mestres. Com raríssimas exceções, encontram-se todos no caminho da
feitiçaria. Antes de protestarem contra essa nossa asserção, esforcem-se por dar
um pouco de ordem ao caos que reina em seus cérebros. Que procurem primeiro
aprender a verdadeira relação entre as ciências ocultas e Ocultismo propriamente
dito e a distinguir a diferença existente entre umas e o outro, para só depois se
ofenderem, se acharem que estão com a razão. Mas, enquanto esperamos, é bom
que saibam, uma vez por todas, que o Ocultismo difere da Magia e das outras
ciências secretas quanto o radioso Sol difere da luz de uma vela; tanto como o
imutável Espírito do homem reflexo do Todo Absoluto, Incognoscível e sem
Causa - difere da argila perecível do corpo humano.

civilizado, onde as línguas se formaram e as 165palavras foram forjadas na


esteira ou rasto deixado pelos conceitos e pelas idéias - tal como se dá em
todas as línguas - à medida que essas se materializavam na fria atmosfera do
egoísmo e da constante atração pelos bens terrenos, menos necessidade se faria
sentir em originar novos termos para expressar o que, tacitamente, era considerado
como simples e desacreditada superstição. A tais palavras correspondiam idéias
que um homem culto seria incapaz de conservar no seu espírito:
Magia, sinônimo de charlatanismo; Feitiçaria, equivalente a crassa ig-
norância; Ocultismo, mesquinha recordação de cérebros desmiolados da Idade
Média, dos filósofos do fogo, dos Jacob Boerune e dos Saint-Martin, são os
termos mais do que suficientes para definir todo o conjunto daquilo que se
considerou como uma espécie de prestidigitação. Representam palavras
desprezíveis, aplicadas geralmente ao refugo e às escórias dos séculos de
ignorância e dos precedentes eons do paganismo. E é por isso que não existem
termos definidos para expressar as diferenças e nuances desses poderes
anormais, ou das ciências que conduzem à sua aquisição, coisa que é possível
fazer-se com precisão nas línguas orientais, principalmente no sânscrito.

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É justamente o sânscrito, como filho legítimo do senzar, que maior número de
palavras fornece à terminologia teosófica e ocultista, seguindo-se-lhe, em número
menor, o grego e mesmo o egípcio.
Não são poucas as pessoas que criticam e até se revoltam contra a aplicação
desses estranhos termos, para os quais debalde se procura substituto, em nosso ou
qualquer outro idioma, capaz de expressar com nitidez seus verdadeiros
significados. É essa falta que nos le\-a, em nossos humildes trabalhos, a empregar
um tão grande número de parênteses, cujo fim, sacrificando muito embora o estilo,
é justamente corrigir essa pretendida falta e evitar, com longos e elucidativos
comentários, a má interpretação de um termo sânscrito ou mesmo de uma frase
inteira. Porque o que sobretudo nos preocupa é sermos compreendidos por aqueles
que nos honram com sua atenção, entre os quais nem todos serão sanscritistas ou
egiptólogos. Fugimos, por índole e por necessidade, do nefelibatismo e das flores
da retórica, que dizem muito ... sem dizerem nada. Esforçamo-nos para que nossos
modestos trabalhos não tenham a sorte de tantos outros livros de Ocultismo, em
cujos períodos recheados de termos desco-

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nhecidos, hermeticamente se oculta aquilo que pretendem desvendar ... Preferimos
a bem escrever bem dizer, mesmo com o cacófaton, pois "bendita" consideramos
sempre a hora em que de qualquer modo podemos auxiliar - com o pouquíssimo
que sabemos - aqueles que desejam, como nós, caindo e levantando, palmilhar a
mesma Vereda, na tentativa de alcançar o Fim: o Verdadeiro Caminho da
Iniciação.
Hoje em dia, no próprio Espiritismo, já há quem empregue o termo sânscrito
Karma em lugar de Destino, exatamente por não haver neste o perfeito sentido
daquele. Quando um verdadeiro ocultista ou teósofo ouve pronunciar a palavra
carma, sente-se como que ferido em si mesmo: ouve no mais íntimo de seu ser a
Voz Interna, a Voz da Consciência ou da Razão recordando-lhe o pesado lastro de
culpas, provenientes desta ou de encarnações passadas, exatamente porque todo
teósofo ou ocultista sabe que esse termo não significa o Destino cego dos
ocidentais, mas a justíssima Lei de Causa e Efeito, de ação e reação; aquela Lei que
retribui o bem com o bem e o mal com o mat e que Jeoshua exprimiu na célebre
sentença iniciática, cujo sentido passa despercebido aos adeptos de todas as
religiões: "Quem com ferro fere, com ferro será ferido", equivalente ao do Alcorão"
dente por dente, olho por olho" e a tantas outras que exprimem o mesmo sentido do
termo carma.
A palavra Destino não possui, para o ocidental, essa magia oculta que faz vibrar
todo o ser, de dentro para fora, como se fossem as próprias cordas de sua lira (vína),
tangidas pela mão do seu Ego ou Consciência Imortal. E isso porque não há um só
homem que não possua carma, causado justamente, como dizem os livros sagrados
do Oriente, por Avídyâ ... outro termo sem equivalente nas línguas ocidentais e que,
como o anterior, repercute no mais íntimo do nosso ser com o sentido que nenhum
outro nos dá, de falta de Conhecimentos superiores, os únicos capazes de conduzir
o homem à meta desejada. Que meta? perguntará o leitor surpreendido pelo
emprego desse nome em assunto tão elevado. O fim, respondemos nós, desse
Verdadeiro Caminho da Iniciação, dessa Vereda evolucional por onde, vagarosa ou
rapidamente - segundo o predomínio maior ou menor de Avídyâ - caminha a
humanidade a que pertencemos; o fim onde a Mônada - depois de peregrinar
através de sete Raças diferentes, dentro de um período de vida ou Ronda do globo -
deverá encontrar a suspirada redenção, por ter vencido uma das grandes etapas no
Caminho de volta à Casa Paterna.

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Igualmente de difícil tradução é o termo Dharma, que significa "a grande Lei
que a tudo e a todos rege" e tem por seu contrário Adharma, ou seja, afastamento
dessa mesma Lei, cuja conseqüência é provocar a manifestação de carma que,
atingindo a humanidade inteira como atualmente se verifica, toma a designação de
Carma Universal, visto aquele termo abranger outros mundos espalhados pelas
amplidões celestes.
Como contrário a Avidyâ temos o termo Vidyâ, que, significando Conhecimento,
Sabedoria, etc., nada tem a ver com o conhecimento vulgar ministrado pelos
homens nas suas Universidades, exatamente como o seu oposto ou Avidyâ não
significa a falta desses ensinamentos: a ignorância da álgebra e da física por
exemplo. Um e outro se referem à única e verdadeira sabedoria, capaz de livrar o
homem das férreas cadeias a que, qual Prometeu no Cáucaso, se acha acorrentado
no seu cárcere carnal. Daí o chamar-se Gllpta- Fidyâ à Sabedoria Iniciática das
Idades, Brahma- Vidyâ, além de outros nomes como SanatanaDhârma e o mais
conhecido no Ocidente: Teosona. Eis porque a Obra em que se acha empenhada a
STB só pode ser realizada através da Teosofia ou Sabedoria Iniciática das Idades.
***

E como tivéssemos falado em semelhante Obra ou Missão, imediatamente nos


veio à memória, sabem os deuses por que estranha coincidência, o célebre termo
manu. Empregado a cada passo nas escrituras orientais, não possui tal termo o
sentido que a maioria lhe dá, ou seja, apenas o de chefe, guia de um povo, de um
ramo racial, de uma sub-raça ou mesmo de uma raça-mãe.
Como se sabe, o termo manas - pensamento, mental - dá a entender que o
homem é um ser pensante, raciocinador - em inglês, man provém daquele étimo -,
contrariamente a outros seres que lhe ficam inferiores na escala evolucional da
Mônada - Ego, Consciência unitária, centelha na Chama, o significado que lhe
quiserem dar, contanto que seja sempre o de fração de um Todo, donde a mesma
emana. Tendo atingido o quarto reino da natureza, ao passar pela quarta cadeia
planetária, o homem adquiriu aquele princípio que o coloca à testa da evolução, à
frente dos reinos animal, vegetal e mineral, por onde ele mesmo passou nas três
cadeias anteriores. Por isso nele se encontram as substâncias desses reinos, para
não falar noutros mistérios que só podem ser tratados em

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um livro mais adiantado, como vai ser o que pretendemos publicar, futuramente,
com o título de A Ciência da Vida ou como se tornar Adepto.
Assim, como herança do reino mineral ele tem os ossos; os nervos ou sistema
vegetativo lhe vêm, como o próprio nome indica, do reino vegetal; e o sistema
sangüíneo, do animal. Deste conjunto sai o homem, cuja estética obedece à própria
Lei, uma vez que o físico deve acompanhar a alma e o espírito, na luta para
alcançar a integral perfeição. Digamos aqui, de passagem, e contrariando muito
embora a opinião de muitos sábios de que" o espírito está para a epífise - cujo
significado, como já dissemos, é sobrenatural - assim como a alma está para a
hipófise". Daí a perfeição do homem só ser integral quando dela participarem suas
três partes: corpo físico, alma e espírito. Esta questão das glândulas de secreção
interna ou endócrinas acha-se, porém, ligada a assuntos por demais transcendentes
- donde a dificuldade de a medicina em lidar com elas - para serem tratados em
uma simples anotação. Ao assunto voltaremos, com o necessário
desenvolvimento, em nossa futura obra, se para tanto nos sobrar vida e saúde ...
Seres pensantes não eram, entretanto, os representantes das duas primeiras
raças, justamente porque suas formas externas se apresentavam apenas com as
características dos dois reinos anteriores: animal e vegetal. Donde a reprodução
fazer-se primeiro pelas "bolhas de suor"; depois pela cissiparidade; tomando-se
em seguida ovípara para, finalmente, em plena terceira raça-mãe, a lemuriana,
tomar a forma uterina, ainda hoje existente. Esta última forma de reprodução,
iniciada nesse prodigioso momento da história humana, trouxe, como
conseqüência, o fenômeno da separação dos sexos. Só desde então o homem
abandonou de todo os reinos anteriores, constituindo, pelo desenvolvimento de
manas, princípio apenas latente nos animais, um reino à parte. Surgiu nesse
instante a Humanidade ...
No decorrer da quarta raça-mãe, a atlante, todas essas características se fixaram
de modo mais positivo; donde o chamar-se de raça-equilibrante, especialmente por
separar as anteriores das três posteriores, pois, como já se disse, uma ronda inteira
se compõe de sete raças-mães.
Fixado manas-inferior da quarta raça-mãe, ou raça equilibrante, cabe à quinta,
ou ária, desenvolver o princípio seguinte ou mental-superior e seu dirigente -
maneira simbólica de dizer - Budha-Mercúrio, que envolve muita coisa conhecida
em Astrologia e outros ramos da ciência oculta, tem por missão

169

170
ativar esse desenvolvimento, atuando no humano mental. Sob a influência de t
Mercúrio nascem todos os seres superiores ...
Falando em raça ária, não podemos deixar de considerar uma estultícia, que só
a ignorância dos grandes mistérios da Antropogênese justifica, falar-se em
arianismo para enquadrar-se nele, excepcionalmente, uma simples sub-raça: a
quinta ou germânica. Além de arianas serem todas as demais sub-raças até hoje
derivadas do mesmo tronco, há ainda as duas últimas sub-raças, com suas ramas e
famI1ias, a aparecer, como já dissemos, nas duas Américas e às quais cabe termi-
nar o grande ciclo ariano, desenvolvendo todas as características da grande raça-
mãe, que serão transmitidas, milênios mais tarde, às duas raças finalizadoras da
ronda atual... E o prodigioso trabalho para o aparecimento dessas sub-raças só
agora se começa a fazer, sob os auspícios de Budha-Mercúrio.
Dos termos ário, ária, áries, ariel, etc. nasceu a frase "fio de Ariadne", em-
pregado nos casos de difícil solução e que, para os resolver, se tem que agir como
quem, para desenvolver ou desenrolar um novelo ou carretel, tenha de procurar a
ponta do respectivo fio. De fato, a raça ária, como vimos, é a que desenvolve o
mental superior, donde a Mônada, como de um novelo a desenrolar, deverá tirar o
fio - aquele fio de sutrâtma de que já falamos em outros lugares - que a ligará a
Budhi e a Atmã, os mais elevados estados de consciência, a predominar nas duas
derradeiras raças-mães, a fim de poder atingir, nesta ronda, o máximo da sua
evolução.
A velha Índia foi outrora conhecida como Arya- V artha, ou terra dos ários,
nome ainda hoje dado ao norte da Índia, justamente por ali prevalecer a semente
ou origem da quinta raça, pois foi no planalto do Tibete que o manu Vaivásvata
escolheu, dentre as sementes atlantes -a elite, os eleitos, a fina flor, como se diria
hoje - aqueles que iriam originar a futura raça, a Quinta, ou raça ária, em franco
desenvolvimento.
Quanto às duas futuras raças da presente ronda, sairão respectivamente da
sexta e sétima sub-raças árias: aquela, na América do Norte e esta, na América do
Sul. Para o advento desta última foi criada a STB como todos já estão fartos de
saber, até fora do país, através de nossos artigos, mensagens, conferências, etc.,
sem falar em seu órgão oficial, a revista Dhâranâ, que fazemos chegar às mãos de
quantos, principalmente no continente americano, têm obrigação de se interessar
por assunto de tal magnitude.

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171
Tão distante está, pois, de nós, o aparecimento das duas raças - cujos conti-
nentes ainda hoje permanecem ocultos pelas massas d'água dos grandes oceanos -
que ridículos se nos afiguram todos esses astrônomos, cientistas ou mesmo
"profetas" quando, solenemente, anunciam que o mundo vai acabar, fixando datas
mais ou menos próximas, O mundo deve realmente acabar, visto estar sujeito,
como tudo que é manifestado, à Lei da Evolução, que implica em transformação -
só o Imanifestado é imutável e eterno; mas os milênios que nos separam deste
notável acontecimento são tantos que bem podemos dar-lhes o nome de eternidades
...
***

E voltemos ao termo manu, de que só aparentemente nos desviamos.


Não tem, como dizíamos, apenas o sentido de chefe ou guia de um povo, raça,
etc. mas, principalmente, o de inteligência que preside a um ciclo de evolução -
ronda, globo, raça, etc. No grego, o termo que melhor define é eon que, lido
anagramaticamente, nos dá o Noé bíblico, salvo em uma arca ou barca com sua
farru1ia, palavra esta, família, que, contrariamente à errônea interpretação, se
relaciona com um ramo racial.
Se a esta interpretação da palavra farru1ia juntarmos o significado do termo
grego Eon - manifestação da Divindade na Terra - e tivermos que arca ou barca são
nomes usados para designar lugares em cuja sombra benfazeja se acolhe a
Sabedoria Divina, teremos talvez compreendido que Manu é aquele em cujas mãos
- manu, manas, manus, etc. - essa Sabedoria se encontra, ou que A representa na
Terra em determinado ciclo, raça, etc.
Valha a oportunidade para que discorramos um pouco sobre esse novo termo,
arca, que acaba de saltar de nossa pena.
À escola budhista do norte da Índia se dá o nome de Mahâyanâ ou Grande
Barca; e à do Sul, Hínayâna, ou Pequena Barca. Barca de Salvação, era o nome que
os egípcios davam à barca que conduzia Osíris, o vitorioso, através do mar da
Serenidade, ou seja, de um país para outro, isto é, do mundo humano para o mundo
espiritual. Nessas fontes foi a Igreja buscar a sua "Barca de São Pedra". Salvação,
redenção, etc. completam e esclarecem o sentido do termo em apreço. Se
admitirmos, pois, como real, sem nenhum sentido oculto, a barca de Noé, salvando-
se com sua farru1ia, povo ou ramo racial, nós teremos que ele dela se
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serviu para se transportar de um país para outro, como o fazia Osíris, e a tradição
nos diz que esse país para onde se dirigia era subterrâneo e tinha, como ainda
hoje tem, um nome singularmente parecido com o de barca, ou seja, Agartha ...
Como se vê, arca ou barca teve um sentido muito mais profundo, que a Lei
ainda não permitiu totalmente desvendar.
Esse país de Agartha é por muitos denominado Shamballah e outras escrituras
o descrevem como "uma ilha imperecível que nenhum cataclismo pode
destruir" ... Nesse caso ele será o país dos homens representativos, mahâtmas,
gênios ou jinas, o que nos recorda a antiga interpretação por nós dada ao nome da
privilegiada Jeanne d' Arc que, ante os milagres - fenômenos, aliás,
naturalíssimos, por estarem dentro das leis naturais, pouco importa se desco-
nhecidas da ciência - por ela realizados, nos denuncia a sua origem, devendo por
isso chamar-se Jina da Arca, da Barca ou da Agartha.
Que isso não espante o leitor. Jeanne d' Arc, apesar do testemunho de sua
faIlli1ia "oficial", podia, como a tantos outros tem acontecido, provir desse lugar,
substituindo no berço outra criança da mesma idade. E isso nos faz lembrar,
ainda, aquela interessante passagem da vida do atual papa - o ex-cardeal Pacelli,
cujo advento ao trono pontifical nós anunciamos com dois anos de
antecedência ... - onde se diz que, logo após seu nascimento, foi levado por sua
família a uma creche, donde em seguida o retiraram. Qual a razão de semelhante
procedimento? Quem nos garante que a criança levada à creche era a mesma que
dali saiu? ...
***

Estudai as lendas escandinavas de que se serviu o próprio Wagner para criar a


sua genial tetralogia e lá vereis que desse mesmo país, ali denominado Monte-
Salvat, veio Lohengrin - de Choan, Lohan, Swan, cisne e Jin, Jim ou Jina - na sua
gôndola ou barca, arrastada por um cisne branco, para se encontrar com EIsa.
Refere-se, ainda, essa misteriosa Terra à lenda do rei Artus, nome que, lido
anagramaticamente, é Sutra, palavra sânscrita que significa fio de ouro, aquele
que liga o Ego, a Consciência imortal à Mônada. Numa barca que conduz o rei
mortalmente ferido se despede ele de seu amigo Bedivére - que, por sua vez, nos
faz lembrar o de Belovedye por que também é conhecido o mesmo país ... -
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dizendo-lhe: "Adeus, meu fiel e valoroso guerreiro! Longo é o caminho a per-
correr para atingir a ilha santa de A valon - ou de ava, antepassado, donde vem o
nosso avô e Lon ou Lohan, Choân, etc., a que já nos referimos -, aquela onde não
cai granizo, nem chove, nem existe neve - que não admira, tratando-se de um país
subterrâneo ... - e onde eu serei curado das grandes feridas que recebi na batalha"
- a batalha nos campos de Kurukshetra, que é a própria vida, de que nos fala o
Bhagavad-Gitâ; batalha em que todos nós, sem exceção alguma, tomamos
parte ...
As lendas e tradições de todos os países estão cheias de referências a esse
lugar ou país sagrado, principalmente quando ligadas a ciclos raciais como o que
nos é revelado pela lenda do Noé bíblico, reprodução de todas elas, ou de Moisés,
o "salvo das águas", ou melhor, de um cataclismo ou maremoto como aquele que
destruiu a Atlântida, hoje em grande parte no fundo das águas.
Entre os nossos silvícolas, como vestígios de várias civilizações, inclusive a
atlante, existem lendas que aludem a esse dilúvio. Delas nos fala José de Alencar
no seu romance O Guarani, ao referir-se a Tamandaré.
Tamandaré, segundo Batista Caetano, provém do tupi, tab-moinda-ré, "aquele
que fundou um povo", repovoador, etc., significação perfeitamente igual à do
termo sânscrito manu. Para outros, Tamandaré deriva de Tamandaré, "depois da
volta", ou seja, "aquele que vem depois da catástrofe" ... para repovoar a terra ou
a região onde, por determinação da Lei, deve espalhar a nova semente,
escolhendo entre os eleitos aqueles que mais se distinguiram no ramo anterior.
Outro não é o sentido de todos esses étimos a que tão extensamente nos vimos
referindo.
A própria locução Machu-Pichu, como é conhecida a cordilheira próxima à
cidade de Cuzco, no Peru, poderia ser considerada como corruptela inca das
palavras sânscritas Manu e Pitri, o que nos daria: Manu-Pai de um ciclo. A
verdade, porém, é que ela exprime o "Homem-Peixe", saído do mar, visto o
termo pichu deixar bem claro ter a mesma origem de piscus, piscis ou peixe. O
cognome de "salvo das águas", dado a Moisés, confirma nossa hipótese.
Quanto à lenda inca pertinente aos dois manus de sua primeira dinastia -
Manco-capac e Mama-coya -, dos quais, "o homem ensinava na cidade alta,
enquanto que a mulher ensinava na cidade baixa", não tem a interpretação que à
primeira vista pode parecer e, sim, a de que o homem, ensinando as cousas

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do mentat se dirigia à parte superior do corpo humano; e a mulher ministrava
conhecimentos inferiores, referentes à vida doméstica e quantas funções lhe
dizem respeito, inclusive tudo quanto se relaciona com a questão sexual e, por-
tanto, conhecimentos "baixos" em relação aos dados pelo homem, mas nem por
isso menos distintos do que aqueles, perfeitamente de acordo com a sua nobre
função de mãe e esposa.
Quão diferente, digamos de passagem, é o que vemos neste decadente período
racial! Que ensinamentos, mesmo na "cidade baixa", no mundo dos nossos
sentimentos e das paixões, podem ministrar essas mulheres dos nossos
desgraçados dias, empolgadas pela ânsia de imitar os homens no que eles têm de
mais inferior? Dominadas pelo doentio desejo de se transformar na ridícula
caricatura de homens que, por sua vez, já não passam de sombras de seus avós;
que lições de nobreza, de dignidade, de respeito por si mesmas, de amor e
abnegação podem elas dar às gerações a que serão confiados os destinos da
pátria? Com que nome pode ser classificado esse ser que usa monóculo, bebe
misturas tenebrosas dos mais inverossímeis e venenosos ingredientes, ostenta
negligentemente cigarros fumegantes no canto da boca sangrenta de ruge, borra
de negro os dlios frisados e substitui as sobrancelhas naturais por longos e
arqueados arabescos que mais parecem" tis" sobrepostos a palavras tais como
sensação, ilusão, paixão, mas que, na realidade, inspiram compaixão a quem os
contempla?
Esse o decadente e mal desenhado perfil da descendente daquele ser superior
que, na "cidade baixa" dos incas, como Mamacoya e em todas as cidades antigas,
com outros nomes, dedicava-se às nobilíssimas funções de mãe e à difusão de
sentimentos que a dignificavam e homavam. Era o Manu-Mulher, mãe e mestra
das raças, como o Manu-Homem, segundo a própria Bíblia, era a "semente de
Deus", pois lá se diz no Êxodo (c. XIV, v. 31): "E a casa - povo - de Israel, depois
que se alimentou com o Maná - Mente -, chamou-se Man, equivalente à semente
de mostarda ou cilantro branco(*), e seu sabor ao da flor de farinha e mel", esse
mesmo mel que é a "ambrosia dos deuses", Sabedoria Divina ou Teosofia.
Esse cilantro branco é o mesmo "fruto do pensamento" a que se alude em

(*) Cilantro, palavra da língua espanhola que significa coentro. (N.da E.)

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diversas parábolas de Jesus - Mateus, XIII; Marcos, c. IV; Lucas, c. XIII. No dizer
dos Upanishades, assim como o grão de sal desaparece dissolvendo-se na água,
que deixa salgada, assim também o Grande Todo - Pensamento Divino ou Mente
Cósmica - na plenitude do conhecimento desaparece e se funde em todos os seres,
deixando, como vestígio da sua manifestação, a mente concreta, que passa a
constituir, em cada um, o cilantro branco, o grão de mostarda, a idéia individual
em luta para se tornar coletiva e encher o mundo, tal como faria qualquer semente,
livre para manifestar suas propriedades de expansão. Foi esta a razão por que a
STB, na sua missão de espalhar a prodigiosa Semente destinada a germinar e
produzir os bons frutos de uma nova civilização, portadora de melhores dias para
o mundo, teve que adotar como lema o Spes messís ín semíne, ou "a esperança da
colheita está na semente".
O mesmo termo messe, colheita, significando, em sentido figurado, aquisição,
conquista, etc., provém do latino messias que deu o mies espanhot o messe italiano e
o mes do francês antigo e aplica-se, portanto, a um trabalho messiânico, manúsico
ou manásico, palavras estas derivadas, por sua vez, de manas, manu, pensamento,
pensador, etc. E se cada homem, sem exceção alguma, é um "messias", no
trabalho de realizar qualquer colheita ou cumprir determinada missão, muito mais
tal termo se aplica à Obra em que está empenhada a STB, fundada justamente para
escolher as mônadas que serão as sementes das novas raças.
O povo hebreu, na sua expressão man-hu, se referia ao " maná caído do céu",
ou seja, ao precioso fruto da sabedoria provinda do céu, ou Sabedoria dos Deuses -
Teosofia -, que Moisés lhe oferecia, e jamais a grosseira interpretação dada por
todos, inclusive pela Igreja, quando diz: Quod cum vidissent filii Israel, dixerunt ad
invicem. Man hu? quo significat: Quod est hoc? Ignorabant enim quid esset. Appellavit
domus Israel nomen ejus Man. De fato, por ignorarem tal coisa - e todo sofrimento
humano deriva dessa ignorância ou falta de conhecimento divino, superior,
verdadeiro maná caído do céu - é que surge a necessidade de se alimentarem ou
provarem do precioso fruto, desse fruto da "Árvore do Bem e do Mal", ou seja, da
Sabedoria e da Ignorância, colocada no Éden ou paraíso terrestre. Dat algumas te
agonias apresentarem duas árvores, cada uma com sua serpente: se branca, a do
Bem, da Sabedoria, da Inteligência; se negra, a do Mat da Ignorância. Vêm daí
ainda as duas espécies de Magias de que tanto se tem falado ~o decorrer deste
trabalho. E outra não é a interpretação que se deve dar às duas serpentes do
Caduceu de

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Mercúrio, na razão do equilíbrio perfeito das duas conchas da Espiritual balança
que, como já fartamente explicamos, no homem são representadas pelo lado
esquerdo ou lunar e pelo direito ou solar.
Manu é, pois, o guia, o condutor de um povo, de uma raça, etc. Assemelha-se
na sua função ao pastor de ovelhas ou de qualquer outro gado, estando essas
funções de acordo com a jerarquia a que pertença. O príncipe Sidharta, consi-
derado, segundo a opinião de um mahâtma, como pertencente a uma das mais
elevadas jerarquias divinas, uma entidade da Sexta Ronda - estamos na Quarta -,
teve o nome de Gautama, ou seja, condutor da vaca, ou gado, dando a gau ou go o
sentido do gado e a tama, o de condutor.
Poderíamos, ainda, se quiséssemos, forçando um pouco a imaginação, de-
compor o vocábulo Gautama em outros dois, sânscritos, gau e ta mas, o que nos
daria a seguinte interpretação: tamas, a terceira e a mais grosseira propriedade da
matéria, significa a inércia, a obscuridade, a ignorância, a força centrípeta,
enquanto que sattva representa a inteligência, a beleza, o equihôrio entre tamas e a
outra propriedade ou rajas, que é atividade, energia, força centrífuga. Essas
propriedades se manifestam nas respectivas cores: amarelo para sattva, azul para
rajas e vermelho para tamas e donde derivam as quatro conhecidas nuances,
exatamente como dos três princípios superiores derivam os quatro inferiores.
Teríamos, assim, que Gautama significaria" o condutor do gado tamásico". A cor
vermelha de tamas nos explicaria a passagem do Mar Vermelho,levada a efeito
por Moisés "a pé enxuto", isto é, sem permitir que a humanidade por ele
conduzida, o povo ou gado de que era condutor, tocasse na matéria grosseira em
que vivia anteriormente, como hoje quase toda vive ...
O próprio termo vaqueiro provém de vaca, que em francês é vache e em
sânscrito, vach, significando: Palavra, Verbo, Logos - do mesmo modo que a
deusa hindu Sarásvati.
O Manu é, portanto, o portador do Verbo Solar, o próprio Logos manifestado
na Terra, escolhendo o povo que deve conduzir e tornar conhecedor da Sabedoria
Divina ou Teosofia. É Ele o "vaqueiro", pastor, condutor, guia, Messias, Miska,
Muiska, Moise, Moisés, Hermés ou mesmo Henos ou Hennock, Enick, El Rike
ou simplesmente Rishi - o sublime Risharbhadeva, Mahavira ou Viraj, Vadha-
Manu "tronco da humanidade atual", Vrich-abha, o "touro", o "boi-Nardi" etc., o
qual se acha colocado entre a quarta e a quinta raças, repre-

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sentando aquela mesma Sabedoria Secreta, desde que ambas sob o domínio de
Manas - Menés -, a primeira e simbolizada pelo touro e a seglrnda, pela vaca.
De tudo isso vem o termo pastor usado pelos protestantes e pela Igreja ro-
mana, que dele se serve para qualificar o próprio papa.
"Estouro da boiada" é a expressão por nós usada quando o gado "esparrama".
Nessas condições de gado esparramado se acha a maioria da humanidade, prestes
a sucumbir no" atoleiro" formado por suas próprias incompreensões e erros do
passado - caminhos ou atalhos que não devia ter tomado ... -, pouco importa se
aparentemente guiada por aqueles a quem o próprio desvio ou esparrame - seu
carma, portanto -lhe ofereceu, de acordo com a sábia sentença "todo povo tem o
governo que merece".
Mas o esforço da Mônada, que representa a própria evolução, não pode ser
interrompido, de acordo com a "Lei que a tudo e a todos rege".
Por isso, em outras paragens, ou pastagens, segue, pacífico e espiritualmente
guiado pelo Bom Pastor, o prodigioso rebanho ou povo eleito, em busca da Nova
Canaã, da Terra da Promissão, que outra não é senão o Brasil.
A existência de tais Seres é totalmente desconhecida da própria história.
Da( a expressão: "Ele já veio e vós não o reconhecestes", frase essa que se aplica
a todo o tempo ou ocasião e não apenas a determinado período da história
humana.
Inútil, entretanto, querer descobrir o atuat pois a própria Lei exige que sobre
Ele pairem "as sombras do mistério" ... Se assim fosse, enorme confusão se
estabeleceria em nossos cérebros, como aquela que atormentou Hamlet, expressa
através da conhecida frase: To be ar not to be ... Baste-nos, pois, o dito de Gautama:
"E meu espírito pairará sobre a Terra" ...
Falamos acima em três princípios superiores e quatro inferiores, quando nos
reportamos às três cores matrizes e suas quatro derivadas, tais como aparecem no
espectro solar. Aproveitando a anotação, vamos elucidar melhor essa teoria
teosófica tão mal compreendida por quantos a ouvem pela primeira vez ou sobre
o assunto fazem leituras desordenadas.
Tal como o Espiritismo, a Teosofia reconhece no homem a existência de três
corpos, teoria aceita por Plutarco quando diz: "enquanto o homem se acha na
Terra, seu corpo físico a ela pertence; o astral- de Psiché, alma, etc. -, à Lua, e

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ο Espírito, ao Sol", o que tanto vale por passado, presente e futuro e até mesmo o que
o homem foi, é e será.
De modo que o leitor fique melhor habilitado a compreender a razão de tudo
quanto acima foi dito, tomamos o alvitre de transcrever da Doutrina Secreta, que
também pode ser encontrado na iniciática obra de Rosa de Luna I.a Esfinge, pág. 92,
o quadro de correspondência dos

ELEMENTCE 00 HOMEM SEGUNDO QUATRO ESCOLAS DIFERENTES

Sthüla
shárira
Prâna Anna-maya-kosha
Linga-
shárira
Prána-maya-kosha Srhúlopádhi
I Corpo físico
Kâma-rüpa Mâna-maya-kosha Sukshumo-upádhi
Manas Vijnâna-maya-kosha -- I Alma
Büdhi Ananda-maya-kosha Kârano-upádhi
Atmá Atmá Atmá I Espírito

"As duas classificações - diz a obra de Rosa de Luna -, de iogues e


vedantinos, são, no fundo, o precedente histórico da chamada classificação
setenária ou teosófica, que pela primeira vez foi dada ao mundo ocidental
através da famosa obra de Sinnett O Budismo Esotérico onde, segundo os
ensinamentos de então, se dividiu o homem em um Ternário ou Tríade
Superior, como diriam os pitagóricos, ou seja: Espírito, Alma Espiritual e
Mente Superior ou abstrata (Atmâ-Budhí-Manas), indissolúvelmente ligado
pela própria mente ao Quaternário Inferior (Kâma-manas) ou mente animal e
seu envoltório kamarrúpico: linga-shârira ou corpo astral (perispírito dos
espíritas), corpo glorioso, como diria S. Paulo, Prâna ou vida e sthúla-sharíra
ou corpo físico".
O simbolismo do Kalki-avatara ou cavalo branco, das tradições transhimalaias, ou
seja, o mesmo Sosiosh persa, que deve redimir um dia a humanidade, justamente
quando fundida na sua Tríade Superior - Idade de Ouro ou Satya- Yuga -, possui o
mesmo sentido, ou antes, é o seu verdadeiro símbolo o Cavaleiro ou a Tríade
Superior, montando num cavalo ou o

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quaternário inferior, representado pelas quatro patas do animal. Como Setenário nós o
encontramos muito bem representado no arcano desse número do Tarô e que é o Carro
ou Mercabah:

o mesmo sentido pode dar-se a uma casa com seu teto ou cobertura, representando
abrigo, proteção, etc.
"A eterna lei teosófica da analogia - continua o livro citado- ensina que, no
mesmo corpo humano se reflete a clássica divisão trina, porque, segundo
pondera, por sua vez, nosso querido amigo dr. Brionde, em sua Antroposofia,
se examinarmos com atenção um corpo humano - ou animal muito adiantado
na escala zoológica - podemos observar que existe uma tríplice divisão a
separar os órgãos mais importantes, encerrando-os em cavidades distintas e
perfeitamente limitadas. A cavidade inferior se encontra na região
anterolateral circunscrita pelos músculos retos anteriores do abdome, maior e
menor, aponeuroses e músculo transverso - além de outros pequenos
elementos que não vem ao caso para esta pequena descrição geral. Na face
posterior, temos o quadrado lombar, o psoas ilíaco, as apófises transversas das
vértebras lombares, músculos vertebrais, coluna vertebral, etc. A base é
representada pelos músculos períneos e a aponeurose do perineu, com
orifícios de saída pelos diferentes condutos excrementícios: ânus, uretra,
vulva. Na parte superior estende-se um só músculo aponeurótico, limitando-se
perfeitamente o abdome do tórax. O referido músculo, chamado diafragma,
permite a passagem do esMago e da aorta. Serve ainda o diafragma de base,
de sustentáculo à denominada, graficamente, caixa torácica, segunda cavidade
limitada pela coluna vertebral, às costelas e ao esterno, dando lugar ao
estreitamento superior, aos órgãos que põem em comunicação as três
cavidadés: estômago, traquéia, artérias, etc. A terceira cavidade, a mais
perfeita, é a craniana. O crânio é, com efeito, uma abóbada admirável, onde
todas as leis de arquitetura alcançaram a máxima perfeição. Os numerosos
orifícios que dão acesso a nervos e artérias não possuem nenhum caráter de
cavidade independente.
Ventre, peito e cabeça: eis aqui as três cavidades conhecidas pelo vulgo

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e que constituem a base da nossa organização - por isso, dizemos nós,
existe em ocultismo aquela fórmula para muitos incompreendida: "cabeça
na cabeça, cabeça no peito e cabeça no ventre; peito na cabeça, peito no
peito e peito no ventre; ventre na cabeça, ventre no peito e ventre no
ventre", o que demonstra que essas três partes, mundo superior ou divino,
mundo humano e mundo inferior ou infernal, se acham ligadas entre si,
melhor dito, interpenetram-se.
Quanto às demais partes do corpo, não passam de simples instrumentos
de aperfeiçoamento, articulados a essas cavidades, como o pescoço, que
apenas representa um alongamento destinado a melhorar certas funções".
Na nossa opinião, o pescoço tem uma importância maior do que a que lhe dá o
autor que vimos citando. Tem uma função própria, pouco conhecida, e que se acha
ligada às glândulas tireóide e paratireóide, ou antes, ao que de oculto ainda existe
em relação à epífise e à hipófise. E o maior testemunho da sua importância é que,
possuindo o homem sete centros de força ou chakras espalhados pelo corpo, um se
acha exatamente localizado nessa região. Esses sete centros de força estão assim
distribuídos: no vértice da cabeça, o Sahasrâra, Brahmananda ou Coronal; na fronte,
o Ãjíiâ ou Frontal, como o "olho de Shiva" dos hindus, o "úreus mágico" dos
egípcios ou a serpente que se vê na fronte dos faraós; na laringe, o Víshuda, também
chamado Antahkarana ou aquele que serve de ponte de ligação entre o mundo
humano e o mundo divino - e a prova é que quando o homem está para morrer perde
o dom da palavra e se manifesta aquilo que o vulgo denomina cirro, algo como o
borbulhar das ondas do mar da Serenidade, o mundo astral, etc.; no coração, o
Anahâta ou Cardíaco; na região umbilical,
οManípura; no baço, o Svadísthâna ou Esplênico e, finalmente, no cóccix, o
Mulâdhâra ou Raiz.
Continuando a referir-se aos instrumentos de aperfeiçoamento, cita Roso de
Luna
"o conjunto de orifícios abertos na face para servirem de entrada às três
partes do corpo. Na parte interna do crânio há, porém, certa glândula ain-
da não estudada pela ciência e que merece especial referência pela
influência que exerce na vitalidade humana. Dela partem as forças que se
derramam em todos os chakras (ou centros de força acima citados). E sua
potên-

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cia irradiante é tal que abriu sete cavidades na massa craniana, ou seja, em
relação ao mesmo número de centros: 2 ouvidos; 2 olhos; 2 narinas e mais
um para a boca = 7.
"Na cavidade abdominal - prossegue Roso de Luna - localiza-se o
aparelho digestivo com seus anexos, salvo o prolongamento do orifício de
entrada. Achamos, pois, como órgãos importantes o estômago, os
intestinos delgado e grosso e, ligados aos mesmos, o fígado e o pâncreas -
além do baço, visto estes três órgãos, formando uma tríade mediana, na
razão de um triângulo escaleno, acharem-se, por sua vez, estreitamente
ligados entre si, e jogarem papel importantíssimo nas funções orgânicas -,
além de outros, de que nos ocuparemos depois. Na cavidade torácica temos
o coração entre os dois pulmões e mais outros órgãos secundários. Por
último, na caixa craniana, encontramos o encéfalo, que podemos dividir
em dois hemisférios cerebrais, o istmo do encéfalo, além do cerebelo,
protuberância e bulbo, todos eles como órgãos de aperfeiçoamento
funcional".
Pelo que acabamos de ver, figuram no corpo humano, além de outros
números, os cabalísticos 1-3-7 ou seja: um para o todo, o homem; o 3 para as
partes em que o corpo humano se divide e tudo quanto com ele, interna ou
externamente, diz respeito, a começar pelas duas tríades, a Superior e a inferior,
que se apresentam: aquela com o vértice para cima, representado pelo "3Q olho"
ou olho frontal, tendo por base os dois olhos físicos e esta, na região pubiana,
com o vértice para baixo e ambas com a mesma função de criar: um
mentalmente e a outra sexualmente, que ó mesmo é dizer, para a

Os dois triângulos equiláteros


entrelaçados simbolizam o
Universo como dualidade
Espírito-Matéria.
O de vértice para cima é o do Fogo, Espírito
ou Pai; o de vértice para baixo é o da Água,
Matéria ou Mãe.
Os lados do triângulo do Fogo, entre
outras coisas, significam a Existência,
Consciência
e Bem-Aventurança; os do triângulo da Água indicam as três características
da Matéria:
inércia, movimento e equilíbrio.

