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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA


CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

JOSÉ RAMON VASCONCELOS CAVALCANTE

ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA PRAIA DO IGUAPE-AQUIRAZ/CE

FORTALEZA - CEARÁ
2017
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JOSÉ RAMON VASCONCELOS CAVALCANTE

ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA PRAIA DO IGUAPE-AQUIRAZ/ CE

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso


de Graduação em Geografia modalidade Bacharelado
da Universidade Estadual do Ceará – UECE, para
obtenção do grau de Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Silva Pessoa

FORTALEZA - CEARÁ
2017
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AGRADECIMENTOS

A Deus, por todas as benções e por sua proteção diária.

A minha família, minha mãe Valéria, meu pai Radier, meus irmãos Rafael, Rodrigo,
Amanda e Lívia por todo apoio, seja psicológico ou financeiro, que ajudaram a me
manter sempre focado na conclusão deste curso.

A Camila, o amor da minha vida, por sempre estar ao meu lado em todos os
momentos e sempre incentivando a atingir meus objetivos, por mais impossíveis que
eles pareçam.

Aos meus amigos, Tião e Oricélio por todo companheirismo nos momentos de lazer
e estudo. Este trabalho não seria possível sem vocês.

Aos meus amigos Caio, Emmanuel e Bruno, por serem os fieis membros dos grupos
de trabalho e seminários que ajudaram a manter a notas sempre altas.

Aos meus colegas de turma, pelos agradáveis momentos em sala e em campo, cada
vitória individual de cada um sempre foi um incentivo a ir além.

Ao professor Dr. Paulo Roberto Silva Pessoa, que me recebeu de braços abertos no
Laboratório de Geologia e Geomorfologia Costeira e Oceânica – LGCO nos tempos
de voluntário e aceitou ser o orientador desse trabalho.

Ao professor Dr. Jáder Onofre de Morais, por me confiar às bolsas de iniciação


científica que possibilitaram dedicar-me cada vez mais aos meus estudos.

Ao professor Dr. João Silvio Dantas de Morais, por aceitar participar da avaliação
desse trabalho.

Aos amigos do Laboratório de Geologia e Geomorfologia Costeira e Oceânica –


LGCO, pelos momentos de brincadeira e por sempre estarem a postos para retirar
qualquer dúvida.

Aos amigos da Secretaria Municipal das Finanças de Fortaleza, Henrique, Ana Carla
e Hélcio, por serem os melhores chefes/lideres que um estagiário pode ter e seguir,
Helder, Victor e Marília, pela paciência ao repassar seus conhecimentos e Wesley,
Neto, Mykael, Denise, Leninha, Érika, Abel, Aldayr, Jéssica, Thiago, Luís, Regina e
Josélia, pelo companheirismo nas dificuldades dos processos de cada dia.

Aos amigos da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará – COGERH,


Alisson e Rafael pela atenção e interesse de me ensinar suas atividades mesmo não
sendo de sua obrigação. Ao Dr. Disney, pela confiança em me alocar no seu setor e
a Marcos, Luciana, Miguel, Francimeire e Debora pela excelente receptividade em
seus ambientes e trabalho.
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RESUMO

O objetivo deste trabalho é realizar a síntese da relação sociedade-natureza na


localidade da Praia do Iguape, localizada no distrito de Jacaúna, na cidade de
Aquiraz-Ce. A localidade passou por variadas transformações desde sua fundação,
onde uma simples vila de pescadores passou a ser uma localidade de grande
atrativo turístico. A chegada de famílias vindas de Fortaleza promoveu, cada vez
mais, o aumento de visitantes, registrando-se, assim, a valorização da faixa
litorânea, dando inicio a disputa econômica pelos terrenos mais próximos à praia e
as áreas adjacentes. A paisagem começou a modificar-se e perder as suas
características de vila. Pouco a pouco, as casas dos pescadores deram lugar às
construções de casas de veraneio, residências e barracas à beira mar, as áreas de
praias e pós-praia ficaram cada vez mais disputadas. Atividades econômicas são
marcadas pela pesca, artesanato, agricultura, extrativismo vegetal e mineral,
comércio e o turismo, estas mesmas atividades influenciam nas alterações
ambientais. São vários os impactos observados nas áreas ocupadas. A área possui
elevado potencial paisagístico e um cenário repleto de atrativos naturais, mas é de
fundamental importância, num curto prazo, a adoção de políticas de educação
ambiental. A pesquisa foi dividida nas seguintes etapas: levantamento bibliográfico,
trabalhos de campo e trabalhos de gabinete. A primeira etapa, consistiu na
realização de levantamentos bibliográficos. Durante a segunda etapa foram
realizadas visitas de campo e, por fim, na terceira etapa foi possível correlacionar as
observações feitas em campo com as informações do levantamento bibliográfico. Os
estudos sobre a evolução urbana no Iguape atestaram um crescente processo de
desenvolvimento da área, principalmente devido às atividades turísticas. Os
principais problemas existentes na faixa costeira se devem de dois fatores principais:
deficiências de alimentação sedimentar e ocupação de zonas que deveriam ser de
preservação permanente. O turismo usa espaços, cria e recria territórios e, em um
curto prazo, observam-se apenas as transformações positivas, como incremento na
geração de renda da comunidade local e dos empreendedores. Mas em longo prazo,
a localidade torna-se ambientalmente degradada, pois não estava preparada para
receber um grande contingente de pessoas em um curto intervalo de tempo.
Ademais, observa-se a mudança do modo de vida da comunidade local, que tem
suas atividades econômicas e modo de vida transformado.

Palavras-chave: Análise socioambiental. Zona costeira. Impactos socioambientais.


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ABSTRACT

The objective of the following work is to summarize the relationship between society
and nature in the locality of the beach of Iguape, located in the district of Jacaúna,
city of Aquiraz-Ce. The locality has undergone varied transformations since its
foundation, where from a simple village of fishermen happened to be a locality of
great tourist attraction. The arrival of families from Fortaleza promoted, more and
more, the increase of visitors, thus registering, the appreciation of the beach strips,
and began in these localities real estate speculation. The landscape began to change
and lose its characteristics of village. Little by little, the houses of the fishermen gave
way to the construction of summer houses, residences and tents by the sea, the
beach and post-beach areas were increasingly disputed. Economic activities are
marked by fishing, handicrafts, agriculture, vegetable and mineral extraction, trade
and tourism. These activities influence environmental changes. There are several
impacts observed in the occupied areas. The area has high landscape potential, a
scenario full of natural attractions, but it is of fundamental importance in the short
term to adopt environmental education policies. The research was divided into the
following steps: bibliographical survey, fieldwork and cabinet work. In the first stage,
bibliographical surveys were carried out. In the second stage, field visits were carried
out and in the third stage it was possible to correlate the observations made in the
field with the bibliographic survey information. The studies on the urban evolution in
the Iguape attest a growing process of development of the area, mainly due to the
tourist activities. The main problems in the coastal zone are due to two main factors:
deficiencies of sedimentary feeding and occupation of areas that should be of
permanent preservation. Tourism uses spaces, creates and recreates territories. In
the short term, only positive transformations are observed, such as increasing the
income of the local community and entrepreneurs, but in the long run, the locality
becomes environmentally degraded, since it does not Was prepared to receive a
large contingent of people in a short time, we observe the change in the way of life of
the local community, which has its economic activities and transformed way of life.

