Você está na página 1de 8

MUNDI - CENTRO DE FORMAÇÃO TÉCNICA Módulo III - Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica

CAPÍTULO 07

SISTEMAS HÍBRIDOS BIOGÁS-EÓLICO-SOLAR

As instalações de biogás-eólico-solar estão ganhando


Os sistemas híbridos representam uma forma importante
notável signi­ficado como conceitos híbridos. O aumento
de uso das energias renováveis para aplicação no
dos gases provenientes de decomposição de matéria
planejamento descentralizado e no suprimento energético
orgânica oferece um potencial de energia cres­cente, que
de localidades isoladas. Combinando diversas fon­tes e
pode ser utilizado em centrais térmicas para suprir a
considerando as características específicas de cada uma
demanda de energia descentralizada.
delas (por meio do melhor uso da sinergia global) e o perfil
do consumo; tais siste­mas buscam otimizar o uso global
Em relação aos sistemas autônomos, os híbridos
energético. Os sistemas híbridos po­dem ser formados
apresentam a van­ tagem de proporcionar melhor
apenas por fontes renováveis ou pela combinação
serviço elétrico e custos menores. São, no entanto,
de renováveis com não renováveis. Dependendo das
mais complicados de integrar-se adequadamente e sua
condições climáticas, assim como da estrutura regional,
operação depende largamente dos sistemas de controle.
pode-se ter diferentes possibilidades de combinações.
SISTEMAS DE GERAÇÃO COM MINIRREDES
SOLAR-DIESEL E EÓLICO-DIESEL
Conforme já apresentado no Capítulo 1, com relação aos
Nesse sistema, combina-se a disponibilidade de algum
sistemas descentralizados, existem muitas comunidades
tipo de com­ bustível com a energia solar ou eólica. Esses
pequenas, afastadas das redes de distribuição de energia
combusúveis podem ser, por exemplo: óleo diesel (o
elétrica, que provavelmente nunca serão atendidas
mais comum), gasolina, gás, biomassa local. Atualmente
por extensão da rede pública por razões econômicas.
são empregados comercialmente sistemas de geradores
Até pouco tempo, a única solução adotada para esses
die­sel-solar e diesel-eólico para alimentação de regiões
locais isolados era a gera­ ção a diesel com distribuição
isoladas numa am­pla gama de potência. Um exemplo de
de eletricidade através de uma minirrede. No entanto,
utilização do solar-diesel é a alimentação de instalações
geradores diesel apresentam um alto custo operacional
de telecomunicações. Esse tipo de sistema é de grande
de­vido ao alto valor e à quantidade de combustível e óleo
significado econômico em regiões de dificil acesso.
lubrificante consumidos e aos altos custos da logística
para transporte e armazenagem de combusúveis e da
SOLAR-EÓLICO
manutenção mecânica e elétrica. Além disso, do ponto
de vista socioambiental há desvantagens relacionadas a
Essas duas fontes de energia normalmente se comportam
possí­veis vazamentos, à emissão de gases poluentes e à
conjuntamente de forma anticfclica, o que conduz a uma
emissão de ruídos.
nivelação da oferta de energia durante o dia. Dependendo
da latitude, as menores intensidades do vento se dão no
Todos esses aspectos negativos do fornecimento de
verão, quando as condições de radiação solar são ótimas.
energia elétrica através de grupos geradores diesel
podem ser minimizados, ou até mes­mo eliminados, com a
DIESEL-EÓLICO-SOLAR
implantação de sistemas autônomos, descentra­lizados de
geração de eletricidade que utilizam recursos energéticos
A combinação de instalações de energia solar-eólica
lo­cais, como os sistemas híbridos citados anteriormente.
com geradores diesel leva a conceitos híbridos que se
Conforme visto, existem muitos produtos disponíveis,
projetam para o abastecimento se­guro em redes isoladas.
tais como módulos fotovoltaicos e turbinas eólicas de
Este tipo de instalação permite um serviço confiá­vel e
pequeno porte, para utilização em sistemas indivi­duais
atrativo economicamente, pois um maior aproveitamento
de geração de energia elétrica para eletrificação rural em
dos recur­sos locais pode significar uma economia
locais afastados da rede de distribuição. Na medida em
substancial de combustíveis, com a vantagem de poder
que demandas aumen­tam e/ou distâncias entre cargas se
alimentar cargas maiores, como câmaras frigorífi­cas e ar-
encurtam, a adoção de um sistema de geração de energia
condicionado. Esse sistema representa uma alternativa
centralizado com distribuição através de uma minir­rede
à geração a diesel convencional em sistemas isolados de
de distribuição parece mais razoável.
países em desenvolvimento.
No cenário internacional, hoje, o termo equivalente em

