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Antecedentes e conjuntura da Revolução Liberal Portuguesa:

-----Portugal-----
Nos inícios do século XIX, Portugal regia-se ainda pelo absolutismo, a
agricultura permanecia como atividade principal, o comércio colonial denotava o
evidente atraso tenológico do país. A sociedade estava submetida ao domínio do Clero
e da aristocracia. Os camponeses viviam na miséria e carregavam pesadas obrigações.

 1806 - Bloqueio continental; *


 1807 - Fuga da família real e da corte para o Brasil;
- 1º Invasão Francesa;
 1808 - Abertura dos portos brasileiros às nações amigas;
 1809 - 2ª Invasão Francesa; *
 1810 - 3ª Invasão Francesa; *
- Tratado de aliança com Inglaterra;
 1815 - Elevação do Brasil a reino;

*(teve como consequência a destruição e devastação do país; perdas humanas


e materiais; domínio político e económico que Inglaterra passou a exercer sobre o
país).
Desta forma, a agitação revolucionária foi crescendo e, no Porto, uma vez que
era considerado um grande centro burguês e mercantil, Manuel Fernandes Tomás
fundou, em 1817, o sinédrio. Esta associação secreta propunha implementar os ideias
iluministas, intervindo politicamente. Era, essencialmente, constituída por burgueses,
comerciantes, industriais e juristas que unidos lutavam pelo respeito social e justiça
política.
Anunciada a ida de William Beresford ao Brasil, os elementos do sinédrio
juntamente com importantes figuras militares fizeram eclodir a 24 de agosto de 1820 a
revolução.
A agitação revolucionária que se desenvolveu no Porto ficou marcada,
essencialmente, pelo pronunciamento militar que contou com a larga participação de
negociantes, magistrados e proprietários fundiários.
Essa forte união de interesses e o ressentimento popular acumulado contra a
presença inglesa que afetava quer os militares, quer a burguesia comercial permitiram
o sucesso deste movimento.
Os revolucionários criaram um Governo Provisório – a Junta Provisional de
Governo do Reino e coube a Manuel Fernandes Tomás a redação do Manifesto aos
Portugueses no qual se identificavam os problemas e se arranjavam as possíveis
soluções.
Tinham como objetivo do movimento libertar a pátria do domínio inglês e do
absolutismo, guardar o respeito pelas instituições tradicionais, como a monarquia, as
cortes e a igreja e, ainda, redigir uma constituição, inspirada na constituição espanhola
e francesas.
Houve por todo o país uma rápida adesão o que levou que em Lisboa ocorresse
um movimento apoiado por burgueses e populares do qual os regentes acabaram
expulsos e constituiu-se um Governo Interino.
Defendendo os mesmos objetivos, os governos do Porto e Lisboa fundiram-se
numa nova Junta Provisional do Supremo Governo do Reino que pretendia
implementar o liberalismo.
Ao novo governo coube- lhe organizar eleições para as Cortes Constituintes
para que mais tarde se pudessem consagrar numa Constituição.
Depois de eleitos, as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação
Portuguesa elaboraram a constituição de 1822 promulgada pelo rei que teve de
regressar a Portugal.
O documento reconhecia vários direitos aos cidadãos, como a liberdade,
segurança, propriedade e igualdade. Afirmava a soberania da nação, consagrava o
sufrágio direto e estipulava-se a separação tripartida e independência dos poderes
(poder legislativo – reside nas cortes com a dependência da sanção do Rei; poder
executivo – Rei e secretários de estado que exercem debaixo da autoridade do rei;
poder judicial – juízes). Declarava a religião católica a oficial, abdicava dos direitos da
nobreza e do clero e submetia o poder real à supremacia das Cortes Legislativas que
vigorava com uma câmara única, contudo, rei podia sempre vetar uma lei.
Demasiado radical e progressista para o seu tempo, o grupo mais radical da
constituição de 1822, deu origem ao vintismo.
Para além da redação da constituição, as Cortes Constituintes eliminando as
antigas estruturas do Antigo Regime, extinguiram a inquisição e a censura prévia,
reformaram os forais e as prestações fundiárias, o que refletiu num progresso de
evolução agrícola e acabou por promover dinamismo económico.
Fundou-se também o primeiro banco de português, o Banco de Lisboa, que
agora tornava possível a transformação dos bens da coroa em bens nacionais.

