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Material de Estudo Física e Matemática

Tutor: Fábio Carvalho dos Santos. Estudante de Engenharia Mecânica, UFF-Niterói.

Ano: 2020

TÍTULO:
FÍSICA SABER MAIS,
DE ALUNO PARA
ALUNO

CAP.2 A LÓGICA E O
CAMINHO DA CIÊNCIA
2.1 BUSCANDO O CONHECIMENTO

2.1.1 NOÇÃO DE TEMPO

Imagina o quanto tempo nossa espécie caminha pela


Terra. Depois imagina o quanto tempo começamos a
escrever e registrar nossa história. Vamos considerar
os estudos que mostram que nossa espécie surgiu há uns
200 mil anos. Historiadores concordam que o período
que a espécie humana começou a deixar registros foi a
partir de 4 mil anos antes de Cristo. Tudo antes disso
é chamado de Pré-história.
E quanto tempo tem o nosso planeta? Usando técnicas
incríveis, que poderemos discutir mais futuramente, os
cientistas descobriram que o nosso planeta tem 4,5
bilhões de anos. Aí começam os problemas! Convido você
para o nosso primeiro experimento!
EXPERIMENTO 1
O objetivo deste experimento é ter uma noção de
escalas de tempo. O que significa 1 bilhão de anos?
1
Para entendermos, você pode usar uma trena .

1
Objeto usado para fazer medidas de distância. Muito comum em obras.
Uma trena pode ter 5 metros, precisamos de apenas 4
metros. Se a trena tiver menos que isso, você pode
medir o máximo dela e imaginar o quanto falta para
chegar em 4 metros. Podemos usar nossa imaginação
também.
Cada metro nesta trena corresponde a 1 bilhão de
anos, ou seja, os 4 metros correspondem a 4 bilhões de
anos. Em nossa trena, 3 metros equivalem a 3 bilhões
de anos. Esse período é muito importante, pois foi por
aí que a vida deve ter surgido. O argumento para isso
2
são evidências fósseis de cianobactérias , que são
organismos que conseguem sobreviver em condições
extremas. Se não tínhamos testemunhas do início deste
evento, nós vamos nos limitar ao que conseguimos ver,
então o registro fóssil de um organismo vivo mais
antigo é em torno de 3 bilhões de anos atrás, ou seja,
os 3 metros da nossa trena.
Os geólogos e químicos são incríveis. Olhando os
traços nas rochas, eles identificam se a região era
coberta pelo oceano, por um rio, ou lago. A erosão
indica se a região foi uma colina, ou uma montanha, ou
mesmo um vale, ou planície. A contagem de chumbo nas
rochas e a datação de carbono indicam o tempo.
Conhecendo a Teoria da Evolução das Espécies, que é um
fato, sabemos que espécies são selecionadas por conta
de estarem adaptadas ao meio ambiente. Pelos fósseis
das primeiras cianobactérias e conhecendo o local onde
foram encontrados, todo os estudos e análises leva-nos
a acreditar que a vida surgiu no mar. Em algum momento,

2
É um grupo de bactérias que obtêm energia por fotossíntese.
os vertebrados tiveram que sair da água. Para descobrir
o momento que isso ocorreu, basta procurar por fósseis
de peixes que tenham adaptações que ainda possam estar
presentes em nós e em outros animais. Um peixe com
pescoço e ossos que se assemelham a mãos viveu cerca
de 300 milhões de anos atrás. Ele seria o elo perdido
entre peixes e anfíbios. Sua espécie é conhecida como
3
Tiktaalik , já extinto. Em nossa trena, esse peixe que
pode ter sido o primeiro a sair da água, ele viveu em
30 centímetros. Olhem só isso: compare os 4 metros da
idade da Terra com os 30 centímetros que correspondem
ao tempo que o vertebrado mais antigo saiu da água.

Figura 1: Uma imagem representando o Tiktaalik se aventurando em terra. Fonte: Wikipédia.