77
COPYRIGHT © 2007 by@ MUNDI LTDA. PROPRIEDADE INTELECTUAL PROTEGIDA. PROIBIDA SUA REPRODUÇAO TOTAL OU PARCIAL
MUNDI - CENTRO DE FORMAÇÃO TÉCNICA Módulo III - Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica

inglês micro­ grids é utilizado para designar um sistema por geração adie­sel ou equivalente.
de geração de energia, normal ­ mente com pequenos
geradores de fontes renováveis associados opcio­nalmente Do ponto de vista técnico, o sistema aqui enfocado
a sistemas de armazenamento de energia e outros apresenta certo grau de sofisticação, associado
geradores despacháveis, que utilizam componentes principalmente à sua forma de controle. Devido aos custos
especiais de regulação e uma rede de distribuição para iniciais ainda altos, a maioria dos projetos existentes pelo
atender aos consumidores sem estar necessaria­mente mundo tem sido desenvolvida com apoio financeiro de
interligado ao sistema elétrico nacional. Já existe uma instituições e empresas internacionais interessadas no
grande ga­ma de aplicações e de experiências em nível assunto.
internacional que pode ser referenciada com relação aos
aspectos técnicos e socioambientais. No Bra­sil, encontra- Nesse contexto, o sistema de geração com minirredes
se em fase de projeto um primeiro projeto piloto de é formado por seus geradores e cargas, um sistema de
geração com minirrede previsto para instalação em ilhotas armazenamento de energia, um tipo de acoplamento
próximas à ilha de Marajó, no Pará. das fontes de energia (exemplo em CA 127V/60 Hz),
um sistema de troca de informações padronizado e um
De forma simplificada, o termo minirrede pode ser controle super­ visório. Essa formação permite que o
usado para des­crever a solução de atendimento para sistema seja adaptável e expansível, cobrindo assim
locais isolados e com baixa de­manda, diferente daquela quase todas as situações de fornecimento de energia.A
que utiliza sistemas individuais de geração com fontes Figura 6.1 mostra um diagrama geral de um sistema desse
intermitentes de energia (solar, eólica, micro centrais tipo instala­ do na Gâmbia, com arquitetura baseada no
hidrelétricas sem reservatórios), complementadas ou não acoplamento puramente em CA, monofásico, 230 V 50 Hz.

Figura 6.1 Arquitetura do sistema na Vila de Darsilami - Gâmbia


A seguir, são apresentadas algumas características básicas principal, gerador ou inversor/ baterias, com capacidade
de um sistema desse tipo, que pode servir de base para de estabelecer e controlar os parâmetros de tensão e
pesquisas mais apro­fundadas. frequência da minirrede elétrica. O sistema necessita
ter ao me­n os uma unidade formadora de rede que é
Um aspecto importante é que a integração entre os responsáve l pela partida (energização) e pela referência
diversos compo­nentes implica que estes devem contar de tensão/frequência aos outros compo­nentes do
com funções especiais de contro­le. Do ponto de vista sistema.
do controle do fluxo de potência, os componentes do
sistema podem ser classificados em três tipos principais: • Unidade de suporte à rede:gerador, inversor/
unidade for­madora de rede, unidade de suporte de rede bateria, ou carga contro­lável, cujo despacho de potência
e unidade paralela à rede, definidas assim: ativa e reativa é determinado de for­ma a auxiliar na
regulação dos parâm etros de tensão/frequência da
• Unidade formadora de rede: componente minirrede.