Keywords: Socio-environmental analysis. Coastal area. Social and


environmental impacts
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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Mapa de localização da área de estudo.................................................14

Figura 02 – Classificação dos ambientes segundo as categorias tempo-espaciais.16

Figura 03 – Elementos que compõe as relações ambientais.....................................17

Figura 04 – Mapa de Unidades da Paisagem da localidade do Iguape....................28

Figura 05 – Vista panorâmica da Praia do Iguape.....................................................29

Figura 06 – Ocupação no entorno do lagamar do Iguape.........................................30

Figura 07 – Classificação de Köppen para a área de estudo....................................31

Figura 08 – Atuação da ZCIT no Estado do Ceará....................................................31

Figura 09 – Localização da praia do Iguape na linha de costa de Aquiraz..............32

Figura 10 – Ocupação da Praia do Iguape no ano de 1958......................................33

Figura 11 – Localização das paisagens na Praia do Iguape.....................................34

Figura 12 – Atividades de lazer na faixa de praia......................................................36

Figura 13 – Atividade de pesca artesanal..................................................................36

Figura 14 – Atividade de pesca para lazer.................................................................36

Figura 15 - Lixo despejado diretamente no solo........................................................37

Figura 16 – Mapa de uso do solo no ano de 1958.....................................................39

Figura 17 – Mapa de uso do solo no ano de 2007.....................................................40

Figura 18 – Mapa de uso do solo no ano de 2016.....................................................41

Figura 19 - Gráfico de evolução dos tipos de uso entre os anos 1958, 2007 e
2016............................................................................................................................42

Figura 20 – Área de praia erodida entre 1958 e 2016...............................................43

Figura 21 – Exemplos de assentamentos..................................................................45

Figura 22 – Mapa com tipos de uso por assentamentos...........................................46

Figura 23 – Uso de veículos automotores em faixa de praia.....................................46


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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Evolução dos tipos de uso entre os anos 1958, 2007 e 2016................43
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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Principais trabalhos com temática relacionada a essa pesquisa.........24

Quadro 02 – Unidades geoambientais da área de estudo.........................................31


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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

FUNCEME Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

OMT Organização Mundial do Turismo

RMF Região Metropolitana de Fortaleza

SAIG Sistema Aberto de Informação Geográfica

SIG Sistema de Informação Geográfica

ZCIT Zona de Convergência Intertropical


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 12
2. OBJETIVOS ................................................................................................................................ 15
2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................................. 15
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................. 15
3. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................................... 15
3.1 O ESTUDO DA PAISAGEM ................................................................................................... 15
3.2 O AMBIENTE COSTEIRO ................................................................................................ 18
3.3 OCUPAÇÃO DO AMBIENTE COSTEIRO ..................................................................... 20
3.4 A ATIVIDADE TURÍSTICA ................................................................................................ 21
3.5 SUSTENTABILIDADE ....................................................................................................... 22
3.6 GEOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL................................................................................... 23
4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................................ 23
5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ..................................................................... 25
5.1 ASPECTOS GEOAMBIENTAIS ............................................................................................ 25
5.1.1 ASPECTOS GEOLÓGICO, GEOMORFOLÓGICOS E PEDOLÓGICOS ............... 27
5.1.1.1 PLANÍCIE LITORÂNEA................................................................................................ 27
5.1.1.2 CAMPO DE DUNAS ..................................................................................................... 28
5.1.1.3 FAIXE DE PRAIA .......................................................................................................... 28
5.1.1.4 NEOSSOLOS QUATZARÊNICOS ............................................................................. 29
5.1.1.5 GLEISSOLOS ................................................................................................................ 29
5.1.2 ASPECTOS CLIMÁTICOS.............................................................................................. 30
5.2 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOECONÔMICOS .................................................. 32
6. USO DO SOLO........................................................................................................................... 38
7. RECOMENDAÇÕES ................................................................................................................. 45
8. CONCLUSÕES........................................................................................................................... 47
8.1 EVOLUÇÃO URBANA ...................................................................................................... 47
8.2 PROBLEMAS AMBIENTAIS ............................................................................................. 47
8.3 SANEAMENTO E INFRAESTRUTURA.......................................................................... 49
8.4 TURISMO COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO DA LOCALIDADE ................ 49
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 50
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1. INTRODUÇÃO

Ao longo da história, as áreas litorâneas são preferencialmente foco da


ocupação humana. No Brasil, os primeiros centros de povoamento se deram nessas
regiões. No estado do Ceará, no final do século XX, inicia-se um processo de
valorização expressiva do seu litoral pelas atividades turísticas e de veraneio, que se
prolongam da capital para as praias dos municípios da região metropolitana.

A ocupação atual dos espaços litorâneos e seu uso para fins econômicos vêm
gerando impactos e alterações com degradação da paisagem e dos ecossistemas,
podendo chegar à própria impossibilidade das atividades econômicas diante do
quadro de expansão desordenada. (SILVA, 1998). Esses impactos induzidos pela
influência humana podem trazer sérios problemas, sendo muitas vezes superior a
capacidade de suporte dos sistemas naturais, exercendo pressões no ambiente ou
gerando impactos adversos.

É fato que a colonização do Brasil se apresentou de forma mais intensa nas


áreas próximas ao litoral através das navegações que aqui chegaram, dando origem
a uma pressão sobre os ambientes costeiros e influenciando nas características
socioculturais, econômicas e ambientais, gerando o que hoje conhecemos pelas
grandes cidades litorâneas, este crescimento populacional foi seguido de um
processo de urbanização nos espaços costeiros que se deu de forma desordenada
(MUEHE, 2001).

Historicamente, as primeiras formas de ocupação humana não provocaram


grandes alterações no meio ambiente, em virtude do limitado poder de
transformação das comunidades litorâneas. A situação foi se modificando com o
decorrer dos anos e expondo as fragilidades do sistema litorâneo diante destas
novas formas de uso e ocupação.

Segundo James (2000), os ambientes praiais são considerados interações


entre três sistemas diferentes: o sistema natural, o de manejo ambiental e o sistema
sócio-cultural. O sistema natural consiste na interação entre os processos físicos e
ecológicos. O sistema de manejo ambiental é tipicamente institucional e abrangem
agências governamentais, organizações não governamentais, estatutos e
programas, incluindo o gerenciamento costeiro e de recursos naturais, controle de
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poluição, planejamento ambiental, entre outros, que estão interligados em sua


gestão. O terceiro, o sistema sócio cultural, compreende as diversas manifestações
humanas em ambientes praiais.

Com o processo de inserção e expansão das atividades turísticas e de


veraneio associada ao crescimento populacional, sérios impactos socioambientais
vêm ocorrendo na comunidade, tendo em vista que esse processo se apropriará de
importantes unidades ambientais para o seu desenvolvimento, descaracterizando
paisagens e influenciando no modo de vida da população local.

A localidade do Iguape, área foco do presente estudo, está situada no


município de Aquiraz, na porção Nordeste do estado do Ceará, pertencendo a RMF.
Iguape encontra-se especificamente no litoral Leste do referido município, localiza-
se no distrito de Jacaúna, entre as praias do Barro Preto e a Praia do Presídio.

A localidade está se transformando rapidamente nas últimas décadas, pois o


uso e ocupação das terras, realizados de maneira desordenada com seus múltiplos
fatores de ordem social, ambiental e gerencial, estão acarretando problemas
ambientais, que são agravados pela fragilidade ambiental encontrada na área de
estudo. Torna-se necessário, portanto, dotar a sociedade de instrumentos eficientes
para um uso do solo racional, de maneira a reduzir impactos de toda ordem.

A região, ocupada inicialmente apenas pela comunidade de pescadores,


caracteriza-se por apresentar uma paisagem diversificada, contendo as seguintes
unidades geoambientais: faixa praial, campos de dunas móveis e fixas, corpo hídrico
(planície Fúlvio-marinha) e manguezal, que exercem, em conjunto, importante
dinâmica para o equilíbrio natural.
Figura 1: Mapa de Localização da Área de Estudo
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2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Demonstrar a evolução da ocupação e a dinâmica das unidades


geoambientais da praia do Iguape a partir das alterações nas formas de uso do
espaço, assim, identificando os impactos socioambientais decorrentes e as suas
consequências sobre o equilíbrio dinâmico da paisagem.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Identificar as formas de uso e sua relação com as atividades na área.

 Identificar e mapear os impactos socioambientais provenientes da ocupação


irregular do espaço da localidade.

 Propor alternativas para melhorar as condições socioambientais da


comunidade.

