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PRODUTIVIDADE ACADÊMICA DURANTE A PANDEMIA:

Efeitos de gênero, raça e parentalidade

Levantamento realizado pelo Movimento Parent in Science


durante o isolamento social relativo à Covid-19.

PARENT IN SCIENCE
2020
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Não há dúvida de que a pandemia de COVID-19 está afetando a produtividade acadêmica. Mas
todos os cientistas estão sendo impactados da mesma maneira?
Buscando entender este cenário, realizamos um levantamento no Brasil, durante os meses de
abril e maio de 2020. Os questionários foram respondidos por quase 15 mil cientistas, entre
discentes de pós-graduação, pós-doutorandas(os) e docentes/pesquisadores.
Por meio da análise destes dados, criamos um panorama sobre o impacto da pandemia na ciência
brasileira. Abordamos questões centrais a esta discussão: gênero, raça e parentalidade.
Conseguimos assim, mapear quem foi mais impactada(o) pela pandemia, o que é crucial para o
desenvolvimento de ações e políticas que impeçam o aprofundamento de desigualdades de
gênero e raça na ciência.
Alguns pontos levantados nos questionários não puderam ser analisados, devido ao número de
respondentes obtidos. Um exemplo é a questão sobre cuidados com filhos com deficiência.
Sabemos que este momento da pandemia tem sido particularmente complexo para estas famílias,
com a restrição de acesso a terapias e tratamentos e a redução das redes de apoio. Infelizmente,
não conseguimos trazer números para esta discussão. No entanto, frisamos a importância de se
trazer esta questão para dentro do meio acadêmico e científico.
Os questionários seguiram o padrão atual do IBGE como referência para a questão de raça ou cor.
No entanto, para a análise dos dados, pretas(os) e pardas(os) foram unidas(os) em um único
grupo: negras(os). Não foi possível realizar nenhuma análise considerando os grupos “amarelo” e
“indígenas”, devido ao pequeno número de respondentes que se declararam pertencentes a estes
grupos.
Os resultados obtidos estão separados neste informativo de acordo com a categoria dos
respondentes: docentes/pesquisadores, alunas(os) de pós-graduação e pós-doutorandas(os). As
análises sobre o impacto na submissão de artigos foram mais detalhadas, pois acreditamos que
este é o parâmetro que trará mais consequências de longo prazo para a carreira das(os)
cientistas. Ao final do documento, trazemos sugestões de ações visando mitigar os efeitos da
pandemia. É fundamental agirmos imediatamente. Não há espaço para retrocessos na luta
contínua por tornar a ciência diversa. Não podemos permitir que a pandemia de COVID-19 atue
como mais um fator para aumentar o desequilíbrio de gênero, raça e parentalidade na academia.

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PRODUTIVIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA
DURANTE A PANDEMIA
PARENT IN SCIENCE

Docentes que estão conseguindo trabalhar remotamente

Efeito do gênero e parentalidade

4,1% mulheres com filhos


8% 18,3%

mulheres homens
18,4% mulheres sem filhos

Efeito da raça 14,9% homens com filhos

negras(os) 10,6%
25,6% homens sem filhos
brancas(os) 11,5%

14,1% 18,8%
8,1% 8,2%

mulheres mulheres homens homens


negras brancas negros brancos

Efeito da raça, gênero e parentalidade

3,4%
filhos
com

4,4%

17,1%
filhos
sem

19,3%

12,2%
filhos
com

15,8%

24,2%
filhos
sem

25,5%

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PRODUTIVIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA
DURANTE A PANDEMIA
PARENT IN SCIENCE

Docentes que conseguiram cumprir os prazos


Prazos relacionados a solicitações de fomento/bolsas e/ou submissão de relatórios/prestação de contas

79,6% 79,9% 77,1% 84,6%


70,4% 66,6%

mulheres homens mulheres mulheres homens homens


com filhos sem filhos com filhos sem filhos

Efeito da raça Beneficiaram-se com a


prorrogação dos prazos
71,1% 77,4% 79,8%
69,7%

27,5%

mulheres mulheres homens homens


32,9%
negras brancas negros brancos
37,3%

43,9%
Efeito da raça e parentalidade em homens

negros com filhos 73,7%

negros sem filhos 85,1%

brancos com filhos 78%

brancos sem filhos 83,3%

Efeito da raça e parentalidade em mulheres

negras com filhos 68,2%

negras sem filhos 77,3%

brancas com filhos 66,4%

brancas sem filhos 79,2%

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PRODUTIVIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA
DURANTE A PANDEMIA
PARENT IN SCIENCE

