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ISSN: 1415-0549
e-ISSN: 1980-3729
RESUMO ABSTRACT
O presente artigo tem como objetivo principal The present article has as main objective the theoretical
a apresentação teórico-metodológica de um and methodological presentation of an emerging
emergente subcampo de estudo dentro do âmbito subfield of study within the scope of communication,
da comunicação, denominado “Neurociência called “Communication Neuroscience”, which links
da Comunicação”, o qual liga mecanismos neurocognitive mechanisms underlying directly
neurocognitivos subjacentes a resultados diretamente observable results to understand the processes by
observáveis para entender os processos pelos quais which messages exert influences on individuals and
as mensagens exercem influências sobre indivíduos groups. Such an approach becomes interesting as an
e grupos. Tal abordagem se torna interessante como aggregating factor to traditional reception studies,
fator agregador aos estudos tradicionais de recepção, especially when such mechanisms are outside the
principalmente quando tais mecanismos se encontram conscious perception of the individual, like emotions,
fora da percepção consciente do indivíduo, como for example. Thus, we will explore its conceptual
é o caso das emoções, por exemplo. Assim sendo, boundaries, research methodologies and results
buscaremos explorar suas delimitações conceituais, obtained, as well as signaling a series of future research
metodologias de pesquisa e resultados obtidos, além possibilities considering its insertion in the current
de sinalizarmos uma série de possibilidades futuras de national academic context.
pesquisa considerando sua inserção no atual contexto
acadêmico nacional. Keywords: Communication. Neuroscience. Reception.
Introdução
Dada a natureza complexa das questões de pesquisa que abordam os
processos e efeitos da comunicação, entre outros fatores, não é surpresa que
certos avanços teóricos e metodológicos tenham surgido a partir de estudos
em múltiplas disciplinas, uma vez solidificado o caráter heterogêneo deste
campo do saber. Recentemente, essa abordagem interdisciplinar também se
expandiu para incluir os processos neurais examinados, principalmente, com
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a) Eletroencefalograma (EEG):
Se refere basicamente à gravação da atividade elétrica cerebral que
chega ao couro cabeludo humano. O EEG se constitui em uma touca de laycra
contendo 32, 64, 128 ou mais eletrodos, dispostos de forma a preencher toda a
área do escalpo (superfície da cabeça) do participante, em pontos previamente
determinados e mantendo um paralelismo entre os dois hemisférios do cérebro.
Possui alta resolução temporal (capacidade de poder relacionar um estímulo
à atividade obtida na ordem de milissegundos) e baixa resolução espacial (é
menos apto a fornecer informações precisas sobre a origem anatômica do sinal
elétrico), menor custo de coleta de dados em comparação com outras técnicas
de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional, por exemplo, e
maior flexibilidade de utilização, pois possibilita que o indivíduo exerça com
liberdade determinadas atividades cognitivas e motoras mais próximas à sua
própria realidade (Harmon-Jones e Peterson, 2009), aumentando com isso
a validade ecológica dos dados obtidos. Sendo capaz de detectar tanto a
duração quanto a intensidade da atividade cortical, esta ferramenta pode ser
extremamente útil na análise entre a apresentação de uma mensagem midiática
e sua ativação neural correspondente, ou seja, é possível conhecer, por exemplo,
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c) Eyetracker:
Em linhas gerais, este aparelho registra a atividade/comportamento ocular
dos indivíduos quando submetidos a estímulos visuais, fornecendo informações
como tempo de fixação em cada área de interesse, ordem de processamento
dos elementos presentes no estímulo, entre outros. Ou seja, sinaliza os locais
para os quais o indivíduo direcionou (voluntaria ou involuntariamente) sua
atenção visual, como forma de processamento da mensagem. Além disso,
alguns equipamentos também permitem detectar alterações no diâmetro
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d) Condutância da pele:
As medidas relacionadas à essa ferramenta captam pequenas variações
de suor que ocorrem na pele, gerando respostas galvânicas rápidas em sua
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anúncios por sua atratividade enquanto sua atividade cerebral era medida.
Os resultados indicaram que tal atratividade percebida levou a uma ativação
mais forte no córtex pré-frontal ventromedial, responsável pela integração das
emoções no processo de tomada de decisão, e também no núcleo accumbens,
onde os anúncios atraentes podem funcionar como estímulo de recompensa.