78
COPYRIGHT © 2007 by@ MUNDI LTDA. PROPRIEDADE INTELECTUAL PROTEGIDA. PROIBIDA SUA REPRODUÇAO TOTAL OU PARCIAL
MUNDI - CENTRO DE FORMAÇÃO TÉCNICA Módulo III - Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica

• Unidade paralela à rede: gerador, tais como terrestre, ocupando uma área de 361 milhões de km2.
aerogerador ou inversor/mó­dulo fotovoltaico, ou carga Considerando-se que a média de energia solar incidente
não controlável, que tem a prioridade para injetar/ sobre a su­perfície dos oceanos é de 176 W/m2, poder-
consumir toda a energia produzida/demandada. se-ia efetuar uma estimativa do potencial dessa fonte
renovável, da ordem de 40 bilhões de MW, se tudo
Dependendo da configuração ou topologia adotada corresse bem e seu uso integral fosse possível. A energia
pode haver so­mente uma unidade formadora de rede, contida nos oceanos existe na forma de marés, ondas,
um gerador diesel ou um in­versor/baterias funcionando gradiente térmico, salinidade, correntes e biomassa
como uma unidade mestra, característica de um sistema marítima. Embora o fluxo total de energia de cada uma
relativamente simples e fácil de implementar; ou pode dessas fontes seja grande, apenas uma pequena fração
haver várias unidades formadoras de rede em paralelo, desse potencial é passível de ser explorado num futuro
em modo multimestre, oferecendo mais flexibilidade e previsível. Há duas razões para isso: primeiro, a energia
confiabilidade em função da redundância de geradores, oceânica é de baixa densidade, requerendo uma planta de
porém aumentando a complexidade em termos de grande porte para sua captação; e, segundo, essa energia
controle do sistema. frequentemente está disponível em áreas distantes dos
grandes centros de consumo.
Além disso, é importante citar que o sistema possui
diferentes tipos de arquitetura, determinados pela forma ENERGIA DAS MARÉS
de acoplamento das unidades geradoras: acoplamento
dos geradores no barramento de corrente contí­nua (CC), As marés são criadas pela atração gravitacional que a lua
acoplamento dos geradores no barramento de corrente exerce sobre a Terra. A energia das marés é proveniente
alter­nada (CA) e acoplamento misto dos geradores (CC e do enchimento e esvaziamen­to alternados das baías e dos
CA). estuários e, sob certas condições que fazem com que o
nível das águas suba consideravelmente na maré cheia,
Uma experiência importante relacionada com esses essa energia pode ser eventualmente utilizada para gerar
sistemas é a que se relaciona com a interação com a energia elétrica. Um esquema de aproveitamento das
comunidade que vai receber energia. Como o sistema é marés contém uma barragem, construí­da num estuário
dimensionado sem (ou praticamente sem) folgas, cada e equipada com uma série de comportas, que permite a
consumidor tem de se ater a consumir o que lhe estava entrada d’água para a baía.
previsto, e não mais, pois isso prejudicaria a comunidade.
Esse controle dá origem a di­versas sugestões para manter A eletricidade é gerada por turbinas axiais cujos
o funcionamento adequado. Uma delas é a implantação diâmetros chegam a atingir até 9m. Como a vazão d’água
de sistema de pré-pagamento: quando o consumo de uma varia continuamente, os ângulos do distribuidor, as pás
unidade passa acima do previsto (e pré-pago), a energia é das turbinas, ou ambos, são regulados para a má­xima
cortada até o próximo período, em geral mensal. eficiência. Se a turbina for usada em ambas as direções
(na subida e na descida da água), para geração de
Dentre os diversos trabalhos e experiências sobre eletricidade, ou para bombeamento, é necessária uma
o assunto, relatando aspectos tanto positivos como dupla regulação.
negativos, encontrados através de pes­quisas nos sites
http://microgrids.power.ece.ntua.gr/microfdefault.php Dois tipos de turbinas podem ser usadas: turbina bulbo
e http:/fcerts.lbl.govf (Projeto Consortium for Electric convencional e turbina Straflo (de Straight Flow).
Reliability Techno­ logy Solutions - CERTS), podem ser
citados: o sistema híbrido solar e diesel na vila de A barragem pode ser operada de diversas maneiras.
Darsilami, Gâmbia (Figura 6.1), um artigo apresentando O método mais simples e utilizado é conhecido como
a experiência da Índia e da França, esta última enfocando geração na maré alta. Durante a ma­ré alta, a água entra
eletrificação ru­ral, alimentação a ilhas e pequenas vilas; na baía através das comportas e é mantida até a maré
a experiência negativa da Guia­na Francesa com sistemas recuar suficientemente e criar um nível satisfatório em
fotovoltaicos e diesel; experiências da África do Sul, que a água é libe­rada através das turbinas para geração de
inclusive com pré-pagamento; experiências do México, eletricidade. O processo de li­beração das águas é mantido
China, Ban­gladesh, Quênia, Sri Lanka. até a maré começar a subir novamente, fa­zendo com que
a diferença de nível caia abaixo de um ponto de operação
ENERGIA DOS OCEANOS mínimo. Tão logo a água comece a subir, esta começa a
entrar na baía novamente, repetindo o ciclo.
Os oceanos estendem-se por 71% da superfície do globo Um segundo método, chamado flood generation, gera
79
COPYRIGHT © 2007 by@ MUNDI LTDA. PROPRIEDADE INTELECTUAL PROTEGIDA. PROIBIDA SUA REPRODUÇAO TOTAL OU PARCIAL
MUNDI - CENTRO DE FORMAÇÃO TÉCNICA Módulo III - Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica

eletricidade no ciclo inverso ao anterior, quando a maré atmosfera. Além disso, a barragem pode proteger a costa
flui para fora da baía. Essa técni­ca não é especialmente na ocorrência de tempestades marítimas.
eficiente, pois a natureza da inclinação das baías
geralmente resulta em baixa produção de energia. No entanto, no projeto da barragem deve-se identificar
cuidadosamente o impacto no ecossistema local antes
Outro método consiste em extrair energia da maré de sua construção. Ou seja, de­ve-se analisar a qualidade
alta e baixa. No entanto, nem sempre significa mais da água, tipo de sedimentação, peixes e aves marinhas.A
energia porque a geração de energia durante a subida construção de barragens afeta o regime hidrodinâmico
da maré restringirá o re-enchimento da baía e limitará do estuário, reduzindo tipicamente pela metade o
a quantidade de energia que pode ser gerada durante a alcance das marés, das correntes e da área interrnaré. A
maré alta. Além disso, a geração nos dois sentidos exige mudança no regime hidrodinâmico pode influenciar tanto
máquinas complexas e pode im­pedir a navegação devido a qualidade da água como a composição e o movi­mento
à diminuição do nível da baía. dos sedimentos. Isso pode ter efeito na cadeia alimentar
de aves, peixes e invertebrados.
Usinas reversíveis podem ser usadas para bombear a água
do mar para a baía, ou vice-versa, dependendo do tipo Outros Aspectos de Interesse Relacionados à Utilização
de usina. Operando a turbina no modo reverso, agindo da Energia das Marés
como bomba, o nível d’água na baía pode ser aumentado,
elevando as características operativas. O custo de um sistema para aproveitamento das marés
depende não somente do seu desempenho operacional.
Energia Gerada mas do custo inicial, que é elevado se comparado a outros
tipos de geração, como a energia eólica, representando
Localizada numa baía conveniente, a máxima energia que 30% a mais. Assim sendo, este tipo de empreendimento
se pode re­tirar das marés é dada pela expressão: que produz apenas uma parte de sua capacidade
instalada possui um lon­ go período e baixas taxas de
retomo do investimento.Um sistema de médio porte (240
MW) foi construído no estuário Ran­ce na Inglaterra, costa
oeste da França. Uma turbina de 18 MW foi instala­da na
metade da década de 1980 no Canadá e uma quantidade
de peque­nos aproveitamentos tem sido construída ao
redor do mundo, incluindo um protótipo num estuário na
Rússia e diversos na China. O uso da energia das marés
representa a possibilidade de utilização de energia reno­
Um fator importante a considerar é o comprimento L da vável em grande escala e existem ao redor do mundo
barragem, necessário para fechar a baía (e aprisionar a diversas regiões que apresentam um bom potencial para
água depois que ela é levada pela maré). O parâmetro L/S aproveitamento das marés. São consi­derados locais com
permite comparar diferentes locais: um va­lor pequeno de bom potencial aqueles que apresentam variações de
L/S é sempre desejável. marés entre 4 e 10 metros ou 5 a 20 GW a custos razoáveis.

