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Aplicação da Tecnologia dos Alimentos na Preservação do Meio Ambiente

Application of Technology in Food Preservation of the Environment

Ana Paula Aparecida da Silva¹


Marcelo Augusto Mendes Silva²
Artigo
Original

Original
Paper

Palavras-chave: Resumo:
Este trabalho teve por objetivo verificar o impacto ambiental que as indústrias
Impacto ambiental de carnes, de laticínios e de embalagens podem provocar. Estudou-se também
as formas pelas quais estas indústrias tentam minimizar a degradação do meio
Indústria de ambiente. Um grande problema apresentado pelas indústrias de alimentos com
alimentos relação ao meio ambiente é o fato de que uma quantidade enorme de insumos
e dejetos podem ser descartados, o que leva à poluição de rios e solo, além de
Tecnologia de causar doenças infecciosas. Uma crescente preocupação do setor em diminuir
alimentos este impacto é evidente, pois várias ações para este fim podem ser observadas:
como o tratamento adequado de dejetos, a transformação de subprodutos des-
cartáveis em novos produtos, fabricação de embalagens com materiais biode-
gradáveis, além, é claro da própria reciclagem. Conclui-se que as indústrias de
alimentos devem sempre procurar investir em novas tecnologias que preser-
vem o meio ambiente e a saúde da população.

Abstract Key words:


This study aimed to examine the environmental impact that the industries
of meat, dairy and packaging may cause� Was also studied ways in which Environmental impact
these industries attempt to minimize degradation of the environment� A
major problem presented by the food industry in relation to the environment Food industry
is the fact that a huge amount of inputs and waste can be discarded, which
leads to pollution of rivers and soil and cause infectious diseases� A Food technology�
growing concern in the industry to reduce this impact is evident because
several actions to this end can be observed: as the proper treatment of
waste, rendering the new disposable products, manufacturing packaging
with biodegradable materials, plus of course the recycling itself� We
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conclude that food manufacturers should always seek to invest in new
Edição Especial do Curso de Nutrição - maio/2013

technologies that preserve the environment and people’s health�

1
Curso de Nutrição do Centro Universitário de Vota Redonda – UniFOA, Volta Redonda, RJ, Brasil.
2
Mestre em Ciência dos Alimentos. Docente do Curso de Nutrição do UniFOA.
1. Introdução cava que os problemas ambientais com que a
12 humanidade defronta não são novos, no entan-
Silva, Lacerda e Jones Júnior (2005) to, sua complexidade começou a ser entendida
destacam em seu artigo o pensamento de apenas recentemente. Antes, as preocupações
Leonardo Boff sobre a aceleração do processo voltavam-se para os efeitos do desenvolvimen-
industrial e a degradação do meio ambiente, to sobre o meio ambiente. Hoje também existe
sendo que, segundo o ex-franciscano: a preocupação com o modo de como a deterio-
ração ambiental pode impedir ou reverter o de-
“A aceleração do processo industrial senvolvimento econômico (FARIA, 2002).
faz com que a cada dia desapareçam 10 A partir da Revolução Agrícola, a relação
espécies de seres vivos e 50 espécies de do homem com o alimento a ser consumido
vegetais. O equilíbrio físico-químico sofreu diversas transformações e, ao passo em
da Terra, construído sutilmente du- que as sociedades tornavam-se mais comple-
rante milhões e milhões de anos, pode xas, mais complexas tornava-se esta relação;
romper-se devido à irresponsabilidade desembocando na chamada Época Moderna
humana. A mesma lógica que explora com o surgimento das Indústrias Alimentícias
as classes oprime as nações periféricas que, selecionavam, preparavam e comercia-
e submete a Terra à pilhagem. Não são lizavam os produtos extraídos da Natureza.
somente os pobres que gritam, grita Portanto, o ramo da alimentação apresenta-
também a Terra sob o esgotamento sis- -se bastante diversificado, tanto em termos de
temático de seus recursos não renová- produtos oferecidos quanto da própria infra-
veis e sob a contaminação do ar, do solo -estrutura industrial (VEGRO; SATO, 1995).
e da água” (BOFF, 2001). A Indústria de Alimentos Brasileira repre-
senta um dos ícones neste segmento incorpo-
Em 1972 ocorreu a conferência de rativo mundial. No Brasil, a título de exemplo,
Estocolmo sobre o meio ambiente. Este ano é temos a congregação de grandes empresas mul-
tido como o ano em que o direito ambiental tinacionais e nacionais no ramo da alimentação
passou a ser reconhecido como ramo jurídico, (Sadia, Perdigão, Coca-Cola, AMBEV, Garoto,
embora diversos tratados importantes a respei- Parmalat e as empresas do Grupo Unilever e do
to tivessem sido assinados com anterioridade Grupo Santista) até pequenas empresas geren-
e as legislações internas de diversos países ciadas e movimentadas por familiares; com
tenham se ocupado com problemas ambien- produção artesanal e distribuição restrita no
tais, como a matéria florestal, água e outros. mercado (SCHNEIDER, 2005).
A Conferência de Estocolmo teve o grande Com o crescimento da atividade industrial,
mérito de haver alertado o mundo para os ma- a consequente geração de maior quantidade de
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lefícios que a deteriorização do ecossistema resíduos e poluentes e o crescimento da deman-