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1 O ESTUDO DA PAISAGEM

Para a execução do estudo do meio ambiente, referindo-se à sua dinâmica


natural e a dinâmica social presente na zona costeira, se faz necessário como
principio básico alguns conceitos de paisagem que conduziram na compreensão das
transformações do litoral leste de Aquiraz. Como se trata de um meio não estático,
em que vários atores ou fatores se interagem formando um sistema maior, a
abordagem geossistêmica foi à melhor ferramenta na atualidade quando se trata das
problemáticas ambientais, destacando que o mesmo envolve também os aspectos
sociais, culturais e econômicos, ou seja, trabalha de uma forma integrada.

O conceito de paisagem utilizado pela Geografia Tradicional entrou em


desuso pela dificuldade de ser interpretada, por questões metodológicas. Hoje, a
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discordância entre a Geografia Tradicional e a Moderna está no fato de que a


paisagem é vista hoje com uma interação de elementos geográficos organizados
numa combinação de fatores físicos e humanos, portanto, dinâmicos.

Autores franceses, perante influencia de Paul Vidal de La Blache e Jean


Rochefort, caracterizaram a paisagem com o relacionamento do homem como seu
espaço físico e Bertrand (1971), enfatizou que “a paisagem é a síntese global dos
elementos bióticos, abióticos e antrópicos constituintes, refletidos na sua fisionomia”.

A maior contribuição do geógrafo francês para a proposição desta


metodologia é a elaboração de um sistema taxonômico que permite classificar as
paisagens na dupla perspectiva do espaço e do tempo.

Figura 2: Classificação dos ambientes segundo as categorias tempo-espaciais.

Fonte: Bertand (1972).

Ainda segundo o mesmo autor, o geossistema está bem definido na escala


têmporo-espacial, nesta escala as combinações dialéticas evoluem de forma mais
interessantes para o geógrafo, compatível com a escala humana. O homem, o
potencial ecológico (fatores abióticos: geomorfologia, clima, hidrologia) e a
exploração biológica (fatores bióticos: vegetação, solo, fauna) produzem a síntese
desta dialética da paisagem.
17

Figura 3: Elementos que compõe as relações ambientais

Fonte: Bertand (1972).

Christofolleti (1999) assinala que, na escola francesa, na virada do século XX,


La Blache considerou como elementos indispensáveis, no arranjo e desenvolvimento
dos estudos geográficos, as características significativas dos Países e regiões, os
componentes da natureza e os originários das atividades humanas.

De acordo com esse raciocínio, Sauer (1998), citado por Guerra & Marçal
(2006), define que a paisagem como sendo “uma área composta por associação
distinta de formas, ao mesmo tempo físicas e culturais”, assim “sua estrutura e
função são determinadas por formas integrantes e dependentes”. Levando para a
esfera da Geografia Física, já é compreensível uma mudança ao se focar na
problemática da paisagem, pois sua complexidade torna impensável qualquer
análise geográfica sob a forma de pensar de uma única abordagem. Assim, a
paisagem, seja física ou cultural, segundo Schier (2003) “exige uma filtragem mais
ampla que, algumas vezes, foge até mesmo das questões geográficas mais
clássicas, necessitando uma filtragem científica, cultural, filosófica, política, entre
outras, mostrando um caráter multidisciplinar no seu estudo”.

Na concepção de Casseti (1990; 1999; 2001), o conceito de paisagem, como


fator de inclusão de parâmetros físicos, bióticos e sócio-econômicos, tem sido
utilizado em estudos de impactos ambientais em diferentes empreendimentos, com
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relevantes resultados, o que leva necessariamente ao reconhecimento da


vulnerabilidade e potencialidade da natureza, segundo os diferentes táxons. Busca-
se, portanto, a compreensão integrada dos elementos da análise. O conceito de
“vulnerabilidade” volta-se aos fatores de natureza física e biótica, considerando a
suscetibilidade dos referidos critérios em função do uso e ocupação.

Para o estudo da paisagem, especificamente na zona costeira, torna-se


necessário o entendimento de que a este ambiente é atribuído uma dinâmica, ou
seja, uma constante evolução, de geoelementos que o constrói e destrói nas
diversas escalas de tempo e espaço. Conjuntamente a esse fenômeno, tem-se a
presença do homem, o principal fator na ruptura deste processo provocando
diversas formas de degradação.

3.2 O AMBIENTE COSTEIRO

De acordo com SANTOS & CÂMARA (2002) a grande diversidade de


ecossistemas presentes na Zona Costeira: falésias, campos de dunas e mangues, e
estuários, corais e recifes, praias, cordões arenosos, costões rochosos e planícies
de marés, conferem a ela diferentes situações que são favoráveis às atividades
econômicas, como por exemplo, a pesca, a agricultura, a aquicultura, a exploração
de recursos minerais e o turismo. Desta forma, nota-se que os ambientes naturais
existentes na zona costeira encontram-se profundamente alterados em todo o País.

Seguindo esse raciocínio, MORAES (2007) afirma que devido ao processo de


ocupação do território brasileiro ter se originado do litoral para o interior gerou um
processo pontual de ocupação no nosso litoral, havendo áreas de elevado
adensamento populacional ao mesmo tempo em que existem áreas de povoamento
disperso ao longo de toda a costa, isto implica dizer “que cerca de 50% da
população brasileira reside na zona costeira, onde a densidade demográfica se
aproxima de 87 hab/km², superior à média nacional que é de 17 hab/km², e cuja
forma de vida impacta de forma direta os ambientes litorâneos“.

Assim, passou-se a se desenvolver nos conturbados meios urbanos uma


série de negligências com o meio ambiente, havendo uma carência de serviços
urbanos básicos, configurando-se assim em áreas críticas que passaram a serem
alvos do planejamento ambiental da zona costeira no Brasil (MORAES, 2007). O
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mesmo autor ainda dispõe sobre a relação entre essas áreas de considerável
adensamento populacional convivendo com áreas de povoamento disperso,
segundo o mesmo, estas áreas de povoamento disperso são povoadas pelas
comunidades de pescadores artesanais, tribos indígenas e outros gêneros
considerados tradicionais (MORAES, 2007).

No que concerne às diferentes possibilidades estratégicas de gestão


ambiental, SOUZA (2003) define a zona costeira com um espaço repleto de
contrastes, ao longo do mesmo, podem ser encontradas áreas onde há um intenso
fluxo urbanístico, atividades industriais e atividades portuárias, ao mesmo tempo em
que se desenvolve uma exploração turística em larga escala.

De acordo com CAMPOS et al. (2003), a definição espacial da zona costeira,


conhecida como a estreita faixa de transição entre o continente, o oceano e a
atmosfera compreendesse então a relação com a definição do ponto de vista da
gestão, desta forma, ela passa a ser palco de grandes conflitos de uso, é nela onde
se podem verificar os maiores impactos ambientais devido à grande concentração
populacional em detrimento dos crescentes interesses econômicos.

Assim é possível constatar um interessante aspecto associado aos tipos de


usos desses espaços e dos recursos ambientais aferidos pela Zona Costeira,
encontram-se nesses locais os mais variados problemas no tocante a gestão
ambiental, demandando ações de caráter corretivo por parte dos órgãos públicos
interferindo nos “múltiplos conflitos de uso” dos espaços costeiros (SOUZA, 2003).

Por outro lado, segundo VOIVODIC (2007) os espaços litorâneos apresentam


intercalações de áreas de baixa densidade populacional, que aliada a ocorrências de
sistemas ambientais de certo significado ambiental e beleza cênica, vem sendo alvo
de um acelerado processo de ocupação ocasionado pela crescente dinâmica
econômica, principalmente ligada ao turismo e o fenômeno da segunda residência.

Este fenômeno tão crescente no litoral cearense é tratado por


MONTENEGRO JR. (2004), fazendo uma análise dos modos de ocupação ao longo
da zona costeira do Estado que estão principalmente ligadas às novas práticas
litorâneas, que se mantém na explosão imobiliária, entra nesse âmbito a
20

mercantilização da zona costeira através de residências de veraneio e grandes


equipamentos de lazer e turismo em massa.

Segundo MOURA (2009) o processo de valorização do litoral teve inicio nas


proximidades de Fortaleza, e passou a se expandir para as comunidades litorâneas
circunjacentes à capital e logo passaram a se expandir em direção aos munícipios
mais distantes. As formas de uso e ocupação, assim como a valorização da zona
costeira vêm sendo amplamente discutido na literatura.