O fator de capacidade desse tipo de aproveitamento No Brasil, existem três lugares potencialmente adequados
é de cerca de 25%. Deve ser salientado que, embora as à constru­ção dessas usinas: na foz do Rio Mearim,
marés sejam fenômenos previsíveis, a energia produzida no Maranhão, na foz do Tocan­tins no Pará, e na foz da
pelas usinas maremotrizes, por ser função de ciclo das margem esquerda do Amazonas, no Amapá.
marés, não é utilizável para seguir a curva de carga,
sendo, portanto, o uso das maremotrizes mais indicado ENERGIA DAS ONDAS
na complementação de outras fontes de produção de
eletricidade. As ondas, criadas pela interação dos ventos com a
superfície do mar, apresentam energia cinética, que é
Impacto Ambiental da Utilizaçã o da Energia das Marés descrita pela velocidade das partículas d’água, energia
potencial, que é uma função da quantidade de água
O aproveitamento de energia das marés pode trazer des­locada do nível médio do mar. O aumento da altura
inúmeros benefí­cios ambientais, pois a sua utilização, e do período das ondas e, consequentemente, dos
como substituição à geração a partir de combustíveis níveis de energia depende essencial­mente da faixa da
fósseis, pode evitar a emissão de CO2 e carvão na superfície do mar sobre o qual o vento sopra, e de sua
80
COPYRIGHT © 2007 by@ MUNDI LTDA. PROPRIEDADE INTELECTUAL PROTEGIDA. PROIBIDA SUA REPRODUÇAO TOTAL OU PARCIAL
MUNDI - CENTRO DE FORMAÇÃO TÉCNICA Módulo III - Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica

duração e intensidade. Influem ainda sobre a formação Os sistemas de extração de energia apresentados na Figura
das ondas os fe­nômenos de marés, as diferenças de 7.1 podem interagir com as ondas de diversas maneiras,
pressão atmosférica, os abalos sísmi­ cos, a salinidade e a de acordo com algumas de suas propriedades, tais como:
temperatura da água.
• Variação no perfil da superfície (inclinação e altura
A maior concentração da energia das ondas ocorre entre das ondas).
as latitudes 40° e 60° em cada hemisfério, onde os ventos • Variações de pressões abaixo da superfíde.
sopram com maior inten­ sidade. A conversão de energia • Movimento orbital das partículas fluidas abaixo da
das ondas em eletricidade não é simples devido à baixa superfície.
frequência das ondas (ao redor de 0,1 hertz), devendo ser • Movimento unidireciona l de partículas, ou
aumentada para a velocidade de rotação das máquinas seja, movimento de grandes massas d’água na
elétricas e mecâ­ nicas convencionais, em tomo de 1.500 arrebentação, que pode ser provocado natural ou
e 1.800 rpm. artificialmente.

FIGURA 7.1 Representação simbólica de vários tipos de equipamentos de aproveitamento das ondas

Esses sistemas podem incluir: estruturas flutuantes, que reservatório na linha da costa.
são balsas que ficam atracadas na superfície do mar ou
perto dela; estruturas articuladas, chamadas “seguidores Potência Disponível nas Ondas
de superfície”, pois acompanham o perfil das on­ das;
equipamentos de bolsas flexíveis que enchem de ar com o A energia potencial por ciclo, de uma frente de onda de
crescimen­to das ondas; colunas d’água oscilantes (OWC), largura L no oceano é a energia da água situada aàma do
que agem como um pis­tão para bombear ar (estes podem nível médio do mar. A po­tência disponível em um ciclo da
flutuar ou serem fixados na superfície do mar ou abaixo onda será, então, a variação total desta energia potencial.
dela); e equipamentos de focalização que usam câmaras
perfiladas que aumentam a amplitude das ondas e, Demonstra-se que essa potência, por unidade de
portanto, acionam bombas pneumáticas ou enchem um comprimento da onda (L), pode ser estimada por:

81
COPYRIGHT © 2007 by@ MUNDI LTDA. PROPRIEDADE INTELECTUAL PROTEGIDA. PROIBIDA SUA REPRODUÇAO TOTAL OU PARCIAL
MUNDI - CENTRO DE FORMAÇÃO TÉCNICA Módulo III - Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica

de fonte. Com base na experiência de Portugal, que


possui instalado na Ilha do Açores urna unidade de 400
kW, têm sido realizados estudos de levantamento de
potencial e recurso técnicos que poderão ser utilizados na
implementação de um primeiro protótipo. Tais estudos
estão sendo realizados na Coppe/UFRJ.