Quem curte dinossauros? Acho que ninguém liga muito


para eles hoje em dia, mas a geração daquele que está
escrevendo aqui (eu) curtiu muito. Os fósseis indicam
que os últimos dinossauros foram desaparecendo há 65
milhões de anos atrás. Em nossa trena, isso ocorreu
nos 6 centímetros.
Bem, somos primatas! Claro, bastante diferente dos
nossos parentes mais próximos: chipanzés, gorilas e
3
Tiktaalik roseae é a única espécie conhecida de Tiktaalik, um género de peixe que
possuem barbatanas com músculo. Ref.: Wikipédia.
orangotangos. Mas em algum lugar em nosso passado,
algum primata deveria apresentar características que
evidenciam uma mudança de um primata que vive em
árvores para um que caminha e até fica ereto. Um
primata com essas características surgiu entre 3 e 4
milhões de ano atrás, pertencendo ao gênero dos
4
australopitecos . Esse período em nossa trena
corresponde a 3, ou 4 milímetros.

Figura 2: Ossos achados de um Australopithecus Afarensis. Foi descoberto que se tratava de


uma fêmea e este achado recebeu o nome de Lucy. Os ossos datam de 3,18 milhões de anos
atrás. Com estes ossos foi criado um modelo em 3 dimensões e foi verificado que a espécime
media 1,10 metros. Uma das espécies do gênero Australopithecus pode ter dado origem ao
gênero Homo, na qual pertencemos. Fonte: G1.

A nossa espécie surgiu 200 mil anos atrás, segundo


os achados paleontológicos. E na nossa trena é menos
da metade de 1 milímetro.
Tudo isso é para compararmos o nosso tempo na Terra.
O planeta de 4 bilhões de anos e nossa espécie viveu

4
Constituem um género de diversos hominídeos extintos, bastante próximos aos do
género Homo e, dentre eles, o A. afarensis e o A. africanus são os mais famosos.
Ref.: Wikipédia.
muito pouco nesse tempo. Na trena não existimos nem a
1 milímetro dentro dos 4 metros da trena.

2.1.2 VISÃO LIMITADA

Se imagine como uma pessoa que quer aprender a jogar


xadrez. Você, a princípio, não sabe jogar e não tem
como conseguir um livro de regras, ou pesquisar na
internet sobre elas. A única forma que você pode
aprender a jogar e vendo os outros jogando. Mas nesta
situação hipotética você não enxerga todo o tabuleiro.
Digamos que você só pode ver 4 quadradinhos neste
tabuleiro.

Figura 3: Os 4 quadrados do tabuleiro, que você pode enxergar.