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propagação da espécie. Essas duas tríades, entrelaça das, dão-nos o hexágono
estrelado, em todos os seus sentidos, inclusive o de Macro e Microcosmo, Espírito e
Matéria, etc.
O 3 se encontra ainda dividindo os membros superiores, como mão, braço e
antebraço e até os próprios dedos nas suas 3 falanges; os inferiores, como coxa,
perna e pé, tendo todos eles aquela mesma forma curva que toma o embrião dentro
do ovo, o qual, por sua vez, se divide também em três partes: casca, gema e clara.
Quanto ao 7, temos a já apontada glândula pinea,l com o seu poder vibratório
sobre os sete centros de força ou chakras; esses mesmos 7 centros, os 7 sentidos - 5
desenvolvidos e 2 por desenvolver -, sem falarmos na misteriosa relação que existe
entre tudo isto e os sete astros que gravitam em torno do Sol, na razão da hermética
sentença que diz" que o que está em cima é como o que está em baixo".
"Como regra geral, sempre que se mencionam "sete entidades", na
antiga ciência da Índia, seja qual for o seu sentido, deve-se compreender
que tais entidades vindas à existência procedem de outras primárias, as
quais, por sua vez, se originam de uma só entidade ou Mônada. Temos um
exemplo bem conhecido: os 7 raios do espectro solar procedem dos
primeiros raios ou cores primárias. As 3 cores primárias coexistem com as
cores secundárias no raio solar. Do mesmo modo, as três Entidades
primárias que trouxeram o homem à existência coexistem nele com as
quatro Entidades secundárias oriundas de diferentes combinações das três
Entidades primárias".
Não é outra a razão por que existem iogas ou exercícios apropriados ao
desenvolvimento de todas essas funções, inclusive as que despertam os poderes
psíquicos latentes no homem, que é um setenário no seu todo e em cada uma das
suas partes, como vimos.
Tais iogas ou exercícios devem, porém, obedecer a regras e preceitos que só um
guru, mestre ou instrutor pode dar e só sob seu controle podem ser feitos, a não ser
que o discípulo esteja filiado a um Colégio lniciático, como o mantido pela STB,
dotado dos quatro Vestíbulos, Portais ou sessões onde tais exercidos, instruções e
conhecimentos teosóficos são dados, gradativamente e à medida que o discípulo
sobe de categoria. Fora disso, como já dissemos, não é possível a aquisição dos
conhecimentos superiores, nem de coisa alguma que se relaci-
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one com o Verdadeiro Caminho da Iniciação.
Tais conhecimentos - está entendido - não são adquiridos para se desper-
diçarem como fazem as crianças com aquelas dádivas dos contos infantis, as
quais, uma vez recebidas, logo são gastas ou destruídas, voltando as crianças ao
anterior estado de pobreza e sofrimento. Muito ao contrário: esses conhe-
cimentos, essas dádivas, devem ser conservadas como skhandas ou tendências,
siddhis ou poderes psíquicos que, "guardados para a vida futura", como
aconselhava Gautama, irão aumentando cada vez mais o poder de resistência e
vitalidade do ovo áurico do discípulo, a ponto de ser possível, um dia, quando já
Adepto ou Homem Perfeito, projetar seu pensamento nas "seis direções
cósmicas", já que a sétima é representada por quem o emite. Será assim não
mais um simples ser humano ou mortal, mas um verdadeiro Ser cósmico.
Na própria vida de Budha existe uma passagem relacionada com tudo isto.
Encontrando, certa vez, um pobre homem que recitava diariamente suas
orações, dirigindo-se a alguma cousa que ele desconhecia, obediente à lei do
menor esforço, como todos fazem, o que torna tais orações perfeitamente
inúteis, Budha aconselhou-o a adotar o seguinte método, em substituição ao seu:
virado para o Norte, procurasse homenagear os antepassados, os fundadores da
Humanidade - os Pitris lunares -, tornando mesmo extensiva esta homenagem
aos seus próprios ascendentes; voltado para o Sut homenageasse seus
descendentes, prole, fallli1ia, etc.; para o Oriente, aos grandes Iluminados,
aqueles que vieram ao mundo com a missão de redimir a Humanidade; para o
Ocidente, aquilo que ele mesmo aspirava a fazer um dia em prol não só dos seus
descendentes como do próprio mundo - missão espiritual, realização de um ideat
etc.; para o Zênite, a glorificação do seu próprio Eu, seu Raio, seu Cristo ou seu
Deus, existente em seu próprio seio; e, finalmente, para o Nadir, calcando sob
seus pés o tenebroso passado que constituía o carma de que se devia livrar.
Não há, de fato, ritual mais apropriado aos que desejam viver dentro da Lei
que a tudo e a todos rege, independentemente de qualquer outro exercício ou
ioga que lhe seja dada para ser feita em seu próprio lar - em aposento reservado,
que passará a constituir" o santuário de sua própria vida" - do que o augusto
templo da mãe-natureza, o melhor de todos para que a Voz da

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Consciência se manifeste como se fora a da mesma Divindade com aquela se
confundindo.
E tudo isto de acordo, ainda, com os estados de consciência que a Mônada
tem de atravessar na presente ronda, de degrau em degrau, na escala setenária da
sua própria evolução - a escada da visão de Jacó ... -, ou seja, através das sete
raças-mães e suas respectivas sete sub-raças, ramas e famílias que constituem a
mesma ronda. Daí condenarmos a prática de exercícios tendentes a despertar
estados anteriores ou desenvolvidos nas etapas ou raças já percorridas, visto que
tal prática importa em involução, como involução será daqui a milênios a prática
do que agora se acha em franco desenvolvimento. Esse procedimento é
comparável ao de alguém que desejasse fazer uso, hoje, da imunda e velha roupa
de que se serviu em outras épocas ...
Para maior elucidação, transcrevemos adiante conhecido quadro, extraído
das escrituras orientais, a respeito dos

CHAKRAS OU CEN1ROS DE FORÇA EM RELAÇÃO COM.CS PLEXOS

FAZER TABELA NO EXCEL


E TRANSPORTAR PARA CÁ

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185
Damos em seguida o quadro onde se expõem as semelhanças e relações entre os
três grandes sistemas orgânicos, de modo diferente do ensinado pela ciência
oficial e com os possíveis detalhes em um livro que irá ter a muitas mãos não
guiadas por uma Escola ou Colégio Iniciático. É um assunto que a própria Ciência
Hermética apresenta sob veladas alusões.

FAZER OUTRA TABELA EXCEL


SEMELHANÇAS E RELAÇÕES
ENTRE OS TRÊS GRANDES SISTEMAS ORGÂNICOS

Boca Nariz Olhos

Ânus Dretra· Vesícula seminal

e trompa de Falópio

Esôfago Traquéia Nervo óptico

Estômago Coração 3' ventrículo

Fígado e Pâncreas Pulmões Hemisférios cerebrais


-
Abdome I:to FurâniO

Sólidos e líquidos

Luz

-
Sistema quilífero Sistema venoso Sistema nervoso

T uho intestinal Apatelho urinário Aparelho sexual interno

Transforma os Transforma o plasma Tranforma o fluido


alimentos em linfa sangüíneo em energia nêurico em magnetismo
e plasma sangüíneo nervosa ou fluido nêurico e pensamento

E com a presente descrição, já o leitor possui muitos dados para a nítida


compreensão de quanto se vai tratar, de modo desenvolvido, na vindoura obra A
Ciência da Vida ou como se tornar Adepto (*J.
Que representam, para o espírito daqueles que as ouvem ou as
pronunciam, aspalavras "milagre" e "encantamento", palavras cujo
sentido é, afinal, o mesmo, pois ambas exprimem a idéia de cousas
maravilhosas que,

(*) Tal obra não chegou a ser escrita. (N. da E.)

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segundo a explicação de reconhecidas autoridades, violam as leis da natureza?
Para um cristão - não obstante a infração às leis da natureza e a crença nos
milagres realizados por Deus através de Moisés, etc. - será motivo de escárnio
ou atributos do diabo os encantamentos produzidos pelos magos faraônicos. E
é a este último que nossos piedosos inimigos - como outrora fizeram com
Jeanne d' Arc, Savonarola, Giordano Bruno e outros mais - atribuem os
fenômenos do Ocultismo, enquanto seus próprios adversários, os ímpios, os
incrédulos, riem de Moisés, dos magos e dos ocultistas e corariam de vergonha
se dedicassem um pensamento que fosse a semelhantes "superstições". E tudo
isso, por não existir nenhum termo para indicar a diferença; nenhuma palavra
para expressar as luzes e as sombras, ou traçar a linha divisória entre o que é
sublime e verdadeiro e o que é absurdo e ridículo.
A esta última categoria pertencem as interpretações teológicas que ensinam
"a violação das leis da natureza" por Deus, pelo homem ou pelo Diabo. As
ciências, "milagres" e encantamentos de Moisés e dos magos estão de acordo
com as leis da natureza e pertencem à primeira categoria porque, tanto um
como os outros, foram versados em toda a sabedoria dos santuários (como
"Reais Sociedades" daquele tempo) e que é o verdadeiro Ocultismo.
Este último termo se presta, incontestavelmente, a mal-entendidos, por ser
verdadeira tradução da palavra sânscrita composta dos dois termos, Gupta e
Vidya, "Conhecimento Secreto".
Mas de que espécie de conhecimento se trata? Alguns termos sânscritos
poderão auxiliar-nos a descobri-lo.
Quatro nomes (entre muitos outros) são dados aos diversos gêneros de
conhecimentos ou ciências esotéricas, mesmo nos Puranas exotéricos:
1º) Yajiiâ-Vidyâ (23), o conhecimento dos poderes ocultos despertados na
Natureza pela prática de certas cerimônias e ritos religiosos;
2º) Mahâ- Vidyâ, o Grande Saber, a magia dos cabalistas e do culto Tântrico
(muitas vezes, feitiçaria da pior espécie);
3º) Guhya- Vidyâ, o conhecimento dos poderes místicos residentes no Som
(Éter) e partindo dos mantras (preces, hinos, encantações, etc.) e que depende
do ritmo e melodia do canto; em outros termos, uma operação mágica baseada
no conhecimento das forças da Natureza e de sua correlação; e
4º) Atmâ- Vidyâ, termo esse que os orientais traduzem apenas por conhe-

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cimento da alma, sabedoria verdadeira, mas que na realidade significa algo
muito importante que só pode ser revelado a discípulos muito adiantados.
De todos, é o último o único gênero de Ocultismo a que deveria dedicar-se
todo teósofo que admira a Luz no Caminho - ou antes, O Verdadeiro Cami-
nho da Iniciação - e que deseja tornar-se sábio e altruísta. Tudo o mais não
passa de ramas das Ciências Ocultas, dessa arte baseada no conhecimento da
essência final de todas as coisas em todos os reinos da Natureza - minerat
vegetal e animal - de todas as coisas, portanto, pertencentes ao lado material
da Natureza, por mais invisível que seja essa essência e por mais difícil que
pareça à ciência encontrá-Ia.
A Alquimia, a Astrologia, a Fisiologia Oculta, a Quiromancia existem na
Natureza, e as ciências exatas - assim chamadas, talvez, porque, neste século
de paradoxais filosofias, se acha que elas são exatamente o contrário já de tais
artes descobriram mais de um segredo.
Mas a clarividência, simbolizada na Índia pelo Olho de Shiva e no Japão
denominada Visão Infinita, não é o hipnotismo, esse filho bastardo do
mesmerismo, nem poderia ser adquirida por intermédio de semelhantes artes
(24). Os demais gêneros de conhecimentos podem ser adquiridos com
resultados bons, maus ou nulos, sem que isso interesse a Âtma- Vidyâ ou lhe
ligue qualquer importância. Ela a todos engloba e de todos se pode servir,
depois de cuidadosamente eliminar qualquer elemento de fundo egoísta.
Expliquemo-nos melhor: qualquer homem ou qualquer mulher pode
dedicar-se ao estudo de uma ou várias das Artes Ocultas, acima enumeradas,
sem grande preparo anterior e sem mesmo se sujeitar a um gênero de vida
rigorosamente disciplinado. Não lhe é mesmo necessário possuir uma
moralidade elevada, muito embora, neste último caso, o estudante tenha dez
probabilidades contra uma para vir a ser perfeito mago negro ou feiticeiro, o
que o fará tombar de cabeça para baixo na magia negra - é o que pode acon-
tecer aos teosofistas que, como já dissemos, acham "amáveis e distintos" os
magos negros, frase com que os homou o então presidente da ST de Adyar ...
Mas que importa? Os vudus e os dugpas precisam comer, beber e divertir-
se, apesar do número enorme de vítimas de suas artes diabólicas. O mesmo
fazem os ilustres vivissectores e hipnotiza dores - e podemos juntar os adeptos
da opoterapia, tão em voga atualmente - saídos das academias de Medicina. A
única diferença entre as duas categorias de magos é

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que os vudus e os dugpas são conscientes - magos negros, portanto - e a
equipe de hipnotiza dores e cientistas, inconscientes - magos cinzentos ...
apenas até ao momento em que, avisados do crime que praticam, passam para
a categoria dos vudus e dugpas, uma vez que persistam na prática dos
mesmos crimes, na razão da sentença que diz: "a quem muito for dado, muito
será pedido". Entre esses magos inconscientes ou cinzentos está o
famosíssimo Charcot, da escola de Salpetril2re, "a maior fábrica até hoje
conhecida de psicopatas ... " (25)
Entretanto, como uns e outros colherão, fatalmente, os frutos de suas
façanhas com a magia negra, os praticantes ocidentais não deveriam, apenas,
receber a punição e a má fama ou desmoralização, mas ser também privados
dos prazeres e benefícios que tais processos lhes ocasionam. Porque,
repetimos, o hipnotismo e a vivissecção, tais como são praticados em nossas
Faculdades, não passam de atos de feitiçaria pura e simples, faltando aos que
a praticam, apenas, a sabedoria dos vudus e dos dugpas, que eles não
conseguiram obter nem em cinqüenta anos de estudos e acuradas
experiências.
Que aqueles, pois, que, compreendendo ou não a natureza da magia, a
queiram praticar, mas achem demasiadamente rigorosas as regras impostas
aos estudantes e ponham, por isso, de parte a Âtma- Vidyâ, continuem a achá-
Ia de nenhum valor e a agir sem seu auxílio. Que façam magos negros, se isso
lhes agrada, mas cônscios devem ficar de que serão vudus e dugpas durante
dez encarnações seguidas.
Mas o interesse dos nossos leitores se fixará, sem dúvida, sobre aqueles
que se acham irresistivelmente atraídos para o Ocultismo, sem, no entanto,
saber a verdadeira natureza daquilo que os atrai, nem ter ficado completa-
mente invulneráveis às paixões e verdadeiramente isentos de egoísmo.
Perguntareis: qual a razão de esses infelizes se sentirem assim atraídos em
sentido contrário, por forças opostas? Já muitas vezes se tem dito, para que
tenhamos necessidade de repeti-Io (e a evidência dos fatos se impõe a todo
observador), que, desde o instante em que acorda a aspiração para o
Ocultismo, desaparece do coração do homem a esperança de paz e em mais
nenhuma parte do mundo poderá encontrar repouso e tranqüilidade. Será
arrastado para o deserto árido e desolado da vida por uma incessante in-
quietação, que o atormentará sem para ela poder encontrar alívio. Se, por um
lado, seu coração repleto de paixões e desejos egoístas o não deixa transpor a
Porta de Ouro, por outro, também na vida ordinária, não pode mais

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achar paz nem repouso. Inevitável será, pois, cair na Magia Negra, acumu-
lando, por isso mesmo, um carma terrível através de múltiplas encarnações.

Johanna Seiler, de cujo corpo retiraram cem


milhões de demônios - melhor dito, larvas
astrais, que vivem parasitariamente no ovo
áurico de indivíduos involuídos ... - no ano de
1839. E isso, segundo consta nos anais da
polícia da cidade
de Friedberg, Alemanha.
A referida obsessionada possuía dons
verdadeiramente dignos de pavor: elevava-
se nos ares, sem motivo justificável, para
colher frutos, chegar a uma janela, etc.
Obedecia a inúmeras
vozes, que lhe davam ordens, cada qual
mais indigna. Era, finalmente, o tipo da
feiticeira, pois até cavalgava uma vassoura. No final da vida, isto é, nos seus
últimos momentos, deu um grito terrível e desatou numa
gargalhada que lhe some na garganta. Estava morta.
(Vide a maravilhosa tela de Brueghel, le vieux, intitulada Les Sorciere, as feiticeiras, na
obra de Cr. Lancellin, por sua vez intitulada La sorcellerie des campagnes).

Há um extenso trabalho intitulado Goecia, de Enediel Shaiah, amigo e admirador de


Rosa de Luna, que se recomenda aos que desejam saber o que é feitiçaria, suas causas e
os perigos a que leva os incautos. É obra rara.
Não haverá, então, para ele, outro caminho a seguir?
Em verdade, existe um, respondemos nós. Que não aspire a nada mais
elevado do que aquilo que ele se sinta capaz de realizar. Que não atire sobre
seus ombros um fardo demasiado pesado para as suas forças. Sem aspirar a ser
um mahâtma, um Budha ou um grande santo, limite suas aspirações ao estudo
da filosofia e da ciência da alma. E, mesmo sem nenhum poder sobre-humano,
poderá tornar-se um modesto benfeitor da humanidade. Os siddhis.{)u poderes
de Arhat são para os capazes de "viver a vida", de se sujeitarem aos terríveis
sacrifícios exigidos por semelhante controle e

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a tudo se submeterem integralmente. Que todos saibam, uma vez para sempre,
e disso jamais se esqueçam, que o Ocultismo ou verdadeira Teosofia é uma
grande renúncia de si mesmo, renúncia absoluta e sem condições, tanto em
pensamento como em ação. É o altruísmo que afasta, imediatamente, do mundo
dos vivos, aquele que o pratica. Não mais para ele, mas para o mundo passa a
viver, desde que assumiu semelhante responsabilidade. Magnanimamente é ele
perdoado durante os primeiros anos de provação. Mas logo que foi aceito, sua
personalidade desaparece, para se transformar numa força benfazeja da
natureza. Depois disto para ele somente existem dois pólos, dois caminhos, sem
que entre os dois encontre um lugar de repouso. Ou o discípulo galga,
penosamente, degrau a degrau - muitas vezes através de numerosas
encarnações, sem repouso devacânico nos intervalos - a escada de ouro que
conduz ao estado de Mahâtma (estado de Arhat ou de Bodhisattva) ou, ao
primeiro passo em falso, se despenhará pela escada abaixo, indo ter ao estado
de dugpa.
Tudo isto é ignorado ou inteiramente posto de lado ... Com efeito, qualquer
um que esteja em condições de observar a silenciosa evolução das aspirações
preliminares de um candidato, logo se apercebe das estranhas idéias que
tranqüilamente se apossam do seu cérebro. Existem pessoas cujas faculdades de
raciocínio foram de tal forma abaladas por influências estranhas que chegam a
ponto de supor a possibilidade de sublimar e elevar as paixões animais, a ponto
de fazer com que sua força, sua violência, se voltem, por assim dizer, para o
interior; julgam possível guardar armazenadas, recolhidas em seu seio essas
forças, até que suas energias sejam aplicadas para fins mais elevados e mais
santos; ou melhor, até que sua força coletiva acumulada permita ao seu
possuidor a entrada no santuário da alma e aí se manter na presença do Mestre,
do Eu-Superior! E, apoiados em tais princípios, não lutam contra suas paixões,
nem fazem o menor esforço por destruí-Ias. Preferem, à custa de um violento
esforço de vontade, sufocar a violência e o ardor das paixões, conservando-as
encerradas em si mesmo, em estado latente, adormecidas apenas sob a frágil
camada de cinzas. Submetem-se, prazenteiramente, à tortura da criança
espartana que preferiu que as próprias entranhas fossem devoradas pela sua
raposa a ter que separar-se dela.
Ó pobres cegos visionários, vossa esperança é ilusória! O mesmo seria
esperar que num santuário ornado de alvíssimas toalhas e perfumosas flores
pudesse permanecer um bando de limpa-chaminés, ébrios e cobertos de suor e
que, ao invés de macular o santuário e transformá-Io num mon-

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tão de trapos sujos, eles dali saíssem tão puros e imaculados como o santo
lugar. Pode-se admitir que uma certa manada de porcos, aprisionada no puro e
místico ambiente de um templo, saia daí impregnada de todos os perfumes que
nele são queimados? .. Estranha aberração do espírito humano. É possível tal
causa acontecer?
Raciocinemos. O Mestre, no santuário de nossas almas, é o Eu-Superior
(26), Espírito Divino cuja consciência, ao menos durante a vida terrena do
homem em que Ele se acha aprisionado, se deriva do puro mental e é este o
princípio em que nos baseamos para lhe chamar alma humana (a Alma
Espiritual sendo veículo do Espírito). Por sua vez, a alma humana ou pessoal é!
em seu aspecto superior, um composto de aspirações espirituais, de volições de
amor divino; e em seu aspecto inferior! de desejos animais e de paixões
terrestres devidas a suas relações com o corpo que dela é sua sede ... Torna-se!
assim, o laço e o meio de comunicação entre a natureza animal do homem, que
sua razão superior procura subjugar e sua divina natureza espiritual para a qual
ela gravita cada vez mais e através das lutas que, de cima, é forçada a manter
com o animal inferior - "a besta rugidora e apocalíptica". Este último é a alma
instintiva animal com as "garras candentes" de suas paixões apenas
adormecidas e não destruídas, como vínhamos dizendo, e que certos entusiastas
imprudentes guardam enjauladas em seu coração. Esperarão, ainda! tais
pessoas! transformar tão imunda esterqueira em puras e cristalinas águas de
vida?
E qual é o terreno neutro onde elas poderiam ser aprisionadas de maneira a
ser-lhes impossível afetar o homem? As furiosas paixões de amor e de luxúria
(27) continuam ainda vivas e, por isso mesmo, condenadas a permanecer no
lugar de sua origem: essa mesma alma animal; mas, tanto a parte superior como
a parte inferior da alma humana (mental) repelem tais habitantes! embora lhes
não possam evitar a promiscuidade e deixem-se de ficar maculadas com essa
vizinhança. O Eu-Superior ou Espírito é também incapaz de assimilar tais
sentimentos, como a água de se misturar com o azeite. E! assim! o mental-
único liame e meio de ligação entre o homem terreno e o Eu-Superior - ou
Homem Divino - é a única vítima e se acha em constante perigo de ser arrasta-
do para baixo por essas paixões - que podem ser despertadas a qualquer mo-
mento -, para morrer no abismo da Matéria. E como poderia ele colocar-se em
diapasão com a Harmonia Divina! do Princípio o mais elevado, se basta a pre-
sença de semelhantes paixões animais, no santuário em preparação! para des-
truir essa harmonia? E como poderia esta prevalecer e vencer! uma vez que a

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alma se acha impura e transtornada pelo tumulto das paixões e dos desejos
terrenos dos sentidos físicos ou mesmo dos sentimentos do homem astral?
Porque esse Astral, o duplo fantasmagórico (tanto no homem como no
animal) não é absolutamente o companheiro do Ego divino e sim do corpo
terreno. É o liame entre o eu-pessoal, a consciência inferior de Manas e o corpo
e, por isso mesmo, veículo da vida transitória e não da vida imortal. Tal como a
sombra projetada pelo homem, segue ele, servil e automaticamente, seus
movimentos e impulsos, tendendo sempre para a matéria, sem jamais se elevar
para o Espírito. Só quando o poder das paixões se acha inteiramente morto e
estas totalmente aniquiladas pela força de uma vontade inflexível; só quando,
não apenas todos os desejos e atrações pela carne forem mortos, mas também
esmagado o sentimento do eu-pessoal, e a importância do astral reduzida a zero
- esse Astral tão querido e apregoado pelos espíritas e, porque não dizer? pelos
falsos rosa-cruzes ... ; só então se pode ver realizada a união com o Eu-
Superior. Só então - não se refletindo no Astral mais do que o "homem
vencido", a personalidade sempre viva, porém não mais agitada por desejos
egoístas - o radioso Augoeides, o Eu-Divino, pode vibrar em harmonia
consciente com os dois pólos da Entidade humana (o homem material
purificado e a alma espiritual eternamente pura) encontram-se na presença do
Eu-Mestre, o Cristo do misticismo gnóstico, imerso n' Ele, uno com Ele para
sempre (28).
Como seria possível, pois, imaginar-se que um homem possa transpor a
"porta estreita" do Ocultismo, enquanto seus pensamentos de cada dia, de cada
hora, se achem absorvidos por assuntos puramente terrestres, desejos de posse
ou domínio, de cobiça, de sensualismo e mesmo de ambições e deveres que, por
mais honestos que sejam, pertencem ainda à Terra?
A satisfação pessoal, a dos sentidos e mesmo a do mental, concorre para a
perda da faculdade do discernimento espiritual; a voz do Mestre não pode mais
ser distinguida das nossas próprias paixões (tal como acontece a um dugpa),
nem o bem do mal, ou a sã moral da pura e simples casuística. O fruto do mar
Morto assume a mais esplêndida aparência mística, mas isso para se
transformar em fel nos lábios e em cinzas no coração, tendo como resultado:
"Abismos cada vez mais profundos: trevas cada vez mais espessas; a loucura
em lugar da Sabedoria; o crime em lugar da inocência; a angústia substituindo o
êxtase, e o desespero, a esperança" ...

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E tendo-se uma vez enganado e agido de conformidade com seus erros, à
maioria dos homens repugna dar-se conta da falta cometida- ao contrário, de
todos a escondem, a si mesmo enganando - e isto a leva a mergulhar cada vez
mais no lamaçal de seus desmandos. E mesmo que seja a "intenção que decida
sobre se magia deve ser considerada branca ou negra", os efeitos da feitiçaria,
mesmo inconsciente e involuntária, não deixarão de produzir carma. Já temos
procurado demonstrar que a feitiçaria é toda a influência má exerci da por
pessoas que sofrem ou façam, conseqüentemente, sofrer a outras. O carma é qual
pesada rocha lançada nas águas tranqüilas da vida e os círculos deste modo
produzidos se alargam incessantemente até o infinito. As coisas assim produzidas
devem infalivelmente originar efeito, e estes serão revelados pela Lei eqüitativa
da Retribuição.
Tal coisa poderia, em grande parte, ser evitada, bastando para isso deixar-se de
praticar atos cuja importância e natureza se não compreendem. Ninguém é
obrigado a carregar um fardo que ultrapasse suas forças e seus poderes. Existem
magos natos, místicos e ocultistas de nascença e por direito de herança,
provenientes de um longo tirocínio praticado, através de sofrimentos e revezes,
durante muitas encarnações e mesmo eons sem conta - eon ou idade cósmica
eqüivale a dez milhões de anos. Estes são, por assim dizer, invulneráveis às
paixões. Nenhum fogo de origem terrestre lhes pode despertar a chama de
qualquer sentido ou de qualquer desejo; nenhuma voz humana achará eco em suas
almas, exceto o imenso queixume da Humanidade. Somente esses têm o sucesso
assegurado. São, porém, poucos. Transpõem a porta estreita do Ocultismo porque
não se acham sobrecarregados de nenhuma bagagem pessoal de sentimentos
humanos, transitórios. Livres do sentimento da personalidade inferior,
paralisaram o animal astral; e a Porta Dourada, embora estreita, para eles se abriu
de par em par. O mesmo não pode acontecer àqueles que devem ainda conduzir,
durante várias encarnações, o pesado fardo das faltas cometidas nas vidas
anteriores e mesmo na atual. Porque para estes, a menos que procedam com
extrema prudência, a Porta de Ouro da Sabedoria pode transformar-se na porta
larga e caminho espaçoso que leva à destruição; e, por isso, tão grande é o
número dos que por ela penetram. É a porta das Artes Ocultas - más ou das
"malasartes", como as daquele Pedro da história bem conhecida, lembramos nós
-, praticadas com fins egoístas e sem a influência moderadora e benéfica da
Âtma-Vidyâ. Estamos em plena Kali- Yuga e sua nefasta influência é mil vezes
mais poderosa no Ocidente do que no Oriente lembramos que o livro que estamos
traduzindo e comentando foi escrito há

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mais de sessenta anos; daí, o grande número de presas fáceis que, na presente luta óclica - por nós chamada de
"apodrecida e gasta", por estar justamente no fim, como um ciclo racial menor dentro da mesma Kali- Y uga -,
sucumbem aos poderes da Idade das Trevas; donde, ainda, as múltiplas ilusões de que sofre atualmente o mundo - que
diria a autora se vivesse em nossos dias?! ... Uma delas é essa idéia de supor-se relativamente fácil alcançar a Porta e
transpor os umbrais do Ocultismo sem sacrifício de grande importância. Este é o sonho da maioria dos teósofos - neste
caso, teosofistas -, sonho inspirado no desejo de alcançar poderes excepcionais e no egoísmo pessoal. E não são estes os
sentimentos de que se deve dispor para alcançar o fim almejado. Foi Aquele que se acredita como sacrificado pela
humanidade (29) quem disse: "estreita é a porta e estreito é o caminho que conduz à vida eterna" e por isso "pequeno é o
número dos que a encontram". Tão estreita, na realidade, que os candidatos ocidentais, logo às primeiras dificuldades,
recuam ou fogem apavorados (30).
Que eles se deixem ficar onde estão e não tentem fazer mais do que aquilo que lhes é permitido pela sua grande
fraqueza. Porque se, tendo voltado as costas à Porta Estreita, permitem que sua atração pelo Ocultismo os encaminhe
para o Portal mais largo e mais sedutor, por ser o desse dourado mistério que resplandece com a luz da ilusão,
desgraçados deles! Tal passo só os poderá conduzir ao estado de dugpa, à feitiçaria; e certo podem estar de palmilhar em
breve o caminho fatal do Inferno, desse Inferno sobre cujo portal leu Dante as seguintes palavras:

Per me si va ne Ia cittá dolente, per me si va ne I' etterno dolore, per me si va


tra Ia perduta gente.

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Capítulo 1

PREÂMBULO

Um laço misterioso une a natureza celeste à natureza terrestre -


Humboldt.

o presente artigo possui três aspectos ou faces distintas que se fundem numa
só, tal como a Trimurti indiana (Brahmâ, Shiva e Vishnu), a Trindade Cristã (Pai,
Filho e Espírito Santo), as três Parcas ou Normas (Cloto, Láquesis e Átropos) as
quais, no tear da vida, respectivamente, a primeira fiava, a segunda enrolava o fio
e a terceira o cortava; ou ainda, as três forças: centrípeta, centrífuga e
equilibrante. A mais valiosa expressão, porém, desses aspectos encontramo-Ia
nos três mundos: físico, astral (anímico ou psíquico) e espiritual, que deram ao
homem, com esses mesmíssimos nomes, sua tríplice natureza.
Assim, das suas três faces, uma se acha voltada para os deuses (o céu, o
mundo espiritual) e por isso mesmo espesso é o véu que a encobre; a segunda,
semivelada, volta-se para os homens que andam em busca daqueles mesmos
deuses e, portanto, aptos a desvendar-lhe o sentido mais ou menos claramente,
segundo o grau de consciência em que se encontrem e mais viva tenham na
memória a iniciática frase "deuses fomos e nos esquecemos", Finalmente, a
terceira volta-se para os homens vulgares capazes de se despreocupar, por alguns
instantes, das ilusões da vida material e dedicar sua atenção às coisas de real
valor, únicas onde tudo se tem a ganhar e nada a perder.
Mistério ...
Há milênios, dizia Hermés a seu discípulo Asclépias:

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"Aqueles que devem dominar a Terra serão enviados e estabelecidos na
extremidade do Egito, em uma cidade construída no Ocidente e .. , onde por
mar e por terra afluirá a raça mortal",
Asclépias - Mas onde estão eles agora, ó Trimegisto?
Hermés - Estabelecidos em uma grande cidade, na montanha da Líbia.
E já vos falei demais sobre tão misterioso assunto ".
Do mesmo modo, há perto de meio século, terminando sua célebre profecia,
nos disse o Rei do Mundo (32):
"Então enviarei um povo agora desconhecido que, com mão firme, arran-
cará as más ervas da loucura e do vício e conduzirá os que ficarem fiéis ao
espírito do homem na batalha contra o mal... Fundarão eles uma vida nova
sobre a Terra, purifica da pela morte das nações" - com vistas ao que se está
passando no mundo e que, diga-se de passagem, é apenas o começo ...
São ainda de HPB, na sua Doutrina Secreta, as seguintes palavras (pág. 27 do 1
Q vol., ed. francesa):

"No século XX, um outro ser, mais instruído e mais apto, será talvez
enviado para dar as provas finais e irrefutáveis de que existe uma ciência
chamada Gupta-Vidyâ".
Como já fartamente demonstramos! Gupta- Vidyâ é a própria Teosofia, ci-
ência essa cuja Verdade, semelhante às fontes misteriosas do Nilo, permaneceu,
durante longas idades, esquecida e perdida para a humanidade.
Entre as profecias, exclusivamente nossas e todas relacionadas com o mo-
mento atual do mundo, aparece no artigo Ontem e hoje ou o Poder Temporal e o
Poder Espiritual, publicado em Dhâranâ, números 52/66 (abril de 1930 e junho de
1931), o seguinte trecho:
"Dentro em breve assistiremos ao choque tremendo entre duas forças
contrárias (aparentemente, visto que "os extremos se tocam") que desde já se
dão combate: o Bolchevismo ou materialismo bravio e o Fascismo, ma-
terialismo não menos bravio, mascarado, porém, de espiritualismo ... O
choque entre essas duas forças arrastará a Igreja ao abismo fatal da morte.
Mas ... dessa luta sairá uma terceira potência, como expoente máximo da
espiritualidade: a Teosofia ou Doutrina Arcaica, Saber Divino ou Superior,
que sublima e regenera o homem, elevando-o às regiões ultra-físicas do
Universo. E esta Verdade, embora jamais compreendida, foi pregada pela
boca de todos os Iluminados que a este mundo vieram!" (33).
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Nos dias atuais, Índia e Egito despertam! Ambos repletos de enigmas ... que
parecem trazer em si a única solução às questões impostas pelos destinos hu-
manos. Uma, através dos seus pontífices misteriosos, seus deuses vivos,
Mahâtmas, homens que lêem no livro terrível do Carma ... O outro, através dos
túmulos profanados de seus reis e deuses, dos mistérios insondáveis de suas multi-
seculares pirâmides e esfinges e ... dos seus imensos areais, testemunhos mudos
de toda uma prodigiosa civilização que já se foi! ...
Assim, esse oceano de centenas de milhões de seres humanos se ergue em
vagas monstruosas, como se fora sorver a humanidade inteira ...
Carma vai abrir uma nova página na História! (34)
Descubramo-nos: Om Mani Padme Hum!