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poderia causar à humanidade como um todo da por produtos e serviços tem forçado os ges-
(JUNGSTEDT, 2002). tores das empresas a reverem as atividades das
Antes de 1988, o Brasil já possuía leis que organizações onde atuam, a fim de adequá-las a
tratavam da questão ambiental. Na Constituição novas exigências (ROCHA, 2011).
de 1988, o capítulo que trata do meio ambiente De acordo com a Organização das
enfatiza a necessidade de sua defesa e preser- Nações Unidas para a Alimentação e a
vação e procura estabelecer mecanismos para Agricultura (FAO), o setor da indústria ani-
que isso ocorra. Para os especialistas, o grande mal está crescendo em escala mais rápida na
problema é conseguir que essa legislação saia Ásia, seguido pela América Latina e o Caribe.
do papel e seja efetivamente aplicada, já que Segundo o Instituto Internacional de Pesquisa
muitas leis não foram sequer regulamentadas, de Políticas Alimentares (IFPRI), os países da
como a que protegeria nossa biodiversidade, a América Latina, Ásia e África serão os líde-
mais rica do mundo (FORLIN, 2002). res em produtos animais em 2020, sendo que
A Comissão Mundial sobre o Meio grande parte desta carne será produzida em
Ambiente e Desenvolvimento (1991), já desta- sistemas industriais (SILVA, 2005).
O setor de alimentos e bebidas (A&B) A adoção de sistemáticas para a avaliação
tem a capacidade de interferir fortemente em de impactos ambientais teve início somente na 13
todos os pilares da sustentabilidade corpora- década de 60. Um dos países pioneiros na deter-
tiva, dados sua relevância econômica, a in- minação de dispositivos legais para a definição
terdependência com o meio ambiente e o im- de objetivos e princípios da política ambiental fo-
pacto que gera em aspectos ligados à saúde e ram os Estados Unidos. O que se deu por meio da
ao bem-estar dos cidadãos. Está diretamente Lei Federal denominada “National Environment
ligado ao meio ambiente por ser totalmente Policy Act - NEPA” aprovada em 1969. Diante
dependente de recursos naturais, seja por cau- dos reflexos da aplicação do NEPA, organismos
sa da necessidade de terras apropriadas para internacionais como ONU (Organização das
produção de matéria-prima ou por sua imensa Nações Unidas), BID (Banco Interamericano de
dependência da água (LINS; OUCHI, 2007). Desenvolvimento) e BIRD (Banco Internacional
Este trabalho teve por objetivo verificar o para Reconstrução e Desenvolvimento) passa-
impacto ambiental que as indústrias de carnes, ram a exigir em seus programas de cooperação
de laticínios e de embalagens podem provo- econômica a observância dos estudos de ava-
car. Estudou-se também as formas pelas quais liação de impacto ambiental (CASTRO, 2009
estas indústrias tentam minimizar a degrada- Apud SÁNCHEZ, 2006).
ção do meio ambiente.
3.2. Previsões Sobre o Futuro do
Planeta
2. Metodologia
Embora estejam acontecendo vários em-
Esse trabalho de revisão bibliográfica foi preendimentos por parte de empresas, novas
realizado através de pesquisas em base de da- leis tenham sido sancionadas, acordos interna-
dos como Scielo, Periódicos Capes, Google cionais estejam em vigor, a realidade aponta-
acadêmico, Periódicos impressos e livros di- da pelas pesquisas mostra que os problemas
dáticos datados de 1995 a 2012. ambientais ainda são enormes e estão longe de
serem solucionados (WALLAVER, 2000).
Em 1990, 200 cientistas participaram do
3. Desenvolvimento primeiro painel intergovernamental de mudan-
ça do clima, organizado pelas Nações Unidas.
3.1. Impacto Ambiental À época eles alertaram que o mundo precisa-
va reduzir de 60 a 80% seus gases causadores
A crescente preocupação com o meio am- do efeito estufa, para restabelecer o equilíbrio
biente vem mobilizando vários segmentos do na Terra. A partir desses dados foi criado o
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mercado. Inúmeros órgãos governamentais e Protocolo de Kioto, o qual estabeleceu que os
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indústrias estão se preparando para aplicar uma países industrializados deveriam diminuir as
política ambiental que diminua os impactos emissões de dióxido de carbono em 5,2% até
negativos à natureza. Os órgãos fiscalizadores janeiro de 2012, sobre os níveis vigentes em