3.3 OCUPAÇÃO DO AMBIENTE COSTEIRO

No Ceará, a atividade turística tornou-se elemento determinante no


desenvolvimento socioeconômico do Estado (CORIOLANO 2003, 2005 e 2006). A
autora, atenta para os limites do desenvolvimento e do turismo, sobretudo para a
questão do desenvolvimento desigual ou concentrado que vem ocorrendo em
algumas cidades cearenses, como produto dessa atividade.

No Estado do Paraná, Deschamps e Kleinke (2000), observaram que o


mercado da construção civil, as facilidades de implantação de moradia e a
proximidade da Região Metropolitana de Curitiba, foram fatores que estenderam ao
litoral parte dos deslocamentos de destino metropolitano, como consequências,
geraram outros deslocamentos oriundos do interior constituídos por trabalhadores e
suas famílias, estes em geral são pobres e com idade produtiva, uma pequena
porcentagem dessas pessoas supre a demanda de mão-de-obra do setor terciário,
que presta serviços ao setor turístico.

Por um lado, o desenvolvimento do litoral é necessário para a economia de


cidades à beira-mar, em contrapartida, esse processo pode ser preocupante quando
realizado de forma irregular e carente em estudos que compatibilizem a evolução da
dinâmica natural do ambiente com a dinâmica produzida pelas relações sócio-
espaciais. Em seu estudo realizado na Espanha, Breton et al. (1996), verificou que
em muitas praias metropolitanas, uma grande soma de capital é desperdiçada na
tomada de ações na zona costeira sem conhecimento prévio do local, em geral,
essas ações têm caráter empírico embasado em tentativas ou erros. Nesse
contexto, conhecer quem é o usuário da praia, quais suas necessidades, suas
opiniões sobre a praia, o que essas pessoas fazem na praia, qual sua percepção
21

sobre a praia, o que eles acham sobre políticas já implementadas, ou qual praia eles
gostariam de ter, tornou-se mais importante do que apenas estimar o número de
frequentadores da praia e saber os serviços e o que os atrai. Nesse sentido, essa
compreensão é útil para subsidiar a implementação e os serviços de
empreendimentos de grande porte que venham a ser ou já tenham sido implantados
no local.

3.4 A ATIVIDADE TURÍSTICA

De acordo com a Organização Mundial de Turismo (OMT, 2001), “Turismo é


uma modalidade de deslocamento espacial, que envolve a utilização de algum meio
de transporte e ao menos um pernoite no destino; este deslocamento deve ser
motivado pelas mais diversas razões, como lazer, congressos, negócios, saúde
etc.”.

Para Lima (2006), o turismo é o estudo do homem longe de seu local de


residência, da indústria que satisfaz suas necessidades e dos impactos que ambos
geram nos ambientes físico, econômico e sociocultural da área receptora.

Para que o turista sinta-se bem é preciso uma série de fatores, tais como os
serviços turísticos que são imprescindíveis para a caracterização de um atrativo
turístico e que são decisivos no momento da escolha do local visitado por parte do
turista. Para isso as localidades que desejam ter maior visibilidade turística devem
investir nestes serviços.

No que tange a sustentabilidade tem sido discutida por diversos setores e em


vários níveis da sociedade. Dentre os conceitos mais aceitos sobre
desenvolvimento sustentável podemos destacar Cunha (2006) onde afirma que:

O desenvolvimento sustentável pode ser definido como um processo


contínuo de melhoria das condições de vida, enquanto minimize o uso dos
recursos naturais, causando um mínimo de distúrbios ou desequilíbrios ao
ecossistema [...] além do mais, deverá ser capaz de satisfazer as
necessidades atuais das pessoas sem deteriorar as perspectivas das
gerações futuras.

A discussão sobre desenvolvimento sustentável é bastante relevante para a


pesquisa, pois, apesar do turismo ser uma atividade que pode gerar trabalho e renda
22

para a comunidade local, ele pode causar sérios danos ao meio ambiente e a
população nativa. Desta forma, faz-se necessário observarmos o conceito de
turismo Sustentável.

3.5 SUSTENTABILIDADE

O conceito atual de desenvolvimento sustentável, que foi expresso na Cúpula


Mundial em 2002, envolve a definição mais concreta do objetivo e desenvolvimento
atual (a melhoria da qualidade de vida de todos os habitantes) e ao mesmo tempo
distingue o fator que limita tal desenvolvimento e pode prejudicar as gerações
futuras (o uso de recursos naturais além da capacidade da Terra). O
desenvolvimento sustentável procura a melhoria da qualidade de vida de todos os
habitantes do mundo sem aumentar o uso de recursos naturais além da capacidade
da Terra. Enquanto o desenvolvimento sustentável pode requerer ações distintas em
cada região do mundo, os esforços para construir um modo de vida verdadeiramente
sustentável requerem a integração de ações em três áreas-chave.

• Crescimento e Equidade Econômica – Os sistemas econômicos globais, hoje


interligados, demandam uma abordagem integrada para promover um crescimento
responsável de longa duração, ao mesmo tempo em que assegurem que nenhuma
nação ou comunidade seja deixada para trás.

• Conservação de Recursos Naturais e do Meio Ambiente – Para conservar nossa


herança ambiental e recursos naturais para as gerações futuras, soluções
economicamente viáveis devem ser desenvolvidas com o objetivo de reduzir o
consumo de recursos, deter a poluição e conservar os habitats naturais.

• Desenvolvimento Social – Em todo o mundo, pessoas precisam de emprego,


alimento, educação, energia, serviço de saúde, água e saneamento. Enquanto
discutem-se tais necessidades, a comunidade mundial deve também assegurar que
a rica matriz de diversidade cultural e social e os direitos trabalhistas sejam
respeitados, e que todos os membros da sociedade estejam capacitados a participar
na determinação de seus futuros.
23

3.6 GEOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL

A ideia de uma Geografia Socioambiental é tratada em um artigo de Francisco


Mendonça (MENDONÇA, 2001), não se trata de um método e sim de uma
preocupação metodológica que leva em conta a possibilidade de utilização de vários
métodos na pesquisa geográfica.

Mendonça (2001) argumenta que a maior riqueza do conhecimento geográfico


está em sua dualidade, sendo a geografia “um dos últimos lócus do naturalismo nas
ciências humanas e também do humanismo nas ciências naturais” (MENDONÇA,
op. cit: 115), assim o conhecimento geográfico transcende a dualidade geografia
física versus geografia humana, havendo a possibilidade de se chegar pelo menos
próximo da integração dessas correntes em nossas pesquisas empíricas.

Na Geografia socioambiental o termo “sócio” aparece atrelado ao termo


“ambiental” para enfatizar a participação da sociedade enquanto parte fundamental
nos processos relativos à problemática ambiental na atualidade. Pois os problemas
que hoje se descortinam são muito mais complexos do que possam compreender
estudos sociais e/ou naturais dissociados uns dos outros.

Considerando que a Geografia tem uma tendência que se aproxima das Ciências
Humanas e outra que se aproxima das Geociências. É necessária uma maior
integração entre as duas, para tal obra é necessário utilizar e adaptar métodos de
pesquisas consagrados nas duas vertentes em nossos estudos empíricos. É salutar
ter uma especialidade, porém, sabendo utilizar os outros métodos da ciência
conforme o objetivo e objeto do estudo empírico, ou em outras palavras, um
“Geógrafo Físico” deve conhecer e utilizar também as técnicas da Geografia
Humana e vice-versa.

4. MATERIAIS E MÉTODOS

Para alcançar os objetivos desta monografia foi necessária à aplicação de


técnicas facilitam a obtenção de informações que possibilitem um melhor
entendimento da área em estudo, desta forma a pesquisa foi dividida nas seguintes
etapas:
24

a) Levantamento Bibliográfico.

b) Trabalhos de Campo.

c) Trabalhos de Gabinete.