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Capítulo 2

o GRANDE CHOQUE
11A humanidade civilizada, por mais cuidadosamente amparada que esteja
por seus invisíveis guardiães, os Nirmânakâyas brancos, que incessantemente
velam sobre raças e nações, encontra-se, entretanto, em conseqüência do seu
carma coletivo, terrivelmente submetida à influência dos tradicionais
adversários, os Nirmânakâyas negros ou Irmãos da Sombra, encarnados ou
desencarnados. E essa situação, como já foi dito, durará até o fim do primeiro
ciclo da Kali- Yuga (1897), indo mesmo um pouco mais além - muitíssimo
mais longe, afirmamos nós, visto que a referida idade prolonga seus efeitos
pelo ciclo imediato, distanciando-se tanto mais quanto maior for o carma que
sobre ela pesar -, até que o pequeno ciclo obscuro se funda no grande. Desse
modo e a despeito de todos os esforços, terríveis segredos são muitas vezes
revelados a pessoas positivamente indignas de os receber... graças aos esforços
dos referidos Irmãos da Sombra e sua nefasta ação sobre os cérebros humanos.
Este fato é devido, unicamente, a que, em certos organismos privilegiados, as
vibrações das verdades primitivas, reveladas pelos Seres Planetários, se acham
em atividade sob a forma que a filosofia ocidental denomina de idéias inatas, e
o Ocultismo, de lampejos de gênios. Essas verdades pairam no ar e tudo quanto
podem fazer as Potências que velam pela humanidade é impedir sua completa
revelação A Doutrina Secreta, H. P. Blavatsky.
11 -

De há muito que as forças do Mal vêm submetendo o globo ao seu domínio


cruel. E, com isso, procurando destruir a Obra grandiosa dos deuses. Mas os
tempos esperados já chegaram para o grande choque entre as duas forças con-
trárias: as do Bem e as do Mal.
Rechaçados por todos os lados; afugentados dos covis onde se ocultavam,
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os representantes das sombras espalham-se pelos quatro cantos do Mundo. Aqui,
além, por toda parte, enfim, eles buscam asilo seguro ou terreno fértil onde possam
espalhar a semente do Mal.
Os bacilos transmissores da Peste Negra invadiram todos os lugares, pene-
trando, principalmente, nos poucos ainda considerados de valor, para realizar a
obra nefasta da demolição. Destruição é o seu lema, de acordo com o limitado
estado de consciência que possuem e, para levar a bom termo seus intuitos, põem
em ação o jargão maldito "Dividir para governar", forçando seus adversários de
todas as épocas a resistir-Ihes com a sentença oposta e espiritual "Unamo-nos, para
resistir".
Não formam nenhum núcleo à parte, pois representam as próprias mazelas do
mundo, ou melhor, tudo quanto a humanidade tem feito em seu próprio detrimento.
São as tempestades provenientes dos \'entos que os homens semearam.
Manifestam-se de dois modos: como encarnados e como desencarnados.
Como desencarnados, atuam com mais facilidade, porque, além da sua
intangibilidade, dispõem dos fracos, dos tímidos, daqueles a quem poderíamos
classificar de "impúberes psíquicos" (almas ioyens) ou mentalidades doentias
pertencentes aos que se fizeram retardatários na Vereda da vida: os desorientados
de todas as classes, para não dizer os últimos vestígios das civilizações extintas ...
Eles se banqueteiam fartamente nas sessões de animismo, erradamente chamadas
de espiritismo, onde 3e ce'.-am nesses pobres médiuns, em geral muito bem
intencionados, mas ... yít:i1r,as inconscientes de toda espécie de "vampiros astrais",
que muitas nzes se apresentam com o rótulo de protetores, mestres, anjos da guarda
e outros títulos de que se servem as jerarquias superiores e que eles,
ofensivamente.< utilizam para melhor iludir os incautos. Muitíssimo pior e mais
nefasto ainda quando têm por campo de ação a baixa magia, mais conhecida pelo
nome africano de macumba, cujo poder de atração chegou ao ponto de alcançar
toda essa gente que perdeu o último resquício de espiritualidade. Ali, a própria
mocidade,. cujo futuro temos o excelso dever de constantemente velar e é nossa
mais sagrada missão, por todos os meios, defendê-Ia, corre perigo de ser atingida e
pernrtida. E esse perigo se vê aumentado ante a dificuldade em distinguir o falso do
yerdadeiro, o útil do pernicioso, pois tudo se apresenta sob o róhtlo atraente de
puro espiritualismo. As próprias associações secretas ou pseudO-OCltltistas, com o
intuito de engrossar as suas fileiras, procuram dar satisfação à própria vaidade e
impor-se à
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admiração das massas ignorantes e embrutecidas, desenvolvendo os poderes
psíquicos ou adquirindo siddhis, de que só os Adeptos podem ser possuidores,
como já fartamente demonstramos. E isso concorre para aumentar o
embrutecimento dos freqüentadores de tais associações, devido às emanações
mortíferas das regiões inferiores do astral!
Como encarnados, eles se apresentam com os títulos de católicos, protes-
tantes, judeus, muçulmanos, budistas, bramanistas, positivistas, maçons,
teosofistas, etc., pois as intenções que os animam nada tem que ver com as
diversas máscaras com que se apresentam e de que se servem para estabelecer a
confusão, fomentar o ódio, endeusar a mentira e levar à ruína moral toda a
humanidade ... E tudo isso é magia negra, visto que "são os fins que justificam a
espécie de magia praticada", como já dissemos: Branca, se para o bem, negra, se
para o mal.
Intolerância, desrespeito para com as crenças alheias, dirão muitos que não
tenham inteligência bastante para interpretar o verdadeiro sentido de nossas
palavras e esbravejarão hipocritamente aqueles que, compreendendo-nos, se
acham enfileirados entre os Irmãos da Sombra. Serão eles, por acaso, mais res-
peitosos e tolerantes para com aqueles que se não acham alistados nas suas
fileiras? Ou, pelo contrário, os amaldiçoam e repudiam, não propriamente por
motivos de crença, mas temerosos da "concorrência desleal" que possam fazer
ao seu vil comércio com as coisas divinas? Vendilhões do Templo, chama-los-ia
o mesmo Jeoshua, empunhando o látego moralizador.
Desse número não fazem parte os materialistas das várias escolas, porque
estes negociam apenas com a própria consciência, nublada ou eclipsada pelos
interesses da vida material, que se sintetiza em tudo quanto a mesma possui de
ilusório, mas que eles não desejam perder por nenhum preço. Daí o seu
desinteresse pelas coisas superiores ou divinas. Receiam que uma descoberta
qualquer lhes venham refrear os gozos materiais - únicos que eles têm como
verdadeiros - ou lhes desvende um novo horizonte de luz diante dos olhos até
então obscurecidos. Tal descoberta os desviaria da sua rota, forçando-os a uma
atitude deprimente perante os seus admiradores, prosélitos ou discípulos. Esse
perigo eles o evitam sorrindo superiormente de tudo quanto traga laivos de
espiritualismo.
Na sua alma repleta de orgulho e vaidade preferem morrer asfixiados no

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pântano imundo de suas aberrantes convicções (a que se aferram, evitando
indagações e estudos, apesar de nos acharmos, como eles tantas vezes dizem, no
"século das luzes" ... ) a estender o braço para que mão amiga os possa salvar de
tão indigna situação. De atitude tão contrária ao plano de evolução hão de se
arrepender um dia, pouco importa quando e como.
Não pode haver tolerância nem respeito para com o mal reinante, causa de
todas as desgraças humanas oriundas da superstição e do fanatismo, filhos da
ignorância! Se respeitássemos o mal e o tolerássemos, como poderíamos avocar,
como outros muitos, bem intencionados, o título de "Obreiros ou Construtores do
Edifício Humano"? Seríamos, antes, os primeiros a afastar-nos da Lei a quem
servimos e defendemos!
Número prodigiosamente grande é o dos verdugos da humanidade, exa-
tamente porque prodigiosamente grande é a eshlpidez humana. É ela que concorre
para que os verdugos se multipliquem cada vez mais e nós os devemos considerar
como os animais daninhos que destroem os campos já semeados pelos bons
lavradores!. .. Estes, porém, embora "anjos caídos" ou "divinos rebeldes",
sacrificados pela própria Lei, não permitirão, jamais, o horrível destino que se
prepara para a humanidade! Cabe-lhes livrar da escravidão os que se acham
ameaçados, restituindo aos que habitam aquém das" colunas de Hércules"
(melhor dito, fronteiras) a salvação e a liberdade, tal como já tem acontecido em
outras épocas, inclusive a assinalada no poema épico Mahâbhârata (o Bhagavad-
Gftâ), com estas palavras:
"Subitamente, responderam, em tumultuosos sons as conchas marinhas, os
címbalos, tambores, tamborins e comas bélicos. Então, Mahâdeva e o filho de
Pandu, de pé sobre seu carro arrastado por canlos brancos, sopraram as suas
divinas conchas. Aquele tumultuoso estrondo abateu os corações dos filhos de
Dhritarashtra, estremecendo céu e terra com seus sons:"
Poderão os Râkchasas negros - contrariamente ao que aconteceu outrora -
destruir os anjos ou devas luminosos? Irá a tirania esmagar, sob seu carro de
guerra, a elite? Poderá o ciclone das más paixões destruir o altar védico, extin-
guindo/ assim, o Fogo Sagrado dos nossos antepassados? Não é possível, muito
embora os inimigos dos deuses estejam escudados pelo trágico período da Kali-
Yuga ou Idade Negra ...
Os terremotos, as inundações, as pragas, as pestes desconhecidas e, sobretu-

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do, as guerras tremendas que hoje em dia assolam os velhos continentes, ao mesmo
tempo que nos denunciam a destruição de uma civilização apodrecida e gasta nos
revelam o choque inevitável dos guerreiros divinos com as hastes do mal...
É o momento decisivo do Juízo Final, como diria a Igreja. Trata-se, na reali-
dade, do julgamento feito pelo Espírito de Verdade, através da "salvação dos bons e
destruição dos maus", como Ele mesmo o prometeu a A~una, naquela passagem do
Bhagavad-Gftâ, tantas vezes por nós citada, inclusive neste estudo. Isso sempre foi
feito em todos os ciclos em que se divide a vida universal.
Está próximo o dia em que esta humanidade infeliz clamará no deserto as
memoráveis palavras atribuídas a Jesus: Eli, Eli, Lamma Sabachtani!, isto é, "meu
Deus, meu Deus, por que me abandonais?/1
E o eco, provindo das regiões inferiores, qual acusação final ao irremedia-
velmente perdido (35) será o único a responder: Não vedes que fostes vós que O
abandonastes, por jamais O terdes procurado em vós mesmos? É tarde demais para
retrocederdes! Preferistes a vereda mais fácil e foi ela quem vos desviou do Portal
de Ouro das Iniciações. E palmilhando o falso caminho, chegastes à caverna
sombria onde vivem os demônios de vossa própria consciência e em cujo portal leu
Dante estas palavras que mais uma vez citamos:
Per me si va nela cittá dalente, Per me
si va nell' eterno dalare, Per me si va
tra Ia perduta gente.
Transposto o tenebroso portal, para sempre se perderam todas as esperanças,
segundo dizem aquelas outras palavras:
"Lasciate ogni speranza, vai ch' entrate! ... /1

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Capítulo 3

o ALVORECER DE UMA N OV A ERA


Sinais visíveis, na natureza e na ordem social, pressagiam o advento de um novo ciclo. Todos eles e
mais alguns avisos evidenciam o fim de um ciclo racial e conseqüente aparecimento de uma nova raça, ou
antes, de duas que se interpenetram, por serem as últimas de um ciclo maior.
É óbvio dizer, podendo todos notar, que está à porta "o fim dos tempos", de que falam os livros
sagrados, até mesmo a Bíblia, compilação adulterada daqueles. As totais modificações por que tudo está
passando são demasiado patentes para que sobre isso haja necessidade de insistir. Todas as predições assi-
naladas, desde tempos remotíssimos, ajustam-se maravilhosamente à nossa época, no que diz respeito aos
terremotos, vulcões, epidemias, fome, amoralidade, guerras e tudo quanto constitui o lastro da vida atual.
Há, porém, certos fatos, a priori sem valor, que vêm confirmar a nossa tese.
Sirva de exemplo o ressurgimento do continente lemuriano, berço de florescente civilização que
desapareceu nas águas revoltas do Pacífico, faz alguns pares de milênios. As ilhas de Bagoslof emergiram
próximo do Alaska, rapidíssimas, elevando-se a 1000 pés (*) acima do nível do mar. Em 1882, um soluço
do oceano fez brotar outra ilha perto daquelas.
No curto prazo de dez meses houve 1071 tremores de terra oriundos das convulsões nas mesmas
águas. (Se juntarmos os havidos depois da época em que escrevemos o presente artigo, teremos um
número assombroso que nos dispensamos de apontar). Por ocasião das grandes viagens (primeira metade
do século XIX) viram-se mais duas formações, posteriormente desaparecidas.

(*) Cerca de 300 metros. (N. da E.)

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A primeira fora notada por um baleeiro em 1841, a 51 ° 20' de latitude sul e 120° 20'
de longitude oeste (Dougherby). A segunda (arquipélago Nemod), descoberta em
1823, a 58° 20' de latitude sul e 158° 5' de longitude oeste. Apesar da viagem
expressamente feita pelo vapor Carnegie, de Washington, nada mais se divisou na
zona indica da. O caso mereceu a atenção da The British Association for the
Advancement of Science, de Londres, que se reuniu para investigar a possibilidade
do estranho fenômeno.
Juntai a isso a pugna de armas a que assistimos em 1914, durante a qual metade
do mundo se cobriu de luto, e as conseqüentes grandes reivindicações nacionais -
coisas que, apesar de muito horrorosas, não passavam dos pródromos daquilo por
que atualmente está passando a humanidade ...
O general AlIenby, chefe dos exércitos revolucionários ingleses na Palestina,
liberta Jerusalém, a 10 de dezembro de 1917, do jugo pagão, marcando o termo do
domínio otomano - vide o que a respeito dizem as profecias do Rei do Mundo.
Naquele tempo chegou a constar até que os israelitas, com o apoio britânico,
pretendiam cidadanear-se à sombra da antiga pátria. (A quantos horrores se ex-
puseram daquela época até hoje, através das perseguições constantes que lhes não
permitem uma segunda pátria, onde quer que seja?! ... ) A questão Alsácia-Lorena,
eterno embate e tropeço das grandes potências da Europa,resolvida em definitivo
(?). A Polônia, escrava e partilhada desde Kosciuzco (1794-95), reconstituída pelo
acordo dos gabinetes aliados, assinado em Versalhes a 3 de junho de 1918, com
adesão imediata do Brasil. (Pobre Polônia, tu e outras mais, inclusive a
Tchecoslováquia, de bem curta duração foi tua liberdade!). O problema constante
dos Balcãs, muito principalmente na sua feição Yugo-Eslava, T euto- Austríaca
(hoje confirmados por meios mais suasórios ou do "manda quem pode" ... ), recebeu
o último demonstrandum. A Rússia, sacudida pelas convulsões cármicas, originadas
desde tempos sem conta, à custa do chicote e do frio mortal da Sibéria, pensa
destruir o jugo tirânico que pesava sobre seus ombros, utilizando meios igualmente
despóticos, como o saque, o incêndio, o morticínio, funesto cortejo de todas as
revoluções. Para isso se serve de um termo espiritualizado, "a fim de melhor ser
aceito pelo mundo", segundo afirmação do próprio Lênine, em vez de Bolchevismo,
que é o verdadeiro.
Daí, toda essa ânsia incontida em encontrar um ideal capaz de resolver o
problema da felicidade humana, coisa que só pode ser conseguida através das
persuasivas armas do Amor, da Renúncia e do Sacrifício, para não dizer, por
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intermédio do Amor, da Sabedoria e da Justiça.
Já dizia o grande defensor da paz universal que foi Emile Zola:
"É pelo livro e não pela espada que a humanidade vencerá a mentira e a
injustiça e conquistará a paz final da fraternidade entre os povos" (36).
Finalmente, dizíamos no velho artigo que estamos transcrevendo, procura-se
achar uma solução para a corrida armamentista, que está arruinando os povos e
resolver outros problemas igualmente causadores da desarmonia entre os homens.
Há, pois, uma tendência para mudança imediata da vida, não obstante nos acharmos
longe da Idade do Ouro ou Satya- Yuga e atravessarmos um ciclo onde tudo é
mutável, inclusive posições ou cargos, por mais elevados que sejam. ..
Procuremos, porém, demonstrar se essa mudança estava previamente anunciada:
se é, agindo de acordo com a Lei dos ciclos, o instante sumo e quais as resultantes
contingentes.
Já nos antigos manuscritos indianos a verdade das revelações globais estava
contornada, como se vê da promessa do Espírito de Verdade, quando pela boca de
Krishna, este diz a seu discípulo Arjuna, no Bhagavad-Gftâ, a profecia que mais uma
vez somos obrigados a repetir:
"Todas as vezes, Ó filho de Bhârata! que Dharma - a lei justa - declina, e
Adharma - a lei injusta - se levanta Eu me manifesto, para salvação dos
bons e destruição dos maus. Para restabelecimento da Lei, Eu nasço em
cada yuga" - idade.
Em outro lugar de diferente códice é afirmado, à guisa de prognóstico sobre a
obra da manifestação:
"Não mais a observância das regras antigas; perdas das crenças, atração
para as coisas materiais, em lugar das preocupações do espírito; aumento
das responsabilidades; diminuição dos bens da terra, enfraquecimento da
vitalidade dos três reinos".
Há, portanto, de acordo com o previsto pelos mesmos textos, uma manifestação
da divindade no plano físico, pouco importa se através de um movimento da mais
transcendente espiritualidade ou se por intermédio de um desses Grandes Seres que,
de tempos em tempos, aparecem no mundo, pondo de parte qualquer idéia de um
messias ou instrutor, como aquele apontado por Besant e Leadbeater, do qual já
falamos noutros lugares deste estudo, e que não passou de um "aborto de
Bodhisattva" ...

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É prova desta nossa afirmação o que disse esse mesmo Espírito de Verdade
em outros lugares: "E meu Espírito pairará sobre a Terra". Isto não pode ser
confundido com uma pessoa ou coisa semelhante.
Aliás, os mesmos hindus fracionam a história geral em ciclos maiores ou
menores, segundo o tempo de seu predomínio. Dos maiores, são principais a
Idade de Ouro (Satya ou Kríta), a de Prata (Tetra), a de Cobre (Dwápara) e a de Ferro,
também chamada Negra (Kalí), durando esta última 432 mil anos. Entre as
menores, há as de 100 e até 50 anos, das quais pouco se ouve falar, conhecidas
que são apenas pelos Iniciados nos Grandes Mistérios. Esta última, por exemplo,
é chamada de Florescência dos Lótus, através da tradição de "um novo Ser que
surge no mundo com missão especial".
No começo de cada um desses curtos períodos, um movimento surge entre os
homens, tendente a deter a vaga impetuosa da materialidade avassaladora. A
decadência cíclica dos nossos dias, demonstrada pelos horrores a que assistimos e
que os atuais senhores do mundo não souberam prever nem, muito menos,
remediar, exigia o aparecimento desse movimento salvador que nós,
determinadamente, afirmamos estar representado pela STB.
Tais Movimentos, efetuados ciclicamente, não podem passar despercebidos a
quem estude a história humana dos últimos séculos. Recordemos alguns deles,
para maior elucidação de quanto vimos apresentando como provas claras,
visíveis, da passagem de um ciclo para outro.
Século XIV - O trabalho grandioso de Christian Rosenkreutz, fundador da
Rosa-Cruz na Alemanha. Hoje, ela se acha em lugar ignorado dos próprios que
por aí se intitulam de "verdadeiros rosa-cruzes". O fato é que Rosenkreutz não
levou a sua missão avante, pois teve que fugir.
Século XV - A Renascença e as grandes invenções - melhor dito, grandes
descobertas, pois ninguém inventa coisa alguma, e sim, descobre, de acordo com
o níhíl noví sub sole ... A descoberta da América por Cristóvão Colombo, como
marco inicial do Movimento em prol da 6ª sub-raça, hoje em pleno
desenvolvimento na América do Norte.
Século XVI - A Restauração; as obras de Robert Bayle e a fundação da Soci-
edade Real de Ciências da Inglaterra. A descoberta do Brasil por Pedro Álvares
Cabral, primeiro passo para a formação da 7ª sub-raça ariana na América do Sul,
de que a STB é, presentemente, seu núcleo central.
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Século XVII - O Ocultismo da Renascença. A Revolução de Olivier Cromwell,
na Inglaterra.
Século XVIII - A Revolução Francesa, exatamente um século antes da brasileira
(1789-1889) e a mágica trajetória dos condes de Cagliostro e Saint-Germain,
através do mistério do Lilium Pedibus Destruens.
Século XIX - O aparecimento de Helena Petrovna Blavatsky, a mulher
incompreendida a quem Rosa de Luna cognorninou de "mártir do século XIX",
trazendo para o Ocidente o facho sagrado da Sabedoria Iniciática das Idades, ou
seja, a Teosofia e fundando a The Theosophical Society, para ativar na América do
Norte o movimento citado da 6ª sub-raça; o que não deixou de ser feito, apesar do
gravíssimo erro de ter, com o Coronel H. Steel Olcott, transportado sua sociedade
para a Índia, que nada tinha a ver com o assunto, pois ... andar para trás é
involução. Proclamação, no mesmo século, da república brasileira. Desencarna, na
Índia (1883), o último rebento que o Oriente deveria oferecer ao mundo, como
centro espiritual que até ali fora do mesmo mundo e cujo nome era Ramakrishna.
Nascimento, na mesma época, em Salvador (Brasil), de alguém que devia chefiar o
movimento em prol do advento da 7ª sub-raça ou aquele em que se acha
empenhada a STB. Digamos, de passagem, que esse nascimento se deu à meia
noite, como o de HPB, porém, no dia 15 de setembro, sob a égide - como exigia a
Lei - de Mercúrio em Virgo, pois a 5ª raça, por ser aquela em que se desenvolveu
Manas, o Mental, é dirigida por Budha-Mercúrio, como já dissemos em outro lugar
deste estudo, ano da maior chuva de estrelas já constatada em toda a História e da
erupção do Cracatoa.
Século XX - Conflagração européia. A grande revolução russa e outras no
México, Portugal, Espanha - esta, trazendo a queda da monarquia e a proclamação
da república, e em vários países, inclusive no Brasil, movimentos estes tendentes a
uma modificação geral, quer política, social, religiosa e, por que não dizer?,
científica.
Junte-se a tudo isso as grandes descobertas que dia a dia vêm maravilhando o
mundo, a começar pela aviação, a radiotelegrafia, o cinema falado, a televisão e
inúmeras outras de que seria fastidioso falar, e compreender-se-á termos chegado
ao momento de transição de um ciclo para outro e à necessidade de um movimento
espiritualista, tal como o dirigido pela Sociedade Teosófica Brasileira. E esse
movimento não podia deixar de realizar-se no Brasil, não só

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pela vastidão territorial deste país e caráter elevado de seus filhos, como por outros
motivos plenamente apontados neste estudo.
Em resumo, os fenômenos cíclicos estão dentro das próprias Leis universais, pois,
como disse o grande vidente Emanuel Swedenborg:
"A lei mais essencial da natureza é a da vibração. Um ponto morto, um
ponto imóvel é absolutamente impossível dentro do nosso sistema. Os
movimentos sutis que chamamos vibrações ou ondas; os mais vigorosos,
que denominamos oscilações; as trajetórias dos planetas, que designamos
de órbitas; as épocas da História, que conhecemos como ciclos; tudo é
movimento ondulatório, cíclico, de ondas no ar, no éter, na água, na terra,
por nebulosas, pensamentos, emoções, de tudo quanto é imaginável".
Como é sabido, cada Manvantara (alguns preferem dizer Manuântara) se compõe
de 7 rondas; cada ronda, de 7 raças; cada raça, de 7 sub-raças, das quais cada uma
comporta 7 ramas ou fanu1ias, e estas se multiplicam em tantas divisões quantos
forem os efeitos cármicos.
Em resumo, sempre que um ramo, uma sub-raça ou uma raça deve vir à luz,
presenciamos o esgotamento de um ciclo, dilatado ou não, conforme o caso.
Blavatsky confirma que estamos passando por uma mudança de ciclo, com as
seguintes palavras:
"Em breve chegaremos ao fim do ciclo - ciclo menor, já se vê, dentro de
outro maior, ao qual se prefere chamar de Idade, ou seja, Kali- Yuga. Os
cataclismos se sucedem. Grandes forças estão sendo acumuladas para esse
fim, em diversos lugares".
E com maior meridianismo, o sr. Buchaman, criador da psicometria:
"O período da convulsão se aproxima ... As grandes perturbações já se
manifestam, agravadas pela grande guerra que se verificará na Europa, no
começo do século XX, guerra que dará o golpe de misericórdia nas grandes
monarquias. Não será em 1916 - como não o foi - que a paz se restabelecerá
completamente ... Tudo ficará destruído: a religião, como tudo mais" (37).
Provam a veracidade destas profecias não só a grande guerra que, estalando em
1914, se estendeu para além de 1916, como também a extraordinária reação que após
o conflito se manifestou contra a Igreja e as grandes perturbações que acabaram
levando os povos a uma guerra mais terrível do que a primeira e de conseqüências
imprevisíveis.

212

213
De tudo quanto dissemos, ficou comprovado:
1º) que a vida universal está repartida em ciclos ~ongos, uns; reduzidos,
outros), os quais, quando se desvirtuam, exigem uma correção no status quo;
2º) que arribamos a uma dessas extensões moribundas, consoante a predi-
ção dos videntes e os abundantes indícios materiais;
3º) que já se notam os tipos que constituirão as futuras raças; 4º)
que essas raças habitarão as duas Américas.
Na guerra de 1914, insensivelmente, mansamente, a grande república do Norte
(38) absorveu todo o primeiro plano, ou melhor, foi ela principalmente quem fez
parar o fratricídio exterminador, pouco importa se, para isso, teve necessidade de
nele tomar parte, visto haver momentos na vida humana em que o próprio Bem
precisa mascarar-se em Mal para fazer sanar os absurdos ou suster o afastamento
da Lei. Donde o Destruens et Construens ...
Foi a América do Norte quem nesses momentos trágicos ditou as normas a
seguir, ex-vi do caso vertente do armistício, em que os impérios centrais só nego-
ciaram a paz de acordo com os dez conhecidos itens de Wilson, nos quais, diga-
mos de passagem, muito havia pertencente à nossa antiga Constituição, maneira
indireta, tangenciada por forças ocultas, de o Brasil completar, já naquela época,
os espirituais valores cíclicos tantas vezes apontados neste estudo.
É de extasiar a rapidez, o civismo, a atividade e a eficiência com que esse país
fez parar uma luta sangrenta que já durava tão longo tempo!
Antes, porém, desse ato, outros sintomas nos davam a certeza de tratar-se de
um povo privilegiado. O comércio, as artes, as indústrias, a religião cultivada com
fé e a bênção que sempre lhe coroou todas as ações, de há muito tinham infiltrado
no espírito dos que sabem ver, aquela convicção.
É do domínio de todos a vitória que a América alcançou com o célebre Pacto
Kellog (*), primeiro passo para a realização do mais sublime de todos os ideais
que é o da fraternidade humana, embora hoje ainda a vejamos esmagada sob os
tacões dos que se arvoraram em reis e únicos senhores da Terra (39).
É em virtude de tudo isto que nós mais uma vez acentuamos: a geração
vindoura, chamada 6ª sub-raça, surgirá da América do Norte. E esta asserção é
esposada pelos cérebros mais vigorosos.

213

214
Madame Blavatsky, com pulso firme e brilhante síntese, transmitiu-nos:
"A filosofia oculta ensina que, agora mesmo, sob nossos próprios olhos, a
nova raça está em vias de formação e que a transformação se fará na América,
onde já começa silenciosamente a operar-se. Os americanos dos Estados
Unidos eram, há 300 anos, da mais pura raça anglo-saxônica (40) e formam
hoje um povo à parte. Assim, no espaço de três séculos apenas, os americanos
tornaram-se uma raça primária, diferente de todas quantas atualmente existem.
Serão, certamente, os pioneiros da futura raça".
Eis o que, a respeito do novo tipo que lá se desenvolve, diz um célebre
etnólogo norte-americano:
"Se ele - o observador - viaja várias vezes pela América, com ausências
prolongadas, não deixa de notar que esse gênero de indivíduos aumenta cada
vez mais. Há neles uma grande regularidade de traços: maxilar quadrado, fronte
dilatada e a cabeça francamente desenvolvida sob o ponto de vista intelectual".
Não têm, pois, razão os que teimam em afirmar ser uma ilusão o progresso
americano; fictícia, a inconcebível desenvoltura; mentirosas, hipócritas ou de-
sonestas as inclinações. Têm liberdade em afirmá-Ia; mas, convençam-se de que
dizem asneira (41). E, entre os que assim pensam e o Carma, que de tantos povos
escolheu aquele para sobrestar ao grande desastre mundial, não é penoso nem
favor o saber a gente decidir-se.
Os livros sagrados, que apontam a América do Norte como o lugar donde
emanaria a 6ª sub-raça, indicam para a 7ª a América do Sul.
Pondo de parte o valiosíssimo testemunho dos grandes videntes ou Seres de
Sabedoria, repudiados pela chamada ciência positiva e ignorados por todos
quantos não fizeram jus ao seu convívio; dispensando os próprios livros sagrados,
tidos apenas por "jóias preciosas da literatura indiana"; não levando mesmo em
conta o argumento de que se no passado e até no presente vemos confirmado
muito do que esses livros nos dizem, lógico seria admitir que o mesmo se dê
quanto às coisas do futuro - apoiemos nossas afirmativas na opinião de vários
etnólogos modernos.
Um dos estudos mais interessantes, nesse sentido, embora fragmentário, foi
publicado pela revista americana Scíentifíc Revíew e subscrito pelo chefe da missão
científica enviada pela Universidade de Pensilvânia, às expensas do

214

215
fundo Carnegie. Nesse estudo, demonstra-se que, em vários países sul-americanos, já
se notam acentuadas características de uma raça definida.
O mesmo afirmava o profundo sociólogo mexicano José Vasconcelos, com estas
proféticas palavras:
"Ê dentre as bacias do Amazonas e do Prata que sairá a raça cósmica,
destinada a realizar a concórdia universal, porque será filha das dores e das
esperanças de toda a humanidade".
O já citado cientista e teósofo Roso de Luna, quando das suas Conferencias
Teosóficas en Za América deZ Sur, inclusive no Brasil, que ele tanto amava (vide sua
obra com esse título), afirma, por sua vez, categoricamente:
" ... 0 País de Pinzon, Cabral, Lepe e Souza, por sua maior vizinhança
com Europa e África; por sua mescla de raças e por inúmeras outras razões,
demonstra excepcionais características que nos dão o direito de dizer que
seus futuros destinos são semelhantes aos de Norte-América; que, em
cultura, no litoral, nada fica a dever à Europa; do mesmo modo que em
beleza e espiritualidade, recorda o berço do povo ário, a Índia, como se, no
desenvolver dessa nobre raça - Ásia à Europa e desta à América - coubesse
ao Brasil a glória de ser o remate e epílogo daquele grande povo, com uma
civilização fluvial e costeira igual à de todos os grandes rios chamados
Ganges, Indo Oxus, Iaxarte, Nilo, Tigre e Eufrates, Danúbio, Ródano,
Reno, Mississipi, etc., cada um deles legando ao humano futuro um florão
de sua Coroa ... Não resta a menor dúvida que as bacias do Amazonas e do
Pratamesmíssimas palavras do anterior etnólogo -, com o decorrer do
tempo, selarão em suas ribeiras os destinos do mundo" (42).
Negar que um povo primitivo, poupado pela grande catástrofe que fez submergir a
Atlântida, existiu nesta parte do globo é desconhecer as leis ocultas que regem os
destinos humanos. O mesmo seria negar que outros grupos ou farru1ias, emigrados
doutras terras, vieram fundir-se na população autóctone sul-ameriCana.
Já o erudito visconde de Porto Seguro provou que no tupi-guarani se encontram
vocábulos sânscritos, chineses, hebraicos e egípcios.
Humboldt, quando visitou o Ceará, ao aproximar-se da serra do lbiapaba e da
gruta de Ubajara - que em tupi quer dizer o flecheiro ou destro em lançar a flecha -
exclamou: "Aqui andou na antigüidade o homem branco".

215

216
Couto de Magalhães, na obra O Selvagem, provou, por centenas de indícios, os
conceitos de Hurnboldt.
Varnhagem já havia encontrado a ligação dos povos cários com o antigo Brasil.
E Onfroy de Thoron apontou a existência de colônias hebraicas no alto Solimães,
ao tempo do rei Salomão, nome este que, em língua aramaica, era Soliman.
O sábio alemão professor Schwennhagen, quando, não faz muito tempo, esteve
entre nós, procurou demonstrar, em conferências e entrevistas concedidas à
imprensa, o Brasil fenício. Entre outros fatos interessantes, cita o de haver
encontrado, na Biblioteca piauiense uma obra de Heródoto na qual estavam
exaradas as seguintes palavras, no capítulo intitulado Como os egípcios em-
balsamavam os corpos: " Quando alguém morre, chama-se o artista embalsamador,
que prepara o corpo de maneira a poder ficar alguns dias em casa sem apodrecer, a
fim de serem celebradas as cerimônias fúnebres. Terminadas estas, o corpo entra
num tanque cheio de lixívia de nitro, onde fica mergulhado por setenta dias, para
ser completamente nitrizado. Depois, o embalsamador prepara a pele com gorduras
lustrosas, a fim de dar ao corpo um bom aspecto (um aspecto de vivo)". "Assim -
conclui o professor Schwenhagen - o faraó Tut-ank-Amon e sua esposa, a rainha
Tinhanen, puderam dormir 3.200 anos e aparecer em nossos dias mais novos e mais
belos do que na hora da morte".
Diz ainda Heródoto: "O nitro era fornecido aos egípcios pelos fenícios".
Por esse motivo, Schwennhagen traduzia o nome de um riacho perto de uma gruta
salitrosa, no município de Tianguá, na serra do Ibiapaba, no Ceará, denominado
Niterói, como "rio do salitre". Segundo o mesmo professor, desse riacho, cuja água
era salitrada no inverno, retiravam os fenícios o salitre que forneciam aos egípcios.
Também na Bahia existe o rio Salitre, primitivamente chamado Niterói.
Este sal é denominado em grego nitron; e em latim, nitrum. No dicionário tupi,
encontramos nitinga, contração de niter e tinga, que, para Anchieta, significa "sal
forte que faz manchas na pele da gente". Daí deduzir-se que, em língua tupi, niter
significa o salitre em estalagmitas, formadas pela destilação artificial nas paredes
das grutas; e niter-tinga ou nitinga, o salitre branco, purificado pela lavagem em
ebulição.

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217
Pelo que se vé, a palavra Niterói é de origem tupi e não grega, não devendo,
por isso, ser escrita com "th" e "y".
A passagem dos fenícios por terras do Brasil tem sua maior prova nas ins-
crições da Pedra da Gávea, decifradas por Bernardo Ramos, o nosso
Champollion, como "Tiro fenícia, Badezir primogénito de Y ethbaal", embora
para nós a Pedra da Gávea expresse alguma coisa mais ...
A propósito de uma expedição que se organizou na América do Norte com o
fim de investigar as civilizações pré-cabralinas, diz o sr. Mustafa Ibrahim, ilustre
engenheiro marroquino que desde 1925 se acha entre nós (em Minas Gerais), em
entrevista concedida à imprensa:
"Tenho viajado muito durante toda a minha vida. Conheço o Egito e
muitas outras terras. Nestes três últimos anos me têm despertado grande
curiosidade as coisas do Brasil. Cheguei à convicção de que se deve organi-
zar urna expedição nacional para pesquisar as origens egípcias e fenícias do
Brasil, baseando-se em provas lingüísticas, evidentes em palavras em plena
voga, alteradas de sua origem semítica. Tomo como base a língua aramaica,
por pertencer ao mesmo grupo das línguas semíticas, tais como o hebreu,
etíope e o fenício, convindo notar que era desta última raça ou origem a
tripulação dos navios egípcios.
É sabido que, no reinado de Neko II, seis séculos antes da era cristã, o
desenvolvimento da marinha egípcia chegou ao apogeu; e que o aludido faraó
tentou reconstituir o canal executado por Se ti 1, para ligar o Mar Vermelho
ao Mediterrâneo e o qual se achava em parte tapado pelas areias. Abandonou
a idéia dessa obra depois de haver perdido 200 mil homens em
empreendimento tão colossal. Quando Lesseps construiu o canal de Suez
encontraram-se vestígios do que fora tentado por Neko 11. O mesmo faraó
iniciou também a viagem de circunavegação da África, que durou três anos,
sendo a maioria dos marinheiros de nacionalidade fenícia.
Existem indícios dessa viagem de circunavegação nos montes Atlas,
devendo salientar-se que ao sul foi descoberta uma estátua colossal de ho-
mem, com o braço estendido para o Ocidente, como a indicar a América ... É
admissível que, nessas explorações pelas costas da África, alguns navios,
chegando perto de Cabo Verde, fossem arrastados pela corrente equatorial até
as Antilhas e ao Golfo do México.
Ampara esta suposição o fato de se encontrarem nomes árabes nos ex-
tremos daquela linha. Na costa africana, bem perto de Cabo Verde, há um
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218
lugar chamado Almadie, que em árabe (El madieh) significa: "o lugar em que o
rio é atravessado" ou "a embarcação que serve para atravessá-Io". É de notar,
ainda, ser precisamente aquele o ponto em que a correnteza norte-equatorial
se dirige para o noroeste.
Muitos nomes americanos são corrupções de palavras árabes, egípcias e
fenícias. Por exemplo: quando os egípcios chegaram ao Peru exclamaram,
assombrados, diante do Chimborazo em plena atividade: Djehin be rasho, o que
quer dizer" os espíritos do fogo manifestados no cume" - em mongol existe
uma outra frase bastante parecida, ou seja, Chen-razi e que se traduz por
"espírito misericordioso da montanha"".
O Peru fornece uma porção enorme de materiais que justificam a influ-
ência egípcia e fenícia na América. Segundo o professor Pablo Paton, da
Universidade de San Marco, de Lima, a língua aimoré (*) procede da Síria, o
que é comprovado por uma escritura americana primitiva comparável aos
caracteres assírios e egípcios.
No momento não me sobra tempo para citar a infinidade de nomes que em
todos os países da América possuem origem oriental.
Em Mato Grosso, no Brasil, encontrei os índios Ababa (Hababa), os
abacates (abi-cate), divididos em quatro grupos: melékas (proprietários), khavatir
(guardas), achabas (achchaab), o povo, e os fukeras (foukaras), os pobres.
À beira do Xingu vivem os Amus, denominação dos egípcios do istmo de
Suez. Entre o Brasil e o Uruguai, à margem do rio Grande, habitavam, ao
tempo da conquista, os índios arachames, nome que em guarani significa o
que vê o dia. Este termo vem de ara, dia e Cht'l1el, que \'ê. Em árabe, chenel
quer dizer também ação de ver. Além disso, a raça autóctone do Brasil é
Abauna que vem de abona: nossos pais" - antepassados, etc., como aquele ava,
avon, do termo Avalon, que se dá aos habitantes da Agartha, como se viu na
lenda do rei Artus, de que já atrás falamos.
Estamos, até certo ponto, de acordo com as palavras do saudoso bardo hindu
Rabindranath Tagore, quando da sua entrevista concedida ao jornalista chileno Alvaro
Hinojosa, ao chegar à Índia, depois de ter \'isitado os países da América Latina. Entre
muitas coisas interessantes, disse ele as seguintes:

(*)Acreditamos ter havido aqui um erro tipográfico. Possivelmente o autor tenha se


referido à língua dos aimarás, habitantes de certas regiões do Peru e da BolíYia. IX da
E.)