têm se mobilizado (PELIZER et al., 2007). 1990. O Brasil já aprovou a assinatura deste
Segundo legislação brasileira considera- Protocolo (NORONHA, 2001).
-se impacto ambiental “qualquer alteração das De acordo com o secretário geral da
propriedades físicas, químicas e biológicas do ONU, Kafi Annau, pouco se tem feito com re-
meio ambiente causada por qualquer forma de lação ao desenvolvimento sustentável propos-
matéria ou energia resultante das atividades to na ECO-92, porque os países ricos não têm
humanas que direta ou indiretamente, afetam: cumprido os acordos internacionais firmados
I - a saúde, a segurança e o bem estar da popu- à época. É pouco provável que as medidas
lação; II - as atividades sociais e econômicas; propostas venham a ser adotados por esses
III - a biota; IV - as condições estéticas e sani- governos, uma vez que, precisariam de uma
tárias do meio ambiente; e V - a qualidade dos mudança total no modelo de desenvolvimento
recursos ambientais” (SCHWARTZ, 2005). econômico e social (NEIVA, 2001).
Um novo e mais amplo estudo sobre a que, selecionavam, preparavam e comercia-
14 Terra foi realizado por 1.000 especialistas, lizavam os produtos extraídos da Natureza.
através do Programa de Meio Ambiente das Este traço de seletividade e diversidade sem-
Nações Unidas. Esse relatório prevê um futuro pre acompanhou o desenvolvimento da indús-
sombrio para o planeta caso não sejam toma- tria da alimentação, e não obstante podemos
das providências imediatas. encontrá-lo em nossa contemporaneidade nas
Atualmente muito se discute sobre o mais variadas indústrias mundiais. Portanto,
Novo Código Florestal Brasileiro, que foi o ramo da alimentação apresenta-se bastante
aprovado pelo Congresso Nacional em maio diversificado, tanto em termos de produtos
de 2011 e foi para as discussões no Senado e oferecidos quanto da própria infraestrutura in-
sansão da Presidente Dilma Rousseff. O pro- dustrial (PADOVANI, 2008).
jeto do Código Florestal, entre outras regras,
prevê dois mecanismos de proteção ao meio 3.4. Impacto ambiental que pode ser
ambiente. O primeiro são as áreas de prote- provocado pela indústria de carnes
ção permanente (APPs), locais como margens
de rios, topos de morros e encostas, que são Pesquisas realizadas em países mais ricos
considerados frágeis e devem ter a vegetação como a Grã-Bretanha ou os Estados Unidos
original protegida. Há ainda a reserva legal, levaram a preocupações expressas na literatu-
área de mata nativa que não pode ser desmata- ra científica em relação a doenças infecciosas,
da dentro das propriedades rurais. Todas essas resistência a antibióticos e poluição da água
questões são bastante polêmicas geram calo- potável e do solo causando sérias epidemias
rosas discussões entre ambientalistas e ruralis- e outros problemas de saúde, resultado dos
tas (SADI; BONIN, 2011). insumos usados e dos dejetos produzidos nos
A Rio + 20, conferência mundial sobre sistemas industriais (SILVA, 2005).
meio ambiente e desenvolvimento sustentável Os resíduos dos aviários podem ser tan-
que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro em to um recurso como um poluente, no entanto
junho de 2012, de uma certa forma foi desapon- o manejo adequado destes resíduos com altos
tador, pois segundo Goldemberg (2012) foram conteúdos de nutrientes possibilita um im-
apenas enunciados na RIO+20 objetivos de de- pacto ambiental mínimo. Estes resíduos têm
senvolvimento sustentável a exemplo do que o potencial de poluir as águas superficiais e
ocorreu com as Metas do Milênio adotada pelas o lençol freático. Os resíduos avícolas podem
Nações Unidas no ano 2000. No entanto, os te- aumentar os nutrientes minerais, as substân-
mas específicos que constaram destes objetivos cias orgânicas que demandam oxigênio, ma-
não foram definidos nem propostas de ações teriais em suspensão e em algumas ocasiões
concretas para atingi-los. Um passo importan- microorganismos patogênicos (SEIFFERT,
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te que talvez seja adotado foi o lançamento de 2000). A produção de frangos também pode
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um processo de negociação para definir estas afetar a qualidade do ar, por emissões de gases