Como você só enxerga esta parte do tabuleiro, então


não é possível saber o tamanho dele. Não tem como saber
quais são todas as peças e nem como elas se movimentam.
Assim é a nossa relação com a natureza. No início,
nossa visão era ainda mais limitada. Nossos
instrumentos eram apenas nossos sentidos.
Neste xadrez cósmico, você olha bastante concentrado
para estes 4 quadradinhos, até que você vê uma pequena
peça preta, se deslocando 1 quadrado para frente. Você
pode dar um nome para esta peça, é o peão. Você
descreve a lei do movimento do peão: ele se desloca
para frente, quadrado por quadrada a cada rodada. Mas
no seu olhar científico, conhecendo as limitações de
sua visão, deve se perguntar:
 Só existem peões pretos?
 O peão só se desloca para frente?
O tempo passa e digamos que você vê outra peça, que
você identifica como uma torre branca. Na sua visão,
parece que ela pulou quadrados para frente. Então você
imagina que a torre branca se desloca semelhante ao
peão, só que mais rapidamente para frente.
É óbvio que se você observar apenas estes quadrados
não é o suficiente para entender inteiramente o jogo.
Não só isso, mas também você não vai entender a real
movimento das peças, até que você enxergue o peão
capturando uma peça, ou a torre se deslocando
lateralmente, mas isso pode demorar muito.
A consequência disso é que você pode criar teorias
seguindo o que você vê, mas quando o seu olho presencia
algo novo, então você deve modificar a teoria,
acrescentando alguma informação, ou mesmo criando uma
teoria nova. Isso acontece muito na ciência.
Se toda sua observação é limitada pelos seus
sentidos, então não é de se espantar que na antiguidade
acreditava-se que a Terra era o centro do universo
(que era limitado pela visão) e que os corpos celestes
giravam em torno de nós. Filósofos como Aristóteles
defendiam essa ideia, mais de 300 anos antes de Cristo.
Havia quem acreditava que o centro do Universo seria
o Sol, como o filósofo Aristarco de Samos, o primeiro
a propor o modelo Heliocêntrico, cerca de 300 anos
antes de Cristo. Como filósofos mais renomados
desacreditavam nesse modelo, então este foi deixado de
lado. Era muito difícil provar que giramos em torno do
Sol naquela (pelo incrível que pareça, é difícil fazer
alguns acreditarem no heliocentrismo nos dias de
hoje). Mas no céu noturno haviam corpos visíveis que
se deslocavam de formas diferentes. Os antigos não
sabiam que poderiam ser outros planetas (Mercúrio,
Vênus, Marte, Júpiter e Saturno).
Como haviam corpos que se deslocavam de forma
errante, então passaram a acreditar que poderiam ser
Deuses (ah, esses gregos!).

Figura 4: A trajetória de Marte vista da Terra. Em algum momento, parece que o


planeta volta em sua trajetória (movimento retrógrado). Fonte: Brasil Escola.

Ptolomeu viveu entre os anos 90 e 168 depois de


Cristo e foi o primeiro a criar um modelo geocêntrico
que poderia explicar o movimento retrógrado dos
planetas vistos da Terra. Ele acreditava que os
planetas giravam em volta de um ponto central e este
ponto girava em torno da Terra, como da figura 5.
Figura 5: O modelo Ptolomaico. O planeta visto da Terra girava em torno de um
ponto central, que por sua vez girava em torno da Terra. O movimento retrógrado
era devido a uma parte no movimento deste planeta e em nosso referencial daria a
impressão de que o planeta estaria voltando. Fonte: Wikipédia.

Embora Ptolomeu e outros grandes estivessem errados


no modelo geocêntrico, eles seguiam apenas o que podiam
ver. Era como se estivessem tentando conhecer as regras
do xadrez cósmico, olhando apenas 4 quadrados do
tabuleiro. Mas existem pessoas que que se destacam em
sua visão e conseguem enxergar além.
Foi o caso de Eratóstenes, citado no capítulo
anterior. Como somos muito pequenos e a curvatura da
Terra é muito grande, não podemos culpar quem
acreditava que a Terra era plana. Mas Eratósteles ouviu
relatos, observou as sombras e se perguntou: Por que
no dia do solstício, exatamente ao meio dia, as sombras
em Cirene somem, enquanto lá em Alexandria não? Ele
sabia que não fazia sentido na Terra plana. Usando a
matemática da época e medindo a distância entre 2
objetos, cada um em uma das cidades, ele calculou o
ângulo e em seguida obteve o valor da circunferência
da Terra com uma excelente precisão.
Muitas vezes, a parte do tabuleiro que podemos
enxergar é maior do que pensamos que estamos
enxergando. Um bom cientista olha mais atento aos
detalhes e consegue expandir sua visão. Mas na medida
que a humanidade avança, ela expande sua visão do
tabuleiro cósmico.
5
Copérnico viveu entre os anos de 1473 e 1543. Ele
trouxe o modelo heliocêntrico de volta e inspirou
outros. Mas estes eram perseguidos pela igreja, que
direcionava a filosofia durante a idade média. Entre
6
estes perseguidos o Galileu . Apesar da perseguição da
igreja, o surgimento de pessoas que questionavam
alguns pontos da ciência antiga aumentava, em função
do renascimento científico. Novas descobertas
possibilitaram uma visão mais ampla do tabuleiro.
Então certas ideias não faziam mais sentido. Era como
se mil anos no passado estivessem estabelecido que a
torre do xadrez só se deslocava para frente, mas a
nova visão tenha contemplado a torre andando
lateralmente.
Tycho Brahe (1546-1601) era um astrônomo dinamarquês
e no seu tempo foi o cientista que melhor fez leituras
sobre a trajetória dos planetas, em seu tempo. Eram os
melhores dados coletados, com muita precisão e ao longo
de vários anos. Acabou sendo o responsável com ampliar
a visão do tabuleiro. Trabalhou junto ao Johannes
Kepler (Alemanha, 1571-1630), que também era astrônomo