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"Creio que o problema da América - do mundo, deveria ele dizer - se
acha nas mãos do continente. Ali temos os Estados Unidos formando uma
nação forte e poderosa. Não existe nação alguma, geográfica ou racial,
para que a América do Sul não seja uma república. Disso depende sua
própria existência. Os verdadeiros interesses dos americanos são idênticos:
língua, raça e religião em comum, indicam-lhe o caminho. Eu não gosto de
falar em política! Ela mantém a divisão entre os senhores. Os políticos
morrem e as idéias passam. Só as coisas do espírito possuem valor
permanente, mesmo depois do desaparecimento das nações. Assim, temos
hoje tudo o que há de mais valioso na cultura grega e de outras mais, antes
que chegassem a converter-se em civilizações.
Mas existe para os senhores um problema urgente e de que não se de-
vem descuidar: o de não desaparecer - e onde está a Lei? perguntamos nós
ao místico poeta hindu ... O Norte os absorverá, a menos que adquiram
disciplina, ordem, unidade".
Mas, adiante, diz ele:
"Há de aparecer um homem superior que será o denominador comum
destes povos, capaz de encarnar a idéia da Unidade. Em minha curta via-
gem à América pude notar os sintomas, as centelhas de consciência que
anunciam a chegada desse homem. Sua voz será ouvida dentro em pouco;
os senhores deverão saber reconhecê-Ia ... Não considero inferior a cultura
anglo-saxônica. Mas o desenvolvimento da cultura de origem espanhola na
América do Sul deve verificar-se livremente. Temos o direito de esperar o
fruto dessa grande colheita".
Exponhamos a nossa opinião sobre os conceitos do poeta hindu. Antes de mais
nada, em conseqüência de um fato que não convém apontar, ele não incluiu o Brasil
na sua visita à América do Sul.
Limitou-se a contemplar-nos de longe, debruçado na amurada do navio que o
conduzia ... Isto o impediu de fazer qualquer juíZo a nosso respeito e lhe permitiu o
direito de fingir-se esquecido de que o Brasil é o maior país desta parte do
continente e de que seu povo adota o idioma português, pelas razões conhecidas de
qualquer criança. Se assim não fosse, ele não falaria em identidade de língua ou,
abrangendo as duas, idealizaria uma forma única que poderia denominar ibérica.
Outrossim, não vemos nenhum motivo para "sermos absorvidos pelo

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220
Norte". Põe-nos a salvo desse perigo a própria Lei, que a tudo e a todos rege, para
não permitir tal coisa. Esse fenômeno só se dará daqui a muitos milênios, de
acordo com a natural fusão racial que em todos os tempos tem lugar, visto todos
termos a mesma origem divina, como muito bem deve saber o vate-filósofo, filho
de nossa mãe-Índia.
Quanto a uma só república sul-americana, é muito avançar para quem possui
todos os requisitos de um homem superior. O fenômeno está dentro dos mesmos
princípios anteriormente apontados. A unidade a que por enquanto se deve aspirar
é apenas a puramente espiritual, debaixo dos mesmos sentimentos, dos mesmos
laços que mantêm rígidos e fortes, em harmonia com a própria Lei, os povos
destinados a fundar nesta parte do globo uma nova civilização, ou a teosófica
sétima sub-raça do ciclo ariano, embora que seu nome verdadeiro seja bem outro.
Afastemos, ainda, do nosso espírito a idéia de um "messias ou instrutor" como
o "Homem Superior que há de aparecer e de ser seguido" ... Contra essa idéia se
precavenha o leitor, principalmente se tiver tendências exageradamente místicas ...
Trata-se, sim, como já dissemos, de uma manifestação do Espírito de Verdade
na Terra, de acordo com a sua promessa, quando diz: "E meu espírito pairará sobre
a Terra". Tudo isso está relacionado com o atual movimento espiritual da América
do Sul, tendo por centro o próprio Brasil.
E assim, contestados os pontos principais, tudo o mais damos por bom e
verdadeiro.
Já em 1930 dizíamos em nosso artigo À guisa de credenciais inúmero 66 de
Dhâranâ):
... "De fato a STB é, na atualidade, a Barca de Salnção i";3! e::-" cJ.jo bor-
do poderão navegar, desde já, sobre as tempestuosas o::-cc.as do mar
da ,-ida, todos os homens de boa vontade, ou me1.\or, todos aqueles que,
lines de preconceitos, isentos de ódio e de idéias sepa:arrstas, Das
ansiosos pelo único ideal redentor, que é a Teosofia, possan~ aJascecer a
sua mente e o seu coração com a Sabedoria e o Amor, como Gü:lS
naturais de todos os homens evoluídos".
Por outras palavras, do mesmo modo se exprirr'te o eminente polígrafo Roso
de Luna, no último capítulo de sua monumental obra Ia HU11lanidad y [os Césares:

220

221
"Do mesmo modo que a Bíblia foi completada com o Evangelho, este será
completado por novas revelações - o negrito é nosso. E depois da idade do
Pai e do Verbo, virá a do Espírito Santo, trazendo uma nova aurora para o
mundo. E assim se derramarão sobre a humanidade, regenerada e livre, novas
e consoladoras esperanças.
Mas será tudo isso uma realidade? Ou não estaremos apenas diante de um
belo sonho? Que cada qual julgue como quiser. Para nós, inútil seria dizer,
mais honroso é sonhar do que dobrar os joelhos, vil e miseravelmente, diante
dos Césares da Terra, vindos ao mundo para castigo das nossas faltas -
verdadeiros "flagelos de Deus", afirmamos nós, deste degenerado ciclo nos
seus últimos estertores ... - e vergastas de dor que nos despertam de nossos
marasmos, elevando-nos, com o acicate do sofrimento, para as aspirações de
uma nova vida, tanto mais humana e gloriosa quanto nos formos livrando de
certas leis animais a que, integralmente, nos quiseram submeter, em má hora,
alguns discípulos de Darwin e Lamarck, os quais teriam envergonhado seus
nobres e ilustres mestres, se por acaso os tivessem conhecido".
***

Um grupo de modernistas da Academia Paulista de Letras instituiu um prêmio


com o título Verdamarelismo, tendo à sua frente uma das florescentes mentalidades
de nossa Pátria, Menotti deI Picchia (44).
Num manifesto definidor, os ilustres acadêmicos apontam um Brasil futuro
"como o summum das civilizações", levados não só pela super-visão intelectual que
caracteriza os homens evoluídos, como também por fervoroso amor à nossa pátria.
Para se revelarem verdadeiros teósofos da nossa Escola bastaria terem incluído no
seu esplêndido manifesto os demais povos do continente americano,
compreendidos nessa "prodigiosa raça cósmica" a que aludem, desde que citam,
como nós mesmos o fizemos, o sociólogo mexicano José Vasconcelos. Dariam,
ainda, um belo exemplo deespiritualidade, procurando derramar, como bênção
sobre os demais povos do mundo, todos os benefícios resultantes da "nova
civilização" que se avizinha de nossos dias.
Já dissemos várias vezes que o teósofo reconhece o valor pátria e os deveres
que do mesmo resultamí de acordo com as próprias palavras de Gautama, o
Budha, já citadas. E quando se trata do amor no seu mais elevado sentido, que

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222
é o da fraternidade, Ele não o restringe a determinado ser ou coisa, mas procura
distribuí-Io equitativamente por todos os seres da Terra. Haja vista o nosso
templo, dedicado à Paz Universal.
Uma das mais valiosas demonstrações do elevado ideal que inspira os ilustres
membros do Verdamarelismo está em aceitarem para o seu quadro social qualquer
pessoa "sem distinção de credo, casta, cor, etc. ", princípio teosófico
universalmente conhecido, e seguirem o ideal dessa formidável potência do nosso
século que se chama Rotary Internacional, fiel ao seu lema: Dar de si antes de
pensar em si. Mas o Verdamarelismo inclui ainda no seu programa as aspirações
"brasileiras" de uma eficiente campanha em prol da alfabetização, da eugenia e
outros muitos problemas que concorrem para o engrandecimento físico, moral e
intelectual de nossa raça, todos eles igualmente apontados no vastíssimo programa
que a STB vem desenvolvendo durante os longos anos de sua existência.
Todos esses maravilhosos empreendimentos são dignos de imitação por parte
de quantas instituições culturais, filosóficas e religiosas existem no Brasil. Do
esforço conjugado entre todas e não apenas de meia dúzia deveria sair a raça de
elite, por nós anunciada, que um dia banhará o orbe terráqueo numa Apoteose de
Luz (45).
Consideramos, por tudo isso, uma homa para este nosso humilde trabalho tanto
a referência que fazemos ao Rotary Internacional como ao Verdamarelismo de São
Paulo, de cuja preciosa mensagem extraímos as seguintes palavras:
"A descida dos tupis do planalto continental no rumo do Atlântico foi uma
fatalidade - Carma, a Lei de Causa e Efeito, segundo a Teosofia histórica pré-
cabralina que preparou o ambiente para as entradas no sertão pelos
aventureiros brancos desbravadores do oceano.
A expulsão feita pelo povo tapir, dos tapuias no litoral, significa bem, na
história da América, a proclamação do direito das raças e a negação de todos
os preconceitos.
Embora viessem os guerreiros do Oeste, dizendo Ya 50 Pindorama koti,
itamarana po anhatim, yara rama recê, na realidade não desceram com a sua
Anta, a fim de absorver a gente branca e se fixarem objetivamente na terra.
Onde estão os rastros dos velhos conquistadores? ...
Os tupis desceram para serem absorvidos. Para se diluírem no sangue

222

223
da gente nova - a fusão racial entre iberos e o tupi, como já dissemos ... Para
viverem subjetivamente e transformar numa prodigiosa força a bondade do
brasileiro e o seu grande sentimento de humanidade.
Seu totem não é carnívoro: Anta. É este um animal que abre caminhos e aí
li 11

parece estar indicada a predestinação da gente tupi.


Toda a história desta raça corresponde (desde o reinol Martim Afonso ao
nacionalista verde-amarelo José Bonifácio) a um lento desaparecer de formas
objetivas e um crescente aparecimento de forças subjetivas nacionais.
O tupi significa a ausência de preconceitos. O tapuia é o próprio preconceito
em fuga para o sertão. O jesuíta pensou que havia conquistado o tupi, e o tupi é
que havia conquistado para si a religião do jesuíta. O português julgou que o
tupi deixaria de existir; e o português transformou-se, e ergueu-se com
fisionomia de nação nova contra a Metrópole, porque o tupi venceu dentro da
alma e do sangue do português - o itálico é nosso.
O tapuia isolou-se na selva para viver; e foi morto pelos arcabuzes e pelas
flechas inimigas. O tupi socializou-se sem temor à morte; e ficou eternizado no
sangue de nossa raça.
O tapuia é morto, o tupi é vivoll.
Em outros lugares:
liSO mos um país de imigração e continuaremos a ser o refúgio da huma-
nidade por motivos geográficos e econômicos demasiadamente sabidos faltou
incluir, porém, os motivos de ordem espiritual, apontados multissecularmente,
como vimos demonstrando até agora. Segundo os de Reclus, cabem no Brasil
300 milhões de habitantes. Na opinião bem fundamentada do sociólogo
mexicano Vasconcelos, é de entre as bacias do Amazonas e do Prata que sairá a
liquinta raçall a raça cósmica - a 7:0 sub-raça da 5" raça-mãe, ária, para cujo
advento trabalha a STB -/ que realizará a concórdia universal, porque será filha das
dores e das esperanças de toda a humanidade. Temos de construir essa grande
nação integrando na pátria comum todas as nossas expressões históricas,
sociais, étnicas, religiosas, políticas, etc., pela força centrípeta do elemento
tupill.
A tudo isso só uma exclamação nos ocorre: bravíssimo! ...
Para terminar, façamos um estudo sobre a palavra Tamandaré, já que o tupi,
como se viu, foi o espiritual cadinho onde se processou a prodigiosa fórmula
alquímica (racial) das gloriosas mônadas procedentes do velho

223

224
Portugal - porto Gália, dos galos, gauleses, etc., segundo nossa própria interpretação
em estudo mais antigo.
Na língua tupi, já o dissemos em outros lugares deste estudo, Tamandaré procede
de tamanda-ré, que quer dizer" depois da volta". Segundo Batista Caetano, a
procedência de Tamandaré é Tamoinda-ré, ou seja, "aquele que fundou um povo", o
repovoador, etc. A prova disso encontra-se em urna das mais belas passagens da
tradição tupi-guarani, poeticamente descrita pelo genial escritor patrício José de
Alencar, no seu imortal O Guarani:
"Foi longe, bem longe dos tempos de agora. As águas caíam e começa-
vam a cobrir a terra. Os homens subiram ao alto das montanhas; um só
ficou na várzea com a esposa (46). Era Tamandaré. Forte entre os fortes,
sabia mais que todos. O Senhor falava-lhe de noite e, de dia, ele ensinava
aos filhos da tribo o que aprendia do céu" ... - um manu, portanto, ou diri-
gente de povo.
Esta prodigiosa lenda foi trazida pela própria Lei, através dos séculos, de geração
em geração, desde a Atlântida à raça ária. Desta, veio ela de sub-raça em sub-raça,
de rama em rama, de farru1ia em farru1ia, até alcançar a dos tupis - corno a mais
nobre e guerreira entre todas.
No momento previsto pela Lei, surgiu em terras da América o aventureiro e não
menos nobre e aguerrido povo português, cujo sangue generoso se fundiu com o
sangue dos autóctones. E desta fusão, anunciada pelos profetas e sibilas de todos os
tempos, nasceu a incomparável alma brasileira.
Na grandiosidade e esplendor da nossa Pátria, deverá ser venerado o símbolo
expressivo do manu de tão privilegiada raça, o qual, à frente de seu povo - corno
outrora Rama, Moisés e tantos outros - o conduzirá aos altos destinos exigidos pela
própria Lei, visto ser o Brasil o Santuário da iniciação moral do gênero humano, a
caminho da sociedade futura (47).
Tudo isso deu origem àquela maravilhosa saudação que nos foi enviada do
Oriente, quando a nossa instituição possuía ainda o nome de Dhâranâ, cuja tradução
é a seguinte:
"Salve Dhâranâ! rebento novo mas vitalizado pela uberdade do tronco
gigantesco donde nasceste. Vieste do Oriente, como uma rama extensa,
florescer nas mentes dos filhos deste país grandioso que já tiveram a dita
de ouvir o cantar mavioso da Ave Canora (48) que lhes segreda,
internamen-

224

225
te, amor a todos os seres. Os teus triunfos já são cantados em melodiosas
estrofes no grande Concerto Universal da Cadeia Setenária (49) porque tu,
excelsa Potência, criada por teus próprios esforços, começaste a dar cresci-
mento, nas tuas frágeis hastes, às folhagens verdejantes onde amarelados
frutos serão colhidos por todos aqueles que se acham famintos e perdidos na
grande floresta da vida. E, assim, com as esplendorosas cores do pavilhão da
pátria de teus filhos, também tu, Dhâranâ, terás o teu hino glorioso cantado
pelos querubins que adejam em tomo da silhueta majestosa do Supremo
Instrutor do Mundo (50).

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227
Capítulo 4

o ANO DE 1956
Quem teve ocasião de ler a nossa obra intitulada Ocultismo e Teosofia, no capítulo que trata dos ciclos
astrológicos, devia ter visto que o ano atual abre uma nova página na História da Humanidade. Nossos
próprios artigos e mensagens por Dhâranâ e pela imprensa profana, além de conferências públicas,
apontavam o que estava reservado para essa mesma humanidade. Do mesmo modo que no interior da
pirâmide de Quéops há uma profecia nesse sentido, além de apontar o 15 de setembro de 1883 como o do
nascimento de um ser que iria ter papel importante na vida dos homens. Como se sabe, em 1883 desapa-
receu o último rebento oriental, que outro não foi senão o grande místico Ramakrishna, nascendo no
Ocidente (Salvador, Brasil) aquele que se acha à frente do cultural e espiritual Movimento em que a STB
está empenhada. Por sua vez, o conde de S. Germano prometeu voltar ao mundo "no começo do século
XX, vindo do Oriente" (51). Nenhum outro Ser, também, pode assinalar-se como tendo vindo daquela parte
do mundo, senão o mesmo que estas linhas escreve, ou melhor, o livro que hoje, pela segunda vez, é
lançado ao mundo. HPB , do mesmo modo, na introdução da sua Doutrina Secreta (isto foi dito neste mes-
mo livro), teve ocasião de dizer "que um outro viria do Oriente para completar tudo aquilo que a ela não foi
dado dizer - a Gupta-Vídyâ, a Teosofia, ou melhor "as revelações relacionadas com o Novo Ciclo ou Era".
Em 1924, quando tomou forma material o mesmo Movimento, com a fundação de Dhâranâ, em Niterói,
por sua vez, desaparecia o último Budha-vivo da Mongólia, o qual representava a série de Budhas
relacionadas com o Rei do Mundo, como prova/ um dos seus lamas ou sacerdotes, no mosteiro de
Narabanchi, perto de Urga, capital da Mongólia exterior, ter contado a aparição do mesmo Ser (o Rei do
Mundo) ao autor de Bêtes, hommes et Dieux, como se pode ver na mesma

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obra, ou seja, o sr. Ferdinand Ossendowsky. Esses dois fatos, por si só, indicavam
que o Oriente havia cedido o seu papel espiritual ao Ocidente. Ou, com outras
palavras, ao ex-Oriente Lux de Emmanuel Swedenborg havia substituído o ex-
Ocidente Lux de quem está à frente de semelhante Movimento pois, como foi dito
em outros lugares deste livro, "no dia 28 de setembro de 1921 depois de
exaustivos trabalhos anteriores que somente os Adeptos da Boa Lei os conhecem,
inclusive o da fundação espiritual na ilha de Itaparica a 24 de junho de 1899 -, ele
e sua companheira de missão foram receber no alto de uma montanha, considerada
"Sagrada" pelo próprio povo de S. Lourenço, onde se deu o fato, por isso mesmo,
chamada pelo maior gênio de nosso século, que foi o dr. Mario Roso de Luna,
"capital espiritual do Brasil", mas em verdade, "capital espiritual do mundo", por
ser o centro (ligado a Agartha-Shambalah) de irradiações espirituais para esse
mesmo mundo. Responde por tudo isso o êxodo que vem sendo levado a efeito
desde aquela época para o lugar que aponta o marco precioso onde a Mônada
alcançou o máximo de sua evolução no presente ciclo da humanidade, isto é, o dos
23° de latitude sul, trópico de Capricórnio.
Acontece, ainda, que é complemento de semelhante êxodo para o Sul, que vai
ter lugar para o Norte, como se quiséssemos dizer: acompanhando os dois
anteriores movimentos por nós mesmos feitos outrora, e hoje apontados em nossos
estudos publicados em Dhâranâ, sob os títulos: Brasil.Fenício, Brasil Ibero-
Ameríndio e Brasil atual (52). No primeiro, o rei Badezir, representando o poder
Temporal, seus domínios vinham donde hoje se chama Amazonas até onde hoje,
também, se chama Salvador - capital da Bahia e onde não podia deixar de nascer
nesta vida o dirigente do referido movimento e autor deste mesmo livro. Bem em
frente, por sua vez, se acha a ilha de Itaparica, como "berço da civilização
brasileira", e onde, por sua vez, teve origem o supracitado movimento. Pelo que se
vê, Salvador, a boca do "leão geográfico", que é o brasileiro, e que representa o
órgão da palavra, no homem, é o "ponto de intercessão entre o poder Temporal e o
poder Espiritual, pois que a parte sul da grande avançada fenícia, digamos assim,
pertencia a Yetbaal, como primogênito de Badezir, ou cujos domínios iam da
mesma Salvador de hoje até alcançar o também hoje chamado Rio Grande do Sul.
No movimento imediato ou Brasil-Ibero-Ameríndio, o papel que tiveram José de
Anchieta, Manuel da Nóbrega, João Ramalho e outros mais completa o anterior,
mesmo que muitos séculos depois, porquanto nesse interregno de encarnações
outros movimen-

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tos menores tiveram lugar, inclusive o da Revolução Francesa, através da Ma-
çonaria egípcia, ligada à francesa.
Qualquer pessoa inteligente, mesmo que não acreditasse nas duas sábias leis
de Reencarnação e Carma - tantas vezes apontadas pelo próprio Cristo, seja
quando responde aos que lhe perguntaram sobre Elias: "Ele já veio e vós não o
reconhecestes", como, também, ao dizer a Pedro, quando desembainha a espada
(os apóstolos tinham armas? ... ): "Pedro, quem com ferro fere, com ferro será
ferido", esta resposta apontando a lei de Carma ou de Causa e Efeito; e a
primeira, a da Reencarnação. E não se queira dizer que a Igreja tem o direito de
negar tais leis, porquanto até o Quarto Concílio adotava "a transmigração da
alma". A razão de a ter suspenso está de acordo ... quando hoje o eminentíssimo
Papa Pio XII, ao qual não deixamos de prestar homenagens, ordena que se volte
ao Cristianismo primitivo, mas até hoje não foi obedecido pelo clero: a das
missas pro-defunctís, seriamente prejudicada com semelhante ordem ...
Continuemos, depois de tão longo parêntese: qualquer pessoa inteligente, sim,
mesmo que não crente nas duas referidas leis, acharia estranhíssimo, para não
dizer assombroso, maravilhoso tantas casualidades - que para nós são
causalidades, ou dentro da lei de Causa e Efeito, que é a mesma de Carma, antes
apontada -, inclusive a do itinerário percorrido pelo mesmo José de Anchieta:
Itaparica-Niterói-Rio de Janeiro. Com estas 4 iniciais se encontra o que estava
escrito na tabuleta pregada na Cruz onde foi martirizado o Cristo, isto é, Iesus (ou
Jesus), Nazarenus Rex Iudeorum ou Judeorum, pois que Iod ou Jod possui o
mesmo sentido na língua hebraica. Mas, dirão alguns, e o que foi fazer o autor
destas linhas, com sua companheira de Missão, em S. Paulo, onde residiram por
dois anos e meio, justamente para assistirem ao seu Quarto Centenário?
Respondam os mais inteligentes ou doutos, pois foi ali que o mesmo José de
Anchieta completou o seu trabalho. A seguir, S. Lourenço, onde não esteve o
mesmo Iniciado, porém, era o fruto da vida presente ou da chegada da Mônada ao
seu ponto culminante. Usando do mesmo processo cabalístico da tabuleta do
Mártir do Calvário, S. Paulo e S. Lourenço clamam bem alto: semelhante
movimento (ou do Brasil atual) tem sua razão nos termos" sem paz" e "sem luz".
Sim, o mundo não tem paz, porque não possuía a Luz sublime da Verdade que a
nossa Obra oferece aos homens. Os já tocados, de há muito, pela centelha divina,
atenderam ao ressoar de nossos clarins por toda parte do mundo. E são aqueles
que já tomaram parte no primeiro êxodo. E os que ainda

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podem atender de setembro em diante, os do segundo êxodo. Uma das muitas
razões pelas quais a Ordem do Santo Graal é complemento direto para a Sociedade
Teosófica Brasileira. Esta cuidará da Semente da Nova Civilização. A outra
iniciará de modo eficaz aqueles que, "julgados como bons", depois do fenômeno
acontecido este ano, senão, um pouco antes, podem ser ainda capazes de conduzir a
sua pátria, e esta, como exemplo para os demais países do mundo, ao lugar a que
faz jus, como "Santuário da iniciação do gênero humano, a caminho da sociedade
futura".
A seleção, como se vê, é muito maior para o ingresso nas fileiras da Ordem do
Santo Graal do que o foi nas da Sociedade Teosófica Brasileira. E como fazer esta
seleção que, a bem dizer, está apontada nas palavras do Cristo, ao dizer que "muitos
serão os chamados e poucos os escolhidos"? Na hora legal todos saberão melhor
como vai ser feita a referida seleção, o que não obriga, nem poderia obrigar, os
descrentes "a saberem escolher o bom trigo do joio", ou seja, o das nossas fileiras
do que já foi falado em outros capítulos deste mesmo livro, que demonstram
cabalmente" o fim de um ciclo apodrecido e gasto para o alvorecer de um outro,
portador de melhores dias para o mundo". Sim, o velho ciclo de Piscis, do qual
Jesus foi seu expoente máximo, como avatara da Essência Divina (daí a alegoria da
tabuleta antes apontada), e o Novo Ciclo ou Era do Aquário, do qual Maitréia, por
sua vez, com a mesmíssima essência, pois tudo mais em contrário é erro, é
ignorância, fanatismo, etc. Vide as palavras do Espírito de Verdade em o número-
álbum de Dhâranâ, ou seja, o que foi dedicado à ilha de Itaparica (números 13/14),
é o seu expoente máximo. Os que dizem "já ter Ele nascido com o nome de Mitra-
Deva, que também é seu nome, são fanáticos idênticos aos das próprias religiões
correntes. Além do mais, porque no mosteiro de Chigatsé, no Tibete, existe uma
galeria de Budas onde o último possui a tez branca, ao contrário da escura dos
demais, apontando que Ele não mais virá do Oriente e sim do Ocidente. Por trás da
referida imagem vê-se uma ferradura de ouro, engastada de pedras preciosas. Quem
diz ferradura diz kalki-avatara, o cavalo branco, com o qual é alegorizado o
referido avatara (Maitréia). Não temos culpa alguma de que os homens de hoje,
digamos, os mais acreditados como ocultistas, teosofistas, etc., não possuam ainda
o estado de consciência da futura raça ou civilização ... para raciocinarem
identicamente aos que estão à frente do Movimento a favor da supracitada raça ou
civilização. Donde nosso Templo ser dedicado ao mesmo avatara, e

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231
como conseqüência lógica do fato, o ser também à paz universal e a todas as
religiões do mundo, desde que a Teosofia, ou antes, as revelações do momento,
serem a síntese de tudo quanto já foi manifestado na Terra, chamem-se de religiões,
ciências, filosofias, línguas, etc., etc.
Para terminar, já agora pensamos que aqueles que fizerem a leitura deste livro
não se admirarão do nosso Díes-írae, e como tal, de não mais podermos compartilhar
de uma frente única espiritualista, que fomos nós, através de nosso slogan, desde o
começo da Obra - "Um só idioma, um só padrão monetário, uma frente única
espiritualista" - que lançamos ao mundo. Sim, não mais o permite o ano atual. Não
mais o permite o final do ciclo de Píscís e começo do de Aquaríus. Em caso contrário
nós, que somos a árvore da vida, passaríamos a um dos seus "ramos". Perguntamos:
o que sabe a falsa árvore de todas essas coisas que o nosso livro desde 1939 lançou
ao mundo? E hoje o apresente de modo mais avançando para quererem que
passemos a uma condição subalterna? Não se trata de vaidade, muito menosde
orgulho, porque, e além do mais, foi a nós e não a outro a quem a própria
Divindade (acredite ou não quem quiser) fez a entrega do bastão de chefe ou guia
de semelhante movimento.
Pedimos, entretanto, perdão aos nossos irmãos em humanidade por termos de
empregar uma linguagem bem diferente da vulgar, que, a bem dizer, é aquela que
não corresponde com o que vai no interior daqueles que as emitem. Por isso
mesmo, a franqueza rude de que fazemos uso é a apropriada ao ciclo decadente.
Que os homens de boa vontade nos compreendam, é o que de coração desejamos.
No mais, continuaremos o nosso glorioso trabalho a favor do Brasil, a favor do
mundo, pois que sendo ele o "santuário da iniciação do gênero humano a caminho
da sociedade futura", trabalhar pelo Brasil é o mesmo que trabalhar pelo mundo
inteiro. Sim, Brasil, teu próprio nome diz que em teu seio estão guardadas as brasas
de Agni, o fogo sagrado do Amor, da Verdade e da Justiça"
Spes messis in semine (a esperança da colheita reside na semente).

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Capítulo 5

CONCLUSÃO

Chefes de todas as religiões do mundo a quem fomos obrigados a apontar,


como causa dos vossos erros, o estado de confusão e desespero a que chegou a
humanidade!
Não vos pedimos que atendais ao apelo de um homem que vos é e deve con-
tinuar desconhecido, mas ao de todos Aqueles por vós tomados como excelsos
Padrões e preciosos símbolos de vossas religiões. Nenhum d'Eles - de sobra o
sabeis - deixou de pregar as sublimes doutrinas do Amor, Sabedoria e Justiça,
porque foram a Manifestação da própria Divindade na Terra. Todos apareceram
entre os homens" quando se tornou necessário restabelecer a Lei Justa em
declínio". Por desgraça vossa e do mundo, deixastes de lado seus sábios
ensinamentos, permitistes que Adhârmâ se levantasse, forçando a Divindade a
cumprir a promessa que, pela boca de Krishna, transmitiu a seu discípulo A~una:
"Para restabelecimento da Lei, Eu nasço em cada yuga (idade)".
Chegou, pois, o momento de reconstruir aquele dique tutelar destinado a salvar
as puríssimas e cristalinas águas das quais, em vossas religiões, ainda se
encontram pequenas e invisíveis partículas.
"Reconstrução!" é o brado espiritual que a Lei faz repercutir por todos os
cantos do Globo. E ai daquele que lhe não quiser dar ouvidos. Será
inexoravelmente esmagado, de acordo com a sentença oriental: "Quanto mais
pesado fizeres o mundo, mais o mundo pesará sobre ti.
Fazei conosco uma frente única espiritualista, se quiserdes fugir ao negro des-
tino que vos aguarda - tão negro como a Força que não conduz ninguém à sua
Origem, pois só visa aos bens materiais através do ódio, da Mentira, da Supersti-
ção, do Fanatismo e do Erro, e da qual fostes, até hoje, escravos submissos.
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Foi ela que arrancou, dos vossos cérebros e dos vossos corações, os nobres
ideais e os belos sentimentos de que estáveis repletos quando procurastes o
caminho do sacerdócio de vossas próprias religiões.
É para esses mesmos sentimentos e ideais, esmagados pelas Forças Negras,
mas latentes em todas as almas como partículas que são da própria Divindade
manifestada no seio de cada um, que apelamos, amados irmãos e amigos! É em
nome de vossos próprios e preciosos Símbolos, todos eles, sem exceção alguma,
Manifestações do Espírito de Verdade que vos concitamos a retroceder do mau
caminho a que vos arrastaram as Forças do Mal, lançando sobre vosso ombro a
tremenda responsabilidade do cataclismo que velozmente se aproxima do mundo.
Imitador fiel dessas manifestações do "Espírito de Verdade" foi Pio X, bem
como todos os seus sucessores do mesmo nome. Deu esse Papa um exemplo do
mais requintado e desprendido amor por todas as criaturas quando, por ocasião da
conflagração européia de 1914, se comprometeu a seguir para o front,
acompanhado por alguns de seus apóstolos, a fim de morrer pelo mundo, como se
fora o próprio Cristo (um Cristo era ele, na realidade!). A tão desesperada
resolução foi levado o grande Papa por não ter conseguido que os "césares",
então dominantes, atendessem aos seus apelos de Paz, sintetizados na célebre
encíclica a todos os chefes de religiões do mundo" onde se lhes pedia que
implorassem ao Deus único de todas elas para fazer cessar a luta entre os
homens". E só a brusca e misteriosa morte impediu Pio X de executar a promessa
de sacrificar-se pela Humana Causa. Quanto isto se assemelha ao que deu motivo
àquelas palavras atribuídas a Jeoshua: "Em verdade, em verdade vos digo, Pedra,
que amanhã a estas horas me tereis traído três vezes" ...
Santo entre os santos, mártir entre os mártires, foi Pio X!. ..
Fiel sucessor deste, foi Pio XI, a quem talvez um "traumatismo moral", en-
contrando propício campo de ação, num corpo donde a saúde há muito fugira,
acelerou a partida deste mundo ...
Substituiu-o o misterioso cardeal Pacelli, cujo nome por si só nos garante
termos, no atual Sumo Pontífice da Igreja Romana, um dos maiores defensores da
Paz (ou Pax). Nós o apontamos, com alguns anos de antecedência, como "o
substituto de Pio XI" e, para isso, túmamos motivos de sobra ...

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Inegavelmente, Pio XII é o grande finalizador do ciclo do Cristianismo.
Quando outros vierem, serão folhas mirradas sobre um túmulo inesquecível. "Finis
Ecclesiae"! ...
A par destas, outras "almas grandes" surgem aqui e além, em defesa do grande
ideal da Fraternidade Humana.
Foi na Índia o "mahâtma" Gandhi, dando-se várias vezes emholocausto pela
liberdade de sua pátria e berço da nossa raça. Prometeu solenemente "fazer a greve
da fome até morrer, se os fomenta dores da guerra atual não dessem ouvido à sua
súplica!" Pobre Gandhi! Se outros motivos não houvesse para que os generosos
Césares que atualmente dirigem alguns países, desistam de seus dominadores
intuitos, "bem podeis ter como certo que, desta feita, não escapareis com vida",
(palavras de quando o mesmo ainda era vivo, ou da primeira edição desta obra). Os
corações de tais seres são por demais cruéis para ouvirem vossas súplicas, ou serem
sensíveis a tamanho sacrifício de vossa parte!
Grande entre os maiores, considerado pelos Adeptos da Boa Lei, pelos Verda-
deiros mahâtmas (Grandes Almas), como a "Jóia espiritual de nosso século", apa-
rece o ex-Eduardo VIII lançando através do rádio seu comovente apelo de Paz
entre os homens, seu grito de alarme contra os perigos da destruição iminente.
Na sua súplica pela paz entre todos os seres repete o que nós mesmos vimos
dizendo há longos anos:
"Na guerra moderna a vitória pertencerá somente às potências do Mal.
A anarquia e o caos serão os resultados inevitáveis, com as conseqüências da
miséria para todos nós".
O mesmo Amor que o fez trocar um trono por uma mulher e afrontar o orgulho
e a vaidade de meia dúzia de lordes, de meia dúzia de pequenos césares, o levou a
dizer ao mundo estas sublimes verdades, dignas de serem pronunciadas pela voz de
um Adepto:
"O maior sucesso que qualquer governo pudesse conseguir em favor de sua
política nacional, nada representaria em comparação com o triunfo de haver
contribuído para salvar a humanidade da terrível sorte que a ameaça".
E assim termina aquele altíssimo espírito, de quem a Inglaterra se devia
orgulhar:
"Permita Deus que eles possam realizar essa grande tarefa antes que seja
tarde demais".
235

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Deus não quis, ou melhor, a Lei não pôde deixar de ser cumprida. A destruição
cármica iniciou-se feroz e irreprimível. E a "preciosa jóia do nosso século", em
obediência aos princípios tantas vezes aqui citados, abandonou o aconchego do
seu lar e partiu a alistar-se entre os defensores da pátria, embora, na realidade,
"seu reino não seja deste mundo" ... (53).
No tumulto e confusão em que a humanidade se debate, outro espírito surgiu,
digno da nossa admiração. Chamava-se Franklin Delano Roosevelt, por muitos
considerado "o primeiro estadista do mundo".
Achava-se à frente do grande povo onde começam a aparecer as sementes de
uma civilização que, unida à da América do Sul, substituirá as que, por estarem
condenadas à destruição, não quiseram ou não puderam acompanhá-Ia na marcha
ascensional da evolução racial.
Generoso, Roosevelt, dizíamos naquela época, em nome do seu povo estende a
mão salvadora às raças em decadência, oferecendo-lhe o meio de - escapando pela
primeira vez à regra geral - terminarem seus dias calma e dignamente, e não
afogadas em sangue, entre gritos de dor e desespero.
As respostas que teve são conhecidas de todos e levaram o grande chefe da
poderosa república do Norte a declarar solenemente, por ocasião do seu discurso
em homenagem ao Independence Day que" em nome de Cristo - (o Universal,
dizemos nós) - expulsaria da face da Terra semelhantes monstros". Mas ... até
agora, a bem dizer, os monstros continuam.
Monstros foram todos os seres oriundos de um fim de ciclo em franca deca-
dência. Verdadeiros "flagelos de Deus", eles aparecem em todas as épocas das
grandes transformações históricas, sintetizando os erros e crimes de uma civi-
lização que agoniza. São as sombras humanas daquele Espírito de Verdade que
nas mesmas ocasiões aparece para lhes dar combate e evitar a anarquia total.
A verdade não seria reconhecida se não existisse a mentira, nem o Amor sem a
manifestação do ódio. Quem tomaria conhecimento da Luz, sem a Sombra; do
Bem sem o Mal, etc.,? Obedecem essas entidades maléficas à Lei dos Contrários a
que tudo está sujeito, para que a harmonia das cousas se não rompa totalmente.
E quanto a vós, intelectuais de toda parte do mundo, principalmente da nossa
Pátria, Vós, cuja palavra escrita ou falada representa aquela prodigiosa

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"espada do conhecimento" fo~ada no fogo de Vulcano. V ós/ cujo nobre e he-
róico sacrifício a favor da humana causa tantas vezes vos conduziu ao patibulo
armado pela mão implacável dos" césares, temporais ou espirituais, de todas as
épocas de decadência"! Formai em nossas fileiras, nobres irmãos e amigos, como
defensores da Religião-Única, a Religião-Sabedoria, para que mais facilmente
possam ser banidos da face da Terra, como queria o grande Roosevelt, "esses
monstros com formas humanas". Por desgraça, os mesmos deixaram raízes
profundas, as quais fatalmente hão de ser extirpadas da face da Terra. Serão os
próprios homens de boa vontade, vós mesmos, intelectuais de nossa Pátria, do
mundo inteiro, aos quais, ao nosso lado, incumbe o cultural e homoso papel de
trabalhar a favor de uma Era nova, portadora de Paz, de Luz e de Progresso para
todos os seres da Terra. Sim/ porque quaisquer que sejam as vossas idéias a
respeito do terrível momento por que passa a humanidade, nós vos afirmamos
que, 237embora envolvidos na grande catástrofe, uma salvação existe, em cujos
mistérios muito longe estais de poder penetrar - aquela que nos garante a nossa
própria Missão na Terra. Conosco se acha aquela mesma Lei, ou antes, com Ela
estamos nós!
Alea jacta est!

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Capítulo 6

DEMONOLOGIA ECLESIÁSTICA
(ou relembrando doloroso passado)

Sim, um novo capítulo para a segunda edição de O Verdadeiro Caminho da


Iniciação, porém um novo capítulo para reviver uma época que envergonhou a
História religiosa do mundo. (*)
Precioso documento existe no tomo 1º, págs. 198 e seguintes dos arquivos da
polícia parisiense:
"Monsenhor, o abade d' Auvergne, príncipe e cardeal de Bouillon, era
herdeiro do marechal de Turenne.

(*) Além de nossos estudos esparsos, em Dhâranâ e o Luzeiro, sem falar nos ensinamentos que
constam do arquivo de nosso Templo, possuímos três livros iniciáticos: o primeiro, publicado
em 1940, é este mesmo com o título de O Verdadeiro Caminho da Iniciação, livro de crítica
(construtiva) para provar a decadência do ciclo, inclusive das religiões,
das filosofias e tudo mais. Além de que, o teosófo é um livre pensador, "por seu espírito
de crítica", um eclético ou síncretista. O segundo livro, Ocultismo e Teosofia, um livro que, a
bem dizer, poderia ser chamado de "coletâneas ocultistas". E, finalmente, o terceiro, que não foi
ainda para o prelo, com o nome de Os Mistérios do Sexo, livro científico,
de altíssima transcendência, livro para médicos e cientistas.
Só resta dizer: se as religiões e todos os setores do neo-espiritualismo tivessem tomado outras
diretrizes, inclusive atendendo ao nosso apelo de uma frente única espiritualista feita há mais de
trinta e cinco anos, outras seriam as nossas palavras. Nem sequer visitaram
o nosso templo, dedicado a todas elas. E agora, quando não há mais razão para isso,
é que eles pensam em tal coisa, para nos obrigarem a dizer mais uma vez: Não, absolutamente
não. Nosso artigo Dies-lrae, depois do apelo feito através de nossos pupilos às três nações que
fazem uso das bombas atômicas e de hidrogênio (Inglaterra, Rússia
e América, ou IRA) fala mais claro do que esta simples anotação com que finalizamos
a segunda edição de O Verdadeiro Caminho da Iniciação.
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Infelizmente, o Marechal não havia deixado nenhuma fortuna. Porém, o
abade d' Auvergne, que não podia admitir uma tal indigência para um tão
grande nome e elevados cargos, concluiu' que o marechal havia deixado um
tesouro, mas que tendo tido morte repentina, não havia podido indicar o lugar
onde o havia escondido.
Desse modo, foi ele procurar La V oisin - uma feiticeira da época -, tendo o
cuidado em disfarçar-se a fim de não ser reconhecido, e propôs-lhe que o
fizesse sabedor do lugar onde deveria estar oculto o referido tesouro.
As primeiras palavras de La Voisin ao "grande esmo ler de França", ao ouvir
semelhante proposta, foram "se seu cérebro estava perfeito".
Porém, o abade d' Auvergne insistiu com a célebre feiticeira e adivinha,
tachando as suas práticas de inúteis ... e prometendo-lhe cinqüenta mil libras se
ela evocasse o fantasma do marechal de Turenne e mais duzentas mil se
indicasse o lugar onde estava oculto o tesouro. Tudo isso pareceu tão grandioso
a La V oisin que acabou por retroceder à sua primeira recusa, dizendo que a
coisa não era impossível e que se comprometia a evocar o fantasma do
"vencedor das Dunas", caso o abade lhe quisesse dar a metade da soma
prometida e depositar o restante da soma em mão de uma terceira pessoa, que
lhe faria entregar depois da evocação.
O abade d' Auvergne aquiesceu ao pedido. La V oisin, então, pediu-lhe
quinze dias de espera, pois tinha necessidade desse tempo para preparar a
conjuração. Depois, eram necessárias certas condições, sem as quais nada
poderia fazer.
Para começar, a cerimônia devia ser secreta e debaixo de absoluto mistério.
Em seguida, três pessoas, somente, deviam assistir à conjuração: ela, o padre
Lesage e o abade d' Auvergne.
Porém, a esta cláusula o abade protestou, dizendo que desejava ter consigo
dois cavalheiros há muito devotados à sua causa: um era o capitão do regimento
de Champagne, sobrinho do marechal de França, Gassion; o outro, de quem
não se soube nunca o nome, ocupava junto ao "grande esmoler" o mesmo cargo
que ocupava o cavalheiro de Lorraine junto ao monsenhor.
La Voisin acedeu ao seu desejo, ficando resolvido que esses dois cavalheiros
assistiriam ao ritual.
Enfim, a terceira cláusula seria difícil a qualquer outro, porém a um prelado
tão altamente colocado tudo era fácil. Cem pistolas - moeda antiga de

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241
valor variável-, uma vez oferecidas à grande esmola ria, pareceram recom-
pensa bastante para o sacristão, que se encarregou, mediante essa retribuição,
de introduzir o cardeal e seu séquito na igreja da abadia, onde rezava o
contrato, pois "tinham eles feito o voto de passar a noite em preces" além do
mais, uma mentira ... 1.
Foi preciso esperar uma sexta-feira que caísse, ao mesmo tempo, a treze
do mês, porém isso foi encontrado mais rápido do que era de esperar, de sorte
que os quinze dias pedidos por La Voisin bastaram para que na data precisa
se pudesse proceder à conjuração.
No dia marcado, o cardeal, seus dois auxiliares, os dois referidos padres,
La Voisin, sua camareira Rose - de quem se teve conhecimento de todos
esses detalhes - e um negro portador dos apetrechos mágicos puseram-se a
caminho, às quatro horas da tarde. Deviam eles chegar a Saint-Denis antes de
as portas serem fechadas. Esperava-se o sacristão, que logo tratou de os
esconder na torre.
Ao soar das onze horas, os sacrílegos saíram de seu esconderijo e entraram
na igreja. Os dois sacerdotes deviam dizer a missa negra, ou seja, a missa ao
contrário. Acenderam-se as velas de cera negra, uma espécie de altar foi
armado, os livros santos foram colocados contrariamente à ordem que
ocupam no sacrifício divino, que ia ser parodiado, bem como o crucifixo de
cabeça para baixo. Os dois sacerdotes puseram a casula invertidamente, etc.
O acaso (7) fez com que nessa noite terrível tempestade desabasse sobre a
cidade, como se tal profanação irritasse o céu e Deus fizesse ouvir a sua voz
retumbante, para advertir aqueles que o ofendiam ... e que era, portanto,
tempo bastante para retrocederem ...
La Voisin havia prevenido os assistentes de que, segundo toda a
probalidade, o fantasma faria fender o altar pelo meio e desapareceria no
momento da consagração.
Entretanto, a tempestade parecia aumentar, logo que tal missa foi iniciada.
À medida que se aproximava o momento da consagração, o trovão tornou-se
mais violento e mais lívidos os relâmpagos, além de mais freqüentes. Enfim,
no momento justo em que o padre Lesage - auxiliar de Le Voisin - elevava a
hóstia invocando a Satã, em lugar de o fazer a Deus, ouviu-se um grito
horrível: uma lage do coro, entreabrindo-se, deixou aparecer um fantasma
sacudindo a sua mortalha.