A primeira etapa consistiu na realização de levantamentos bibliográficos, sendo


realizadas leituras pertinentes para o desenvolvimento da pesquisa. Para tanto,
foram feitas pesquisas em trabalhos acadêmicos, dissertações, monografias e
leituras voltadas às formas de uso e ocupação em zonas costeiras além de suas
potencialidades e vulnerabilidades.

Quadro 1: Principais trabalhos com temática relacionada a essa pesquisa.

Autor Ano Trabalho Resumo


- Reformular as bases teórico-
metodológicas para abordagem do
Geografia
Mendonça, F. 2001 meio ambiente, inserindo o contexto
socioambiental
sociedade-natureza nos estudos
geográficos.
O turismo e as
- Compreender as transformações
transformações
geradas pelo turismo no litoral do
Carneiro, T. R. 2010 socioambientais no
Iguape, caracterizando suas
litoral do Iguape –
condições socioambientais.
Aquiraz - Ceará
Processos - Utilização de sensoriamento
costeiros e remoto como ferramenta de análise
evolução da ambiental na praia do Iguape
ocupação nas
Moura, M. R 2009
praias do litoral - Caracterização dos fatores
oeste de Aquiraz, ambientais da área de estudo
Ceará entre 1970-
2008.
Fonte: Cavalcante (2017)

Na segunda etapa foram realizadas visitas de campo que tiveram como propósito
reunir informações a respeito das condições físicas e geográficas. Nessa etapa foi
possível determinar o grau de ocupação da área, assim como as condições do
ambiente costeiro, o estado de conservação, e os impactos ambientais causados
pela ocupação. Na checagem de campo, realizou-se um reconhecimento das
diferentes formas de uso e ocupação, dos principais impactos, com as suas
25

possíveis causas e efeitos. As entrevistas informais, com moradores, auxiliaram na


compreensão de como ocorreu o início da ocupação na área e da atual estrutura
socioeconômica. O registro de fotografias convencionais possibilitou melhor
classificação das formas de uso e ocupação e permitiu a ilustração da pesquisa.

Na terceira etapa foi possível correlacionar às observações feitas em campo com


as informações do levantamento bibliográfico. Após todos os estudos foi feita a
integração dos resultados que foram obtidos durante os trabalhos de levantamento,
campo e gabinete, para a identificação dos responsáveis pelas transformações
ambientais ocorrentes na praia em estudo. A atividade de geoprocessamento foi
realizada com a utilização dos softwares SAIG Kosmo, versão 2.0.1 para realizar a
quantificação das áreas referentes a esse estudo e com software SIG Qgis, versão
2.14 Essen pra efetuar o georreferenciamento de imagens e confecção de mapas
temáticos.

5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

5.1 ASPECTOS GEOAMBIENTAIS

O estudo aqui apresentado é baseado na adaptação que Souza (2000) fez da


hierarquização dos ambientes segundo Bertrand (1972) e da análise ecodinâmica de
Tricart (1977), denominada análise geoambiental, trata-se de uma tentativa de
produzir em seus trabalhos o que se denomina síntese da paisagem. Souza (2000)
classifica os ambientes conforme seu grau de estabilidade, sustentabilidade e
vulnerabilidade, levando em consideração fatores do potencial ecológico (ou físico-
natural): geologia, geomorfolgicos, clima, hidrologia; da exploração biológica:
vegetação, solo, fauna; e ainda do histórico das formas de ocupação da área por
parte do homem.
Figura 4: Mapa de Unidades da Paisagem da Localidade do Iguape
26
27

5.1.1 ASPECTOS GEOLÓGICO, GEOMORFOLÓGICOS E PEDOLÓGICOS

5.1.1.1 PLANÍCIE LITORÂNEA

Souza (1999) define como planícies costeiras o conjunto de ecossistemas


formados pelas dunas, planícies flúviomarinhas, faixas praias, falésias, cordões
litorâneos, zonas deltáicas e plataforma continental até 10-20 metros. Suguio (1973)
considera quatro fatores responsáveis pela formação das Planícies Costeiras: o
suprimento de areias oriundas do continente; as correntes de deriva litorânea; as
armadilhas que retém sedimentos, e a variação do nível do mar.

Figura 5: Vista panorâmica da praia do Iguape.

Fonte: Cavalcante (2016)

Segundo Freire et al. (1998), a Planície Litorânea do Ceará teria se


originado pelo suprimento de areias provenientes da erosão de falésias da
Formação Barreiras, bem como pelas variações do nível relativo do mar durante o
Quaternário. Para Souza (2003) os sedimentos que formam o local são de
neoformação (Holocênicos) e possuem granulometria e origens variadas, os quais
capeiam os depósitos antigos da Formação Barreiras.
28

Geologicamente, a área encontra-se fundamentada por sedimentos areno-


argilosos com níveis conglomeráticos do Tercio-Quaternário e sedimentos arenosos
inconsolidados do Quaternário (SOUZA, 1999).

A planície litorânea, na área de estudo, é a unidade com maior expressão


espacial. Apresenta maior fragilidade ambiental e possui grande potencial para o
desenvolvimento de atividades turísticas. Essas áreas estão sujeitas aos impactos
provocados, principalmente, pela ação de tensores naturais, como a deriva litorânea
e as estações de chuva e estiagem.

5.1.1.2 CAMPO DE DUNAS

Os campos de dunas constituem depósitos de areia ao longo da praia, em forma


de cordões paralelos, representados por sedimentos de praia, dunas fixas e dunas
móveis. As dunas podem “fechar” cursos ou desembocaduras de rios, dificultando o
escoamento e propiciando o surgimento de lagoas. Litologicamente, tanto as dunas
como os sedimentos de praia são constituídos, por grãos de quartzo, com ocorrência
de feldspatos.

Figura 6: Ocupação no entorno do lagamar do Iguape

Fonte: Cavalcante (2016).

5.1.1.3 FAIXE DE PRAIA

O Geossistema da Planície Litorânea abrange a faixa praial e a pós-praia.


Esses dois ambientes são os que possuem grandes mudanças em sua morfologia
29

devido à hidrodinâmica da área. A faixa de praia do município de Aquiraz possui


aproximadamente 29 km de extensão dividida entre as praias do Batoque, Barro
Preto, Iguape, Presídio, Prainha, Japão e Porto das dunas.

Nesta zona, forma-se uma feição típica de perfil de praia, a berma que se
define como sendo um ambiente de acúmulo de sedimentos que divide a zona de
pós-praia da praia propriamente dita. Esta, na maioria das vezes, se localiza acima
de limite superior do alcance da maré mais alta, pois em períodos de ressaca as
ondas podem chegar a atingi-las.

5.1.1.4 NEOSSOLOS QUATZARÊNICOS

São solos arenosos, muito profundos e pouco evoluídos. Normalmente, são


encontradas nos ambientes de praia, pós-praia e dunas, sendo originados de
sedimentos arenoquartzosos quaternários, influenciados por deposição marinha e
transporte eólico.

Morfologicamente, são bastante homogêneos, com profundidade efetiva


maior que 200 cm. A textura está relacionada ao material de origem (quartzitos).
Trata-se de um solo excessivamente drenado. Quimicamente é distrófico e a
capacidade de retenção de água desses solos é reduzida.

Quanto ao potencial agrícola, são poucos aproveitados, pois apresentam baixa


fertilidade natural e textura muito arenosa.

5.1.1.5 GLEISSOLOS

São solos hidromórficos, os quais ocupam algumas partes da paisagem sujeitas


às inundações periódicas das marés. Estão representados pela planície
fluviomarinha e são considerados mal ou muito mal drenados. Apresentam espessa
camada escura de matéria orgânica mal decomposta sobre uma camada
acinzentada (gleizada), resultante de ambiente de oxi-redução.

Os atributos físicos indicam textura argilosa. São solos de consistência


plástica e pegajosa. Normalmente, têm estrutura maciça bem coerente. Quanto aos
atributos químicos, os gleisolos da região apresentam elevados teores de salinidade
30

e de enxofre. Por possuírem excesso de água e elevada salinidade, o uso agrícola


desses solos é considerado impróprio.

Quadro 2: Unidades geoambientais da área de estudo.