 1817 - Conspiração do Sinédrio por Manuel Fernandes Tomás, José Ferreira


Borges, José da Silva Carvalho e José Ferreira Viena;
 1820 - Pronunciamento militar no Porto (24 de agosto);
 Criação da Junta Provisional do Supremo Governo do Reino (Porto);
 Manifesto aos Portugueses;
 Constituição de um Governo Interino (Lisboa);
 Fusão Política - Nova Junta Provisional do Supremo Governo do Reino;
 1821 - D.João VI desembarca em Lisboa a 4 de julho;
 - Extinção da Inquisição;
- Reformas dos Forais;
- Criação do Banco de Lisboa;
-----Brasil-----
A permanência da família Real e da corte no Brasil tornou-se extensa e, por
isso, esta colónia transformou-se na sede da monarquia portuguesa o que se refletiu
num grande desenvolvimento.
A evolução foi não só a nível político verificando-se, também, um progresso
tanto na economia como na cultura.
Politicamente, o Brasil tornou-se a sede da monarquia e a capital do reino.
O comércio externo cresceu, aumentando o dinamismo económico, dado que
era possível venderem, diretamente, os seus produtos às nações amigas. Apostaram
também nas indústrias e fundaram o seu primeiro banco.
A nível cultural surgiram as escolas, os teatros e desenvolveu-se a imprensa
local. Dispunham também de uma biblioteca.
Entretanto, em 1821, toda a família Real foi obrigada a regressar a Portugal
devido à revolta liberal. Pedro I fica no Brasil e torna-se regente do território.
As Cortes constituintes de Lisboa viam que o Brasil os tava a superar tomando o
controlo do comércio e, de modo, a reestabelecer o poder alega que o príncipe
regente deveria regressar a Portugal, que o Brasil devia retornar ao seu estatuto de
colónia e, ainda, que o exclusivo colonial deveria regressar, acabando com o comércio
externo livre.
As medidas que a Corte apresentou motivaram ao descontentamento e revolta
do povo. Como não queriam ver um retrocesso no seu país, os brasileiros acabam por
apoiar D. Pedro na luta pela independência do Brasil.
Os anseios autonomistas dominavam o povo brasileiro já desde os seus
antepassados, como exemplo disso, temos uma rebelião nacionalista em Ouro Preto
que projetava a independência e a implantação de uma República, contudo, foi
denunciada e ficou conhecida por “Inconfidência Mineira” e fizeram do seu líder,
“Tiradentes”, o grande herói da libertação nacional.
A independência do Brasil foi proclamada por D. Pedro a 7 de setembro de
1822 nas margens do rio Ipiranga, com o grito “Independência ou morte”.
D. Pedro acaba coroado, mais tarde, em dezembro.
A separação do Brasil tornou-se num acontecimento traumático e representou
o grande fracasso da Revolução Vintista.
Esta independência colocou em causa os interesses comercias e industriais de
Portugal, comprometendo, também, a recuperação financeira do país.
Portugal só reconheceu a independência do Brasil a 1825.
-----Portugal-----