241

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Então, tudo emudeceu: missa negra, tempestade vingadora; os
assistentes caíram de face em terra, apavorados diante de uma voz que se
fez ouvir:
"Miseráveis! minha casa, a que tantos heróis ilustraram, vai doravante
decair e aviltar-sei todos aqueles que levarem o nome de Boillon serão,
antecipadamente, deserdados de minha glória e antes de um século estará
extinta. O tesouro que eu deixei foi a minha reputação, foram as minhas
vitóriasi não sejam procurados, pois, outros tesouros, indignos que sois".
A estas palavras o fantasma desapareceu.
Como é sabido, La V oisin era uma célebre adivinha que praticava a evocação.
Associada a Vigoreux, outra feiticeira afamada e a dois sacerdotes católicos,
chamados Lesage e d' A voux, praticava toda espécie de sortilégios. Era procurada
pela alta roda parisiense, inclusive a Marquesa de Montespan que, com o seu
auxílio, se tornou a favorita de Luís XIV, rei de França (1643-1715).
La V oisin foi condenada a ser queimada viva e tal fato teve lugar aos dois dias
de fevereiro de 1688.
Mas, o que teria acontecido aos sacerdotes Lesage e d' A voux, inclusive, a
monsenhor d'Auvergne, grande esmoler de França? O mesmo de sempre: a
beatifica proteção de Roma, quando outros, por muito menos e até por praticarem a
caridade, como Savonarola, Jean Huss, etc., eram enviados às fogueiras armadas
em praça pública, além de uma excomunhão - passaporte para as caldeiras de Pedro
Botelho.
Na famosa obra de Bodin La Demonomanie ou Traité des Sorciers, (Paris,
1587) se relata espetacular história acerca de Catarina de Médicis. O autor, durante
vinte e cinco anos, procurou colecionar documentos autênticos, transcritos dos
arquivos das mais importantes cidades de França, para escrever uma obra completa
sobre feitiçaria e "poder dos demônios". Tal livro apresenta, segundo Eliphas Levi,
a mais notável coleção que se pode oferecer acerca dos fatos mais sangrentos e
espantosos, os mais repugnantes atos de superstição, de prisões e execuções
capitais da mais requintada ferocidade.
- Queimemos a todo mundo! parecia dizer a Inquisição. Deus saberá distinguir
os seus.
Loucos infelizes, mulheres histéricas e psicopatas eram queimados vivos, sem
dó nem piedade, pelos crimes de magia. Porém, em tal ocasião, quantos outros,
muito mais criminosos, não foram poupados de tão execranda e san-
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guinária justiça! É o que nos diz o mesmo Bodin em sua apreciável obra.
Catarina de Médicis, a piedosíssima cristã que tantos méritos possuía aos olhos
da Igreja de Cristo, pela trágica e inesquecível carnificina da noite de S.
Bartolomeu, essa rainha - misto de crimes e de religiosidade, pois que seu próprio
erotismo provinha, como à maioria acontece, do fanatismo religioso -, tinha a seu
serviço um sacerdote apóstata jacobino. Extraordinariamente versado na "negra
arte", sempre patrocinado pela farm1ia dos Médicis, tinha-se feito credor da
gratidão e proteção de sua piedosa senhora, graças à rapidez com que matava as
pessoas à distância e portanto, sem responsabilidade, torturando-as por intermédio
das tradicionais figuras de cera, isto é, como reproduções suas. Tais processos são,
de todos que se dedicam a semelhantes leituras, bastante conhecidos. Mas não
podemos deixar de aqui transcrevê-Ios:
Carlos estava de cama, atacado de incurável moléstia. A rainha mãe, que com a
morte do filho tudo iria perder, recorreu à necromancia e quis consultar "o oráculo
da cabeça sangrenta". Esta operação infernal requeria a decapitação de uma criança
de grande formosura e pureza - uma espécie de sacrifício de sacerdotisas aos deus
Moloch. A vítima tinha que ser preparada para a sua primeira comunhão pelo
capelão do palácio, o qual era inteirado de tão infame projeto. Chegado o dia
assinalado para a execução, e na tradicional meia-noite, no aposento do enfermo e
na presença unicamente de Catarina e de alguns mais dos seus fiéis confederados,
foi celebrada" a missa do diabo" - o bode negro ... Em tal ritual necromântico,
celebrado diante da imagem do demônio, tendo por baixo uma cruz invertida, o
feiticeiro-sacerdote consagrava duas hóstias, uma grande e preta, a outra, pequena e
branca. Esta última serviu para a comunhão da vítima, que se achava vestida de
branco - como se usa para o batismo, etc. - e que foi sacrifica da nos degraus do
altar, logo após a comunhão. A cabeça, separada do corpo de um só golpe - como
ainda hoje se usa com o cordeiro, nos templos shivaitas da Índia -, foi colocada,
ainda palpitante, sobre a hóstia maior e negra, que cobria a pátena, e a seguir, sobre
uma mesa, na qual ardiam algumas lâmpadas fúnebres. Começou, então, o
exorcismo. O demônio tinha que pronunciar um oráculo e contestar, por intermédio
da cabeça cortada, a uma pergunta secreta que o rei não se atrevia de pronunciar em
voz alta, e completamente desconhecida de todos ... Naquele momento, uma voz
débil, estranha voz que nada possuía de humano, se deixou ouvir partida da cabeça
do infeliz e pequeno mártir... Porém, de nada serviu semelhante crime de magia

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negra, porque o rei morreu e ... Catarina de Médicis continuou sendo a fiel filha
de Roma! E é notável que o escritor católico Des Mousseaux, que em sua
Demonologia usa com excessiva liberdade dos materiais da obra de Bodin para
formular a sua formidável acusação contra "os espíritas e outros feiticeiros",
propositadamente deixa de parte o que diz respeito à sua Igreja.
Tal episódio nos faz lembrar o inédito para o mundo profano, mas conhecido
do mundo dos Adeptos, quando "as forças do Mal", em Tebas, Egito, a chamada
"cidade das cem portas", em verdade 111, depois de roubarem duas crianças
privilegiadas, ou seja, aqueles que, em todos os tempos, são chamados os
Gêmeos Espirituais, sua mãe imediatamente enlouqueceu e fugiu para uma
montanha próxima, onde existiam as ruínas de um templo dedicado a Castor e
Pólux, passando a conduzir sempre, em seus braços, dois ramos ou galhos, como
se estivesse a acalentar seus dois filhos perdidos; ficou, então, conhecida pelos
residentes nos arredores como" a louca das ruínas".
Sim, no momento justo em que tais forças do Mal, manifestadas em magos
negros, iam realizar idêntico ritual, senão pior, com os dois referidos irmãos, para
retirar os seus privilegiados veículos e passá-los para a famosa múmia de
Katsbeth - existente ainda no British-Museum, da qual tantas vezes nos temos
ocupado ... e até nos referido àqueles que a fabricaram, servindo-se de uma bela e
virgem princesa .. , -, sim, dizíamos, em tal momento, ouviu-se um estrondo
partido do solo ... e chamas altíssimas, envolvendo os Gêmeos, fizeram-nos
desaparecer no círculo mágico ... além de prostrar por terra os médiuns-agentes
das forças do Mal...
Nesta vida, não quiseram arruiná-los de outro modo? ... Mas, sempre confun-
didos .. , perambulam como "sombras malditas de si mesmas", sob o guante terrí-
vel do Carma, como lei bem certa ou segura. "Quem com ferro fere, com ferro
será ferido", "Dente por dente, olho por olho". A verdadeira justiça divina, à qual,
como única, se pode aplicar o Dura lex, sed lex, se a humana é falha ...
Continuemos as nossas citações.
É conhecido, também, que o papa Silvestre II foi acusado publicamente pelo
cardeal Benno de "encantador e feiticeiro", A "cabeça oracular de bronze",
fabricada por Sua Santidade, era da mesma espécie da de Alberto, o Grande, que
foi reduzida a pedaços por Tomás de Aquino, não porque fosse "obra do
demônio" ou por ele habitada, mas porque o espírito nela encerrado, por força

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magnética ... falava sem parar, como uma gralha, o que impedia ao eloqüente
santo trabalhar nos seus filosóficos problemas. Semelhantes cabeças e estátuas
falantes, solenes troféus de ciência mágica de monges e bispos, eram meros fac-
similes dos deuses" animados" dos antigos templos. A acusação contra o papa,
naquela época, ficou exuberantemente provada, além de que" o mesmo vivia
acompanhado, constantemente, de demônios ou de espíritos". Nas mesmas
condições, Benedito IX, João XX e os Gregórios VI e VII, todos eles conhecidos
como magos. Este último papa era, além disso, o mesmo famoso Hildebrando, do
qual se diz que era tão" destro em fazer surgir raios das mangas de suas vestes"
que deu motivo para o escritor espírita mr. Howitt julgar que fosse tal fenômeno
idêntico ao célebre "raio do Vilticano" .
E quanto às façanhas mágicas do bispo de Ratisbona e do doutor Tomás de
Aquino, são por demais conhecidas para tomarmos a reproduzi-Ias, a começar
pelo envoútement que fazia este diante de sua porta para que os animais, ali não
passando, pudessem deixá-Io em silêncio para as suas meditações e trabalhos.
Se o prelado católico era tão hábil para fazer crer às gentes que, durante uma
terrível noite de inverno, estavam gozando das delícias de esplêndido verão, e que
os cristais pendentes dos galhos das árvores eram verdadeiros frutos tropicais,
também os magos da Índia, tão ridicularizados ainda hoje pela Igreja - sem
necessidade de Deus nem do Diabo, mas de suas próprias forças latentes, ou seja,
simples fenômenos naturais e nunca pretensos milagres -, ainda hoje assombram
os ocidentais, se é que também entre estes ... não há quem realize maiores.
O começo da vida de nossa Obra, com o nome de Dhâranâ, está repleto deles,
na mesma razão dos que fizeram Jesus e outros mais, para atrair adeptos ou
discípulos. Mas, logo estes, compreensivos de que a verdadeira magia, a Magia
Real ou Branca, se acha na mente, na inteligência, por ser o próprio Espírito,
todos eles desapareceram por completo, ou antes, ficaram reservados para outras
épocas, para não dizer, outras encarnações ... "Guarda os teus siddhis - poderes
psíquicos - para a tua vida futura", ensinava Gautama aos seus discípulos.
Desenvolvê-Ios, entretanto, é uma necessidade, porquanto, pertencendo eles à
alma, à psique, logo atingido é o Espírito, por se achar mais adiante ... Por isso
que, na mitologia grega, "Psiké anda em busca do seu bem-amado". Sim, a alma à
procura do Espírito; o Eu-Inferior, do Superior, etc.

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Mais um pouco sobre a magia eclesiástica.
Assim, enquanto o clero ortodoxo evocava legiões inteiras de "demônios", por
meio de encantos mágicos, sem ser incomodado pelas autoridades - do mesmo modo
que um médico pode curar, servindo-se de qualquer processo, mesmo não aprendido
na academia de Medicina, e por seus colegas tomado como charlatão -, desde que
"não ensinasse nenhuma heresia e se mantivesse fiel aos dogmas estabelecidos", por
outro lado, perpetravam-se atos de inaudita crueldade nas pessoas de pobres
mentecaptos, digamos assim, inconscientes adeptos da mão esquerda ou magia negra
... Por exemplo: Gabriel Malagrida, ancião de oitenta anos, foi queimado por tais
verdugos, estilo Jack Ketches, em 1761. Existe na biblioteca de Amsterdam uma
cópia do seu famoso processo, traduzido da edição de Lisboa. Malagrida, com
efeito, foi acusado de feitiçaria e de manter pacto com o Diabo - isto é, dizemos nós,
com o Anjo Rebelde ... -, que lhe havia revelado o futuro! ... A profecia comunicada
pelo "inimigo do gênero humano" - que dizer das profecias comunicadas aos santos
da Igreja, inclusive, santa Odila, que profetizou até a guerra atual - ao pobre jesuíta
visionário está concebida nos seguintes termos:
"0 réu confessou - como teria ele confessado, pobre coitado, se ainda
hoje maneiras há de se obrigar a confissões de fatos que não foram
praticados pelo pseudocriminoso? ... - que o demônio, sob a forma de
Virgem Maria, lhe tinha ordenado a escrever a vida do Anticristo; que
havia de existir, a bem dizer, três Anticristos sucessivos - e não estão eles
aí? bem visíveis, no centro e nos extremos, em forma caótica para uma
Trindade mais do que excelsa? ... -, e que o último nasceria em Milão, da
sacrílega união entre um frade e uma freira, etc."
E por aí, outras tantas coisas que o obrigaram a confessar.
Debaixo de tão cristão estandarte, o da Inquisição, e no breve espaço de 14 anos,
Tomás de Torquemada, confessor da rainha Isabel, a Católica, fez queimar~as
"santas fogueiras inquisitoriais", nada menos de dez mil pessoas e sentenciou à
tortura perto de oitenta mil! ...
Oróbio, o famoso escritor que, por longo tempo, esteve preso em um cárcere dos
mais rigorosos, dificilmente escapando da inquisitorial fogueira, imortalizou essa
instituição em suas maravilhosas obras, logo que se encontrou na Holanda, depois de
abjurar a fé cristã e abraçar o judaísmo, donde, aliás, a mesma Igreja procede,
chegando mesmo a submeter-se à circuncisão.
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Granger, por sua vez, nos refere a história daquele famoso cavalo a quem, por
artes mágicas, se dizia que lhe tinham ensinado a assinalar no mapa os lugares onde
se encontram os países, etc., e no relógio, as horas. O cavalo e seu domesticador
foram acusados pelo Santo Oficio" de ter pacto com o diabo". E ambos foram
queimados, com grande cerimonial, como feiticeiros, em um auto de fé celebrado
em Lisboa no ano de 1601. Que seria do burrico Canário e do seu pobre
domesticador, conhecido dos cariocas, se a revolução francesa não tivesse
queimado, também, a perigosa mão que se estendia aos confins da Terra? ...
"Macedo, jesuíta português - diz o autor da Demonología - descobriu a
origem da Santa Inquisição no terrenal parágrafo ... pretendendo que o
mesmo Deus foi o primeiro que a empregou, como inquisidor, tanto com
Caim como com os ímpios construtores da Torre de BabeI".
Santa Inquisição, não, santa ingenuidade a dos que suportaram por tanto tempo
semelhante indignidade ... Finis latinorum não quer dizer fim da raça latina, como
supôs Josephim Peladan, na sua obra Le vicesupreme, mas o fim suportado, há
perto de 2000 anos, a menos que tome outras diretrizes, como é de se supor... e de
grande alcance espiritual para o mundo.
Em nenhuma parte, dizemos nós, se praticou a magia negra ou feitiçaria pelo
clero como na Espanha e em Portugal, por terem os mouros, no século IX, trazido
vestígios da Sabedoria Iniciática das Idades, logo adulterados, como em todas as
épocas da História, transformando-a - sob mãos criminosas e ignaras - em ciência
do mal. Por isso que nesta obra procuramos estabelecer a devida diferença entre
Ocultismo, propriamente dito - ou antes, Teosofia - e Ciências ocultas. Todo o livro
é um grito de alerta contra a decadência do ciclo, a começar pelo que o vulgo
supõe" esplendores do verdadeiro Espiritualismo". Por isso que uma reforma geral
no mundo se está dando, inclusive no mesmo Espiritualismo. Melhor dito, como
fizeram Kunaton, o próprio Jesus e outros tantos, a fim de voltar à sua prístina
integridade essa mesma Sabedoria Iniciática das Idades, por outro nome, Teosofia.
Jesus pregou uma doutrina secreta, e secreta, naquele tempo como ainda hoje,
significa Mistérios de Iniciação, logo repudiados pela Igreja.
Diz Amônio Sacas:
"O propósito do Cristo foi o de restabelecer à sua prístina integridade, a

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Sabedoria da antigüidade; reduzir o domínio da superstição que
prevalecia - e prevalece, ainda, como provam as guerras, os crimes, o
afastamento, enfim, da Lei pela maioria dos homens - no mundo,
corrigindo, ao mesmo tempo, os erros introduzidos nas diversas
religiões".
Kunaton, por sua vez, como dissemos anteriormente - vide também nosso
estudo Amenophis IV ou Kunaton, números 107/108 de Dhâranâ -, com a sua
guerra religiosa e a substituição do velho deus Amon-Ra por Aton, o Espírito
Solar, não fazia outra coisa.
Em Toledo, Salamanca, Sevilha, etc., existiam grandes escolas de magia. Os
cabalistas salamantinos, é conhecido, foram muito versados em todos os ramos das
ciências ocultas; conheciam as virtudes das pedras preciosas e se fizeram senhores
dos mais prodigiosos segredos da Inquisição.
O cura de Ba~ota, da diocese espanhola de Calahorra, tornou-se a maravilha
do século XVI por seus mágicos poderes. O mais extraordinário deles, o de poder
transportar-se aos países distantes, presenciando neles os sucessos de maior
importância para logo dá-Ios a conhecer ao voltar à sua freguesia. Acrescenta a
Crônica que o cura possuía um demônio familiar que depois se tornou ingrato,
enganando-o e fazendo mil picardias. Informado pelo demônio acerca de uma
conspiração que se tramava contra o papa, por seus galanteios com certa dama de
rara beleza, o bom cura transportou-se em astral a Roma, salvando, assim, a vida
de Sua Santidade. Depois disso, arrependeu-se, confessando seus pecados ao
galante papa, que logo o absolveu. Ao voltar de Roma, e por simples fórmula, foi
posto debaixo de custódia pelos Inquisidores, que logo o perdoaram, recobrando
assim a sua liberdade.
Frei Pedro, monge dominicano do século XVI - o mesmo mago que presenteou
o famoso licenciado Eugênio Torralba, médico do almirante de Castela, com um
demônio chamado Ezequiel- deve a sua fama ao consecutivo processo que, por tal
motivo, teve de sobrecarregar ao referido médico. Tão assombroso processo faz
parte dos documentos que se conservam nos arquivos da Inquisição. O cardeal de
V olterra e o de Santa Cruz testemunharam ter visto o referido Ezequiel, tendo tido
mesmo certos tratos com ele e que, posteriormente, se tornou um elemental puro e
bondoso durante o resto da vida de Torralba, realizando mil ações benéficas e se
tornando fiel ao mesmo até o dia em que deixou o mundo. A própria Inquisição,
tendo em conta semelhante fato, o absolveu. E embora a sátira mordaz de
Cervantes lhe te-
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nha assegurado uma fama imortal, quer Torralba, quer o monge Pedra não são
fictícias personagens, desde que se acham citados nos documentos eclesiásticos,
que existem em Roma e em Cuenca, onde teve lugar o processo no dia 29 de
janeiro de 1530.
O livro do dr. W. G. Soldan, Geschichte der Mexenprozesse, aus den Quellen
dargestellt, de Stuttgart, chegou a ser tão famoso na Alemanha como em França
o foi a Demonologia, de Bodin. É o tratado alemão mais completo sobre a
feitiçaria no século XVI, e quantos sintam interesse por saber das secretas ma-
quinações que motivaram a morte de milhares de pessoas, por um clero que
pretendia crer no diabo, as encontrarão na referida obra. A verdadeira origem
das diárias acusações e sentenças de morte por feitiçarias é habilmente atribuída
às inimizades políticas e pessoais, especialmente pelo ódio dos católicos contra
os protestantes. O astucioso labor dos jesuítas se manifesta em cada uma das
páginas daquelas sangrentas tragédias, e em Bamberg e Würzburg, onde esses
dignos filhos de Loiola foram mais poderosos, naquela época, e justamente os
lugares em que se apresentavam com maior freqüência os casos de feitiçaria.
Os falsificadores eclesiásticos que acusam a magia, o espiritismo e até o
magnetismo de serem "obra do demônio", assim o fazem ou por terem esquecido
todo esse ignominioso passado ou por não terem lido, com certeza, os clássicos.
Fora disso, somente a má vontade ou então por quererem ser iguais com aqueles
a quem ofendem ... Nenhum dos nossos charlatães olhou com maior desprezo os
abusos da Magia como o verdadeiro Iniciado da antigüidade. Nenhuma lei
medieval nem moderna foi mais benévola como a do hierofante, porque, embora
expulsasse ao bruxo inconsciente, ao obsessionado, seja por um espírito ou
demônio, do interior dos templos, no entanto seus sacerdotes, em vez de queimá-
Ias desapiedadamente, ou mesmo, querendo dar surras com seus cordões presos
à cinta, como o fazem ainda hoje os franciscanos, procuravam curar, com a
maior solicitude, com o maior amor e carinho, ao infeliz "possesso", em
hospitais, em lugares onde fatalmente poderiam obter de novo a sua saúde.
Idêntico, até certo ponto, aos espíritas, mesmo que a estes faltando ciência e
poder para tanto. Muitas vezes basta-Ihes a boa vontade, o grande milagre do
amor pelo próximo, que é um dever e não caridade, se a essa palavra não se der
o verdadeiro entendimento etimológico.

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Porém, dizíamos, quanto àquele que, por magia maléfica consciente, possuía
poderes perigosos e os aplicava em detrimento do próximo, eram eles, os
sacerdotes de outrora, severíssimos. "Qualquer pessoa acidentalmente culpada de
homicídio ou convicta de bruxaria, era excluída dos mistérios de Elêusis" diz
Taylor em sua obra Os mistérios báquicos e eleusinos. A pretensão de Agostinho
de que todas as explicações dadas sobre o assunto pelos neoplatônicos eram
puras invenções suas é o maior absurdo, porquanto quase todas elas se acham
expostas, mais ou menos explicitamente, pelo mesmo PIa tão. Os Mistérios são
tão antigos quanto o mundo, se este, desde os meados da 3ªraça-mãe, a
lemuriana, já era mantido espiritualmente pela Excelsa Fraternidade, sem falar
nos próprios Deuses, que desde o início se incumbiram de semelhante auxílio,
"caindo eles próprios na animalidade terrena" - a queda dos anjos não representa
outra coisa, embora seja vedado tratar-se do assunto ... Esse mesmo mundo não é
digno, por ora, de conhecer o seu próprio passado, sem o que a evolução seria o
maior dos absurdos. Os homens evoluíram pelo temor a esse mesmo passado e
não pelas duas faculdades de raciocinar ou saber e de amar ou realizar ... por
esforços próprios. "Faze por ti, que Eu te ajudarei", disse Jeoshua aos seus
discípulos.
Qualquer pessoa versada no esoterismo das mitologias dos diversos povos
poderá acompanhar todo o seu desenvolvimento até chegar ao período
antevédico, na Índia. Aí se exige do candidato à Iniciação as mais estritas pureza
e virtude, desde que se pretenda ser um Sannyasi, um santo, ou um Purohita, um
sacerdote público, ou mesmo um mísero faquir ou iogue de ínfima classe ...
Indubitavelmente, o exercício das virtudes exigidas, mesmo para este último
caso, é incompatível com a idéia que no Ocidente fazemos do culto diabólico e
de seus lascivos fins!. ..
Tais faquires, embora jamais possam passar do primeiro grau da Iniciação,
são os únicos agentes entre o mundo dos vivos e "os silenciosos irmãos" ou
sannyasis, cujos sagrados umbrais de suas vivendas jamais podem transpor. Os
fukarayoguis não saem de seus templos e quem sabe se esses cenobitas, isolados
assim do mundo profano, têm que ver, muito mais do que comumente se julga,
com os fenômenos psíquicos operados sempre debaixo de sua oculta direção
pelos faquires, algo assim como uma espécie de tulkus dos primeiros, tão
magnificamente descritos por Louis Jacolliot..., esse "cético e empedernido

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racionalis ta " , como ele mesmo se jacta de ser, em sua obra O Espiritismo no
mundo? ... Não obstante seu incorrigível racionalismo, foi obrigado a admitir as
maiores maravilhas a respeito dos faquires, por ele mesmo assistidas durante o longo
tempo que esteve na Índia. O mesmo Pe. Huc, com seu auxiliar, o Pe. Gabet, que
viajaram toda a Índia, Tibete, Mongólia e China, foi obrigado a confessar todos
esses prodígios, embora lhe valesse uma expulsão da Igreja e da Academia Francesa,
esta ... forçada pela primeira.
"Em regra geral- diz o mesmo Jacolliot - raramente passam da classe de
grihastas ou sacerdotes das castas vulgares, e purohistas, exorcistas,
adivinhos, profetas e evocadores de espíritos."
E não obstante, vemos que esses iniciados do grau inferior atribuem a si mesmos,
e de fato parecem possuir, certas faculdades desenvolvidas a um grau tal que jamais
outros seres possuíram iguais na Europa. Quanto aos iniciados pertencentes à
segunda e, especialmente, à terceira categoria têm a pretensão de não conhecerem
nem tempo nem espaço e até de serem senhores da vida e da morte, podendo
mesmo, dizemos nós, encarnar-se quando e em quem assim desejem ... Vide O
Tibete e a Teosofia, publicado na revista Dhâranâ).
"Iniciados desta classe, continua Jacolliot, que infelizmente nunca os
encontrei" - nem poderia encontrar, como um cético que era ... se para
transpor os umbrais de certos templos, o próprio Himalaia, etc ... um sedir,
muito mais evoluído, confessa não lhe permitiram tal graça ...
"não se lhes vê jamais, quer nos arredores, quer no interior dos templos,
a não ser na festa lustral do fogo sagrado. Em tal ocasião aparecem à meia-
noite - sem serem demônios, dizemos nós, como os fatos que se dão
sempre a tal hora ... - em uma plataforma ergui da no centro do templo,
como verdadeiros espectros, e iluminando o espaço com suas conjurações.
Uma brilhante coluna de luz se projeta de cima para baixo, como se viesse
dos céus até as profundezas da Terra. Sulcam o ar os mais estranhos sons-
na maioria, dizemos nós, das" campainhas astrais" - e os cinco ou seis mil
fiéis provindos de todos os pontos da Índia, para contemplar por um ins-
tante aqueles semideuses, são os primeiros a se prostrarem por terra, invo-
cando as almas dos seus antepassados".
Sim, dizemos nós, porque tais Seres ... provêm do mundo de Duat; o mesmo
seria dizer: "Senhores são do mundo dos vivos e dos mortos". Por isso que

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muitos os chamam de homens representativos, mahâtmas, gênios ou jinas de
categoria elevada ...
O fenômeno apontado por Jacolliot não é mais do que uma projeção, à
distância, do corpo causal de tais Seres que, estando presentes, no entanto não o
estão. A História está cheia de fatos idênticos, inclusive a da Igreja, através de
alguns de seus santos, aos quais de modo algum se pode chamar de "possessos,
endemoniados, etc.", como ela chama aos que, sendo-o, praticam igualou
muitíssimo mais do que seus referidos santos, dignos, aliás, de todo o respeito,
porque não é a religião, mais uma vez o dizemos, que faz o homem e sim o
caráter.
Agora mesmo no hospital da Santa Casa de São Lourenço se deu um caso
interessante que merece ser aqui apontado: um irmão nosso que sofreu um
acidente, quando pintava uma parede, quebrando a perna, foi levado para o
referido hospital, onde foi operado por conceituado cirurgião daquela localidade.
No segundo dia que ali se achava, eram duas horas ou pouco mais da
madrugada, dois outros doentes que estavam acordados viram aparecer um
ancião de longas barbas e olhos azuis, que tomou lugar na cama do doente, ali
ficando por algum tempo. Ao levantar, puderam ver os mesmos doentes, que
contaram o fato a vários membros da STB, "estava todo iluminado nas costas,
como se fora um triângulo trazendo no centro um orifício mais luminoso
ainda ... " - o olho da Divina Providência, dentro do seu indeformável
Triângulo? No dia seguinte, o mesmo Ser tornou a voltar. E se não continuou
fazendo o mesmo até o nosso doente sair do hospital foi devido à grosseira
forma com que se manifestou um enfermeiro daquele hospital, dando gritos,
ofendendo, mesmo, aos dois doentes, que em tal dia acharam por bem procurar
saber quem era semelhante Ser que vinha todas as noites em visita a um doente.
Também tivemos ocasião de conhecer certa irmã de caridade, alma bondosa -
pois que "não é a religião que faz o homem, e sim, o caráter" -, que nos contou
fato idêntico. E isso, em outro hospital. A história está repleta de fatos dessa
natureza, sem que isso seja baixa magia, pois que, na opinião de alguns, só os
que não pertencem a certa religião têm parte com o diabo - sim, o Anjo rebelde,
o maior dos mistérios na vida religiosa da humanidade -, mas os que na sua
fazem a mesma coisa são santos ... Por felicidade que estamos no final de todas
essas indignidades, ou antes, malignidades ...
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REAPARECE EM LONDRES O FANTASMA DA DAMA CINZENTA, O
ESPECTRO DA MISTERIOSA FILHA DE HENRIQUE VIII (*)
Londres, junho (A.A.) - Entre as lendas inglesas é muito conhecida a da
Dama Cinzenta, fantasma que soe aparecer no real castelo de Windsor quando
algum acontecimento grave está para se produzir a respeito da nação ou da
família real britânica. As crenças populares afirmam que a Dama Cinzenta é o
fantasma da rainha Elizabeth, a enérgica filha de Henrique VIII e de Ana
Bolena que, com o sangue de Maria Stuart, quis extinguir a dupla fogueria das
suas rivalidades de rainha e dos seus ciúmes de mulher.
Uma das últimas vezes que o fantasma de Windsor se manifestou foi em
1897, a um jovem tenente dos granadeiros da Guarda Real. Estava o oficial
lendo na biblioteca da rainha quando das sombras da vasta sala viu surgir o
vulto de uma mulher alta, envolta em um grande véu cinzento, que silencio-
samente passou deslizando a seu lado e desapareceu na sala contígua. Alguns
anos depois, a princesa Alice, durante uma breve estada no castelo de Windsor,
viu a Dama Cinzenta inclinar-se sobre o leito de um de seus filhos e fitá-Ia
insistentemente. Outras aparições foram assinaladas em seguida, até que, dias
atrás, um turista, contemplando à luz incerta do ocaso a majestosa mole do
castelo, viu aparecer, imprevistamente, em uma janela, perto da torre dos
Saxônios, uma dama vestida de cinzento, com a cabeça coberta por um enorme
capuz. A visão desapareceu de repente para reaparecer logo depois no telhado,
por trás da mais alta cinta de ameias do castelo.
Outra Dama Cinzenta costuma aparecer também no Royalty Theatre. Mr.
Stephenson, diretor de cena daquele importante teatro, viu-a ainda a semana
passada, depois do espetáculo, quando, vazia já a sala, efetuava a sua última
inspeção.
Viu ele, na primeira fileira das poltronas, um vulto feminino, com uma touca
de forma antiga, da qual descia um amplo véu cinzento que a envolvia toda.
Indicou-a a sua esposa, que o acompanhava, mas esta nada viu. Imediatamente,
a figura desapareceu também das vistas de mr. Stephenson, o qual contou o
caso ao pessoal do teatro, que lhe afirmou ser a Dama Cinzenta uma aparição
familiar ali. Lembrou-se, então, de a ter visto, ainda uma vez, em um camarote
da boca da cena. A porteira do teatro afirma tê-Ia visto muitas vezes, nos seus
vinte e seis anos de serviço (54).

(*) Cópia do O Jornal, provavelmente de agosto de 1926. (N.do A.)

253

254
b)
c)

The Crimson Drawing Room

The Green Drawing Room

Saint George’s Hall

o castelo de Windsor, onde se dão as aparições da Dama Cinzenta, o espectro da


misteriosa filha de Henrique Vill. Ela mesma ou sua homônima apareceu no Royalty
255
Theatre, também na capital inglesa. Esse castelo, como outros muitos esparsos pela Europa,
conservam no seu ambiente trágicas recordações para os povos, as quais devem servir de
lição para os estudiosos da História e os homens que, elevados na govemança das nações,
esquecem que sua linhagem lhes exige sabedoria e amor pelos cidadãos a quem regem. Ai
dos que recebem privilégios e se locupletam com suas vantagens! porque a quem muito for
dado muito será pedido - ou cobrado pelo Carma.

254

256
Quem será este fantasma?
Alguns afirmam que as duas Damas Cinzentas são a mesma e única visão.
Outros julgam que o fantasma do Royalty Theatre pertence a alguma atriz defunta ou a
alguma habitante das casas demolidas há cerca de setenta anos, para dar lugar à
construção do teatro. Numa dessas casas morou o famoso pintor Thernhill
(1675/1734), e na ocasião da sua demolição foi encontrada no subsolo uma ossada
humana.
As damas fantasmas de diversas cores - branca em Schoenebrun, cinzenta em
Windsor, pretas em Posem e no Escorial -inflamaram em todas as épocas a fantasia
popular, que criou lendas, ora tristes, ora horrorosas.
Mas elas modernizam-se. Dos paços augustos dos reis e dos imperadores, já
descem às salas de espetáculos teatrais.
Vê-Ias-emos, em breve, nas trevas dos cinemas, nas penumbras discretas das casas
de chá, arrastando os seus véus ao compasso infernal dos jazz-bands da moda,
familiarizadas com o tango, o shimy, e, quem sabe? com o flirt também ...
No abastardamento das lendas esvai-se o seu perfume de mistério ...

Numa das salas enormes e desertas do


castelo de Windsor, a Dama Cinzenta desliza
no ar - kâma-rupa cumprindo seu triste
fadário de alma penada. É a impressionante
filha de um rei que encheu seu reinado com
desordens de toda espécie. Note o leitor o
relógio ao fundo e verá que os ponteiros
incidem exatamente sobre o número XII, a
Obra, o Nada no lapso de tempo, a
farnigerada hora dos fantasmas .. Nesta hora
zero (ou trevas) por que passa a Inglaterra,
incluem-se ainda a Rússia e a América do
Norte, formando com as iniciais de seus
nomes a palavra IRA, interpretada no Dies-
lrae, mensagem da Sociedade Teosófica
Brasileira ao mundo espiritualista, datada do
corrente ano e difundida extensamente no
nosso pais e enviada a elevado número de
instituições estrangeiras.

255

257
Cena imaginada pelo artista, representando a terrível noite em que a Atlântida
sofreu seu cataclismo, conforme manuscrito da famosa coleção de Plangeon
(manuscrito Troano), existente no British Museum de Londres, onde se lê:
"No ano 6 de Kan, 11 Muluk, mês de Zac, ocorreram horríveis terremotos que
continuaram sem interrupção até o 13 Chuan. O país das lamas de barro, a terra de Mu,
foi sacrificada. Depois de duas tremendas convulsões, ela desapareceu durante a noite,
sendo constantemente sacudida pelos fogos subterrâneos, que fizeram com que ela
tivesse tão trágico destino. Por fim, a superfície cedeu ... os países separaram-se e
desapareceram, levando consigo 64 milhões de habitantes. Isso aconteceu 8 mil anos
antes de ser feito o presente manuscrito."
Conforme se diz no texto, a catástrofe atlante ocorreu quando a estrela Baal caiu no
lugar onde hoje só existe mar e céu ... Compare o leitor o que disse o sábio e bondoso
Ra-Mu com o que hoje se diz aos homens e ... escolha lá o seu futuro.

256

258
Anotações

(1) Quando este livro foi publicado pela primeira vez (junho de 1940), está-
vamos em plena ditadura. Mas, o fato é que depois da mesma as coisas pouco
mudaram, principalmente na política. Sim, fatos, homens e coisas de um fim de
ciclo apodrecido e gasto.
(2) Desta teoria gnóstica, também chamada de "Corpo pneumático do Cristo",
copiou a sua o espírita Roustaing, em oposição à de Kardec que, por sua vez, como
já o provamos em outro estudo nosso - Minha Mensagem ao Mundo Espiritualista,
publicada em Dhâranâ - tem a sua vazada no antiquíssimo livro indiano Agruchâda-
Parikhari.
(3) Em resumo, o termo Cristo define uma categoria superior a que pode chegar
o homem, e não o nome de determinado Ser, como julga, erradamente, a maioria,
inclusive os mais letrados.
Quanto a se empregar o de Budha em marcas comerciais - como acontece em
certa marca da farinha de trigo, em carros alegóricos, carnavalescos, como adornos
de jardins, etc. - é um abuso que merece acabar de uma vez para sempre, pois
somente a crassa ignorância de muita gente concorre para semelhante desrespeito a
um Ser Superior (senão a todos que ao mesmo título têm direito), cuja vida e
ensinamentos servem, até hoje, de exemplo a milhões de criaturas. Na própria
América do Norte, existem um milhão de budhistas. E assim por diante. Do mesmo
modo quanto ao termo Brahmâ, que se deu, até, a uma cervejaria - ao, vício,
portanto, pois se pode passar muito bem sem cerveja -, desde que se trata do
mesmíssimo Deus do Cristianismo e de todas as outras religiões, senão, ainda, da
primeira pessoa da mesma Trindade cristã - Pai, Filho e Espírito Santo -, na Índia
como a Trimurti - Três corpos - ou seja: Brahmâ, Shiva e Vishnu.
Além de outros papas que corroboram a mesma opinião, temos Paulo lI, quando
afirma que "Cristo era o Sol adorado pela seita Mítrica, e Júpiter-Amon, dos
pagãos, o mesmo Deus dos cristãos" - Os Crimes dos Papas, Lachâtre.
257

259
(4) Joe Krishnamurti dedica-se hoje ao plantio de laranjas, na Califórnia,
verdadeiros pomos de oíro, hesperídeas ou hespérides, já que as arruinadas
sementes de Instrutor, que lhe deram para semear, de nenhum modo poderiam
produzir bons frutos. "Divino rebelde", pois se revoltou contra a sua falta de
liberdade de pensamento e de ação, cerceada pelos seus dois referidos tutores e,
como já havíamos prognosticado, desde o início da nossa Obra, dissolveu a
Ordem da Estrela, da qual o fizeram chefe, além de desmentir categoricamente
aos que o fizeram vir ao Brasil, afirmando" que os livros dados como seus não
fora ele quem os escrevera" ... Muito bem, pois, Krishnaj, desde que "as almas
rebeldes são as que se salvam", como diz o oráculo zoroastrino. (*)
(5) Em referência ao Catolicismo Liberal, sem falar na Távola Redonda, como
um segundo tomo, extemporâneo, do Rei Artus e seus Doze Cavaleiros - símbolo
dos Doze Signos do Zodíaco -, mas que possui também o mesmo simbolismo na
cópia da Igreja, para Jesus e seus Doze Apóstolos, do mesmo modo qU,e Carlos
Magno e os Doze Pares de França, etc.
Como religião, o Catolicismo Liberal também tem seus padres, bispos, missas
e quantos rituais, que nada tem a ver com a Doutrina Secreta, Sabedoria dos
deuses, super-homens, etc., ou Teosofia.
Outrossim, preces evocatórias - e não, invocatórias - para Cristo manifestar-se
- descer, baixar, como se diz no mundo espírita - na pessoa de Joe Krishnamurti,
inclusive, em Omem, onde o número de fanáticos era enorme, especialmente do
sexo feminino. O que se pode chamar de anfíbología anímíco-católíco-líberal, desde
que o animismo, erradamente chamado espiritismo, aí prevalecia, ao lado duma
religião aparentemente nova ...
E, assim, tais preces, que foram largamente espalhadas entre os místicos
devocíonaís-teosofísmátícos, eram dedicadas ora ao Cristo, ora a Maitréia, numa
demonstração cabal de ignorância teosófica, a respeito de um termo que implica
em grau, jerarquia, etc., a que qualquer indivíduo pode chegar, e nunca o nome de
um Ser vindo ao mundo, a menos que - por essa mesma jerarquia, grau, categoria,
etc. - todos eles tanto pudessem ser chamados de Cristos, como de Budhas, como
já ficou demonstrado neste livro.