Docentes que submeteram artigos científicos como o planejado

76%
68,7% 65,3%
49,8% 56,4%
47,4%

mulheres homens mulheres mulheres homens homens


com filhos sem filhos com filhos sem filhos

Efeito da raça

63,2% 70,4%
47,3% 50,1%

mulheres mulheres homens homens


negras brancas negros brancos

Efeito da raça e parentalidade Efeito da raça e parentalidade


em homens em mulheres

negros com filhos 61% negras com filhos 46,5%

negros sem filhos 67,9% negras sem filhos 48,7%

brancos com filhos 67,2% brancas com filhos 47,2%

brancos sem filhos 77,3% brancas sem filhos 58,9%

Submissões de acordo com Submissões de acordo com


a idade dos filhos o tempo de carreira mulheres
homens
59,3% 28,4%
>18 < 1 ano
60,8% 48,1%
50,5% 32,2%
13-18 1-5 anos
50% 56,9%
46,2% 37%
7-12 5-10 anos
57% 57,5%

1-6 28,8% 45,9%


10-15 anos
52,4% 55%
32% 55,2%
<1 > 15 anos
61,1% 63%

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PRODUTIVIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA
DURANTE A PANDEMIA
PARENT IN SCIENCE

Submissões de acordo com o tempo de carreira: efeito de gênero e raça

até 5 anos
5 a 10 anos
mulheres

10 a 15 anos
mais de 15 anos
homens

% 0 10 20 30 40 50 60

Submissões de acordo com o tempo de carreira: efeito de gênero e parentalidade

até 5 anos
5 a 10 anos
mulheres

10 a 15 anos
mais de 15 anos
homens

% 0 10 20 30 40 50 60 70

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PRODUTIVIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA
DURANTE A PANDEMIA
PARENT IN SCIENCE

Quem são os docentes respondentes?


3.629 docentes pesquisadores de Instituições de Ensino Superior do Brasil
0,2%
1,7%
4% brancos
32% 68% 18,1% 76% negros

amarelos
indígenas
não informado

68% 32% 72% 28%


homens homens mulheres mulheres
com filhos sem filhos com filhos sem filhos

Regiões do Brasil Áreas do conhecimento

3%
4% 7%
13% 10%
Norte: 6%

Nordeste:
19% 21%
15%

Centro-
Oeste: 9% 18% 5%

Sudeste: Ciências Exatas e da


43% Terra Multidisciplinar
Engenharias Linguística, Letras
e Artes
Ciências Biológicas Ciências Humanas
Sul:
27% Ciências Sociais
Aplicadas Ciências da Saúde
Ciências Agrárias

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PRODUTIVIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA
DURANTE A PANDEMIA
PARENT IN SCIENCE

Pós-doutorandas(os) que submeteram artigos científicos como o planejado

65% 67,6%
49,2% 58,4%
41,5%
34%

mulheres homens mulheres mulheres homens homens


com filhos sem filhos com filhos sem filhos

Efeito da raça
61%
54,2%
38%
31,1%

mulheres mulheres homens homens


negras brancas negros brancos

Pós-doutorandas(os) que estão conseguindo trabalhar remotamente

não 82% sim


18%

13,9% 27,9%

mulheres homens

2,2% mulheres com filhos

25,1% mulheres sem filhos

4,2% homens com filhos

37,6% homens sem filhos

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PRODUTIVIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA
DURANTE A PANDEMIA
PARENT IN SCIENCE

Quem são as(os) pós-doutorandas(os) respondentes?


619 pós-doutorandas(os) de Instituições de Ensino Superior e pesquisa do Brasil

0,5%
4,5%
1%
brancos

27% 73% negros


22% 72%
amarelos
indígenas

não informado

29% 71% 49% 51%


homens homens mulheres mulheres
com filhos sem filhos com filhos sem filhos

Regiões do Brasil Áreas do conhecimento


1%
5% 7%
8% 5%

Norte: 4%
17%
Nordeste:
10% 39%

Centro- 14%
Oeste: 4% 4%

Sudeste: Ciências Exatas e da


Multidisciplinar
60% Terra
Engenharias Linguística, Letras
e Artes
Ciências Biológicas Ciências Humanas
Sul:
22% Ciências Sociais
Aplicadas Ciências da Saúde
Ciências Agrárias

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PRODUTIVIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA
DURANTE A PANDEMIA
PARENT IN SCIENCE

Alunas(os) de Pós-graduação que estão conseguindo trabalhar remotamente

Efeito do gênero e parentalidade

27% 36,4%
11% mulheres com filhos
mulheres homens

Efeito da raça mulheres


34,1%
sem filhos
38,7%
32,4%
27,8%
25,7% 20,6% homens com filhos

homens
41,1% sem filhos
mulheres mulheres homens homens
negras brancas negros brancos

Efeito da raça e parentalidade

9,9%
filhos
com

11,6%

32,7%
filhos
sem

35,1%

18%
filhos
com

22,3%
filhos

37,1%
sem

43,5%

A pandemia está impactando no progresso da dissertação ou tese?


não
18%
83,4% mulheres

77,5% homens
82%
sim

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PRODUTIVIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA
DURANTE A PANDEMIA
PARENT IN SCIENCE

Quem são as(os) alunas(os) de Pós-graduação respondentes?