ações de forma quantitativa a ser a concluído como amônia, exalação de odores, e produção
até 2015; o que apenas adia o problema. de pó à atmosfera (ROBARGE et al., 1999;
ZHONGCHAO; ZHANG 2004). A incinera-
3.3. Impacto ambiental provocado pe- ção de carcaças de aves mortas libera dióxido
las indústrias de alimentos e as for- de sulfuroso, oxido nítrico, cinzas e odores
mas que podem ser utilizadas para (LACEY et al., 2004).
minimizar este problema No processo de abate de frangos, diver-
sas partes dos frangos são descartadas por não
A partir da Revolução Agrícola, a relação serem de consumo humano e sem fim comer-
do homem com o alimento a ser consumido cial. Estas, por sua vez, para não entrarem em
sofreu diversas transformações e, ao passo em processo de decomposição, precisam ter um
que as sociedades tornavam-se mais comple- destino adequado que não polua o meio am-
xas, mais complexas tornava-se esta relação; biente e que esteja de acordo com a legislação
desembocando na chamada Época Moderna que regula o destino final dos resíduos. Estes
com o surgimento das Indústrias Alimentícias resíduos provenientes do abate de frangos são
as cabeças, as penas, o sangue, as vísceras, as posição mas também das espécies de plantas
peles, as gorduras, os ossos e as carcaças des- ou animais (OLIVEIRA, 2010). 15
classificadas (PADILHA, 2005).
A suinocultura é uma das maiores e mais 3.5. Soluções para minimizar o impac-
importantes cadeias produtivas da indústria to ambiental causado pela indús-
alimentar existente no Brasil, com plantel de tria de carnes
suínos avaliado em cerca de 36,5 milhões de
cabeças, responsável por negócios da ordem O trato inadequado dos resíduos indus-
de 358 milhões de dólares. É um importante triais também contribui para o agravamento
item das exportações brasileiras, com cerca de dos problemas ambientais, pois os produtos,
10% do volume exportado de produtos agro- que não podem ser transformados em fari-
pecuários, com aumento das exportações no nhas, por exemplo, são lançados nos rios, o
período 1996-2001 de 64 mil toneladas para que leva, consequentemente, a poluição, cujas
265 mil toneladas (ABIPECS, 2001). consequências são conhecidas. Por isso, é
A proliferação de insetos, principalmen- preciso minimizar os resíduos gerados, antes
te moscas, é um grande problema associado à mesmos destes chegarem à graxaria das indús-
suinocultura. A adoção de sistemas de trata- trias (CENTENARO et al., 2008).
mento que eliminem a possibilidade de infes- As graxarias são unidades industriais
tação de insetos é mais uma variável que pode destinadas a processar restos de carcaças, apa-
influenciar a decisão, uma vez que diversos in- ras de carnes, tendões, gorduras e ossos, pro-
setos são vetores de parasitas que afetam dire- duzindo a farinha de origem animal (FOA),
tamente a saúde humana. As larvas dos insetos adubos, óleos, sebo e gorduras industriais
utilizam os nutrientes contidos nas lagoas para (BARROS; LICCO, 2012).
seu crescimento (GARTNER; GAMA, 2005). Os subprodutos do abate de animais
Com a falta de regulamentos para con- podem ser classificados como comestíveis –
trolar os insumos usados ou os produtos dos destinados à alimentação humana in natura,
sistemas de produção animal em escala indus- semiprocessados ou como matéria-prima de
trial, as consequências em potencial sobre a outro produto alimentício – ou não comes-
saúde das comunidades são fonte de grande tíveis – destinados a outras aplicações, tais
preocupação, pois um dos maiores problemas como farinhas para ração animal, produtos
em relação à produção de animais em estilo farmacêuticos etc. (PARDI et al., 1996).
industrial é que a manutenção de grande nú- A indústria avícola tem utilizado em lar-
mero de animais em confinamento denso leva ga escala subprodutos de abatedouros adicio-
a problemas com os dejetos produzidos por nados às rações, como o óleo de vísceras de
esses sistemas e com doenças potenciais. Um aves, que tem como principal vantagem o bai-
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dos problemas seria a contaminação da água xo custo e o alto conteúdo energético já men-
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subterrânea com nitrato proveniente dos deje- cionado (RACANICCI et al., 2004).