(*) Taispalavras foram escritas em 1939. Jiddu (Joe) Krishnamurti faleceu em 18 de


fevereiro de 1986, na cidade de Ojai, Califómia, Estados Unidos. (N. da E.)

258

260
E dizer-se que a maioria dessas pessoas, hoje completamente desiludidas,
conhecia de cor e argumentada" como se diz nas escolas primárias, a valiosíssima
1/

obra de HPB , recomendada a todos quantos ingressaram nas fileiras teosóficas,


intitulada A Chave da Teosofía.
Quanto a preces, vejamos o que a mesma obra diz a seu respeito, desde que
o livro é feito todo ele à guisa de perguntas e respostas:
Pergunta: - Credes na oração? Já orastes alguma vez?
Teósofo: - Não. Preferimos agir, em vez de falar.
Pergunta: - Tampouco ofereceis as vossas orações ao Princípio Absoluto?
Teósofo: - Para que? Ocupados, como vivemos, com tanto trabalho, não
podemos perder tempo em dirigir orações a uma simples abstração. O incognoscível
só pode entrar em relação consigo mesmo; porém, não admite relações finitas. A
existência e os fenômenos do universo visível dependem de suas formas e suas leis,
e não da oração.
Pergunta: - Credes na eficácia da oração?
Teósofo: - Não na oração composta de palavras que são recitadas verbalmente, e
se é que por oração entendeis a súplica dirigida a um deus desconhecido, como
fizeram os judeus e os fariseus.
Pergunta: - Há outra espécie de oração?
Teósofo: - Sem dúvida alguma: a oração da vontade, que é mais uma ordem
ou comando interno do que uma súplica.
Pergunta: - A quem orais então?
Teósofo: - A "nosso Pai no céu", mas em sentido esotérico.
Pergunta: - É isso, por acaso, diferente da Teologia?
Teósofo: - Completamente. O ocultista ou teósofo ora a seu Pai que existe em
segredo, e não a um Deus extracósmico e, como tal, finito. O Pai se acha no próprio
homem.
Pergunta: - Assim é que fazeis do homem um Deus?
Teósofo: - Dizei Deus e não um Deus. Para nós, o homem interno é o único
Deus cognoscível. E por que não?
Compreendeis a Deus como um princípio infinito universalmente difundido.

259

261
Como pode, em tal caso, não se fundir o homem com, por e na Divindade? Cha-
mamos "Pai no céu" à deífica essência, e que nada tem de comum com o conceito
antropomórfico criado pela nossa imaginação, mas que reconhecemos em nós, em
nosso coração e espiritual consciência. Não sabeis que sois o templo de Deus, e que
em vós habita o espírito de (o absoluto) Deus? Entretanto, evite o homem
antropomorfizar a essência que nele se acha. Não diga o teósofo, se desejar cumprir
a verdade divina, e não a humana, que" o Deus em segredo" ouve o homem finito, ou
é distinto da essência infinita, porque são um só. Nem tampouco que a oração é uma
súplica. É um mistério; um processo oculto, por meio do qual os pensamentos e
desejos condicionados e finitos, incapazes de se assimilarem no espírito absoluto,·
que é incondicionado, transformam-se em desejos espirituais, na vontade. Tal
processo é chamado transmutação espiritual.
A intensidade de nossas ardentes aspirações faz da prece a pedra filosofal, que
transmuta o chumbo em oiro puro. Nossa oração de vontade, única essência
homogênea, converte-se em força ativa ou criadora e produz efeitos de acordo com
os nossos desejos.
Pergunta: - Dizeis, por acaso, que a oração é um processo oculto com resultados
físicos?
Teósofo: - Sim. O poder da Vontade é poder vivo e real- mas nunca, dizemos nós,
capaz de transgredir as leis naturais, especialmente, obrigando a descida de um Ser,
digamos, a própria manifestação da Divindade na Terra, como julgavam Besant,
Leadbeater e seus prosélitos, desde que Krishnamurti era quem menos sabia tais
coisas ... - Infelizes, porém os ocultistas e teósofos que, em vez de expelir os desejos
de seu Eu-Inferior, ou homem físico, preferem dizer a seu Eu-Superior, cercado de
luz atmâ-búdhica: "Cumpra-se a minha vontade e não a Tua", usando, nesse caso, o
poder da vontade para fins egoístas! E tal coisa é magia negra, abominação e
feitiçaria espiritual- se tal é possível dizer-se ...
Infelizmente, é esta a ocupação favorita dos estadistas cristãos que precipitam os
exércitos uns sobre os outros - com vistas à atualidade! - Sim, uns e outros se
entregam, mesmo antes de entrarem em combate, ao necromântico ritual de rogar ao
mesmo Deus dos exércitos que os auxilie na destruição do inimigo - muito pior!
quando a mesma Igreja benze as espadas de ambos os contendores, como se não
fossem "filhos do mesmo Deus".
Pergunta: - Davi rogou ao Deus dos exércitos que o auxiliasse a derrotar os

260

262
filisteus, síTios e moabitas, e "o Senhor ouviu as suas preces". Assim, limitamo-
nos a seguir os ensinamentos da mesma Bíblia.
Teósofo: - Porém, já que vos orgulhais em vos chamardes cristãos, e não
israelitas, por que razão não faz eis o que disse o vosso Cristo? Implicitamente
ordena Ele a não se seguir a lei mosaica, mas a que Ele mesmo ensina, advertindo:
"Quem com ferro fere, com ferro será ferido". O Cristo ensinou uma oração que os
lábios pronunciam (automaticamente, poitanto), mas que somente os ocultistas
verdadeiros compreendem.
Pronunciais em tal prece, segundo a letra morta: "Perdoai as nossas dívidas,
assim como nós perdoamos aos nossos inimigos", o que, de nenhum modo
praticais. É ainda Ele quem diz: "Amai os vossos inimigos". Não foi, portanto, "o
meigo nazareno" quem vos ensinou a orar ao Pai para assassinardes os vossos
inimigos. Eis aí a razão por que condenamos as orações.
Pergunta: - Mas como se explica que todos os povos tenham adorado a um ou
vários deuses? Não faltou quem adorasse aos demônios e espíritos malignos;
porém isso vem provar, precisamente, a universal crença na eficácia das preces.
Teósofo: - Explica-se, porque ela possui diversos significados completamente
diferentes daquele que lhe dão os cristãos. Antigamente, era uma invocação ou
conjuração. O mantra ou hino rítmico dos hindus tem precisamente esse sentido,
desde que os brâmanes se fizeram superiores aos devas comuns ou deuses. A prece
pode ser uma conjuração para o mal - como no caso dos exércitos que suplicam do
céu sua mútua destruição - ou para o bem. E como a maioria continue suplicando
"o pão nosso de cada dia", em vez de trabalhar para ganhá-Io, e rogando a Deus
que "não o deixe cair em tentação e o livre de todo o mal" ... a oração, tal como
hoje se entende, é duplamente perniciosa porque destrói no homem a confiança em
si mesmo e aumenta o seu natural egoísmo. Nós, porém, cremos na comunhão e
união com o nosso "Pai Secreto", do mesmo modo que na fusão do nosso Eu
Superior com a essência universal, sua origem e centro. A tal estado denominamos
Samâdhi, em vida e Nirvâna, depois da morte. Não oramos a seres criados e finitos,
como deuses, anjos, santos, etc., porque consideramos isso idolatria, nem podemos
fazer o mesmo ao Absoluto, pelas razões já expostas. Assim, preferimos substituir
a oração estéril pelas boas obras.
Pergunta: - Os cristãos tomaram isso por orgulhosa blasfêmia. Não julgais isso
um erro?

261

263
Ieósofo: - De modo algum, pois são eles que dão tal prova quando acreditam na
possibilidade de relação entre o condicionado e o incondicionado, obrigando o
Absoluto a atender às súplicas egoístas que lhe são dirigidas. Eles é que blasfemam
quando afirmam que um Deus onipotente e onisciente necessita de orações feitas
com o fim de o obrigar a fazer aquilo que Ele deveria saber! Ao contrário, ensina-
nos o Budha: "Não peças coisa alguma aos deuses impotentes; não ores e sim, age,
pois a obscuridade não se aclarará ... Nada peças ao silêncio, que ele não ouve nem
fala". Do mesmo modo Jesus: "qualquer coisa que pedires em meu nome (o de
Cristo), eu o farei". Considerando-se essa citação no sentido literal, parece
argumento desfavorável. Porém, se atendermos ao sentido esotérico de Cristo, que
para nós é Âtman-Buddhi-Manas, ou seja, o Eu, (a Iríade Superior) veremos que o
único Deus a quem temos de fazer qualquer súplica (ou melhor, com quem temos
de agir) é a ele como espírito de Deus que habita em nosso corpo.
Diante disso, não há necessidade de outros comentários ...
(6) A palavra Europa provém do celta Ur-Rope - ur ou fogo, e rape, região, lugar.
No mesmo sânscrito rupa significa corpo, veste, ete.
De fato, certa região ceIta foi devorada pelo fogo. E assim, seus próprios habi-
tantes foram chamados, mais tarde, filhos do Fogo. Vide nosso estudo: Docu-
mentação Científica e Filosófica sobre a existência da Lemúria e da Atlântida.
(7) Procure-se ler A B{blia na Índia, do famoso escritor francês Louis Jacolliot. (8)
O último Budha vivo da Mongólia desaparece no ano 1924, quando, justamente,
no Ocidente - em Niterói, Brasil - é fundado o nosso Colégio Iniciático, naquele
tempo com o nome Dhâranâ, nome que em sua homenagem ainda hoje conserva o
nosso órgão oficial.
Procure-se ler a última obra do genial teósofo espanhol Mario Roso de Luna, O
Tibete e a Teosofía, que o mesmo nos ofereceu "para ser publicada na querida
língua de Camões", embora ainda por acabar, pois apenas tinha os primeiros 22
capítulos e que nós mesmos concluímos auxiliados pelos recortes e apontamentos
oferecidos por seus filhos ( depois da morte de Roso de Luna ), apresentando-a ao
mundo com 52 capítulos, além de devidamente ilustrada.
Por tal obra se pode avaliar da vida e coisas do Tibete.
(9) O futuro nos disse, realmente, ter vencido o interesse sacerdotal e ter sido

262

264
satisfeita a velha aspiração da China em possuir em Lhassa um hutuktu para
defender seus interesses políticos e religiosos. Já este livro estava no prelo quando
chegou a notícia de ter sido consagrado um novo Dalai-Iama, saído do conluio
entre hutuktus tibetanos e pânditas chineses. Reproduzimos aqui as palavras com
que terminamos o artigo escrito a tal respeito em o nº 103 de Dhâranâ: "A
conseqüência deste flagrante desrespeito à Lei será a derrocada mais rápida dum
povo cuja missão espiritual estava definitivamente terminada, com o desapareci-
mento dos últimos representantes no Oriente do Governo Oculto do Mundo. Carma
abrirá para os autores deste sacrilégio mais uma página na história dos homens ...
" . Hoje, a bem dizer os vermelhos tomaram conta do Tibete, para fazer jus à profecia
do Rabino-Purdira ... "que quando os mlechchha (estrangeiros) o invadissem, o
papel espiritual do Oriente estava terminado".
(10) O Mahâbhârata e o Râmâyana são as duas grandes epopéias da Índia, ante-
riores em tempo e superiores em mérito à lliada e à Odisséia, atribuídas a Homero.
Telang atribui ao Mahâbhârata quatro séculos antes de J. c. e Cesar Cantu, dez
sobre a era cristã. É muito mais provável que a razão esteja com o primeiro.
(11) ilustre médico patrício acaba de escrever um livro interessante, intitulado
Vitaminomania, onde faz uma crítica severa aos abusos da época, nesse sentido.
Que diria ele hoje, como já o dizem outros colegas seus dos mais ilustres, a respeito
da "espada de dois gumes", que são os perigosíssimos antibióticos?
Um outro, contrariamente àquela teoria de "que se devia pensar sifiliticamente",
afirma categoricamente que se deve pensar pancreaticamente, esquecendo que
embora cada órgão tenha sua função própria, a combinação entre todos é o que
concorre para o equilíbrio perfeito das referidas funções. Infelizmente, a Medicina
está muito longe ainda de conhecer o mistério da vida humana. E foi a razão, por
exemplo, de Paracelso ter dito: "O que uma humanidade considera como o cume do
saber é considerado pela imediata como errôneo e até prejudicial". Outrossim,
"estudar anatomia num corpo morto é querer desvendar o mistério da vida onde
essa mesma não mais existe". Além do mais, o que ele queria dizer é que num
cadáver não se pode mais descobrir a influência dos chakras ou centros de força,
que, em verdade, astralmente falando, são os que fornecem a vida ou prâna ao
organismo. Para isso, infelizmente, tem-se que se socorrer da clarividência,
enquanto não aparecer quem descubra um aparelho, como existem vários na
Agartha - um deles com o nome

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265
de pleuro-cósmico - capaz de tornar visível aos olhos físicos o que ainda lhes
escapa, por não ter o homem alcançado um estado de consciência superior ao que
hoje está ainda desenvolvendo.
(12) Do vasto programa que a Sociedade Teosófica Brasileira vem pondo em
execução há longos anos faz parte: o combate intensivo ao analfabetismo, aos
vícios e maus costumes sociais, ao fanatismo, à superstição, à mentira e ao erro
onde quer que ele se manifeste. Suas conferências públicas, hebdomadárias, seu
próprio órgão oficial e mensagens pela imprensa, enfim, sua ação interna e externa
é a cabal demonstração de que ela cumpre o seu dever para com o mundo, a pátria e
a mesma Lei que exigiu sua construção na Terra, justamente no país privilegiado
que tem o nome Brasil.
(13) Quem poderá explicar a estranha coincidência entre as iniciais de HPB e as
da nossa própria missão, ou seja Hoje Pelo Brasil, muito embora pouco haja de
comum entre nós e aquela que possuía tal nome? ... Mistério que só a Lei pode
desvendar. Do mesmo modo, por que os nomes de Henrique e Helena, fundadores
da STB, reproduzem os de Henry Steel Olcott e Helena P. Blavatsky, fundadores,
por sua vez, da The Theosophical Society, em Norte América, à qual apenas nos
ligam os laços espirituais que unem todos os seres entre si? Mesmo porque a STB é
uma sociedade autônoma e genuinamente nacional, com missão completamente
diferente da daquela, como de quaisquer outras congêneres no mundo.
(14) Na igreja ortodoxa, o liame assim formado é considerado tão sagrado que
impede o casamento entre os padrinhos da mesma criança, considerando-o o pior
dos incestos; por isso ilegal e, como tal, dissolvido. Tão absoluta proibição estende-se
igualmente à união entre os filhos dos padrinhos. Para nós, tudo isso é absurdo,
pois não passa de má interpretação dada a certas iniciações antigas ...
(15) De sete em sete anos tem lugar a transformação das células, fato que a
própria Medicina já reconhece quando aconselha a vacinação nesse período de
tempo. E assim, quando a criança completa a primeira transformação celular,
começa, por sua vez, a primeira fase de responsabilidade na vida; muito mais aos
14, aos 21, 28, 35 anos, etc. Em jurisprudência, considera-se a maioridade aos 21
anos, na razão duma tríplice manifestação celular, isto é, de 3x7 = 21, o que é, para
nós, uma grande expressão cabalística ...
Completemos esta anotação com diversos assuntos que merecem ser conheci-

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266
dos, não só dos leitores deste livro, como também dos ilustres médicos brasileiros:
Ainda são motivos para a apavorante estatística do câncer em nossos dias a
fumaça dos ônibus, todos os alimentos e bebidas onde entram os coloridos das
anilinas minerais, principalmente as verdes, por serem altamente cancerígenas. Do
mesmo modo, as águas poluídas, devido "ao arrasamento das florestas", contra o
qual se bate há muitos anos um preclaro membro da Sociedade Teosófica Brasileira,
o Dr. Eugênio Próclan Marins. Não falemos do sistema nervoso, abalado com tudo
quanto neste" fim de ciclo apodrecido e gasto" deprime o moral, e a expectativa
apavorante - outra guerra, porém, de nervos - de uma terceira guerra, especialmente
para os países europeus e a própria América do Norte. O verdadeiro termo para o
fenômeno nervoso é o de angústia, com o qual já se preocupa a medicina
psicossomática, termo este, ainda, proveniente do angos grego, com o significado, em
medicina antiga, de útero, mas, no iniciático, o de estreita vereda, que ainda
prevalece como vagina, por onde sai o filho daquele outro lugar, porém, de modo
mais transcendente, "a estreita Vereda" que deve ser palmilhada pelo discípulo até se
transformar em Mestre ou Adepto da Boa Lei. Já tivemos ocasião de apontar coisa
que ninguém sabia ou investigou até hoje - que a primeira palavra pronunciada pela
criança, seja qual for o país de seu nascimento, é ango! ango!, que nada tem a ver
com o angu baiano como julgam certas pessoas que a ouvem no nosso país, mesmo
porque uma criança de peito não poderia querer nem saber tal coisa. Repetimos, seja
brasileiro, francês, inglês, alemão, japonês, o que for, a primeira palavra que uma
criança pronuncia é o ango, além do mais para provar que ao nascer começam as suas
angústias. E a prova é que, se não chora, tem que apanhar, como procede o médico.
E chorando vive toda a sua vida, até chegar a morte.
Quanto a outras causas das demais moléstias que afligem o homem, vêm
transmitidas pelo urubu, que nada tem de "higienizador das cidades", etc., mas ao
contrário, transmissor de inúmeras moléstias, devido a ser um devorador de
cadáveres em putrefação, onde os micróbios pululam aos milhões. Na Índia,
principalmente em Bombaim, os cadáveres são levados aos cemitérios e colocados
sobre mesas de mármore. Enquanto os corvos devoram até os ossos dos referidos
cadáveres, os parentes assistem, no seu fanatismo religioso, ao banquete que eles
mesmos servem aos animais. Tal como em nosso país, como os urubus na Índia, os
corvos - mesma espécie de animal - existem por toda parte ... E quanto ao cólera-
morbus, como moléstia endêmica naquele país, tem ainda por causa outra espécie de
fanatismo: verdadeira multidão se banha no

265

267
Ganges, bebendo aquelas águas imundas, inclusive as que ficam por baixo dos
ghates ou fomos de cremação de cadáveres. De fato, o que mais ressalta de belo e
grandioso na Índia é o Norte, pois, a bem dizer, ali só existem filósofos e homens
eminentes. Foi ali onde estivemos em 1899/1900.
Por tudo isso se vê que o melhor sistema de destruir o lixo e reduzir a cinzas os
cadáveres é a incineração para o primeiro e a cremação para o segundo. Não
permitir a Igreja que se faça uso da cremação é mais que anticientífico, é até anti-
religioso, pois diz ela" que se fazendo uso desse processo não se permite ao
homem apresentar-se diante do Juízo Final, por não ouvir as trombetas avisadoras
dos anjos". Hoje ninguém mais levaria a sério semelhante coisa, embora que em
nosso próprio país a Igreja tenha servido de obstáculo a um processo duas vezes
higiênico: 1º) porque evita a propagação de moléstias (a radiestesia já provou tal
coisa, inclusive com o câncer, através do maior radiestesista do mundo, o abade
Mesmer, na experiência que fez com seu pêndulo para descobrir a razão pela qual
"todas as casas nas imediações do cemitério mais antigo de Paris, que é o Pére
Lachaise, um ou mais dos seus habitantes era atingido pelo câncer".
Sabemos de vários casos idênticos na própria capital brasileira (*) e na de São
Paulo, onde os cemitérios acabaram por envolver as residências; 2º) no sentido
esotérico, que é o mais usado em outros lugares da Índia, que não em Bombaim,
etc., onde se faz a cremação dos cadáveres, não apenas em fomos, para os mais
abastados, mas também de pé, enrolado o cadáver com uma corda a um poste e
untado de certa resina, ateia-se-Ihe fogo. Outros o fazem numa espécie de maca,
coberto de flores ou de perfumes, como o foi, por exemplo, a sra. Annie Besant,
ex-presidente da The Theosophical Society, em Adyar, Madras. Outra razão esotérica
desse processo é destruir o duplo etérico do morto, para que seu progresso post-
mortem seja mais rápido, inclusive, dizemos nós, para não se apresentar nas sessões
espíritas, ou melhor, anímicas, nas quais, em verdade, raramente se apresenta um
espírito. Não falemos nos embustes da maioria dos médiuns, que bem longe estão
de saber que esse processo criminoso de iludir os crentes do Animismo - não do
Espiritismo - lhes pode trazer graves dores post-mortem. A mumificação no Egito
tinha por fim ligar o duplo ao corpo físico, na esperança de uma imortalidade
prolongada, a qual,

(*) Na época, o Rio de Janeiro. (N. da E.)

266

268
para muitos, era mais que certa.
Junte-se a esses males o provocado pelos pardais que, além de aves não canoras,
são terrivelmente vorazes, trazidas por um indivíduo inescrupuloso a quem o então
prefeito Pereira Passos encomendara aves canoras européias. E o indivíduo achou
por bem inundar o Rio, e já agora tendo invadido o Estado do Rio e até o de Minas
Gerais, com semelhantes aves, que logo de início começaram a matar as nossas aves,
como o tico-tico, que alegrava as crianças, chegando até perto das mesmas para
aceitar os alimentos que lhes eram dados. O pardal, além de voraz, é brigão e
transmissor de várias doenças que atingem as galinhas, perus, patos, etc., pois vivem
em promiscuidade com os referidos animais, conduzindo consigo micróbios de um
quintal para outro.
Finalmente, por nosso órgão oficial, a revista Dhâranâ, já tivemos ocasião de
apresentar vários artigos apontando os perigos que decorrem das pontes nos dentes
com metais diferentes, formando ions elétricos, e com isso irradiações capazes de
provocar a cegueira, dores por todo o corpo, além de sintomas outros que podem
levar até à morte. Outrossim, o perigo dos colchões de mola, as espirais em vertical,
em vez de horizontal, porquanto naquela posição as mesmas atraem irradiações
perigosas do seio da terra, principalmente dos veios pluviais, dos formigueiros e das
casas de cupim, ambos provocando até o câncer. Nos arranha-céus, a caixa d'água do
edifício, bem por baixo de qualquer dos apartamentos do 1º andar. Conta-se mesmo
o caso de um apartamento nessas condições onde todos quantos ali residiram ficaram
seriamente doentes e acabaram por morrer, tendo sido salvo um médico a quem um
seu amigo aconselhara que chamasse um radiestesista e este constatou o fenômeno
da caixa d'água por baixo do referido apartamento. O médico mudou-se e seus males
logo desapareceram. (Vide nQ§ 11/12 de Dhâranâ). É o caso de se dizer: viver não é
nada, saber viver é que é tudo.
(16) O próprio termo despertados demonstra que eles vivem em estado latente no
homem, onde outrora se achavam desenvolvidos ou em estado ativo. E isso é uma
verdade, portanto, o estado de consciência na Lemúria era positivamente psíquico,
devido à própria constituição dos seres daquela época. Razão porque aquilo que hoje
se conhece como fenômeno era em tal época naturalíssimo. Bastava o desejo, ou
instinto, visto que o mental era relativamente insignificante, para que esses mesmos
fenômenos se realizassem. De outro modo, não se encontraria explicação para as
construções ciclópicas que ainda subsistem nas ruínas de Palenque, na ilha de
Páscoa, etc., além doutras
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269
razões a que nos referimos em vários estudos nossos.
O que podemos dizer, de passagem, é vermos hoje, acompanhando a deca-
dência cíclica, o condenável arranha-céu só se diferençar daquelas primitivas
construções por ter-lhe a mão do pseudoprogresso ajuntado mais nobres e distintas
aparências ...
(17) Em nosso Colégio lniciático, a STB, desde o seu início foi exigido o
precioso, embora muito conhecido lema: Um por todos, todos por um, que vem sendo
escrupulosamente mantido, durante os longos anos de sua existência, entre os mais
avançados ou da Série C - 3º Portal lniciático, etc. - ou dos Irmãos Maiores.
A instrução gradativa dos discípulos ou pessoas alistadas nas fileiras da STB
exige quatro séries, ou seja, série A, série B, série C, série D, como que para
simbolizar, repetindo o que já dissemos em outros lugares, os três Caminhos da
Vedanta - Jfíâna, Bhakti e Karma - os 3 graus que a própria Maçonaria copiou das
iniciações egípcias: Aprendiz, Companheiro e Mestre, e em quantas formas
ternárias o Esoterismo simboliza a Manifestação da Divindade, na razão dos 3
mundos, gunas ou qualidades de matéria (*).
(18) Dessa atitude intolerante não nos faltam as mais insofismáveis provas.
Citaremos apenas o ataque de que fomos ultimamente vítimas, por parte dum frade
alemão que, do alto do púlpito, na igreja de S. Lourenço, em Minas, sobre nós
esbravejou por termos ousado publicar, sem sua prévia anuência, um artigo em
que se interpretava, teosoficamente, o filme Branca de Neve e os 7 Anões - aliás,
gnomos, como no mesmo artigo provamos. Não agradou ao frade estrangeiro que
os comentários, em volta da conhecida lenda, fossem feitos à luz da Teosofia. Por
isso se enfureceu e sobre nossa cabeça lançou suas diatribes de revolta e
indignação tão pouco em harmonia com as lições do seu Mestre.
(19) Tivemos um amigo que, não obstante nossos insistentes conselhos, passou
bruscamente do regime misto para o exclusivamente vegetariano e, dentro de seis
meses, desaparecia do mundo dos vivos. Dezenas de outros - aos quais podemos
chamar de verdadeiros fanáticos da Teosofia - mais parecem "sombras de si
mesmos", tal a sua deprimência e decadência orgânica. E tudo isso,

(*) Houve posteriores alterações na denominação dos graus iniciáticos da Escola. (N. da E.)

268

270
simplesmente, por quererem imitar o Oriente ou seguir à risca a opinião de certos
livros, positivamente errôneos, por não levarem em conta a hereditariedade
racial- como é no Oriente positivada por tipos franzinos, débeis, etc. - e paterna,
além do ambiente ou meio, clima e outros fatores completamente diversos dos do
Oriente.
(20) Razão teve ela para assim se expressar, se infeliz foi com seus discípulos
a ponto de, ao abandoná-Ias para sempre, como já tivemos ocasião de dizer,
pronunciar as memoráveis palavras: "E comigo se vão os Mestres!"
Na STB o mesmo fato se deu, no seu início, porém, as Inteligências Superi-
ores que, de acordo com a Lei, exigiam sua manutenção ou existência na face da
Terra, eram as primeiras a dizer, no momento da debandada: "Não se inco-
modem, pois é de qualidade e não de quantidade que necessitamos. E essa
"qualidade" ficou (na Série D) para fazer jus, como uma só Fallliua Espirituat ao
lema adotado desde o seu começo: Um por todos, todos por um! Houve, portanto,
um milagre maior do que o praticado pelos gurus ou mestres do Oriente, que
apenas conseguem formar um grupo de cinco, vibrando no mesmo diapasão,
"como dedos da mão", etc. A nós, no Ocidente, foi possível arregimentar um
número superior a cem, além dos que nas outras séries se preparam para
aumentar aquele prodigioso número e cumprir o lema da nossa missão que é:
Spes messis in semine ou "a esperança da colheita está na semente". Semente da
privilegiada civilização para a qual trabalha a STB há longos anos, fazendo
ressoar de Norte a Sul do País e até no estrangeiro, principalmente na América do
Norte, por motivos já expostos, os seus devacânicos clarins.
(21) Maneira de dizer, pois quem, como ele, cego e pobre, escreveu o Paraíso
Perdido, ditando-o às suas filhas e esposa, algo mais era do que um simples ex-
secretário de Cromwell- em tal época desaparecido do mundo. Na mesma razão
Giovanni Papini escrevendo, através de parentes, também, o seu O Diabo, que
antes devia ter sido O Anjo Rebelde. Breve faremos uma obra como comentário
àquela.
(22)Tais artigos, aparecidos no Lúcifer, sob a assinatura de H. P. Blavatsky,
por possuírem grande valor, a sra. A. Besant os fez imprimir com o título Os
primeiros passos no caminho do Ocultismo.
(23)"O Yajfia, dizem os brâmanes, vibra desde toda a eternidade, porque
procede do Supremo, onde ele se achava latente antes mesmo do começo. É a

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271
chave do Traí- Vídyâ, a ciência três vezes sagrada, contida nos versículos do Rig que
ensina os Yajfias ou mistérios dos sacrifícios. O Yajfia existe perenemente como
algo invisível; é como o poder latente da eletricidade em uma máquina dessa
natureza; que pelo fato de não estar funcionando não perde suas propriedades
eletrizantes. Para agir basta a ação dum aparelho apropriado. Concebe-se que
Âhavaníya ou fogo do sacrifício se estende até os céus, formando uma ponte ou
escada, por intermédio da qual aquele que sacrifica ou mesmo aquele que pratica
uma ioga, dizemos nós - pode comunicar-se com o mundo dos Deuses e dos
Espíritos e mesmo elevar-se, durante sua vida, até as suas moradas" - Martins Haug,
Aitareya Brâhmana.
A "imaginária escada" a que a autora se refere é bem semelhante à da visão de
Jacó, para não falar noutras interpretações que a mesma possui, algo, ainda, como a
escalada do monte Meru, desse monte cujo reflexo no homem é a ponta do nariz,
com repercussão no chakra frontal ou ãjiiâ - donde o termo yajiia -, para não dizer,
com as funções ainda secretas das glândulas epífise e hipófise, e com outras coisas
mais que aqui não podemos dizer.
Essa "escalada do céu" tem algo com a bíblica Torre de BabeI de que falamos
em outros lugares deste livro e que muito bem exprime aquela ânsia natural da
Mônada em se dirigir novamente ao Seio do Infinito, donde procede.
"Yajfia, observa ainda a autora, é uma das formas do Âkasha - ou Éter; não o
éter físico, mas como causa psíquica e espiritual do Som, o principal dos 5 tattwas
ou forças sutis da natureza. É a palavra mística que chama à existência essa força
em estado latente no seio da natureza, quando pronunciada mentalmente pelo
iniciado. É a Palavra Perdida - não a última das Sete Chaves, mas a Sexta, pois só
UM pode pronunciar a verdadeira ... - que recebe o impulso pelo poder da vontade"
- Isis sem Véu, VaI. I, Introdução. Ver Aitareya Brâhmana, de Haug.
(24) A clarividência era simbolizada no Egito pelo úreus mágico, que ainda hoje
os hieróglifos nos mostram na fronte dos faraós, como se fora uma serpente de bote
armado para a frente. Este enigmático ornamento tem relação estreita com as
funções das glândulas epífise e hipófise que, como já dissemos, se destinam a
manter o equilíbrio entre as forças interiores e exteriores, entre o superior e o
inferior.
(25) Existe uma outra classede magos que, por inconscientemente mesclarem as
duas magias, branca e negra, denominamos cinzentos. A tal classe não se refere

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HPB. Entre essa espécie de magos podemos incluir os "profanadores de túmulos",
não apenas esses profanadores vulgares que os códigos punem severamente, mas
também aqueles que a ciência denomina arqueólogos, egiptólogos, etc.
(26) É aquele que fala a Arjuna, no Bhagavad-Gftâ, o Cristo Interno a que se
refere São Paulo e para o qual todo homem é médium ou veículo, mas nunca, abso-
lutamente nunca, para encarnados ou desencarnados - esses tais espíritos, que na
maioria dos casos não passam de simples larvas ou micróbios astrais, como estamos
fartos de provar e, conosco, outros homens dignos de toda a consideração.
No Imitação de Cristo - esse admirável manual cujo autor a própria Igreja
desconhece - no Livro 2º, Capo I, J. Steinbrener diz: "Dá, pois, entrada a Cristo em
tu' alma, e não consintas que outro entre nela". "Se possuíres a Cristo, estarás rico e
de nada mais precisas. Ele te proverá de tudo e te será fiel procurador, de sorte que
não terás necessidade de esperar nos homens". A verdadeira interpretação desta
passagem é a teosófica, acima transcrita, e não a que lhe dá a Igreja.
Na estância 8ª, Verso 7, do Bhagavad-Gftâ, pág. 107 da ed. espanhola,
encontram-se estas palavras: "Portanto, pensa apenas em Mim e luta. Se tua Mente
e teu discernimento pousarem em Mim, nenhuma dúvida resta que a Mim virás".
"Com o pensamento não convertido a nenhum outro Ser, harmonizado por
contínuas práticas e em constante meditação, caminha o homem, Ó Partha ! para o
divino e supremo Espírito".
Mais adiante (pág. 108): "Recitando o eterno monossílabo (OM) e pensando em
Mim, ao deixares o corpo, dirige-te ao Supremo Caminho. E logo Me alcançarás, ó
Partha! o sempre harmonizado iogue que constantemente pensa em Mim, e não
dirige seu pensamento para nenhum outro ser".
Em resumo: por mais que se modifiquem as palavras aqui e ali, o sentido é
sempre o mesmo: a mística união do Eu-inferior com o Eu-Superior, a Consciência
Imortal, o Cristo, o 7º Princípio teosófico, uma vez que "a verdade é uma só,
embora os homens lhe dêm nomes diferentes", como diz o Rig-Veda.
(27) Muita diferença há entre amor e paixão. O primeiro é aquele sentimento
exigido pela Lei e que tem por fim unir todos os seres da Terra. É a fraternidade
humana, de que o mundo se acha tão afastado, principalmente agora, com a
criminosa faina de domínio, como um dos 4 cavaleiros apocalípticos ... Quem o
possui não pensa senão em fazer o bem, praticar a caridade, ser um com todas as
criaturas da Terra, como" dedos da mão", "peças da mesma máquina", Filhos
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273
de um Pai comum. Paixão, entretanto, é o desejo incontido de satisfazer instintos
baixos, inferiores, chamados, por isso mesmo, passionais ... É uma atração
exclusiva para o sexo, e nunca uma atração espiritual, liame ou laço unindo para
sempre duas criaturas nascidas uma para a outra. E a prova de que não é assim,
temo-Ia ao ver a maioria dos casais evitar o resultado desse pseudo-amor, o filho,
o fruto esperado na primavera de sonhos felizes, acalentados em um outono
infeliz de dúvidas e incertezas.
O verdadeiro amor jamais se cansa de espalhar o Bem, onde quer que ele se
faça necessário, obedecendo ao conselho encerrado naquela sublime passagem da
Voz do Silêncio, mais uma vez aqui citada: "Não permitas que o sol ardente seque
uma só lágrima de dor nos olhos do aflito antes que tu mesmo a tenhas
enxugado". Ao contrário, a paixão cansa-se, uma vez satisfeitos seus desejos
incontidos ... Daí o abandono de um ser a que se julgava amar. Amor egoísta é
esse que não pode deixar de ocasionar os crimes e todos o horrores diariamente
inscritos no cadastro policial e que a imprensa, felizmente com algumas exce-
ções, na sua faina de dar furos e por não encontrar algo mais digno de suas
colunas, tão prodigiosamente difunde, concorrendo para que os mesmos se
repitam. .. Os fracos se dirigem pelo cérebro alheio. Daí o grande mal dessas
descrições detalhadas, cheias de sugestiva poesia que leva ao espírito dos que a
lêem o desejo de querer fruir aqueles mesmos colóquios amorosos ou
passionalismos, que antecedem todos os crimes dessa natureza ... à parte o ver-
dadeiro sentido daquele primeiro, muito mais excelso do que se pensa. Sim,
colóquios amorosos no seu sentido, por exemplo, de "ouvir a voz interna" ou do
colóquio entre o Espírito e a Alma.
O Amor, o verdadeiro amor que se deve difundir por todos os seres, também
pode aparecer entre duas almas que se compreenderam, sentindo-se como se
fossem "almas-irmãs". Estas jamais se abandonarão, jamais deixarão de cultivar
os mesmos sentimentos de gratidão para com a Natureza, para não dizer com a
própria Divindade, por tê-Ias presenteado com o fruto de tão sublime sentimento:
o Filho. É "o doce lar", o Santuário da vida - ou lareira - onde o Fogo de Agni,
acalentado em Templos mais excelsos, por virgens sacerdotisas, "sendo Verbo se
fez Luz ... e sendo Luz se fez Carne" ...
Essas almas-irmãs, verdadeiros gêmeos espirituais, palmilharão juntas a
estreita vereda da vida, até o grande dia da vitória ou do androginismo divino.