Fonte: Adaptado de Souza (1999)

)
5.1.2 ASPECTOS CLIMÁTICOS

A cidade de Aquiraz tem condições climáticas similares às da cidade de


Fortaleza. De acordo com a classificação de Köppen, estão situadas em uma zona
de transição entre os tipos climáticos As’ – quente e úmido, em função da elevada
precipitação, e BSh - semi-árido quente, em virtude da forte evaporação. Esses tipos
climáticos, com localização litorânea, recebem influências tanto das massas de ar
advindas do oceano Atlântico, como dos ventos alísios de leste e nordeste e das
brisas marítimas e continentais, além da importante influência da Zona de
Convergência Intertropical, responsável pelos períodos secos e chuvosos.

O clima do litoral cearense apresenta como característica principal uma


pluviometria tropical do tipo semiárido, com duas estações bem diferenciadas, sendo
uma com precipitações curtas e outra com estiagem prolongada.
31

Figura 7: Classificação de Köppen para a área de estudo.

Fonte: World Maps of Koppen-Gaiger Climate Classification (2017)

O litoral em foco não foge a regra, apresentando dois períodos climáticos bem
definidos e que geralmente tem a mesma duração no ano: um chuvoso entre os
meses de janeiro a junho, com máximas ocorrendo entre março e abril e outro de
estiagem entre os meses de julho a dezembro, sendo este último, muitas vezes
marcado pela ocorrência de precipitações esparsas.

Figura 8: Atuação da ZCIT no estado do Ceará.

Fonte: FUNCEME (2017)


32

A variação anual da pluviometria é controlada pelo movimento da zona de


convergência intertropical - ZCIT que são observadas nas proximidades da linha do
Equador e, que de acordo com Souza (2000), o sistema é gerado pela convergência
dos ventos alísios de NE no hemisfério norte, e de SE no hemisfério sul.
Dependendo da sua posição e tempo de permanência estes podem gerar anos com
maiores ou menores precipitações, sendo as mínimas representações das secas
que geralmente estão relacionadas com a atuação dos fenômenos do El Niño e da
La Niña.

Segundo Ayoade (1991), os fatores que identificam a quantidade de radiação


recebida em determinado local são gerados pela duração do dia, pela latitude da
Terra e pela altitude e distância do Sol. Sendo assim, por se localizar próximo a linha
do Equador, o litoral de Aquiraz possui suas máximas de insolação no período dos
equinócios e as mínimas nos solstícios.

5.2 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOECONÔMICOS

A área de pesquisa localiza-se no setor leste costeiro de Aquiraz. Esse


Município encontra-se inserido na Região Metropolitana de Fortaleza, localizado no
setor nordeste do Ceará, distante cerca de 21 km da Capital em linha reta. Limita-se
a norte com o oceano Atlântico, a sul com os Municípios de Horizonte, Cascavel e
Pindoretama, a leste com Eusébio e a oeste com o Município de Itaitinga. Em
Aquiraz, área de estudo, localiza-se no Distrito de Jacaúna, entre as praias de
Presídio e do Barro preto. A delimitação leste-oeste dá área foi feita conforme os
limites das praias vizinhas, e os limites norte-sul respeitando a área urbanizada da
localidade.

Figura 9: Localização da praia do Iguape na linha de costa de Aquiraz

Fonte: Prefeitura Municipal de Aquiraz (2017)


33

O Município de Aquiraz foi criado em 13 de fevereiro de 1699, por ordem do


rei de Portugal, quando, em Carta Régia, se determinava à Corte a criação da Vila
do Ceará. O rei omitiu-se no tocante à localização, deixando ao Capitão-General,
Governador de Pernambuco, a escolha que melhor aprouvesse (Prefeitura Municipal
de Aquiraz, acessado em 2017).

A praia do Iguape, nessa época, era uma espécie de colônia pesqueira, onde
moravam algumas pessoas de certa influência. Realizando uma analogia com
Fortaleza, essa era habitada quase exclusivamente por militares, abrigava o chefe
da Capitania e do Poder Eclesial, representado pelo Capelão-Mor do Presídio. A
situação de Aquiraz foi se alterando ao longo dos anos. O seu porto passou a escoar
produtos como carne e farinha para outras localidades (século XVII). Nesse período,
Aquiraz tornou-se a primeira capital do Ceará e, em virtude desse fato, houve
gradativamente um aumento populacional.

Figura 10: Ocupação da praia do Iguape no ano de 1958.

Fonte: CPRM (1958)

Atualmente, o Município localiza-se na Região Metropolitana de Fortaleza,


porção nordeste do Estado do Ceará, distante, aproximadamente, 21 km da Capital
em linha reta e é composto por oito distritos: Aquiraz (sede), Camará, Caponga da
Bernarda, Jacaúna, Justiniano de Serpa, Patacas, Tapera e João de Castro. As
34

melhores condições de infraestrutura encontram-se na sede, onde esta dispõe de


abastecimento de água, energia elétrica, telefonia, agências bancárias, hospital,
escolas de ensino fundamental e médio. Nos outros distritos, o quadro das
condições de infraestrutura está composto por postos e centros de saúde e escolas,
percebendo-se maior carência, principalmente quanto ao saneamento básico, sendo
um fator preocupante que requer maior atenção por parte do poder público.

Figura 11: Localização das paisagens na praia do Iguape.

Fonte: Google (2017) e Cavalcante (2016).

Iguape teve um início de ocupação similar ao de outras praias do litoral


cearense, com uma pequena vila de pescadores, casas afastadas uma das outras,
35

de parede e coberturas de palha e sem energia elétrica. Os moradores dependiam


diretamente dos recursos naturais, do mar e das lagoas, para pesca e lavagem de
roupa, das dunas para o extrativismo vegetal e dos manguezais para coleta de
mariscos e crustáceos (CARDOSO, 2002). As inter-relações das comunidades com
o meio ambiente, nesse período, não causavam alterações ambientais expressivas
em relação às vistas hoje.

Com o decorrer dos anos, principalmente a partir da década de 1970, foi


intensificado o uso de áreas litorâneas pelas atividades de turismo e lazer. Desde
então, a situação desse litoral começou a mudar e perder as peculiaridades de vila
de pescadores, consequentemente, a relação com o meio ambiente também foi
modificada.

A chegada de famílias vindas de Fortaleza promoveu, cada vez mais, o


aumento de visitantes, registrando-se assim, a valorização das faixas de praia, e
iniciou nessas localidades a especulação imobiliária. A paisagem começou a
modificar-se e perder as suas características de vila. Pouco a pouco, as casas dos
pescadores deram lugar às construções de casas de veraneio, residências e
barracas à beira mar, as áreas de praias e pós-praia ficaram cada vez mais
disputadas.

Atrelado a esse aumento do turismo, iniciou outra forma de ocupação. A


população local começou a deslocar-se para terrenos mais afastados da praia.

Foram aumentando o número de casas, estabelecimentos comercias e


estradas de acesso, permitindo, ainda mais, o fluxo de visitantes na área
(CARDOSO, 2002). Para melhor atender os turistas, foi sendo alterada a
infraestrutura local, construindo-se hotéis e pousadas, e, assim, os impactos
ambientais foram constatados na paisagem natural. Em meio às mudanças, houve
também um aumento da população e intensificação das formas de uso e ocupação
acarretando a progressiva perda da qualidade ambiental na área.
36

Figura 12: Atividades de lazer na faixa de praia.

Fonte: Cavalcante (2016)

No sistema de esgoto ainda prevalece o uso de fossas nas duas localidades.


No caso dos resíduos sólidos, a maior parte tem como destino a queima ou são
enterrados, mas a coleta pública está presente na rotina de muitos moradores. Ainda
em termos de infraestrutura, a educação nessas localidades conta com creches
municipais e particulares, Escolas de Ensino Fundamental e Médio. Possui posto
policial, igrejas, praças, posto de saúde e, no Iguape, encontra-se um cartório.

Figura 13: Atividade de pesca artesanal. Figura 14: Atividade de pesca de lazer.

Fonte: Cavalcante (2016). Fonte: Cavalcante (2016).