9.970 discentes de mestrado e doutorado de Instituições de Ensino Superior do Brasil

0,2% pessoa 0,4%


não binária 1,5% 2,9%

brancos
30,2% 69,6% 32,5% 62,7%
negros

amarelos
indígenas

não informado

homens homens mulheres mulheres


sem filhos 78% 22% com filhos sem filhos 69% 31% com filhos

Áreas do conhecimento Nível

5% 7%
5% mestrado 53%
12% 47%
doutorado
13%

17% bolsistas 60%

21% não bolsistas 40%


6%
14%

Ciências Exatas e da
Ciências Biológicas
Terra
Ciências da Saúde Linguística, Letras
e Artes
Engenharias Ciências Humanas
Ciências Sociais
Aplicadas Multidisciplinar
Ciências Agrárias
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PRODUTIVIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA
DURANTE A PANDEMIA
PARENT IN SCIENCE

Conclusões Sugestões
• Especialmente para submissões de Com base nos resultados apresentados,
artigos, mulheres negras (com ou sem elencamos abaixo algumas sugestões às
filhos) e mulheres brancas com filhos agências de fomento e Universidades:
(principalmente com idade até 12 • aumentar o prazo para submissão em
anos) foram os grupos cuja editais de fomento;
produtividade acadêmica foi mais • flexibilizar o prazo para prestação de
afetada pela pandemia. contas e relatórios de projetos;
• A produtividade acadêmica de • elaborar editais específicos aos grupos
homens, especialmente os sem filhos, mais atingidos, para evitar um
foi a menos afetada pela pandemia. aumento da disparidade de gênero e
raça, agravando uma situação crítica
que já existe;
• aumentar o tempo de análise do
Os resultados aqui apresentados currículo para mulheres com filhos, em
fortalecem a discussão sobre gênero, editais de financiamentos e
raça e maternidade como fatores concursos;
contribuintes para a sub-representação • programar os horários de reuniões,
feminina na ciência. Além disso, criam considerando o horário escolar no qual
um referencial teórico importante para mães e pais devem dar suporte a seus
orientar políticas públicas de auxílio às filhos;
mães na área acadêmica. A • redistribuir, sempre que possível, a
necessidade de ações afirmativas em carga horária didática e atividades
prol da diversidade e inclusão na administrativas de maneira a não
ciência torna-se ainda mais evidente sobrecarregar os grupos de cientistas
durante o período de pandemia. mais atingidos pela pandemia.

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O Parent in Science foi criado em 2016 pela
pesquisadora Fernanda Staniscuaski, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) e surgiu com o intuito de
levantar a discussão sobre a maternidade e a
paternidade dentro do universo da ciência
do Brasil. O grupo é formado por 15 mães e
um pai, todos professores e pesquisadores no
Brasil, que por meio de um esforço conjunto,
pesquisam e discutem a temática.
O Parent in Science foi pioneiro no
levantamento de dados sobre as
consequências da chegada dos filhos na
carreira de cientistas no Brasil, especialmente
mulheres.
Essas ações levaram a conquistas e
mudanças concretas para as mães no cenário
científico brasileiro. Hoje, diferentes editais
de financiamento e bolsas de várias
instituições incluíram critérios específicos que
consideram os períodos de licença-
maternidade na análise dos currículos.
Foi firmado um compromisso por parte do
CNPq em incluir um campo para a licença-
maternidade no Currículo Lattes.
Movimentos como esse são essenciais para
que a ciência se torne de fato diversa
e capaz de contemplar as interseções de
gênero e de raça.

Onde nos contactar:


www.parentinscience.com

facebook.com/parentinscience

Equipe Parent in Science: parentinscience@gmail.com


Adriana Neumann/UFRGS
Adriana Seixas/UFCSPA @parentinscience
Alessandra Tamajusuku/UNIPAMPA
Camila Infanger/ESPM
Eliade Lima/UNIPAMPA Canal Parent in Science
Eugênia Zandonà/UERJ
Felipe Ricachenevsky/UFRGS @parentinscience
Fernanda Reichert/UFRGS
Fernanda Stanisçuaski/UFRGS
Fernanda Werneck/INPA Sobre o informativo:
Ida Schwartz/UFRGS Diagramação: Rossana Soletti.
Letícia Oliveira/UFF Este informativo e os infográficos aqui
Lívia Kmetzsch/UFRGS contidos podem ser compartilhados,
Pâmela Carpes/UNIPAMPA atribuindo os créditos para o Parent in
Rossana Soletti/UFRGS Science. Não pode ser utilizado para fins
Zélia Ludwig/UFJF comerciais. Ilustrações: Freepik. 13

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