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"Amai-vos uns aos outros" mas ... não vos apaixoneis por ninguém nem por
coisa alguma ... Paixão é vício, é crime, é horror! Amor é necessidade, é Lei, é
Vida!
(28) Aqueles que fossem levados a julgar três Egos em um só homem de-
monstrariam sua incapacidade de compreensão para tudo quando se relacionasse
com a metafísica. O homem é uma trindade composta de corpo, alma e espírito.
Apesar disso, ele é um do qual o corpo é a propriedade, a veste transitória do
homem. Os três "Egos" são o homem nos três respectivos aspectos: no plano
astral ou psíquico, no intelectual e no espiritual, ou antes, no físico-psíquico, no
psico-manásico ou intelectual, e no espiritual.
A Igreja, entretanto, acrescentamos, contrariando muito embora a mani-
festação ternária da própria divindade que, por isso mesmo, deve existir em tudo
e em todos, só reconhece no homem dois corpos: o físico e o anímico( corpo e
alma, como ela diz). E, isso, simplesmente porque até hoje não soube ou não quis
interpretar as palavras de Santo Agostinho: "Deus governa a alma e a alma
governa o corpo". Logo, Deus se firma no Espírito ou Inteligência.
Nesse caso, Deus entra aí não como a Unidade donde todos procedemos e
para onde todos volveremos, como disse ainda o mesmo S. Agostinho - "Viemos
da Divindade e para Ela havemos de ir" - mas como a Sua própria representação,
em forma divisível, de acordo ainda com aquela estância de Dzyan que diz: "Deus
se divide para consumar o supremo sacrifício" ou de acordo ainda com o
materialismo ou positivismo quando fala da "Unidade na Diversidade" visto que"
a humanidade é Deus manifestado em homens, como estes o são unificados em
Deus".
A teoria possui valioso exemplo no Ocultismo quando compara espírito, alma
e corpo a cocheiro, cavalo e carro. De fato, o primeiro (como espírito) dirige o
cavalo (alma) e este, por sua vez, arrasta o carro (corpo).
Acontece, porém, que muitas vezes o cavalo toma o freio nos dentes, como se
costuma dizer... É o que acontece a certos indivíduos que, por não ouvirem a voz
da consciência ou da razão, se precipitam no abismo fatal da segunda morte, que
tanto vale pelo dantesco portal onde se liam as ameaçadoras palavras:
LasCÍate ogni speranza, vai ch' entrate.
(29) A dúvida de HPB sobre a vida e obra de Jesus, o Cristo, transparece na
frase" Aquele que se acredita como sacrificado pela humanidade", deriva do fato
de não ser absolutamente verdadeiro tudo quanto a respeito desse Ser nos
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é apontado na Bíblia. Na revista Dhâranâ, órgão oficial da STB, encontrarão os
interessados vastos esclarecimentos a respeito. Podem também consultar as
centenas de obras que tratam do mesmo assunto. Lembraremos as mais impor-
tantes: Le Mythe de Jesus, Arthur Drews; Le Mystére de Jesus, Paris, Rieder, 1924;
Jesus de Nazareth, Maurice Goguel; Jesus devant Ia critique, Paul BuIysse; Histoire
Elementaire et critique de Jesus, A.Peyrat; David Friede Strauss, Leben Jesu; Bruno
Bauer, Christus und die Casaren, 1877, etc.
Quanto à passagem do verdadeiro Jesus pelo Norte da Índia e às provas de ser
ele um Adepto budista, encontram-se em El Corazón de Asia, de Nicholas Roerich,
o qual chegou a telegrafar a diversos jornais do mundo anunciando as suas
descobertas nesse sentido. Essas provas foram contestadas pelo Vaticano, porque
elas destruíam por completo as teorias da Igreja. Tudo isso melhor demonstrado
ficará quando vierem a lume certos documentos conservados entre os Coptas. Só
então se provará, duma vez para sempre, que tudo quanto se conhece sobre a Vida
de Jesus é falso.
(30) Em nosso Colégio Iniciático, a STB, quando no seu início se procedia à
escolha que deveria formar a elite destinada a mantê-Io firme na face da Terra, a
mesma debandada se deu. A maioria dos candidatos à Iniciação só queria receber e
nada oferecer, nem ao menos os próprios esforços para a aquisição da Sabedoria
capaz de os conduzir ao Portal de Oiro, ou antes, à mística união com seu Eu-
Superior, Portal de Oiro de que nos fala o sublime canto: "Dhyâna, tuas portas de
oiro nos livram da deusa Mâyâ" ...
(31) Este nosso artigo foi publicado em Dhâranâ, números 49 a 51, corres-
pondentes ao trimestre de janeiro a março de 1930. Sai aqui devidamente correto e
acrescido dos comentários impostos pelas atuais condições do mundo.
(32) O Rei do Mundo é o verdadeiro e único Poder Espiritual mantido na Terra
e só é totalmente conhecido pelos Adeptos ou Homens Perfeitos. O leitor
encontrará curiosas e interessantes referências a essa individualidade nos seguintes
livros: Le Roi du Monde, de René Guénon; Bêtes, Hommes et Dieux, de Ferdin~nd
Ossendowski; A l' Ómbre des Monastéres Thibétains, de Marques de Riviéree El
Corazón de Asia, de Nicholas Roerich, já por nós recomendado em outros lugares.
Na presente anotação, limitar-nos-emos a dar uma pálida idéia do que seja o
Reino Subterrâneo e o mesmo Rei do Mundo, à frente do seu povo, etc. Mes-

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mo assim, ao invés de penetrarmos no que de mais secreto pesa sobre tamanho
mistério, preferimos nos servir de alguns trechos da referida obra de Ossendowski
(páginas 250/251 da edição francesa):
"Eu pude obter ensinamentos mais detalhados da própria boca do hutuktu (grau
mais elevado entre os monges lamaístas, santo, deus encarnado, etc.) Jelyb-
Djmarap de Narabanchi-Kure. Ele me relatou a história da chegada do poderoso
Rei do Mundo, depois de sua saída do Reino Subterrâneo, sua aparição, seus
milagres e suas profecias. Só então comecei a compreender que em tal lenda (de
que ele já ouvira falar por toda parte ... ) nessa hipnose, nessa visão coletiva, de
qualquer maneira que se interprete, ocultava:se não apenas um mistério mas uma
força real e soberana capaz de influir no curso da vida política da Ásia algo mais,
dizemos nós. A partir desse momento, iniciei minhas buscas.
O lama Gelong, favorito do príncipe Chultun-Beyli, e o próprio príncipe,
acabaram por me fazer a descrição do Reino Subterrâneo.
No mundo, diz Gelong, tudo se acha em constante transição e mudança: povos,
religiões, leis e costumes. Quão grandes impérios e brilhantes culturas já
pereceram?! Só uma coisa resta imutável: o mal, como instrumento dos maus
espíritos - melhor, seria dizer: como conseqüência da ignorância humana ... Há
mais de seis mil anos, um santo homem - esclareçamos nós: um Manu, ou melhor,
um desses seres que têm vindo ao mundo à frente de certas civilizações, raças,
sub-raças, etc. - desapareceu com todo o seu clã - a mesma lenda da salvação na
Arca, Barca, Agartha, etc., de que já nos ocupamos - no interior do solo e jamais
voltou à superfície da Terra. Muitas pessoas, entretanto, visitaram depois este
reino, dentre elas o próprio Sakia-Muni -melhor dito, Gautama, o Budha -, Under-
Geghen, Paspa, Baber e outros. Ninguém nos pode ou ninguém sabe dizer-nos
onde esse reino se acha. Uns nos apontam o Afeganistão; outros, a Índia. Todos os
homens dessa desconhecida região são protegidos contra o mal, e o crime não
existe no interior de suas fronteiras. A ciência aí se desenvolveu tranqüilamente;
nada ali está sujeito à destruição - por isso, como já dissemos, é chamada de Ilha
Imperecível, que nenhum cataclismo pode destruir" ... - O povo subterrâneo atingiu o
mais alto saber. Trata-se, hoje, de um grande reino, contando milhões de
habitantes, sobre os quais reina o Rei do Mundo. Ele conhece todas as forças da
natureza, lê em todas as almas humanas e no grande livro do destino - pudera, pois
se representa a própria Lei,

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Deus, o carma, etc.! -. Invisível, reina ele sobre oitocentos milhões de homens
que estão sempre prontos a executar suas ordens.
O príncipe Chultun-Beyli acrescentou: Este reino é Agarti - melhor dito,
Agartha -. Estende-se subterraneamente por todo o mundo e para ele se dá entrada
por meio de passagens ou embocaduras abertas na superfície da Terra. Ouvi um
sábio lama chinês dizer ao Bogdo-Khan - último Budha Vivo da Mongólia - que
todas as cavernas subterrâneas da América são habitadas pelo antigo povo que
desapareceu no seio da Terra - com vistas aos nossos trabalhos sobre os lugares
Jinas do Brasil, inclusive a serra do Roncador, Vila Velha e outros. O fato de
termos sido contestados não altera a verdade dos fatos, pois "mais fácil é negar do
que provar o que humanas criaturas não podem divulgaL" -. Muitos dos seus
traços são encontrados na superfície da Terra. Tais povos e espaços - melhor dito,
cantões, cidades, etc. - subterrâneos são governados por chefes que reconhecem a
soberania do Rei do Mundo - inclusive aqueles que guardam as embocaduras que
vão dar a esse país jina ou de Agartha chamados Todes -. Há em tudo isto uma
grande dose de maravilhoso. Vós sabeis que no lugar hoje ocupado pelos dois
maiores oceanos de Este e de Oeste se encontravam outrora dois grandes
continentes - Lemúria e Atlântida -. Eles desapareceram sob as águas, mas alguns
dos seus habitantes passaram para o reino subterrâneo. As cavernas profundas são
iluminadas por uma luz particular que permite o crescimento dos vegetais e dá ao
povo uma vida longa sem moléstia alguma - o filme Horizonte Perdido, bem como
o filme e romance Ela, exibidos em todo o país, foram vazados na mesma lenda
-."
Citaremos agora algumas passagens do livro de Mr. René Guénon, intitulado
Le Roi du Monde, justamente quando ele procurava as semelhanças entre as
descrições da Agartha feitas por Saint- Yves d' Alveydre, em sua obra La Mission
de l'Inde, e as de Ferdinand Ossendowski no seu livro Bêtes, Hommes et Dieux.
"Naturalmente alguns espíritos céticos ou maldosos já devem ter acusado F.
Ossendowski de haver apenas plagiado Saint- Yves, pelo fato da concordância
existente em algumas passagens das duas obras. A semelhança é realmente
assombrosa nos detalhes de algumas passagens. No entanto, o que até então
parecia inverossímil por parte de Saint-Yves, quando afirma "a existência de um
mundo subterrâneo estendendo as suas ramificações por toda parte, debaixo dos
continentes como dos oceanos, através dos quais se estabelecem invisíveis
comunicações entre todas as regiões da terra", Ossendowski declara "que não
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sabe o que pensar a respeito, atribuindo todas as suas informações, nesse sentido/
a diversos personagens que encontrou no decorrer de suas viagens".
Vem muito a propósito citar, neste ponto, o seguinte fato a que assistimos
numa barca que nos transportava de Niterói para o Rio de Janeiro, no tempo em
que residíamos naquela cidade.
Uma criança de cinco ou seis anos de idade, desviando a vista das águas da
baía, voltou-se para o pai, dizendo-lhe muito convictamente.
- Papai, aí, em baixo dessa água, mora gente.
- Que tolice, meu filho! Debaixo d/ água só moram peixes.
- Mas, papai - retrucou a criança - é mais para baixo das águas.
O pai de tão prodigiosa criança não podia compreender o sentido dessa
revelação ...
V olvamos ao livro que estamos citando:
"O título de Rei do Mundo, tomado no seu sentido mais elevado, mais com-
pleto e ao mesmo tempo mais rigoroso, é aplicável ao Manu, o legislador pri-
mordial- estamos de pleno acordo com o sr. René Guénon e o nosso acordo seria
ainda maior se ele apontasse, desde logo, um termo bem conhecido, embora
demasiado vago para ser compreendido por qualquer mentalidade, isto é, o de
Planetário da Ronda - senão, o próprio rei Melki-Tsedek, Monarca Universal/
cujo nome se encontra, sob diversas formas, entre um grande número de povos
antigos. Lembremos o de Menés, entre os egípcios, e o de Minos, entre os gregos"
- este, era ao mesmo tempo, o legislador dos vivos e o juiz dos mortos, esse mesmo
Yama a que se referem as escrituras indianas.
Na opinião, porém, do autor de Le Roi du Monde, "tal nome não designa
propriamente um personagem histórico ou mais ou menos lendário; ele designa/
na realidade, um princípio, a Inteligência cósmica que reflete a Luz espiritual pura
e formula a Lei - Dharma - apropriada às condições do nosso mundo ou a
determinado ciclo de existência; ele é ao mesmo tempo o arquétipo do homem,
considerado, especialmente, como um ser pensante, em sânscrito Manava" - de
Manas, Manu, o Homem, etc., como já dissemos em outros lugares/ quando nos
referimos ao mesmo termo Manu.
Só discordamos do autor na sua peremptória negação da existência de um Ser
com semelhante representação na Terra, pois sabemos que, principalmente
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do meio da Ronda em diante, tudo quanto se possa conceber como forças cósmicas,
etc., deverá tomar forma ou corpo tanto quanto possível... humano. E paremos
aqui... por ser vedado ir mais longe.
Continua o autor:
"O que importa, entretanto, dizer é que tal princípio pode ser manifestado por
um centro espiritual estabelecido no mundo terrestre - símil de um outro existente
no seio da Terra ... -, por uma organização encarregada de conservar integralmente
a tradição sagrada, de origem "não humana" - apaurusheya -, por meio da qual a
Sabedoria primordial se comunica através das Idades àqueles que forem capazes de
a receber. Semelhante organização - todo o negrito é nosso -, representando, de
qualquer modo, o próprio Manu, poderá legitimamente levar tal título e atributos -
certíssimo! - e identificar-se pelo grau de conhecimento que houver atingido, a fim
de poder exercer semelhante função - além de outras que o autor está muito longe
de conhecer - com o referido princípio do qual se faz sua humana expressão e
diante do qual sua individualidade desaparece ".
"Tal é o caso da Agartha - continua o autor - se tal centro recolheu, como afirma
Saint-Yves, a herança da antiga dinastia solar, os Súrya-vansa, cuja dinastia residia
em A yedhayá" - a Cidade Solar dos rosa-cruzes, a Cidade do Sol de Campanella,
etc.
Aceitemos isto como certo, embora o não esteja totalmente, pois o termo solar
indica algo mais transcendente, digamos, os Pitris Solares ou Agnisvattas ...
No que o autor de Le Roi duMonde erra, endossando a opinião de Saint-Yves, é
ao afirmar que "este não é propriamente o Chefe supremo de Agartha, mas
Soberano Pontífice ou Chefe da Igreja bramânica. Se o Rei do Mundo possui em
suas mãos os dois Poderes, o temporal e o espiritual, como prova seu próprio nome,
bastava que o autor do referido livro, que se diz cabalista, examinasse melhor os
dois arcanos do Taro, isto é, o 4º e o 5º, ou seja, o Imperador e o Papa, para
descobrir no mesmo o Rei Melki-Tsedek, como rei e sacerdote, mas também,
Senhor de Paz - ou de Glória - e de Justiça.
A posse desses dois Poderes sempre foi aspirado pela Igreja romana, o que não
era possível ser concedido a uma simples religião, mas tão somente a quem estives-
se investido de semelhante privilégio, tal como acontece com o Rei do Mundo, que
tem uma dupla manifestação, isto é, tanto na face como no seio da Terra.

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280
René Guénon reconhece mais adiante o seu equívoco, quando afirma que Rei1/
0

do Mundo tem por atributos fundamentais a Justiça e a Paz".


A Agartha também é conhecida como Confraria Branca dos Bhante-Jaut
locução sânscrita cujas iniciais nos lembram as das duas colunas do Templo de
Salomão: Jakim e Bohaz. As duas iniciais dessa locução se aplicam, igualmente,
aos dois Caminhos da Vedanta, Jfiâna e Bhakti ou Conhecimento, Iluminação,
etc., e Amor e Justiça. Entre essas duas colunas acha-se a do carma.
Tal nos aparece o Rei do Mundo entre os seus dois ministros: Mahima e
Mahinga, que o autor erradamente chama Mahâtma e Mahinga. De tudo isto tirou
a Maçonaria egípcia os termos Memphis-Misraím, de simbolismo ainda mais
secreto; e a Máfia, como a pior das degenerescências maçônicas, ou secretas, o de
Máfia-Mata. Em homenagem a essas duas colunas, usava Cagliostro o
pseudônimo José Bálsamo. Significado igual tem o nome João Batista; e as duas
cidades bíblicas, Belém e Jerusalém, que envolvem a vida de Jeoshua, se en-
contram estreitamente ligadas ao mesmo mistério.
O Rei do Mundo, colocado entre as Colunas da Justiça e da Paz, possui de fato
o papel de Lei ou Dharma, embora nele se englobem as 3 funções, na razão de 1/3
trombetas para uma só boca" ou das 1/3 pessoas distintas e uma só verdadeira",
visto ser ele a representação da própria Divindade na Terra. A esse mistério da
Trindade está ligado o termo Maitri ou o três vezes passado por Mâyâ", senhor
1/

dos 3 mundos, vitorioso das 3 gunas ou qualidades da matéria, ou seja, no homem,


o equilíbrio dos seus 3 corpos, equilíbrio que faz dele um Adepto ou Homem
Perfeito, Mahâtma, etc ..
Todo este simbolismo, expresso através das 3 letras da palavra sagrada AUM,
possui íntima relação com os 3 mundos da matéria - Céu, Purgatório e Inferno - as
3 espécies de paraísos, tão mal interpretados pela Igreja. Dele se serviu a
Maçonaria, adotando os 3 graus, Aprendiz, Companheiro e Mestre, e a ele não
podia fugir a STB, como núcleo espiritual do excelso Movimento em prol duma
nova civilização portadora de melhores dias para o mundo, criando em seu
Colégio Iniciático 4 séries, portais ou veshbulos, intitulados A, B, C e D, sem o
que não se poderia admitir urna iniciação favorável à evolução integral de seus
membros, vindos do exterior repletos de erros causados pela leitura de livros
incompletos ou propositadamente falsos e totalmente alheios ao que se passa no
mundo dos Adeptos.

279

281
V oltando ao Rei do Mundo, da seguinte forma a ele se refere o lama ouvido por
Mr. Ossendowski:
"Vive em relação com os pensamentos de todos aqueles que dirigem os destinos
humanos ... Ele conhece as suas mais secretas intenções e idéias. Se agradam a Deus
- melhor será dizer à Lei - Ele os favorecerá com seu amallo invisível; se, ao
contrário, lhe desagradam, Ele provocará a sua queda. Tal poder provém da Agartha
pela ciência misteriosa do OM - a fusão una do trino AUM ... - palavra com que
começamos e terminamos nossos trabalhos".
O autor de Le Roi du Monde, procurando definir a palavra OM, diz que é o nome
de um antigo santo, o primeiro dos Goras - sacerdote do Rei do Mundo, Gurus, etc.,
esclarecemos nós - que viveu há trezentos mil anos. "Tal frase - continua ele - é
incompreensível para a maioria, principalmente pela dificuldade em reportar-se a
uma época tão vagamente indicada, anterior ao Manu atual. Considerando, porém,
que o Adi-Manu, ou primeiro Manu do nosso kalpa - Vaivásvata ou sétimo, segundo
o autor ... -, é chamado Svâyambhuva, isto é, procedente de Svayambhú, ou aquele
que subsiste por si mesmo, ou ainda, o Lagos eterno; e considerando mais que o Lagos
ou aquele que o representa diretamente pode ser de fato designado como o primeiro
dos Gurus - nesse caso, Maha-Guru, Maha-Deva, etc., nomes por que também é
conhecido o Rei do Mlmdo, coisa que o autor desconhece -, conclui-se, logicamente,
que, na realidade, OM é o nome do próprio Lagos, ou seja, aquele que vibra
perenemente em nosso Templo. Por sinal que as próprias iniciais M e G, de Maha-
Guru, para Aquele que dirige semelhante Movimento, podem ser aplicadas aos dois
lugares que, dentro em pouco, firmarão na Terra o trabalho já começado por Badezir
e Yetbaal, ou seja, Minas Gerais e Mato Grosso. Sim, um templo no Norte e outro
no Sul. Mas paremos aqui por ser ainda cedo para se falar no resto ...
"Neste caso - prossegue o autor - a palavra OM fornece imediatamente a chave
da divisão hierárquica das funções entre o Brahmatma e seus dois Ministros". Ficam,
pois, como expressão lídima da verdade, o Rei do Mundo Maha-Deva, Maha-Guru,
Maha-Riski, EI-Riski ou EI-Rike - e suas duas colunas vivas ou Ministros,
designados pelo OM TA T SA T. Estas palavras iniciam as preces mais famosas da
Índia e do Tibete, e mesmo alguns mantras como os que se acham nos arquivos da S
TE, que lhe foram enviados por Fraternidades orientais, na ocasião de sua fundação.
Quando de nossa viagem ao norte da Índia fomos

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282
regiamente recebidos pelo Brahmatmâ, então, nas proximidades de Simla.
Poderoso cabalista como é, Mr. René Guénon faz maravilhosas considerações
sobre essa tríplice representação do Governo Oculto do Mundo, quando diz:
"Ao Brahmatmâ pertence a plenitude dos dois poderes: sacerdotal e real,
relacionados, principalmente e de qualquer forma, com o estado indiferenciado.
Tais poderes, quando manifestados, se distinguem, pertencendo a Mahatmâ aliás
Mahima, como já dissemos -, o poder sacerdotal; e a Mahanga, o poder real. Esta
distinção corresponde à dos Brâhmanes - sacerdotes - e à dos Kshatryas -
guerreiros. Tanto o Brahmatmâ como o Mahâtma e o Mahinga se acham, porém,
acima das castas; todos eles possuem um caráter, ao mesmo tempo, sacerdotal e
real".
Cabe aqui abordarmos um ponto até hoje pouco discutido, ou seja, o dos Três
Reis Magos do Evangelho, como a união entre os dois poderes. Tais personagens,
podemos afiançar hoje, não são mais do que a representação dos 3 chefes da
Agartha, à parte o simbolismo de 3 ramos raciais, na razão da raça branca, raça
amarela e raça negra, como se representam os três referidos reis. Mahanga oferece
ao Cristo o oiro e a salvação, como rei; Mahâtma, o incenso, como sacerdote;
enfim, Brahmatma, a mirra, como símbolo da incorrruptibilidade, imagem do
Amrita, e a salvação como profeta ou mestre espiritual por excelência - os 3 Reis
Magos são: Gaspar, Melchior e Baltazar.
A homenagem assim prestada ao Cristo recém-nascido, nos 3 mundos, que são
os seus respectivos domínios - donde o termo Maitri, já por nós explicado,
contrariando a opinião dos maiores sanscritistas, inclusive Burnou( que o tem
apenas por" compaixão" -, pelos autênticos representantes da tradição primordial
é, ao mesmo tempo, desde que como tal se considera, a origem da perfeita
ortodoxia do Cristianismo, relativamente ao assunto abordado.
Em outros lugares, falando dos vários centros do mundo, como símbolos do
verdadeiro e único Centro Espiritual que é Agartha, diz:
"Malkuth - a décima sephiroth - é o reservatório onde se reúnem as águas do
rio proveniente do seu cume, isto é, todas as emanações - graças às influências
espirituais - que ela espalha em abundância. Este rio do alto, e as águas que dele
procedem, faz lembrar o místico papel atribuído ao rio celeste Ganga - donde
Ganges, etc. - da tradição hindu, como também se poderia notar que a Shakti, de
que Ganga é um aspecto, não deixa de possuir certas analogias com
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283
Shekinah, na razão da função providencia" que lhe é peculiar. O reservatório das
águas celestes é, naturalmente, idêntico ao centro espiritual do nosso mundo; daí partem
os 4 rios do Pardas, dirigindo-se para os 4 pontos cardeais. Para os judeus, tal
centro espiritual se identifica com a colina de Sião, a mesma a que eles denominam
de Coração do Mundo, designação dada a todas as Terras Santas e que eqüivale ao
monte Meru dos hindus ou ao Albo~ - Montanha primordial, preferimos nós dizer -
dos persas".
Este "Centro de irradiações espirituais para o mundo" não podia deixar de ser
São Lourenço ...
"Tabernáculo da Santidade de Jeová, residência de Shekinah, é o Santo dos
. Santos - Sanctum-Sanctorum -, o coração do Templo, como centro de Sião Jerusalém
-, do mesmo modo que a santa Sião é o centro da Terra de Israel, colocada no
centro do mundo. Pode-se mesmo indicar coisas mais afastadas ainda: não somente
o que já foi enumerado, tomando-o em ordem inversa, mas também o Tabernáculo
no Templo, a Arca da Aliança, lugar de manifestação da Shekinah - entre os dois
Querubins - que representam, como tal, aproximações sucessivas do Pólo
espiritual".
"Foi esta a razão que levou Dante a apresentar Jerusalém como Pólo espiritual.
Isso, porém - desde que se abandone o ponto de vista judaico - torna-se sobretudo
simbólico e não mais constitui um determinado lugar, no sentido estrito da palavra.
Todos os centros espirituais secundários, constituídos por adaptações da tradição
primitiva em condições determinadas, são, como já tivemos ocasião de demonstrar,
simples imagens do centro supremo - a que preferimos chamar de Shamballah -;
nestas condições se pode achar Sião que não passará, por isso, dum centro
secundário - o monte Líbano, Baalbeck, etc., o foram, dizemos nós, não passando
talvez de agências na superfície da Terra desse mesmo Centro Supremo -, capaz, no
entanto, de com aquele identificar-se pela semelhança existente entre os dois.
Jerusalém é, de fato, como seu nome indica, uma imagem da verdadeira Salem. Isto
nos leva a reafirmar não ser a Terra Santa apenas a Terra de Israel; e isto basta para
se deduzir onde queremos chegar ... "
"Outra expressão de valor, como sinônimo de Terra Santa, é a Terra dos Vivos
que designa, manifestamente, a região da imortalidade - mais uma vez apontamos o
nome da imperecível ilha de Shamballah, passando antes por Agartha ... . Esta
designação, em seu sentido próprio e rigoroso, é aplicável ao paraíso ter-

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restre ou a seus equivalentes simbólicos, tendo sido também aplicada às Terras
Santas secundárias e, notadamente, à Terra de Israel. Diz-se que a 'Terra dos vi-
vos compreende 7 terras' e Mr. Vulliaud noticia nesse sentido que 'esta terra é
Canaã, onde viviam 7 povos'. Com efeito, tudo isto é real no sentido literal; mas,
simbolicamente, essas 7 terras poderiam muito bem corresponder aos 7 dvipas -
continentes - que, segundo a tradição hindu, possuem o Meru por centro comum.
Do mesmo modo, quando os antigos mundos ou criações anteriores à nossa são
figurados pelos Sete Reis de Edom - do Éden, do Paraíso terrestre, cujo número
setenário coincide com os Sete Dias da Gênese -, nos revela uma grande semelhança,
demasiado frisante para ser tida como acidental, como as eras dos sete Manus,
contadas desde o início do kalpa até à era atual",
Mr. René Guénon, por maior cabalista que seja, não conseguiu atingir as
transcendentais profundezas de tamanho mistério, sem o que não fugiria,
temeroso de dar vida e forma ao que a sua mente aceita apenas como mero
simbolismo.
Ele ignorava, e, como ele, muitos outros igualmente, que a Atlântida possuía
sete cidades ou cantões, dirigidas por sete reis aos quais poderíamos considerar
como descendentes ou mesmo filhos de um oitavo rei, que vivia em uma oitava
cidade, em forma andrógina. As Escrituras falam em 10 cidades; neste ponto o
simbolismo se manifesta do modo mais transcendente. O oitavo rei,
representando a expressão máxima da Divindade, tem uma função trina, de
acordo com a Trindade Superior. Daí o valor da regência atlante ser de dez e não
de oito apenas. Sete reis ou "chohâns nascidos do Uno- Trino". E aí estão as
Estâncias de Dzyân para nos afirmar a mesma coisa, ensinando-nos que, nos céus
como na Terra ... e em outras coisas mais, existem os três mundos ou qualidades
de matéria.
Podemos, portanto, afirmar, sem temores nem restrições, que os sete reis de
Edom nada mais são do que representações vivas dos sete Dhyâns-Chohâns,
acompanhando a síntese de todos eles, tal como, em um sistema planetário, giram
em tomo dum Sol central sete astros, ou os corpos cósmicos dos sete Dhyâns-
Chohâns. E manda a prudência que fiquemos por aqui ...
Aludindo às tradições relativas ao Mundo Subterrâneo, encontradas entre
todos os povos, diz ele:
"Poder-se-ia observar, entretanto, de modo geral, que o culto das cavernas

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acha-se ligado à idéia de lugar interior, central, etc., e que, assim, o símbolo da
caverna e do coração estão muito próximos um do outro - à parte da Montanha,
onde a STB fez sua espiritual eclosão, demos o nome de coração da Montanha
Sagrada, que continua sendo o lugar visitado por nós e por quantos fazem parte das
nossas fileiras, isto, diga-se de passagemj como uma simples homenagem e não
como objeto de culto ... -. Por sua vez, existem, realmente, na Ásia central como na
América e por toda parte da Terra, cavernas e subterrâneos onde certos centros
iniciáticos - não é bem isso, mas ... embocaduras para Agartha - puderam manter-se
há muitos séculos".
E mais adiante:
"Entre as tradições a que fazemos alusão existe uma que apresenta particular
interesse: ela está apontada no Judaísmo e refere-se a uma cidade misteriosa
chamada Luz. Tal nome era dado, originariamente, ao lugar onde Jacó teve o
conhecido sonho bíblico, depois do qual a denominou Beith-EI, isto é, Casa de
Deus - mansão celeste. Diz-se que o Anjo da Morte não pode penetrar em tal
cidade, igualmente vedada a qualquer outro poder. E, por uma coincidência bastante
singular, porém muito significativa, alguns a colocaram perto da Albordi, que é,
igualmente, para os persas, a região da imortalidade".
"Perto de Luz dizem existir uma amendoeira (em hebreu, luz), em cuja base se
encontra uma concavidade, por onde se penetra em um subterrâneo, o qual conduz à
mencionada cidade secreta".
Nem mesmo assim o ilustre cabalista René Guénon conseguiu descobrir de que
cidade se tratava. De nada lhe valeu um nome tão precioso como é o de Luz ...
Digamos nós aqui, sem rebuços, o prodigioso nome dessa cidade: Shamballah. É
essa a oitava cidade subterrânea que, conjuntamente com as outras sete, a ela
subordinada, forma o tão debatido e, por isso mesmo, tão conhecido reino de
Agartha.
Em face da famosa sentença hermética - que nos ensina "o que está em cima é
igual ao que está em baixo" e, portanto, o nosso globo reproduzir em baixo o que se
acha no alto, tal como o homem que é do Macrocosmo o Microcosmo - pôde o
autor citado lembrar-nos o que é bem conhecido de todos quantos possuem
profundos conhecimentos da Ciência Oculta:
"Situa-se Luz na extremidade inferior da coluna vertebral. Tal fato, parecendo
bastante estranho, esclarece o que nos afirma a tradição hindu, a qual
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localiza nesse lugar a força denominada Kundalinf, que é uma forma de Shakti
considerada como imanente do ser humano".
Ao próprio seio da Terra se denomina Laboratório do Espírito Santo, por ser o
lugar onde vive em atividade o Fogo Cósmico que tanto vale por Kundalini. É ainda
esta a razão por que se dá a tal região o nome de omphalo ou umbigo, seio, Útero,
etc. da Terra. A força Kundalini, achando-se "na extremidade inferior da coluna
vertebral" ou cóccix do homem, está em relação com o chakra ou centro de força
Múladhâra - chakra raiz, como sede dos demais -, o qual possue 4 pétalas, ou
melhor, é dividido em forma de cruz, na mesma razão da terceira emanação divina
ou Espírito Santo.
O mesmo René Guénon que, embora valioso cabalista, não conhecia certas
sutilezas iniciáticas, nos diz, à página 103 do livro que estamos transcrevendo e
comentando alguns trechos:
"Existem ainda outros símbolos que, nas antigas tradições, representam o
Centro do Mundo. Um dos mais preciosos é o de Omphalos, que se encontra em
quase todos os povos. Omphalos é uma palavra grega que, significando umbigo,
serve também para designar tudo quanto é central como, por exemplo, o eixo de
uma roda - a campânula dum chakra, etc., dizemos nós -. Em sânscrito a palavra
nabhi possui igualmente esses diferentes sentidos, e mesmo nas línguas célticas e
germânicas, derivadas da mesma raiz, ela é encontrada sob as formas: nab e nav. Em
gaulês, os termos nave naf, evidentemente semelhantes aos anteriores, possuem o
sentido de chave - donde o tradicional termo, dizemos nós, de Chave de PÚshkara,
Chave de Shamballah, etc., como termos simbólicos dos que têm direito a dar
entrada em qualquer das cidades agarthinas. Dessa tradição originou-se o Abre-te,
Sésamo de Ali-Babá e os 40 ladrões que, diga-se de passagem, não são 40 e sim 49,
como 49 são os filhos de Fohat, e, 49, os fogos de Kundalini -, que se aplica ao
próprio Deus. É, pois, a idéia de Princípio Central que aí se acha expressa".
Por nossa vez, chamamos a atenção do leitor para quanto dizemos em outros
lugares, sobre as palavras nave, barca, etc., estreitamente ligadas mesmo
simbolismo. De fato, naf, nav, e nave são bem idênticos entre si. Donde, arca, barca
ou Agartha.
Para concluir:
"Testemunho concorde com todas essas tradições, diz ainda René Guénon,

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é a afirmação de existir uma Terra Santa! protótipo! por excelência! de todas as
outras Terras Santas! centro espiritual ao qual todos os outros centros se acham
subordinados. A Terra Santa é! também! a Terra dos Santos - semideuses!
mahâtrnas ou jinas! dizemos nós -! a Terra dos Bem-aventurados! a Terra dos
Vivos! a Terra da Imortalidade; expressões equivalentes e às quais se pode juntar
ainda a de Terra Pura! que PIa tão denomina! precisamente! a Região dos Bem-
aventurados/!.
Para nós! como já dissemos! esse centro espiritual - dêm-Ihe o nome que
quiserem! embora continuemos a denominá-Io tanto de Agartha como de
Shamballah - acha-se situado no centro da Terra. Nele só entram os que se tenham
destacado da humanidade vulgar pela aquisição dos mais elevados princípios e
IIdescoberta a estreita vereda que lhe dá acesso! lhes não faleça o ânimo para a
percorrer com passo seguro!!. Sua representação na superfície da terra encontra-se
atualmente no Brasil! a nova Canaã ou Terra da Promissão para todos os povos
que como tal a considerarem. Fora disso! ilusão! mentira! erro! engano fatal! cujas
conseqüências se hão de manifestar! cedo ou tarde! na vida de todos quantos dessa
verdade se não convencerem.
Rari nantes in gurgite vasto ... - Raros náufragos nadando no vasto oceano. Passemos
agora à transcrição da profecia que o Rei do Mundo fez no ano de 1890! extraída
do livro de Ossendowski. Mesmo que outra utilidade não tenha! servirá para o
leitor inteligente fazer a devida comparação entre as suas afirmações e os horrores
por que neste momento está passando o mundo.
110 hutuktu de Narabanchi-kure me contou o que se segue! quando o visitei no
seu mosteiro! no começo de 1921/! - ano da fundação espiritual da STB .
IIQuando o Rei do Mundo apareceu diante dos lamas favoritos de Deus! em
nosso mosteiro! são decorridos 30 anos! fez uma profecia relativa aos cinqüenta
anos que deviam seguir.
Ei-Ia:
IICada vez mais os homens esquecerão as suas almas! preferindo ocupar-se de
seus corpos. A maior corrupção reinará sobre a Terra. Os homens tomar-se-ão se-
melhantes a animais ferozes! embebidos no sangue de seus irmãos. O Crescente se
aniquilará e seus adeptos cairão em miséria e guerra perpétua. Seus conquistadores
serão iluminados pelo Sot mas não se elevarão duas vezes; acontecerá a maior das
desgraças! que culminará em injúrias diante dos outros povos. As coroas dos
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reis, grandes e pequenos, cairão: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito ...
Haverá uma guerra terrível entre todas as nações. Os oceanos se tingirão ... a Terra e
o fundo dos mares ficarão cobertos de ossadas ... Reinos divididos - haja vista o
retalhamento que até hoje se tem feito ... e se continua a fazer -, povos inteiros mor-
rerão de fome, por moléstias e pela prática de crimes não previstos pelos códigos,
por nunca na Terra se terem visto outros iguais - leiam-se os jornais de todo o
mundo, inclusive os da nossa pátria ... -. Virão então os inimigos de Deus e do
Espírito Divino, que se encontram no homem. Aqueles que manietam a mão dos
outros - a mão e o ... pensamento -, também morrerão ... Os abandonados, os perse-
guidos se levantarão e chamarão a atenção do mlmdo inteiro - referia-se, certamente,
às ideologias que têm surgido como conseqüência de longos anos de sofrimento, mas
que, como tantas vezes temos dito, "não resolveram nem resolverão jamais o
problema da felicidade humana -. Nevoeiros e tempestades se desencadearão -
simbolismo de tudo quanto estamos assistindo, ou esperanças malogradas de paz, e
logo ... a efervescência das guerras das terríveis experiências atômicas pela idéia
constante de domínio, poder, grandeza, etc., como se este mísero planeta em que
vivemos fosse o nosso verdadeiro reino! -. Montanhas desnudas se cobrirão de
florestas. A terra tremerá. Milhões de homens despedaçarão as cadeias da escravidão
e das humilhações, pela fome, a doença e a morte. Os velhos caminhos se cobrirão
de multidões, fugindo de um lugar para outro. As maiores, as mais belas cidades
serão destruídas pelo fogo ... uma, duas, três ... O pai se revoltará contra o filho, o
irmão contra o irmão, a mãe contra a filha.
O vício, o crime, a destruição do corpo e da alma continuarão sua rota ... As
fa1lli1ias serão divididas ... O amor e a fidelidade desaparecerão ... Em dez mil
homens, só um viverá, mesmo assim, louco e sem forças ... não encontrando
habitação nem com que se alimentar. E, como os lobos, uivará furioso, devorando
cadáveres, mordendo suas próprias carnes, desafiando Deus para a luta ... Toda a
Terra ficará deserta. Deus lhe voltará as costas. Sobre a Terra cairá o espesso véu da
noite e da morte.
Então enviarei um povo agora desconhecido que, com mão firme, arrancará as
más ervas da loucura e do vício - é nestes trágicos momentos que sempre aparece a
Barca de Salvação ... - e conduzirá aqueles que ficaram fiéis ao espírito dos homens
na batalha contra o mal. Eles fundarão uma nova vida sobre a terra purificada pela
morte das nações. No qüinquagésimo ano, três grandes reinos apenas se elevarão e
serão felizes durante setenta e um anos. Em seguida,