37

As atividades econômicas são marcadas pela pesca, artesanato, agricultura,


extrativismo vegetal e mineral, comércio e turismo. Essas atividades influenciam nas
alterações ambientais. São vários os impactos observados nas áreas ocupadas.

É possível verificar árvores de mangue cortadas, para a sua utilização como


carvão vegetal e como madeira para construção de cercas para casas. A
degradação vem aumentando progressivamente, em função do desmatamento da
área de manguezal para construções de casas, hotéis e barracas. O lixo é mais um
problema preocupante dessa unidade geoambiental.

Figura 15: Lixo despejado diretamente no solo.

Fonte: Cavalcante (2016)

Atividades vinculadas ao comércio e turismo estão presentes na forma de


pousadas, hotéis, barracas, pequenos comércios e bares. As barracas situadas à
beira-mar possuem infraestrutura adequada a esse tipo de equipamento turístico,
com chuveiros, banheiros e uma tranquilidade que agrada aos visitantes.

A pesca é uma das mais importantes atividades econômicas. Entre as


espécies mais exploradas no mar estão a cavala, o pargo e o sirigado. Dentre os
peixes menores estão a biquara, a mariquita, o cangulo, a guaiúba, a saúna, a
sapurana e o ariacó, além da exploração do camarão e do siri.

Muitos pescadores não conseguem sobreviver apenas da atividade pesqueira


e desempenham outras formas de ocupação para complementar a renda, como
implantação de pequenos estabelecimentos comerciais e prestação de serviços
terceirizados.
38

6. USO DO SOLO

O uso do solo é o conjunto das atividades de uma sociedade sobre


uma aglomeração urbana assentada sobre localizações individualizadas,
combinadas com seus padrões ou tipos de assentamento, do ponto de vista da
regulação espacial. Pode se dizer que o uso do solo é o rebatimento da reprodução
social no plano do espaço urbano. O uso do solo é uma combinação de um tipo de
uso e de um tipo de assentamento (edificação).

Foram identificados diferentes tipos de uso do solo tendo como base imagens
dos anos 1958, 2007 e 2016, assim pode-se constatar a evolução dos tipos de uso
no espaço de seis décadas e analisar de forma aprofundada o desenvolvimento da
localidade do Iguape.

Em comparação dos tipos de uso do ano de 1958 com o ano de 2007 pode-se
constatar um crescimento bastante significativo da Vila do Iguape até uma área
urbanizada com maior infraestrutura. Essa área urbana acabou por se expandir por
cima dos campos de dunas fixas e móveis de em considerável desordenamento e
sem políticas públicas para preservar as áreas mais frágeis do meio ambiente local.
No período descrito a salinas foram abandonadas e surgiram barracas de praia ao
longo da costa, atendendo a demanda dos turistas que passaram a frequentar a
localidade com maior assiduidade. A faixa de praia sofreu grande alteração nesse
período, sofrendo com o constante processo erosivo, a linha costa aproxima-se cada
vez mais da zona urbanizada. Novos empreendimentos como a área loteada
invadem a área de dunas fixas, ocupando cada vez mais o espaço natural.

Entre os anos de 2007 e 2016 não houve grandes alterações nos tipos de uso da
localidade, a área urbana permanece praticamente estagnada, e até mesmo a área
loteada não obteve grandes avanços no levantamento de novas construções, fato
que pode ser confirmado em campo, esses dados afirmam a ideia de que o Iguape
não possui mais o mesmo atrativo para novos investimentos, seja para o setor
turístico ou como casa de veraneio, um fator que pode contribuir para essa situação
é a incessante processo erosivo que ocorre em sua faixa de praia, que teve como
uma de suas consequências a destruição das barracas do local, que apesar não
serem representadas no mapas, foram localizadas de forma pontual em campo.
Figura 16: Mapa de Uso do Solo no ano de 1958
39
Figura 17: Mapa de Uso do Solo no ano de 2007
40
Figura 18: Mapa de Uso do Solo no ano de 2016
41
42

Pode-se constatar a evolução das áreas conforme a tabela abaixo.

Tabela 1: Evolução dos tipos de uso entre os anos 1958, 2007 e 2016.

1958 2007 2016


Forma de Uso
Área (m²) % Área (m²) % Área (m²) %
Vila / Zona
16456,07 0,69 525769,39 26,37 526718,11 26,79
Urbanizada
Salinas 68531,37 2,88 0,00 0,00 0,00 0,00
Barracas de Praia 0,00 0,00 8428,74 0,42 0,00 0,00
Área Loteada 0,00 0,00 496438,03 24,90 496438,03 25,25
Banco de Areia 1113687,50 46,74 380683,81 19,09 363324,16 18,48
Manguezal 169602,26 7,12 58516,08 2,93 250316,79 12,73
Corpos Hídricos 215739,63 9,06 253285,22 12,70 59739,71 3,04
Solo Com Vegetação 798484,06 33,51 270853,86 13,58 269378,89 13,70
Total 2382500,89 100,00 1993975,13 100,00 1965915,69 100,00
Fonte: Cavalcante (2017)

Figura 19: Gráfico de evolução dos tipos de uso entre os anos 1958, 2007 e 2016.

1200000
1000000
800000
600000
400000
1958
200000
2007
0
2016

Fonte: Cavalcante (2017)

Em relação à erosão costeira, pode-se quantificar uma considerável área de faixa


de praia perdida do ano de 1958 ate 2016, na imagem abaixo pode-se visualizar o
avanço da linha de costa ao longo das ultimas seis décadas. Foi calculada uma
perda de 367.024,58m² de praia. De acordo com Moura e Abreu Neto (2013) a praia
do Iguape recuou mais de seis metros no período de 2007-2012
43

Figura 20: Área de praia erodida entre 1958 e 2016.

Fonte: Cavalcante (2017)

Em relação ao uso do solo por assentamento, foi possível quantificar três tipos
de uso de solo, sendo eles: uso residencial, área de loteamento e área de uso
comercial. O uso residencial foi subdividido em quatro padrões distinto; residencial
de alto padrão, residencial de médio padrão I, residencial de médio padrão II e
residencial de baixo padrão, totalizando um total de 99,02ha conforme descrito
abaixo.

-Residências de alto padrão: Unidades domiciliares como segundas residências e


moradias fixas com área igual ou superior a acima de 600m², dispõe-se
paralelamente a faixa de praia, em padrão horizontalizado. Maior espaçamento de
imóveis, gramado, árvores ornamentais e piscina além de veículos particulares,
geralmente com mais de um andar. Apresentaram uma área total de 19,09ha.

-Residencial de médio padrão I: Bordejam as residências de alto padrão. São


áreas entre 450 a 600m² Arquitetura demonstra ser recente, geralmente domicílios
possuem veículos particulares e espaçamento largo entre imóveis. Possuem
algumas arvores de ornamentação nas fachadas. Apresentaram uma área total de
7,58ha.

-Residências de médio padrão II: Arquitetura não muito exuberante. Pintura


externa relativamente envelhecida. Localiza-se próximo as moradias de baixo
padrão. Tipologia de transição. Raramente possuem veículos particulares,
demonstram maior adensamento 200-450m². Apresentaram uma área total de
11,37ha.
44

- Residencial de baixo padrão: Áreas abaixo de 200m² as vezes sem revestimento


externo sujeita a riscos ambientais em áreas frágeis (dunas moveis, fixas, semifixas,
corpos hídricos) próxima a deposições de resíduos sólidos padrão arquitetônico
antigo. Apresentaram uma área total de 14,02ha.

-Loteamentos: É a divisão de uma grande área de terra em lotes menores


destinados à edificação. O responsável é o loteador, que pode ser tanto uma pessoa
física, como uma empresa privada, um órgão público ou uma cooperativa. Qualquer
que seja o loteador, as vendas dos terrenos só poderão ocorrer após a aprovação
de um projeto na prefeitura. Apresentaram uma área total de 41,22ha.

-Área de uso Comercial: Esses usos oferecem suporte a uma série de atividades
humanas e, além disso, são responsáveis por uma considerável porcentagem da
oferta de empregos. Portanto, sua localização dentro do tecido urbano exerce
influência decisiva na quantidade e na qualidade dos deslocamentos diários entre
residência e trabalho. Apresentaram uma área total de 4.85ha.