tos e que pode criar graves riscos para a saúde O tratamento dos dejetos, nas proprie-
pública. Altos níveis de nitrato encontrados dades produtoras de suínos, constitui-se em
em poços de água perto de unidades de engor- prática obrigatória, devido ao seu enorme po-
da, por exemplo, têm sido relacionados com tencial poluidor e contaminante, constituindo-
maior risco de aborto (SILVA, 2005). se em uma grave ameaça ambiental. Existem
Outros exemplos de como a poluição diversos tratamentos que podem ser adotados
afeta a saúde ambiental não faltam no mundo visando reduzir seus danos ao meio ambien-
inteiro. As substâncias presentes nos efluentes te bem como o seu reaproveitamento racional
animais estão, também, presentes nas dietas, dentro da propriedade. Um tipo de utilização
uma das funções é nutrição podendo estes ser dos dejetos de suínos que pode ser feita é o
incluídos natural ou artificialmente. Quando seu aproveitamento nos solos agrícolas, entre-
encontramos uma substância presente em tanto requer uma combinação harmoniosa dos
média ou grande concentração, isto atuará de princípios da ciência do solo, saúde pública e
diferentes formas. As ações relacionadas a hidrologia (LOVATTO, 2012).
concentração irão depender do tempo de ex-
3.6. Impacto ambiental que pode ser extraídas do leite durante o processo de fabri-
16 provocado pela indústria de lati- cação do queijo e contêm alto teor de amino-
cínios ácidos essenciais, especialmente os de cadeia
ramificada (PELEGRINE et al., 2008).
De forma geral, as pequenas e médias Rohlfes et al. (2011) descrevem que,
empresas têm enfrentado diversos problemas além das propriedades nutricionais, as pro-
que afetam a sua sobrevivência como: crédito teínas do soro do leite são conhecidas pela
difícil, juros elevados e competição predató- versatilidade de suas propriedades funcionais
ria interna e externa. Diante desse cenário, é tecnológicas sua elevada solubilidade e capa-
natural que os pequenos empresários sintam- cidade de geleificação e podem ser utilizadas
-se distantes das questões ambientais, encon- como ingredientes em produtos alimentícios,
trando-se, ainda, em fase de sensibilização. tais como ricota, bebidas lácteas, whey pro-
Contudo, o interesse crescente pela preserva- tein, dentre outros.
ção do meio ambiente leva a um movimento Para as pequenas e médias indústrias de
progressivo de conscientização da população laticínios, as alternativas economicamente vi-
no sentido de, cada vez mais, se consumir áveis de aproveitamento do soro ficam muito
produtos e serviços que gerem menor impacto limitadas, se as indústrias forem consideradas
ambiental, exigindo uma adequação por par- isoladamente. Contudo, a busca conjunta de
te das empresas. Sem esquecer que os prin- ações que facilitem o escoamento da produ-
cipais impactos ambientais das indústrias de ção, a adoção de programas para melhoria da
laticínios estão relacionados ao lançamento qualidade nas indústrias, a implantação de uni-
dos efluentes líquidos, à geração de resíduos dades estrategicamente localizadas para a pré-
sólidos e emissões atmosféricas, geralmente -concentração e o encaminhamento para uma
sem nenhum tipo de controle ou tratamento unidade de processamento, podem representar
(MACHADO et al., 2001). a solução definitiva para o problema de apro-
Os efluentes líquidos das indústrias de lati- veitamento do soro (MACHADO et al., 2001).
cínios abrangem os efluentes industriais (águas
de lavagem de equipamentos e piso), os esgotos 3.8. Impacto ambiental que pode ser
sanitários gerados e as águas pluviais captadas provocado pelas embalagens de
na indústria. Os resíduos sólidos gerados nas alimentos
pequenas e médias indústrias de laticínios in-
cluem embalagens e bombonas plásticas, em- O desenvolvimento socioeconômico e a
balagens de papelão, lixo doméstico, cinzas de evolução dos hábitos e modos de vida geram
caldeiras, aparas de queijo e, em menor quanti- um consumo excessivo que conduz a destrui-
dade, metais e vidros. As emissões atmosféri- ção de recursos e à geração de grandes quanti-
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cas na indústria de laticínios são provenientes dades de resíduos, principalmente de embala-