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haverá dezoito anos de guerra e de destruição. Então, os povos da Agartha sairão das
suas cavernas subterrâneas e aparecerão na superfície da Terra" ou seja, aquele
mesmo povo enviado antes e ... arregimentador dos que ficaram fiéis ao Espírito de
Verdade, à Lei, a Dharma, etc.
Muitíssimo mais antiga do que a profecia do Rei do Mundo é a que se encontra
no livro IV, capítulo XXIV do mais famoso dos comentários védicos, Vishnu-
Purâna, quando o grande Krishna prediz a Maitréia diversas das sombrias
influências e horrores desta Kali-Yuga ou Idade-Negra:
"Nos dias em que os mlechchha, (europeus) forem senhores das margens do Indo,
Caxemira e Chadrabhaga, aparecerão monarcas de mau espírito, gênio violento,
mentirosos e perversos. Darão morte às mulheres, às crianças e aos animais. No
entanto, seu poder será limitado, suas vidas, curtas, embora seus desejos sejam
insaciáveis ... Gente de vários países, misturando-se com eles, seguirão o seu exem-
plo. Os puros serão desprezados e o povo perecerá, porque os mlechchha ou bárbaros
estarão nos extremos - os extremistas -, e os verdadeiros ários, no centro. A riqueza e
a piedade diminuirão cada vez mais, até o mundo entrar em completa degradação ...
Então, só a fortuna dará valor ao homem; será ela a única fonte de devoção; a paixão
animal, o único laço de união entre os sexos; a falsidade, o único meio de vencer as
contendas; e as mulheres, meros objetos de satisfações puramente sexuais; a
exterioridade, a única marca de distinção entre as camadas sociais; a falta de
honradez, o mais prático de todos os meios para ganhar a vida; a debilidade trará
consigo a dependência; a ameaça e a ostentação suplantarão a sabedoria; a mais
desenfreada liberdade não dará lugar a outras aspirações. A riqueza dará ao homem a
reputação de puro e honesto; o matrimônio não passará de simples negócio; a razão
estará sempre do lado do mais forte. E o povo, esmagado pelo peso de enorme carga,
emigrará. E assim, na idade negra - Kali-Yuga - a decadência moral continuará a sua
marcha, até que a raça humana se aproxime de sua extinção ... " isto é, como
fartamente já explicamos, "o fim de um ciclo para o dealbar de um outro portador de
melhores dias para o mundo".
"Quando o fim de tal Idade estiver próximo, descerá sobre a Terra uma parte
daquele Ser divino - de acordo com a promessa do Espírito de Verdade, do
Bhagavad-Gitâ, por nós citado - que existe em sua própria natureza espiritual, dotado
das oito faculdades supremas ... - os oito poderes do iogue, ou os 8 sddhis, os 8
passos da ioga de Patanjali; as 8 pétalas do chakra cardíaco ... e muitas outras coisas
que se relacionam com tal inúmero, mas que não teriam
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cabimento num livro profano -. Ele restabelecerá a justiça na Terra e as mentes
dos que viverem até ao fim serão tão puras como o cristal. Os homens, assim
transformados, serão como sementes de uma nova raça, que seguirá as leis da
Idade de Oiro ou da Pureza, para transformar o mundo".
"Dois elevados Seres, dois Deva-pis, volverão à Terra, para felicidade dos
homens ... " - dois elevados seres, isto é, uma parelha ou forma dual manúsica,
melhor dito: o Manu macho e fêmea, os Gêmeos Espirituais, etc.
Nenhum observador, testemunha dos horrores por que estamos passando,
deixará de reconhecer nessa profecia, pronunciada há tantos séculos, a mais per-
feita e completa reprodução da negra página que a História humana hoje desfolha.
Há longos anos nada mais temos feito do que indicar aos "homens de boa
vontade" o caminho que os deve livrar dos horrores que se vinham aproximando e
cujos efeitos se começam a sentir. E essa a missão da Sociedade Teosófica
Brasileira, "centro espiritual para onde foi transferida a Sabedoria Iniciática das
Idades após o desaparecimento do último Budha Vivo do Oriente e encarregado
pela Lei de erguer, nas terras predestinadas do Brasil, o estandarte da Paz, do
Amor e da Sabedoria, a cuja sombra todos, sem distinção alguma, se podem
acolher para servirem de "sementes" à nova raça de que nos fala a profecia acima
transcrita.
(33) Naquele tempo não havia ainda o Nazismo propriamente dito, nem
nenhuma das demais ideologias" derivadas" do Fascismo e deste diferenciadas
pela cor das camisas, verdadeiros cascões que mudavam de acordo com as
conveniências do momento, e pelos gestos com que costumavam ameaçar a fúria
celeste, erguendo para o céu os punhos mais ou menos cerrados .. Uns e outros,
fascistas e bolchevistas, espalharam-se pelo mundo para entravar a marcha da
evolução humana, que foi imposta pela própria Lei, não poupando, nessa luta
inglória, nem mesmo os países destinados a servir de berço às últimas civilizações
da raça Ária, ou seja, o continente americano, principalmente, o Brasil, como
núcleo de tão excelso movimento.
O Fascismo e suas derivadas, para mais facilmente conquistar adeptos,
apresentaram-se, hipocritamente, com caráter religioso. Não faltaram padres e até
bispos nas suas fileiras. Mas depressa deixaram cair a máscara e revelaram sua
verdadeira finalidade, que não era a de unir os Homens, como indica o sentido da
palavra religião - religio, religare - que é o de pôr em prática o mais

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valioso de todos os ideais, o da fraternidade humana, sem distinção alguma.
Desafiveladas as máscaras, os dois grandes movimentos, que fingiam re-
presentar ideais tão opostos e se digladiavam no afã de "salvar a humanidade",
acabaram, na hora do perigo, estendendo-se as mãos sobre os montões dos
cadáveres daqueles que não quiseram aceitar docilmente sua tirania. Mas ainda
continua a fuligem da velha fogueira a emporcalhar o mundo ...
1) Quanto à Igreja, que parecia ter por esteio uma das poderosas facções,
perdida esta esperança, sente-se mais do que nunca abalada, ameaçando ruir
fragosamente ante a luta tremenda das democracias com as duas inimigas de
ontem e aliadas de hoje. Ela procurou salvar-se do iminente naufrágio,
escolhendo para substituto de Pio XI o Cardeal Pacelli, cujo nome encerra a
Pax, Paccis, Paccem ou Paz de que tanto necessita o mundo, e cuja inteligência e
capacidade em matéria de política internacional podiam servir de dique à
tormenta que se aproxima e neste momento ameaça tudo subverter.
O choque definiu-se afinal entre o regime totalitário - Fascismo e Bolchevismo -
e o regime democrático a que poderíamos chamar de "Teosofia exotérica" ou
profana, por estar mais de acordo, nos dias que correm, com o princípio de amor e
fraternidade apregoado pela mesma Teosofia.
Se a democracia vencer, daremos mais um passo no caminho da evolução,
aproximando-nos daquele ideal teosófico. O sangue vertido por seus defensores nos
campos de batalha; os atrozes sofrimentos por que estão passando como
conseqüência fatal do carma acumulado através de séculos sem conta de erros e
tiranias, servir-lhes-ão de lição para o futuro, levando-os à prática real dos ideais
por que se bateram e sacrificaram os pioneiros desse regime. Veremos assim surgir
dos escombros em que o mundo se está transformando a verdadeira democracia; e,
com ela, um largo ciclo de relativa felicidade.
Se, porém, a vitória estiver do lado oposto ... então com mais presteza se reali-
zarão as famosas profecias do Rei do Mundo, atrás transcritas. Não acreditamos,
entretanto, que tal aconteça ... A própria "Lei da Causalidade" condenou os re-
presentantes dos dois regimes totalitários à fatal destruição, fazendo com que, tanto
um como outro dos "inventores" desses princípios, improvisados em Messias,
escolhessem como símbolos os da involução. Deu a um a Sovástica de rotação
contrária à svástica, cujo movimento é da esquerda para a direita, na razão do dos
próprios astros em tomo do Sol. E como se isso não bastasse e quisesse
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prevenir os incautos dos perigos que tal princípio oferece - exatamente como se faz
nos vidros contendo veneno ou nos locais onde há perigo de vida - gravou sobre a
camisa negra dos seus sequazes a imagem duma caveira, tal como costumavam
fazer os piratas do passado, nos seus terríveis pavilhões.
À outra e a seus adeptos deu o Carma a designação de "vermelhos", cor do
sangue derramado inutilmente na face da Terra entre irmãos que se deviam amar e
reconhecer" como filhos de um Pai comum, saídos da mesma origem".
E, por falarmos em sovástika e svástica, mister se faz que homens ilustres e a
própria imprensa deixem, uma vez por todas, de confundir uma com a outra, ainda
que mais não seja para não darem provas de ignorância, já não dizemos em
assuntos esotéricos, teosóficos ou ocultistas, coisas com que em geral se não
preocupam, mas de conhecimentos vulgares apontados em qualquer enciclopédia.
Enquanto a primeira é o símbolo da involução e, portanto, do Mal; a segunda
expressa a evolução e o Bem. Os jainos e budistas consideram mesmo a sovástika
fatídica, maléfica.

A cruz sovástica é o símbolo da involução, do retrocesso,


portanto, do Mal.

A cruz suástica (cruz alada ou cruz de fogo) é o símbolo da


energia geradora do Universo.

Esses e outros símbolos já por nós foram largamente comentados até em con-
ferências públicas. Todos eles traduzem verdades eternas embora ocultas para a
maioria dos homens, e é triste ver a sem-cerimônia com que os encarregados de
guiar a opinião pública confundem a sovástica com a svástica ou a cruz de Malta
com a cruz ansata, para falarmos apenas nos símbolos mais conhecidos ...
Sim, Mussolini e Hitler, como afirmávamos outrora, "foram banidos da face da
Terra".
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(34) O mesmo seria dizer que "o Oriente vai fundir-se no Ocidente", coisa de
que já fartamente tratamos e de que nos falam todas as profecias antigas, inclusive
a gravada nos rochedos da serra de Sintra, em Portugat cujos restos deixados pelo
tempo, que falam bem alto de nossa Obra, rezam o seguinte,:
" ... Decretum
Sibil ... Vaticin ... Occidiis
(isto é, o vaticínio duma sibila sobre o
Ocidente) Volventuur saxa litteris et ordine rectís
cum videris Oriens, Occidens opes Ganges Indus
Tagus erit mirabile visu Messis ... commutabit sua
uterque sibi. ..1/

Cuja tradução é:
Patente me farei aos do Ocidente ... Quando
a Porta se abrir lá do Oriente! Será coisa
pasmosa quando o Indo Quando o Ganges
trocar, segundo vejo ... Seus (divinos) efeitos
com o Tejo.
O leitor interessado pelo assunto procure ler todo o sentido iniciático que
demos a semelhante profecia, em vários números de Dhâranâ.
Diremos apenas que a referência às águas do Ganges, do Indo, confundindo-se
com as do Tejo, significa simplesmente o Oriente fundindo-se no Ocidente, ou
melhor, a próxima fusão monádica do sangue nobre do ibero com o não menos
nobre e guerreiro do tupi, fusão cuja realização se iniciou após a descoberta da
América. Tudo isto, por mais estranho que pareça, tem estreita relação com a
nossa fuga, aos 16 anos, de Salvador para Portugal e daí para as Índias, com escala
obrigatória em Goa, Índia portuguesa, finalmente Srinagar, na província de
Caxemira, protetorado inglês.
Como já notamos em outros lugares deste livro, a maioria das pessoas que se
dedicam à Teosofia e ao Ocultismo julga que o Oriente sempre dirigiu os destinos
espirituais da Humanidade e que assim continuará sendo até ao fim da evolução
humana. Citam, por isso, a Confraria Branca do Himalaia ou Grande Fraternidade
e dão os seus membros como existindo apenas na Índia, quando, na realidade, eles
se acham espalhados por toda a superfície da Terra. É isto que os fanáticos pelas
coisas do Oriente necessitam saber.
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Se, além da assombrosa profecia acima transcrita, quiséssemos citar outras
mais, bem como quantas referências a tal respeito se fazem em obras de autores
dignos da maior consideração ou transmitidas verbalmente pelos próprios Adeptos,
seríamos obrigados a escrever um grosso volume dedicado apenas a tão palpitante
assunto.
Apontemos apenas o que se encontra às páginas 143 a 147 da prodigiosa obra
de Jean Marqués-Riviére, intitulada A L'Ombre des Monastéres Thibetains, onde
nos fala no Rei do Mundo, ou antes, dos três mundos, pois Ele representa a vitória
da própria Mônada, como prova o termo Maitri, que também Lhe cabe, e cujo
sentido já atrás definimos.
Depois de o velho lama ter explicado ao autor a forma tríplice com que o Rei
do Mundo se manifestava outrora no Oriente, e como, através do Budhavivo e suas
colunas ou Ministros, irradiava esses poderes espirituais sobre todo o globo,
projetando-os do Oriente para o Ocidente, por intermédio do Brahmâtma, ao norte
da Índia - o lama não estava investido de poderes suficientes para informar o autor
que, por exigência da própria Lei, essa proteção se faz hoje do Ocidente para o
Oriente, como já fartamente demonstramos ... -, acrescentou o que se segue:
"E agora, meu filho, no silêncio de todas as coisas existentes em torno de nós
há um mistério muito mais profundo que tudo quanto já vos revelei. Essa
organização religiosa é ainda o reflexo material de uma outra organização mais
perfeita; por sua alta espiritualidade, a qual permanece ainda em nossa terra -
naquela época, portanto -. Eis aí o grande mistério: Sabei que reina sobre toda a
Terra e muito acima do Lama dos Lamas, Aquele diante do qual o Trashi-Iama é o
primeiro a curvar a fronte; Aquele a quem chamamos Senhor dos Três Mundos -
Maitri -. Seu reino terrestre se acha oculto e nós, os da Terra das Neves, somos o
Seu povo. Seu reino é, para nós, a Terra Prometida - Terra de Agartha, lhe
chamamos nós -, Napamaka e, por isso, trazemos em nosso peito a nostalgia dessa
região de paz e de luz. Será aí onde todos nós acabaremos os nossos dias, diante
dos bárbaros invasores - referia-se aos ingleses e russos, já quase totalmente
senhores do Tibete, da Índia e da Mongólia -, nos tempos que se aproximam, pois,
a esse respeito, nossos oráculos são formais. Os mais santos dentre nós já partiram
para Napamaka - Agartha -, para os Templos de Sabedoria do Senhor dos Três
Mundos - os 22 templos dos Taichus-Marus de que nos falam as antigas escrituras,
também citados por Saint-Yves d'Alveydre na
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sua obra Mission des Juifs -. Para salvar a Tradição Eterna - a Sabedoria Iniciática
das Idades ou Teosofia - da possível profanação, fugiremos aos invasores do
Norte e do Sul- fuga que já realizaram, informamos nós -, ocultando novamente
nossos escritos e doutrinas".
E o velho lama continua:
"Que importa tudo isso ao Venerávet à Inestimável Jóia Celestial! Para Ele,
um dia é como um cielo para nós. Imutávet reina Ele no coração e na alma de
todas as criaturas. Conhece nossos pensamentos mais secretos e auxilia os de-
fensores da Paz e da Justiça."
"Ele não viveu sempre em Napamaka. A tradição revela-nos que, antes da
gloriosa dinastia de Lhassa, antes do sábio Passepa, antes de Tsongkhapa, o
Senhor Onipotente reinava no Ocidente - querem maior prova das mutações
seriais ou delicas a que está sujeita a Mônada, na sua trajetória evolucional? Por
isso afirmamos que ele novamente se acha no Ocidente -. Reinava no Ocidente -
prossegue o lama - em uma montanha cercada de grandes florestas, no país onde
habitam hoje os Pillineu-ghen - ocidentais, estrangeiros em geral -. Por seus filhos
espirituais, reinava Ele sobre as quatro direções do Mundo - os pontos cardeais, a
Cruz, o Pramantha, etc. -. Naquele tempo existia a flor em cima da Svástika ...
Porém, os cielos negros concorreram para que o Senhor de Oeste viesse para o
Oriente, viver entre nós ... Despedaçou-se, então, a Flor, ficando apenas a
Svástica, como símbolo central da Jóia do Céu."
O despedaçamento da Flor da Svástica, a que o Lama se refere, tem estreita
ligação com o mistério do LPD - Lilíum Pedíbus Destruens - em que esteve
envolvido o próprio Cagliostro, por ser missão desse Ser, conjuntamente com o
conde S. Germano, destruir a "Flor de Lis" francesa, para o que fomentou a
revolução que começou pela tomada da Bastilha.
E como a sovástika seja justamente o contrário da svástika - esta, como
símbolo sagrado da evolução e aquela, como símbolo nefasto da involução vemos
hoje, em plena decadência raciat ter sido a primeira e não a segunda a que a mão
fatal do Carma estampou nos pavilhões dos inimigos da evolução.
(35) "Irremediavelmente perdido" ... Tão irremediavelmente perdido como o
foi no momento trágico da Atlântida de que nos falam os dois manuscritos, esses
documentos insofismáveis de que vamos lançar mão:
1 º) o manuscrito maia que faz parte da famosa coleção Le Plongeon (ma-
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nuscrita traana) existente na British Museum, de Landres, a qual nas diz:
"Na ano. 6 de Kan, a 11 Muluk, mês de Zac, acorreram harríveis terrematas que
cantinuaram sem interrupção., até a 13 Chuan. O país das lamas de barro, a terra de
Mu - Atlântida -, fai sacrificada. Depais de duas tremendas canvulsões, ela desa-
pareceu durante a naite, senda canstantemente sacudida pelas fagas subterrâneas que
fizeram cam que a mesma tivesse tão. trágica destina. Par fim, a superfície cedeu.
Dez países separaram-se e desapareceram, levando. cansiga 64 milhões de
habitantes. Isso. acanteceu aita mil anas antes de ser feita a presente manuscrita".
2º) a manuscrita pertencente aas arquivas da antiga templo. budhista - melhor
diríamas, lamaísta - de Lhassa, em língua caldaica, uns 2 mil anas antes de Crista,
que se expressa nas seguintes termas:
"Quando. a estrela Baal caiu na lugar ande haje só existe mar e céu, as dez
cidades, cam suas portas de aira e templas transparentes, tremeram e estremeceram
cama se fassem as falhas de uma árvare sacudidas pela tormenta. Eis que uma
nuvem de faga e de fuma se elevau das palácias. Os gritas de harrar, lançadas pela
multidão., enchiam a ar. Tadas buscavam refúgio. nas templas, nas cidadelas e a
sábia Mu - a sacerdate Ra-Mu -, apresentanda-se, lhes falau:
- Não. vas predisse eu tadas essas caisas?
Os hamens e as mulheres, cabertas de pedras preciasas e custasas vestes,
clamaram:
- Mu, salva-nas!
Ao. que replicau Mu:
- Morrereis cam vassos escravas, vassas riquezas e de vassas cinzas surgirão.
autras pavas. Se eles, porém, vos imitarem, esquecenda-se de que devem ser
superiares, não. pela que adquirirem, mas pela que aferecerem, a mesma sorte lhes
caberá - e eles de fato. se esqueceram, a julgar pela que atualmente se passa na
munda ... -. O mais que passa fazer é marrer juntamente canvosca ... "
"As chamas e a fuma - continua a manuscrita - afagaram as últimas palavras de
Mu que, de braça estendida para a Ocidente - cama a apantar a futuro humano ... -
desapareceu nas prafundezas da aceana cam as 64 milhões de habitantes da imensa
cantinente".
Que paderemas dizer dessas duas tão. antigas tradições, existentes em lugares
tão. diferentes, cama sejam: uma na América Centrat proveniente da civilização.

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maia, cujo manuscrito se acha hoje, como dissemos, no Museu de Londres, e a
outra no extremo Oriente, tendo como documento comprobatório manuscrito
guardado em Lhassa, capital do Tibete?
Sabem acaso os homens que neste momento ensopam de sangue os campos de
Europa - e hoje em outros lugares do mundo - se o futuro que nos aguarda -
quando de todo tiverem esgotado os elementos de destruição carinhosamente
acumulados durante anos sem conta - não será o mesmo do daqueles povos a que
se referem estes manuscritos?
Impulsionados pelas forças do mal, eles apenas sabem que estão sacrificando
milhões de vidas inocentes, destruindo os vestígios de uma civilização e atraindo
para o mundo as calamidades da fome e das pestes. Sabem que por entre as ruínas
das cidades até hoje florescentes circularão, famintos e estropiados, os poucos que
sobreviverem à tenebrosa hecatombe, e que, das extensas campinas por onde
passaram suas hordas devastadoras, tão cedo não yeremos irromper as preciosas
dádivas da Natureza destinadas a servir de alimento aos homens?
Têm consciência de que, após o cataclismo, tudo será ruínas e desolação? E
a mais longe não irá sua visão.
O ódio e o orgulho impedem-Ihes perceber conseqüências ainda mais terrí-
veis, derivadas dos choques sofridos pela crosta terrestre, incessantemente bom-
bardeada durante dias, semanas e meses, e agora muito mais, com as bombas
atômica e de hidrogênio.
Não precisamos encarar essas conseqüências do ponto de vista ocultista. onde
teríamos que apresentar a Terra como um ser vivo capaz de reagir, cons-
cientemente, contra os abalos de que está sendo vítima nesta guerra de incon-
cebível ferocidade. Isto faria de certo sorrir muitos dos nossos leitores ... Basta-
nos considerar as coisas do aspecto puramente físico, para logo vermos os riscos a
que se expõe a própria Terra com as ininterruptas vibrações produzidas pelas
tremendas explosões por que está passando o continente europeu, e agora, outras
partes do mundo.
Se a memória dos homens não fosse tão falha, eles se lembrariam de que
idênticas causas destruíram a Atlântida e deram origem'ao desÜo do eixo da
Terra, ocasionando a diversidade das estações até então indiferenciadas.

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Os homens, porém, não sabem disso ou as paixões inferiores lhes anularam de
todo a faculdade superior de raciocinar. Continuarão a submeter a superfície da
Terra às terríveis vibrações produzidas pelos canhoneios e deflagração de suas
potentíssimas bombas, até que as partes componentes do todo se desagreguem e se
produzam os cataclismos cósmicos que mais tarde formarão as lendas dos dilúvios
universais conhecidos de todos os povos.
Mui forte é o poder do Mal e a ignorância dos homens!
(36) É por isso que os autocratas de hoje mandam queimar os bons livros,
quando não expulsam seus autores, juntamente com todos os homens sábios e
justos. Precisam refulgir, apesar da sua pouca ou nenhuma cultura; necessitam dos
aplausos delirantes das multidões e isto só pode ser conseguido com o afastamento
daqueles que lhes possam fazer sombra, de acordo com o velho brocardo: "Em
terra de cegos, quem tem um olho é rei" ...
(37) No Epílogo de sua obra La Humallídad y [os Césares (pág. 236) diz o genial
teósofo Dr. Roso de Luna: "Um sentimento sério e profundo, a respeito do
salvador alcance da fraternidade entre os homens e povos, é o único que pode, para
o futuro, lançar as bases de uma Idade mais digna e valiosa. A guerra atual
precipitou, sem dúvida, semelhante desenlace - para uma minoria, ou antes, a elite,
os que se dedicam à sua própria redenção e de quantos seres se compõe a espiritual
Família Humana. De hoje em diante, uns e outros não poderão mais esperar a
redenção de fora: ao contrário, esforçar-se-ão para obtê--Ia de si mesmos, porque
em nosso ser interno é onde se oculta o inefável tesouro da felicidade".
Sem outros comentários ...
(38) Agora mesmo aqueles que julgavam suas pátrias em melhores condições
do que as outras, inclusive as do Oriente - isto, muito antes das experiências
atômicas ... - começaram a apelar para o continente americano, principalmente o
do Norte, ignorando a existência do que a própria Lei denominou de "Missão", da
qual somos os únicos e verdadeiros detentores. De fato, somente a fome, a miséria,
a desgraça, a ruína fazem vergar a cabeça aos homens mais pretensiosos da Terra.
Sim, porque somente a dor é o que concorre para a evolução espiritual do homem.
Quanto à exigência de muitas vezes o Bem se transformar em Mal, para suster
a onda furiosa do materialismo, ou chamar ao bom caminho os que se afastaram da
Lei, registramos estas palavras de Gotama, o Buda: "Luta em
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primeiro lugar, pelos de teu sangue - a fmm1ia -, a seguir, pelos da tua raça - a
Pátria -, e guarda os teus siddhis" -poderes psíquicos, etc., que outros preferem
jogar fora ... inclusive, na época presente, pois que não devem ser desperdiçados
com insignificantes e egoísticos assuntos.
Por ocasião da conflagração européia, inúmeros discípulos de Swami
Vivekananda lhe perguntaram se deviam seguir para o front, ao que ele
respondeu: "Ide cumprir o dever para com a pátria que vos coube nesta existência.
Fazei dos homens alvo das vossas armas apenas em defesa própria. Fora disso,
cumpri as ordens daqueles que vos dirigem". Diante do exposto, é inútil qualquer
comentário ...
(39) Só uma atenuante se encontra para o caso: é a dos vencedores não sabe-
rem tratar os vencidos, exigindo-lhes tributos por processos que, embora dis-
farçados com os nomes de cultos, humanitários, civilizados, etc., possuíam al-
gumas das características com que se apresentam os audaciosos "saques" de hoje.
Os tempos de escravidão dos vencidos, já naquela época, tinham passado. E
assim, por lei de Carma ou de Causa e Efeito, soou a hora dos \'encidos quererem,
por sua vez, escravizar os vencedores que outrora agiram contra os ditames da Lei
Justa e Única Verdadeira. Uns e outros estão errados, justamente 'por faltar a
nítida e perfeita compreensão dos princípios superiores que, diga-se de passagem,
são os pregados pela Teosofia.
(40) Preste-se bem atenção a seu ramo ou origem, além do mais, para que fique
bem patente que o papel da Europa está findo.
As mônadas daquela procedência devem de agora em diante encamar-5e, de
preferência, no continente americano, mas como estamos fartos de dizer: "as de
origem anglo-saxônia ao Norte, e as ibero-africanas ao Sul". Delas sairão as duas
sub-raças que, fundindo-se um dia, darão nascimento a uma Raça-Mãe. A própria
guerra, por mais terrível que seja, toma parte neste espiritual concerto, uma vez
que a ação dos homens, no exercício do livre arbítrio, força a Lei da Evolução ao
emprego desse e de outros meios violentos. São os homens, pois, que, afastando-
se da própria Lei, obrigam esta a corrigir os efeitos decorrentes desse
afastamento, a fim de que a Evolução não venha a ser prejudicada. Sobre eles
recai a culpa de todos os sofrimentos, todos os tormentos por que são forçados a
passar. Na procura de atalhos que a levem ao fim almejado, a Humanidade toma o
caminho mais longo e penoso, semeado de

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300
obstáculos de que a Lei única se serve para a fazer voltar ao verdadeiro caminho
da Evolução.
A essa descida das mônadas, do Norte para o Sul, denominam as escrihrras, e
principalmente Ésquilo no seu Prometeu Encadeado, de Itinerário de Ió ou de Ísis.
São as migrações de todas as épocas, com ou sem Manu à frente. Não apenas as
migrações em corpo físico, mas também as que são feitas em espírito, fato que os
próprios doutos ignoram e para seu conhecimento aqui lhes revelamos.
Felizes dos que migram do primeiro modo, porque melhores e mais poderosas
tendências possuirão na vida futura; melhor aparelhados estarão para vencer a nova
etapa no caminho de Ió traçado pela Evolução. Os que partem em espírito, o
fazem sem vontade própria, por força da Lei, inconscientemente. Ignorantes de
todas estas verdades, jamais poderão responder às enigmáticas perguntas da
Esfinge: "Quem és? Donde vens? Para onde vais?"
(41) Os Estados Unidos - com a Inglaterra e a Rússia - depois que usaram e
abusaram das bombas atômicas e de hidrogênio, a Lei - dêem o nome que lhe
quiserem dar - imprimiu novo rumo às coisas. Os tempos se passaram. Estamos
em pleno Dies-irae ...
(42) Como dissemos no começo deste capítulo, foi ele devidamente corrigido e
aumentado e, por isso, também diversos trechos tiveram que ser suprimidos, por
serem puramente filosóficos, mais próprios aos que já possuem profundos
conhecimentos de Teosofia. No entanto, se o leitor já for versado em semelhantes
estudos, procure adquirir os números de Dhâranâ onde o artigo foi publicado:
janeiro a março de 1930, números 49 a 5I.
(43) "Barca de Salvação", não só por todas as razões que, do começo ao fim
deste livro, procuramos evidenciar, entre as quais estão as necessidades do mundo
e a grandeza duma pátria destinada a servir de exemplo a todas as outras,
impedida, portanto, de imitar quanto de decadente as mesmas possuam, por já
terem tido suas épocas de esplendor na História, não só por isso dizemos - como
também por ser a fiel depositária dessa "Sabedoria antiga" a que HPB alude na
Introdução de sua Doutrina Secreta, como demonstramos em outros lugares deste
nosso despretensioso livro.
Trata-se, nesse caso, da verdadeira Teosofia, porque, o que, desde o
desaparecimento da mesma HPB, por aí aparece como tal, pode ser tudo, mas
nada possui dessa inconfundível Verdade transmitida ao mundo pela boca dos
299

301
Grandes Iluminados que a ele têm vindo nos ciclos evolucionais em que a vida
universal é dividida.
Não existem duas Verdades ou duas Teosofias. A Teosofia é uma só. O que
existe, sim, são manifestações errôneas suas ou embaciados espelhos onde a
mesma palidamente se reflete. Estão nesse caso todas as religiões e filosofias que
de semelhante tronco nasceram.
(44) Nunca mais se ouviu falar no Verdamarelismo. É de lastimar que uma
instituição cultural animada do mais acrisolado civismo e dotada das mais
patrióticas intenções tivesse desaparecido ...
(45) Por infelicidade, o ano 1956 marca o final de um ciclo para o começo de
outro. Quem até agora não se manifestou ... dificilmente virá a trabalhar conosco.
(46) Quão semelhante é essa maravilhosa lenda tupi-guarani ligada àquela outra
inca por nós apontada em outro lugar deste estudo, ou seja: os manus da sua
primeira dinastia, com os nomes Manco-Capac e Mama-Coya, a qual nos diz" que
o homem ensinava na cidade alta - isto é, ensinava as coisas da cabeça, do mental,
etc., e a mulher ensinava na cidade baixa" - as coisas relativas ao lar, ao próprio
sexo ou à sublime função de mãe.
Tudo isto tem, ainda, relação com a misteriosa cordilheira denominada Machu-
Pichu, que o mesmo é dizer Manu Pichu, Piscus, Piscis ou Peixe, \isto que todas as
lendas dos manus falam no "salvo das águas" - como ~foisés, Moíse, Moiska, etc.
-, no "peixe que fala" ou ensina dentro das águas para os homens, em terra, etc.
Desta lenda tirou a Igreja a caótica de "Santo Antônio falando aos peixes", a
qual nos aparece invertida e, por conseguinte, sem o prodigioso 1,-alor inidático da
lenda originária.
O signo de Piscis tem uma relação muito estreita com o "pecado original", a
queda do sexo, etc. Isto foi comprovado pelo próprio Jeoshua que, ao se lhe
apresentar a mulher adúltera, traçou no chão um peixe, para logo dizer: "Aquele
que estiver isento de pecado - isto é, de pecado desta natureza - que atire a
primeira pedra", A Igreja interpreta erradamente, afirmando que ele assim agiu por
"ser pescador" ... Melhor seria então dizer que ele, "ao ser forçado a atirar a sua
mayávica rede de Iniciado ou Instrutor", tinha a intenção de apanhar os "peixinhos
do seu próprio viveiro", ou seja, seus discípulos, apóstolos, etc. Mas essas
interpretações não são para sacerdotes não Iniciados, como os da Igreja
300

302
romana ou outros quaisquer ... que não se aprofundavam nos grandes Mistérios da
Vida.
(47) A própria História subscreve o simbolismo interessantíssimo dessa fusão
racial, no amor de uma índia pelo aventureiro Diogo Álvares Corrêa, ou antes, no
amor de Caramuru por Catarina Paraguaçu - nome dado à silvícola pela rainha de
Portugal.
Foi ainda inspirado nos mesmos sentimentos iniciáticos que a brilhante pena de
José de Alencar nos traça no seu O Guarani o amor de Peri por Ceci, equivalente à
fusão da mônada ibérica na raça brasileira. Pequenas coisas ... grandes coisas!
Principalmente para quem vê, em tudo e em todos, motivos de Iniciação.
(48) Ave Canora ou Voz Interna, Voz da Consciência, Voz do Ego, etc.
(49) "Cadeia Setenária" que já procede do sistema planetário. Os Sete astros em
torno do Sol, o heptacordo celeste ou a Harmonia das Esferas. Refere-se ainda às
sete Raças-Mães, com suas respectivas sub-raças, ramas e farm1ias constituintes
duma Ronda inteira.
(50) Instrutor do Mundo ou Manu procedente do Tronco único ou do próprio
Planetário da Ronda que, no começo da mesma, é o Manu-Semente; e no fim, o
Manu Colheita. Destes, como frações de si mesmo, se originam os outros.
Acompanhando a Ronda, aparecem ao todo 49 manus: 7 para as sete raças-mães e
os demais para as respectivas sub-raças. Além desses, há ainda os de menor
categoria, chefiando ramas e farm1ias, visto não ser permitido pela Lei a
existência dum povo grande ou pequeno sem chefia.
Acontece, porém, como já dissemos em outros lugares, que, no fim de cada
ciclo, os povos, mesmo que aparentemente dirigidos, entram em plena decadência.
É o indício mais seguro da decadência duma civilização e do aparecimento de
outra portadora de princípios mais elevados. Isto se verifica atualmente nos povos
da Europa e do Oriente, cedendo, positivamente, lugar ao continente americano,
por ser o visado pela Lei para sede das últimas civilizações da atual raça.
Quem pensar de modo contrário está fora da Lei e, como tal, corre o risco de
ser destruído com o próprio ciclo decadente ... O futuro mostrará a veracidade das
nossas palavras.
(51) Embora o ciclo atual- referimo-nos aos grandes ciclos em que é repartida a
vida universal, e não os de 35 anos astrológicos - começasse o seu declínio no

301

303
ano de 1800, quando se deu um "avatara momentâneo" na serra de Sintra, em
Portugal- fato desconhecido até aos Adeptos dos dois primeiros graus, quanto
mais de simples estudantes de Ocultismo e Teosofia -, como prenúncio do futuro
avataraintegral no Ocidente, Brasil, tal declínio tomou forma objetiva, pois todos
conhecem os horrores por que o mlmdo está passando, nos dois ciclos
astrológicos de Marte e Lua, que foram, o primeiro, de 1909 a 1944; e o segundo,
de 1945 a 1980, que estando nós em 1956, faltam 24 anos para terminar. Até lá,
de acordo com as influências dos dois referidos planetas - o primeiro por meio de
revoluções, guerras, etc., e o segundo, tudo aquilo que estamos presenciando -
dariam, por exemplo, a muitos indivíduos o direito ao título de lunáticos,
inclusive os que andam falando sozinhos pelas ruas da cidade, nas terríveis
cogitações de solucionar problemas, a bem dizer, insolúveis. Para não falar, até,
em poucos, aliás, que as leis eleitorais, deficitárias em matéria cultural, levaram a
altos cargos políticos, inclusive, como governadores, etc. Em tempo algum, ao
menos na atual História da Humanidade, se pôde dizer que os Quatro cavaleiros
do Apocalipse, Domínio-Guerra-Peste-Fome, imperaram no mundo como nos
tempos que correm. A mentira conHncional, por exemplo, do salário mínimo não
resolve o magno problema da fome .. pelo fato de que logo os gananciosos do
comércio levantam os preços dos gêneros alimentícios. Domínio e Guerra
implicam em experiências nucleares, que estão concorrendo para tirar a anatomia
do mundo e dos seres que nele habitam. Surpresas desagradáveis advirão com os
resíduos nucleares, pois que nem de baixo dos oceanos, nem enterrados, como se
quer fazer, deixará de prol-ocar sérios distúrbios. O próprio termo" experiências"
implica em que se não conhece os efe:.tos desastrosos da referida energia. E como
manejar com aquilo que não se conhlXe ? Tem-se a impressão de que os próprios
cientistas viraram crianças que brincam com fogo e pólvora, áo mesmo tempo, e
só depois de se queimarem, quando não morrem ... é que ganham a verdadeira
experiência.
Foi a razão pela qual as nossas crianças-homens - nossos Pupilos, como
Sementes da Nova Civilização, de acordo com o 5pes -'fessis in Semine -lançaram
um apelo àqueles homens-crianças, que abandonassem semelhantes experiências,
pois nem sequer haviam descoberto, ainda, que também sofreriam aqueles
mesmos resultados desastrosos, algo assim como se se tratasse de um suicídio. O
mesmo direito que eles têm de dizer "que nada têm a aprender conosco", temos
nós em dizer que, com muito direito, lições as temos em de-

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masia para lhes ensinar, além do mais, a viver de acordo com a Lei que a tudo e a
todos rege, que nem sequer eles A conhecem. Dizem que "Deus está conosco",
ofendendo à própria Divindade, que não pode estar absolutamente com quem está
ao lado da destruição, da ruína e da morte.
O próprio papa atual, ao qual não cessamos de fazer elogios e prestar ho-
menagens, teve ocasião de dizer: "Estamos numa encruzilhada. Resta aos homens
saber qual dos dois caminhos devem escolher". E mais adiante: "Ou o católico
penetra em todos os setores, ou está ameaçado de desaparecer". Tais palavras
significam tolerância e respeito para com a própria Divindade a que as demais
religiões e filosofias dizem prestar culto e obediência. Acontece, porém, que ele
não se refere aos que, abusando de tal Nome, cometem os maiores desatinos, o
"saber escolher qual dos dois caminhos deve seguir".
Sim, o fenômeno atual se parece com aquele das pororocas no rio Amazonas,
onde as águas do rio se encontram com as do mar, provocando ruído tão
assombroso que é ouvido a grande distância. No caso dos dois ciclos que se
encontram, o fenômeno é muito mais perigoso, pois, além do mais, faz lembrar
aqueles" dois caminhos" da Divina Comédia de Dante: o da esquerda, que conduzia
ao portal onde se liam as ameaçadoras palavras Lasciate agni speranza, vai ch'
entrate - da dissolução da alma ou segunda morte -, e o da direita, que conduz ao
Divino, ou antes, à superação integral da Mônada.
O grande iluminado que foi Saint-Martin, por sua vez, também apontava a
missão que devia ser escolhida, ao dizer: "Quando quiserdes reconhecer uma
missão de caráter divino, procurai aquela que não vos ofereça bens terrenos, que
ela mesma não os pode dar. De preferência escolhei as que vos apontam o que é de
caráter divino. Mas também as que sofrem, as que passam miséria e são
perseguidas, ultrajadas, difamadas".
(52) O grande Champollion brasileiro que foi Bemardo Ramos teve ocasião de
decifrar, na Pedra da Gávea: "Tiro, Fenícia, Badezir Primogênito de YetBaal",
embora que erroneamente dando o segundo como pai do primeiro. Veja em
Dhâranâ Brasil Fenício, Brasil Ibero-Ameríndio, Brasil atual.
(53) Grande deve ser a satisfação de certo membro da STB a quem ele - quan-
do ainda príncipe de Gales, em visita ao Brasil- ofereceu antiga e preciosa cigar-
reira, onde se achava gravado seu próprio brasão. Mais importante do que esse
símbolo de sua alta posição social são as sutis vibrações de que esse objeto, por

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ele usado muito tempo, se acha impregnado. Da cigarreira se irradia aquele Amor Universal de que se acha
repleto o coração do seu antigo dono, como penhor que lhe vem do "berço", tal e tão elevada é a jerarquia a
que pertence.
(54) Se fôramos narrar os fatos tidos por fantásticos que se deram em nossa vida, desde criança, e
assistidos por inúmeras pessoas, inclusive nomes ilustres, como os dos conhecidos médicos drs. Nina
Rodrigues, Alfredo Brito, Souza Leite, Júlio Adolfo, Júlio Davi e outros muitos, sem falar nos de ordem
construtiva de nossa Obra, teríamos que apresentar, no mínimo, uns cinco volumes como este. Nesse caso,
os interessados que procurem ler a nossa biografia, publicada (em síntese) por duas vezes nas revistas O
Luzeiro e Dlúiranâ. E que não tomem o homem, senão como um escravo da Lei, porquanto, o que deve ser
admirado é apenas a Obra em que ele - com sua companheira de Missão são os seus dirigentes. Muito
menos com o nome errôneo de médium, a menos que" como intermediário da Divindade". Por isso que,
chamado pelos próprios Adeptos de Deva-Vani, que em sânscrito quer dizer Voz Divina.
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