5
Foi um astrônomo e matemático polonês que desenvolveu a teoria
heliocêntrica do Sistema Solar. Ref.: Wikipédia.
6
Foi um físico, matemático, astrônomo e filósofo florentino, que viveu entre os anos
de 1564 e 1642. Ref.: Wikipédia.
e um excelente matemático em sua época. Com a visão
mais estendida, Kepler pode escrever as 3 Leis de
Kepler.
 1ª Lei de Kepler, a lei das órbitas elípticas.

Para entender esta Lei, é preciso entender o que


seria uma elipse. Eu convido você a construir uma!

Primeiro, considere dos pontos e o chamaremos de


𝐹1 e 𝐹2 .

𝐹1 𝐹2

Segundo, vou colocar mais um ponto, o ponto 𝑃.

P 𝑑2
𝑑1
𝐹1 𝐹2

Na ilustração acima, 𝑑1 é a distância entre os


pontos 𝐹1 e 𝑃 e 𝑑2 é a distância entre os pontos 𝐹2 e
𝑃. Vamos assumir que:
𝑑1 + 𝑑2 = 2𝑎.
Nessa equação acima, 2𝑎 simboliza apenas um
número, poderia ser 2 cm, ou 5 m, ou até mesmo 7
milhões de quilômetros.
Terceiro, vamos colocar mais um ponto, agora o
ponto 𝑄.
Q
P 𝑑3
𝑑4

𝐹1 𝐹2

Acima, 𝑑3 é a distância entre os pontos 𝐹1 e 𝑄 e


𝑑4 é a distância entre os pontos 𝐹2 e 𝑄. Aqui é uma
ideia interessante para se construir uma elipse:

𝑑3 + 𝑑4 = 2𝑎.
Ou seja, se somar as novas distâncias teremos o
mesmo valor 2𝑎. E existem infinitos pontos com estas
mesmas características, nessa situação. Se a gente
traçar uma curva com todos estes pontos, vamos obter
a elipse.
Q
P

𝐹1 𝐹2

Uma vez que agora você sabe o que é uma elipse,


fica mais fácil entender a primeira Lei de Kepler. Os
pontos 𝐹1 e 𝐹2 na elipse são chamados de focos desta.
Segundo o Kepler, o Sol ficaria em um destes focos, e
os planetas, entre eles a Terra, giravam em torno dele,
seguindo uma trajetória elíptica.
 2ª Lei de Kepler, esta afirma que se considerar
uma parte da trajetória de um planeta mais
afastado do Sol e outra parte desta trajetória
mais próxima, considerando um mesmo intervalo de
tempo nas duas situações, os setores das figuras
formadas por cada uma dessas partes são iguais,
ou nas palavras do próprio Kepler:

"A linha que liga o planeta ao Sol varre áreas


iguais em tempos iguais."

Você vai entender melhor na figura 6.

Figura 6: A segunda Lei de Kepler. Considerando o intervalo de 1 mês, em qualquer


parte da trajetória do planeta, as áreas dos setores serão sempre iguais. Fonte:
Toda a matéria.