Figura 21: Exemplos de assentamentos, A-Residencial de alto padrão, B-Residencial de médio


padrão I, C-Residencial de médio padrão II, D-Residencial de baixo padrão, E-Área de uso comercial
e F-Loteamentos.

Fonte Google (2017)


45

Figura 22: Mapa com tipos de uso por assentamentos.

Elaboração: Abreu (2015)

7. RECOMENDAÇÕES

A área possui elevado potencial paisagístico, um cenário repleto de atrativos


naturais. São belas praias, extensos campos de dunas e manguezais. Todos esses
recursos naturais podem ser utilizados no desenvolvimento de atividades turísticas,
com isto necessita-se que haja uma maior articulação entre a sociedade e o Estado.
Além da atuação do poder público na forma de leis/diretrizes/normas, é de
fundamental importância, num curto prazo, a adoção de políticas de educação
ambiental.

A praia e a pós-praia devem ter seu uso limitado, apenas para a pesca artesanal
e o lazer. Para as barracas instaladas na faixa de pós-praia, a sugestão é o
acompanhamento e a orientação para minimização dos impactos ambientais
produzidos por estes empreendimentos.
46

Figura 23: Uso de veículos automotores em faixa de praia.

Fonte: Cavalcante (2016)

O poder público não realizou um devido planejamento de implantação da


infraestrutura capaz de receber o turismo ou oferecer melhores condições para a
população, por isso, observa-se a ausência de saneamento básico em toda a
comunidade, onde o esgoto quando não é despejado em fossas domiciliares
encontra-se a céu aberto, não existe pavimentação adequada, as ruas são bastante
sinuosas e estreitas e a coleta de lixo é bastante precária, fazendo com que os
habitantes joguem seus lixos nas ruas ou nas dunas.

A elaboração de programas para melhoria da infraestrutura turística local e a


fiscalização por parte da Prefeitura redirecionariam o fluxo de veículos automotores,
em razão dos perigos oferecidos aos banhistas e pelos impactos promovidos nessas
unidades. Os órgãos municipais também ficariam responsáveis pela
conscientização, dos barraqueiros e turistas, na questão do destino dos resíduos
sólidos e pela inibição da implantação de novas construções urbanas à beira-mar.

Para salinas construídas no lagamar do Iguape, entre as décadas de 1930 e


1950, e hoje desativadas, uma alternativa seria a recuperação ambiental. A
restauração de sua conexão hídrica superficial com o ecossistema marinho
possibilitaria o reflorestamento das espécies de mangue e a regeneração da fauna.
47

Outra opção poderia ser implantada, como a produção de peixes e crustáceos,


através de modelos desenvolvidos em outras áreas de salinas abandonadas.

A Educação Ambiental deve ser incluída no currículo escolar. É uma maneira de


incentivar e ensinar aos alunos a importância da conservação do meio ambiente. Os
professores das escolas municipais poderiam ser treinados por estudantes e
professores universitários para estarem habilitados a repassar os conhecimentos.
Palestras, oficinas e minicursos seriam formas de debater e refletir sobre o tema. A
Secretaria de Educação e Cultura de Aquiraz poderia também atuar nesse sentido e
promover dentro da comunidade maior conscientização de cunho ambiental.

Após observamos algumas das transformações ocasionadas pelo turismo no


distrito de Iguape nos últimos anos cabe aqui fazermos uma reflexão sobre a
viabilidade da implantação de um turismo sustentável naquela região, respeitando
tanto os interesses dos residentes como dos turistas e empreendedores, mas sem
esquecer o meio ambiente.

8. CONCLUSÕES

8.1 EVOLUÇÃO URBANA

Os estudos sobre a evolução urbana no Iguape atestaram um crescente


processo de desenvolvimento da área, que se acelerou com a explosão demográfica
de Fortaleza na década de 1970, principalmente devido às atividades turísticas e a
sua localização próxima a capital. Tal forma de crescimento vem modificando a
paisagem costeira nos últimos anos, gerando um desordenamento do espaço e
ausência de políticas públicas que priorizem a gestão ambiental.

8.2 PROBLEMAS AMBIENTAIS

Os principais problemas existentes na faixa costeira se devem de dois fatores


principais: deficiências de alimentação sedimentar e ocupação de zonas que
deveriam ser de preservação permanente. De acordo com Moura e Abreu Neto
(2013) a praia do Iguape recuou mais de seis metros no período de 2007-2012. O
48

processo erosivo na área de estudo é acentuado, mesmo com presença de fontes


de sedimentos como as dunas móveis frontais. Os impactos erosivos têm afetado
diretamente a população local, com o início da destruição dos equipamentos
urbanos como o calçadão feito na praia em 2009 e a destruição de barracas de praia
localizadas na zona de berma, também foi possível observar que em determinados
setores mais propícios a erosão estão com estruturas de enrocamentos rochosos e
bancadas de cimento (bagwall) para a proteção. Mas verifica-se que em
determinados setores esta obra de contenção está em processo de
desestabilização. Vale ressaltar que toda a zona de pós-praia é ocupada por casas
de veraneio, casas de moradores locais, barracas de praia e pousadas ou resorts de
proprietários estrangeiros.

Outra observação que deve ser feita é a retirada dos sedimentos da duna
móvel frontal para a construção civil, ou mesmo por esta se mover para dentro das
casas próximas a sua formação. Porém o manguezal é um sistema bastante frágil
sofrendo facilmente com as intervenções humanas, neste caso, verificam-se a
instalação de casas as margens do lagamar, no qual é despejado o esgoto
domiciliar, poluindo tal ambiente.

Verifica-se que a Localidade do Iguape está assentada sobre uma área de


grande dinâmica sedimentológica, ou seja, as construções dar-se-ão em uma área
de transpasse de sedimentos (By pass), tanto ativo como inativos. A vulnerabilidade
a ocupação é grande, tanto pela dinâmica eólica (avanço da duna móvel), como pela
hidrodinâmica costeira (ondas, correntes e maré). Sendo assim cabe ao poder
público aplica de forma correta a política de Gestão Integrada da Zona Costeira. Mas
é importante destacar que tanto o poder público como a sociedade necessita realizar
o plano de forma conjunta, a partir disto é de fundamental importância à criação de
políticas de conscientização e educação ambiental para os moradores e turistas.

Como destacado pelos moradores não existe fiscalização de automóveis na


faixa de praia, ou seja, mais um problema urbano associado tanto ao descaso pelo
poder público, como pela falta de educação ambiental.
49

8.3 SANEAMENTO E INFRAESTRUTURA

Como afirmado pelos moradores, não há rede de esgoto e os rejeitos


orgânicos e inorgânicos são despejados na laguna, na rua, no mar e nos quintais
das respectivas residências. Mesmo com coleta de lixo semanal, verificou-se o
despejamento de lixo a céu aberto em calçadas, na laguna, na duna, no mangue e
na praia.

8.4 TURISMO COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO DA LOCALIDADE

O turismo usa espaços, cria e recria territórios e valoriza-os, mas, muitas


vezes, esquece que o espaço já possui seus agentes naturais e sociais, assim,
apropria-se dos mesmos sem se preocupar com as consequências dos atos, agindo
sobre o meio físico e antrópico da forma que melhor lhe convém. Em um curto prazo,
observam-se apenas as transformações positivas, como incremento na geração de
renda da comunidade local e dos empreendedores. Porém, em longo prazo, a
localidade torna-se ambientalmente degradada, pois não está preparada para
receber um grande contingente de pessoas em um curto intervalo de tempo.
Observa-se a mudança do modo de vida da comunidade local, concluindo que esta
tem suas atividades econômicas e modo de vida transformada. A ação impensada e
a falta de planejamento da atividade turística fazem com que ela se resuma a um
curto ciclo de vida em uma localidade, visto que, uma vez que esta se encontre
degradada, os turistas buscam novos espaços onde possam relaxar e aproveitar seu
ócio, esquecendo o antigo “point” dos anos anteriores.
50

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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