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da queima dos combustíveis nas caldeiras, ge- gens (SANTANA, 2009).


ralmente a óleo ou à lenha, cujo vapor é usado Segundo Zanin e Mancini (2004), no
para a limpeza e desinfecção de pisos e equi- Brasil, a reutilização não é incentivada, há um
pamentos e em etapas do processo produtivo, precário sistema de devolução de resíduos peri-
como a pasteurização do leite e a fabricação de gosos e a reciclagem ainda depende de esforços
queijos (NOGUEIRA et al., 2011). para se consolidar como atividade econômica”.
A fabricação de plásticos exige uma boa
3.7. Soluções para minimizar o impac- quantidade de água, produzindo resíduos e a
to ambiental causado pela indús- emissão de gases estufa. Envolve ainda a uti-
tria de laticínios lização de substâncias químicas perigosas, es-
pecialmente com o PVC (poli cloreto de vini-
O soro do leite de vaca é um líquido que la), o segundo tipo de plástico mais comum no
contém de 4 a 6 g de proteínas por litro. As mundo, gerando, além disso, substâncias tóxi-
proteínas, um dos ingredientes mais importan- cas durante a fabricação. Enterrando resíduos
tes das bebidas e fórmulas nutricionais, pos- plásticos nos aterros ou queimando em incine-
suem alto valor nutricional. Estas podem ser
radores cria ainda mais danos para a saúde e o o intuito de procurar alternativas para tornar
ambiente (SANTANA, 2009). as embalagens renováveis e biodegradáveis. 17
No Brasil são produzidos cerca de 3 mi- Dentre os biopolímeros mais promissores para
lhões de toneladas de plástico. Atualmente, este fim estão os amidos de diversas fontes
10% do lixo brasileiro são compostos por sa- botânicas, que são biodegradáveis, têm custo
colas plásticas e cada brasileiro utiliza 19 qui- baixo e estão disponíveis em todo o mundo.
los de sacolas por ano. Para se dimensionar a Sousa (2008) realizou um trabalho no
gravidade da situação ora vivenciada no país, qual utilizou um biopolímero extraído de uma
o estado do Rio de Janeiro consome um bilhão alga do gênero Gracilaria, para a produção de
de sacos plásticos por ano e gasta R$ 15 mi- um biofilme que posteriormente seria utiliza-
lhões todo ano para dragar rios e tentar retirar do em embalagens biodegradáveis. Os resulta-
os plásticos que provocam danos à natureza dos demonstraram que os filmes obtidos foram
(OLIVEIRA et al, 2012). transparentes e homogêneos, apresentando ca-
racterísticas idênticas aos filmes comerciais.
3.9. Soluções para minimizar o impac- Segundo Coelho (2009) a reciclagem
to ambiental causado pelas emba- pressupõe a reutilização, o reuso, a volta ao
lagens que era antes. Certamente é um dos pressupos-
tos do conceito do desenvolvimento sustentá-