A ideia de que o Liberalismo não deveria residir em Portugal, preservando,


assim a Monarquia, tinha influência externa, através da santa aliança entre a Rússia,
Áustria e Prússia, que se destinava a evitar a propagação dos ideias de liberdade e
igualdade individuais dos povos. A nível interno a alta Nobreza e o alto Clero e, ainda,
alguns membros da família Real conspiravam contra o liberalismo, como a D. Carlota
Joaquina e D. Miguel.
D. Carlota Joaquina, defensora do absolutismo, não jurou a Constituição
afirmando que não o fez porque nunca tinha jurado durante a sua vida.
Como efeito, deveria ter sido exilada, contudo, foi obrigada a residir, de forma
fixa, no Palácio do Ramalhão, em Sintra, onde apoiava o seu filho mais novo, D. Miguel
na luta pela restauração do absolutismo. Foi também conselheira da contrarrevolução
absolutista.
A contrarrevolução surgiu em Maio de 1823 ocorreu em Vila Franca e ficou
conhecida como a Vila-Francada. Com o aparecimento de duas frações do exército,
enviados de Lisboa para defender a fronteira, estes revoltam-se em Vila Franca onde
se junta D. Miguel que desde logo assume a direção do movimento e dirige um
manifesto aos Portugueses onde jura a religião e a honra.
A revolta termina quando D.João VI ordena que o filho se apresente,
retomando o comando da situação. Em consequência desta revolta D.João VI opta por
remodelar o governo, entregando-o a liberais moderados e, propôs ainda, alterar a
Constituição. Tudo isto gerou descontentamento.
Mais tarde, em Abril de 1824, os partidários de D. Miguel, prendem o rei
juntamente com alguns membros do governo com o objetivo de levar o monarca a
abdicar da sua regência e a confia-la à sua esposa. O desfecho deste movimento é
vitória de D.João VI que consegue derrotar o golpe e acaba por enviar o seu filho, D.
Miguel, para o exílio (Viena-Áustria).
A revolta ficou conhecida como a Abrilada e decorreu no Palácio da Bemposta.
A 1826, no mês de Março, D.João VI falece e com isso levantou-se um delicado
problema com a sua sucessão.
O seu filho mais velho, Pedro era o herdeiro, porém, era imperador do Brasil.
Miguel, o seu filho mais novo e partidário do absolutismo, estava exiliado em
Viena.
Este assunto ficou pendente com a morte do rei, o que remeteu para um
Conselho de Regência provisório, por causa da sua filha, a infanta D. Isabel Maria.
Após isto, a regência comunica, de imediato, com D. Pedro que se considerou
legítimo herdeiro da Coroa Portuguesa e que, desde logo, toma algumas medidas
conciliatórias. D. Pedro tornou-se rei de Portugal e Imperador do Brasil.
Em Abril, confirmou a regência provisória da infanta D. Isabel Maria e outorgou
um diploma constitucional, mais moderada e conservadora que a Constituição de
1822, a Carta Constitucional.
Sendo a Carta Constitucional um diploma outorgado pelo rei, ao contrário das
Constituições, que são outorgadas pela nação, esta serviu para recuperar o poder real
e alguns dos privilégios para as classes mais elevadas.
A verdade é que esta nova ordem constitucional trazia algumas inovações face
à antiga e apresentava, também, um carácter mais conservador.
O poder legislativo era, agora, composto por um sistema bicamaral, sendo a
Câmara dos Deputados e a Câmara dos Pares.
A dos deputados, era temporária e eletiva – por sufrágio indireto e censitário
(homens com renda líquida).
A dos pares, era composta por elementos da alta nobreza e alto clero,
nomeados pelo rei a título hereditário e vitalício.
O poder judicial ficou, igualmente, entregue a juízes e jurados.
O poder executivo permanecia no rei e era exercido pelos seus ministros de
Estado.
Surgiu, ainda, o poder moderador que engrandecia a figura do rei. Este podia
nomear os pares, convocar as cortes, dissolver a câmara dos deputados, nomear e
demitir o governo, suspender os magistrados, conceder amnistias e vetar a título
definitivo as resoluções das cortes.
Os direitos naturais do cidadão estão assegurados, contudo, ao contrário da
Constituição, estes aparecem no fim, assegurando-se e ampliando-se, primeiro, os
poderes régios e, ainda, contemplando-se a título vitalício as ordens privilegiadas nas
Cortes.
Dá-se início ao Cartismo, período político do liberalismo moderado e defensor
da Carta Constitucional.
A eliminação do vintismo, não foi suficiente para acabar com os apoiantes da
Constituição. Havia assim, defensores da Constituição, do Liberalismo e da Carta
Constitucional, o que leva a uma agitação social.
-----Guerra Civil-----