Existe uma consequência muito importante na


segunda Lei de Kepler: nas partes da trajetória mais
próximas do Sol, para as áreas destes setores serem
iguais às áreas dos setores nas partes mais afastadas,
então significa que o planeta deve percorrer uma
distância mais longa, considerando sempre os mesmos
intervalos de tempo. Isso implica que os planetas se
deslocam mais rapidamente quando estão mais próximos
do Sol.
 3ª Lei de Kepler, a lei dos períodos. Esta foi
desenvolvida anos depois das duas primeiras e dá
uma relação entre o Raio Médio da órbita de um
planeta ao Sol (seria a distância média do planeta
ao Sol) com o Período de revolução (intervalo de
tempo para se dar uma volta completa em torno do
Sol).

Essa relação afirma que o quadrado do Período é


proporcional ao cubo do Raio Médio, ou na forma
de uma equação:
𝑇 2 = 𝑘. 𝑅 3
Nesta equação, o 𝑇 é o período, 𝑅 é o raio médio
e 𝑘 é uma valor constante.
Todas estas leis foram obtidas através de dados. Mas
Kepler havia desvendado os segredos nas trajetórias,
mas qual é o motivo para isso? Por que elipses? Por
que a velocidade muda, dependendo da distância do
planeta ao Sol?
Então os cientistas são os curiosos, que observam o
xadrez cósmico e tentam entender as regras do jogo.
Muitas vezes são impedidos pelas limitações de seus
equipamentos. Mas sempre quando uma técnica nova é
descoberta, ou a tecnologia avança, isso possibilita
uma ampliação do tabuleiro.

2.1.3 A FÍSICA E A MATEMÁTICA EM OUTRAS CIÊNCIAS


Li em um livro chamado Lições de Física, de um
grande físico chamado Richard Feynman. Ele era
incrível e nele surge uma pergunta: se de uma hora
para outra houvesse um cataclisma, todo o
conhecimento científico fosse destruído e só pudesse
passar apenas uma frase para a próxima geração, sendo
ela a mais completa e rica em informação, qual frase
seria? Acabei concordando com a resposta: "tudo é
feito de átomos".

Não parece ser uma grande frase, mas ela é


poderosa. Muitas das teorias na física são explicadas
a partir dos movimentos dos átomos, como o som, as
ondas, ou os estados da matéria. A forma como os
átomos se ligam para formar os cristais, ou se ligam
a átomos diferentes para formar moléculas.

Parando para pensar, esta é a conexão da física com


a química, por exemplo. Muitos estudantes de química
podem não concordar, mas a química é um aspecto da
física. Toda a ligação química tem relação com
interações elétricas. Da mesma forma, podemos pensar
que a biologia e a geologia também são aspectos da
física.

A engenharia é um caso que merece atenção. Ela pode


ter surgindo junto com a física, ou com algo antes da
física. Bem, olhar padrões nas coisas é uma
habilidade humana e relacionar eventos também, talvez
isso possa ser considerado física, embora tivesse
proveito prático e não houvesse a paixão dos
cientistas da Grécia antiga. Mas a engenharia ganhou
um status mais sério, com projetos e cálculos de
engenharia a partir do Arquimedes (287-212 a.C.).
Conhecer a matéria, os princípios da alavanca e
estática dos corpos é importante para projetar
máquinas, ou construir um prédio. Podemos dizer que
as descobertas na física impulsionam o avanço da
engenharia, que por sua vez utiliza as descobertas da
física para inovação.

Embora a física esteja presente em todas as


ciências naturais, toda ela é construída a partir de
dados. É preciso medir, obter números, construir uma
tabela e usar modelos matemáticos. Esse processo
estará sempre presente nestas ciências.

2.1 LÓGICA, MATEMÁTICA E


CIÊNCIAS

2.2.1 LÓGICA E SEU SURGIMENTO

Posso começar definindo a lógica:

"Lógica, parte da filosofia que trata das formas do


pensamento em geral (dedução, indução, hipótese,
inferência etc.) e das operações intelectuais que
visam à determinação do que é verdadeiro ou não. "
Fonte: Dicionário online, Dicio.