Rossitere e outros (2001) verificaram, através da utilização do EEG, que era
possível determinar quão bem os anúncios são lembrados a partir de padrões
de ativação neural. Os participantes (n=35) assistiram a uma série de diferentes
comerciais e foram questionados, após completarem a visualização de todos
eles, quais cenas específicas eles se recordavam com certeza (uma medida
de auto-relato). Os resultados deste experimento indicaram que as cenas que
evocaram respostas rápidas no hemisfério esquerdo foram as mais lembradas.
Já em relação aos estudos de marca, Schaefer e outros (2006), através da
utilização de fMRI, analisaram quais os correlatos neurais do conhecimento de
marcas. Para isso, foi apresentada uma série de marcas familiares e não familiares
de automóveis aos participantes (n=13), que deveriam imaginar a si mesmos
dirigindo tais veículos. Ativações significativas foram encontradas no córtex
medial pré-frontal (MPFC2) quando os sujeitos foram expostos a informações
de marcas conhecidas, confirmando a importância desta região cerebral para
o processamento de marcas que possuem uma base cultural consolidada.
Além disso, as marcas podem funcionar como pressentimentos subconscientes
que influenciam o processo de tomada de decisão, antes mesmo que os
participantes pudessem começar a pensar sobre as vantagens e desvantagens
dos automóveis apresentados.
Por fim, Yoon e outros (2006), também utilizando fMRI, verificaram se
as pessoas constroem conexão com uma marca de modo semelhante a um
relacionamento social. Os participantes (n=25) foram escaneados enquanto
faziam julgamentos sobre a atribuição de determinados adjetivos a produtos
e pessoas. Os resultados apontaram que a caracterização de pessoas leva
a uma maior ativação do córtex medial pré-frontal (MPFC) em comparação
com a caracterização de marcas. Para a avaliação dos atributos do produto,
foi detectada uma ativação mais forte em áreas cerebrais relacionadas ao
objeto. Como principal conclusão, os autores sugeriram que o conceito de
“personalidade da marca” deve ser revisto, uma vez que não é possível transferir
atributos humanos para marcas de maneira ilimitada.
Os exemplos aqui condensados sinalizam o caráter interdisciplinar das
ferramentas metodológicas da neurociência da comunicação, que podem
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Considerações finais
Ao longo do presente artigo, procuramos contextualizar este emergente
subcampo de estudo dentro do âmbito da comunicação, denominado
“neurociência da comunicação” (Falk, 2010; 2013). Sua natureza é interdisciplinar,
pois é constituído na interseção entre biologia, cognição, computação e
comunicação. Mais especificamente, acreditamos que sua maior contribuição
esteja relacionada aos estudos de recepção, principalmente na sua associação
com a percepção, uma vez que o processamento neurocognitivo das mensagens
midiáticas é condição sine qua non para todo e qualquer tipo de manifestação
decorrente de seu consumo/fruição, sejam elas relacionadas à produção de
sentido, circulação, enunciação, entre outras. Assim, passamos a considerar a
importância atribuída aos mecanismos que estão fora da percepção consciente
do indivíduo nesses processos receptivos, cujo acesso só é possível através
das ferramentas metodológicas que obtenham informações não diretamente
observáveis, como as oriundas da neurociência discutidas aqui. Entretanto, por
ser historicamente muito recente, sua atuação, assim como a todo e qualquer
campo do saber, está sujeita a críticas e considerações, das quais sinalizamos
algumas na sequência.
Em primeiro lugar, destacamos a dualidade “laboratório x realidade” na
realização dos experimentos. Apesar do contínuo avanço tecnológico permitir
o surgimento de máquinas portáteis, como eyetracker e EEG, por exemplo, a
grande maioria das coletas ainda é feita em laboratórios especializados que
em quase nada se assemelham ao ambiente natural de consumo midiático
cotidiano. Nesse sentido, seria interessante verificar o efeito do local no
processamento neurocognitivo em um mesmo indivíduo, ao ser impactado pela
mesma mensagem nessas duas situações. Um outro fator que pode impedir o
uso mais frequente de ferramentas móveis é seu custo elevado em comparação
com suas respectivas versões “de laboratório”.
Em segundo lugar, os estudos de neurociência da comunicação se
limitam ao processamento neurocognitivo que acontece apenas no exato
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