Dia 2 do mês de maio de 1826, D. Pedro abdica a favor da sua filha D. Maria
Glória, dado que era incompatível assegurar o Império o Brasil e ser o rei do Reino de
Portugal.
Com isto, D. Pedro exige o regresso do seu irmão D. Miguel, que estava exilado
em Viena, para que se cassasse com a sua filha mais velha, a futura D. Maria II.
De regresso a Portugal, como estipulou D. Pedro, o absolutista D. Miguel jurou
a Constituição, prometendo entregar o governo do reino a D. Maria quando esta
atingisse a maioridade e, manter a Carta Constitucional.
A sua adesão ao liberalismo, rapidamente se revelou falsa. Mal chegado, fez-se
aclamar rei absoluto, dissolveu a câmara dos deputados, que eram eleitos pela nação e
convocou a cortes como tradicionalmente se fazia, ou seja, por ordens sociais, onde o
Clero e a Nobreza estão bem mais presentes do que o terceiro estado.
Contra o absolutismo e a favor do liberalismo, foram imensas as pessoas que
fugiram e outras que foram perseguidas.
Em 1831, organizam uma resistência com o apoio de D. Pedro, que abandonou
o trono brasileiro em luta da restituição da filha no troco português.
Em busca de ajuda militar, chegou à Terceira onde se deu início da revolta
contra domínio absolutista. D. Pedro assumiu a chefia da Regência Liberal e estava
pronto para lutar contra o seu irmão, D. Miguel.
Ajudado pela França e pela Inglaterra, formou um pequeno exército constituído
por emigrantes, voluntários e alguns recrutas dos Açores. Desembarcou em 1832, no
Mindelo e seguiu com a ocupação da cidade do Porto, que era o centro do Liberalismo.
Defrontaram-se em vários confrontos mas o Cerco do Porto, foi o episódio mais
dramático da guerra civil, onde os liberais estiveram cercados pelos miguelistas até se
levantar o cerco.
A guerra civil entre liberais e absolutistas, durou dois anos 1832-1834 onde o
lado liberal saiu vitorioso, confirmando-se a derrota de D. Miguel e a sua partida para o
exílio depois de assinar a Convenção de Évora Monte. O fim da guerra civil consagra-se
com a ajuda da quadrupla aliança, onde Espanha, França e Inglaterra apoiam Portugal
na derrota de D. Miguel e na Convenção de Évora Monte.
Repôs-se a Carta Constitucional, e implementou-se, de forma definitiva o
Liberalismo em Portugal.
-----O novo ordenamento político e socioeconómico-----

Para o triunfo do cartismo em Portugal, destacou-se Mouzinho da Silveira. Era


um homem inteligente, instruído, liberal e viajado. Ocupou o cargo de ministro da
fazenda, aboliu, de vez, os pequenos morgadios, os forais, os dízimos e, ainda, os bens
da coroa e respetivas doações.
Com isto, passou os bens das classes privilegiadas para o estado através da
libertação das terras, para que os camponeses tivessem acesso a elas.
Fez-se acompanhar da libertação das terras a liberalização do comércio, onde
através da eliminação de situações de privilégio, que pesavam sobre a circulação
interna de mercadorias, se facilitou o comércio interno e a sua evolução. Quanto ao
comércio externo, que agradava à burguesia, reduziram-se os direitos alfandegários e
suprimiram-se os monopólios do sabão e do vinho do Porto, deixando de haver a
privação nestes produtos.
Em 1833, publicou-se o primeiro Código Comercial, onde se estipulavam as
regras do comércio interno e externo.
As medidas socioeconómicas lançadas por Mouzinho da Silveira, assentavam
então na libertação das terras, na extinção do dízimo, e de outras obrigações à coroa e,
ainda, a salvaguarda do direito ao trabalho e à liberdade individual.

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