Filosofia existia antes dos gregos antigos? Sim!


Mas foi na Grécia, durante a antiguidade, que a
filosofia foi estruturada. E a matemática? E a
ciência?

Havia pensamento científico, desde o início da


civilização, embora estivesse perdido e confuso em
meio ao misticismo. A matemática também estava
presente de forma bastante primitiva nestas primeiras
civilizações, mas tanto a ciência como a matemática
tinham apenas um papel prático.

Com a estruturação do pensamento filosófico, a


lógica teve um casamento bígamo com a ciência e a
matemática. Havia uma busca por respostas lógicas. As
demonstrações se tornaram importantes na matemática e
as hipóteses passaram a ser importantes na ciência.
Mas para construir uma ideia lógica é preciso
entender o que é uma proposição.

2.2.2 PROPOSIÇÕES

Nesta hora vamos estudar não saberemos se estamos


estudando matemática, ou língua portuguesa. De fato,
é matemática, pois não vamos trabalhar nenhuma
estrutura linguística, mas vamos ter que lidar com
afirmações.

Proposições são afirmações da linguagem matemática.


No entanto, podemos analisar usando frases não
matemáticas. A compreensão da proposição pode sim
ajudar no entendimento dos problemas, dos enunciados,
dos teoremas, das leis e das teorias. É possível o
uso das proposições até para criar argumentos lógicos
em redações e em questões nas ciências humanas.
Toda tese deve ser provada, usando princípios de
indução e por hipóteses. Vamos usar uns exemplos de
proposições.

1. A Terra é redonda.
2. Se eu sou carioca, então eu sou brasileiro.
3. Sou americano se, e somente se, nasci na
América.
4. O cavalo e a neve são brancos.
5. O molho, ou a blusa são vermelhos.
6. 3 < 2.
7. 𝑥 está entre −1 e 5.

Te desafio a pensar sobre estas proposições. Vou


seguir a ordem.

A Terra é redonda. Esta é uma afirmação verdadeira,


mas teve muitos debates sobre ela. Por muitos séculos
grandes filósofos acreditaram que a Terra era plana,
mas outros tiveram a indução de que seria o
contrário, seguindo observações. Haviam os barcos que
sumiam no horizonte, a sombra da Terra na Lua e até
cálculos foram feitos. Até que a primeira circum-
navegação foi iniciada em 1519 e terminada em 1522,
organizada por Fernão de Magalhães e concluída por
Juan Sebastián Elcano, após o primeiro morrer durante
a viagem. Então esta primeira frase é verdadeira, mas
a constatação de sua verdade surgiu com uma série de
deduções e hipóteses.

Se eu sou carioca, então eu sou brasileiro. Esta


frase parte do princípio de que você conhece os
significados de ser carioca e de ser brasileiro. Esta
proposição é formada por duas outras proposições: Eu
sou carioca e Eu sou brasileiro. O Se e o então são
responsáveis por conectar as duas proposições, com o
objetivo de explicar que a primeira proposição
implica (resulta, ou leva) na segunda. Também sabemos
que esta proposição é verdadeira, pois todo carioca
nasce na cidade do Rio de Janeiro e esta é uma cidade
brasileira. Você pode perceber que se eu trocar as
posições das proposições, vou construir uma ideia
completamente diferente e falsa: Se eu sou
brasileiro, então eu sou carioca. E a frase é falsa,
porque nem todos que nascem no Brasil são cariocas.
Uma ideia não implica na outra.

Sou americano se, e somente se, nasci na América .


Mais uma vez, temos uma proposição formada por outras
duas: Sou americano e Nasci na américa. O que conecta
as duas proposições é o se, e somente se. Essa forma
de conectar as proposições sugere que elas são
equivalentes. Significa que eu ser americano implica
que eu nasci na América, ou que o fato de ter nascido
na América implica que eu sou americano. A proposição
é verdadeira e comparando com a anterior, podemos ver
que ela é resultado das seguintes ideias:

 Se eu sou americano, então eu nasci na


América.
 Se eu nasci na América, então eu sou
americano.