Conforme mostrado através da legislação vel, que por sua vez, está hoje embasado nas
de resíduos plásticos de diferentes países, os dimensões econômicas, sociais, ecológicas e
resíduos de embalagens aparecem como um culturais do progresso humano. Também gera
aspecto preponderante para a determinação benefícios diretos na economia local já que
do grau de impacto dos resíduos no ambiente. ela, além de gerar empregos, ainda corrobora
Alternativas para a redução do impacto ambien- para a injeção de recursos na economia local.
tal de embalagens contendo resíduos poluentes A reciclagem pode contribuir para a diminui-
têm sido incentivadas no intuito de minimizar a ção da poluição da água, para o aumento dos
degradação ambiental (XAVIER et al., 2005). índices de economia de energia elétrica e ain-
Segundo dados da Folha de Londrina da estimula uma série de outros negócios já
(2005), dentre os materiais utilizados, o papel que as empresas recicladoras também deman-
precisa de aproximadamente um mês para sua dam produtos e serviços de apoio.
decomposição, o alumínio de 200 a 500 anos,
as latas em torno de 100 anos, o vidro demo-
ra cinco mil anos e os plásticos 450 anos. A 4. Considerações Finais
contribuição da sociedade para com o meio
ambiente pode ser a utilização e o descarte de Foi possível constatar neste trabalho que
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forma consciente, quando possível, o reuso ou as indústrias de alimentos podem ser respon-
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reciclagem desses materiais. sáveis por uma boa parcela da contaminação


No Brasil, do total de plásticos rígidos e poluição ambiental no planeta, entretanto é
e filmes flexíveis produzidos, 16,5% são re- crescente o investimento no sentido de se criar
ciclados, o que equivale a 200 mil toneladas alternativas para diminuir este impacto.
por ano. A maior limitação para a reciclagem Não apenas os empresários do setor ali-
é a diversidade das resinas empregadas, o que mentício, mas também toda a população e o
cria dificuldades para a separação e reaprovei- governo precisam de uma maior conscientiza-
tamento das mesmas (ABIEF, 2012). ção e integração no sentido de se desenvolver
Segundo Mali, Grossmann e Yamashita medidas e ações que ajudem a preservar o pla-
(2010) várias pesquisas tem sido feitas com neta de uma forma sustentável e responsável.
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Edição Especial do Curso de Nutrição - maio/2013

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Endereço para Correspondência:


Marcelo Augusto Mendes da Silva
marcelomendesnutricao@hotmail�com
Avenida Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,
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