As centrais movidas a onda, assim como as demais


fontes alternati­vas, possuem custo de capital elevado,
Por exemplo: se h= 6 me L = 60 m, resulta que p = 36
fortemente dependente do tipo de sistema empregado.
wattsfmetro. Esta é uma densidade linear de energia
No entanto, os custos operacionais são reduzidos, pois
bastante pequena, necessitan­do utilizar captadores de
não há consumo de combustíveis, e os custos de operação
grandes dimensões para obter uma quantidade razoável
juntamente com os de manutenção são baixos. Como
de energia das ondas.
exemplo de custos, a usina de Portugal tem um custo de
geração em torno de US$ 0,23/kWh. O modelo utilizado
Impacto Ambiental da Utilização da Energia das Ondas
é composto por uma caixa de concreto pela qual entra a
água do mar. A turbina que alimenta o gerador elétrico é
A energia das ondas pode parcialmente substituir a energia
acionada a partir do ar dentro da caixa, comprimido pelo
prove­niente das fontes fósseis, portanto, pode contribuir
movimento das ondas.
para a redução das emissões de gases na atmosfera.
Sua implantação pode causar efeitos ambientais
ENERGIA PROVENIENTE DO CALOR DOS OCEANOS
dependendo do local. Alguns benefícios provenientes
(GRADIENTE TÉRMICO)
desse aproveitamento podem ser relacionados, tais como
a criação de áreas atrativas para peixes, aves aquáticas,
Uma parte significativa da radiação solar incidente na
focas e algas marinhas. Os possíveis efeitos da sujeira das
superfície da Terra é usada no aquecimento das águas dos
pinturas dos equipamentos no ecossistema local devem
oceanos. Essa temperatura decresce com a profundidade.
ser considerados.
O conceito de conversão de energia tér­mica dos oceanos
(Ocean thermal energy conversion - Otec) explora essa
O ambiente costeiro pode ser afetado pela modificação
diferença de temperatura para produzir eletricidade.
do clima das ondas locais, ou seja, a redução de energia
Nas regiões tropi­cais, a superfície do mar chega a atingir
das ondas pelos equipamentos pode, em teoria, afetar a
temperaturas próximas de 25°C, em contraste com os soe
densidade e a composição das espécies dos organismos
de temperatura existentes em profundidades de 1.000 m.
residentes. Os equipamentos podem oferecer perigos às
Como a eficiência da operação dos ciclos de potência é
em­barcações devido a sua reduzida altura sobre as águas,
bai­
xa com pequenas diferenças de temperatura, uma
tornando-os invi­síveis a olho nu ou radar.
Otec é viável apenas em regiões com gradiente térmico
de 20°C ou mais.
Outros Aspectos Relacionados à Utilização da Energia
das Ondas
As plantas Otec podem ser construídas em terra ou
instaladas em plataformas flutuantes ou barcos no mar.
A crise do petróleo em 1973 deu impulso ao interesse em
Em ambos os casos, o compo­nente essencial é o enorme
maior esca­la por fontes renováveis de energia, e uma em
tubo requerido para levar a água fria à super­fície. Para
especial, já conhecida des­de o início do século, mas ainda
uma planta de 100 MW, o tubo pode alcançar 20 m de
pouca explorada, é a energia das ondas. Devido ao grande
diâ­metro e comprimento de 600 a 1.000 m.
potencial existente, o Reino Unido investiu em pes­quisas
e um grande número de equipamentos foi inventado,
Essas plantas são projetadas para trabalhar em ciclos
matemati­camente modelado e experimentalmente
fechados ou abertos, conforme esquemas das Figuras
testado com o suporte de pa­trocinadores comerciais e do
7.2 e 7.3. Em ciclo fechado, a água quente da superfície
Departamento de Energia (DOE).
é bombeada para um evaporador, no qual um fluido de
trabalho (amônia, propano ou freon) é evaporado. O
Vários protótipos têm sido testados em diversos países
vapor flui através da turbina para o condensador, onde
do mundo, co­mo Noruega, Portugal, Escócia, Índia, China,
é refrigerado e condensado pela água fria bombeada
Dinamarca, entre outros.
da profundidade do oceano. O fluido conden­sado é
bombeado de volta para o evaporador, fechando o ciclo.
No Brasil, também existem estudos relativos a este tipo
Num ciclo aberto, a água do mar serve como fluido de
82
COPYRIGHT © 2007 by@ MUNDI LTDA. PROPRIEDADE INTELECTUAL PROTEGIDA. PROIBIDA SUA REPRODUÇAO TOTAL OU PARCIAL
MUNDI - CENTRO DE FORMAÇÃO TÉCNICA Módulo III - Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica

trabalho e fonte de ener­gia. A água quente do mar é de vapor suficiente para acionar um gerador e produzir
evaporada numa pressão baixa (0,03 bars) num flash eletricidade.
evaporator. O vapor resultante passa então através da
turbina e é condensado ou pelo contato direto com a A potência que pode ser retirada do sistema depende do
água fria do mar ou pelo condensador de superfície. fluxo de calor (e, portanto, de água quente) multiplicado
pela eficiência de conversão em eletricidade (a eficiência
Em ambos os casos, a condensação do vapor causa de um ciclo de Rankine).
diferença de pres­são através da turbina, que cria um fluxo P = Q x ƞR

Figura 7.2 Planta Otec operando em ciclo fechado

Figura 7.3 Otec operando em ciclo aberto


Por exemplo, a queda de temperatura do propano é de Por exemplo, num sistema onde Ti = 22°C e Tf = 13°C, a
1,7°C ao pas­ sar pelo evaporador. Pode-se mostrar que o eficiência ηR será 0,0288 ou 28,8%.
fluxo de água φ é:
O fluxo de água necessário para gerar 100 MW é, pois, de
29,2 x 106 litros por minuto.
Em que TJR (a eficiência de um ciclo de Rankine) é de, Uma observação interessante é que a potência de
aproximadamente, 90% de um ciclo de Camot operando um sistema Otec varia com o cubo do gradiente
entre as mesmas fontes. de temperatura disponível (∆T), pois a po­tência é
proporcional à eficiência do ciclo de Camot (isto é, a ∆T),
ao fluxo de calor transferido por condução nos trocadores
de calor (que variam com ∆T) e ao fluxo de líquido que

83
COPYRIGHT © 2007 by@ MUNDI LTDA. PROPRIEDADE INTELECTUAL PROTEGIDA. PROIBIDA SUA REPRODUÇAO TOTAL OU PARCIAL
MUNDI - CENTRO DE FORMAÇÃO TÉCNICA Módulo III - Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica

passa pelas superfícies dos trocadores de calor que como


se pode demonstrar, também varia com ∆T. Assim,

P = (∆T)3

Impacto Ambiental da Utilização de uma Otec

A operação de uma Otec ocasiona vários efeitos


ambientais, alguns difíceis de analisar. O grande fluxo de
água quente e fria poderia modi­ficar os padrões locais
ou mesmo globais do tempo, embora a evidên­cia seja
escassa. Outro problema relaciona-se com o dióxido de
carbono contido nas águas profundas do oceano que
poderia ser liberado na at­mosfera quando bombeado e
aquecido no condensador. No entanto, a quantidade de
dióxido de carbono liberada é muito inferior a uma plan­ta
a óleo ou carvão equivalente.

Um sistema Otec pode também afetar o ecossistema


local devido a mudanças provocadas na temperatura e
salinidade da água.

84
COPYRIGHT © 2007 by@ MUNDI LTDA. PROPRIEDADE INTELECTUAL PROTEGIDA. PROIBIDA SUA REPRODUÇAO TOTAL OU PARCIAL

Você também pode gostar