Cada uma das duas ideias anteriores lembram o nosso


segundo exemplo. Esse é na verdade um caminho na
matemática para mostrar a equivalência das ideias.
Você pega duas proposições, proposição A e B. Se
quiser provar que as duas são equivalentes, então
primeiro deve provar que A implica B e, em seguida,
que B implica A.

O cavalo e a neve são brancos. Essa proposição tem


dois sujeitos, cavalo e neve. É possível abrir ela da
seguinte forma: O cavalo é branco e a neve é branca.
Nesta forma fica mais fácil identificar que são duas
proposições formando uma:

 O cavalo é branco.
 A neve é branca.

O responsável pela conexão das proposições é o


conectivo e. O significado deste conectivo é claro,
ele fala que o cavalo e a neve devem ser brancos. Se
a proposição é verdadeira, ou se ela é falsa, neste
caso depende da cor do cavalo. A neve é branca, mas e
o cavalo só se pudermos confirmar a sua cor. Se ele
for branco, então a proposição 4 é verdadeira, caso
contrário, é falsa.

O molho, ou a blusa são vermelhos. Mais uma vez


posso escrever a proposição de outra forma: O molho é
vermelho, ou a blusa é vermelha. São identificadas
duas proposições formando a proposição 5:

 O molho é vermelho.
 A blusa é vermelha.
Para conectar estar duas, usei o conectivo ou. Este
conectivo sugere 3 possibilidades: O molho é vermelho
e a blusa não é, a blusa é vermelha e o molho não é e
O molho é vermelho e a blusa também é vermelha. Para
a proposição 5 ser verdadeira, basta que uma das duas
coisas seja vermelha. A única possibilidade dela ser
falsa é no caso das duas coisas não serem vermelhas.

3 < 2. Esse é um exemplo de uma proposição formada


por símbolos. O símbolo < significa que o número da
esquerda é menor que o da direita. Você deve estar
pensando: "ué, 3 é menor que 2?". Isso se trata de
uma proposição falsa! Quando um problema é proposto,
uma hipótese para sua solução pode levar em um
resultado como este da proposição 6. Se considerar
que não houve falha na hora de desenvolver a conta,
isso significa que a hipótese inicial para a solução
está errada. Nunca uma proposição falsa vai implicar
em uma solução verdadeira. Hipótese falsa implica em
resultado falso.

𝑥 está entre −1 e 5. Esta proposição pode ser


escrita usando símbolos:

−1 < 𝑥 < 5
Ou ainda,

−1 < 𝑥 e 𝑥 < 5

Neste caso, são duas proposições. Significa que 𝑥 é um


número qualquer que está entre −1 e 5.

Sobre as proposições em nossos exemplos:


 Toda proposição precisa ter um verbo (nem toda
frase com verbo é uma proposição).
 Toda proposição deve ser exclusivamente falsa, ou
verdadeira (não pode ser as duas coisas ao mesmo
tempo).
 Proposições podem ser atômicas (formada por uma
única proposição), ou moleculares (formadas por
mais de uma proposição).

O verbo indica ação, por isso é importante a


presença do verbo nas proposições. Observe abaixo:

i. 𝑥 + 3
ii. 𝑥 + 3 = 4

Na primeira não tem verbo, então não é uma


proposição, não tem hipótese, não tem significado, "x
somado com 3".

Na segunda temos um verbo e temos uma proposição,


"x somado com 3 é igual a 4". Com a proposição,
podemos desenvolver nossa hipótese. Ela pode ser:
"vou somar -3 de cada lado".

𝑥 + 3 + (−3) = 4 + (−3).

Ou

𝑥 + 3 − 3 = 4 − 3.

A hipótese me levou no seguinte resultado:

𝑥=1
Apesar de podermos usar a lógica para construir
ideias em qualquer ciência da natureza ou humana, ela
é importante nas demonstrações matemáticas.

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