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The Wayback Machine - https://web.archive.org/web/20060509043449/http://www.dharmanet.com.

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Thrangu Rinpoche
A fim de atingirmos a verdade da cessação, devemos abandonar nossa fixação sobre conceitos.
Uma vez que isto tenha sido realizado, realiza-se a cessação do pensamento conceitual. Como
isso é caracterizado? Do ponto de vista das pessoas comuns, a verdade da cessação está além do
escopo do pensamento comum e então é dita como sendo inconcebível. O estado de cessação
implica efetivar verdadeiramente a essência da vacuidade e da luminosidade.

Já que somos pessoas comuns, o verdadeiro significado da natureza búddhica e da vacuidade


está além da nossa compreensão intelectual. Então, como podemos entender ao que a vacuidade
se refere? Primeiro, acreditamos que as pessoas, montanhas, casas, fogo e água são apenas o
que parecem ser. Pessoas são pessoas, casas são casas, montanhas são montanhas, coisas
compridas são compridas, coisas curtas são curtas e as pequenas são pequenas. Acreditamos que
estas coisas são reais e verdadeiramente existentes assim como são.
[Rinpoche segura duas varetas, uma mais comprida que a outra.]

Por exemplo, podemos ver que uma vareta é mais comprida que a outra. Podemos perguntar a
qualquer um que encontremos, "Qual vareta é mais comprida?", e eles facilmente farão a escolha
correta. Eles nunca dirão que a vareta mais comprida é a mais curta.
[Rinpoche deixa de lado a vareta mais curta e pega uma terceira vareta mais comprida que todas.] 

Agora, a vareta que acabamos de rotular como a "mais comprida" torna-se subitamente a "mais
curta". Todos estes rótulos como "comprido" ou "curto" são apenas nossa própria invenção e a
verdade destes rótulos depende unicamente de qual entidade específica está sendo comparada.

Comparado com o nosso dedo anular, o dedo mindinho é rotulado como "mais curto", mas se
comparado ao dedo médio, o dedo anular é julgado "mais curto". Todos os conceitos são
simplesmente um sistema de rótulos inventados por nossa mente conceitual. Os fenômenos não
possuem realmente qualquer uma destas características em si mesmas. Deste modo, todas as
coisas são vazias de características, vazias de serem quaisquer características, vazias de serem
grandes ou pequenas, vazias de serem compridas ou curtas.
[Rinpoche acena sua mão no ar.] 

Se eu digo, "Esta é a minha mão", quando você olhar para ela pensará, "Está correto, é a mão
dele". Uma mão pode ser usada para muitas coisas. Posso usá-la para mover coisas do lado
esquerdo da mesa para o lado direito. Estamos acostumados à idéia de que este objeto é apenas
uma mão. Mas o polegar é o mão? Não, não é. Ele é o polegar, que é simplesmente composto por
duas ou três juntas e por uma unha. O dedo indicador é a mão? Não, não é. Do mesmo modo,
podemos perguntar a mesma questão sobre cada dedo. A pele é a mão? Não, não é. A pele é a
pele. A mão é feita de ossos, carne, sangue e assim por diante. Se removermos as partes e
perguntarmos, "Onde está a mão?", nada então permanecerá para se apontar e dizer, "Isto é a
mão". A mente imputa a idéia, "Esta é a minha mão", quando vê todas estas partes juntas.
Seguindo a mesma lógica, tudo pode ser reduzido à vacuidade. 

Agora podemos pensar, "Isso significa que tudo é não-existente ou vazio como o espaço?" Não,
não significa isso. Apesar de vazia, ainda vemos a mão e ela funciona nessa capacidade.
Podemos chamar este objeto de "mão" e podemos movê-la e usá-la. Tradicionalmente, o
buddhismo utiliza uma analogia usando os "chifres do coelho". Obviamente, um coelho não tem
chifres. Então se perguntarmos, "Todas as coisas são não-existentes como os chifres de um
coelho?", devemos responder, "Não, não são porque os objetos aparecem e podem ser
experienciados através dos cinco sentidos." Apesar de a condição verdadeira de todas as coisas
ser a vacuidade, elas não são simplesmente vazias; por natureza, elas também são luminosas.
Neste contexto, "luminosidade" é o potencial de os fenômenos se manifestarem e serem
experienciados. Porque as coisas são uma unidade de serem tanto vazias quanto luminosas,
vazias porém surgidas dependentemente, esta unidade é dita como sendo inconcebível. Por esta
razão, o texto [Mahayana Uttaratantra Shastra] diz que o Dharma [sobre a verdade da cessação]
é inconcebível.

A segunda qualidade do Dharma sobre a verdade da cessação é a não-dualidade. Geralmente, os


seres sencientes se agarram apertadamente aos conceitos dualistas, como o de uma "mente
interior" que percebe e de um "objeto exterior" que é percebido. Por causa deste padrão
habitual de pensamento, quando contemplamos o ensinamento decidimos que há uma coisa
chamada "vacuidade" e uma outra coisa chamada "luminosidade". Porém, estas duas
características não podem nem mesmo existir, em qualquer lugar, como duas coisas separadas.
Portanto, a essência iluminada é a indivisibilidade destes dois atributos. Por esta razão, o
Dharma é dito como sendo não-dual.

A terceira qualidade do Dharma sobre a verdade da cessação é que ela é não-conceitual, vazia
de pensamentos. Às vezes, temos muitos tipos diferentes de pensamentos — pensamentos
orgulhosos, pensamentos desejosos, pensamentos bons e pensamentos ruins. Temos diferentes
modos de conceitualização, mas esses pensamentos não existem na natureza vazia em si mesma.
Mesmo em nosso estágio presente de desenvolvimento, já é possível que nós entendamos esta
ausência de pensamento, a qualidade não-conceitual.
(Thrangu Rinpoche, Khenchen. Buddha Nature. Prefácio de Chökyi Nyima Rinpoche; traduzido por
Erik Pema Kunsang; editado por S. Lhamo. Kathmandu: Rangjung Yeshe Publications, 1993. Pág. 37-39.)

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